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História I gotta be a Bad Boy - This Time Only


Escrita por: storkia

Notas do Autor


[I’m back!]

Capítulo 3 - This Time Only


Fanfic / Fanfiction I gotta be a Bad Boy - This Time Only

This Time Only.

 

A adrenalina misturava-se com minha visão nebulosa, o aroma adocicado vindo da nuvem de gelo seco irritava meu olfato, me acertando em cheio, como se o estresse corporal já não fosse o bastante. Sentia tudo ao mesmo tempo, mas parecia relapsa aos meus arredores, concentrando-me em uma linha fina de raciocínio, entregue a cena de meu olhar perdido. Meu corpo funcionava de maneira automática, logo rumando para fora do cômodo aglomerado com pessoas, álcool e o cheiro de perfumes baratos misturados, através de uma enorme porta envidraçada. Nem mesmo as luzes indecisas em sua cor conseguiam me tirar do sério. Não mais do que ele havia conseguido. 

 

“Merda, qual é o seu problema, garota?” 

 

Sua voz rude ecoa em meus pensamentos juntamente à cena de quase cuspir as palavras para fora, tomando forma de um som desagradável do qual não se pode escapar, como o de uma vitrola arranhando rispidamente o vinil. Aquela espécie de incômodo que dói ao lembrar, que vem a mente quando menos se espera e que te transporta incessantemente para o mesmo lugar. Era uma incógnita para mim o porquê de, dessa vez, uma desavença com ele ter me afetado nessa magnitude, o motivo de estar excessivamente dramatizando uma briguinha que, até então, era uma situação corriqueira. Meu coração palpitava, levando meu peito a movimentar-se consigo, tratando de dançar junto às batidas da música alta.

O ambiente penumbroso e duvidosamente aquecido de toda festa é deixado para trás, acompanhado por uma respirada funda. Toda intensidade e tesão são potencializadas a ponto de serem palpáveis em lugares como esse, onde as únicas testemunhas de algum equívoco por ser seduzido pela lascívia são as luzes tricromáticas e o vapor branco que te envolve. Segredos assim permanecem embriagados em uma memória na manhã seguinte, relembrados apenas como um sonho extremamente real, um filme fotográfico em lacunas e uma dor latejante na cabeça. Não tenho desculpa esfarrapada o suficiente para dizer que não me encaixo nesse mesmo padrão, afinal, meu desejo secreto esteve tão bem guardado que nem eu mesma quero admitir sua existência. O filme da minha câmera não seria revelado tão cedo.

 

O que ele deseja esconder em meio a isso tudo? — questiono. 

 

Fora de meus pensamentos, a sensação de estar com meus ombros desnudos perto do oceano me fez parar um pouco. A brisa que acompanhava o movimento de cada pequena onda desfeita trazia não só um frio ambiente agradável, mas também o aroma sinestésico de iodo, ambos entrando em meu organismo ao suplicar para que me desfocasse de Namjoon. 

 

Ou era isso que eu queria interpretar. 

 

“Namjoon e eu sempre fomos mais do que amigos” — Argh! Esse pensamento brinca de vai e vem em minha mente, arrependo-me de ter concluído isso em primeiro lugar. Ele estava devorando aquela garota com olhos, não é como se isso me incomodasse. É natural que ele seja estranhamente atrativo porque sempre quero algo que não posso ter.
 

Balanço a cabeça levemente para tentar me desfazer do monólogo interior, também produzindo um sibilo estranho, daqueles que tremem o fundo da garganta e parecem provocar céu da boca, rezando para que ele me ajudasse a fugir do meu inconsciente, apesar de parecer ridículo para quem observava a cena próximo a mim. 

Me esforço para destruir minha carranca quando encontro-me a alguns passos do garoto de blusa cavada, o qual ajeitava sua franja comprida para trás. Confesso que prendi um suspiro. Abaixo da luz branca proveniente da lua, a beleza de Taehyung acentuava-se além do que deveria ser permitido, sombreando alguns traços seus para ressaltar outros, como uma pintura tomando forma diante de mim. Ele também parecia desatento ao mundo a seu redor com suas orbes cerradas e a cabeça relaxada no sofá praieiro onde estava sentado, estirando as pernas cobertas pelo jeans preto rasgado e cruzando-as em um movimento lento. 

 

 Eu preciso beber... — pensei assim que senti um calor familiar fisgar meu ventre e aquecer até meu mais longo fio de cabelo em questão de segundos. Pigarreio com a boca seca antes de falar.

 

— Um requinte para um possível apreciador! — digo, apresentando-me em sua frente e estendendo a bebida gelada com o tilintar do gelo batendo no copo baixo, tomando cuidado para não bater o posterior dos joelhos em uma mesinha de centro. Umedecendo seus lábios com a ponta da língua, Tae abre os olhos preguiçosamente, demonstrando-se provocante até mesmo ao revelar suas íris escuras. Ele percorre minha figura como se o tempo estivesse sob seu comando, dando a ele o poder de analisar cada traço de baixo para cima lentamente. Quando se satisfez, seu olhar trava uma batalha silenciosa com o meu, provavelmente esperando que deixe de encará-lo e assuma uma posição não dominante. Nesse momento, percebo que ele realmente conhece nada sobre mim. 

— Estou impressionado, garota. — ele finalmente fala, deixando o tempo retornar ao seu ritmo natural e movimentando a mandíbula ao morder um chiclete invisível. Entrego o copo a ele, sua mão acalorada chocando-se com a minha, o toque resfriado por algumas gotas da fusão do gelo. — 12 anos? — pergunta, sorvendo o aroma alcoólico antes de degustá-lo de fato. 

— 18. — respondo, dando de ombros. 

Johnnie? — ele ergue a sobrancelha, me testando. 

— Originalmente escocês. — me sento ao lado dele ao dar de ombros, um pouco vitoriosa. 

— Então, você realmente manja dessas paradas, princesa... — ele me olha furtivamente, o canto dos olhos focados em mim, mas o resto do rosto levemente contorcido pelo ardor do uísque puro. 

— Vamos dizer que eu tive meus meios para aprender. — o encaro, agora sentada com as pernas cruzadas. 

— Por curiosidade, um desses seus “meios” se chama Namjoon? — dispara, enquanto vejo seu inferior do pescoço subir e descer. Contenho uma surpresa sem muito sucesso, aquilo pegou-me desprevinida como uma bala silenciosa. Há um intervalo de tempo entre nossa conversa, preenchida por aquele ventinho com aroma salgado e o som as folhas das palmeiras ali por perto chocando-se umas com as outras. Aquela sensação de revirar o estômago surgira novamente. 

— Presunção tua assumir que tudo na minha vida tem ele no meio, não sou a sombra dele, beleza? — encerro a fala firme e cruzo os braços, mas minha visão periférica me permite definir o movimento de seus cachos para os lados, fazendo uma negação com a cabeça. Sentia seu sorriso ladino distante. 

— Enfim, disse que te devia alguma resposta. Manda a ver e pergunta o que quer, não é sempre que consegue arrancar algo de mim tão fácil. — Me pego sendo transportada para aquela cena de antes, meu braços ao redor do seu tronco, compartilhando o calor de sua pele mesmo por cima da blusa e o vento parecendo tornar tudo mais enérgico ao trazer seu perfume forte até mim. Durante todo o trajeto, o ranger dos vários motores parava de me perturbar, porém a indiferença de Namjoon estava secretamente latejando em minha cabeça. 

 

“O Nam... Ele... Ele fala de mim para vocês?”

 

— Você não disse que era “proibido” de responder certas coisas? É algum tipo de bro code entre vocês de jaquetas de couro e jeans rasgado? — Desconverso. 

— Talvez seja, talvez não. — dá de ombros, fazendo menção de levantar-se, apoiando a mão que não segurava o copo semi vazio no joelho. — Era isso que queria comigo, princesa? 

Por mais que existisse um plano aloucado guardado em minha manga, eu me considerava lúcida e sóbria demais para realizá-lo. Ainda, havia alguns respingos de culpa por pensar em usar uma pessoa desta forma, por puro ego ferido. Balanço a cabeça em afirmação e me levanto, ficando de frente para o moreno. 

— Acho que não devia ter vindo pra cá em primeiro lugar... — me arrependo dessa frase assim que minha voz a compõe. Eu, logo eu, estava penando minhas atitudes de fazer o que eu bem entendo por causa dele? Não entendo o que rola comigo algumas vezes, quando meus sentimentos acabam reduzidos a uma exuberância infantil ou primitiva. O rosto se contrai em desagrado, uma aura incômoda reveste meu corpo, a sensação esquisita inquieta meu peito de forma nem prazerosa nem dolorosa. Tudo isso apenas se alivia por alguns segundos, quando volto a ficar sã, e consigo discernir o que é real e o que é fantasioso, mas logo retorno ao ponto inicial. Talvez sejamos teimosos por natureza ou a natureza quer mostrar-nos o que escondemos em nosso inconsciente por pura teimosia, deixando implícito que nunca se pode fugir do que se sente. 

Os olhos de Taehyung parecem perdidos, percebo que ele está totalmente desinteressado no que falo. Isso significa que ele não ouviu essa escrotisse que acabei de dizer. Suspiro e sigo sua linha de visão, virando meu corpo para trás nessa direção. Um pouco mais longe, perto das grandes janelas mas fora do cômodo escuro, vejo a figura dele, seus lábios totalmente entrelaçados com a garota de mais cedo. Ele a prensa contra a parede com um antebraço e o punho cerrado acima de sua cabeça, o outro braço se perde em meio ao corpo dela. Percebo algumas marcas avermelhadas na base posterior de seu pescoço, mas não consigo apontar se são dos lábios dela ou de suas unhas, as quais arranham incessantemente parte de seus ombros e se aventuram em seu cabelo. Os olhos do dragão que compunha a grande tatuagem no dorso de Namjoon pareciam querer me ridicularizar. 

 

Meus punhos cerram em determinação, enquanto meu corpo luta contra a sensação de estar oco, vazio. 

 

Eu estou puta da cara. 

 

— Na verdade, não era só isso, Taehyung! — me viro para encará-lo novamente. Agora ele estava de costas para o mar, com a mente focada no amasso dos dois, mas sua cabeça volta a ficar inclinada para baixo. — Quero que me faça um favor... 

— Você está ultrapassando limites que muita gente não consegue, sabia? — ele tomba a cabeça para o lado, aproximando-se e mascando o chiclete invisível novamente. — Dessa vez, eu não vou dizer “nem na merda dos seus sonhos” porque tenho certeza do que é, só quero ouvir você dizer. 

 

Respiro fundo. 

 

— Quero que fique comigo, aqui e agora.

 

Com a confirmação da sua hipótese, seu corpo magnetiza-se com o meu, uma força estranha ainda impedindo que colássemos nossos lábios. Me sinto abraçada em seu peito e abdômen definidos, cada músculo saltado provocando minha barriga e tórax mesmo por cima dos tecidos. As mãos dele dedilham parte das minhas costas, ele parecia realmente me querer naquele momento, olhando para meu rosto e mordendo o canto inferior da boca. Minhas mãos, em protesto, passeiam caminho acima em seus braços tatuados, encontrando um relevo tortuoso de veias proeminentes e músculos definidos. Ao alcançar seus ombros, analiso suas clavículas, especialmente uma tatuagem diferente que se revelara ali. Calicanto de Carolina, uma flor de nascimento. Todo mês, todo dia, pode ser agraciado com uma dessas. Em um mundo de rabiscos um pouco agressivos, a flor delicada era excluída, mas se destacava simultaneamente. É sua personalidade refletida aqui? Alguém que externamente você não suporta, mas depois se mostra aliciante? A esse ponto, eu estava uma bagunça, o mundo desvaneceu-se nas batidas dos peitos colados, intimamente competindo uma contra outra, a proximidade pertimiu perder-se em nossas respirações descompassadas, então ora sentia o ar aquecido, ora o ar gelado.

Eu queria pensar em nada, somente nele.

— Ah, que merda, garota... — ele puxa o ar entre os dentes, tentando raciocinar mesmo estando tão perto de nos unir. Meus olhos não deixam os dele. — Sabe que eu estaria fazendo papel de idiota, não é? Dava pra sentir o seu nervoso a cada palavra, eu sei que está agindo por pura raiva. 

— Então seremos os dois essencialmente idiotas... — Tomo seu lábio inferior entre os dentes, ansiosa, a respiração trêmula entregava sensualidade. Mordo-o sem muita força, sentindo um mínimo gosto marcante de uísque. Quando volta à posição natural, entre o barulho suave da parte interna do lábio com o interior da boca, ele mesmo trata de morder os próprios de novo, sua respiração ficando mais pesada. Seus olhos mudaram de dúvida para atração, cativando as pupilas dilatadas como um felino focado na presa. Ele sorri para mim. 

— A parte boa é que eu também estou ardendo em raiva. — suspira, não me deixando absorver sua fala, espalmando suas mãos ao máximo em minhas costas fortemente e selando nossos lábios de uma vez por todas. Meu corpo se desfaz de toda tensão, minha mente silencia qualquer pensamento intruso. Eu queria sentí-lo por completo, usando cada sistema do organismo. 

Atirada contra o escuro, inicio a ver estrelas ou simplesmente pontinhos de luz desconexos ao fechar meus olhos com força, entregue a sensação de seus lábios quentes e macios. Estar momentaneamente desprovida de vê-lo excita minha imaginação, afinal, é um palpite sem precedentes como sua face está relaxada contra a minha, ou como o rubor lentamente aparece nas maçãs do rosto assim que o ar parece nos faltar. 

 

Mas não paramos, independente do quê. 

 

Sua língua pede permissão ao meu lábio inferior, convidando-o a revelar a minha. Logo ambas estão dançando vagarosamente uma com a outra, embebedadas em uísque e vodka, compartilhando sensações despudoradas, apenas puro desejo envolto. Minhas mãos emaranham-se em seu cabelo macio e volumoso, puxando-o desde a raiz. Arranho, instigo, até sentir que cada extremidade da região se arrepiou abaixo de mim, a sensação prazerosa de ouví-lo arfar na minha boca, de novo, de novo e de novo me faz sorrir de forma maliciosa. Ele retribui, descendo uma mão para minha bunda e subindo a outra para meu rosto.

— Caralho, garota... — ele fala baixo, ofegante, olhando para mim com a franja sob metade do rosto. Nenhuma palavra queria pular da minha boca enquanto seu polegar acompanhava o trajeto dos meus lábios agora reluzentes, cobertos pelo resquício de seu beijo, o souvenir do mundo onde os lábios dele me fizeram subir e girar em euforia. Não tardamos a nos beijarmos novamente, mas dessa vez ele me puxa para o lugar de antes e me tem sentada em seu colo, meu rosto pouco acima do dele. Aquela fisgada de mais cedo se transforma em um calor insuportável, aumentando e indo parar em todo lugar desde o interno das minhas coxas até as pontas dos meus dedos, me tentando a deixá-la tomar posse de cada ação. Meu vestido expõe parte das minhas coxas assim que me acomodo em cima de Tae, mas nesse ponto, sequer me importo. Eu estava ficando sedenta por mais dele, meu quadril involuntariamente se movimentando em seu colo. 

— Tae...

Sinto meu abdômen contraír-se sem meu comando, entrecortado por uma arfada alta que escapou de mim. Seus lábios deixam os meus por um momento, agora deslizando lentamente por minha mandíbula. Sua língua encontra caminho até meu ouvido, brincando com o material gelado dos meus piercings e mordendo as regiões mais distantes deles. Escuto de pertinho o som que o ar faz quando Tae sorri novamente, agora partindo para maltratar meu pescoço, vitorioso com o que estava fazendo. E ele sabia fazer deliciosamente. As mãos dele exploravam minhas coxas desde perto dos joelhos até a região de onde emanava toda minha excitação, queimando cada centímetro de pele em seu caminho. Meu interior se contorce no que parece ser ansiedade por estar tão próximo do seu toque, um toque libertário, mas Tae impede que aconteça ao voltar as mãos para o meu quadril. Meus dígitos revezam entre o pescoço e o rosto do garoto, guiando um, dois, três, quatro selares. 

Com as frontes coladas, nos encaramos em silêncio, recuperando fôlego e retornando ao mundo real vagarosamente. Minha pele agora voltava a sentir mais do que uma capa de calor, em verdade, agradecia mentalmente pelo vento um pouco mais fresco na madrugada. 

 

Puta merda, aquilo foi muito bom. 

 

— Belas pernas. — sua voz grossa interrompe meu debate interior com seu sorriso irônico e caio em mim novamente, afastando nossos troncos, logo revirando os olhos para ele.

— Idiota. — o encaro com os olhos meio cerrados, apenas aumentando seu sorriso, quase gargalhando. 

— Você brincou com fogo, problema seu agora ter que aturar as brasas... — reviro os olhos mais uma vez, me dando conta de que as mãos dele ainda estavam em meu corpo. — Melhorou? 

— O quê? — ele se ergue de onde suas costas estavam desleixadamente encostadas, chegando perto do meu rosto de novo. 

— A raiva. Conseguiu domá-la um pouco na minha boca? — ajeita sua franja com um movimento de cabeça leve para a direita. 

— Me diz você. Conseguiu domar a sua nos meus lábios? 

Touché, garota. — retiro suas mãos do meu corpo, saindo de seu colo vagarosamente, o frio atingindo as intimidades sensíveis de nós dois. Meu vestido volta para o lugar naturalmente. — É isso que o ciúmes faz com a gente, hum? 

— Espera, o quê?! — pulo do sofá, encostando mais na beirada, olhando-o incrédula. — Ciúmes? Ciúmes de quem? Sonhe com isso! — A palavra “ciúmes” se repete tantas vezes que parece perder o significado. 

— Você é extremamente fácil de ler, ainda mais para um cara que tem a fama de manipulador feito eu. E eu sei que está incomodada com o meu amigo metido a líder. — ele se joga no encosto do sofá novamente, colocando as duas mãos atrás da cabeça, despretencioso. 

 

 Convencido do caralho. 

 

— Por um momento eu esqueci que não adianta tem um momento interessante com vocês do grupinho tatuado, sempre acabam irritando qualquer um pelo caminho! — agarro com força as bordas do acolchoado. 

— Eu que te irritei ou seus sentimentos? — mais do que por sua cara de deboche, eu queria mandá-lo se foder por conseguir vociferar exatamente o que se passava na minha cabeça. Detalhe: nunca havíamos trocado mais de três frases até hoje. 

— Não haja como se me conhecesse por inteiro, Taehyung. — encaro-o de perfil, por cima do ombro direito. 

— Não faço ideia de muita coisa sobre você, mas já lidei com muitas garotas assim pra não saber exatamente como se sente. — a frase fica presa em mim, mais do que eu gostaria. 

— Como você acha que me sinto ou como você enxerga os seus próprios sentimentos em mim? — disparo em um tom calmo, porém meu orgulho celebra internamente, como se eu tivesse acabado de vencê-lo em uma quebra-de-braço. Seus olhos vagarosos abrem-se novamente, revelando as íris castanhas sobreadas por madeixas de mesma cor. 

 

Silêncio. 

 

O gato comeu sua língua? 

 

Suspiro fundo enquanto meus ombros caem, quebrando a quietude quase chata, desviando da tensão de olhares. Eu não tinha percebido que estava com parte dos músculos superiores enrijecidos, mas sentia que estava pronta para correr ou para levar um soco de qualquer lado. A questão era que o ataque veio através de palavras, ou melhor, através de ter aquele filme da câmera revelado com pouquíssimo esforço. Ouço um barulho agudo e a vibração do aparelho no bolso do garoto, que prontamente o desbloqueia e se irrita com luz artificial iluminando seu rosto acostumado com a penumbra da noite. Desinteressada, viro minha cabeça para frente, primeiro focando nos coturnos pretos que estava usando. Agora o couro sintético fosco estava coberto de pontinhos de areia aqui e ali. Rio anasalado para mim mesma. Levanto o queixo, observando agora a distância entre mim e as ondas que não paravam de quebrar. A espuma branca aparecia em seu pico, levava-a de encontro com a areia e repousava em paz na praia, semi parecido com que acabara de acontecer entre mim e Namjoon, entre mim e Taehyung. 

 

Ondas de emoção, porém uma guiada por um sentimento reprimido e platônico, a outra guiada por ira, fuga e tesão misturados. 

 

Que merda.

 

Estranho o suficiente, consigo ver as coisas com um pouco mais de clareza ao sentir os efeitos das gotículas de vodka e uísque. Eu estava totalmente orientada, sóbria, mas com a guarda abaixada. Mantenho muralhas até mesmo para mim, mas não é como se eu me descobrisse pouco a pouco. Nesse caso, eu amadurecia o suficiente para encarar aspectos pessoais que eu não queria ter que lidar. Como descrever algo enterrado em você, algo que você jamais admitiria ver, porém sabe que existe? 

É dessa maneira que escondi meu sentimento por ele, meu melhor amigo com marra de bad boy. E o que está acontecendo agora é por acumular tudo até explodir. 

A imagem dele com aquela garota, o sorriso ladino dele enquanto sua boca abusa do seu pescoço, ela explorando tudo que suas mãos pequenas podiam alcançar, mantendo seus lábios com batom rosa borrado nos cantos entreabertos, coberta de prazer. 

 

Foda-se. 

 

Me levanto de onde estava, ajeitando meu vestido um pouco amassado. Taehyung me olha com uma das sobrancelhas arqueadas. 

— Eu te levo de volta, princesa. — responde a minha cara de dúvida, com os olhos vidrados nas mensagens que digitava fervorosamente. — A menos que queria ir com Namjoon. — sorri quadrado, me fazendo copiar seu ato ao soltar o ar pela boca.

— Valeu, Taehyung. — Viro as costas e caminho novamente àquele lugar onde a visão fica embaçada e as luzes quase te cegam ao se moverem automaticamente pelos cantos.

Me lembro que detesto o cheiro doce do gelo seco.

Permito que me perca no mar de pessoas, logo meu corpo está balançando junto a multidão. Tantas mentes dançam ao som da mesma música ao mesmo tempo, algumas pelo álcool, outras como eu, que, após aceitar uma verdade irritante, quer soltar tudo que sente através de cada poro. Meus olhos se fecham para tudo, uma fina camada de suor se espalha por todo meu corpo, meus vasos dilatam abaixo da minha pele. Sigo os movimentos dos outros universitários ao redor, me misturando a eles. Uma gota tão acalorada quanto o ambiente desliza por meu rosto, escorrega por meu pescoço até o decote do vestido preto. 

 

Era por puro entretenimento ou vinha dos meus olhos? 

 

Deixo que ela se misture com as demais que brilham ao passear por mim. Irei dançar e me divertir até que meu corpo não aguente mais. 

 

[Sábado - 5:39 a.m.] 

 

Estava me arrastando igual um zumbi com o nariz extremamente em pé, saíndo da casa de Lisa com um sorriso pós-euforia no rosto e com marcas da maquiagem borrada abaixo dos lábios e dos olhos. Tinha com um pouco de pressa quando vim noite passada, nem notei ter passado tantas camadas de rímel. 

A minha volta, algumas pessoas com gingado incansável corriam para dentro da sala, uma música com batidas fortes vibrava o chão abaixo de nós e eles não estavam afim de perder aquela dança. O jardim frontal encontrava-se bagunçado dos meus colegas de faculdade deitados ou escorados nas paredes, um arco-íris de sapatos de salto ridiculamente altos com suas fivelas pequenas quase arrancadas e copos de plástico vermelhos e azuis espalhados pela grama. Ainda sinto algumas pedras de gelo quebrando abaixo do solado das minhas botas. 

O garoto a minha frente curva-se para pegar alguma coisa na parte de trás da motocicleta imponente. Olho para cima, mais interessada nos pontinhos de luz a uma distância imensurável de mim. Parecia ser cedo da manhã, algumas estrelas já tinham sido ofuscadas pela tímida luz que começava a emergir no leste; até mesmo a lua queria se esconder. 

— Veste isso, você vai precisar. — ele me entrega uma jaqueta cinza, jogando-a em meus braços. Seu tecido era um pouco frio e pesado, estilo corta-vento. Ergo uma sobrancelha para ele. 

— Sabe que eu te odeio agora, não sabe? Não quero, nem preciso que se importe. — digo, quase arremessando a roupa de volta para ele. 

— Nunca parei ou vou parar de me importar, teimosa. E me odeie o quanto quiser. — dá de ombros, virando-se para se sentar no banco mais a frente. Vejo sua boca coberta com a coloração idêntica a minha, marcado por mim e apresentando isso para quem passasse pela frente. Eu não o odeio, eu odeio a mim mesma por estar tão entregue. — Sempre ficou linda roubando as minhas roupas, por mais que eu ficasse puto antes.

— Vai se foder! — disparo, mais para mim do que para ele. Porque eu deixo ele constantemente me tirar do sério de um jeito tão leve e tão gostoso?

— Eu senti falta de você assim mesmo que só por uma noite, sabia? Marrentinha...  — ele sorri do meu descontentamento ao me ver colocar uma mão na cintura, seu perfil escancarando uma de suas covinhas. Percebo que mesmo a luz fraca da noite consegue traçar um caminho pela metade do rosto, cada detalhe que eu queria prender na mente, desde a raiz de sua franja desajeitada, até algumas penugens eriçadas em seu pescoço. 

Visto a jaqueta em minhas mãos, logo me posicionando atrás dele. O motor rangendo subitamente me traz uma sensação de conforto, um som que eu conhecia muito bem. Sorrio ao abraçar sua cintura e descansar a cabeça em seus ombros largos, me deliciando com seu perfume natural. Sua mão larga segura as minhas entrelaçadas, logo movendo-se para agarrar meu pulso direito. Relaxamos juntos, meu quadril o mais próximo possível de seu corpo. Sabíamos que seria só por uma noite, mas estávamos seguros ali, naquele momento. Algo que só nós tinhamos ciência, o sentimento de longa data reprimido dentro mim e dele. 

— Tem que colocar o capacete, você sabe. — sua voz rouca faz seu tórax vibrar e ele se move um pouco para frente, pegando um dos capacetes pretos pendurados no guidão. 

— Eu sei, seu estraga prazeres! — pego a peça, colocando-a sobre minha cabeça. Ele ri, me encarando de novo ao virar o rosto de lado.

— Se sairmos daqui agora, vou devagar e quem sabe dê pra ver o nascer do sol na praia deserta. Mas não garanto nada.

— Vai me levar para ver o nascer do sol? — sorrio. 

Só desta vez, princesa. — ele coloca o capacete igual ao meu e logo tudo ao redor acelera. Luto para não ser distanciada dele por nenhum minuto sequer, mas eu duvido que agora ele vá querer me deixar ir. Começamos a vagar por aquela mesma estrada com alguns detalhes a mais por causa da luminosidade um pouco maior, a tal festa na praia indo para um baú de memórias que se reflete em meu corpo cansado. Aquela madrugada eventualmente também acabaria ocultada, mas agora não desejo me preocupar com isso. Nada é preciso agora, a não ser a sensação de liberdade de estar em cima dessa moto, o vento atingindo meu corpo pouco a pouco, o mundo passando por mim como um filme após dois cliques na setinha do controle remoto e ele. O mundo é rápido ao longe, mas nós estamos em nosso tempo. 

 

Só hoje, só desta vez. 
 

 

[3/5]


Notas Finais


[I’m back!]
Achei que tivesse perdido o raciocínio durante esse tempo todo, mas logo a história do Bad Boy ocupou completamente minha imaginação. Se eu consegui compensar vocês pelo longo hiatus e deixar aquele gostinho gostoso de curiosidade, comentem e favoritem! Me pergunto: o que mais vocês aprontaram nessa festa, hein? Nosso Nam Bad Boy estará esperando vocês, minhas protagonistas, no próximo capítulo!

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