― E eu não ganho um?! ― insisto pela terceira vez, recebendo dele um olhar entediado.
― Já disse querida, foi Debbie quem comprou, não eu. ― reviro os olhos e ouço a porta de casa rangendo e em seguida as vozes empolgadas movendo-se em nossa direção.
― Ele é incrível! E tem um cheirinho tão bom. ― Leigh entra na cozinha, saltitando animadamente. Quero sorrir diante da cena, mas papai e Debbie obviamente estranhariam minha atitude.
― Fico feliz que tenha gostado, filha ― Debbie ri, beijando a bochecha de Leigh-Anne que a abraçava de lado. ― Então estamos de acordo, não é? Quero que você se esforce nesse último ano.
Leigh ri levemente e assente, olhando para as chaves em sua mão e sorrindo com empolgação.
Eu também estava feliz por ela, apesar de achar que eu também merecia um carro.
― Eu vou pegar as minhas coisas e nós já vamos! ― se dirige a mim e logo sai da cozinha, correndo escada a cima.
Sinto os olhos de papai e Debbie sobre mim, porém finjo nem notar. Termino minha panqueca e tomo um longo gole de suco.
― Está tudo bem entre vocês? ― Debbie sorria docemente a mim.
― Como assim?
― Bem, vocês não tem mais brigado e… ― ela olha para papai como se buscasse por ajuda. ― Parecem mais próximas.
Papai me encarava com curiosidade, segurando sua xícara de café com o dedinho levantado. Com um suspiro indiferente, me ergo e jogo minha mochila no ombro.
― Acho que apenas cansamos de brigar ― sorrio de canto. ― Sabe, não somos mais crianças. ― jogo um beijinho no ar para eles e saio dá cozinha, respirando fundo.
Merda.
-X-
― Eu amo essa sensação! ― exclama, sorrindo abertamente e apertando o volante. Se eu não estivesse com tanto medo de batermos em um poste, eu até poderia apreciar sua empolgação com algo tão simples.
― O.K, só vá mais devagar! ― grito e ouço sua risadinha. Lentamente, ela diminui a pressão no acelerador.
― Pronto. ― sorri me olhando rapidamente.
Eu relaxo meu corpo no banco e a olho, irritada.
― Não sabia que você era suicida! ― Leigh-Anne ri adoravelmente, jogando a cabeça para trás. O vento que entrava pela sua janela, bagunçava seus cachos.
Eu me inclino um pouco e afasto alguns fios que caiam enfrente ao seu rosto e podiam atrapalhá-la ao dirigir. Minhas mãos afundam em seus cabelos e eu sorrio vendo-a ranger os dentes diante da surpresa. Leigh-Anne era extremamente sensível em algumas partes do seu corpo. Descobri isso em nosso encontro no lago.
― O que você está fazendo? ― ela sorri de canto, sem desviar a atenção do caminho.
― Mexendo nos seus cabelos... ― digo distraidamente.
― Estou vendo. Então, você quer parar? ― sorrio com a língua entre os dentes e me afasto, pousando minhas mãos sobre meu colo.
― Desculpe.
Ela aperta o volante com ainda mais força e tenho quase certeza que ela estava gostando do meu cafuné.
Leigh entra no estacionamento da nossa escola com um sorriso enorme estampado em seu rosto e aquele olhar de “isso mesmo seus idiotas, eu tenho um carro novo”. Acabo por rir dela.
Ela guia o carro até uma das vagas disponíveis.
― Ahm, Leigh?
― Sim? ― se inclina em direção ao banco de trás, buscando por sua bolsa.
― O que falamos para as meninas? ― sinto meu rosto esquentar. Leigh-Anne me olha, piscando um pouco confusa.
― Com relação a que?
― A nós!
Ela me encara, séria e por um segundo pondero se não fiz algo errado. Tínhamos algo? Éramos um “nós”? Eu precisava confrontá-la, pois pelo menos nós duas deveríamos compreender o que somos.
― Quer dizer, uhu, conhecemos as meninas. Elas... elas obviamente irão questionar o que nós...
Leigh joga sua bolsa novamente no banco de trás com força, assustando-me um pouco. Ela aperta um botão ao lado do seu volante e eu observo um pouco perdida nossos vidros subirem e um silêncio se instalar ali dentro.
― Porque você―
Seus lábios nos meus me calam. Apesar de surpresa com aquilo, me agarro ao seu corpo e retribuo ao seu beijo com a mesma intensidade. Eu sempre sentia meu corpo mole quando a beijava. Suas mãos seguram em meu rosto com firmeza, como se ela só quisesse deixar mais claro que eu não poderia fugir. Como se eu pretendesse ir a algum lugar.
Quando nos afastamos, Leigh está quase em cima de mim. Estamos ambas ofegantes e nossos lábios avermelhados e inchados.
― Talvez devêssemos arrumar isso aqui. ― sussurra, logo abrindo um sorrisinho de canto.
Ela me beija mais uma vez e logo nos afastamos. Ela trata de ajeitar seu cabelo um pouco revirado e eu abaixo o espelho, encarando meu reflexo. Havia um sorriso radiante dançando em meus lábios. Esse era o efeito Leigh-Anne. Só ela conseguia me fazer sorrir assim. Só ela conseguia fazer meus olhos brilharem daquela forma.
Quando ambas estamos apresentáveis para sairmos do carro, penso que seria muito melhor se ligássemos o veículo novamente e acelerássemos para o mais longe possível dali. Poderíamos ir para qualquer outro lugar. Qualquer um, desde que estivéssemos juntas.
― Estou pensando aqui ― Leigh tranca seu carro e se escora nele, olhando-me de olhos cerrados por culpa do sol que batia em seu rosto. ―, quando é mesmo a viagem que seu pai faz de dois em dois meses?
― Semana que vem ― digo lentamente e a acompanho enquanto nos dirigíamos as portas de entrada do nosso inferno, vulgo escola. ― Por quê?
― Podíamos convencer Debbie a ir junto...
Sinto um arrepio percorrer minha espinha ao compreender o significado das suas palavras. Congelo no meio do caminho e isso faz Leigh-Anne parar também.
― Perrie?
― Eu... ― seus olhos varrem meu rosto, buscando por alguma explicação.
― Deuses, não foi isso que eu quis dizer! ― ela arregala os olhos e se aproxima de mim, segurando em meus dedos e olhando em meus olhos. ― É que seria ótimo se não precisássemos ficar medindo nossas palavras perto deles, tipo, o tempo todo, não?
O arrepio ainda estava ali presente.
― Leigh-Anne ― afasto minha mão da dela e vejo que isso a incomodou. ― Estamos no meio do campus. ― falo olhando ao redor, corando um pouco.
― Tem razão ― ela respira fundo e põe as mãos no bolso do casaco, olhando em direção a entrada onde um grupo de garotas conversava aos risos. ― É melhor deixarmos seu pai ir sozinho. ― ela encolhe os ombros e torna a caminhar.
Eu pisco, confusa.
― Ei! ― vou atrás dela.
― Acho que vou pra casa do Harry após a aula, quer que eu te deixe em casa antes? ― pergunta sem me olhar.
Eu reviro os olhos, sabendo que ela estava fazendo aquilo de propósito.
Eu tinha o direito de estar nervosa, não é? Passar uma semana sozinha com Leigh-Anne não parecia muito relaxante. Só em pensar na hipótese de passarmos a noite juntas já me provocava arrepios por todo o meu corpo e o mais assustador, era parte de mim ansiar por aquilo. Eu ansiava por me agarrar a ela e sentir o calor da sua pele junto a minha. De verdade. Eu precisava senti-la em mim.
― Talvez... talvez sua mãe aceite ir viajar com papai... ― as palavras saem com facilidade dos meus lábios. Leigh congela no meio do corredor e me olha. Lhe dirijo um sorrisinho divertido e torno a puxá-la por entre os alunos zanzando pelo lugar.
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