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História I know he's married - Eu prefiro você.


Escrita por: mydarlingzayn

Notas do Autor


HOLA MIS AMORES! Eu tenho duas coisas para falar com vocês hoje e a primeira é que:
EU SEI QUE DEMOREI, mas eu tenho motivos, vários no caso:
• primeiro que eu tinha escrito boa parte do capítulo, mas meu IPad deu pau e apagou tudo ( eu fiquei puta e acabei demorando mais para escrever )
• segundo: como vocês sabem eu fiz uma prova no sábado passado para o vestibular e tals e quarta-feira eu descobri que PASSEI, então teve muita festa e só vim parar direitinho de ontem para hoje, mas fiz o máximo para postar o mais rápido possível e agora está aí!

A segunda é que eu fiquei MUITO MAIS MUITO MAIS MUITO feliz com a interação no capítulo passado, sério eu não esperava nem a metade daquilo. Estou muito grata aos fantasmas que criaram coragem para aparecer, aos leitores que haviam me abandonado voltarem a dar opinião e a todos que já vem interagindo comigo continuarem interagindo.
Sério gente, foi muito especial para mim ler cada comentário, sentir e saber o que vocês estão sentindo. MUITO, MUITO OBRIGADA!!

Ps: SOMOS CAMPEÕES DO MUNDO BB! 🙌👏😍🎉🎊

Mas agora espero que gostem e me desculpem pelo tempo de espera.

Capítulo 26 - Eu prefiro você.


No dia seguinte eu acordei como em qualquer dia. Tomei um bom banho e pelo espelho notei que perdi alguns quilos, provavelmente devido a minha alimentação. Eu estava comendo bem melhor aqui do que comia em Chicago, vida de residente e estudante — ou seja vida escrava — não me dava muito para preparar algo descende e acabava caindo na onda dos fastfoods. Aqui eu tenho uma cozinha para mim, mas essa mamata não vai durar para sempre, preciso arrumar um apartamento, porque apesar de morar do CT me da muitos luxos e ser bem viável quando eu trabalho só por aqui, Valdebebas é um pouco distante do centro e do mundo urbano na cidade de Madrid, me deixando um pouco isolada as vezes. Fora as regras que me impedem de trazer meus amigos, de beber, de fazer dezenas de coisas, que para mim não são de fato um problema grande, mas eu sinto falta nos fins de semana quando eu estou desocupada e quero companhia e tenho que viajar para ter uma. 

Moral da história, preciso procurar um apartamento, mas ainda não tenho tempo pra pensar nisso.

Durante o café da manhã rolando o feed do instagram eu vi vários vídeos de contas esportivas com o James jogando futebol e conversando com os meninos de Getafe. As manchetes eram: " Jogador do Real Madrid faz a alegria das crianças de bairro pobre em aos arredores de Madrid.", " James Rodríguez é flagrado jogando futebol com fãs em Gatafe.", " Mesmo lesionado James Rodríguez tem tempo para o fãs e fãs surpresa em bairro no subúrbio da capital espanhola.". Observei um dos vídeos, James levando uma caneta do garoto e todos rindo depois, inclusive eu apareci num canto rindo como uma hiena. Parece que a repercussão estava sendo boa, ainda bem. 

No caminho até a casa de James fiquei pensando em como o fato de a mulher dele me deixava aliviada e aflita ao mesmo tempo. Aliviada porque a presença dela me causava um certo peso, culpa e medo, eu tinha receio até de toca-lo, por mais que não tivesse nada demais no meu toque ( totalmente profissional juro ), mas minha mente ficava inventando tantas paranóias que eu me sentia extremamente desconfortável. Mas aflita porque agora estávamos sozinhos, e apesar de James ter sido muito respeitoso essas semanas, eu não sei que será a mesma coisa quando não ter o fantasma de Daniela por perto. Tenho muito medo que ele mude e volte a ser o James de antes, o cafajeste sem muitos escrúpulos que provocava até eu pedir socorro a Deus. Até porque, sendo bem sincera, eu não sei se eu vou conseguir resistir como antes, ainda não confio totalmente no meu corpo quando o assunto é James Rodríguez e eu me odeio por isso. 

Quando cheguei e fui bater na porta, ela abriu antes que eu chegasse a toca-la. Fui "recebida" pela pequena Salomé, que estava com a roupa da escola e a mochila azul mas costas, segurando a porta estava María. 

— Bom dia Dra. Mia — ela diz com um sorriso simpático de mãos dadas a governanta. 

— Bom dia Salo — ofereço um sorriso a ela também. 

— Vou levá-la até a escola, pode ir entrando, já é de casa — María falou e eu anui em confirmação. 

Elas seguiram na direção de um carro preto, já ligado e parado ali na frente. James deve ter contratado um motorista particular para levá-la enquanto ele não podia. 

— Boa aula — falei e a colombiana virou o rosto para mim enquanto descia as escadas da entrada e deu um adeusinho. 

— Bom treino, deixe o papai bom — eu ri e María também. 

— Pode deixar — então elas entraram na parte de trás do land rover e eu entrei na casa, fechando a porta em seguida. 

Okay, Mia.

Respirei fundo e caminhei na direção da academia, como sempre, vou o esperar lá, depois o conto sobre o que estava planejando para hoje. 

Mas assim que passava pelo foyer ouvi meu nome ser chamado:

— Mia! 

Franzi o cenho e olhei ao redor. Não havia ninguém ali. Jesus é você? 

— Mia é você? — Era a voz dele, ela soava distante, quase como um farfalhar longínquo.

— Sim, já estou indo para academia — avisei alto para que me ouvisse. 

— Ah não, vem aqui na cozinha — sulquei mais ainda a testa, com certeza seria muitas rugas nessa região.

Será que ele precisava de ajuda? 

— Ta, mas... — olhei ao redor novamente. — Onde é? 

— Perto da escada, tem uma entrada siga por ela — me guiou e eu o fiz, entrando em um corredor com uma porta que acredito ser a dispensa e depois um cômodo claro e grande que era a cozinha. 

James estava sentado na ilha sozinho, um prato de...o que era aquilo? Parecia uma panqueca, mas tenho certeza que aquilo não era de trigo. 

— Ah! — Falei um pouco sem graça. Ele já estava trajando as roupas para o treino, me parecia bem. — Precisa de alguma coisa? — Mantive a distância, onde eu cheguei, parei. 

O jogador passou as mãos nas coxas e apontou para cadeira na sua diagonal. 

— Toma café comigo, eu odeio comer sozinho — falou normalmente, como se não houvesse nada demais. 

E não haveria nada demais, mas minha mente perversa e medonha enfiava paranóias na minha cabeça e me fazia temer tal proposta. 

— Na realidade, eu acho melhor eu já ir arrumado das coisas lá — seus olhos brilharam de uma forma diferente, quase como se decepcionado, ele abaixou a cabeça e cravou o garfo na massa esférica em seu prato. 

— Ah! Tudo bem — sua voz tinha todo um polimento especial, pena que não se esforçou o suficiente para que ele chegasse aos seus olhos. 

Sorri fraco e comecei a caminhar na direção de volta, o coração levemente apertado. Porque eu estava com pena dele? Eu não deveria ter pena dele, não deveria, mas eu tinha. Coração mole idiota. 

Respirei fundo e girei nos meus calcanhares. 

— Ta comendo o que? — Segui até o banco alto a frente do dele. Pelo menos uma placa de mármore nos distanciaria. James ergueu os olhos e os vi sorrirem, ele não conseguia disfarçar nada. 

— Se chama arepa, é uma massa de pão feita com milho moído — explicou. Milho, comida latina. 

— É lá da Colombia? — Eram várias arepas, entre elas fatias de queijo e carne desfiada.

— Sim, café da manhã tradicional de Cucútia — eu sorri fraco e ele desviou os meus olhos para o prato. — Prova — cortou um pedaço e me ofereceu. 

Peguei o garfo da sua mão e levei o pedaço enorme de massa com queijo e carne a boca. Mastiguei buscando degustar os sabores, James me olhava esperando uma resposta. 

— Hum — soltei primeiro e ele inclinou-se um pouco para frente. — Hum... — gemi. — Isso é bom — disse assim que engoli tudo. 

O moreno sorriu e voltou a escorar-se no encosto curto do banco. 

— É um dos meus pratos típicos favoritos, não é igual ao da minha mãe, mas...— levou um pedaço a boca. 

— Foi você que fez? — Ele negou ainda com a boca cheia. 

— Não, foi Lúcia — falou após engolir. — Ela fez ontem — adiantou já prevendo meu estranhamento pela tal Lúcia não estar aqui. — A liberei ela hoje para ir no resolver um problema de um parente de mudança, algo do tipo — franziu o cenho explicando. 

— Ta se virando sozinho hoje então — dei uma risada. — Quero só ver — James me olhou incrédulo. 

— Para deixar bem claro, eu cozinho moderadamente bem. O suficiente para não morrer de fome — cruzei os braços e anui. 

— Imagino eu sim, mas aposto que Lúcia já deixou tudo pronto, você só vai precisar esquentar — ele torceu os lábios. 

— É, ela é uma boa pessoa. Estou inapto a fazer afazeres domésticos — apontou para a perna devidamente imobilizada. 

Meus esporros valeram! Glória! 

— Falando assim parece que ta com o corpo todo enfaixado — debochei e ele me deu mais um pedaço da arepa. 

— Você disse repouso pleno, estou repousando — sorriu plácido gesticulando um plano com as mãos. Revirei os olhos prendendo o riso. — Mas o que está planejando para hoje? 

— Para lhe tirar do seus repouso pleno, eu bolei uns exercícios bem legais — ele me olhou hesitante. 

Legal para o fisioterapeuta não significa que seria legal para o paciente. Mas nesse caso era. 

— Coma logo e coloque um calção de banho — agora me olhava com confusão e estranheza. 

— Calção de banho? 

— Vai treinar na piscina, a baixa pressão vai te ajudar a se movimentar melhor. Menos peso, menos dor. 

— Isso parece interessante — sorri de canto. 

— Vai ser legal, to dizendo, confie em mim — ele olhou nos meus olhos, fixos e brilhantes. 

— Eu confio Mia — um frio deslizou pela minha barriga, desviei o olhar. 

— Ótimo — sorri amarelo. 

 

Ficamos conversando sobre coisas banais até James terminar de comer, e enquanto eu ia para área da piscina, ele seguiu para o quarto para trocar de roupa. Observei que ela começava mais rasa, um pouco acima da cintura e depois se aprofundava. Também havia uma parte ainda mais rasa separada pela coloração um pouco mais clara. 

Bom, seria perfeito — conclui com as mãos na cintura. 

— Ué! Você não vai entrar comigo? — Perguntou o jogador saindo da varanda no mesmo patamar da área aberta. Ele me olhara de baixo para cima, provavelmente buscando minhas vestes de banho. Obviamente inexistentes. 

Virei para ele e ri sarcástica, mais uma vez é óbvio que tentando disfarçar que meus olhos percorreram cada palmo do seu abdômen bronzeado completamente nu. Eu podia ser menos tarada por corpos masculinos, só um pouco. 

— Nem pensar, quem tem que treinar aqui é você querido — ele sorriu acompanhado de uma risada nasal. 

— Tudo bem, não é muito justo, mas... — fiz careta e bati palmas para o apresar. 

— Vamos, entre logo — com ajuda das muletas e já sem a bota, o camisa 10 caminhou até a borda e eu o ajudei com as muletas. Ele sentou-se na beirada e foi descendo aos poucos para não forçar a perna. 

Assim que atingiu o fundo, a água batendo cima da dia cintura eu comecei a indicar o que fazer. 

— Se quiser se apoiar na beirada, é melhor — ele o fez. — Quero que sobre o joelho em 90º, devagar — James começou a fazer até que mordeu o canto do lábio em um momento. — Dói? 

— Um pouco, mas não tanto quando antes. — Ótimo, ao menos minha ideia deu certo. 

— Agora, abaixe devagar — obedeceu. — Repita 10 vezes, quanto mais fizer menos dor sentirá. Esse exercício é para acostumar os músculos atrofiados dos dias inertes com o movimento.

Assim continuamos o exercício, e assim que findado os momentos o fiz esticar a perna oito vezes. Ao fazer este James chiou um pouco, já que trabalhava diretamente na área lesionada esticando os feixes de músculos provocando mais dor. Eu precisei o motivar para que conseguisse chegar até o fim. Lembro-me bem na faculdade tive uma cadeira de psicologia motivacional, de extrema importância para nós já que lhe damos com pacientes que perdem a qualidade de vida e algumas vezes tem chance de nunca recupera-la plenamente.

O próximo momento é nomeado de avião, basicamente esticar a perna para trás do corpo, tencionando o máximo da coxa posterior possível, e portanto um movimentos que causava dor nele.

— Carajo! — Xingou na quinta vez.  

— Só mais três, vai melhorar — falei na borda ante ele. 

— Tem certeza? — Ele chiou erguendo a perna novamente, o semblante de dor entre as sobrancelhas. 

— Eu juro, quando terminar esse um minuto de descanso — ele me olhou incrédulo em mais um movimento. 

— Um minuto Mia? — Ergui a sobrancelha e cruzei os braços. 

— Se reclamar serão zero minutos — ele calou-se. 

— Um minuto ta ótimo — sorri satisfeita. 

— Muito bem, o ultimo, vamos! 

Assim que ele concluiu essa tríade apoiou os braços na borda deixando o queixo sobre eles. Eu fui até a espreguiçadeira pegar água. 

— Já percebeu que a gente nunca valoriza as coisas que a gente tem? — Falou de repente. Eu franzi o cenho, minha mente disparou tentando entender o sentido da frase e porquê de te-lá sigo agora. Existiam muitas variáveis, uma delas pode ser relacionada a briga dele com Daniela. 

— Porque diz isso? — Virei-me com a garrafa em mãos e o entreguei. 

— Bom — bebeu alguns goles. — Eu tenho sempre essa piscina aqui e nunca aproveito, raramente venho, mas geralmente quando Salo pede ou sei lá — quase ir de alívio. Mente paranóica é um perigo. 

— Devia vir mais, sendo atleta o processo de imersão na água é importante para o relaxamento dos músculos. Muitas lesões vem de sobrecarga — o jogador anuiu em concordância. 

— Eu sei, mas da preguiça — me devolveu a garrafa. 

— Pode usar a hidromassagem no seu banheiro então, água quente também faz bem. 

— Tem razão, as vezes eu simplesmente esqueço que tenho coisas que facilitariam minha vida — sorri de canto. 

— Só precisa olhar com outros olhos, vai ver como tudo vai melhorar se tirar dias para cuidar de si, não só como um atleta cuida do corpo como objeto de trabalho, mas como uma pessoa cuida do corpo para relaxar e se sentir melhor — me sentei na sua frente, as pernas cruzadas. 

— Tem razão novamente — falou com ar risonho. — Você não cansa de ser sabia? 

— De parecer sabia — corrigi. — Eu costumo dar bons conselhos, mas sou péssima em segui-los — o jogador sorriu de canto e de repente o clima ficou maciço, acho que nós dois estávamos ligando minha fala a algo no passado distante ou recente. — Bom, vamos lá! 

Me ergui e James se impulsionou para desolar-se da parede. 

— Você vai encostar a perna no chão e caminhar fletindo o joelho tentando bater palmas por baixo dele — James respirou fundo. 

— Só isso? — Eu ri. 

— Só — anuiu fazendo careta. 

— Vamos lá Rodríguez, animação. Quer voltar logo ou não? — Ele deu um gritinho de falsa animação. — Esse é o espírito! — Bati palmas o encorajando a seguir adiante.

James pousou a perna no chão com hesitação, primeiro andou alguns passos para ter mais confiança um pouco manco, mas não reclamou de dor. Então começou a fletir o joelho e bater palmas, tudo devagar como eu o guiava. Nada de forçar, nada de usar a força bruta. Ele faria apenas o que eu sei que conseguiria chegar até o fim. Foram 8 repetições. Na volta caminhando e encostando os calcanhares nos gluteos. Dessa vez houvera reclamações de dor, mas era perfeitamente normal. 

— Está indo bem. Acha que consegue vir até mim? — Ele ergueu os olhos para mim e assentiu. 

Assim que chegou até mim o fiz ficar apoiado na parede batendo as pernas como uma criança aprende a nadar, cada exercício muito bem pensado para trabalhar a recuperação da força muscular e da elasticidade. 

— Meu empresário falou que houve uma repercussão de vídeos meus de ontem — comentou entre os exercícios. 

— Sim, eu vi algo hoje. Mas houve algum problema quanto a isso? — Afinal era a imagem dele e como pessoa pública isso importa e muito. 

— Não, foi até bom — apressou-se em dizer. — Na realidade, ele disse que foi ótimo para minha imagem — sorri. 

— Nos lugares que eu vi, só haviam elogios à você — James também sorriu. 

— Obrigado Mia, se não fosse por você eu não ia ter esse contato com os fãs como tive — eu neguei. 

— Pare de me agradecer, não fiz nada demais. 

— Você sabe que isso é mentira — me olhou fixamente nos olhos, tão profundo que penetrou. 

Forcei os cantos dos lábios e desviei. Silêncio se fez entre nós enquanto ele executava a série. Percebi mesmo após ontem ainda havia um certo incomodo dele, hesitação, temor. Era perfeitamente normal, um dia não iria fazer milagre, por mais que tenha ajudado o suficiente para ele enfrentar a dor. James precisava de algo mais, algo me o incentivasse, o motivasse. 

— Sabe eu estava pensando...qual seu maior ídolo do futebol? — Perguntei "despretensiosamente".

James me fitou um ponto qualquer, ponderando, até que falou:

— Eu tenho muitos ídolos, pessoas que me inspiram. Quando era criança queria ser Pibe, sabe, o Valderrama — um dos maiores jogadores colombianos. — O vi jogar pela televisão e falei para minha mãe que seria como ele, que seria um grande jogador e daria orgulho para meu país — de repente me peguei sorrindo com as memórias que ele recitava. — E quando eu o conheci quase não acreditei — ele parou por um momento e o vi sorrir de canto. — Ele me disse: Garoto você pode levar a Colômbia mais longe do que eu já fiz — seus olhos brilhavam, um fantasma bom.

— Quartas de final, um feito único para seleção Colombiana — eu lembro bem. Lembro do jogo de classificação e lembro de ver as quartas pela televisão com o coração dividido e partido. Ao contrário de James eu não tenho uma memória boa daquele dia, ele ainda dói um pouco, por mais que eu me force a esquecê-lo. 

O jogador anui com a sombra de um sorriso do rosto.

— É, foi incrível. 

— E não é que Valderrama estava certo, você brilhou na copa e depois dela explodiu — ele me olhou. — Atualmente você é o maior jogador colombiano, tem ideia do que é isso? — James suspirou profundamente. 

— Na realidade, ao mesmo tempo que isso me motiva, me assusta um pouco. Porque além de decepcionar aos torcedores eu decepciono uma nação inteira — confessou. 

— Isso me lembra o que Mousar, o coreógrafo da companhia que eu dançava, me falou.

Talvez essa motivação tenha que ser mais profunda, algo que o faça pensar de verdade, que o faça ponderar. 

— Ele disse que eu era tão boa que mesmo não estando em minhas plenas condições físicas era merecedora do cargo de primeira bailarina — falei sem olhá-lo, apenas fitando o céu azul e límpido dessa manhã ensolarada, embora eu soubesse que James me fitava. — Mas, por mais que eu fosse boa, que eu me esforçasse para ser a melhor, eu nunca ia poder ser primeira bailarina, porque nenhum companhia grande se interessaria por uma bailarina defeituosa, quebrada. E, apesar de dança significar amor, se eles quisessem ser reconhecidos precisavam que sua primeira bailarina fosse contratada por grades companhias europeias — doía falar disso, mas valeria a pena. 

— Aquele espetáculo que você estava ensaiando...você não conseguiu o papel? — Perguntou ele e enfim eu me virei. 

— Não, eu fui a substituta — vi algo como pena nos seus olhos. 

— Sinto muito, Mia — olhando nos seus olhos eu senti meu coração pesar e as lágrimas começarem a subir. 

Já estava entrando em sentimentos demais, preciso controlar. Provavelmente não foi minha melhor ideia, talvez tenha sido melhor continuar com a motivação interpessoal, à distância.

— A questão é — desviei os olhar por um momento para segurar qualquer lágrima que ousasse sair. — Você ao contrário de mim, James, você pode voltar. Você já é incrível, já é grande, já está no topo, seu ídolo te reconheceu como maior que ele. O próprio Valderrama já teve má fases, Hoben, Ronaldo, Zidane...todos também já sofreram grandes lesões, mas elas nunca foram o suficientes para destruir tudo o construíram, assim como não será para você — ele me fitou por alguns segundos apenas piscando. 

Sua falta de fala só me deu a certeza que atingi meu objetivo.

— Agora, vamos lá! Eu não mandei você parar mandei? — Levantei-me fingindo que falar sobre aquilo não havia me abalado, infelizmente ele não caiu nessa. 

— Está tudo bem? — O olhei com deboche. 

— Claro que está, porque não estaria? — Coloquei as mãos na cintura, ele permaneceu me encarando, os olhos me perscrutando com preocupação. 

Preciso que ele pare, porque se continuar não vou conseguir me segurar.

— Vai ficar ia parado me olhando? Ande Rodríguez! 

Ele respirou fundo e voltou aos exercícios.  

Só mais alguns minutos ali foram o suficiente para terminar a série que eu havia montado para hoje e esse tempo foi bom para eu me recuperar internamente. 

— Isso! Boa James, amanhã quero mais animação ainda para o exercícios fora d'água — ele sorriu forçosamente. 

— Pode deixar doutora — sorri. — Agora me ajude aqui, não sinto mais a perna e espero que isso seja bom — estendeu a mão. 

Respirei fundo e fui até ele, apoiando os pés na beirada estendi minha mão e agarrei a sua. Fiz força para puxa-lo enquanto o outro braço dele empurrava a beirada para subir, mas isso só da certo quando a pessoa que está em baixo não é mais forte e usa seu peso para puxar a que está tentando o ajudar. 

Foi assim que eu fui puxada para dentro da piscina, caindo como um tapa na água. Com os olhos bem apertados em baixo da água senti as bolhas me cercando e subindo até que emergi com elas, soltando o ar e puxando mais. 

Só ouvi a risada de James enquanto eu limpava meus olhos para abri-los. 

— SEU FILHO DA MÃE DESGRAÇADO! — Xinguei o fulminando, e o jogador ria. 

— Olha como fala com seu paciente, hein! — Fiz careta, um pouco infantil, mas dane-se. — Além do mais, você estava precisando disso, estava muito tensa.

— Argh! Eu não estava tensa, só concentrada. 

— Hunf! Sei que estava... — Minha camisa estava grudada ao meu corpo como uma segunda pele e notei o olhar do jogador descer justamente para a parte marcada pelo sutiã fino.

Péssimo dia para vir de branco Mia, péssimo dia. 

Espirei água nele e James me olhou incrédulo. 

— Eu peguei leve com você, fui bondosa — joguei água novamente. O jogador entrou se proteger com os braços. 

— Pegou leve? Haha fale isso para meus músculos latejando — então revidou. Abri a boca., estupefata. 

— Era para estar sangrando agora — bati na superfície aquosa novamente. 

— Como é que é? — Ele abaixou os braços cerrando os olhos. 

— Isso mesmo, me arrependi de pegar leve com você — puxei a camisa a descolando do meu corpo de alguma forma. — Agrh James Rodríguez, amanhã você vai ver — ameacei. 

— Vou é? — Debochou inflamando minha raiva. Joguei mais água nele e James devolveu, fazendo uma chuva brutal seguir na minha direção. Eu revidei como podia, me protegendo com um dos braços. 

Eu não sei quanto tempo ficamos naquela guerrinha, mas em um momento James berrou:

— Chega. Eu me rendo — não parei, era minha chance de ganhar. Aumentei o volume de água na direção dele, o jogador só se defendendo. — Socorro! Volume afogar — berrou com uma voz fina e eu ri. 

— Isso é por ser mal agradecido — continuei já não mais com raiva. 

— Mia é sério, eu vou...morrer — tossiu se aproximando com os braços na altura do rosto. 

— Vai nada, ta aí vendendo saúde — rindo ia jogar mais água, mas ele segurou meus pulsos me impedindo. 

— Se eu morresse o que você diria ao clube? — Perguntou, goticulas deslizando pelos seu rosto, os cílios negros molhados, os cabelos negros encharcados e bagunçados. Estávamos tão próximos que minha respiração falhou. Seus olhos me fitavam sem quase piscar, e eu do mesmo modo. 

— E-eu...— merda! Porra! Gaguejar não. — Eu diria que você mereceu e que colocassem outro no seu lugar — tentei falar com o máximo de secura e serenidade. 

James ergueu uma sobrancelha.

— Acha que eu sou facilmente substituível? — Aquela pergunta era dúbia e eu respondi a altura. 

— Qualquer um é substituível, James — ele me olhou no fundo dos olhos.

— Alguns não, não especiais demais para isso — meu coração deu um sopapo. 

O que ele queria dizer com disso? 

Respirei fundo.

— Acho melhor a gente sair — o jogador anuiu e soltou meus pulsos. 

Subi as escadas da piscina e saí da água tremendo. James se apoiou nos braços e sentando-se na borda. 

— Mia, ainda preciso da sua ajuda — James disse atrás de mim. 

Virei para ele.

— Acho bom você não inventar de me derrubar de novo — o jogador mostrou o mindinho. 

— Eu prometo — sorri de canto e revirei os olhos o ajudando a se levantar. 

— Isso foi tão infantil — comentei o guiando até as espreguiçadeiras. 

Ele sorriu enquanto eu colocava sua perna sobre a espreguiçadeira do lado para que ficasse suspensa. 

— Mas valeu a pena, não valeu? Pelo menos agora você está sorrindo — eu sorri canto. Ele parecia tanto o James do Brasil que eu me assustava. 

— Precisava me deixar toda molhada para me fazer sorrir? — James se apoiou nas mãos e deu de ombros. 

— Foi a primeira ideia que veio na minha cabeça.

— Onde tem toalhas? — Ele apontou para a copa na varanda. 

— Dentro do armário — anui e segui até lá, tirando duas toalhas. 

James se secou e eu também. Eu "me sequei", porque ao contrário dele, eu não estava com as roupas apropriadas para banho. 

— Deus! Agora como eu vou voltar para o CT assim Sr. Rodríguez? — Falei puxando as roupas coladas a minha pele. 

O jogador abaixou a toalha dos cabelos e disse: 

— Eu não vou deixar você voltar toda molhada, irei providenciar alguma roupa pra você — suspirei. 

— Tudo bem — ele deixou a toalha ao redor da nuca, com ajuda das muletas ergueu-se e seguimos para dentro da casa. No andar de cima ele me guiou até um dia quartos de hóspedes e depois prosseguiu até seu quarto. 

O quarto era decorado em tons de creme e madeira, tinha vista para o jardim de fronte da casa. Caminhei até o banheiro e me despi. 

Precisaria tomar um banho que não quisesse que meu cabelo ficasse uma merda. Como em toda casa de gente rica o banheiro que hóspedes já estava equipado com sabonete líquido e frascos de shampoo e condicionador. 

Em quanto a água moeda descia pelo meu corpo eu não deixei de pensar no que aconteceu. Claro que eu tentava me convencer que não houvera nada demais, mas meu coração insistia em dizer que havia algo ali, que havia algum significado em cada palavra ou olhar de James. Me sentia extremamente idiota por isso. 

Sai do box envolta em uma nuvem de vapor, mas assim que liguei o exaustor ela se foi. Enrolei-me na toalha ali disposta e penteei os cabelos com uma escova que achei em baixo da pia.

Isso aqui parecia mais um hotel. 

Terminado o banho, tentei secar minhas roupas de alguma forma, afinal daqui a algumas horas eu já deveria estar no CT e não sei se daria tempo de trocar de roupa. 

De repente ouço batidas na porta. 

— Entra — falei alto para que ele ouvisse. 

Como estava com a perna apoiada na coxa, me ajeitei rapidamente, afinal já não estava trajada corretamente, não precisava estar em uma posição relaxada demais. 

James parou diante da porta do banheiro com uma muda de roupa em mãos. 

— Se quiser, eu posso colocar para secar na secadora, é rapidinho — se referiu a minhas roupas encharcadas que eu tentava secar em sucesso. 

Caso eu aceitasse ia ter que passar mais tempo aqui, mas eu não sei se tinha muita escolha. 

Notei que James fazia o máximo para manter os olhos nos meus e não desviar para baixo. E estava na cara que ambos estávamos desconfortáveis com minha quase nudez. 

— Tudo bem — peguei a muda das mãos dele. — Obrigada — forcei um sorriso e ele devolveu, mas continuou ali parado. 

Inclinei a cabeça. 

— Eu tenho me trocar — falei timidamente e ficou todo desconcertado para dizer:

— As roupas, é melhor eu já colocá-las o quanto antes — explicou sem jeito. Eu corei vergonhosamente. 

— Ah! — Peguei as roupas molhadas e o entreguei. 

James sorriu de canto e saiu. Eu só voltei a me arrumar quando ouvi o trinco da porta. 

Respirei fundo e desdobrei as roupas, descobrindo que era uma camisa cinza da adidas e um short daqueles soltinhos de academia. Eram modelos masculinos, roupas dele. 

Eu não sei o que seria mais estranho, usar roupas dele ou da sua esposa. Sinceramente, a cada dia essa história melhora. 

Me vesti, só tinha um problema, nada de calcinha molhada. Geralmente eu não tinha nenhum problema em ficar sem essa peça, sou totalmente a favor de deixar nossa amiga respirar, mas não nessa situação, nunca na casa do seu "ex" ( se é que eu posso considera-lo meu ex ). Ex-caso. 

Enfim vestida, deixei tudo organizado do banheiro, exatamente como encontrei e desci. Abraçada ao meu braço procurei por James e o achei na lavanderia ao lado da cozinha. 

— Estava colocando nossas roupas para secar, ou melhor tentando, não sei mexer nesse troço — ele coçou a nuca olhando para os botões do aparelho de inox como se fosse o console se um avião. Ri. 

— Eu posso tentar? — James ergueu os olhos para mim e afastou-se da máquina sem nem pestanejar. 

Ajustei o tempo e a temperatura à quantidade de roupas apertando o botão de iniciar por fim. As roupas começaram a centrifugar, girando atrás do vidro. 

— Eu juro que sei mexer na máquina de lavar, mas a secadora é uma coisa nova para mim — confessou de braços cruzados enquanto apoiado nas estantes atrás de mim. Eu sorri fraco. 

— Exige uma inteligência acima do normal — brinquei apontando para a cabeça. James fez cara de poucos amigos. 

— Então Sra. Gênia, pela hora eu acho melhor comer aqui — olhei para o relógio. 

— Ah melhor não! Eu não quero incomodar, além do mais você já tem sua comida contada para você — ele encolheu os ombros. 

— Na realidade eu estava pensando em você cozinhar mesmo — ergui as sobrancelhas. 

— Ah! Então quer mesmo é me usar de escrava para não comer comida congelada — o jogador deixou um sorriso nascer nos seus lábios. — Você é cara de pau mesmo hein?

— Gosto mais da nomenclatura verdadeiro — ri. 

— Só de for verdadeiro sem vergonha — até o mesmo riu.

— Qual é Mia... 

— Doutora para você — o interrompi e ele sorriu matreiro.

— Doutora — consertou. — Sabe que eu odeio comer sozinho, além do mais pelo que me disse, talvez nem de tempo de almoçar hoje se não comer aqui — cerrei os olhos e ponderei.

James tinha razão, embora eu ainda quisesse resistir a passar mais tempo aqui, eu não podia trabalhar de barriga vazia. 

— Argh! Às vezes eu te odeio tanto. 

— E eu adoro fazer você perder essa razão que te deixa de nariz empinado, é divertido — minha vez de fazer cara de poucos amigos. 

— Isso é ridículo — dei as costas seguindo até a cozinha. — Eu não tenho nariz empinado — James chiou. 

— Tem nada! Você é toda teimosa, cheia da razão — entortei a boca.

— Nada haver — ele gargalhou. 

— Olha aí! Já ta teimando de novo.

— Não to não — me virei para ele de braços cruzados como um criança emburrada. James me olhava com um sorriso matreiro, ele estava adorando aquilo. 

— Qual vai ser o prato de hoje? — Brincou bem humorado.

— Sua língua frita ao molho pesto — sibilei e ele arregalou os olhos.

— Não acho que combine muito — estremeceu e sorri maliciosamente — Nesse caso acho melhor pedirmos algo — tentei não sorrir. 

Eu não sei porque ele estava fazendo isso, eu realmente não entendi qual era sua intenção com essa história de não ficar sozinho. Mas, embora eu tivesse medo, a verdade é que não queria ir embora. 

— Ah não! Eu faço questão agora — olhei ao redor. 

— O que está fazendo? 

— Procurando a faca para cortar sua língua — o jogador engoliu seco. 

— Vou procurar o telefone do restaurante, só um minuto — sacou o celular no bolso. 

— Ah que pena, eu estava animada para ouvir o estalar na carne húmida na frigideira — me sentei nos bancos da bancada. 

James me olhou incrédulo. 

— Sua canibal, saiba que minha língua é muito preciosa para ser comida — ergui a sobrancelha e ri nasalmente.

— Imagino. 

— O que quer comer? — Eu ponderei. 

— Ah não sei, como de tudo. Pede o que você quiser — volta a digitar no celular.  

— Tem uma paella de um restaurante aqui perto que é... — beija as pontas dos dedos unidos, como um italiano. Rio. 

Só de imaginar um prato de paella eu já fiquei com fome. 

— Por mim ta perfeito.

— Ótimo, vou fazer o pedido. 

Depois que ele o fez sentou-se ao meu lado e ficamos conversando tranquilamente durante a espera. Era estranho o fato de que nesse momento parecíamos amigos, sem mágoas do passado, sem dores e traumas, apenas falando besteiras, rindo, mas nunca entrando em assuntos pessoais demais. O clima era tão bom que eu até me esqueci que essa situação era errada, que eu devia estar sendo mais profissional. Mas a partir do momento que aceitei as roupas dele e esperar para secar as minhas eu já estava toda errada. 

Quando a campainha tocou em um momento e fomos atender, James fez questão de ganhar por mais que eu tenha insistido para dividir. Arrumei a bancada com sua ajuda me guiando entre as gavetas e armários da cozinha. 

— Sabe, eu prefiro comer aqui na cozinha. Parece mais despojado, me deixa mais a vontade — confessou enquanto arrumávamos. 

— Acho que também me faz lembrar minha casa na Colômbia, sempre comíamos na mesa da cozinha.

— Memória afetiva — ele concorda com a cabeça, eu coloquei os copos ao lado dos pratos. — Eu também gosto, quando morava no Brasil e minha mãe não estava em casa, comia com Vânia, nossa secretaria, que na realidade era praticamente na família — contei e James sorriu abrindo as embalagens em seguida. 

— Hum...o cheiro está ótimo — ele simplesmente tomou a cozinha, fazendo minha barriga clamar para ser preenchida. 

— Não está? Espera só para provar — coloquei os últimos talheres e me sentei ao seu lado. 

Nós servimos e assim que eu levei o garfo a boca soltei um " Hum...". 

— É a melhor que eu já comi — admito com a mão na frente da boca. O jogador sorri. 

— Que bom que gostou — começou a comer e franze o cenho gemendo baixo. — Puta madre! Eles capricharam hoje — sorrio dando mais uma garfada. — Só perde perde para uma certa massa que comi no Brasil. 

— Ah pare de puxar meu saco. Não vou aliviar para você amanhã — ele deu um gole de água e disse: 

— Foi um elogio completamente despretensioso — ri sarcástica. 

— Ta bom Rodríguez. Eu vou aceitar, porque sei que não é totalmente mentira. Mas amanhã você ainda vai se ver comigo.

— Tudo bem, eu aguento — falou convicto. — Agora prova com essa pimenta — ele derramou umas duas colheres de chá de pimenta no prato e levantou uma garfada para mim. 

— Hum, hum! Nem pensar — neguei com o garfo na frente dos meus lábios. 

— Sério Mia! É bom, apura do gosto — insistiu. 

— James eu não sou como vocês da costa oeste que tem pimenta no sangue e nem fazem careta quando comem com litros de pimenta — tentei convence-lo, mas o jogador negou. 

— Deixa de ter teimosa, prova logo — olhei para o vidro de pimenta e respirei fundo. 

— Se eu tiver um problema depois eu vou manter o Dr.Santamaría ligar para você para saber o que aconteceu — ameacei e James anuiu. 

— Sobre minha responsabilidade — assegurou e eu abri a boca. 

De fato James não estava errado, o gosto dos alimentos misturados se apuraram, principalmente o da lagosta que ornou perfeitamente. Mas assim que dei uma mordida e senti algo pequeno partir minha boca toda começou a pegar fogo. Fiz careta engolindo rápido. 

Peguei o copo d'água e o virei rapidamente, não adiantou tanto. James riu. 

— Vou matar você. 

— Você é muito fraca, isso nem arde — zoou.

— Pra você! Que está acostumado — abanei a língua que pulsava meio dormente. Ele ria e eu o empurrei por não estar achando graça nenhuma. 

Mas depois acabei rindo também, por estar nem nem um cachorro com a língua para fora. 

— Voltei Dr. James — a voz soou a direita. Imediatamente meus olhos caçaram a dona da voz. María observava nós dois com a expressão nula, mas eu já estava morrendo de vergonha. 

James virou-se para a porta, a vendo.

Deus! Que profissionalidade minha estar com as roupas do meu paciente, cabelos molhados, comendo na cozinha dele enquanto riamos. Para piorar ele também estava da mesma forma.

Parabéns para mim! 

— Deixei Salo na escola e fiz as compras da casa — avisou e ele anuiu ainda com um sorriso, embora menor, na cara. 

Como eu iria olhar para ela? Claro que não rolou nada demais, mas como ela poderia saber disso se o que pareceu era bem pior do que foi? 

— Licença — ela olhou para nós dois antes de dar um passo para trás. 

— Ah não María! Coma conosco, já está na hora do seu almoço mesmo e na realidade eu que estou ocupando o seu lugar — ele falou simpático e educado. A governanta um pouco receosa sorriu fraco. 

— Não devo comer da mesma mesa do meu che...

— Que besteira! Sente com a gente — falei, tentando ser o mais informal e leve possível. Se eu parecesse tensa, seria bem pior. 

María suspirou o olhar um pouco estranho para mim, mas depois sorriu se dando por vencida. 

— Tudo bem, com licença — ela ia se sentar a nossa frente, mas eu a parei e fiz se sentar no meu lugar. 

Queria deixar bem claro que não estava havendo nada, era apenas um mal entendido. Espero que ela tenha captado a ideia. 

Minha atitude deixou James confuso, percebi pelo seu olhar, mas eu ignorei aquilo e voltei a comer minha comida em pimenta. 

Durante todo o tempo fiz o máximo para não deixar o clima ficar tenso. Contei toda a história de porque estávamos tomados banho, e fiz o máximo aquilo parecer super engraçado, totalmente amigável e profissional. James ainda ficou confuso por um tempo, mas acho que por fim compreendeu o que eu queria fazer, porque começou a interagir. E quando a governanta riu eu fiquei mais relaxada. Já era alguma coisa. 

Enfim, quando terminamos de comer, eu falei que ia olhar as roupas da secadora e me trocar porque eu tinha que trabalhar ainda hoje. María até se ofereceu para passar, mas eu disse que não seria necessário, eu não tinha muito tempo. 

Peguei minhas roupas dentro da secadora e segui até o lavabo para me trocar, deixando James com a secretaria na cozinha, já que nenhum dos dois deixou que eu lavasse os pratos. Me troquei rapidamente e dobrei as roupas emprestadas de James. Quando saí do lavabo o encontrei na sala. 

— Obrigada pelas roupas e ela secadora — entreguei-as para ele. 

— Ela o mínimo que eu podia fazer, já que eu que te puxei para piscina — sorri fraco. 

— Até amanhã — ele sorriu amarelo. Tínhamos regredido aos estranhos tímidos e sem jeito, ótimo, era mais sensato ser assim.

— Até doutora. 

 

No caminho de volta eu fiquei pensando em tudo o que houvera, nas palavras o jogador, nas suas atitudes, busquei significados em tudo, porquês em tudo. Ainda sim eu compreendia isso que estava acontecendo, ela reaproximação. Talvez fosse em nome do bom relacionamento entre paciente e médico, era a resposta mais plausível. É! Provavelmente devia ser isso. 

Sentada no metrô até Valdebebas uma frase dele quando eu disse que qualquer um poderia ser substituído me veio a cabeça: Alguns não, não especiais demais para isso.

Me perguntei o que ele queria dizer com isso na hora, e agora raciocinando melhor devia ter haver comigo. Afinal Daniela era especial demais para que eu a substituísse naquela época, por isso ele voltou para ela.

Faria sentido. 

Suspirei. Pelo comportamento de hoje, apesar de tudo, acho que podemos desenvolver uma relação totalmente baseada no profissional, se eu consegui me desprender do passado eu posso vê-lo como meu apenas como meu paciente e não como tudo o que um dia ele já representou para mim. 

Eu posso fazer isso. Eu posso. 

 

— Uma vaca mastigou sua camisa e regurgitou porque não gostou do gosto? — Javier perguntou quando entrei na sua sala.

— Quase isso — ri e me sentei a sua frente colocando as pastas com os relatórios sobre James acima da mesa. 

Conversamos sobre o desempenho dele e como eu estava lhe dando com cada exercício e se seria bom uma mudança de método, já que relatei que James estava tento alguns problemas emocionais anteriormente. Até me desculpei por ter tomado as rédeas sem acionar a psicologa. 

— Pelo contrário Mia. Acho que seu método será eficiente, já está sendo, um atleta como o James poderia demorar muito mais tempo para voltar aos treinos só pela parte emocional, e você já ter conseguido despertar o mínimo de vitalidade nele...é ótimo. Por isso, não precisa se desculpar, estou muito impressionado e feliz com seu trabalho. Espero que consiga fechar no prazo — suspirei aliada e abri um sorriso. 

— Fico feliz, e eu também. Creio que o veremos nos campos antes de dezembro — Javier encostou-se na cadeira. 

— Eu também Dra. Saton. Eu também. 

 

 

P.O.V James

 

Depois que Mia foi embora eu fiquei com uma boa sensação no peito, eu não sei, era estranho isso, mas eu me sentia um pouco mais leve, despreocupado. Provavelmente porque ela estava tentando me deixar assim, afinal falou que me ajudaria e isso de relaxar o paciente devia fazer parte do trabalho. 

Os exercícios me deixaram moído e eu passei o resto do dia no sofá, assistindo filme ou jogando. Daniela e eu não nos falávamos desde que ela viajou, preferi assim, nós precisávamos desse tempo e não ia ser eu que ia ceder novamente e ligar para ela. Até porque eu estou certo. 

Depois que Salo chegou da escola de tarde eu a ajudei a lavar o cabelo e fazer a lição de casa, depois vimos desenho e enfim jantamos. Durante o jantar Daniela me mandou uma mensagem, mas era só perguntando da nossa filha e como ela estava, nosso único assunto viável. E assim, quando subi para o quarto me vi ansioso para o dia seguinte, pelo menos algo animaria essa casa e me tiraria da rotina enfadonha. 

Pela manhã tomei café com Salo e me despedi da pequena pedindo sempre que María a acompanhasse, eu não conhecia o motorista bem o suficiente para confiar que ela fosse sozinha com ele. Minutos depois Mia chegou e seguimos até a academia.

— To animado hoje — confessei. 

— Acho bom mesmo, porque vai ser sem molezinha — ela me olhou por cima do ombro enquanto tirava um elástico largo da bolsa. 

Respirei fundo. Posso fazer isso, posso fazer isso. 

Estava sentado sobre uma esteira e Mia voltou até mim com o elástico. Existiam muitos exercícios possíveis com ele.

— Vamos começar alongando — entregou-me a faixa elástica. 

Ah! Alongamento é tranquilo. 

Coloquei o elástico em volta do pé e o puxei pelas extremidades como sempre fazia. Ela só ficou observando e imaginei que estivesse fazendo tudo certo até que falou:

— Ótimo, agora vamos do meu jeito — a olhei sem entender. Achei que já tivesse acabado, mas parece que não. 

Apenas uns 5 minutos dos exercícios de Mia eu já estava suando e fazendo careta de dor. Porque tão má? Era só para ser um alongamento, não uma tortura sadomasoquista. Em um momento eu olhei para ela e neguei com a cabeça:

— Você é muito pior que o Javier — ela riu. 

— É necessário para manter vocês na linha. 

— Que isso?! Eu sou ótimo, muito disciplinado, obediente — agora gargalhou. 

— É demais. Se eu sou teimosa, você é pior — a olhei incrédulo, apesar de ter entendido a referência.

— Você é sadomasoquista isso sim — chiei quando ela empurrou novamente minha perna contra meu abdômen. 

— Se me xingar mais não vai ganhar massagem depois do treino — chantagem o nome disso. 

Eu juro que não quis ceder. Juro que tentei ser forte, mas só de imaginar as mais dela apaziguando toda a dor que eu estava sentindo...não tinha como resistir mesmo.  

— Ta, parei. 

E assim três dias de treino passaram, e para quem achava que não iria conseguir eu fui até bem. As dores diminuíram, até ficou um pouco mais fácil e me senti mais motivado a continuar. Mia foi imprescindível nesse processo e não só por ser uma ótima fisioterapeuta, mas por segurar minhas rédeas, me incentivar como jamais imaginei que fosse. Na realidade nossa relação se transformou, fomos poucas palavras e um clima pesado a brincadeiras e um clima leve, animado. E eu só admirei mais por isso, ela era tão profissional e tinha um coração tão bom que está me ajudando, se esforçando para me levar de volta aos campos, e ver alguém se doando tanto me da vontade se me doar também. Acho que mais do que qualquer exemplo que ela me dá sobre jogadores que tiveram de sair de momentos ruins, de lesões como forma de me motivar, ela me motiva só por estar lá, por não me abandonar. 

Na quarta-feira da semana seguinte houve um problema com a babá de Salomé, era tipo um feriado espanhol e ela ficaria em casa, geralmente em dias como esse eu sairia com ela para algum lugar legal, um parque talvez, mas por causa da minha lesão vamos ter que ficar em casa. Eu já havia planejado tudo com a babá para vir de amanhã e ficar pelo menos o tempo do  eu treino, mas ela teve uma emergência e me abandonou. Ou seja, em plenas oito da manhã eu estava tomando café com ela — algo meio improvisado porque como era feriado eu liberei todo mundo que trabalha aqui — enquanto buscava alguma forma de deixá-la com alguém, pensei em amigos, mas todos estavam viajando ou curtindo a família e eu não queria atrapalhar. Partes ruins de não ter família por perto, não ter esse amparo. 

Não que eu não pudesse deixar Salo sozinha por um tempo, mas eu não gostava muito da ideia de estar na academia e ela dentro de casa, se acontecesse algo eu não ouviria. 

Bufei esfregando o rosto. 

— O que foi papá? — Ela inclinou o rostinho o apoiando na mão, os cabelos arrepiados, ainda de pijama de unicórnios. 

Abri a boca para responder, mas ouvi uma batida na porta na cozinha. 

— Bom dia — Mia saudou, diante do meu pedido para ela entrar sem precisar bater dos dias anteriores. 

— Bom dia — Salomé cantarolou sorridente. 

— Bom dia — falei, mas meu tom não saiu tão animado quando na minha filha. 

Ela entrou na cozinha e se apoiou na bancada entre nós dois.

— Sua cara não está muito boa, o que houve? — Me perguntou mais baixo. Olhei para Salo comendo cereal tão distraída que voltei a visar Mia.

— A babá teve uma emergência e não pode vir, estou desesperado porque não tenho com quem deixar Salo enquanto treinamos — ela mordeu o lábio. 

— O bendito feriado... — suspirou ponderando. — E se você mandar uma mensagem para a babá? Ela teve ter referências de outras de confiança. — Porque não pensei nisso antes? 

— Verdade — peguei meu celular em cima da mesa e mandei a mensagem para Júlia, em poucos minutos ela respondeu com uma lista com vários números. — Ela mandou os números, vou ligar e saber se alguma pode vir para começarmos — avisei e Mia anuiu. 

Comecei por Marcia, a primeira da lista, mas ela não atendeu. A próxima era Felice e ela já estava cuidando de uma criança hoje. Assim foi a terceira, a quarta e nada. Eu pedi licença a Mia, porque quando eu estava no celular tinha mania que ficar caminhando e fazer isso ali provavelmente a deixaria agoniada, portanto as deixei na cozinha e fiquei andando ( sim eu já estava andando, meio capenga, mas andando ) pela casa e telefonando, pedindo ajuda e negociando valores. 

No final eu não consegui nada, todas que atenderam não podiam pelos mais diversos motivos. E por isso suspirei profundamente caminhando de volta para a cozinha. Mas quando passava pela porta aberta vi uma cena interessante que me fez parar, Mia e Salo estavam rindo parecia que se conheciam a tempos, porque Salo, apesar de ser um criança dócil, não era das mais facilmente dadas. Por isso eu fiquei estático e encantado ali observando as duas que tiravam os cereais em forma de letras formando palavras sobre o mármore da bancada. Me apoiei na parede, não querendo atrapalhar aquele momento, na realidade com um desejo que capitular aquilo na memória, mas minha decisão de permanecer invisível não durou muito. 

— Olha papá, eu escrevi meu nome inteiro — ela apontou para a bancada cheia de cereais espalhados e um pouco de leite neles. Mia se assustou um pouco ao perceber minha presença, mas sorriu e me deu espaço para ficar no meio entre elas. Eu caminhei até la e vi perfeitamente o nome escrito, aquilo me fez sorrir afinal ela estava sendo alfabetizada. 

— Olha só! Mais minha princesinha é muito inteligente mesmo, não? — Falei a abraçando pelos ombros e dando vários beijos no rosto. Salomé ria, eu simplesmente amava esse som. 

— Ela fez tudo sozinha — Mia falou um pouco mais distante de nós, notei. Sorri para ela. — Você conseguiu algo? — Meu sorriso se tornou uma linha reta. 

— Não, infelizmente — a doutora suspirou e ponderou um pouco demais. 

Então ela vai treinar com a gente — concluiu com um sorriso satisfeito. 

Quê?

Ergui as sobrancelhas. 

— Treinar com o papai — Salo ergueu os bracinhos. 

Na minha cabeça só existia uma palavra: Como? 

 

(...) 

 

— Você quer ficar com esse pijama mesmo? — Perguntei a Salo enquanto entravamos na academia.

— Hoje é dia da preguiça, então eu posso ficar? — Cerrei os olhos. Dia da preguiça...ótima desculpa. 

— Pode — ela sorriu e saiu saltitando até a porta de vidro. 

Cerrei os olhos pela luminosidade.

— Ela está bem animada — comentou a doutora. 

— Ela vai querer fazer todos os exercícios, se prepare — avisei e Mia riu. 

— Relaxe, tenho experiência com crianças esportivas — vi um sorriso malicioso no canto dos seus lábios.

Começamos o treino com os alongamentos de sempre, Mia colocou uma esteira igual a minha ao meu lado para Salo que fazia cada um dos movimentos com ajuda da fisioterapeuta. 

— Ela está indo melhor que você James — zombou a morena. Fiz careta parando no meio de um exercício. 

— Eu sou velho e remendado, da um desconto — ouvi sua risada enquanto cruzava os braços. 

— To achando que isso é desculpa, e você Salo? — Olhou para pequena que tamborilou os dedos no rosto, fingindo pensar. 

Ah! Nada bom para mim vem dai por diante. 

— É papá, você ta muito molenga — arqueei as sobrancelhas. 

Essa pirralha vai levar uns cascudos. 

— Que isso Salomé! Apoie seu pai — reclamei com um leve tom de brincadeira. Ela riu. 

— Acho que vamos ter que dar uma dificultada — cerrei os olhos para Mia. Ela me pega. — Vem Salo! — a pequena deu um pulo ao se reerguer e ficou ao lado da fisioterapeuta.

— Mia não invent...

— De pé Rodríguez — mandou, nos seus olhos não haviam piedade. 

Olhei para Salomé que parecia animada. ANIMADA!

Apoiando só mais no tapete me ergui com um pouco de dificuldade. 

 

(...)

 

— Isso é um absurdo — reclamei. Eu estava me matando em um exercício de isometria de coxa, Mia fazia uma trança em Salomé que estava sentada entre suas perna. 

Como pode ser tão debochada? Pelo que eu me lembre já foi mais obediente.

—  É para seu bem — humedeci os lábios me controlando para não dar a resposta que queria dar, porque além de minha filha estar ali isso poderia acabar com o clima amistoso entre nós. 

Mas confesso que vê-la de toalha na minha frente, ou pior com a camisa branca molhada colada ao corpo marcando os seios...aff foi demais para mim. Eu tive que me controlar demais. Na realidade aquilo foi o verdadeiro absurdo. 

Fiz agachamento, pulei corda, usei aquela fita elástica dos infernos. E as duas só me observando morrer ali. Mas em um momento minha bondosa filha sentiu pena do pai veio me acompanhar para incentivar. Diminui o ritmo para que fizesse isso. 

Estávamos correndo quando pedi para que Mia gravasse enquanto cantávamos Havana, postei com a legenda: Melhor parceira de treino.

— Cansei — a pequena falou descendo da esteira. Eu ri dela se jogando no acento de um dos aparelhos de musculação. 

— Você foi bem hoje, da próxima vez trás ela de novo — Mia falou ao meu lado, olhei para trás enquanto corria. Salo já estava fechando os olhos, suspirei.

— Você me deu uma ideia, vou fazer isso todo final de semana — a doutora riu.

— Sei bem como é. Eu era assim quando pequena, tão energética que parecia um moleque correndo pela casa — eu ri. Conseguia a imaginar assim quando menor.

— Vou pegar conselhos com sua mãe, to precisando — ela sorriu e olhou para minha filha com um sorriso cálido.

— Ela faz algum esperte? Acho que seria uma boa — suspirei. 

— Eu queria que ela fizesse futebol e a mãe quer que ela faça balé, ficamos no impasse — a fisioterapeuta cruzou os braços.

— Mas e ela? Quer fazer o que? — Mordi o lábio pensando. 

— Ela não gosta muito de balé não — Mia riu nasalmente. — Mas Daniela acha que ela quer fazer futebol por causa de mim e que se começar a fazer e gostar não fará bem para ela — expliquei e recebendo um assentir como resposta enquanto diminuía o ritmo para descer da esteira. 

— Eu a entendo em parte, mas acho que Salomé está muito nova para decidir algo de verdade, o que ela fizer agora não significa tenta coisa, fora que ela tem que fazer o que gosta mesmo e se divertir. Caso goste, ela tem você, duvido que ter um pai jogador não a ajudaria no futuro, você sabe como é o meio — anui pegando a toalha que me oferecera para enxugar o rosto. Mia tinha razão, mas apesar disso ela logo acrescentou. — Mas eu estou me metendo demais, isso é uma decisão de vocês — falou sem jeito e em um ato totalmente genuíno eu peguei sua mão. 

— Não, você está certa. Eu que preciso conversar com ela sobre isso — Mia anuiu devagar, os olhos nos meus por um tempo até que ela se afastou um pouco. — Em falar nela — emendei logo para não ficar um clima sem graça e olhei para Salomé já pescando. — Vai chegar em casa e capotar. 

A doutora riu.

— Aí que você se engana, ela já capotou — disse seguindo até a bolsa, recolhendo tudo e guardando. Eu bebi água na garrafa. 

— É verdade. 

Peguei Salomé do colo e ela gemeu um pouquinho abraçando meu pescoço. Mia pegou as garrafas de água, a bolsa e seguimos para dentro de casa. 

Já lá dentro eu despertei Salomé para tomar banho. 

— Filha! — A chamei baixinho, ainda no meu colo, tocando suas costinhas. Ela gemeu em resposta. — Acorda filha — sussurrei e alguns segundos depois Salomé ergueu as costas me olhando com a cara amassada e abusada de sono. Um bico gigante. — Vamos tomar banho sua sujinha — sua careta só aumentou. 

— To com sono — esfregou os olhos. 

— Eu sei, mas precisa dormir limpa. Está toda suada e fedendo — fiz careta para ela, que negou.

— Não to não — cruzou os braços. Que coisa mais fofa! Dios! 

— Está, não está Mia? — A doutora na minha frente foi alvo os olhos da minha filha. 

— Ta um pouquinho sim, hein! — Abanou o nariz fazendo careta. Salomé suspirou. 

— Vamos tomar banho pirralha — a dei um curto impulso para cima para desperta-la de vez, mas ela se empoleirou no meu ombro para olhar para Mia agora atrás de nós.

— Só se Mia vier — parei e me virei de lado para olhar para a doutora. Mia pareceu hesitante e eu sabia porque. Suspirei e olhei para Salo. 

— Filha, ela não pod...

— Tudo bem — interrompeu-me e surpreso a fitei. Salomé sorriu e desceu do meu colo indo até a doutora. 

— Vamos, vou mostrar todos meus brinquedos de banho — falou pegando sua mão e puxando para cima. 

Fiquei um pouco abobado. Era impressionante em como elas tinham se dado bem e mais ainda Mia ter deixado para lá suas regras pela minha filha. 

Subi as escadas um pouco devagar, no meu ritmo e encontrei as duas já no banheiro. Salomé fazia uma bagunça enorme do cestinho de brinquedos ao lado da banheira, mostrando os seus preferidos a Mia.

— Acho bom você guardar todos depois, viu mocinha — comentei seguindo até a banheira e abrindo o registro. 

— Ta bom papá — me sentei na beira de mármore. — Esse é o Sr. Luff — ela mostrou o polvo rosa. 

— Parece o Lula Molusco — comentou Mia e aquilo me fez sorrir com as memórias dos desenhos de infância. Bem que eu achava esse boneco parecia com algo. — Você se lembra do Lula? — Anui. 

— Do bob esponja, claro — Salomé observava aquilo tudo com o cenho franzido. — Bob esponja filha. Mora num abacaxi vive no mar...

— Bob esponja calça quadrada — completou a doutora. 

— Tem a cor amarela e espirra água?

— Bob Esponja Calça Quadrada

— Se nenhuma bobagem é o que você quer?

— Bob Esponja Calça Quadrada

— Diabruras à bordo e problemas com peixe?

— Bob Esponja Calça Quadrada — cantei o final e nós rimos juntos. 

— Que nostalgia — Salomé continuava nos olhando como se fossemos dois loucos. 

— Eu ainda não lembro pai — quase quis enfiar a cabeça num buraco. 

— Que tipo de programação passa na Tv infantil? — Eu estava tão intrigado quando ela. 

— Essas crianças de hoje em dia — neguei fingindo decepção. Mia riu. — Mais tarde você vai ver o que é desenho, mas por enquanto só banho — bati palmas e comecei a despi-la. 

Assim que terminei a coloquei dentro da banheira cheia d'água, eu e Mia sentamos à beira da banheira a ensaboando, lavando os cabelos enquanto brincávamos com o pato Cis e o Sr. Luff. Inventamos histórias, afogamos brinquedos, ficamos molhados de água e espuma. E em um momento que nós três estávamos rindo eu juro que foi como ver a cena de longe, simplesmente quis capturar, capsular aquilo e guardas aquele momento de felicidade genuína. Mas ficaria apenas na memória. 

Fiz penteados diferentes em Salo, até um em estilo punk, a pedindo para fazer careta e o símbolo do rock com as mãos para Mia que riu. 

— Isso que dá deixar uma criança com o pai — ela desfez o penteado incrível com água e começou a fazer outro. Eu ri quando vi dois coques de princesa Leia. — Seu amador, isso que é arte. 

— Ah não! A brincadeira vai ficar seria agora — fiz outro, deixando Salo de franja e cabelo chanel. 

— O que é isso? — Mia perguntou fazendo careta para minha obra prima. 

— He-man — falei como se fosse óbvio. Ela riu. — Qual é? Ta a cara! — Voltei a olhar e estava um pouco caído...mas dava pra entender. 

— Eu ganhei James, você não tem esse talento — fiz careta. 

— Mas eu até que eu sou bom com rabo de cavalo e coques, faço direitinho — argumentei. Ela meneou com a cabeça.

— Pai de menina né, aprendizados da vida — eu ri. — Abaixa a cabeça Salo — pediu e assim a pequena fez enquanto Mia tirava a espuma do seu cabelo. 

— Habilidades úteis — comentei já me levantando para pegar a toalha. 

De banho tomado Salo se levantou da banheira e eu a enrolei na toalha felpuda a levando até a bancada, onde a coloquei sentada para passar o creme de desembaraçar, pentear e secar. Por canto de olho via Mia abrir o ralo para a água descer e recolher os brinquedos, mas também notei que me observou discretamente em um certo ponto enquanto eu penteada os cabelos de Salo. 

E do nada ela se levantou e disse: 

— Eu preciso ir — surpreso, mas sei poder fazer nada além de dizer adeus apenas o fiz. — Tchau Salo — beijou a festa dela que sorriu acenando. 

— Tchau Tia Mia — sorri fraco e ergui os olhos para Mia. 

— Tchau — falei e ela sorriu igualmente fraco. 

— Até depois de amanhã, James. 

Assim ela foi embora e me deixando a pergunta: porque será que sempre ficamos sem graça na hora de nós despedir? Porque ela quis ir embora não do nada? Estava tão bom te-la aqui. 

— Gostei de hoje papá, porque fazia tempo que o senhor e a mama não brincavam assim comigo — Salo falou quando a coloquei na cama. 

Sorri fraco sentindo um aperto no peito. 

 

De noite Cris e Marcelo vieram me visitar. Marcelo trouxe o Liam para brincar com Salo e os dois jogavam no quintal enquanto tomávamos umas cervejas, água para robozão, na beira da piscina. Eles me atualizaram sobre o time e os assuntos do vestiário, me incentivaram a treinar e Marcelo rasgou de elogios da Dra. Mia e disseram que estavam todos com saudade que eu tinha que voltar logo, que eu era necessário. Ouvir aquilo me deixou mais animado, com mais vontade de de voltar. Ser necessário, fazer falta é bom em algumas circunstâncias. Mas o assunto acabou desviando para família em algum momento, Cris falando de Georgiana que logo iria dar à luz e estava o deixando louco em casa, Marcelo comentando sobre as crianças e falta de tempo com Clarissa. Mas no final ambos concluíram que as brigas eram ínfimas e que os momentos juntos valiam a pena por todo o estresse. O fato é que quando falaram desses momentos juntos a primeira coisa que me veio a mente foi esses dias com Mia, principalmente o dia de hoje, nós dois treinando com Salo e depois dando banho. Afastei aqueles pensamentos empurrando momentos bons com Dani e Salo, épocas boas nossas, mas várias dúvidas me pairavam na cabeça: Porque motivo aquele foi meu primeiro pensamento? Quer dizer, aquela não era minha família, Mia não fazia parte disso...mas porque diabos eu pensei nela?

— E como você e a Daniela estão? — Cris perguntou. Respirei fundo. 

— Os mesmos problemas de sempre, ela viajou e nós estamos meio brigados, quase não nós falamos esses dias — goleei a cerveja no gargalo. Os dois suspiraram.

— Foi bom ela ter viajado James, assim quando volta a paixão reacende pela saudade — Marcelo falou. 

Saudade... 

Tomara que ele tenha razão. 

Goool — gritou Cris quando Liam fez gol em Salo.

A pequena fez careta emburrada, ela era tão competitiva quando eu, mas puxou mais isso de não perder da mãe. 

— Vai princesa — gritei para anima-la, ela sorriu roubando a bola. 

 

(...) 

 

Quando acordei vi malas na frente do closet e levei um susto. 

Que dia é hoje? 

Cacei o celular e desbloqueei a tela vendo a data. 

Carajo! O dia da volta de Daniela. 

Ao contrário do que Marcelo falou eu não contei os dias para que minha esposa voltasse, na realidade eu nem me lembrei da data que ela voltaria. Mas provavelmente foi pelo meu orgulho ou pelo fato de eu estar tão ocupado com minha recuperação e cuidando cenhosa filha que não tive tempo para pensar no meu casamento. É, só podiam ser eles os motivos. Qual mais existiria? 

Fui tomar banho e durante o tempo que água se derramava sobre mim tentei ao máximo me preparar para o clima tenso que se seguiria nós próximos dias, até porque eu não ia ceder mais. 

 

(...) 

 

A saudade não acendeu paixão alguma, os dias se passaram e as palavras trocadas eram frias e sem conteúdo algum, como se nós falássemos apenas por obrigação. Pensei várias vezes nesse tempo em ceder, em pedir desculpas para acabar com esse clima não mais por nós mas por Salo, mas quando eu vi que Daniela não estava sequer se esforçando para fazer dar certo eu desisti. Já nem brigávamos mais, acho que porque já desistimos um do outro. Um dia eu até me deitei na cama pensando em como deixamos isso chegar nesse ponto? Em como tínhamos nós tornado dois estranhos na nossa própria casa? 

Eu até pensei no que meu amigos me falaram, puxar os momentos bons da minha mente, tentar relembrar de tudo, mas juro que naquele momento aquilo já não adiantava mais. Era como se aquela felicidade que eu tive, aquele buraco que crescia no meu coração não pudesse mais ser preenchido pela mesma coisa de antes. Porque quando eu olhava para Daniela e lembrava de tudo...ela já não parecia a mesma e imagino que eu também não parecia o mesmo para ela. 

E para piorar eu ainda estava tendo os treinos com Mia, e apesar de ter notado uma diferença nela desde a chegada de Daniela, ela ainda cuidava de mim, ela ainda me motivava, ela ainda estava ali, nós conversávamos e parecia que todo o peso saía dos meus ombros. 

Essa situação só me deixava mais confuso. Porque eu sabia que preferir estar com Mia que minha própria esposa era errado, e que eu estava estragando tudo, que eu estava seguidos meus instintos em deixar-me levar pelos encantos a minha médica. E eu me martirizava por ver em em seu olhar, em seus gestos algo que não existia, porque eu estava tão fodidamente carente que só pelo fato de ela me perguntar como eu estava, de dizer que eu ia conseguir, que íamos conseguir eu já ficava pensando: Será que ela era assim com Marco também? Será que ela o tratava da mesma forma que me trata? 

 

Eu estava na sala de estar assistindo alguns jogos quando ouvi uma cacofonia de vozes. Diminui o barulho da televisão para ouvir melhor e assim que reconheci uma das vozes quase não acreditei. 

Sai da sala, seguindo até a escada. De cima eu já pude ter certeza que quem eram as vozes. 

— James David Rodríguez Rubio — ela falou em tom autoritário colocando as mãos na cintura. 

Mamãe! 


Notas Finais


LEIAM AS NOTAS INICIAS POR FAVOR!!
EAI AMORES!! Me digam o que acharam! ME CONTEM TUDO! O QUE GOSTARAM O QUE NÃO GOSTARAM! QUERO SABER!!
Jamia cada vez mais próximos.
Se Daniela achou que ia fazer o James sofrer com a ausência dela ela errou por não contar com a presença de uma certa doutora que preencheria seu lugar e muito bem preenchido.
Salo sendo maravilhosa como sempre e BUM! Família de James na área! Será que o próximo capítulo vai pegar fogo hein? Haha
Amo vocês e de novo, me desculpem pela demora e não desistam de mim.


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