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História I know he's married - Em xeque


Escrita por: mydarlingzayn

Notas do Autor


HOLA mis amores! Essa foi uma semana meio triste, nosso bebê Asensio se machucou e vai ficar uma temporada sem jogar. Mas eu realmente estou mandando todas minhas energias positivas para que ele fique bem logo ( mentalmente e fisicamente ) e volte melhor do que nunca.
Voltei o mais rápido que pude com outro capítulo, ainda não respondi os comentários, mas prometo que o farei o mais rápido não se preocupem.
Batemos 600 comentários e mais de 300 favoritos, não tenho palavras para agradecer a vocês serio.
Bom, não vou me demorar muito, então espero que gostem 😘

Capítulo 38 - Em xeque


A campainha do voo soou enquanto eu andava pelas lojinhas na ala de espera.

— Última chamada para o voo 1268 da American airlines com destino a Los Angeles Califórnia — a voz feminina suave soou pelos altos falantes. 

Suspirei entrando em uma conveniência para comprar chicletes, eu não viajo sem chicletes por causa da pressão que faz nos ouvidos. 

Parei logo perto do caixa onde já havia uma prateleira chicletes e balas variadas. Enquanto analisava para fazer minha escolha senti olhares em cima de mim, e discretamente olhei para o lado. Um grupo de meninas, não deviam ter mais que 18 anos me olhava da forma mais indireta que conseguiam entre cochichos. 

Peguei um pacote de chiclete de hortelã e outro de morango paguei e sai. 

Não era a primeira vez que eu passava por isso desde que cheguei da Bahia, mas eu sabia o motivo. Ele foi me apresentado pouco depois que cheguei em casa.

" — Você saiu na televisão um dia desses querida — Vânia falou enquanto ajudávamos Sarah já com as malas para ir a Florianópolis. 

Eu franzi o cenho e ginger também. 

— Como assim? Porque? 

— Ah foi um programa de fofoca, mas quando eu liguei a televisão já estava no final e eu não soube bem do assunto — engoli seco e olhei para a ruiva, que já olhava para mim. Vânia olhou para nós duas sem entender nossa reação."

Sarah correu para pesquisar na internet e foi fácil descobrir que vários sites de fofoca do Brasil e da Europa ( principalmente ) falavam sobre o envolvimento do grande atacante Antoine Griezmann com uma brasileira. Que no caso é essa que vos fala. A fofoca sofreu mais repercussão ainda por causa da outra fofoca, afinal eu não era mais só uma brasileira, era a ex de um jogador famoso. Pelo menos foi assim que se referiram a mim. 

E mais uma vez estou no meio de uma fofoca, pelo menos não carregava fama de destruidora de relacionamentos como antes. Menos mal. 

Na fila do portão de embarque saquei o celular e vi as menagens de Hugo e Giva me desejando boa viagem e pedindo que da próxima vez fosse a São Paulo. Por último mandei uma mensagem para Lewis, sobre ele, ainda bem, não descobriram. 

 

… 

 

Assim que cheguei em Madrid senti falta do calor carioca e quis entrar no avião de volta. Não que eu não gostasse de frio, mas nunca consegui me acostumar com ele. E enquanto estou eu aqui abraçada ao meu próprio corpo tremendo apesar do casaco forrado tinha gente andando de bermuda tranquilamente.

Pelo amor de Deus! São 8ºC, de onde essa gente veio? Groenlândia? 

Peguei minha bagagem e pedi um uber. Eu com certeza estava ansiosa para deitar na minha cama e dar uma dormida antes começar a organizar tudo. 

Encostei a cabeça na janela e observei a paisagem lá de fora. Tons frios cobriam a cidade, nada de neve, mas as árvores sem folhas tinhas os galhos esbranquiçados como os dedos de alguém com hipotermia. A decoração de natal permanecia em algumas ruas, guirlandas, árvores enfeitadas, luzes de natal formando um tapete suspenso entre dois prédios. Era lindo ainda mais a noite. 

Pelo horário não havia trânsito então chegar até meu apartamento não demorou muito. E Deus! A melhor coisa foi jogar as malas num canto, tomar um banho bem quente, vestir um moletom e deitar na cama. 

Eu se quer tive coragem de levantar para comer, liguei a televisão e dormi ali mesmo. 

Bom, de manhã é que fui me organizar direito, depois de tomar chocolate quente e comer o bom e bolacha ( as únicas coisas que tinha em casa ) desfiz as malas arrumando tudo no guarda roupa. Em seguida coloquei uma roupa melhor e um sobretudo por cima para ir dar uma olhada nas lojas de móveis. Eu ainda precisava de tanta coisa e por mais que tivesse a internet eu gosto de ver tudo pessoalmente. 

Passei o dia resolvendo isso, e em uma das lojas encontrei Clarice e Anna fazendo compras. Anna estava reformando a casa e Clarice acompanhando a amiga. Acabei me juntando a elas nas compras e Anna basicamente era o capetinha das lojas, sabia onde tinha tudo.  

— Ah minha filha, cola que é sucesso — piscou para mim.

Encontrei as cadeiras para mesa, cortinas, televisão para sala, uma chaise linda para colocar ao lado do sofá, mesa centro e algumas louças e copos. Tudo graças as promoções maravilhosas que achamos. 

Só acabamos já perto do anoitecer, me despedi das meninas, passei no mercado próximo a minha casa fiz uma pequena feira e rumei para casa. 

Apesar ter chegado cansada eu estava muito satisfeita com tudo. As poucas coisas que pude trazer pra casa eu já comecei a arrumar, a ansiedade era maior. Mas a própria loja faria a entrega amanhã. No final só não consegui colocar as cortinas, não tinha altura o suficiente para isso e nem escada. 

Depois só consegui preparar algo rápido para comer e caí no sono como uma pedra. 

No dia seguinte foi uma maratona de móveis entrando pelo apartamento, puxa coisa pra lá, puxa coisa para cá, sobe elevador, escada, depois desce. Pelo menos os entregadores me ajudaram na subida, quanto a montagem era por minha conta. Arrumar tudo foi bom para aquecer, ainda mais quando coloquei sertanejo para tocar. 

Estava limpando os móveis quando meu celular apitou. Era Lewis agradecendo pela minha mensagem de aniversário e mandando uma foto de si mesmo fazendo careta de cansado. 

Ri e mandei uma para ele, na frente do espelho segurando o esfregão com uma pano amarrado na cabeça. 

" Modo dona de casa ativado. "    

Havia outra mensagem de Sarah, ela visando que já tinha chegado a uns quinze minutos atrás. 

Mandei a mesma foto que mandei a Lewis para ela. 

" E eu aqui de ressaca. " — O piloto respondeu. 

" A farra foi boa hein?" — Enviei. 

" Se não estivesse tão cansada ia aí te ajudar. " — Mandou ginger. 

" Relaxa, vai descasar. " 

" Vou passar aí amanha e te conto como foi. " 

" Sim, quero saber de tudo" 

Enquanto conversava com eles ia limpando e organizando tudo.

Foi mais um dia que dormi bem cansada, porém satisfeita. 

Nos dias seguintes tive menos trabalho, fiquei em casa descansando mesmo e a tarde Sarah chegou para conversarmos. 

— Cadeiras senhoras e senhores! Agora sim da pra fazer um open — declarou assim que entrou na sala. 

Fiz uma massa para nós duas e enquanto cozinhava bebendo vinho branco ginger foi me contando tudo sobre seu reencontro com sua mãe. 

— Mas foi bom, nos entendemos e nos perdoamos — sorri. 

— Estou feliz por você, é muito ruim ficar mal com quem a gente ama — ela anuiu enquanto goleava o vinho nas taças recém compradas. 

— Nem me fale — confirmou. — E meu pai também ficou feliz por nós, ele via como isso me deixava triste, por mais que eu me esforçasse para não demostrar — suspirou. — Uma fase nova, né? 

— Para nós duas. 

— Um brinde a isso mana, a gente merece. 

Sorri e o tilintar dos copos soaram.

 

… 

 

 

Dia onze chegou e com ele a rotina habitual. Desci até o café na outra esquina e comprei um cappuccino médio e um croassant, peguei o metrô na estação logo a frente seguindo para o nordeste de Madrid. 

Minha playlist fazia a trilha sonora dos meus passos. Muse - Time is running out tocava quando adentrei pelas pernas de vidro do CT desejando bom dia as recepcionistas. O primeiro dia sempre era o um dos mais frenéticos, até porque logo os jogadores chegariam, caras novas do elenco, eu soube e as câmeras estariam ligadas para recebê-los. 

Não fui até o escritório, meu primeiro compromisso era uma reunião com o departamento médico sobre os jogadores e suas atuais condições físicas. Lembrando todos fizeram exames ontem e os receberemos agora para discutir o que fazer com cada um e dar um laudo final. Se estarão liberados para o treino, para iniciar a segunda parte da temporada ou não. 

A sala de reuniões no segundo andar era toda de vidro e com uma mesa ovalada no centro. Graças a Deus eu não fui a última a chegar, percebi pelos lugares vazios. 

Assim que entrei fui recebida por Santamaría, meu chefe e Rosa uma das médicas do Sanita responsável pelo cuidado dos jogadores do Real. Nós conversamos brevemente até que os demais chegassem e o Dr.Mihic entrasse na sala. 

Era uma reunião extensa e dado ao meu hábitos de férias eu precisei de mais café para aguentar tudo sem parecer uma zumbi. 

Durante todo o processo, a análise dos exames, as discussões e a apresentação de Rosa sobre o processo, enfatizando bastante os jogadores que estava em recuperação durante das férias e os recém chegados, eu bebi umas 2 outras xícaras de cappuccino. 

— Quer mais outro senhorita? — Perguntou a assistente de copa bem baixo ao meu lado. 

— Não, obrigada — lhe ofereci um sorriso voltando a olhar para a imagem da ultra-sonografia no telão. Era de Bale e segundo a imagem ele estava finalmente recuperado, o músculo bem curado e saudável. E todos os seus outros exames também eram muito satisfatórios, por mais que não fosse diretamente minha área.

— Meu laudo médico é provado — Santamaría falou após analisar a própria copia das fichas. — E pra você Mia? — Todos os olhos se voltaram para mim. 

Como assistente dele eu não era responsável pela palavra final, minha resposta não tinha um peso como a de Javier quanto mais a de Mihic, mas eu também era uma médica, meu CRM era válido aqui e minha opinião respeitada como tal. Muitos médicos não ligariam para isso, mas Santamaría era um médico e chefe incrível. O respeito muito por isso, sei o que passei na universidade e até mesmo na pós. Você é tratado como zero a esquerda porque é novato, porque ainda está aprendendo. 

— Quanto as lesões ele está liberado para voltar aos treinos — falei com segurança. 

— Perfeito, mais um liberado — Mihic fez o check na sua tabela. 

— Agora vamos para James Rodríguez — Passou a imagem a ficha do camisa 10 e então era minha vez de falar. Afinal eu que tinha cuidado dele. 

Mas não foi o que aconteceu, o Dr. Lopes que tomou a fala já que fora ele que assinou a liberação de James. Mas o pior foi ver Dr.Mihic parabeniza-lo e enche-lo com elogios e o cara teve a cara de pau de agradecer na minha frente sem nem me mencionar. 

Eu quis chorar, mas engoli tudo afirmando para mim mesma que outras oportunidades viriam. E eu também não poderia falar nada, criar um clima no trabalho era a última coisa que eu queria agora.

A reunião continuou, o laudo final de James foi positivo e eu fiquei feliz por isso apesar de tudo.  

Finalizamos por volta de duas da tarde, cumprimentei todos a medida que saíam da sala, mas eu não. Fingi estar arrumando a papelada até que vi Dr. Lopes se encaminhar até a saída também. Me ergui e fui atrás dele.

— Muito digno de sua parte dar os devidos créditos a quem fez o trabalho todo Dr.Lopes — falei e o rapaz de cabelos castanhos bem penteados em um topete perfeito se virou para mim. Ele tinha estatura média, olhos castanhos levemente caídos para os lados externos do rosto e lábios fios. Não seria bonito se não fosse tão bem arrumado. 

Havia um sorriso quase imperceptível nos seus lábios. 

— Fui eu que assinei os prontuários dele, eu que o entreguei saudável ao Real Madrid, então legalmente os direitos pelo procedimento são meus — sua voz era de uma sutileza irritante ainda mais por saber que ele estava certo. — Sabia que fui mencionado em uma revista médica e várias outras esportivas? 

Respirei fundo. Conquistas eu eram para ser minhas. 

— Aliás fui chamado para uma conferência por causa disso também.

— Eu espero que você saiba explicar cada procedimento, de dia, cada dor e motivo, caso contrário será um vexame — sibilei, podia sentir o gosto amargo do veneno na minha língua. 

Lopes sorriu de canto.

— Pode ficar tranquila você fez um trabalho excelente retratando todos os detalhes na ficha médica que me passou — meu dentes rangeram e eu erguei a sobrancelha. 

— Tenho pena de você por precisar roubar o trabalho de alguém — o rosto de Lopes murchou e uma carranca o moldou. O médico se aproximou devagar e eu fiquei parada o encarando nos olhos até que ele estava a poucos centímetros. 

— Vou lutar pelo cargo de assistente Dra.Saton. Até porque sua fama nada profissional e nada ética com os jogadores não te ajuda em nada — senti minhas unhas afundarem na carne das minhas mãos, meu corpo tremia intensamente e uma ira quente como o inferno subia até minha cabeça a fazendo pulsar. 

— Ainda vou descobrir porque você desistiu do caso de James, afinal não é por qualquer motivo que se abandona um caso assim a poucas semanas da conclusão — continuou como uma ameaça. 

Fiquei seu pescoço sentindo vontade de enfiar minhas unhas ali, o unhar como um gato faz com que não gosta. 

Mas era isso que ele queria. Isso podia me fazer sem demitida. 

Engoli toda minha raiva e sorri com todas as forças que me restavam. 

— Vá em frente Dr.Lopes, mas imagino que deve haver algum motivo para você não ter sido escolhido antes — seus olhos ficaram mais escuros e o maxilar retesou. Meu sorriso aumentou consequentemente. — Eu não tenho medo de você, nem se suas ameaças pífias. Fique a vontade com suas conquistinhas, pra quem não tem cacife elas devem ser as únicas mesmo.

Ouvi um rosnar no fundo de sua garganta, mas não me importei o deixando apenas lá ruminando o próprio ódio. 

Era mentira, eu tinha medo sim. Mas dele, mas do que ele poderia representar. Sei como empresas como o Real Madrid se comportam, eles pedem uma vida exemplar dos seus funcionários e se não pelo menos mantenha isso longe da mídia de forma que não interfira no clube. Eu estava simplesmente quebrando todas as regras por mais que eu tentasse não o fazer. 

Bufei ao entrar no elevador vazio. O eu tenho que fazer pra minha vida não ser mais pública? 

Estava caminhando para o meu consultório quanto vi no corredor perpendicular ao todos os rapazes deixarem o campo e entrar lá. 

Havia uma coisa que eu precisava resolver e ela já estava na minha cabeça a tempos. 

Inicialmente eu tentei bater na porta, várias vezes o fiz, mas ninguém atendeu então...

Entrei no vestiário com os olhos em busca de uma pessoa, mas basicamente todos os pares de olhos do recinto se fixaram em mim assim que Marcelo berrou:

— É assim que entra dona Mia? — Virei para ele sentindo meu rosto corar. 

Era tanto homem sem camisa, ou até só de cueca que era difícil manter os olhos em algo que não soasse sugestivo. Jesus, estou no céu? 

— Estava só estava querendo ver se voltamos saudáveis — Cris falou com um sorriso malicioso. 

Risadas soaram, piadinhas e cochichos que não consegui captar a mensagem. 

— Me poupe Ronaldo, já vi todos vocês de formas inimagináveis, nada me surpreende — mais risadas e alguém gritou: 

— Tem certeza? — Eu não conhecia a voz, devia ser de algum novato. 

— Saudades Miacita! — Robozão mandou um beijo para mim jogando a toalha no ombro e seguindo para os chuveiros. 

— Você não devia estar aqui doutora, esses caras são terríveis — Casemiro falou ao meu lado. 

— Na realidade eu só estou procurando Marco — implícito uma pergunta de onde ele estava. 

— Ta na ducha — Lucas falou e sorriu piscando para mim. Devolvi o sorriso. 

— Okay, avisem a ele que eu estou na fora o esperando — anunciei e um: "Ihhh" soou a medida que saía daquele antro de corpos esculturais que mais pareciam estátuas gregas.   

Quando fechava a porta vozes perguntando:

— Quem é essa? — Um em português e outra em espanhol, mas em uníssono. 

E outra respondeu.

— Muita areia pro caminhãozinho de vocês pirralhos.

Me apoiei na parede ao lado de fora e alguns bons minutos se passaram para Marco sair. Ele era vaidoso demais, as vezes passava mais tempo do que eu se arrumando. 

— Queria falar comigo? — Indagou, seu cenho levemente franzido.

— Sim, precisamos conversar — notei ele levemente tenso enquanto eu falava. — Sobre o Rome — seus ombros despencaram e um sorriso aliviado nasceu nos seus lábios. Mas eu continuei como se não tivesse percebido. — Eu me mudei e agora posso recebê-lo. 

— Poxa que bom, fico feliz por você — senti ele estava sendo sincero, Marco sabia o quanto eu queria ter minha casa. 

Sorri de canto. 

— Por isso que estava pensando em dividirmos a guarda de Rome, tipo um mês com você um mês comigo — Marco anuiu.

Claro, eu não quero ele pense que Marina é a mãe dele.

— Tudo bem. Ele sente falta de você, sabia? — Sorri. 

— Mentira, ele nem deve se lembrar de mim. Mas eu também sinto falta dele — Marco negou. 

— Nas primeiras semanas ele e esperava na porta depois que percebeu que você não ia voltar chorava de noite e eu tinha que bota-lo na cama para acalma-lo — senti um pontada no coração. Parecia que eu tinha o abandonado, e talvez eu tivesse o feito porque não queria mais ver Marco.

Fui egoísta, não pensei que ele fosse sofrer. Acho que de todos esse foi meu maior erro.

— Eu sinto muito por isso — o jogador ergueu os olhos, havia uma certa esperança nos seus olhos e eu senti que havia um duplo sentido na minha fala. — Devia ter pensado nele ele — acrescentei rapidamente e Marco suspirou, as lembranças também doíam nele. 

— Esquece isso, agora vocês vão recuperar tudo — sorri. 

— Depois me diz quando eu posso passar na sua casa para pega-lo — mas o camisa 20 riu.

— Desculpa é que parece que estamos falando de uma criança — não deixei de alargar meu sorriso. 

— De certa forma estamos, você não é o pai dele? Eu sou a mãe — Marco assentiu sorrindo. — E eu espero que ninguém tenha tomado esse posto. 

— Ah não! Rome não gosta muito dela não — e por um leve apertar de maxilar eu percebi que ele falou aquilo sem nem perceber. 

Só podia ser meu filho mesmo! Orgulhosa estou. 

Naquele instante senti meu celular vibrar no bolso. Uma olhadinha rápida e vi que era uma mensagem de Sarah avisando que me esperava para irmos comer. 

— Então, eu tenho que ir, mas me manda a uma mensagem quando eu puder ir, ta? — Ele anuiu. 

— Mando sim. 

Não pensei que fosse conseguir falar com Marco assim, tão tranquilamente, como se como se pudéssemos ser amigos. E eu realmente quero que isso aconteça, apesar de tudo Marco foi alguém especial para mim e nós temos Rome, de certa forma algo que nos liga. O mínimo que podíamos fazer é ter maturidade para conversar como dois indivíduos normais. 

 

P.O.V Sarah 

 

Cheguei do almoço com Mia, mas mal joguei minha bolsa na mesa e já fui chamada por Cat que passava como um furacão entre nossas mesas com um casaco na mão e o celular no ouvido. 

— Sarah tenho uma emergência de última hora e você vai ter que me representar na reunião com a diretoria. 

— Mas a reunião começou já fazem — olhei no relógio — a cinco minutos.

Minha chefe me olhou como se fosse óbvio. 

— Melhor ir correndo então — cantarolou e por mais que eu tivesse aberto a boca para reclamar que eu não estava totalmente preparada para isso ela simplesmente deu as costas. 

— Alô? Já estou indo querida! — Falou no telefone caminhando pela mesma porta que eu havia acabado de passar. 

Vadia! 

Olhei para Sergio na mesa ao meu lado e ele me passou uma pasta com um sorriso torto. 

— Mostre a eles que pode ser melhor que ela — piscou. 

Eu basicamente faço todo o trabalho sujo enquanto ela fica saindo por aí, pousando com famosos, indo a festas com artistas e tem seu nome mencionado como grande assessora de Madrid. Mas um dia isso vai mudar. 

Respirei fundo.

E lá vamos nós. 

A reunião com a diretoria era de prache no meio e no início de uma temporada e outra. Apenas o stafe do clube participavam, como Cat da área de comunicação, Mihic da médica e Zidane da técnica. Fora a parte da administração e os advogados do clube. Falaríamos dos jogadores, dos funcionamentos dos nossos setores e lidaríamos com os problemas recentes. 

Cheguei dez minutos atrasada, mas por sorte minha chegada na sala não foi apoteótica. Na realidade estavam todos mais entretidos com os gráficos da administração para me dar atenção. 

Notei nota de tudo afinal eu estava ali como representante e depois teria que repassar os retalhes para Cat. Ouvi atentamente e só falei na minha hora. Não era o tipo de reunião para se dar opinião sem ser chamada, não quando o presidente do clube estava presente. 

Meu momento de fala foi sucinto, mostrei gráficos e dados sobre a expectativa com as contratações, como foram recebidos após a coletiva de imprensa, dados de rede social, pesquisa com torcedores. Tudo o que poderia falar para deixá-los por dentro da opinião pública e também mostrei tudo o que estamos fazendo e tudo o que planejamos fazer na divulgação da imagem do clube daqui por diante. 

Não houveram perguntas dos diretores e de ninguém mais o que tomei como um elogio. Se não havia dúvidas significa que fui bem eficiente e clara. 

Eu já estava me sentando quando um dos diretores falou, o chamavam de Del Prioro.

— Existe um problema na realidade — parei levemente tensa, mas assenti para que continuasse. O homem de cabelos pretos grisalhos e nariz aquino cresceu em sua cadeira de couro. — Uma funcionária da equipe médica anda se envolvendo em muitas polêmicas românticas com jogadores — falou para todos.

Fiquei tensa.

— Creio que esteja se referindo a Doutora Mia Saton — digo com cuidado. O homem anuiu como se aquilo fosse um mero detalhe.

— Sim, o primeiro caso foi uma fofoca sobre traição tendo em vista que ela se envolveu com um dos jogadores do cartel, o segundo foi mais um fofoca sobre o seu envolvimento com outro jogador desça vez de outro time. Não acho que este seja um comportamente adequado para uma médica do Real Madrid, por mais que seja apenas uma assistente — sinto meu interior borbulhar como água fervente. Desgraçado machista! 

Um burburinho de cochichos gera cacofonia na principal sala de reuniões de Valdebebas. 

— Tendo em vista isso eu sugiro que a dispensa dela e a contratação de Eric Lopes, o fisioterapeuta que cuidou de James Rodrígues. Um jovem muito promissor. 

Finquei as unhas das mãos. Mia havia me falado desse Lopes no almoço, o filho da puta que roubou o trabalho dela, a ameaçou sobre a história de James e quer roubar o emprego também. Agora parece que o maldito tem um aliado entre os chefões também. 

Péssima notícia.

Olhei para Florentino, que apenas ouvia e observava atento e depois Mihic. O médico croata ficou calado ouvindo os comentários dos demais diretores, mas eu não consegui fazer o mesmo. 

— Bom, como especialista em mídia eu devo alertar que o primeiro caso foi uma notícia falsa e o segundo cabe a vida particular da doutora em um momento de férias onde não estava representando o clube. Então, nenhuma dessas duas situações interferem ou mancham a imagem do Real Madrid. No entanto dispensa-la por esses motivos poderia o fazer, seria enquadrado como demissão sem justa causa e ela poderia nos processar por machismo, já que muitos jogadores fazem o mesmo em suas férias e não são colocados a prova ou tem risco de demissão por isso — silêncio se fez na sala e de canto vi o advogado anuir em concordância. Os diretores em sua totalidade de homens com caras de merda me olhavam. Mas não temi, eu tinha razão e base em tudo o que falei. — Aliás, pelo o que eu saiba foi a Dra.Mia Saton que foi responsável pelo tratamento de James Rodríguez saindo por motivos pessoais apenas duas semanas antes do final, ou seja, todos os resultados cabem unicamente a ela. 

Falei por último olhando na cara de Del Prioro, que se calou. Do outro lado o médico croata soltou sua caneta sobre os papéis, o simples estampido e mIs um suspiro do meio do silencioso lhe garantiu a atenção.

— A Dra. Saton foi escolhida por mim e o Dr.Santamaría, ela era a melhor aluna da pós graduação de um dos melhores centros de ortopedia e fisioterapia do mundo. Seu currículo é impecável, posso lhes fornecer uma cópia depois se duvidarem, e ela vem fazendo um ótimo trabalho conosco aqui em Valdebebas. Creio que não tê-la na nossa equipe será perda para o clube — falou com a calma, mas letal como só um médico poderia ser. 

Quase uma injeção de ar em suas veias. Assim os diretores se entre olharam, mas quem tomou a fala foi o presidente.

— Bom, realmente a uma exigência de comportamento aos funcionários do Real Madrid — travei meu maxilar. — No entanto a Srat está certa e também não vejo motivos para demiti-la já as não infringiu nenhuma regra do clube, ainda mais após saber que foi ela a responsável por James e sabendo que tem a confiança do chefe de sua equipe.

Quis sorrir ao ver o grisalho engolir a própria saliva cheio de ódio inconformado. Mais tarde farei umas pesquisas, algum tipo de ligação ele deve ter com o tal Benjamim Lopes para defender com tanta ferocidade a saída de Mia. 

— Sabe que não sou de elogios fáceis presidente — Mihic falou pacífico e sereno como sempre. 

— Essa fama já é tão velha quanto eu — risadas soaram pela mesa, até o Del Prioro forçou uma. 

 

Assim que a reunião acabou segui para minha mesa com o cérebro implorando por informações. Pesquisei por Del Prioro. Alfredo González Del Prioro é um empresário do ramo metalúrgico, mas com vários investimentos em outras áreas. Um magnata da sociedade espanhola, como se já não fosse óbvio. Mas o que eu queria saber era sobre sua árvore genealógica. 

Levei alguns bons minutos fuçando redes sociais, sites de fofoca da alta sociedade de Madrid, mas não descobri nada sobre a ligação deles. Ainda não descobri. 

O fato é que Benjamim e Del Prioro são de lados opostos da sociedade, o fisioterapeuta se formou em uma faculdade popular em Madrid e já trabalhou em várias clínicas. Mas o mais curioso é que de alguns meses para cá ele vem melhorando o nível de emprego. Atualmente trabalha em um dos grandes hospitais de Madrid. Outro fato curioso é que sua cidade natal está em branco nos redes sociais, não há fotos de sua família e quase nada de sua vida pessoal,  o que pode sugerir uma série de coisas inclusive que ele esconde coisas demais para não ser suspeito. 

Existe algo aí e eu vou descobrir. 

Como Cat não estava aqui para me atazanar liguei para Mia para a atualizar de tudo. Inicialmente ela pirou achando que seria demitida e citando 10 das terríveis coisas que aconteceriam com ela caso isso acontecesse. Basicamente seria o despejo, as dívidas feitas pelos gastos com o apartamento e a "expulsão" do país, já que seu visto se mantém por causa do trabalho e pelo peso do nome do clube.

" Um cara influente desse contra mim...Lopes tudo bem, mas esse homem tem poder e dinheiro, ele pode me tirar daqui em 2 segundos." 

A acalmei falando umas 30 vezes que Florentino disse que não havia motivo nenhum e que ela estava protegida pelas regras do clube e lei do país. Não havia motivo para se preocupar agora, além do mais avisei que tinha feiro um ótimo trabalho em deixar os diretores com medo de tomarem um processo. Até porque ela já não é mais nenhuma anônima e caso movesse um processo contra um clube como o Real Madrid por sexismo e demissão injusta  ela não só ganharia como criaria uma mancha enorme da história de uma empresa. 

Depois disso tudo minha amiga ficou mais calma e eu falei sobre minha pesquisa, foi um longo papo que ultrapassou o fim do expediente e durou alguns minutos de trânsito até em casa. Várias hipóteses surgiram a medida de conversamos, das mais óbvias as menos prováveis. No fim parecia mais um episódio de Catle, CSI ou qualquer outra série de investigação que você possa imaginar. 

E quando estacionando em casa recebi uma mensagem de Nacho perguntando se estava livre hoje.

Respondi:

" Se você trouxer pizza e vinho sim."

 

P.O.V Mia 

 

Fiquei louca quando Sarah me contou sobre a reunião dela, simplesmente tive vontade de chorar e até senti uma lágrima tentar escapulir. Fiquei pensando no quanto isso foderia minha vida e minha carreira, tudo o que eu sonhei como profissional basicamente iria para o fundo no poço dos sonhos impossíveis. Eu perderia meu trabalho, minha casa, meu visto, voltaria para o Brasil fodida como uma mão da frente e outra atrás. Porque eu estava tão confiante com a instabilidade aqui que direcionei totalmente meus esforços em construir do zero minha vida aqui. E por causa de situações que não foram culpa minha eu poderia ver tudo isso ser destruído por uma bola de demolição gigante. 

Depois do discurso de Sarah eu me acalmei bem mais, por momentos me senti segura, confiante. Mas eu lembrei da ameaça de Lopes. Se ele descobrisse o que aconteceu entre mim e James e liberasse isso na mídia...quer dizer, por mais que não haja regras sobre isso no clube eu duvido que esse fato e extremamente bem-vinda confiança de Mihic e Santamaría fossem me fazer ficar. 

Além do mais se ele não conseguisse provar sobre mim e James, o que eu acho mais provável porque de fato quase ninguém sabe sobre nós, eu tinha desrespeitado duas vezes as regras do clube. Uma, Marco dormiu do meu alojamento ( o que era algo proibido ), duas, nós quase transamos em cima da mesa do meu escritório ( mais uma vez algo proibido ). A chance de ele saber disso, era remota, mas ainda sim era provável. Até porque o erro existiu, e quando se está errado se tem medo de tudo. 

Apesar disso eu procurei me tranquilizar, afinal, as únicas pessoas que sabiam sobre essas situações iriam ser prejudicas também caso isso fosse divulgado o que me deixa, de certa forma, mais aliviada. 

Respirei fundo me jogando no sofá da sala. 

Chorar por um problema que não existe é desnecessário. Tudo está bem, meus chefes confiam em mim e admiram meu trabalho. É o que importa. Eu deveria estar feliz, eu vou ficar feliz. 

 

O dia seguinte foi uma maratona na sala de preparação física, Santamaría e eu nos revezando entre os rapazes, os preparando para mais uma temporada. Atenção dobrada aos que não estavam 100%. Meu chefe não comentou comigo sobre a reunião, eu não sei se Mihic teria conversado com ele também, embora eu duvidasse que não trocassem esse tipo de informação. Mas eu até compreendo o fato de não estar falado comigo, e fico aliviada também. Afinal ele me avisaria se houvesse algum perigo, se meu emprego estivesse ameaçado. 

James, sequer trocamos palavras ou olhares. Javier cuida exclusivamente dele desde que pedi afastamento do caso, me sinto culpada por isso, eu não devia misturar trabalho com minha vida pessoal. Mas eu não consigo, olhar para ele, nos olhos dele como se nada houvesse. Ainda não. 

Após o final da seção Marco se aproximou de mim enquanto fazia minhas anotações de prache e avisou que poderia ir pegar Rome mais tarde. A notícia não podia der vindo melhor momento. Eu ia precisar de todo o amor de Rome e uma seção de lambidas e brincadeiras pela casa como terapia. 

Almocei com os rapares do restaurante do CT, eles não me perdoariam caso eu não o fizesse. Foi tão divertido, os meninos tinham o poder de me fazer ficar mais leve, me sentia em família ali. E aquilo me fez repensar sobre tudo o que rodeou minha cabeça de ontem para hoje, ou até no início, quando cheguei aqui. Seria ridículo me afastar deles por convenções machistas e até misóginas. Uma mulher não pode ser amiga de homens? Quantas vezes eu vi Javier passear pela mesa e não só ele como membros da comissão técnica. Mallo, Zidane...

Mas por eu ser uma mulher que isso pode ser visto com outros olhos, isso só mostra o quanto o machismo está encrostado na sociedade, na educação. Por tanto tempo tive receio de ser até amiga deles, de isso ser visto da forma errada. Já chega! Eu não devo me curvar a isso. Não vou mais por a negociação minha amizade com o time. 

Depois de terminar os relatórios sobre as práticas de hoje e mandar tudo para Santamaría fui liberada. Joguei a bolsa do ombro e segui para alinha de metro mais próxima, direto para La Finca. 

 

Ao parar na frente da porta da casa de Marco vários dejá vùs vieram-me a mente no tempo que levou para ele responder a campainha. Passei bons momentos aqui, fui feliz aqui. Mas era passado. 

O camisa 20 abriu a porta, estava vestindo uma calça de moletom e uma camisa branca da adidas, as cabelos até arrumados para quem estava em casa. 

— Entra — pediu me dando passagem. Era estranho voltar aqui, entrar na casa que um dia eu tive certa liberdade, um lugar que meu me senti a vontade. Agora eu estava ligeiramente nervosa. 

Entrei hesitante exigindo um comportamento de visita a mim mesma e ouvi a porta fechar trás de mim. Tudo parecia igual quando olhei ao redor, o mesmo estilo casa de homem jovem: poucos móveis, sem detalhes de decoração ou qualquer coisa do tipo. 

— Ro... — ele nem precisou terminar de chamar o animal. 

Rome já vinha correndo da sala na minha direção como se eu fosse um pote da mais deliciosa comida. Ele não esqueceu de mim e estava enorme. 

Deus! Foram só alguns meses.

Me ajoelhei ali mesmo e abri os braços para recebê-lo. O cão voou em cima de mim, e sua força quase me fez cair de costas no chão. Ri sentido o pelo fofo e macio dele, o cheiro do shampoo ainda era mesmo. Foi lambia da bochecha, na testa, no nariz. Ele me cheirava e lambia toda minha cara ao mesmo tempo pulando em cima de mim latindo. Meu coração se encheu de algo genuíno e simples demais, a alegria. Sorri o apertando contra mim. 

— Eu to aqui, eu voltei — murmurei sentindo que ele entenderia de alguma forma. — Precisava tanto disso. 

Assim que matou a saudade maior ele se afastou e correu de volta até a sala. 

— Eu não imaginei uma recepção dessa — comentei me levantando e Marco sorriu de canto. — Ele está tão grande, a última vez que o vi era um bebê. 

— Bom, ele ainda é um bebê, só que cresceu rápido demais — falou e não deu dois segundos para Rome aparecer correndo com algo na boca. 

Sorri quando ele mostrou o seu boneco para mim e o jogou nos meus pés. 

— Você quer brincar meu amor? — Falei com aquela voz que a gente só faz com bebê e cachorro. Rome abanou o rabo mais rápido. 

Peguei a galinha, surpreendentemente a mesma que compramos na noite que o achamos, e a joguei longe. Rome foi correndo atrás. 

— Ele não tem mais medo dela — comentou Marco. Quando era menor Rome tinha medo da galinha porque ela fazia barulho quando a apertava, era engraçado. 

— E o macaco? 

— Jaz no quintal, decapitação — falou como se fosse a coisa mais convencional. Arregalei os olhos. — É, ele está na fase rebelde — rimos e mais uma fez Rome trouxe a galinha e eu joguei de novo dessa vez pra outra direção.  — Bom, quer levar os brinquedos e os potinhos? 

— Eu comprei algumas coisas, mas acho que os brinquedos seria uma boa para ele se sentir mais confortável — Marco anuiu e começou a caminhar na direção da sala. 

Conversamos sobre os hábitos de Rome enquanto ele justava alguns brinquedos em uma sacola e eu brincava com o cão. 

— Como é inverno eu brinco muito com ele aqui dentro para gastar a energia, mas ele gosta muito de brincar lá fora e as vezes corremos um pouco pelo condomínio — eu não pude deixar de achar uma graça como ele falava. Tão paternal e responsável que o coração chega dava uma hesitada.

— Ótimo saber que você fez dele um atleta Marco. E agora? O que vai ser de mim? — O jogador riu. 

— Leve isso como um incentivo — fiz careta. 

— Você é uma péssima influência — olhei para Rome brincando no chão com a galinha e fazendo barulho com ela e disse: 

— Como eu pude deixar você com ele? — Rome me olhou por alguns segundos e depois voltou a brincar com a galinha voltando a fazer aquele barulho fino. 

— Se ele ficasse com você só dormiria e provavelmente ficaria obeso — falou o jogado me entregando a sacola com brinquedos. Ergui a sobrancelha. 

— Ta me chamando de relapsa? — Asensio negou.

— Não, to dizendo que ele ia ficar sedentário igual a você — fechei a cara. 

Ta, talvez eu tenha virado uma pessoa sedentária. Mas ele não tinha o direito de jogar isso na minha cara não.

— Pois fique sabendo que eu vou descer todos dia para correr com ele no parque — me ergui o olhando nos olhos. Marco fez cara de deboche me entregando a coleira. 

— Até agora no inverno, nesse frio? — Provocou. 

— Todos os dias nos meses quentes. Mas não por mim e sim pela saúde dele — Asensio riu  cheiro de sarcasmo e cruzou os braços. 

— Essa eu quero ver, doutora. 

— Verá Asensio — disse enquanto colocava a coleira em Rome que abanava o rabo animado. 

Deus! Ele está parecido mesmo com Marco. 

Nós seguimos na direção da porta e o camisa 20 abriu para sairmos, mas antes perguntou:

— Você não está de carro?

— Não, vou chamar um uber e... — parei de falar quando ele negou com a cabeça. 

— Eu te dou uma carona então — ele já ia fechar a porta, mas eu o impedi.

— Não, imagina. Não precisa. 

Ele tinha namorada e isso ia ser no mínimo estranho. 

— Mia, dificilmente aceitam um cachorro no uber. Vai demorar para achar algum que o faça — explicou calmamente. 

O pior é que ele tinha razão. 

— Além do mais não custa nada para mim levar vocês — acrescentou.

— Eu não quero te causar problemas — fui sincera, mas Marco sorri de canto. 

— E não vai — fechou a porta. — Só espera eu colocar uma roupa mais descende, dois segundos.

Suspirei e anui.

Minutos depois Marco desceu e nós rumamos até a garagem. Rome subiu no banco traseiro e se acomodou em um tipo de caminha com cintos. Asensio o prendeu direitinho e sentou-se no banco do motorista em seguida deu partida. 

O silêncio tomou conta do carro a medida que deixávamos o bairro/condomínio e eu senti que se continuássemos assim aquele clima estranho irrita rolar. 

— Então... — falamos ao mesmo tempo. 

Nos olhamos e rimos sem graça. Acho que pensamos a mesma coisa. 

— Não, pode falar — pediu. 

Eu realmente queria fazer isso se tornar mais natural. 

— Está animado com o retorno? 

Marco suspirou no volante, o carro ganhando a estrada e o sol se pondo atrás de nós.  

— A primeira fase não foi das melhores para mim, você sabe, mas eu espero, e venho sentindo, que essa pausa foi boa. Será um recomeço, preciso estar mais focado que nunca — sorri de canto. 

— Você sabe que é comum não voltar 100% depois de uma lesão, demora um tempo para o corpo chegar ao ápice da capacidade física. Mas as coisas vão melhorar — ele anuiu e por décimos de segundos pareceu distante. 

Talvez porque soubesse que seu problema não foi físico. Boates, bebida, festas...

Mas me ofereceu um sorriso logo para disfarçar. 

— Bom, vou ter mais concorrentes de posição. Se quiser a titularidade vou precisar me esforçar mais. 

— É, o Vinicius é bom mesmo. Cria do ninho, não poderia ser diferente — comentei. O mais novo reforço do Real era brasileiro e flamenguista. Já o vi jogando nas poucas vezes que tive a chance de assistir os jogos do Brasil. O moleque mandava bem e fiquei feliz demais quando soube que viria para o Real. 

— Ele é um cara legal pelo o que consegui entender quando falava... — eu comprimi um riso, soube que na coletiva de imprensa ele tentou falar espanhol, mas o que rolou mesmo foi um portunhol. O que vale é a intenção, não é mesmo? —...joga bem também. Mas mas será muita sacanagem você só o defender porque ele é brasileiro — o olhei incrédula. 

— Eu não o defenderei só porque ele é brasileiro, o defenderei porque ele é do meu mengão — Marco fez careta e eu sorri. — Relaxa, eu serei completamente imparcial. 

O jogador sorriu brincalhão e seguiu para a faixa da esquerda. 

A noite caía aos poucos e céu ficando azul royal e enegrecendo devagar. 

— Merda! — Rosnei baixinho, ainda sim fazendo o camisa 20 olhar para mim. 

— O que foi? 

Levei as mãos a cabeça. 

— Eu esqueci de comprar a ração dele, quer dizer eu devia ter te perguntado qual era ontem e comprado, mas minha cabeça estava tão cheia e... — bufei me interrompendo de desabafar sem querer com Marco. Ele não tinha nada haver com meus problemas e eu não ia o perturbar com isso. Não mais do que já fiz. 

— Sou uma péssima nisso, não sou? — O olhei esperando ver decepção ou desgosto, Marco parecia plácido no entanto. 

— Eu não teria lembrado de comprar ração ou de dar os remédios dele se não fosse você naquela época, não pode se culpar assim. Daqui para sua casa deve haver um petshop de qualquer forma — me ofereceu um sorriso reconfortante.

Eu tinha planejado tudo direito, comprei tudo com antecedência e esqueci o vital. Eu sentia que estava abusando demais da boa vontade. Não queria que parecesse que eu tinha planejado tudo isso para ficar mais tempo com ele, não queria que parecesse nada além do que era. 

— Você está sendo compreensivo demais comigo — reclamei e o jogador fez careta.

— Ok. Você é uma péssima mãe mesmo, acho que devo levá-lo de volta — falou fingindo raiva. — Melhor assim? — Acrescentou por fim me direcionado o olhar ao parar no semáforo vermelho. 

Ri e empurrei seu ombro. 

Ele sorriu. 

Seguimos o caminho e durante alguns momentos senti o espanhol um pouco distante, pensativo. Mas resolvi não interferir. 

 

P.O.V Marco

 

Eu não havia esquecido o quanto nossos sensos de humor se batiam, nem de como ela era madura sempre me ajudando, de como eu a admirava de diversas formas, muito menos como me sentia bem com ela. E a ver brincando com Rome trouxe aflorou memórias nossas na minha mente, de um tempo que éramos nós três. 

Mas Mia estava estranha, ela ainda era ela. Mas algo, algo me dizia que não estava totalmente bem, por mais que disfarçasse. Eu sei o quanto é boa nisso, mas aprendi a ver um pouco por trás de seus véus e máscaras. 

Enquanto estávamos no carro pensei diversas vezes em perguntar o que estava havendo, porque ela parecia tão confusa e emocional. Como se a amargura que usá estivesse com uma rachadura e dela desse para ver a pura seda que a envolve de verdade. O tecido mais frágil dos seus sentimentos e emoções.

Eu realmente quis perguntar, realmente pensei em me mostrar como amigo, solicito ao que ela precisasse. 

Mas desisti, eu não queria parecer insistente, não quando ela deixou bem claro não respondendo minha mensagem que não tinha intenção alguma em se aproximar novamente. Não quando eu sabia que invadir o espaço dela uma vez já acabou com tudo o que tínhamos. Era melhor ficar calado. Se ela queria assim, tudo bem. Vou respeitar isso. 

Nós paramos em um Petshop do caminho e eu fiquei no carro com Rome enquanto ela comprava a ração. Mia achou melhor assim tendo em vista que nos ver juntos poderia alimentar uma fofoca que já havia causado estrago o suficiente. 

Ela voltou carregando um saco quase maior do que ela mesma e abri a mala para que o colocasse lá.

— Não tinha maior, não? — Brinquei e ela fez careta.

— Bom, quando se trata de comida nunca é demais — ri com o nariz e manobrando para sair da vaga. 

O apartamento dela era perto do Retiro, basicamente do outro lado da cidade. Pegamos um pouco de trânsito e Rome ficou um pouco impaciente, fazendo Mia ter que o colocar no colo abrir a janela para que ele colocasse a cabeça para fora para distraí-lo

Ele gostava do movimento.

Ao chegar na rua do prédio dela estacionei o carro o mais próximo possível para ajudá-la com as coisas de Rome. Carreguei o pacote de ração e os brinquedos enquanto ela cuidava dele e sua animação ao ver a rua, as pessoas, o movimento e as cores. Controla-lo com a guia era um trabalho difícil, por mais filhote que ele fosse. 

— To pesando em colocar ele em um adestrador sabe? Pra andar com ele sem guia — falei enquanto andávamos pela calçada até o prédio dela. 

— Podemos fazer isso, mas vai ter que ser bom mesmo. Do jeito que esse cachorro é doido capaz de correr para rua — ela segurança a guia com firmeza para ela não sair correndo e a arrastar junto.

Rimos juntos. 

— A veterinária disse que ele fica ficar mais calmo depois que fizesse um ano, quanto mais velho mais calmo — comentei. 

— É, eu ouvi falar disso. Mas essa ter esse energia é bom. Significa que ele é saudável e feliz. 

— Eu acho que ele só está mais afobado porque está feliz também, por ver você — falei genuinamente enquanto olhava o cão caramelo andar com o rabo balançando ao lado de Mia. 

Ela sorriu para ele e abriu a porta do hall do prédio, me deixando passar para fecha-la. Subimos pelo elevador de serviço e seguimos até o apartamento. Ele tinha um espaço confortável, boa iluminação e era a cara dela. Em tudo, desde o vaso ao sofá. 

— Onde eu deixo isso? — Perguntei me referindo a tudo o que carregava. 

Ela se levantou após tirar a coleira de Rome e pegou o saco de ração. 

— Pode deixar os brinquemos aí no cantinho, vou colocar isso la atrás — avisou antes de adentrar a cozinha e sumir entre os armários. 

Coloquei a sacola próximo ao sofá e fiquei observando o lugar enquanto Rome também fazia o reconhecimento nasal dele. Percebi por alguns detalhes que ela havia se mudado a pouco tempo, já que por exemplo o ferro da cortina está apoiado na parede.

— Prontinho Rome — sua voz anunciou sua chegada, me virei a vendo colocar com dois pontinhos de inox nas mãos, um de ração outro de água no canto da cozinha. 

O cão correu até ela e enfiou o focinho na tigela de água. 

Mia suspirou e veio para sala. 

— Sua casa é sua cara — ela sorriu. 

— Obrigada, ainda estou arrumando sabe? Mas aos poucos vai ficar como eu imagino. 

— Se mudou a pouco tempo? — Perguntei só por perguntar. 

— Um pouco antes dos feriados, foi uma correria — enfiou as mãos nos bolsos traseiros da calça, os olhos sobrevoando o ambiente como se lembrando de onde, como e quando escolheu e colocou cada um dos móveis ali. 

— Eu imagino, mudanças nunca são fáceis. 

— Por pouco não dormi no chão no primeiro dia — contou com um sorriso de quem um dia pensou que riria daquilo no futuro. — Pode ver que ainda tem muita coisa faltando.

— Bom, aos meus olhos leigos não vejo nada — ela riu sarcástica cruzando os braços. — Bom, para não dizer que eu não vejo nada mesmo, notei que não colocou as cortinas — apontei com o queixo para a haste e os ganchos. 

— Pois é, estava esperando o fim de semana para comprar o que precisa para montar tudo. 

— Posso ajudar se quiser — ela me fitou hesitante. 

— Sinto que estou abusando demais de você — estalei a língua.

Eu sabia que estava me intrometendo demais, mas...sei lá. Algo me fazia querer ficar mais, algo me fazia querer fazer parte disso.

— Não custa nada — falei já tirando o sobretudo. Aqui estava bem mais quente que o lado de fora e já começava a suar um pouco.

Mia o pegou para mim.

— Mas eu não sei se tenho os pregos certos ou nada disso. 

— Eu tenho quase certeza que em alguma dessas gavetas ou armários da cozinha o antigo proprietario deve ter deixado uma maleta — ela franziu o cenho. — Se me dá licença — pedi me encaminhando para a cozinha dela. 

— Fica a vontade — me deu passagem.

Me abaixei e abri algumas gavetas e armários. 

— Quase todo apartamento ou casa de Madrid vem com uma para emergências — expliquei enquanto procurava, Mia me observava do arco entre dois cômodos. — Dentro da maleta geralmente tem uma furadeira pequena, pares de pregos de diferentes tipos, fita isolante, mini chaves de fenda, porcas, dentre outras coisas. 

— Morria e não sabia. 

Abri o armário do canto e no fundo colocado a parede estava ela, de plástico rijo cor de chumbo. 

— Aqui está — anunciei puxando-a e me erguendo.

— Pelo menos agora vou poder colocar um quadro na parede — sorri de canto e segui até parede das janelas. 

— Posso usar uma de suas cadeira? — Ela prontamente tirou uma das cadeiras da mesa e me entregou como resposta. 

Tirei a haste de madeira de dentro da caixa e os prendedores de parede para ver o tamanho.

— Você quer um café? — Anui enquanto analisava onde eu deveria furar exatamente.  

Assim que tive dimensão abri a maleta, tirei a furadeira e os pregos, subi na cadeira e comecei o meu trabalho. 

Era algo rápido, dois furos, parafusar, rosquear os prendedores e depois encaixar a haste.

Ouvi os passos dela atrás de mim. 

 

P.O.V Mia 

 

Segui até a sala com duas canecas de café na mão, Marco estava sobre uma de minhas cadeiras acoplando a haste aos encaixes. Não pude deixar de reparar nos músculos de suas costas sob a camisa cinza, os ombros largos, os braços, a nuca...

— Acha que ficou bom nessa altura? — Perguntou ainda de costas.

Porque homens fazendo trabalhos braçais eram tão sexy? 

— Uhum — foi o que consegui dizer enquanto ele terminava o encaixe, descendo em seguida. — Aqui —  o entreguei a caneca fingindo que não tinha passado uns bons segundos o admirando.

— Valeu — sorriu em agradecimento dando um gole no café.

Dei um gole no meu também e observei seu trabalho. 

— Obrigada por isso — apontei. 

— Não foi nada — Marco deu mais alguns goles no café. 

— Só um segundo — pedi. 

Fui até o armário do meu corredor de entrada e peguei as cortinas ainda fechadas que comprei. Quando voltei a sala Marco já tinha as mãos trabalhando, recolhia a furadeira os parafusos os guardando na maleta.

— O que pensa que está fazendo? — Perguntei.

— Ajeitando tudo? — Falou como se fosse óbvio, e era, mas....

— Não precisa, ainda vou pendurar as cortinas. Deixa que eu limpo depois — o camisa 20 suspirou e largou a maleta já fechada. 

E novamente houve um tempo ínfimo de silêncio que mais pareceu infinito até que Asensio falou: 

— Bom, acho melhor eu ir indo — ele sorriu fraco pegando o sobretudo que deixei sobre o sofá. Sorri de volta o dando passagem para passar.

Rome nos seguiu pelo corredor até a porta, e parados diante dela o jogador se ajoelhou para falar com o cão. 

— Tchau rapazinho, se comporte na casa nova, ta bom? — Coçava a cabeça dele enquanto Rome apreciava o carinho com a língua molhada para fora. — Não quero que ela me culpe novamente por uma má educação — murmurou como se contasse um segredo fazendo o canto do meu lábio se erguer em um quase sorriso. 

O jogador dos merengues se ergueu, eu abri já porta e assim que ele parou bem ali e seus olhos encontraram os meus houve mais uma vez aquele momento de desconforto. Não sabíamos como nos despedir. Um beijo, era como era antigamente, um abraço parecia contato demais ( eu tinha medo do que ele poderia achar caso o fizesse ), um aperto de mão soaria ridículo...

Então não fizemos nada. Marco seguiu para fora com as mãos dentro dos bolsos do sobretudo.

— Qualquer coisa pode falar comigo — afirmou, apoiada na porta eu anui. 

— Se ele quebrar alguma coisa correndo eu vou ligar só pra te xingar — Marco abaixou a cabeça e riu.

— O café estava ótimo doutora — acrescentou já dando um passo para trás. 

— Eu sei Asensio — sorri de canto. 

 

Assim que terminei de colocar a cortina, arrumar tudo, tomar banho e jantar ( morar sozinho dá trabalho demais, saudades casa de mãe ) me joguei na cama. E Rome, como um legítimo membro da família já aprendeu a subir na mesma, se deitando ao meu lado bem confortável sobre os travesseiros. Isso Marco não podia tirar, já o tinha ensinado desde que ele era pequeno. Lugar de cachorro dormir é na cama. Fiquei fazendo carinho nas orelhas e na cabeça dele ( como sabia que ele gostava ) enquanto assistia televisão, logo ele caiu num sono.

Sorri ao ver aquele bolinha de pelos tão preciosa e fofa ao meu lado. Senti tanta saudade dele. 

Rome era o melhor remédio/terapia que eu podia experimentar. 

 

Diferente dos meses de treinamento que tínhamos no começo de temporada, agora no inverno apenas 10 dias nos separavam do primeiro jogo. Oitavas de final da Copa Del Rey contra o Numancia. Mas dessa vez não tínhamos lesões graves para tratar, no máximo um desconforto habitual de treino intenso. Então Santamaría e eu focamos na preparação física perfeita dos jogadores. Entre treino com bola tático no gramado os levávamos a academia e fazíamos exercícios fortalecedores. Percebi que esse meio de temporada era muito mais difícil que o início, os jogadores tinham que voltar em ponto de bala, não eram mais jogos que se perder tudo bem, tem outro. Eram as seletivas, todas as competições afunilavam e os jogos mais difíceis estavam vindo. Eles precisavam estar perfeitos. O time inteiro a disposição de Zidane, essa era nossa meta. 

Mas, por mais que esse início fosse loucura eu já não levava mais trabalho para casa e quando estava no meu lar podia de fato "descansar". Na realidade dei um pausa da organização para focar em aproveitar algumas horas de sono, comer melhor e brincar com Rome. Assim que o final de semana chegou e trouxe o sol consigo, eu decidi o levar para passear no Retiro. 

Fazia cerca de 18 graus e eu conseguia sentir o sol queimar mais minhas bochechas que o vento frio. Inicialmente eu estava com uma legging grossa, uma camisa e um casaco grosso por fora, mas a medida que corria meu corpo ia esquentando e eu comecei a suar. Meu momento de glória foi quando tirei o casaco e só amarrei na cintura. Me senti a própria europeia acostumada com baixas temperaturas. 

Rome fez a festa no parque, corremos e brincamos bastante e só paramos porque eu já não conseguia mais respirar e ainda tinha que guardar fôlego para voltar a pé para casa. Sentei em um dos bancos próximos a fonte, Rome entre minhas pernas, e fiquei observando o seu azul com algumas nuvens, as árvores algumas com folhas em tons de marrom outras sequer tinham folhas, a estrutura das estátuas e colunas que se erguiam por trás da fonte. Era um parque lindo. 

Estava curtindo aquele momento sereno de silêncio e natureza quando de repente meu celular vibrou. 

O saquei e vi que era uma mensagem, mas o nome do remetente...eu não conhecia. 

 

"Daniel Díaz: 

Boa tarde Mia, sou Daniel Díaz, nos conhecemos no Terraza Cibeles no ano passado. E não sei se você se lembra, mas eu falei que era produtor musical e gostaria que você participasse do vídeo clipe da música que produzi com Maluma. Bom, a proposta ainda está de pé, sei que você trabalha para o Real Madrid, mas espero que eles cedam quando a isso. Aguardo uma resposta até segunda, pode ligar para o número no anexo."

 

Mordi o lábio suprimindo um sorriso. Era óbvio que eu adoraria fazer o clipe, mas a questão não era só eu. E com tudo o que já houve antes, todas as conversas sobre mim e meu futuro no clube, eu tinha medo de que algo como um clipe piorasse tudo. Mas eu realmente queria muito fazer isso.

Bufei.

— O que eu faço Rome? 

O cão me fitou, obviamente sem resposta. 

 

Em pleno domingo eu assistia Home and Health comendo massa e bebendo vinho enquanto Rome se divertia com seus brinquedos no chão. Programas de decoração eram meu fraco, podia passar dias, semanas assistindo só isso e não seria um problema.

Levei uma garfada de macarrão a boca e estava mastigando quando a tela do meu celular se acendeu alertando sobre uma mensagem recebida. 

 

"Lewis:

 

O que a estrela do Real Madrid anda fazendo nessa monótona noite de domingo?" 

 

" Eu: 

 

 Provavelmente em casa treinando o Robozinho a fazer gols de bicicleta. E estrela da Fórmula 1? A que devo a honra?" 

 

" Lewis:

 

Kkkk, soube que o garoto pode ser tão bom quanto o pai no futuro. E quanto a mim...a estrela da F1, tirei o final de semana para ficar em casa sem fazer nada e percebi que não sou muito bom nisso. Lembrei que você gosta e imaginei que fosse me dar ideias de como curtir isso." 

 

" Eu: 

 

Estava querendo saber do Vettel, mas entendo que esteja precisando dos meus conselhos."

 

" Lewis: 

 

Você é uma péssima amiga, Mia.

 

" Eu: 

 

Péssima? Eu ia te dar meus preciosos concelhos de como procrastinar." 

 

" Lewis:

 

Devia ter pedido a Kendall."

 

Kendall? Olhe só! 

 

" Eu:

 

Vai lá, mas aposto que ela não chega aos meus pés nesse quesito" 

 

Nesse quesito, vamos frisar. Ela é, simplesmente, a modelo mais bem paga do mundo. Não posso nos comprar em muitas coisas.

 

" Lewis: 

 

Ela tem outras qualidades." 

 

Mordi o lábio, se ele estivesse na minha frente jogaria uma almofada da sua cada.

 

" Eu: 

 

Você é sujo Lewis Hamilton, e nunca pensei que fosse dizer isso."

 

" Lewis: 

 

 Kkkkk preciso de você doutora. Qual seu diagnostico?" 

 

" Eu: 

 

  Cafasgestagem fura olhuns. Doença terrível.

 

" Lewis: 

 

Haha engraçadinha. Mas eai? Como estão as coisas?"

 

" Eu: 

 

Bom, uma correria e agora eu tenho um cão.

 

" Lewis: 

 

Quero foto dele, mas eu estava esperando algo mais profundo sabe. Qual é Mia. Somos amigos.

 

Respirei fundo. Quem seria melhor para me dar conselhos sobre como lhe dar fofocas do que um famoso? 

Mandei uma foto de Rome e comecei a contar tudo, com algumas ressalvas e cortes. 

 

" Lewis:

 

Primeiro: ele é muito fofo, precisamos marcar um encontro entre ele, Roscoe e Coco. Segundo: As fofocas: as ignore porque eles nunca vão parar de procurar algo sobre você. E quanto mais você fugir é pior. Acredite em mim, não vale a pena ficar se escondendo e deixar de viver por causa dessa gente. E se não quiser que alguém descubra, faça em quatro paredes de janelas fechadas. Kkk aceite que você é uma pessoa pública, não tem mais volta, ainda mais se fizer esse clipe. 

Sobre o clube...Sarah está certa. Você não pode ser demitida por ter uma vida pública. Olha eu aposto que se cada diretor daquele tivesse um paparazzi ou fosse conhecido o suficiente para ter as pessoas tirando foto deles na rua os escândalos e fofocas que sairiam por aí seriam muito piores. Eles são hipócritas.

Claro, que eu sei que uma empresa precisa de regras de imagem, que não é bom que um funcionário se envolva em muitas polêmicas, mas isso até certo ponto. 

O Real Madrid como empresa que precisa da mídia de certa forma vive de imagem e quanto mais em nome é divulgado, mais eles ganham, mas ficam conhecimentos, mesmo que indiretamente. 

Tive algumas polêmicas na minha carreira, nem se comparam a sua. Até recebi um chamado do diretor da Mercedes, mas meu trabalho supera qualquer polêmica. Porque eu dou lucro a eles, sou campeão com o carro deles e não vão encontrar um piloto que faça isso na mesma forma nem tão cedo. 

Você, como o seu chefe disse, será uma perda para equipe, para o clube. Não pode ser substituída. Você escutou as palavras dele mesmo? 

Se valorize Mia, não é qualquer um que vai chegar e tomar seu lugar, porque você o levou muito a cima. Não torne isso fácil para ele, seja a melhor, mas também não deixe que prendam você. 

O Real Madrid defende e abafa os escândalos dos seus jogadores, por um motivo: eles são bons demais para perder. Deixe que façam o mesmo por você.

Aliás, em relação o clipe...você tem que fazer. Digo como seu amigo e espectador. Você é bailarina, ama dançar e quer essa experiência. E eu pode ter certeza que eu serei um dos primeiros ver esse negócio. Fora que Días é um cara excepcional, super profissional, ficou doido por você naquele dia do bar ( no bom sentido óbvio ) e além do mais ouvi por aí que a música vai ser um senhor sigle. " 

 

Eu sorri em cada parágrafo da mensagem. Pedir um conselho a Lewis realmente foi a decisão certa. 

 

 

Eu e Sarah subimos pelo elevador até o terceiro andar, o som das solas das minhas botas e dos saltos dela soavam pelo corredor extenso e vazio.

— Bom dia — a secretaria falou sentada em à mesa ao lado das portas duplas.

— Bom dia, viemos para falar com o Sr.Perez — falei e ela anuiu.

— Ele já esta terminando a reunião, podem o esperar aí — apontou para as poltronas do lado inverso a sua mesa. — Será rápido.

Sentamos, mas não conseguimos esquentar os acentos. Em menos de cinco minutos as portas abriram. Um homem de terno e gravata saiu e cumprimentou a secretaria já em pé segurando a porta.

Ela falou algo para o presidente e então virou-se para nós.

— Podem entrar. 

O seu escritório era grande com janelas do chão ao teto que davam para os campos de treinamento. A mesa ficava para a direita, com estantes cheias de livros e porta-retratos por trás. A esquerda um conjunto de sofá e poltrona de couro.

— Dra. Saton, Srta. Martin — Florentino nos cumprimentou de sua cadeira alta apontando para as cadeiras diante de sua mesa. — Em que posso ajudar?  

Nos sentamos juntas. 

— Sr.Perez eu gostaria que soubesse em primeira mão que fui convidada para participar de um vídeo clipe e eu estou profundamente tentada a aceitar — o homem arregalou os olhos e respirou fundo, seu corpo se inclinou levemente para frente e tive a impressão que ia falar algo, mas continuei:

— Como sei que a imagem é muito importante para o clube e que os últimos rumores sobre mim tem gerado dúvidas em alguns eu gostaria de conversar sobre isso antes que todos fiquem sabendo. 

Ele franziu o cenho ajeitando-se na cadeira.

— Veio me pedir permissão?

— Não, nós viemos avisar para que isso não se torne uma pauta futura em alguma reunião — falei.

Florentino se inclinou sobre a mesa e cruzou as mãos sobre a mesa. 

— Bem.  eu não tenho nenhuma oposição a isso. Mas como presidente devo alertar sobre o conceito de discrição que esperam dos nosso funcionários. 

— É por isso que estou aqui — Sarah iniciou. — Mia não é mais uma pessoa comum, atualmente sua vida é mais pública do que a maioria dos funcionários exceto os jogadores e o treinador, e apesar de não ter sido por escolha própria creio que não há mais como voltar atrás sobre isso. Ela é uma figura pública, fazendo o clipe ou não — a assessora me olhou de canto e continuou com o presidente a ouvindo atentamente:

— Como parte da equipe de mídias do clube eu me permiti fazer uma pesquisa em nossas redes sócias e na internet. Todas as fotos e vídeos que Mia aparecia nossas redes sociais tinham muito mais curtidas e comentários que os demais próximos, em uma pesquisa percebi que ganhamos um público mais feminino e especializado em fisioterapia e medicina desportiva. E apesar das críticas, a única pessoa que de fato sofreu com elas foi a Dra.Saton, os respingos na imagem do clube foram ínfimos na realidade só nos beneficiámos com os rumores em torno dela. 

— O que ter dizer com isso? 

— Que Mia Saton, além de contribuir aos seus deveres de fisioterapeuta ainda nos trás notoriedade e alcance em áreas, que por mais que não pensássemos que precisávamos, são muito importantes. E isso tudo só com rumores, imagine depois do clipe. Vai tiver uma estrela não só em seu time, mas em sua equipe médica — corei ao ouvir aquilo, ela se referia a mim e isso era estranho. 

— Já provei meu potencial como médica com três tratamentos exclusivos surpreendentes e acompanhamentos acima da média. Agora eu estou provando que minha imagem também tem potencial. Então acho que aturar um desvio do conceito de discrição que esperam é ínfimo. 

De canto de olho vi Sarah sorrir. Florentino ficou em silêncio os olhando por alguns segundos, ponderando. Por incrível que pareça eu não fiquei tensa, eu sabia do meu potencial e confiava nele.  

O presidente respirou fundo, reencostou-se na cadeira e me olhou. 

— Dra.Saton saiba que tem meu apoio, não posso prometer que não a julgarão, mas o clube não a julgará pelas suas opções extra-trabalho e a defenderá como fazemos com os demais. 

Sorri. 

— Fico feliz Sr.Perez, não ia se arrepender — ele suspirou. 

— Ah, eu espero que não. 

— Bom, acho melhor me apressar já que a partir de agora vou precisar cuidar de mais uma imagem — Sarah se ergueu. 

— Eu também tenho coisas a fazer — me ergui também. — Obrigada pelo seu tempo Sr.Perez. 

Ele anuiu e nós caminhamos na direção da porta, mas quando eu estava saindo me chamou: 

— Dra.Saton — me virei. — Eu admiro muito as pessoas que sabem do seu potencial — sorri de canto e ele devolveu um sorriso ínfimo 

Quando chegamos ao corredor eu e Sarah só faltamos pular.

— Eu sabia que conseguiríamos — ela cantarolou. 

— Acabei de exigir algo do presidente do Real Madrid e não fui demitida por isso, eu nunca achei que fosse tão importante. 

— Gatita, pelo que você vai dar de mídia e lucros para esse clube podia pedir um aumento e duvido que ele negasse. 

Gemi.

— Porra, acho que fiz o pedido errado. 

Nós rimos. 

— Abram alas para a nova estrela madridista e não estou falando de mais um jogadorzinho — ela falou abrindo os braços como se afastasse algo. — Era assim que eu queria chegar no restaurante. 

— Você sabe que eu só quero que saibam quando o clipe sair, para não dar errado entende? — Entramos no elevador. 

— E para deixar todos chocados, não é? Você não me engana Mia Saton. 

Sorri com um toque de maldade.  

 

 

No próximo capítulo:

 

"— Depois do jogo primeira festa da vitória na minha sala, todos convidados — bradou Cristiano em em diante da mesa do restaurante gerando ruídos de comemoração e burburinho. — Inclusive você Bale, para não reclamar do barulho. 

O galês riu. 

— Você vai? — Perguntou Sarah baixinho. 

— A primeira festa do ano, não perderia por nada! 

Sorrimos uma para outra." 


Notas Finais


Eai? O que acharam? Sei que foi um capítulo sem muito romance e tals, mas queria desenvolver mais o trabalho de Mia, senti que precisava enfatizar isso antes do que vem por aí. Na realidade, prevejo que Benjamim Lopes ainda causará algumas confusões. Quem está odiando ele também?
Essa amizade da Sarah e Mia me da tanto orgulho. E o que falar de Lewis impulsionando a Mia a fazer o clipe? Além do Rome, né? Algumas amizades valem mais que mil romances.
Próximo capítulo tem festa, o que será que vai acontecer? Marco e Mia já estão mais próximos...mas algo me diz que o Sr.Rodríguez também dará as caras. Fogo no parquinho?


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