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História I know he's married - Boneca Russa


Escrita por: mydarlingzayn

Notas do Autor


HOLA MIS AMORES! Espero que todos estejam bem e a salvo em suas casas. Vamos ter fé que essa pandemia vai acabar e que dias melhores virão.
Bom, eu sei demorei, mas foi por dois motivos, um vocês já sabem e outro porque estava escrevendo esse capítulo enorme e eu não podia parti-lo, se não, não seria tão emocionante. Espero que você gostem, eu escrevi com muito carinho e lágrimas.
Obrigada por cada comentário e favorito, a todos que me apoiaram quando eu estava triste, dedico esse capítulo a vocês. Novamente, obrigada por tudo.

Ps: Preparem o lencinho bbs.

Capítulo 50 - Boneca Russa


O vento salobro tocava meu corpo, o sol não queimava, aquecia, a areia era escura de pequenas pedras, o mar de um azul suave indo até indico no horizonte. Risadas preenchiam o ar, junto com o som de crianças correndo rindo e um grande falatório. Mia sentada na sua espreguiçadeira tinha Am no meio das pernas, seus cabelos húmidos indicavam o recente mergulho, que não foi exatamente como ela esperava. Ney e Marcelo praticamente a jogavam no mar minutos antes, gerando gargalhadas em quem estava ao redor. 

O papo entre eles era bom, o assunto rendia, fluía sempre em direção a piadas e terminava em risada. O camisa 10 levara uma caixinha de som que tocava um pagode, sertanejo ou funk em uma altura audível sem ser incomodativa aos demais hóspedes cadeiras de distância. Também rolava uma cervejinha, que acabou embolando na vodka ( a famosa vodka russa ) e no naguile a beira mar. Isso que dava colocar um bando de brasileiro junto, com exceção de Sarah, mas ela tinha sangue brasileiro também. O grupo aproveitou cada segundo, os meninos com a família e com os amigos, não que não fossem os ver mais, Tite liberara a presença dos parentes, mas não seria sempre assim, na folga. 

— E a Marquezine, ela vem? — Indagou Mia ao camisa 10 quando estavam os dois em suas cadeiras e os demais pareciam envolvidos demais em algum assunto que naquele momento não os interessava. 

Os olhos verdes semicerrados pelai luminosidade perpassavam pela vista diante de si e ele anuiu. 

— Ela vem, daqui chega um dia antes do jogo. 

Mia não se esqueceu do seu aniversário, nem que ele tentou beija-la, mesmo namorando, mas preferia ignorar isso, gostaria de apagar da sua mente talvez. Neymar era um amigo e ela apoiava muito seu namoro com Bruna, sabia que ele a amava, mas se perguntava se o relacionamento vivia de idas e vindas justamente por causa desses momentos dele. 

— Que bom! 

— Vou apresentar vocês — ele finalmente a olhou nos olhos. — Se você não se importar, é claro? 

A doutora sentiu como um pedra de gelo nas costas, mas apenas sorriu. 

— Claro que não, eu adoraria conhecer ela — o camisa dez sorriu também. 

— É por culpa sua que estamos juntos afinal. 

— Quando vocês se casarem é o que eu vou dizer — ele riu, mas aos poucos o riso foi diminuindo. 

— Me desculpe por aquilo no seu aniversário — falou sério dessa vez. 

— Ta tudo bem, você já tava bem autinho também — ela brincou para aliviar a leve tensão que o assunto formara. 

— Eu não estava tão bêbado assim — afirmou e Mia teve dúvidas sobre o que ele queria ao dizer isso. 

— Bom, de qualquer forma, esqueça. Eu nem sei do que está falando mesmo — Neymar esboçou um sorriso de canto.

— Você é uma grande amiga Mia — a médica piscou para ele. 

— Uma ótima amiga — frisou a última palavra sutilmente. 

Logo ambos voltaram a se integrar aos assuntos discutidos pelos amigos. Mas o que Mia não percebia, ou melhor, fingia não perceber, eram os olhares de Gabriel para ela. O camisa nove tinha ficado hipnotizado pela mulher desde que mirou os olhos nela pela primeira vez. Fato que não passou despercebido por alguns, Gabriel era mais tímido, mas não conseguiu ser tão discreto como gostaria. Uma pena ninguém ali ( com exceção de Am e Sarah ) saber o real estado civil da morena para tirar o pobre Jesus do seu estupor. 

— Então vocês passaram na concentração da Espanha antes de vir? — Indagou Firmino indagou quando as mulheres comentaram sobre a vinda a Russia.

— Ah sim, praticamente intimadas — Am falou e algumas risadas soaram.

— Vai ser complicado manter esse pique de acompanhar as duas seleções — Alisson afirmou enquanto segurava sua pequena na espreguiçadeira. 

— Eu que o diga, uma já é complicado — Clarice falou. 

— No meu caso três, porque meu namorado joga pela Alemanha — Sarah falou. 

Ah sim, namorado. Kimmich pediu a ruiva após o fim dos campeonatos. Tiveram pouco tempo juntos já que ele tinha que se juntar a seleção alemã, mas fizeram valer a pena. O loiro fez uma surpresa para ela no aeroporto assim que ela desembarcou na Alemanha para vê-lo. Foi uma loucura na imprensa local, fotos para todo lado, internet, revistas...

Alguns dos meninos fizeram careta de desaprovação para Ginger. 

— Tanta gente pra escolher hein? — Marcelo brincou e ela fez careta para ele.

— Eu pensei que todas vocês namorassem espanhóis, por isso tudo — Ainê, esposa de Coutinho falou.

— Ah não, só a eu e a... — Am engoliu o resto da frase recebendo um olhar fuzilante de Mia. — Só eu — frisou. 

— Eu sou espanhola, então — Sarah deu de ombros e de repente Mia se viu na mora os olhares.

— Porque não fica mais com a gente Mia? Podemos dizer que você é da família e te dão acesso livre, não é amor? — Larissa olhou para o marido sentado por trás dela e ele anuiu. 

— Eu não sei se rola porque o professor conhece todo mundo. Mas o Jesus pode dizer que ela é namorada dele.

Então Mia se viu apática. Qual era a desculpa que ela usaria? 

Gabriel ouvindo seu nome na conversa saiu do celular para ouvir. 

— O que foi? — Indagou. 

— Você pode dizer que Mia é tua namorada para ela ficar mais com a gente — falou e o camisa 9 sentiu o coração acelerar. Ney tentou segurar um sorriso malicioso, sentiu que o amigo tinha ficado interessado na morena.

Mas antes que Jesus abrisse a boca, Sarah, percebendo o desespero, da amiga falou:

— Sabe o que é? A gente obrigou ela a ir com a gente. E os meninos, vocês sabem como eles são — a ruiva olhou para Case e Marcelo. — Eles querem todo mundo lá. 

Mia sorriu de canto. Gabriel murchou na sua espreguiçadeira. 

— Eu não consigo me livrar dos espanhóis — deu de ombros.

— Tudo bem então, mas se precisar já sabe — retificou. 

— Obrigada, mas de qualquer forma a gente vai se ver sempre nos jogos e no hotel. 

— Eu to tão animada! To sentindo coisas boas. Que Isco não me escute, mas ano vai dar Brasil — Am disse e todos riram e sorriram.

— Deus te ouça — Case falou levantando as mãos para os céus. 

— Eu ouvi um amém irmãos? — Chamou Marcelo. 

— Amém — falaram em uníssono. 

 

 

— Técnico da Espanha é demitido dois dias antes da estreia do time na Copa do mundo — anunciou o comentarista na tv. James saiu do banheiro com a boca cheia de espuma e a escova entre os dentes e a bochecha. 

— Carajo! — Murmurou ao ler a manchete do programa esportivo, os jornalistas comentando sobre o fato, imagens da coletiva feita. 

— A decisão foi tomada após uma reunião entre o comandante espanhol, o presidente da Federação, Luis Rubiales, Sergio Ramos, Iniesta e Piqué — falou o jornalista na frente do centro de treinamento. — O motivo da demissão foi que Lopetegui assinou contrato com outro time enquanto ainda no comando da seleção espanhola — o jogador ficou parado diante da TV escovando os dentes, descrente. — O substituto será Fernando Hierro, diretor esportivo da Real Federação Espanhola de Futebol. Rubiales disse que apensar da insistência dos jogadores para manter Lopetegui, a mudança não era prejudicar o time e que Hierro está totalmente inteirado com a comissão. Lopetegui ainda não se pronunciou sobre a demissão. 

— O que houve? — Indaga Cuadrado ao entra no quarto com Mina e ver James fitando a televisão com atenção demais.

— O técnico da Espanha foi demitido — falou se levantando para cuspir a espuma.

— Carajo! Que merda — Cuadrado arregalou os olhos enquanto se jogavam na cama. Os dois olharam para TV, mas a notícia já tinha mudado.

— E porque? O que ele fez? — Mina perguntou. 

No banheiro James passou a toalha no rosto e voltou para o quarto. 

— Fechou contrato com outro time depois de renovar com a Espanha. 

Cuadrado e Mina se entreolharam surpresos.

— Deve ter sido um senhor contrato viu? 

— Isso com certeza vai desinstabilizar o time — James diz após um suspiro longo. 

A seleção colombiana estava em Kazan, a cidade ficava cerca de 800 quilômetros a leste da capital Moscou e era uma das mais populosas da Rússia. Mas diferente da Espanha e do Brasil, a Colômbia não priorizar o clima mais ameno. Kazan, era uma cidade mais fria, mesmo no verão poderia ir dos 14 aos 20ºC durante o dia. Um Resort de Ski no alto das montanhas foi o escolhido para a estada dos tricolores, reservado, confortável e luxuoso. Normalmente as dependências do Resort ficavam encobertas pela neve maior parte do ano, mas naquela época não. O estilo rústico russo, com muita madeira escondia o luxo no interior, as montanhas ao redor estavam verdes, e os lagos descongelados. Já o treinamento seria no estádio de Sviyaga, na mesma cidade.   

Após o jogo contra o Egito a seleção viajou direto para Kazan, treinando desde então. O clima era bom, sempre era, afinal estavam na Copa, o sonho de todo jogador. Mas havia um bônus, dessa vez a federação de futebol colombiana permitiu a família próximo aos jogadores, não ficariam no mesmo hotel, mas estavam próximos e poderiam visita-los sempre que quisessem. Segundo pesquisas para o bem estar psicológico do atleta era melhor estar com pessoas que ama perto para aliviar toda a pressão que o competição exercia. James estava duplamente feliz justamente por causa disso, afinal sentiu tanta falta da família da ultima vez. Fora seu maior problema. E agora, seria tudo perfeito.   

Prontos, os três jogadores desceram para o hall para encontrar o resto do time e rumarem ao estádio para o treino.   

 

 

Os dias em Sochi foram ótimos, as meninas aproveitaram para conhecer bem a cidade, desde as praias mais conhecidas, a museus e parques ecológicos, algumas vezes algumas das esposas dos meninos as acompanhavam. Mia, como boa amante da história, inventou de visitar a residência de veraneio de Stalin e tirou das amigas de uma ida ao shopping para descobrir a casa verde no meio da floresta. 

— Depois vamos aonde vocês quiserem — falou no carro a caminho da casa, as duas amigas não muito empolgadas. 

Depois da visita as três voltaram ao centro e acabaram achando uma feirinha na praça próxima ao shopping, que na realidade era muito mais interessante já que tinha coisas típicas do país. Desde artesanato à comidas típicas. 

Compraram as bonecas russas, Sarah ficou louca por um conjunto de tigelas em khokhloma, um tipo de pintura sobre a madeira que a faz parecer de ouro, Am decidiu levar um brinquedo típico para Isquito, mais conhecido por ali como dymkovo, enquanto Mia optou por uma caixinha porta jóias pintada a mão, chamada de miniatura de palekh.

Depois de um dia cheio Mia se jogou na cama respondendo a mensagem de Marco, ele havia chegado a Sochi com o time ontem a noite e treinado hoje pela manhã, essa hora estava descansando para amanhã. A grande estreia que naquele momento Asensio contava que tinha ficado mais tensa pelos últimos acontecimentos, por mais que Hierro fosse bom. 

" Sei lá, estamos nos animando, mas o clima não é o mesmo, não acho que seja por causa de Lopetegui, foi mais pelo rompimento abruto. Entende?" 

" Eu imagino como está sendo, mas tentem tirar isso da cabeça, vocês mais só que nunca pareciam estar bem, sãos." 

" Foi o que a psicóloga disse, ela conversou com todos nós. Mas vamos falar de outra coisa, como foi seu dia?" 

Mia o mandou um áudio contando tudo porque estava com preguiça de digitar, Marco imaginou que isso ia acontecer e sorriu ao ver o áudio de quase um minuto e meio. Só ela para o fazer ouvir aquilo. Ele riu com os acontecimentos, ainda mais sobre a casa de verão de Stalin, quando Mia foi interrompida pelas amigas deixando bem claro que não estava nos planos o passeio.   

" Que bom que está se divertindo amor, estou feliz por você." — Escreveu após vários comentários sobre os áudios. 

Mia se incomodou com aquela mensagem. 

" Ei! Eu que estou feliz por você, afinal esse é seu sonho. Marco, não deixem que tirem isso de você. É seu momento, é único." 

O jogador sorriu para tela como se pudesse ouvi-la. 

" Você está certa, eu to na copa do mundo. Da pra acreditar?" 

" É! Você está e eu estou muito orgulhosa do meu camisa 20. To animada para amanhã." 

" Eu também, animado e ansioso. Ao que tudo indica vou entrar como titular." — a doutora sorriu realmente feliz por ele. 

" Vai ser demais, aproveite. Eu vou estar torcendo muito da arquibancada." 

" Não se esqueça da minha foto, tudo bem?" 

" Pode deixar." 

" Se suas amigas não tivessem acordadas eu pediria uma foto, mas..." — digitou, estava sozinho no quarto, dessa vez cada um tinha o seu. 

" Marco, Marco...esqueceu das regras? Nada de relações sexuais 24 horas antes do jogo." 

" No caso seria uma relação comigo mesmo, não conta muito." 

Mia riu. 

" Acho uma palhaçada eles darem um quarto privado e a gente não poder usar. Será pra provocar a pessoa? Queria tanto você aqui." 

" Bobo! Eles bem que podiam fazer como o Brasil e liberar tudo logo, mas se é uma regra devemos segui-la. E talvez eu te mande algo mais tarde, não posso prometer nada, quem sabe a hora que essas doidas vão dormir, talvez você já esteja dormindo também." 

" Tudo bem, melhor eu nem pensar nisso..." 

 

— Olha essa regra de vinte quatro horas sem sexo antes do jogo é uma palhaçada viu! — Mia comento com as amigas. 

— Ela ta cheia do fogo falando com o Marquito! — Brincou Sarah e a morena fez careta para ela. 

— Eu também acho amiga, mas to tentando não pensar muito nisso, se não sou capaz de bater naquele hotel e dar um jeito de entrar no quarto de Isco — as outras duas riram. 

— Eu sou completamente a favor de uma boa trepada pra relaxar, é muito propício para o momento deles. — Sarah falou como especialista.    

— Poís é! Alivia a tensão — concordou a doutora. 

— Por isso vou fazer isso com meu alemão se der tudo certo — Ginger virou na cama suspirando e as amigas a olharam sem ar de riso. 

— Esfrega mais desgraçada! 

 

Sochi estava especialmente borbulhante naquele dia 15,  por incrível que pareça mais do que ontem, o dia da abertura. A noite caía como um manto negro ponteada de pequenas estrelas e o Estádio Olímpico de Fisht se erguia adiante todo iluminado. As três mulheres andando na passarela em direção ao portão B, a multidão vermelha ao redor afinal era um clássico ibérico que seria travado ali. Portugal e Espanha, dois times fortes e muito diferentes. Enquanto um era um gigante por ser tradicional, outro estava ganhando força justamente por inovar. 

— Vai ser difícil ter o Cris como adversário — Sarah comentou enquanto subiam a rampa.

— Eu não queria falar isso, mas melhor já ir se acostumando, depois de uma conversa rápida que tive com Gio a saída é quase certa. 

Mia disse tristonha, primeiro porque perderia o contato com uma pessoa tão querida, segundo porque era óbvio que o time iria sentir isso. Mas aquele era um assunto evitado por todos, inclusive o próprio Cristiano procurava não falar. Ninguém queria encarar a difícil realidade. 

— Ela disse porque? — Am indagou.

— Não, mas acho que todas nós temos uma ideia — a três se entreolharam e anuíram. 

— Ai! Vamo falar e outra coisa, quero animação e alegria, hoje é dia da Fúria! — Sarah disse batendo palmas. 

E seria um grande jogo, disso ninguém duvidava, os palpites dos jornais esportivos eram entre um empate ou uma vitória muito apertada e sofrida, sendo Espanha a favorita. As vezes já ter uma copa conta pontos. 

Os torcedores andavam com suas camisas, bandeiras, faixas, brasões e acessórios nas cores dos times, vermelho e amarelo e verde e vermelho. Embora houvessem espectadores russos que não tinham preferência por nenhum time, apenas por bom futebol, a maioria era um mar vermelho em agitado. Logo na frente do estádio repórteres com seus câmeras capturavam imagens da chegada e também tentavam entrevistar alguns torcedores o que sempre formava um pequeno aglomerado ao redor, todos queriam aparecer. 

Elas enfrentaram a multidão até encontrarem Elle, uma das pessoas da comissão espanhola que estava responsável por lhes dar os cartões de livre acesso que seriam usados após o fim do jogo. 

— Eles já chegaram? — Indagou Am. 

— Sim, estão no vestiário — falou Elle, mas logo levou a mão ao dispositivo auditivo no ouvido e franziu o cenho como se tivesse recebido algum recado. — Desculpem meninas, eu tenho que ir. Tudo certo com vocês? 

— Tudo bem — Mia falou após olhar para as amigas que negaram com a cabeça. 

— Perfeito, aproveitem o jogo — sorriu para elas e começou a caminhar logo sumindo na multidão. 

— Vamos aproveitar mesmo Elle! — Am cantarolou animada e as outras duas riram rumando aos seus acentos na primeira arquibancada. 

 

Sentado no banco do vestiário Marco sorriu ao ver a foto recém enviada de Mia. Ela vestia sua camisa, com seu nome nela, o rosto em perfil, os cabelos castanhos presos e de fundo estava o estádio começando a encher. Aquela imagem o encheu de uma grande satisfação. 

" Dios! Ficou mais linda do que eu imaginava." — Respondeu. 

" O número 20 combina comigo e advinha quem eu já encontrei." — Outra imagem carregou de Mia com o pai, o irmão e a cunhada de Marco. O jogador sorriu mais, se é que era possível. Havia planejado que sentassem próximos e minutos antes do ônibus falou com Gilberto e Igor.  

" Não sabe como eu estou feliz, obrigado por estar aqui, eu te amo." — Declarou antes de desligar o celular e jogá-lo em sua bolsa. 

Era hora de se concentrar. 

— Vamos roja! — Gritou Sergio de algum lugar do vestiário. 

 

Enquanto procuravam por seus lugares da área reservada para família Mia visualizou o sogro e o cunhado, Gilberto foi o primeiro a vê-la e sorriu ao aceno simpático da medica. O pai cutucou o ombro do filho mais velho que interrompeu a conversa com a namorada para se virar. Igor sorriu e acenou para ela. 

— É seu sogro? — Perguntou Sarah. 

— E o cunhado. Deus! Ele parece muito com Marco — Am falou ao lado enquanto desciam.

— Sim, e isso tudo é tão estranho — disse após um suspiro. 

— O que? O irmão de Marco ser a cara dele? — A ruiva indagou. 

— Não, eu ter um sogro e um cunhado — falou olhando para a família de Marco, todos com a mesma camisa que a dela. Ele era o orgulho deles. — Vou falar com eles. 

A doutora desceu a arquibancada para cumprimenta-los enquanto as amigas buscavam os acentos. 

— Acho que vocês estão sentadas aqui perto, Marco disse que te colocou perto da gente — Gilberto falou olhando ao redor, as cadeiras ainda vazias.

Mia olhou o ingresso. 

— Qual o seu acento Mia? — Igor perguntou.

— E6 — leu. 

— Está de costas para ele, pode sentar — apontou o moreno com aquele sorriso de "eu sei das coisas" igual ao de Marco.  

Ela olhou para trás e viu a marcação na placa do acento então sorriu sentando. 

De repente fez total sentido o namorado querer apresentá-la a família antes dos jogos, olha a proximidade que eles ficariam! Imagina se não se conhecessem? Nada agradável. 

— Que bom que ficamos perto — falou e em seguida acenou para as amigas. 

— É bom para se acostumar com como os Asensio torcem — Gilberto falou bem humorado. 

A doutora riu. 

— E vocês em como uma brasileira faz — devolveu e eles riram. 

As meninas chegaram e foram se acomodando, logo a família de Isco chegou também. Seus pais e Isquito ficaram ao lado de Am. Vê-los fez Mia lembrar de como Am repensou no estilo de viagem que estava fazendo, ela tinha medo de parecer egoísta ao estar com as amigas ao envés que estar com a família de Isco, acompanhando apenas a seleção Espanhola ajudando a cuidar de Isquito, de Isco. Ela disse que sentiu que a sogra pensava assim quando pareceu surpresa demais ao saber que a loira não ficaria em Krasnodar. Mas Isco contornou a mãe, para ele Am não tinha nenhuma obrigação com Isquito e nem com ele, o que fazia por ambos era por amor e espontâneo, e muito mais que o suficiente. Ele queria que a noiva se divertisse, fora que conhecia Am, ela não era o tipo mulher dona de casa, ela era independente, e brasileira demais pra perder os jogos do próprio país. Logo a mãe se calou e procurou respeitar, como também pedido pelo pai. 

Aos poucos as arquibancadas foram enchendo, e a medida que os jogadores de ambos os times faziam aquecimento os últimos lugares foram sendo ocupados até que o estádio estivesse lotado por mais de 43 mil pessoas. As meninas tiraram fotos, gravavam vídeos afim de resistir aquele momento, também conversavam animadamente para descontar a ansiedade pelo jogo. 

— Nunca pensei que fosse ficar tão nervosa pra ver uma seleção que não é a do meu país jogar — comentou Mia, Am anuiu totalmente de acordo e os espanhóis ao redor riram. 

— Bem-vindas a La Fúria — cantarolou Igor sorrindo com o braço nas costas de Elena.

Após alguns minutos do aquecimento o locutor anunciou a escalação dos times titulares, primeiro em inglês depois em russo. Quando o nome de Isco e de Marco foram proclamados as famílias comemoraram, e aplaudiram com orgulho. 

As torcidas ficaram na expectativa, o estádio em uma cacofonia mais controlada que antes pressentindo o eminente início da partida. Era divertido observar a forma de cada um se postava a espera, uns olharam para o campo, tiravam fotos, conversavam, riram, comiam, bebiam, ficavam procurando uma câmera de tv para balançar a a bandeira do seu país.  

Minutos depois o locutor voltou anunciando ambos os times, e foi sob ovações que eles adentraram no campo. Espanha em seu segundo uniforme vermelho, Portugal com seu vermelho profundo. As fila foi formada, as bandeiras dos times estendidas sobre o gramado entre o troféu símbolo da competição. Se anunciou o hino português, ao qual foi cantado bravamente pelos portugueses no estádio. Logo depois veio o hino espanhol, que não tinha letra, mas ainda todos se levantaram em respeito patriótico.  

Sarah abraçando as amigas pelos ombros olhava o estádio emocionada e arrepiada, Am segurava Isquito que também cantarolava baixinho, já Mia brincava com o garotinho fazendo algumas caretas para ele que ria escondendo o rosto na curva do ombro da loira.

Assim que o hino acabou todos aplaudiram se sentaram-se. Os olhos da doutora se focaram no camisa 20, enquanto ele passava pela fila se cumprimentos em seguida se juntando ao demais espanhóis ao local das fotos oficiais.

— Nosso garoto! — Gilberto falou ao notar os olhos da médica no filho. 

Ela sorriu, tão feliz por Marco. Tão feliz por estar vivendo aquilo, dessa vez oficialmente. 

" Eu não sou a outra, sou a namorada dele." 

O árbitro italiano apitou o centro de campo as exatas nove horas, o jogo já começou com Portugal trocando passes pela intermediária afim de achar uma brecha da defesa, inicialmente a zaga foi bem, mas um quando Cr7 invade a área por trás da barreira dos zagueiros recebendo a bola Nacho o vê faz um entrada forte. O árbitro apita imediatamente, jogo paralisado. 

— Merda! — Rosna Igor.    

Cristiano comemora com os portugueses, a torcida vai a loucura, o espanhóis reclamam outros ficam em um pesaroso silêncio, sabiam que era lance claro de pênalti. 

Gilberto leva as mãos a cabeça passando pelos cabelos grisalhos. 

— Puta merda viu?!— Sarah esbraveja. 

— Porra Nacho... — murmura Mia fechando os olhos e tombando a cabeça para trás. 

No campo os espanhóis param enquanto os preparativos para o pênalti eram feitos. Sergio passa a mão na cabeça de Nacho, e sorri de canto para ele. De Gea se posiciona no gol após ouvir o protocolo do árbitro junto com o batedor, simplesmente o atual melhor do mundo.  

Cristiano é frio, bate com uma classe e firmeza digna do seu título e marca o gol. 1 x 0 para Portugal, indo de contra todas as apostas, até as mais loucas.

Fazendo sua comemoração característica Cris é ovacionado pela torcida, os jogadores correm para comemorar com ele. Os espanhóis ainda declaram de uma possível irregularidade, mas o árbitro não chama os assistentes.

— Nunca pensei que fosse odiar essa comemoração — Sarah murmura. 

Hierro grita do banco batendo palmas, os manda agir, fazer o que estava planejado, não se abalar. E mesmo em desvantagem o time de branco se ergue e começa a impor seu jogo nos minutos seguintes, dominando a bola a Espanha mostra seu estilo. Aos nove minutos de jogo Marco recebe pela esquerda e cruza para Diego Costa mais adiante, o atacante vendo Isco mais livre de marcação para para ele. O meia dominar e chuta, mas a bola vai para fora. A torcida geme, era a primeira grande chance da equipe.

— Quase! — O pai de Isco suspira. 

— Vamos virar, nós vamos! — Am diz confiante com Isquito entre seu colo e o de Mia. 

— Ei! Falta! — Berra Mia ao ver o número 12 dividir forte com Isco que havia recebido um lançamento na ponta esquerda. Francisco pede a falta, mas o árbitro ignora deixando o jogo seguir.

— Que idiota! — Am rosna com a respiração forte. 

O jogo fica alguns minutos em troca de passes, marcação pesada de ambos os lados, sem muito perigo para os goleiros. Portugal tenta sair da marcação espanhola, mas os de branco arrumaram uma estratégia boa para abafar suas jogadas orquestradas pelo capitão, Ronaldo. 

Portugal só tem chance quando tenta um contra-ataque, Cristiano sendo o maestro puxa o time tocando para Guedes, que avança com a bola enquanto o camisa 7 cortava o campo indo mais adiante. A jogada era perigosissima. 

— Eles tem que pegar ele, antes que chute para Cristiano — Igor falava calmamente, tal quão o irmão quando lia o jogo para a doutora no banco. 

— Isso! — Sarah comemorou em alívio quando a bola desviou em Busquets antes que chegasse a CR7. 

— Não é tão bom, foi cartão — Mia falou para amiga e logo em seguida o árbitro levantou o amarelo para o volante.

— Na beira da área, chance clara de gol — Gilberto completa a linha de raciocínio da nora.

— Ah! Pera aê! — Sarah estala a língua cruzando os braços emburrada.

E la vai Cris de novo para a beira da área, os jogadores vão formar a barreira diante dele, o árbitro os dá indicações. Mas felizmente a bola bate na barreira e no meio da confusão Bruno Fernandes empurra Ramos recebendo cartão amarelo por isso. 

Aos 21 minutos um movimento na lateral direita, Iniesta recebe de Nacho e dispara pela lateral costurando até a área onde chuta para Marco, mas ela desvia e vai para o fundo de campo. 

Gemidos da torcida roja.

— Iniesta? Amém? — Sarah ergueu as mãos que estavam apertadas com as de Mia. 

— Escanteio! — Igor anunciou após um longo suspiro para acalmar o coração. 

Marco vai bater escanteio, ele se prepara, e no meio da arquibancada sua família e amigos rezavam para que a bola fizesse aquela curva perfeita para o gol, que fosse mais um daqueles gols loucos que ele é conhecido por fazer. Mas não dessa vez, a bola é cabeceada para longe do gol e bem posicionado fora da área Bruno Fernandes aproveita o rebote. O português dispara com a bola aproveitando os jogadores espanhóis atrasados, ele cruza para Cristiano que entra na área e vê Guedes em uma melhor posição. De Gea se posiciona, mas Guedes demora demais e ainda chuta muito mal para o lado. 

Nem recuperados do contra-ataque português os rojos vêem um chute parabólico do meio do campo para um Diego Costa avançado e quase livre. O número 12 de Portugal ainda tenta cabecear a bola para longe, mas Diego se livra dele ficando livre para adentrar na área. Ali ele encontra dois zagueiros diante do gol, mas dribla um, dribla o outro e finta para lateral, antes de voltar e recuar chutar entre os dois pegando o goleiro de surpresa. 

— GOOOOOOOL! — Os rojos pulam juntos. Gilberto abraça o filho e Elena, Mia abraça Am, Isquito e Sarah, os país de Isco se abraçam. Todos gritam. 

Diego comemora com os colegas de time. Era seu primeiro gol em copa do mundo. 

— Oh meu Deus! Estou mais aliviada — confessou a doutora se sentando de volta. 

— Eu também — Isquito disse fazendo todos rirem.

Três minutos depois mais um grito de gol vem na garganta dos espanhóis, Isco chuta muito forte fora da área e a bola bate na trave descendo na linha. O árbitro apita, o meia 22 pede o VAR, a torcida pede o gol, mas arbitro nega. Não entrou. 

— Gol do papai! — O menino grita erguendo os braços. 

— Ainda não querido — a avós diz. 

— Não entrou Isquito — Am explica e o pequeno suspira profundamente. 

Ele estava uma gracinha com a camisa do pai versão só para baixinhos.

O jogo continua, o que era previsto estava acontecendo, a fúria dominando, trocando passes, já Portugal recuado procura os contra-ataques. 

Aos 34 minutos quase mais um gol espanhol, dessa vez de Iniesta, após bela troca de passes. Infelizmente ela vai para fora.

38 minutos escanteio perigoso da Espanha, Busquets ganha na cabeça, mas a bola vai para fora. 

— Esse gol tem que sair logo — murmura Sarah impaciente. 

— Entra bolinha! — Mia pede. 

E bom, ela realmente entra, mas no gol de De Gea. Após uma falha do goleiro, e um passe de Guedes para Cristiano, o melhor do mundo marca seu segundo gol na partida aos 43 do primeiro tempo. 

— Argh! Que inferno! — Esbraveja a ruiva. 

— Cris é tipo de pessoa que você nunca vai querer como adversário — Mia falou desanimada em contraste com a torcida portuguesa que berrava. 

— Eu odeio amá-lo — Igor diz. 

 

— Gente eu vou pegar alguma coisa pra comer, alguém quer alguma coisa? — A médica pergunta antes de anunciarem o intervalo. 

Se fosse antes tinha mais chance de voltar antes de começar o segundo tempo. 

— Estamos bem, obrigado — Gilberto falou. 

— Nós também querida — a mãe de Isco disse em seguida e as meninas negam.

— Quero ir no banheiro tia — Isquito fala. 

— Ok, vou te levar — ela estende a mão ao menino que se levanta com ela. 

Os dois cortam o resto da fileira e sobem a arquibancada até o portão para o primeiro patamar. Mia vai na direção de uma das pessoas vestidas com colete de apoio e pergunta em inglês onde era o toalete mais próximo. O rapaz lhe indica o caminho em um inglês com sotaque britânico muito bom. Ela leva o menino no banheiro feminino mesmo, o que não seria um problema, era uma criança. 

— Você quer ajuda? — Pergunta.

— Eu sei ir sozinho tia Mia! — falou fazendo a médica rir. 

— Tudo bem rapaizinho, mas eu vou entrar com você. 

Afinal era um banheiro público. 

Após lavarem as mãos eles seguem juntos para a área de alimentação. Mia estava faminta ultimamente, segundo a mesma por ansiedade. Mas ela não podia ver um doce, uma porcaria em sua frente que queria comer. Parados na fila, ainda pequena, ela olhava a vitrine decidindo qual daquelas guloseimas iria saciar sua necessidade. 

— Vai querer o que Isquito? — O menino olhou para os lanches em cima da bancada, que era da altura dele. 

— Batata-frita — falou em seguida olhando para a tia com um sorrisinho. Mia piscou para ele e olhou para a balconista. 

— Duas porções de batata frita, um cachorro quente e uma coca — pediu em inglês e a mulher assentiu anotando o pedido no computador. 

Após pagar eles esperaram ficar pronto no outro canto do balcão, a doutora brincando com o pequeno até receber o pedido. 

Na volta a arquibancada ambos enfrentaram no fluxo contrário do intervalo, mas chegaram sãos e salvos em seja acentos. Mia comia com Isco enquanto ficaram conversando sobre os jogos.

— Bom, o Irã ganhou de tarde, mas eles estão em segundo lugar já que Portugal vence com maior saldo de gols — Igor falava. 

— Mas isso é por enquanto, nós vamos virar — disse Gilberto. 

— Isso mesmo, positividade! — Am falou sorrindo. 

— Mas sendo realista, se não rolar os próximos adversários são mais tranquilos — Elena lembrou. 

— É verdade — Mia falou após engolir uma batata. — Marrocos e Irã não tem tanta tradição, embora isso não signifique que sejam ruins. 

— Ah! Com certeza, seleções menores não tem muito o que perder arriscam mais e isso pode ser perigoso — o irmão de Marco adicionou.

— Eu que o diga, estou com receio pelo grupo do Brasil. 

— Eu vi, são times que tendem a retrancar muito e usar o contra-ataque — avaliou Igor e Mia revirou os olhos. 

— Pior tipo de jogo — reclamou. 

— Ver a Suíça jogar é extremamente cansativo e chato, quase um dardo tranquilizante — todos riram. 

— Experiências de eurocopa — Sarah falou arrastado e o moreno anuiu concordando. 

— Prevejo sofrimento — Mia cantarola. 

— Ai bate na boca pelo amor de Deus! — Am adverte.

— Me dá uma batata Mia! — Ginger pede e a médica faz careta de poucos amigos para ela.

— Vai comprar a sua — diz seria e a ruiva faz bico. 

— Garota, você já comeu um cachorro quente e um copo de coca cola, como ta aguentando mais batata? — A loira indagou e Mia deu de ombros levando mais batata a boca. 

— Eu to ansiosa, e quando eu to ansiosa eu como e você sabe disso — Am revirou os olhos e Sarah suspirou pesarosamente olhando para as batatas com cara de cachorro que caiu da mudança. — Toma sua chata — estendeu a porção com batatas fritas para a ruiva. 

— Sabia que você me amava — piscou com um sorriso vitorioso.

— É! Ta, ta! Come aí, ta muito bom. 

 

O segundo tempo começou sem modificações e seguiu os mesmos passos do primeiro, os rojos com maior posse de bola, sufocando qualquer possibilidade portuguesa de ataque. Portugal aproveitando a vantagem recua todo o time na intenção de dificultar a infiltração espanhola. E essa ideia deu certo nos primeiros minutos, mas com o domínio do jogo logo a La Fúria achou uma falha na defesa. E essa veio em uma bola parada, falta marcada marcada a beira da área, Marco e Davi Silva na bola, mas quando o árbitro apita é Davi que vai. A bola faz um arco e pela lateral esquerda Diego Costa vem correndo sabendo onde ela cairia. Só precisou cabecear para ela cruzar batendo no outro lado do gol, o goleiro português até foi, mas chegou atrasado. A bola já havia entrado. 

— GOOOOOOOOL! — Berraram os rojos uníssono. A arquibancada vai a loucura, Diego corre para comemora, os companheiros atrás, bandeiras vermelhas sacolejam sobre as cabeças, gritos de felicidade irrompem. 

E a animação pelo empate é redobrada quando o gol da vitória vem menos de quatro minutos após. Nacho recebe a bola da lateral direita e mesmo fora da área arisca o ângulo. A bola entra no cantinho do gol, quase indefensável. Era sua redenção pelo pênalti português. 

Os espanhóis fazem a festa em Sochi, a parti desse momento chegam até a gritar "olé" cada vez que um rojo dribla um português. 

— Era esse o tipo de jogo que eu queria — Sarah fala sorridente, ela não conseguia parar de sorrir. 

— Estamos em primeiro agora — Mia cantarola fazendo uma dancinha. 

— Eu falei — Am da de ombros. 

— Olé! — Berram todos quando Marco finta Guedes.

Os ânimos se alteram em um momento e temos uma alusão aos "El clássicos" quando Piqué e Cristiano discutem em campo. Um Portugal o time sufocado e sem criatividade para contra-ataque e uma Espanha acontece jogando o próprio jogo. Sergio Ramos que separa os dois, junto com alguns companheiros, antes que a coisa vire realmente algo digno de Real Madrid x Barcelona. 

Substituições vem, duas do lado português, saem os meias entram um volante e um atacante, eles colocariam pressão para sair. Já do lado espanhol Iniesta sai e o brasileiro Thiago Alcântara entra.

Ronaldo no campo tenta animar os colegas de time, era seu papel de capitão. Aos vinte seis minutos quase que o segundo gol espanhol saía pelos pés de Isco, fazendo torcida e os jogadores em campo gemerem. 

Portugal até então um pouco morto no jogo faz uma aparição com o recém chegado Quaresma, mas o atacante finaliza mal e vai longe do gol. 

Hierro decide poupar Diego Costa e o substitui aos 31, Aspas entra em seu lugar. O brasileiro sai sob aplausos dos rojos, parece que a desconfiança em ter um atacante de outra nacionalidade acabou. 

— Joga muito! — Berra Mia batendo palmas, tinha carinho demais jogador. 

Aos 34 Cristiano ameaça, mas Piqué chega primeiro e acaba com sua finalização, ainda é possível sentir a tensão entre os dois. 

O jogo ainda estava gostoso para os rojos, "olés" ainda são ouvidos, a torcida animadíssima se sentindo em casa. 

Aos 40 Vazquez entra no lugar de David Silva, e um minuto depois lance perigoso. Uma falta  na beira da grande área da a oportunidade que Portugal não fez por onde ter durante todo o segundo tempo.

Os rojos vão do êxtase a tensão, apreensivos eles assistem o camisa 7 tomar distância da bola. Silêncio se faz, o ar compactado, ambas as torcidas na expectativa. E como era de se esperar o melhor do mundo faz o sabe fazer melhor, a bola ultrapassada a barreira ao menos as cabeças que pulam para impedi-la a ameaçam, e com uma curva belíssima adentra o canto do gol de De Gea. 

Os portugueses até então silenciados pelos "olés" espanhóis voltam a vida. Cristiano sinaliza: Eu estou aqui. 

— Mas que porra! — Sarah rosna exatamente o que todos queriam falar, mas estavam desmotivados demais até para isso.  

— Hat-trick — Mia diz com uma pitada de melancolia olhando a comemoração dos de vermelho e verde.

Os minutos vão passando rápido demais agora, aos 45 o árbitro dá 3 minutos de acréscimo. Portugal animado ainda tenta sair do empate, mas a finalização de Cristiano não é tão boa. Os espanhóis estão cansados e um pouco decepcionados por empatarem nos minutos finais com um gol de falta que poderia ter sido evitado. Ainda sim quando o árbitro italiana pita o centro de campo as equipes se cumprimentam e agradecem ao público. Eles são aplaudidos, afinal foram seis gols e uma chuva de momentos memoráveis, dignos de um clássico. 

— Éramos para ter ganhado, mas foi um belo jogo— o pai de Isco fala e todos concordam. 

— Dadas as condições do time, acho que realmente fomos bem — Gilberto comenta enquanto eles esperavam o fluxo na escada diminuir para deixarem as arquibancadas. 

Lá em baixo no campo alguns jogadores iam para o vestiário outros eram entrevistados a beira do campo. Cristiano foi o mais disputado entre os jornalistas, afinal com os três gols acabava de se tornar o maior artilheiro da história de Portugal e o segundo de todas as seleções, marca esta que todos esperavam que já quebrasse no próximo jogo contra o Marrocos. 

Minutos mais tarde elas três meninas e Isquito adentravam os corredores se acesso restrito usando seus cartões e com a ajuda de Elle. O que elas encontraram foi um tumulto de jogadores, alguns sem camisa, outros com a camisa do outro time, na entrada do vestiário. 

— Miacita! — Cristiano berrou ao ver a doutora e ela sorriu.

— Ai eu quero matar você — rosnou enquanto o abraçava, fazendo o português rir. 

— Ta torcendo para os espanhóis agora? — Brincou erguendo a sobrancelha para a camisa que ela vestia. 

— A maioria vence, fui coagida a isso — falou apontando para as amigas que conversavam com os demais jogadores. Por cima do ombro ela viu Marco a olhar. — Mas você é hein? Parabéns pela partida, foi uma experiência terrível e frustrante de ter como adversário. 

Cris sorriu todo convencido.

— Isso é música para meu ouvidos. 

— Espero que não tenha que passar mais por isso mocinho — a luz nos olhos do camisa 7 diminuiu e ele abriu a boca para responder, mas foi interrompido. 

— Qual é Mia! Pare de interagir com o inimigo — Sergio berrou no meio dos jogadores e ela e Cristiano se viraram rindo. 

— Fizeram da doutora uma roja, vocês são terríveis — Ronaldo falou ao chegarem mais perto do grupo. 

— Ela sabe escolher bem — Nacho disse com um sorriso malicioso.

— Fala como se eu tivesse tido opções — brincou e risadas soaram. 

— Ah não teve mesmo — Sarah atravessou.

O papo continuou animado, Isco, Am e Isquito matando as saudades, o menino virando mascote do time espanhol ao interagir com todos. Mia parabenizou Diego, conheceu alguns portugueses com Sarah. Mas não pode ficar com seu namorado, havia gente demais. Tão longe e tão perto, eles trocavam olhares um de um lado outro do outro, mas não podiam. 

— Todos para o vestiário! — Um homem chegou no corretor falando literalmente como quem põe ordem na boiada. 

Mia e Marco se olharam e um pouco tristes perceberam que não iam conseguir se falarem, se tocarem, matar a saudade. 

As meninas se despediram os rapazes, Isquito deu um abraço no pai e Am um beijo no noivo. Mia apenas deu um sorrisinho de canto para Marco enquanto ele era puxado para dentro do vestiário. 

Sarah e Am ouviram o suspiro pesaroso da amiga enquanto faziam o caminho de volta para as áreas comuns. 

— Sinto muito amor — Am falou alisando o ombro da morena.

— Logo vocês vão se ver — a ruiva acrescentou. 

Mia sorriu de canto. 

— É verda...

— Mia! — A voz dele soou alta atrás delas. As três se viraram ao mesmo tempo encontrando Marco um pouco ofegante. — Não podia te deixar ir embora assim — elas sorriram, Am e Sarah se entreolhando. 

Mia com o coração acelerado e um enorme sorriso no rosto avançou no jogador e o abraçou. Marco a envolveu com seus braços a sentindo contra si, era uma sensação semelhante a paz, mas ao mesmo tempo era o pior tipo de tortura. Seu coração disparado só por tê-la ali, como se fosse a primeira vez, era sempre assim. 

Sarah e Am se distanciaram para os dar privacidade, a aquela altura os corredores estavam vazios, mas ficariam de vigia.

— Está tão linda de vermelho minha bella — falou contra o ouvido dela e a morena sentiu os pelos da nuca eriçarem. 

Ela ergueu o rosto para ele e sorriu antes de subir as mãos pela nuca do jogador, sentindo a pele quente, ele estava todo quente e um pouco suado, mas ela não se importava, ao contrário. 

— Eu amei usar sua camisa amor — sussurrou e ele sorriu. 

Mia se pôs as ponta dos pés e aproximou os lábios dele um beijo. Ambos se controlaram muito para manter aquilo nos limites que um lugar público exigia, por mais que seus corpos inflamassem, implorando por pele na pele. E foi justamente por isso que se afastaram.

— Você foi muito bem. Como está se sentindo? — Indagou alisando o peito dele, o olhando nos olhos. 

— Foi incrível, eu to muito mais do que feliz — a médica sorriu. 

— Você jogou muito bem, eu, seu pai e seu irmão ficamos tão orgulhosos — confessou e o camisa 20 sorriu mais a apertando pela cintura. 

— Queria que minha mãe estivesse aqui — não era um tom triste, e sim nostálgico.  

— Mas ela está Marco, e tenho certeza que está tão orgulhosa quanto nós — disse convicta tocando o rosto dele. 

Asensio a olhou nos olhos e se sentiu contagiado por essa convicção, então apenas abraçou a namorada novamente. De olhos fechados ambos podiam ficar horas ali, mas aquele momento foi quebrado pelas duas amigas da morena. 

— Tem alguém vindo — avisou Sarah e eles se afastaram devagar. 

— Te amo — Marco sussurrou despejando um beijo no alto da testa dela que sorriu.

Casa um seguiu para seu lado como se nada houvesse. 

— Tirei uma foto de vocês, achei que o momento merecia — Am fala mostrando a imagem no celular dela. 

Era de quanto estavam abraçados sorrindo um para o outro. Aquela foto fez a doutora perceber que não tinha nenhuma foto com Marco assim, como casal.

— Ficou perfeita. 

 

… 

 

 

As três posaram diante do espelho do elevador para tirar uma foto. 

" Sochi Nights" — Escreveu Sarah. 

 

O clube ficava a beira mar, no rooftop de um prédio comercial. Decoração moderna, com neons, baixa iluminação e as musicas mais tocadas do momento tocando. A intenção era se divertir, beber e comemorar, por mais que tenha sido um empate. Sentadas na sua alcova sobre um sofá berinjela elas pediam drinks, tiravam fotos e conversavam. 

— Gente, a Shakira estava no camarote do estádio hoje — Sarah mostra o celular, nele a notícia e a foto da cantora com a camisa do marido e com o filho no colo.

— Rainha! Deve ter sido porque o Piqué sumiu do corredor.  Aliás música dela ainda é a música oficial da em copa — Mia comenta bebericando sua bebida.

— Sabe o que nós temos em comum? — As dias franzem a testa. — Namoramos espanhóis, mas torcemos para outra seleção — Am fala gerando risadas. 

— Aposto que ela vai para pelo menos um jogo da Colômbia — a ruiva apontou.

— Ele sempre vai, lembro quando foi para um lá o Brasil em 2014 — Mia fala, ela estava com James na época.

— Em pensar que ela e Piqué começaram a namorar depois da copa, é quase minha história com Isco — a loira falava com um sorrisinho sonhador. 

— Você vai ser a Shakira do balé, baby — Sarah piscou. 

Mia recebera indicações de que esse era o point em Sochi no momento, e o indicou para alguns amigos de Madrid que logo chegariam para farra. Afinal a graça da copa eram essas reunião depois dos jogos. 

— Ah se eu tivesse solteira — comentou Sarah ao olhar para um loiro que passou diante da mesa. 

— Íamos experimentar de tudo, quer momento melhor para conhecer outras culturas? — Mia fala com um sorriso malicioso e elas gargalham. 

Amigos bailarinos de Am apareceram, Ursula, Ester, Álvaro, Jaime e a namorada María também. 

— Onde vocês estavam? — Mia indagou a Ursula e Éster ao abraça-las. 

— Mi amor, o voou atrasou nem deu tempo de chegar para ver o jogo — Ursula explicou. 

— Ah não! Mas no próximo vamos nos encontrar. 

— Com certeza, agora vamos aproveitar muito por favor — Éster sacudiu os ombros em animação e as outras duas riram repetindo o ato. 

— Onde estão os meninos? — As duas a levaram para encontrar o resto do grupo.

Eles dançaram muito, garrafas de champanhe e vodka circulando na mesa, risadas, novas amizades no meio da pista. Mais tarde Neymar e Jesus chegaram, mais cedo o camisa 10 havia respondido o storie da morena perguntando onde ela estava, segundo ele os jogadores receberam uma folguinha do professor e como eram um dos poucos que estavam sem esposas ou namoradas no momento queriam aproveitar a noite russa. 

Am pediu para o Dj tocar funk e as meninas enlouqueceram na pista descendo até o chão juntas, batendo bunda, rebolando, rindo e deixando os gringos babando. Uma pena todas serem comprometidas, menos Ursula. Mas Jesus não sabia disso, do bar ele estava hipnotizado por Mia a fitando quicar sobre os calcanhares com aquele vestidinho vermelho. 

— Segura o queixo, ta escorrendo — Ney brinca ao lado dele. 

Gabriel revirou os olhos, desviando o olhar. 

— Idiota — deu um gole na sua bebida. 

— Eu sei que você ta fim dela, nem precisa negar — falou o atacante e o número nove suspirou voltando a olhar para morena rindo e abraçando a loira. 

— Ela é...muito gata — admitiu Jesus. — Vocês já ficaram? — Olhou para o amigo, dependendo da resposta saberia como agir. 

O camisa 10 negou rindo. 

— Não, com a gente é só amizade. E se está esperando minha aprovação...vai fundo — GJ sorriu de canto.

— Você é amigo dela, acha que tenho chance? 

— Mano, pode ser, eu não a conheço bem o suficiente para saber se ela tem um tipo específico. Só chega com jeito, ta? Ela não é qualquer uma — avisou por ultimo dando um gole no gin. 

Gabriel anuiu. 

— Eu percebi isso, relaxa.

Ney sabia que Jesus não era o tipo de cara que saía pegando várias e no final não se lembrava da cara de nenhuma ( como ele ) e por isso confiava que o camisa 9 tentasse algo com Mia. Ele via a médica com carinho e sentia que devia protege-la como protegeria sua irmã, por mais estranho que parecesse, já que no fundo, bem no fundo, tinha atração pela mesma. 

A noite era pequena, todos se divertiam muito. Am e Mia encontraram muito assuntos em comum com Maria, a namorada de Jaime, porque além de atriz ela era bailarina. Álvaro era outro fofo, dançou muito com elas na pista, exatamente o tipo de homem sem masculinidade frágil. 

— Eu amei seu namorado lil baby! — A doutora disse a Éster enquanto os três dançavam juntos com taças de champanhe na mão. O líquido dourado esborrava para fora quando seus corpos esbarravam um no outro, risadas preenchiam o ar em meio a música alta. 

Amigos felizes se divertindo, era a copa do mundo, verão, uma época de comemoração e ninguém queria que aquilo acabasse. 

A morena jogou a cabeça para trás rindo da história do jovem atacante. Estavam sentados em uma das cadeiras do bar, duas taça com martini diante de si. 

— Eu não sabia que você era tão engraçado — ela disse apoiando a cabeça na mão com um sorriso ébrio. 

— Só quando estou tentando conquistar a mais bela mulher que já conheci — disse finalmente, os olhos ergueram para os dela, timidamente esperando sua reação. 

A médica apenas piscou inicialmente atônita parando o cristal diante dos lábios.  

— Oh! — Tomou ar e o deixou sair devagar enquanto pousava a taça no balcão. Ela já esperava que fosse acontecer, mas ainda era um choque ouvir. — Eu fico lisonjeada Gabriel, mesmo, mas eu... — hesitou um pouco. — Mas eu estou namorando. 

O brasileiro arregala os olhos e desinclina um pouco o corpo. Essa ele não previa. Mas quando mesmo que uma mulher como aquela estaria solteira? Só nos seus sonhos. 

— E-eu não sabia, me desculpe — mas a doutora riu. 

— Ah! Fique tranquilo, quase ninguém sabe mesmo — abanou a mão negando. — Alias, peço que guarde meu segredo. 

— Claro, claro — Mia sorriu de canto. 

— Agora me conta mais sobre os bastidores eu estou amando — ele sorriu de volta feliz por ela mudar de assunto e não tornar aquilo mais embaraçoso. 

— Qual parte você quer saber? Porque eu sou o rei dos micos. 

E eles continuaram conversando, na realidade, se deram muito bem quase como se a ideia de algo mais que amizade não tivesse passado pela cabeça de ninguém. 

 

 

 

Dois dias depois era o dia de Brasil x Suíça em Rostov, as três chegaram pela manhã em um voo rápido e aproveitaram para conhecer um pouco da cidade com companhia de Clarice e Anna, as nove da noite, o jogo.  

Mia se olhou no espelho, a camisa amarela rabiscada com autógrafos, havia sido entregue alguns dias atrás por Clarice. A médica havia a mostrado aos garotos no dia que estiveram na praia e eles pediram que deixasse com eles para que todos autografassem. O mesmo aconteceu com a de Am e Sarah.

O estádio de Rostov era um burburinho verde e amarelo, óbvio que havia a parte vermelha, mas como a maioria dos jogos quem que o Brasil estava, brasileiros eram maioria e faziam muito barulho. Um mar amarelo se estendia pelo caminho até o estádio, com bandeiras, chapéus, perucas e todos os mais variados tipos de acessórios nas cores da seleção, falando português ( coisa que nenhuma das três via a algum tempo ). Um grupo parou em determinado ponto do percurso e com pandeiros ritmavam o samba, diante deles pessoas paravam, gravavam, dançava.. 

— É como estar em casa — Am falou dando uns passos de samba. 

— Eu amo como os brasileiros sempre dão um jeito de se sentir em casa — Sarah disse rindo e sacou o celular para gravar aquilo. 

— Isso é Brasil — Mia abriu os braços enquanto sambava com Am. 

As duas brasileiras dançando e cantando a alguns metros de distância, exaltasamba tocava. Era esse o vídeo, com a legenda: Só faltou a cerveja gelada e o calor. 

Mais a diante as câmeras de TV brasileiras e suíças formando aglomerados perante suas câmeras. Foi possível reconhecer um ou dois repórteres brasileiros interagindo com os torcedores que fazia a festa. 

— Ali! As meninas! — Apontou a loira já dentro das dependências do estádio.

Clarice e Anna estavam um pouco Maia a frente com seus filhos e as famílias dos maridos. Assim chegaram cumprimentaram-se e foram apresentadas aos que não conheciam. 

— Onde estão sentadas? — Indagou Anna. 

— No setor D, segundo patamar — Sarah respondeu. 

— Ah! Vamos ficar distantes, que pena. Estamos no C do segundo patamar — Clarice informou com um sorriso triste.

— Ah! Queria torcêssemos juntas — Sarah faz bico.

— Qualquer coisa gritamos de um patamar para o outro — a doutora falou gerando risadas. 

Elas conversaram um pouco, e quando faltava poucos minutos para começar entraram para procurar seus lugares. 

— Tava com saudade de ver minha seleção jogar — Mia disse animada. 

O estádio com mais de 44 mil pessoas, as bandeiras de cada time estendidas sobre o gramado, os jogadores estavam perfilados ao som da música do campeonato e de ovações do público. 

— Chega bate uma emoção — Am sorria olhando para o campo onde a fila única se formava. 

O hino suíço foi o primeiro, mas quando começou o hino nacional brasileiro...era de arrepiar, todos em pé, mãos no peito, o canto forte e retumbante ecoava pela arquibancada e mesmo quando o instrumental acabou, como era tradicional, os brasileiros continuaram cantando. Tão solene e patriótico que emocionava. Sob aplausos que acapela foi finalizada. 

No campo os jogadores e o time de árbitros se cumprimentaram em seguida dividindo-se entre titulares e reservas. Os titulares indo tirar a foto oficial, os reservas para o banco. 

Como Igor tinha dito a Suíça era um time que fazia retranca, termo usado no esporte para equipes que preferem a deseja ao ataque. Entrando em campo na estreia da copa do mundo 2018 estavam os dois times com as melhores defesas das classificatorias. O Brasil grande favorito, embora ninguém esperasse uma goleada. 

Os técnicos optaram por um esquema tático de 4-5-1, ou seja, a defesa como prioridade. Brasil tinha Alisson, Danilo, Thiago Silva, Miranda e Marcelo na defesa, Casemiro, Willian, Renato Augusto, Philippe Coutinho, Neymar no meio campo e Gabriel Jesus atacante mais adiantado. 

O primeiro tempo começou com uma finalização da Suíça, para a surpresa de todos. 

— Não gostei nada disso — Sarah faz careta apontando o polegar para os suíços muito animadinhos a algumas fileiras de distância. 

Mas também foi a primeira e ultima do time europeu, em contrapartida até aos 4 minutos pouco se via o Brasil no campo de ataque. Pelo menos até um marcador puxar Neymar no meio de campo e o árbitro parar o jogo. Willian vai rolando a bola pela direita, cruza e a bola passa por cima da marcação, mas também passa pelo gol. 

Depois desse lance o Brasil também ganha mais terreno em campo, a posse de bola antes bem equiparada. Os canarinhos tocam, vão dominando e fazendo a Suíça se fechar. 

— Uhhhh! — A torcida faz quando a bola passa raspando no gol, após uma bela tabela de Neymar e Coutinho para Paulinho. 

Três minutos tempos mais uma bola perigosa, dessa vez o chute é do camisa 10. Era visível o esforço suíço para conter o atacante, Behrami até faz falta ao tentar para-lo. 

— Porra! Segunda já — Reclama Mia.

A bola da falta bate na barreira, logo em seguida mais uma tentativa de gol, de Jesus agora, mas Sommer defende.

— Ta na hora de sair o gol já pelo amor de Deus! — Am se agita. 

— Ta mesmo — um torcedor ao lado delas concorda. 

Não deu dois minutos, Marcelo cruza da lateral esquerda, Thiago corta e a bola sobra para o camisa 11 fora da área. Coutinho capricha no chute, Sommer cai sem a bola e o grito sai pela garganta dos brasileiros. Uma pintura.

— GOOOOOL! — Berram todos.

O banco levanta vibrando com a torcida na arquibancada. O menino Couto solta o grito pulando em comemoração, os outros vem atrás. 

— Aeee! — As meninas se abraçam de lado pulando junto com as pessoas ao redor. 

— É Brasil meu amor — Gritou Am fazendo uma dancinha. 

Aos 25 minutos em um escanteio da Suíça, Schar e Casemiro batem cabeça na área quando o volante tenta afastar a bola alta perigosa. Ambos caem sentindo dores e o jogo é interrompido para atendimento médico. 

Mia observa os atos nos médicos, conhecia o procedimento. Em caso de choques cranianos eles podiam se comunicar com outros médicos por meio de rádio, a equipe médica para uma copa era mais completa do que a de uma Champions ou campeonato nacional, até neurologista tinham. Mas Nada sério e o jogo volta ao normal. 

A partir dai os alve-rubros começam a investir em bolas cruzadas, felizmente a deseja brasileira consegue ir muito bem nos lances que acabam não assustando. 

— Falta desgraçado! — Mia grita quando Lichsteiner vai para cima do camisa 10 para interromper uma jogada. 

O árbitro mexicano marca e la vai Neymar cobrar o escanteio. O craque ajeita a bola e espera os companheiros se posicionarem. Tudo certo, ele toma adiantaria e chuta, a bola faz aquela curva, mas bate na segunda trave, Jesus sobe mais que a defesa suíça frente a frente com Sommer, mas erra e perde a chance do segundo gol. Gemidos da torcida. 

O time vermelho continua insistindo no cruzamento, sempre muito bem bloqueado pela defesa, deixando o goleiro tranquilo em sua trave. 

— Bem que Igor falou que eles eram entediantes — A ruiva suspirou jogando as costas no acento.

— São equipes heterogênea, estilos opostos — Mia falou. 

— Ah meu Deus! — Am aperta o braço da morena quando a suíça decide fazer um contra-ataque, mas Thiago desarma camisa nove antes que chega a grande área. 

— Lindo! Que classe! Arrasou! — Sarah aplaude quando a bola sobra para Alisson e ele friamente dribla o marcador para devolver a bola a deseja brasileira.   

— Ih menina relaxa! — A doutora ri da loira que faz careta. 

— Parem de reclamar que eles são sem criatividade, melhor assim, para o bem estar do meu coração — Am falou fazendo elas rirem. 

— Ok, amada! — Mia zombou. 

Minutos mais tarde Zuber recebe na área e chuta bem, mas a bola por sorte encontra a lateral da face de Thaigo Silva que salva a seleção, mas vai para o chão. 

— Hum... — Geme Sarah. 

— Eles estão muito engraçadinhos, ta na hora de outro gol pra mostrar quem manda — Am cruza os braços entortando a boca em desgosto. 

— Tenho que concordar — a torcedora no lado diz. 

Paulinho lança uma bola premiada para Jesus aos 41 minutos, com um marcador a diante o atacante tenta fintar na beira da área, mas outro marcador chega e o desarma. 

— Ah não Jesus, pra que essas firulas? — Reclama o torcedor a diante. 

Marcelo recebe na ponta esquerda, ele avança até o fundo precisando por um dos zagueiros, cruza, mas a bola bate do camisa 4. Escanteio. 

Devia ser o último lance do primeiro tempo. 

— Vamos! Um golzinho — pede a morena para os céus. 

Neymar cobra, a bola é boa, Thiago sobe e manda de cabeça, o trajeto é lindo, mas bola apenas passa perto. 

— Uuuuhhhh! — Gemem os brasileiros. 

O primeiro tempo termina com vantagem brasileira graças ao gol de Philippe, os jogadores escoam do campo se cumprimentando e somem no túnel. A torcida se movimenta e Mia e Am decidem pegar cervejas enquanto Sarah conversava com Kimmich pelo celular. 

Quando elas voltam o segundo tempo já havia começado. 

— O que perdemos? — Mia pergunta ao sentir o clima diferente. 

— Case tomou cartão — fala com os olhos fixos no campo. 

— Como assim? — Casemiro era um dos volantes mais limpos que a doutora já vira, durante todas a temporada quase não tomou cartão, era de se surpreender.

— Puta merda! — Am rosna. 

O time vermelho se prepara para o escanteio, como tradição de Tite todos os 11 vão para a área. Tensão do lado brasileiro, esperanças para os europeus. 

O camisa 13 chuta para a área, a bola vai alto, brasileiros e suíços sobem, e nisso o camisa 14, Zuber empurra Miranda para baixo ficando livre na pequena área para mandar a bola para gol. Alisson vai, mas não pega. É gol de empate da Suíça. 

— Ele empurrou! Ele empurrou o Miranda — Grita Sarah assim como vários torcedores brasileiros. 

Enquanto a torcida vermelha e os jogadores comemoravam, Miranda corre ao centro de campo para denunciar ao árbitro o que aconteceu. Inicialmente pacífico até ver o replay nos telões, o empurrão claro. A torcida verde e amarela grita, os jogadores se aproximam, pedem o VAR. 

— CHAMA O VAR SEU PORRA! — Brada Mia com raiva de ver o árbitro se demorar, negando. 

— IDIOTA! — Rosna outro torcedor. 

— Que que custa meu Deus? — Am leva as mãos aos cabelos. 

— BABACA! — Xinga outro. 

Mas o mexicano nega e dá gol legal aos suíços que tensos comemoram novamente. 

— AH! Vai se foder — Sarah se senta brutalmente na cadeira. A torcida inconformada é obrigada a se calar. Agora era recuperar o erro grosseiro do árbitro.  

Onze minutos, Neymar e Coutinho formaram uma dupla boa e em uma jogada de recuperação o meia chuta para o camisa dez, a bola balança as redes, mas pelo lado de fora.

— GOOO... — Am começa a gritar levantando o copo de cerveja já pela metade, mas as amigas a interrompem. 

— Foi do lado de fora — Sarah fala e a loira enrubesce. 

— Ah porra!   

— Vish! Ney parece ta sentindo alguma coisa — Mia observa o amigo mandar. 

— Ah não! 

Casemiro sai e Fernandinho entra, alguns torcedores não gostam muito da substituição, mas era necessária. Tite sabia que Casemiro era importante demais para ficar de fora de mais algum jogo por cartão.

Nos minutos seguintes fica claro que o time brasileiro sentia o gol suíço, o clima mudara, a animação do primeiro tempo anuviada pelos sentimentos de frustração e injustiça. 

Neymar é agarrado na entrada da área, falta para o Brasil. Schar leva cartão amarelo. Paulinho sai e Renato Augusto entra, logo depois mais uma falta em Neymar, cartão amarelo para Behrami.

— Querem comer ele é? — Rosna Sarah. 

— Depois o povo reclama que ele cai, mas olha isso! — Mia defende. 

— Ta foda viu! 

Uma Suíça fechada, o time não parecia com vontade para ganhar, preferiam o mais seguro, manter o placar.

— Ahhh! — Gritam com mais uma tentativa de desempate brasileira. 

Mudança da Suíça, um volante por outro, sai Behrami que já tinha cartão, entra Zakaria. Minutos depois Dzemaili recebe na beira da área e chuta rente ao chão, Alisson faz grande defesa. Torcida suíça geme.  

Mais um lance para VAR, Renato Augusto lança na grande área, Gabriel Jesus no meio da confusão vai ao chão e o juiz manda seguir jogo. 

— Que ódio desse homem! — Esbraveja Am.

Aos poucos o Brasil volta a crescer, eles estavam eufóricos correndo para fazer outro gol, e finalizando mal por isso. 

Neymar tenta outro chute, mas é defesa fácil. Sommer pega. 

33 minutos, Gabriel, que não estava muito bem no jogo sai e Firmino entra. Mais mudanças na Suíça também, Seferovic por Embolo, um atacante por outro. 

— Olha que filho da mãe! — Mia aponta para Lichtsteiner deitado no chão após dividida com Miranda. — Ta querendo querendo ganhar tempo. 

Três minutos depois afirmando faz sua primeira jogada perigosa, a bola é uma bomba, mas sobe demais.  

— Que ódio ver eles cavando o empate — Sarah estala a língua. 

Fica cada vez mais claro pelo toque lendo de boa que a Suíça queria esfriar o jogo, cansar e irritar os brasileiros. O Brasil tenta, o técnico ajuda o tempo correr fazendo substituições totalmente sem sentido e desnecessárias. É agonizante para os brasileiros, eles queriam jogo, queriam emoção, mas os suíços não vieram para isso e estavam conseguindo o que queriam. 

Aos 42 minutos o camisa 10 tenta cabeçada após cruzada de Willian, o goleiro defende. Tite leva as mais ao rosto, impaciente na beira do campo, igual aos torcedores na arquibancada. 

— Agora! Agora! — Se exalta Mia vendo a jogada. 

Cobrança de falta de Neymar, Firmiro pega o lance e sozinho manda de cabeça para o gol. Sommer faz grande defesa. 

— Porra! 

Minutos finais o Brasil coloca pressão, a torcida se agita, empurrando o time para vitória. Em um escanteio Miranda fica com a sobra da bola, ela passa a centímetros do gol. Neymar dispara em jogada individual pela lateral, mas não vê ninguém para completar quando é precisando por um marcador e acaba sofrendo falta. Ficamos no quase novamente, era o último lance do jogo. 

O sentimento era de frustração, era claro que o Brasil devia ter ganhado, afinal foi o único time que se dispôs a jogar enquanto o adversário preferiu se eximir o jogo todo, em uma estratégia parca e mesquinha se usou de erros na arbitragem para ter o empate. Era pela primeira vez desde os anos 70 que o país começava uma Copa sem vitória, nesse momento ficando em segundo lugar no grupo junto com a Suíça. A Servia havia ganho mais cedo e estava em primeiro.

 

 

O time colombiano deixou o hotel na noite do dia 17, duas horas depois chegaram a Mordovia, onde seria o jogo de estreia contra o Japão no dia 19. O jantar estava servido 

logo após chegarem e como os familiares estavam no mesmo hotel  os jogadores comeram com suas famílias. James e Ospina se reuniram suas famílias em duas mesas, afinal era parentes. O clima era bom, todos estavam animados e embora cada um tivesse sua mesa eles circulavam interagindo com os colegas de time, com as famílias. 

— Acho que essa foi a melhor decisão da comissão — Ospina falou levando um colherada de caldo verde a boca em seguida após observar ao redor.

— Verdade, nunca vi todo mundo tão relaxado — James completou. Podia ver Quinteiro brincando com sua filha, Bacca abraçando seu pai e rindo, então sorriu satisfeito.

Ele era o segundo capitão depois de Falcão, o jogador mais experiente do time, e soube pelo próprio Pékerman da decisão antes mesmo do resto do time. Para James era uma honra e responsabilidade estar naquele lugar, agora oficialmente, porque já tinha usado a braçadeira uma vez no Brasil, mesmo quando era sua primeira vez em uma copa. Agora mais experiente poderia assumir melhor o papel. 

— Papá olha o que eu fiz! — Dulce, filha mais velha de Ospina, aponta para as letras formadas com grão de pico em seu prato. Era seu nome. 

— Oh filha, parabéns! — David diz sorridente afagando o ombro da menina. 

Sua mulher Jesy estava com Maxi, o filho mais novo, no colo o alimentando enquanto conversava Daniela, Pilar, Juana e Lucia, sogra de James. E o assunto parecia que ia render por que elas não paravam de falar. As crianças se divertiam com desenhos no celular de Juana. Já entre o sogro, David e o camisa 10 o negócio era futebol, os outros grupos, os últimos jogos alguns com resultados surpreendentes, estatísticas, equipes. 

O grupo que estavam tinha além do Japão, a Polônia e o Senegal. De todos o considerado mais ofensivo era o Japão, já que tinha alguns craques no time, mas este sofrera com a mudança de técnico apenas um mês antes da competição então estavam desistabilizados. Fora que eles tinham ganhado da ultima vez que se enfrentaram, em 2014, com golaço de Rodriguez. A Polônia era conhecido por um futebol típico do Leste Europa, mais fechado, seguro e direto, totalmente diferente do time colombiano que era extremamente ofensivo e se provocado da forma errada poderia se tornar agressivo. E isso que eles tinham medo do Senegal, uma das menores seleções africanas não tinha tanta tradição como os outros, não era nem ofensiva e nem retraída demais, na realidade baseiam o jogo no adversário e eram conhecidos por ser explosivos e animados em campo. 

Não seria fácil, mas podiam estar em um grupo muito pior, com aquele era possível passar para próxima fase. 

Era de tarde seguiram de ônibus para o estádio, o clima era o normal, alguns animados, ansiosos pela estreia, outros concentrados demais para isso. Entraram pelos fundos e o ônibus estacionou diante do portão de entrada. Câmeras de várias emissoras estavam paradas ali e ligaram ao vê-los descer. Primeiro a comissão técnica e depois os jogadores um por um. Acenavam, mantinham a cabeça baixa, sorriam, ouviam música. James desceu com sua mochila nas costas, usava o uniforme de descanso da seleção e ouvia musica, ao passar tranquilamente pelos fotógrafos e cinegrafistas sorriu de leve e adentrou o corredor. 

Mais cedo se despediu da família no almoço, Pilar e Lúcia fizeram questão de fazer uma oração pelos filhos antes de tudo, eles receberam abraços dos filhos e irmãos, beijos das esposas, e boa sorte de todos. 

A arena Saransk enchia aos poucos, as tvs se organizando em suas tribunas para entrar ao vivo, jornalistas na base do caldeirão entrevistando os torcedores, os funcionários de apoio checando o gramado, os fotógrafos se organizando a beira do campo. 

— Pronto la pelota rodará aquí en Mordovia — falou o comentarista colombiano. 

— Mamonaku gēmu ga koko morudobia de hajimarimasu — anunciou o japonês diante da câmera. 

Minutos mais tarde as filas dos times estavam formadas, um lado amarelo outro azul escuro, os árbitros a frente, as crianças ao lado. James olhou a diante, como era o ultimo tinha a vista da fila e no fim do túnel se abrindo em um estádio lotado de camisas amarelas. Ele sentia o coração bater rápido e forte, respirou devagar controlando a respiração. 

" Mais uma copa, mais um sonho." — Pensou. 

De repente o narrador anuncia os times, a torcida faz a estrutura tremer, eles gritam.

James apenas esperou Mina andar para seguir de mãos dadas com o menino de cabelos negros e pele muito branca, devia ter a idade de sua pequena Salo. Quando o camisa 10 sentiu o sol tocar seu rosto inspirou fundo olhando apenas para frente, para o gramado verde e a torcida tomando as arquibancadas. Foi o pé direito que tocou a linha do campo e naquele momento ele pediu a Deus que desse tudo certo. Seu pequeno ritual.    

As duas filas viraram uma só, os times divididos entre a equipe de arbitragem, a torcida adiante, marjoritariamente colombiana pontilhada por japoneses . Era azul contra amarelo, latinos contra asiáticos. Os hinos foram tocados, os jogadores se cumprimentaram como pedia o protocolo, a sorteio dos lados entre os capitães também.

James começou no banco, Pékerman queria preservar o craque e utilizá-lo como um trunfo quando necessário nesse jogo. James embora quisesse jogar entendeu a tática do técnico. O time em um 5-4-1 se posicionou no seu lado do campo e aguardou o apito do árbitro. 

As exatas nove da manhã a bola rola em Mordovia. O primeiro lance é uma chegada do Japão, Osaki cruza e Ospina defende bem, outro jogador japonês pela o rebote e chuta novamente. A bola viaja o goleiro está se levantando, mas Sanchéz estava na frente com o braço elevado e a bola bate nele. A torcida grita, o juiz paralisa, os reservas e comissão técnica se levantam. O juiz corre até Sanchéz e ergue o cartão vermelho. É pênalti para o Japão com apenas 2 minutos de jogo. 

Os colombianos levam as mãos a cabeça, Cuadrado e Carlos Sanchéz tentam conversar com o árbitro, Pékerman observa visivelmente irritado. O banco fica empovoroso.

— Não tem o que fazer, foi claro — James estala a língua olhando para a reprise do lance no telão.

— Que Merda! — Mina xinga. 

Triste, mas obediente Sanchez deixa o campo falando apenas com o assistente técnico que o acompanha de volta para o túnel que tinha saído a apenas 5 minutos. 

No campo tudo se organiza para o pênalti, o árbitro da as indicações, Ospina vai para o gol e Kagawa se posiciona na marca do pênalti. O japonês ergue o corpo e se afasta esperando o apito do juíz. Jogada permitida o jogador correr e chuta, e vai bola para um lado e goleiro para o outro. 

Os japoneses vão a loucura, os jogadores correm para torcida comemorando muito. No lado colombiano, silêncio, frustração. Estavam em dupla desvantagem, um jogador a menos e atrás no placar. 

Mas não era do feitio dos tricolores desistir. Eles partiram para o ataque, não tinham muito a perder, já estavam na pior possibilidade, começar perdendo. Os colombianos atacaram, fazem tentativas, Arias  impedido, Falcão cobra falta, mas o goleiro japonês agarra. Cuadrado também faz várias tentativas, leva a bola a linha de fundo, mas perde, cai na beira da área e pede falta. Mas o Japão defende bem, pouco ataca, mas quando o faz achando brechas na defesa colombiana assusta a torcida.

Apreensão do lado amarelo, alegria do lado azul. Pekérman decide substituir Cuadrado, alguns não entendem já que ele era um dos que mais atacava. O técnico via diferente, o meia era egoísta fazia as jogadas sozinho, não olhava para os companheiros com posição melhor e naquele, com um a menos, eles precisavam de unidade, de um time. 

Aos 36 minutos Falcão Garcia cai na entrada da área e é falta para os tricolores. Era a chance. O banco fica tenso, a torcida na expectativa, no campo os protocolos para cobrança são seguidos. É Quinteiro que vai cobrar, ele se posiciona, a barreira é formada, o ar parece compactar na arena. 

E com frieza Juan espera a barreira subir e chuta, a bola vai rasteira e o goleiro chega atrasado, não conseguindo evitar o gol. 

O grito irrompe na boca dos colombianos, o banco se levanta, os titulares vão na direção deles. A comemoração é com todos os convocados, a torcida vai a loucura. 

O goleiro reclama, mas o árbitro confirma o gol. 

Tudo empatado em Mordovia. 

O primeiro tempo termina em 1 x1. 

No vestiário Pekérman e seu assistente tentam traçar novos planos e jogadas, James e Falcão vão falar com Sanchéz sentado em um dos bancos, os demais jogadores conversam. Minutos mais tarde o técnico chama todos para um círculo no centro do vestiário, o novo plano é traçado. 

— Professor, me deixe entrar — o camisa 10 pede em um canto. Ele sentia que podia ajudar.

O homem de cabelos brancos o fita. 

— Vamos esperar — passou a mão no ombro do jogador. — Dependendo de como começar o segundo tempo, veremos se é necessário. 

James apenas sorriu de canto, afinal ele sabia o que era melhor.

No segundo tempo o Japão tenta começar bem, querem ganhar usando a vantagem de ter mais um jogador em campo. O time colombiano sente isso, sempre a pressão de ter um a menos, acaba abrindo espaços, não conseguindo se impor. Eles se defender e procuram um contra-ataque. 

— Uuuuhhhh! — A torcida japonesa urra quando Osako solta uma bomba que só não entra no gol por uma grande defesa de Ospina. 

Menos de dois minutos depois de novo. Inui recebe pela lateral esquerda, corta parábola meio e chuta no cantinho, mas David voa fazendo mais uma grande defesa. 

A torcida colombiana, o banco e o técnico suspiram de alivio. 

— James! — Pekérman chama após falar com o assistente.

O camisa 10 levanta e segue para a beira do campo, parando ao lado do professor. 

— Faça o que sabe — é apenas o que diz e James anui tirando o colete. 

A torcida colombiana se anima, James espera Quinteiro sair para entrar. Camisa vinte pela dez. 

— Boa sorte cara! — Quinteiro bate as mãos com as suas e o craque pisca. 

James tenta mudar o jogo, tenta dar mais força ao ataque suprindo o meio de campo. A ideia era voltar a pressionar o Japão, e isso torna o jogo mais perigoso até Barrios leva cartão após impedir a jogada de Kagawa. Mas o Japão dominava o ataque e a torcida latina levava vários sustos por isso. 

Mudanças aos 24 minutos, Honda entra no lugar de Kagawa e Bacca no lugar de Izquierdo. Estava claro que nenhum dos times estava feliz com o empate. E Honda já entra com sede, o japonês chuta a gol, mas Ospina defende sem dificuldades. Logo depois Sakai faz outra tentativa agora na pequena área, mas a bola desvia nos dedos do goleiro e é escanteio. 

E é na cobrança de escanteio que Osako sobe mais que a defesa marcando assim o segundo gol do Japão. 

James fora da pequena área acompanha toda a jogada com os olhos, vê o gol e o time oriental sair para comemorar, então leva as mãos a cintura e tomba a cabeça para trás. Precisava fazer alguma coisa. 

O Japão continua no ataque mesmo após o gol vendo que os colombianos tinham dificuldade de sair com a bola com um a menos em campo. 

Falcão vai ao ataque e consegue um escanteio, ele se posiciona na ponta e então vê James fazendo um sinal da área. Sabe o que fazer. 

A bola faz a curva e James bem posicionado recebe sozinho na área, ele chuta, mas a bola desvia e sai pela linha de fundo. 

— Uuuhhhh! — Os torcedores gemem. James suspira. Não ia desistir. 

O Japão continua tentando, eles querem mais gols e em uma dessas tentativas James vê Haragushi prestes a completar uma triangulação, ele não pensa duas vezes e avança no jogador que cai rolando. 

O apito soa, o camisa dez espera o árbitro vir com as mãos na cintura. Mas quando o homem ergue o cartão amarelo o jogador sorri irônico e leva uma das mãos ao rosto.

" Era só o que faltava."  

Garcia e James tentam ataque, o meia dando suporte ao atacante, fazendo o trabalho no meio campo mas quando chegava próximo a área...impedimento, goleiro, marcadores. 

Eles tentam por todos os lados, o Japão fica concentrado em se defender, Kawashima leva cartão por tentar impedir uma jogada. 

Aos 49 minutos do segundo tempo o árbitro aponta o centro de campo. Os japoneses conseguiram. Pela primeira vez na história um time asiáticos vence um time latino. 

A torcida colombiana tristes vai deixando a arena, os jogadores não estavam muito diferentes. Já os japoneses eram o oposto, curtiam muito a vitória histórica ainda mais depois de todas suas dificuldades. 

James se sentia frustrado, não consegui fazer grande diferença do jogo, não conseguiu suprir as expectativas. Falcão o puxa pelos ombros no túnel. 

— Não fica assim garoto, você lutou, todos lutamos — falou com certeza. O capitão era um grande amigo e conhecia bem aquela expressão no rosto do camisa 10.

Rodríguez sorriu de canto. Quem sabe ver sua família melhorasse as coisas.

 

 

Assim que chegou no hotel James encontrou todos no seu quarto. Sua mãe foi primeira que foi em sua direção e o abraçou com força, ele, acolhido, relaxou no colo dela.  

— Estou orgulhosa de você — ela sussurrou. 

Rodríguez imediatamente lembrou de quando passaram na zona mista, aquela parede de jornalistas e câmeras disparando perguntas, apontando os microfones, flashes demais. 

" — James! James! Como você está se sentindo com o resultado?"

" — James você acha que teria feito diferença se tivesse entrado desde o início?" 

" — Como você se sente com a primeira derrota latina por um time asiático?" 

" — James está difícil fazer o gol hoje?" 

O jogador passou reto, não respondeu nenhuma das perguntas, outro jogador ficara com esse dever.

Salo veio depois pulando no colo do pai e passado os bracinhos ao redor do pescoço dele. 

— Eu te amo papá — falou, o jogador sorriu alisando suas costinhas. 

— Eu também te amo minha princesa — disse. 

James passou aquele tempo com sua família, eles tentaram o animar, o fazer ver que existia ainda muito pela frente. E de fato havia, mas o jogador estava decepcionado consigo e abalado por já começarem tão mal, Sanchéz expulso não jogaria o próximo jogo, e a derrota os obrigada a vencer todos os próximos jogos e era a ele que a mídia atacaria, mesmo tendo jogado apenas 1/4 do jogo. Tudo estava tão imprevisível que agora, no fundo, ele até duvidava que isso aconteceria. Mas mostrou diferente para família, não queria que elas se preocupassem, não queria se mostrar inseguro, não quando sabia que isso deixaria todos inseguros também. 

Então sozinho ele tentou se lembrar de memórias boas, de momentos que o deram força. De repete em meio a uma dessas memórias uma que ele não esperava apareceu. Quando ele e Mia estavam deitados na grama de um parque qualquer no meio da noite, ele falava sobre a pressão que era estar na copa, como era difícil lhe dar com tudo, mas que ainda sonhava em levar um título para seu país e ela disse: 

" — Acho que pode conseguir, se tentar se verdade, não pensar em estatísticas ou nos outros. Se você fizer seu melhor, vai acontecer e se não acontecer você pelo menos está de consciência limpa. 

— Mas se meu melhor não for o suficiente, eu me sentiria pior ainda — Mia me fitou e eu mantive os olhos no céu sobre nós, tantos pensamentos na minha cabeça. 

— Nós sempre podemos melhorar, essa é sua primeira copa. Não se cobre tanto, ainda há tantas pela frente e você tem saúde — a olhei, ela tinha olhos tão profundos, tão expressivos. Sorri." 

E com aquilo outras memórias vieram como se uma brecha do baú que as mantinha trancadas tivesse aberta. Eles correndo pelas ruas completamente perdidos, dançando em um bar aleatório, bebendo em um boteco, aos beijos nos corredores do estádio, sendo jovens, inconsequentes e livres. James tentou pensar em outras coisas, mas cada vez que se lembrava de algo ficava mais anestesiado, como esperou ficar quando visse sua família. Claro que vê-los, tê-los ali era incrível, tudo o que ele queria, o que sonhou mas...no fundo não estava sendo como ele imaginava. 

Quando sua mãe e sua irmã foram para seus quartos ele se viu sozinho com Daniela e uma Salo dormindo na cama. Talvez conversar com sua mulher melhorasse as coisas, talvez ela pudesse o fazer relaxar. 

— Amor você sabe que a mídia sempre vai cair em cima de você — Daniela falou com calma enquanto eles estavam deitados. — Que sempre vão te cobrar mais, esse é o preço de ser bom, de ser o maior. E eu sei que você quer sempre alcançar as expectativas, que se esforça para dar o seu melhor em tudo, mas nem sempre é suficiente, nem sempre as coisas saem do jeito que queremos, nem sempre é justo. Você tentou, você lutou, o time estava bem, mas a expulsão... — a loira suspirou pesadamente. — Não foi culpa sua, não escute o que eles dizem, os ignore, é pura maldade. 

O jogador sorriu de canto. Daniela sempre foi boa de concelhos, sempre foi muito verdadeira e direta. 

— Obrigado, que bom que está aqui — puxou a mão dela a beijando. 

Mas quando deitou a cabeça no travesseiro naquela noite a sensação voltou.

 

 

— O voo para São Petersburgo sai as uma — Sarah falou, olhando as passagens no celular. 

— São meio dia e vinte dois, manda esse homem correr pelo amor de Deus — Mia pediu a Am. 

A loira virou para o motorista. 

— GOSPODI, BEGI RADI IYUBVI BOZH'YEY! — Ela fala alto do banco de trás se inclinado entre as cadeiras. O homens a fita pelo retrovisor com os olhos arregalados. 

— Mne maksimal'no pozvoleno ledi — Am bufa. 

— O que ele disse? — Sarah indaga. 

— Que está no máximo permitido. 

— A gente paga, diz a ele que a gente pega — Mia fala nervosa. 

— Sai mais barato que perder o voo. 

— MY PLATIM SHTRAF, PROSTO BEGI! — A loira pede em desespero novamente. 

O motorista suspira e acelera finalmente cortando os carros mais lentos na avenida de Rostov. 

— Puta que pariu, eu achei que era as duas da tarde. Que merda! — A ruiva xinga. 

As três saíram literalmente correndo do hotel quando Mia notou o horário diferente do ticket da passagem. Malas para todo lado, praticamente jogaram todas na mala e no banco traseiro. 

— Puta merda, a gente vai perder o voo — Sarah leva a mão a cabeça segurando a mala de mão no colo com a outra. 

— Fudeu! Meu Deus fudeu — Am repetia olhando para o teto do carro. 

— A gente vai chegar lá manhã, já to vendo.  

— QUEREM SE ACALMAR?! — Mia gritou fazendo as duas pararem de falar imediatamente.  Até o motorista quase calvo ficou tenso no volante. — Vai dar tudo certo porra — a doutora falou tentando acalmar a situação, tentando se acalmar, ser positiva.

Com silêncio ela volto a se encostar no banco e suspirou. 

— Você é ótima nisso, já pensou em dar palestra? — Sarah espumou de sarcasmo e Am riu. 

Logo as três estavam rindo, ou melhor, gargalhando. 

" Loucas" — O homem pensou.

 

São Petersburgo era bem mais fria do que todas as cidades que tinham estado desde então, naquele exato momento fazia 13 graus e o tempo estava um pouco fechado. 

— Olha, graças a Deus que conseguimos chegar na hora — a ruiva falou enquanto estavam no taxi a caminho do hotel. 

— Dá graças pelo voo ter atrasado dez minutos, se não a gente ainda estava em Rostov — Am diz. 

A doutora apenas olhava pelo vidro do carro encantada. Já havia ouvido falar da cidade muitas vezes, principalmente por causa dos clássicos russos de Tolstoi, mas ver de perto,  era incrível. 

— Aqui é lindo — Mia disse. 

A cidade era como uma jóia preciosa, palácios por todos os lados, prédios magníficos, hiper-rebuscados no estilo rococó. Rica, era o adjetivo perfeito, mas se poderia pedir diferente da que foi capital do império russo por dois séculos? 

— Sabia que você ir amar. É minha cidade favorita, estou ansiosa para te mostrar tudo — Am falou animada apertando os ombros da amiga. 

Mia sorriu deitando a cabeça no ombro da loira. 

— Por isso eu ia surtar se perdêssemos o voo, já temos tão pouco tempo aqui — Sarah olhou para fora, a paisagem era encantadora mesmo. 

— E ela fica ainda mais linda no inverno, pelo menos na minha opinião — Am podia se lembrar no dia se inverno que se apresentou no Teatro Mariinsky, se sentiu a própria Anna Pavlova.

O hotel delas ficava próximo ao centro, de forma que pudessem se deslocar facilmente para conhecer os pontos turísticos. Não era um dos hotéis antigos com vista para os palácios que Mia sonhou, mas foi o que conseguiram, São Petersburgo era cara, e embora nenhuma delas estivesse passando por aperto financeiro, pelo contrário, existiam outras prioridades. Am, o casamento, Sarah e seus sapatos e roupas de grife, Mia planejando comprar um carro ou talvez dar entrada em um apartamento, uma casa quem sabe. 

Elas arrumaram tudo no quarto e se agasalharam melhor para sair, as três estavam famintas já que na pressa para não perder o voo não tomaram café. 

" Quase que perdíamos o voo, mas já chegamos. " — Mia escreveu para Marco, ele havia pedido que o notificasse assim que chegasse. 

— Vamos de brunch então — Sarah falou ao saírem do hotel. 

— Conheço um restaurante ótimo aqui perto, de lá pegamos um uber para o museu. 

O dia foi incrível elas foram ao Museu Hermitage, o segundo maior museu no mundo ficando apenas atrás do louvre. Além do seu emblemático prédio verde água ele conta 10 edifícios com mais de 3 milhões de obras. Os destaque eram o Palácio de Inverno, onde estavam os pertences reais em perfeito estado, dos móveis dos quartos até objetos pessoais como broches, leques. Depois ligado por uma ponte coberta ao edifício estava o Pequeno Hermitage, lugar que Catarina II, a mais famosa czarina russa, escolheu morar sozinha e que tinha, atualmente, uma vasta coleção de obras da Europa ocidental.

Outro ponto de parada foi a praça do palácio, flaqueada pelo Palácio de Inverno e pelo Palácio do Estado Maior, onde inclusive se instaurou a revolução russa sendo palco de diversas manifestações. Ali no centro da praça a colunata de Alexandre se erguia, o obelisco foi erguido em comemoração a vitória russa em cima de Napoleão Bonaparte. Em seguida rumaram ao Palácio do Estado Maior, o edifício amarelo abrigada a coleção de arte moderna do Hermitage, o Palácio sendo constituído de dois prédios ligados por um arco triunfal que segundo o guia também eram em comemoração a vitória russa sobre os franceses. 

E embora tivessem mais complexos para ir não tiveram tempo, aquilo tudo já havia levado um dia inteiro e agora a noite caía. Visitaram apenas a Fortaleza de Pedro e Paulo porque ela era a frente do Hermitage e dificilmente voltariam ali novamente. Está fora a primeira construção da cidade erguida pelo czar Pedro ( assim como a maioria das grandes edificações ), fundador da cidade, para proteger São Petersburgo dos invasores. Dentro da Fortaleza estava a Catedral de São Pedro e São Paulo, uma igreja ortodoxa dourada cuja torre finíssima subia ao céu como uma agulha. La estavam sepultados todos os czares desde Pedro, o grande, e os Romanov também, em outra ala já que foram cruelmente assassinados na revolução russa.

As três chegaram mortas no hotel. Mas valera a pena, as três estavam extasiadas pelo banho de história russa, por tudo o que viram, por terem estado naqueles lugar com tantos acontecimentos.   

— Eu nunca vou me cansar de visitar o Hermitage — Am se jogou na cama, Mia que tirava o cachecol sorriu. 

— Foi perfeito — ela falou. 

— Vamos pedir serviço de quarto? Eu já estou morrendo de fome e não quero andar mais — Sarah disse se sentando ao lado de Am. 

— Eu topo, mas preciso de uma coisa bem doce depois.

— Jantar e sobremesas, por favor. 

E enquanto esperavam a comida Mia falava com o namorado, eles tinham se comunicado durante o passeio, assim que Marco chegou do treino. 

" Queria estar aí com você" — Escreveu ela. 

" Dios! Não sabe o quanto eu te queria aqui, pelo menos na Champions a gente se via." 

Mia suspirou, ela sabia que parte disso também era culpa dela, poderia ficar mais em Krasnodar com ele, como a maioria das esposas e namoradas, assim teriam tempo para se ver, mas ela tinha os jogos do Brasil, tinha as visitas programadas. Quer dizer, Marco não a cobrava, muito pelo contrário, mas ela sentia medo de ele precisar e ela não estar presente. 

" Será que eu posso te visitar? Eles permitiriam?" 

" Eu adoraria, mas eles querem descanso e foco total no próximo jogo, nem papai e Igor estou vendo. Aliás eles também foram turistar hoje. " 

A morena sorriu. 

" Ah amor, você precisava ver, é tudo tão lindo, eu estou apaixonada por essa cidade." 

" Eu imaginei que fosse gostar assim que chegamos, é sua cara. Quem sabe possamos voltar outra hora e você me mostra tudo o que conheceu?"

O sorriso dela aumentou. 

" Seria perfeito. Então, eles gostaram?" 

" Adoraram, mas papai como bom regionalista falou que não trocaria Mallorca por nada. Ele só se rendeu a Amsterdã por causa da mamãe." 

" Eu consigo ouvi-lo falar isso." 

Eles ficaram conversando, Marco falou que o clima de unidade melhorou, mas a pressão era grande agora que haviam empatado. Mia o falou sobre vários outros times grandes que estavam do mesmo modo, o Brasil por exemplo, e ambos comentaram como aquela copa estava diferente. Seleções de pouca tradição indo bem e algumas maiores começando aos tropeços, o papo foi até tarde. 

No dia seguinte elas acordaram cedo e foram para Nevsky Prospekt, a avenida mais importante de São Petersburgo, com prédios belíssimos, quarteirões enormes, ruas simétricas, fora todas as atrações gratuitas que la havia. Felizmente, estava mais quente, 16 graus, o que só as animou para andar pela enorme avenida e conhecer tudo. 

O primeiro ponto de parada foi a Catedral de Nossa Senhora de Kazan, que além de ser um emblema russo abriga o ícone mais venerado do território, a Nossa Senhora de Kazan. A catedral era um deleite arquitetônico, embora fora projetada em um estilo diferente do comum no país, e cultural. Preparadas com seus lenços as três cobriram os cabelos para adentrar como era tradição em templos ortodoxos. E no interior puderam apenas contemplar, já que fotos eram proibidas. As pinturas nas paredes, o luxo do teto abobadado, o altar, não haviam imagens, somente ícones bidimencionais dos santos como a religião ortodoxa mandava. 

Depois visitaram a Casa Singer, uma livraria e café originalmente construído pela empresa Singer ( sim, aqueles das máquinas de costura ), tinha seu exterior estilo Art Nouveau e uma pequena torre de vidro. A próxima parada foi a Basílica de Santa Catarina de Alexandria, a igreja católica mais antiga da Rússia que sofreu um incêndio e vários roupas no passar nos séculos só retornando a suas funções de templo na década de 90. Em seguida rumaram para Praça Ostrovskogo, o pequeno parque ficava no meio da Prospekt, ao redor dele haviam vários prédios importantes, a Biblioteca Nacional, Teatro Alexandrinsky e o Palácio Anichkov. Além de no centro da praça estar a famosa estátua de Catarina II. 

No dia seguinte já era o jogo, pela manhã as três ainda conseguiram visitar alguns lugares mais próximos, mas quiseram descascar um pouco mais pela manhã para estarem bem a noite. 

As oito da noite elas já estavam a caminho do estádio Krestovsky. O duelo seria entre Espanha e Irã, o segundo tendo vencido a partida contra o Marrocos e a Espanha com um empate nas costas. Os especialistas apostavam na campeã mundial, mas sabiam que o Irã iria armar uma guarda afim de pelo menos um empate para conseguir uma vaga para as oitavas. Se esperava um jogo suado naquela noite fria do dia 20. 

Assim que chegaram elas encontraram as famílias na ala destinada a eles, todos interagindo enquanto os preparativos eram feitos. As arquibancadas foram enchendo, iranianos eram memória perto dos rojos, mas marcavam fortemente sua presença. Veio aquecimento, Mia pode ver Marco fazer os exercícios padrão ministrado pelo preparador físico da seleção, ele usava o padrão de treino de inverno, mangas compridas e luvas, afinal fazia exatos 8 graus. Era interessante aquilo tudo, as outras esposas a viam com a camisa dele, a viam conversar com a família dele, mas não perguntavam nada, se desconfiavam ao menos eram discretas. Para todos os informes ela estava ali acompanhando Am e a camisa recebera de ultima hora. Por sorte Sarah tinha ido com a camisa de Nacho, o que deixava as coisas balanceadas. 

O narrador anunciou as seleções e ambas começaram a subir o túnel emergindo para o campo recebidos sobre urros de ovações e aplausos. Os hinos tocaram e depois toda os protocolos foram seguidos, cumprimentos, fotos, sorteio, mais fotos, titulares para o lado sorteado do campo. Dessa vez Marco começou no banco, embora tivesse ido bem no outro jogo, Hierro tinha opções e triangulações que achava serem mais eficazes contra o esquema 5-3-3 do Irã. 

O céu estava especialmente limpo e estrelado quando o árbitro apitou no início do primeiro tempo. E que primeiro tempo, o rojos dominaram a partida, criaram boas jogadas capazes de fazerem a torcida quase gritar gol, o Irã também tentou, e suas finalizações assustaram, mas o destaque da equipe ficou para o goleiro Beiranvand que parecia uma muralha e não deixava nada passar ( o que irritou muito os espanhóis ). Show de bom futebol espanhol, canetas, passes perfeitos, quase sem nenhum erro, o famoso tik-taka, posse de bola chegou aos 76%, Busquets em mais uma boa partida roubava todas as bolas e só parava na falta, Diego também tentava, mas parece que sua pontaria não estava tão boa quanto a do primeiro jogo. 

— Vamos Diego! — Mia pediu. 

Isco era outro que fazia uma boa partida, articulando com Ramos e David Silva, mas não saía. Defesa contra ataque, a torcida ia a loucura, cantavam, pediam, apoiavam, era de arrepiar quando os braços se seguem no ar juntos. Mas o Irã conseguiu o empate, pelo menos nesses 45 minutos.

— Uma hora eles vão cansar de tanto se defender — o pai de Marco falou. 

Mia sentia um constante frio na barriga naquela noite, achava que era ansiedade, talvez só passasse depois que o jogo acabasse. Ela achou que já estaria acostumada a essa altura do campeonato, mas parece que não. 

O segundo tempo começou com a mesma energia que o primeiro, os espanhóis atacando de todas as formas e lados, no melhor estilo da La Furia, mas os iranianos defendiam bem para o alívio de sua torcida. Se passaram dez minutos e nada, nenhum dos dois lados cansavam e o jogo ficava agonizante, nervoso. Era possível se ver torcedores rezando por um gol.

— Vamos lá! — Rosnou Sarah. 

— Ele vai entrar! — Igor falou e Mia ergueu a cabeça para a placa do árbitro subindo, Marco do lado aquecendo um pouco na beira do campo. Seu coração deu um pulo e ela sorriu.

Marco por Vazquez. Hierro fala próximo ao ouvido do camisa 20 enquanto ele espera Lucas.

— Sabe o que fazer, não sabe? — O técnico indaga e o meia apenas assente cumprimentando orejas e correndo para o campo. 

Marco se posiciona para o escanteio iraniano, a bola voa, mas desvia na cabeça de Sergio para longe da área. Asensio pega e avança pelo meio campo vazio chutando para Isco em uma tentativa de contra-ataque. A torcida se anima, expectativa. Isco mais adiantado recebe a bola e pela lateral vai ganhando espaço, mas dois marcadores chegam e o espremem fazendo a bola rolar para fora da linha. Os espanhóis xiam. 

Os minutos vão passando, há uma tentativa ofensiva do Irã, a bola vai para rede vai pelo lado de fora. Na ala familiar suspiros de alívio. 

— Eles não podem ganhar esse jogo não — Am rosna. 

— Bate na boca pelo amor de Deus! — Sarah repreende. 

— Tem que manter a pressão, uma hora sai — Gilberto falou após um longo suspiro.

De repente um levante da torcida, Iniesta se livra da marcação no meio de campo, driblando cada marcador com classe e chuta para Diego Costa, o atacante avança na área ajeita a bola e chuta, mas o goleiro defende. Só que ninguém esperava era pelo camisa 20 chegando na área naquele momento. Asensio veio como um jato e quando viu a bola desviar no goleiro...

" Ahh...que pena que você não agarrou essa." 

A bomba saiu dos seus pés, e a bola foi no ângulo perfeito bem no alto do gol, o goleiro se quer foi, chocado demais para isso. 

Torcida para cima, o banco para cima, os gritos irrompem, a arquibancada se move como um mar rojo. 

Marco corre na direção deles, ele aponta para o céu, seu primeiro gol em uma copa tinha que ser para ela. 

Gilberto e Igor pulam se abraçando, as meninas abraçam Mia. Era comemoração dupla. 

O time corre para o nome do gol, Diego é o primeiro que pula em cima dele, depois vem Piqué, Carvajal, Ramos...o time todo e comemoraram com vontade. 

Com lágrimas nos olhos o pai de Marco olha para Mia, ela estava no mesmo jeito. Ele não pensa duas vezes e a puxa para um abraço. Emocionados eles sorrirem com lágrimas deslizando pelas faces. Não precisavam palavras. 

Marco e o time voltam ao campo exultantes, o camisa 20 procura rapidamente a família na arquibancada enquanto isso, e quando os acha vê seu pai, Igor e Mia abraçados. 

" Eu achei que já tinha experimentado felicidade algumas vezes...mas nada se aproxima do que eu estou sentindo agora." — Pensou ele. 

O time espanhol a mando de Hierro não diminuiu o ritmo, continuou mantendo a pressão, o ataque. Marco fazendo boas triangulações com Iniesta e Diego, também com Isco. E embora o time iraniano estivesse abalado eles continuaram firmes, não recuaram mais do que o normal. Aos 18 minutos o VAR entra em ação para anula um possível gol do volante Ezatolahi. Mas a torcida espanhola não sobre muito logo em seguida é escanteio para La Roja e quase que Ramos faz o segundo gol em uma jogada ensaiada com Isco e David Silva. 

O Irã tenta se arriscar mais, acaba finalizando algumas vezes, mas a defesa espanhola está esperta. O avanço dos tricolores abre espaços para os rojos, eles aproveitam criando várias jogadas, mas o goleiro estava em uma boa noite. O jogo é pegado na metade do segundo tempo, substituições de ambos os lados, belas jogadas também. Nenhum dos dois estava entregando nada, os ibéricos queriam mais, os iranianos lutavam pelo empate. 

Mas aos 48 o árbitro apita o centro de campo e é vitória da Espanha. A torcida que já cantava nos últimos minutos agora vibra a 400º vitória espanhola, a primeira na copa do mundo de 2018 e os 22 jogos invictos. A maior série entre as seleções. Fora o fato de agora eles assumirem o primeiro lugar do grupo B.

 

Mia passou os braços ao redor da nuca no moreno que a tomou no colo e a beijou com urgência. Ele havia acabado de recebe o troféu da Budweiser de man of the match e este pendia da sua mão enquanto a outra mantinha o corpo da doutora contra o seu. Não havia ninguém do corretor, ela fez questão de esperar que o movimento diminuísse, que sua família falasse com ele para então o encontrar. Para fazer do jeito certo. 

O beijo era cheio de desejo, saudade, necessidade. As mãos apertavam um ao outro como se quisessem se fundir, se unir bem ali. Já haviam ficado mais tempo sem sexo, mas as condições eram diferentes. Eles estavam queimando ali e não se importavam com mais nada. 

Quando se separaram era porque o ar já faltava então com as testas juntas recuperaram o fôlego devagar até Mia falar: 

— Foi incrível, você foi incrível. 

Marco sorriu alisando a cintura dela, sentindo suas pernas ao redor dele. 

— Eu ainda não consigo acreditar, parece um sonho. 

— É real, Marco, você fez seu primeiro gol em um copa, você fez sua seleção subir para primeiro, você foi o homem da partida — ela sussurrou agora o olhando nos olhos, cheios de brilho. 

O jogador sorriu mais até ao ponto de rir. Ele estava tão feliz que podia gritar, mas apenas a puxou para si novamente. Os lábios ainda famintos, o desejo transbordava, era demais para conseguir se conter. Mãos pelos cabelos, mordidas no lábio inferior, gemidos baixos, o calor subia. 

— Vamos comemorar hoje amor — ele disse se afastando um pouco. 

Mia franziu o cenho. 

— Mas Marco e o seu voo? E as regras? 

— O voo só sai amanhã a noite e as regras...que se fodam todas, eu quero você hoje — a doutora sorriu sentindo tudo ao mesmo tempo, adrenalina, tesão e o mais belo sentimento por Marco. 

Então ela o beijou de novo. 

 

Mia vestia um vestido preto justo de mangas longas, que ia até depois dos joelhos com uma bela fenda lateral. Nos pés louboutins pretos, cabelos presos e batom vermelho. Clássica e chic. Por causa do frio passou um sobretudo caramelo sobre os ombros. 

Foi assim que ela desceu no uber diante do hotel, que por sinal era simplesmente como sonhara. O prédio de cinco andares estilo neo rococó era de esquina e ficava em no centro de São Petersburgo. Seu tom salmão, com a fachada hiper decorada com estatuas entre as colunatas, balaustres e centenas de janelas era de tirar o fôlego. 

— Bem-vinda ao Belmond senhora — o homem que abrira a porta do carro usando sobretudo e cap falou em um inglês de leve sotaque. 

Mia sorriu, agradeceu e esperou ele fechar a porta para seguir. Diante da entrada uma estrutura curva de ferro e vidro se estendia pela calçada na intenção de proteger os hóspedes de qualquer intempérie ao chegar. Ela rumou sob a estrutura e antes de dar o ultimo passo até as belas portas de madeira e video o homem a abriu para que ela passasse, mais uma vez recebendo um sorriso como agradecimento. 

O saguão era enorme, e a medida que caminhava descobriu que o meio do edifico era aberto, com janelas para o lado interno e um teto de vidro que deixava a luz da noite passar. Encantada ela notou a presença de Marco por ultimo. O jogador estava parado ao lado da recepção, vestia um belo smoking preto perfeitamente ajustado ao seu corpo, e sorriu ao encontrar de seus olhos. 

A morena sorriu também e caminhou em sua direção. 

— Você está deslumbrante — disse ao pegar a mão dela e levar aos lábios. 

De fato ele notou que ela estava linda, mas o decote quadrado também o chamada sua atenção. 

— E você está um charme — ela disse e ele sorriu se erguendo. 

O jogador a encaminhou até os elevadores, eles subiram até o ultimo andar e cortaram os corredores salmão. 

— Esse lugar é lindo — Mia comentava a medida que passavam pelos corredores.

— Espera só você ver o nosso quarto — desse com um sorriso malicioso, só aumentando a expectativa dela. 

E de fato Marco estava mais do certo, quando ele abriu a porta dupla e a deixou passar a doutora pode ver. Havia uma antessala, os móveis eram clássicos e requintados, sofás de veludo, poltronas de brocado, as paredes em painéis de madeira em tons neutros, sancas no teto de onde um lustre de cristal descia bem no meio do cômodo. Adiante duas portas emolduradas por pesadas cortinas, uma delas aberta fazendo os voal da cortina interna balançar com o vento, Mia conseguiu ter o rápido vislumbre de uma varanda, mas antes que pudesse ver mais o jogador a levou até o outro cômodo ao lado.

— Nosso quarto — ele sussurrou passando as mãos ao redor da cintura dela e despejando um beijo no seu pescoço, fazendo a doutora se arrepiar enquanto observava cada detalhe com os olhos brilhando. 

Era simplesmente perfeito. O quarto seguia o mesmo padrão de tons neutros e painéis da na parede, a televisão ficava sobre um raque de madeira escura e diante dela um sofá vinho e duas poltronas amarelo queimado. A cama estava do lado contrário, enorme com dossel azul de quatro hastes, muitos travesseiros fofos, lençóis lindos, ela parecia macia demais para ser real.

— Parece perfeito para o que estou planejando fazer — sussurrou Mia e o camisa 20 sorriu a selando. 

— Ah bella você não tem nem ideia do que eu tenho em mente — sussurrou de volta a selando novamente. 

— Sr e Sra.Asensio, está tudo pronto — a voz soou atrás deles. Ambos se viraram dando com o Concierge. Um homem alto, elegante, com bigode fino e pontudo. 

A médica virou para o namorado, cada vez mais surpresa. Ela nunca havia passado por isso antes, uma noite romântica de verdade com alguém, uma noite que alguém planejou para estar com ela. E também não deixou de perceber o "Sra. Asensio", no fundo tinha gostado, embora jamais tivesse imaginado.

Marco piscou para ela e se virou para o russo. 

— Obrigado Nikolai — falou em inglês. 

Eles seguiram juntos na direção da porta aberta, era uma bela varanda com onde uma mesa redonda coberta por uma toalha branca e a mais bela vista que nem nos sonhos a médica imaginara. De um lado a Catedral do Sangue Derramado com suas altas torres ponteadas por cúpulas coloridas ou de ouro do outro o Palácio Mikhailovsky.

Um sorriso enorme se instaurou no rosto de Mia, ela mal conseguia acreditar em tamanha perfeição. 

— Marco, isso tudo...é incrível, é perfeito — ela falou sem tirar os olhos da vista. 

O jogador se posicionou atrás da doutora e tirou seu sobretudo. 

— Você me disse que era seu desejo, eu adoro realizá-los — ele puxou a cadeira para que ela sentasse. — Milady? 

Ela sorriu boba e se sentou. 

— Você é inacreditável — Marco sorriu se sentando ao seu lado.

— Eu te amo, faria tudo por você — falou a olhando nos olhos. 

Em toda sua vida Mia sonhou em ter algo parecido com isso, um companheiro ao seu lado, que a apoiasse, a amasse, cuidasse dela, mas com o tempo e suas experiências...ela pensou que jamais passaria de um sonho. No entanto ele estava aqui, diante dos seus olhos. 

— Champanhe? — O garçom indagou e quando os dois aceitaram ele tirou a garrafa de Möet do suporte metálico cheio de gelo, o abriu e apoiando no braço serviu ambos. 

— A nós bella — Marco ergueu a taça fina. 

— A essa noite inesquecível — eles brindaram. 

Minutos mais tarde o jantar chegou, devidamente dividido em três porções básicas, as comidas preferidas dos dois. 

— Esse é....? 

— O vinho que tomamos na primeira vez que você foi lá em casa — completou o jogador, fazendo um sorriso malicioso curvar os lábios dela. 

Ela podia se lembrar perfeitamente daquela noite. 

— Admito que prefiro ele em você — sussurrou no ouvido dela e um calor subiu pelo corpo da morena. 

— Melhor guardarmos um pouco para mais tarde então — sorriu mais, uma das mãos deslizando pela coxa do camisa 20. 

O jantar foi ótimo, eles conversaram, se provocaram e óbvio, comeram muito bem sob o céu estrelado e com aquela vista maravilhosa. 

 

De costas para o quarto Mia olhava as luzes da cidade de uma das janelas. Marco se desfazia das abotoaduras para então tirar o smoking enquanto a observava. 

"Ela tão estava linda." 

O perfil iluminado pelas luzes amareladas que vinham da rua, alguns fios de cabelo soltos balançavam com a brisa, os lábios vermelhos, os olhos brilhavam como diamantes, o corpo escorado no parapeito e as curvas marcadas pelo vestido preto. 

Marco dobrou as margas e abriu os primeiro botões da camisa social então foi se aproximando, pensando em todas as formas que podia tirar aquela roupa, que podia tê-la aquela noite.   

Mia o sentiu atrás de si. O jogador deslizou uma das mãos pelas costas dela puxando o zíper do vestido para baixo, a viu se arrepiar, ouviu o suspiro que saiu pelos lábios rubros. 

O metal foi descendo, relevando a pele nua, a curva das costas. Então a boca do jogador a tocou, da nuca, passando pela linha da coluna até base. De olhos fechados ela sentia o corpo todo reagir a ele, um calor e frio na barriga ao mesmo tempo. 

A mão livre deslizou pela perna dela, subindo por dentro do vestido, pelas coxas, as pontas dos dedos despertando cada célula, alisando tão devagar, subindo tão devagar. 

Segurando na moldura da janela a médica pedia auto-controle, por mais que internamente estivesse urrando. 

Asensio foi subindo e subindo até que chegou a base de suas coxas, ele se demorou ali, o polegar traçando movimento circulares, sentindo o calor e a humidade da região aumentar a cada segundo. 

— Marco... — ela finalmente pediu o puxando pela nuca para mais perto, estava queimando, o corpo implorando. 

O espanhol sorriu contra sua nuca e ameaçou toca-la, Mia fechou os olhos esperando senti-lo, a expectativa a deixando mais excitada, mas ele parou:   

— Que tal um banho? 

Mia respirou fundo tentando se recuperar e então virou para ele. 

— Perfeito — então deixou que o vestido deslizasse pelo se corpo até o chão, ficando apenas de calcinhas, meias e salto. 

O camisa 20 piscou atônito, seus olhos cobrindo cada centímetro de pele exposta sem a mínima vergonha. 

A doutora riu e passou por ele seguindo até o banheiro da suite. 

— Você não vem? — Indagou o outro cômodo. 

Marco saiu do seu topar e não pensou suas vezes em segui-la.    

Naquele banheiro de mármore, lustres de cristal ela o esperava diante da bancada da pia, se olhando no grande espelho. Marco se aproximou fitando as coxas meio cobertas pelas meias pretas, a bunda empinada, a cintura, a nuca e então o reflexo, os olhos dela estavam nos dele também, ambos se olhando fixamente. 

Ao chegar na bancada o jogador despejou um beijo no pescoço da médica, mas ela se virou para ele que apenas a suspendeu e colocou em cima na bancada. Ali os dois se beijaram ardentemente, o desejo os dominava de uma forma voraz. Mia forçou os dedos entre os botões da camisa do espanhol a abrindo de uma vez, Marco tirou cada meia da doutora com a boca até o cinto chispou no chão.

Mia arqueou as costas apoiadas no espelho ao sentir a língua do moreno entre suas pernas, ela sentada na bancada e ele ajoelhado diante dela segurando suas coxas se deleitando com os gemidos, com o gosto do seu prazer que escorria. 

O suor pingava pelos seus seios, ela apoiava a perna em cima do mármore, a respiração alta, a visão turva, o corpo próximo ao limite, trêmulo. 

— Awn... — gemia com os dedos entrelaçados as mechas escuras dele e Marco ergueu os olhos para os dela. As bochechas coradas, os lábios entreabertos. — Amor... — ele podia sentir ela se contorcer prestes a derrama-se e por isso não parou. — Oh! — Apertou os olhos. — Eu v-vou...oh! Marco... — então o corpo relaxou em êxtase.  

Na banheira vitoriana no meio do cômodo, imersos em água morna e essência de lavanda os dois fizeram amor lentamente. Os corpos roçando um no outro, os gemidos ecoando pelas paredes, ambos ébrios de prazer, mãos pelos cabelos, os olhos de Mia reviravam quando ela tombava a cabeça, Marco apertando sua cintura a fitava ela cavalgar no pau dele como se nada mais importasse. Eles chegaram ao ápice juntos para depois ficarem conversando enquanto a médica fazia massagem nas costas do namorado e ele brincava com os pés dela. 

— Marco, ta fazendo cócegas! — Ela avisou, mas ele continuou. — Para! Marco! — Pediu tentando puxar o pé enquanto o moreno ria. Água esborrava para o chão, risadas nos pés preenchiam o cômodo. — Dios! P-por favor... — implorou entre gargalhadas incontrolaveis. — Eu não faço mais massagem — ameaçou e o jogador parou imediatamente. 

— Parei! Parei! — ergueu as mãos. 

— Hum! — Ela fungou. 

Minutos depois aproveitaram aquela bela cama king size, e foi durante a noite toda, de várias formas diferentes, mãos unidas no alto da cabeça, suspiros, beijos estalados por todo corpo, risadas, declarações no pé do ouvido, unhas arranhando a carne, tapas capazes de deixar marcas, puxões de cabelo, grunhidos, mordida dos lábios, gemidos contra a boca um do outro, o suor deslizando pelos corpos, beijos lentos e intenso frenesi. Eles estavam incansáveis e insaciáveis, ambos não sabiam o quanto precisavam um do outro até estarem ali. 

— Eu não sei como consegui ficar mais de uma semana sem isso — confessou Mia ao deitada no abdômen do jogador e ele sorriu malicioso alisando o rosto dela. 

— Nem me fale, é uma tortura. A gente é bom demais nisso pra ficar sem fazer — a doutora riu. 

— Somos mesmo — ela deslizou os dedos pela gomos morenos. 

— Nunca pensei que fosse conseguir ter vontade de fazer amor e foder uma mesma pessoa — o sorriso dela aumentou e em seguida ela beijou no abdômen dele. Marco mordeu o lábio deslizando a mão das costas pela para sua bunda enquanto a fitava fazer uma trilha de beijos bem provocantes indo cada vez mais a abaixo. — Ah! Você quer de novo bella? — Sussurrou rouco. 

— Eu quero, mas primeiro... — deslizou as mãos pelas coxas do jogador. — Eu vou te chupar amor — faíscas saíram daqueles olhos castanhos, intensos demais. 

A espanhol a fitou descer, o seu pau já estava rijo como granito. 

— Ele é todo seu minha bella. 

Mia sorriu. 

 

 

Em Kazan James fitou o teto do quarto após o treino, Daniela e Salo tinham saído para passear com o resto da família. E por mais terrível que pareça ele não achou tão ruim assim,  precisava de um momento para si, para ficar consigo mesmo, mas todos o estavam cercando, achando justamente o contrário. Ele entendia que era por amor, zelo, e por isso jamais reclamaria. Agora deitado naquela cama, com o teto diante de si, ele inspirou fundo ouvindo o silêncio. Em 2014 ele daria tudo para ter a família perto, porque não consegue aproveitar tanto isso agora?

A memória da outra copa vieram a sua mente, ele tentou pensar em como foi ruim se sentir sozinho, deu certo nos primeiros minutos, mas depois que começou a lembrar dos dias com Mia...não havia solidão, não havia tristeza. James quis lutar novamente contra essas memórias que vinham, mas elas traziam sensações tão boas que de repente já estava perdido nelas. 

O dia que se conheceram, a festa estava um saco antes dela, os caras queriam curtir, beber, pegar mulher e James não estava nessa vibe. Ele a viu o banheiro, a achou linda, mas tudo bem, havia várias mulheres lindas naquele lugar. Foi no bar que ela o enfeitiçou, ela parecia tão segura e mulher no início, mas depois revelou uma menina sensível e naquele momento James quis protege-la, cuidar dela. 

" Dios Mia! Porque fez isso comigo?" 

Ela era completamente diferente de Daniela, enquanto sua esposa era mais seria, certinha, responsável, madura, aquela mulher que qualquer sogra quer para o filho, Mia era leve, naturalmente sedutora, com aquela irresponsabilidade jovem na alma, não que ela não fosse responsável, apenas não carregava aquilo como um fardo. E ela o ofereceu tudo o que sua mulher não oferecia e despertou sentimentos que não fazia ideia que sentia falta. 

James lembra de quando dançaram juntos, de como ele tentou se segurar, mas já estava encantado pela jovem desde aquela conversa no bar. Entre eles havia uma química, uma atração que jamais havia sentido antes e quando se beijaram...parecia que o corpo havia entrado em estado de êxtase. 

" Como ela me fazia esquecer de tudo? Como ela conseguia me deixar tão bem?" — Se indagou. 

Ele ainda tentou escapar, tentou com todas suas forças esquecer aquele maldito beijo e aquela maldita festa. Falar com sua família por FaceTime o fez sentir tão culpado. Ele achou que nunca mais a veria de novo, havia acabado de ganhar um jogo, e ela estava lá pedindo desculpas pelo ex ter dado um soco na sua cara. James sabia que ela era problema, que ela era perigo, a droga de problema mais lindo que ele já teve. E quando ela ameaçou ir embora para sempre, ele se surpreendeu por todo seu corpo responder negativamente, por mais que sua cabeça dissesse não. O jogador se viu em um impasse, entre seu maior desejo e sua consciência.

Foda-se, foi o que ele pensou antes de puxa-la para si. 

Naquele instante ele traçava o final daquela história. Mas não podia deixar de viver aquilo, não podia deixar escapar a pessoa que o despertava os sentimentos mais loucos que já experimentou. Seria um como um de verão. 

A morena o fez viver aquela copa com intensidade, mas ao mesmo tempo tornou tudo tão leve, tão mais fácil. Tê-la na arquibancada, vê-la antes do jogo, o fazia sentir seguro, senti-la depois da partida, beijar seu corpo todo, era o melhor prêmio que podia receber por cada gol e o quanto eles se divertiam juntos...

James se sentou frustrado na cama. Não queria pensar naquilo. 

Mas é que agora parecia estar faltando algo, algo que fizesse seu coração acelerar, que fizesse a adrenalina correr pelo seu corpo, que o fizesse se sentir vivo. 

Ele tinha a família ali, aquela copa ia ser melhor. Tinha que ser.

Talvez ficar sozinho não tenha sido tão bom assim. 

 

 

Mia sentia o peso aconchegante do braço de Marco em sua cintura e sua respiração branda contra seu ombro. Ela acordou devagar querendo degustar aquilo, porque sabia que ficaria um tempo sem. Se aninhando mais aproveitando o calor que ele oferecia e inspirou saboreando seu cheiro. Com os olhos finalmente abertos ela pode visualizar o quarto majestoso ao seu redor, era com certeza uma boa forma de despertar.

Atrás dela Marco gemeu baixinho e a puxou mais para si. A médica sorriu sentindo o rosto dele afundar na curva do seu pescoço. 

— Bom dia — falou. 

— Bom dia — Marco respondeu contra sua pele, fazendo ela rir. 

— Marco... — reclamou e o jogador ergueu um pouco o rosto despejando um beijo na bochecha dela. 

— Ok, senhora odeio cócegas. 

— Se você tivesse ia saber como é horrível.  

— E você ia me atazanar como vingança — ela riu virando o rosto para ele. 

— Eu ia mesmo — confessou subindo os dedos na nuca pelo cabelos dele, e depois descendo. — Seria justo, não acha?

— Você é tão má doutora — Mia mordeu o lábio. 

— E você adora — sussurrou fazendo Marco sorrir. 

— Droga! Eu adoro mesmo — ela sorriu também. 

Eles se demoraram um pouco na cama até que Asensio sugeriu: 

— Tava pensando em a gente tomar café e sair, da tempo de visitar algumas coisas antes de pegar o voo. 

A médica sorriu e se sentou animada. 

— Perfeito! Foi tomar banho então.

Ela se levantou na cama e andou sobre a mesma pulando para disparar para o banheiro enrolada nos lençóis. Marco sorriu meneando a cabeça. 

Enquanto a doutora se banhava ele decidiu pedir o café logo. 

— Amor! Você vai querer o que? — Perguntou do quarto colocando a mão sobre o microfone do telefone.  

— Pede aquelas panquecas com chocolate chips que eu gosto, quero bacon também e as frutas que eles tiverem — ela podia sentir o gosto de cada um, o estômago roncava pedindo aquilo. Uma orgia alimentar matinal. 

Marco pediu tudo e em seguida rumou ao banheiro para tomar banho também. Os dois se divertiram tomando banho juntos, nada de sexo, apenas uns beijos esporádicos e risadas. Limpos e cheirosos vestiram roupões, a doutora aproveitou o tempo para se maquiar e Asensio foi resolver umas coisas pelo celular com Horácio, seu agente. Fotos para mídia, declarações sobre o jogo na noite passada, avisar que ia sair hoje para ele bloquear se qualquer foto saísse. 

Minutos mais tarde o café chegou, o garçom com o carrinho arrumou tudo na mesa da varanda como Marco pedira, ele sabia que Mia adorar comer com aquela vista novamente. 

Gorjeta dada o jogador foi avisar a namorada que o café estava na mesa. 

— To terminando já — ela piscou para ele. 

Passou o liptint nos lábios e nas bochechas para dar aquela cara de saúde e terminou com a mascara nos cílios. 

Pronta a fisioterapeuta seguiu para varanda, pés descalços, o dia estava ensolarado e agradavelmente quente. Ela sorriu ao ver a mesa cheia daquelas maravilhosas delícias com aquela bela vista e se sentou. 

— Tava sonhando com isso — suspirou pegando o garfo e a faça para partir a panqueca.

— E eu achando que você sonha comigo, tenho que me acostumar a ser trocado por comida — Mia riu levando a panqueca a boca. 

— Eu troco qualquer um por comida, amor.

O jogador meneou a cabeça rindo. 

— Olha o que o hotelzinho mandou? — Marco virou a tela do celular, nela uma imagem de Rome brincando com outros cães. Eles haviam deixado o cachorro em um hotelzinho para animais durante esse períodos de copa. 

— Oh meu Deus! Meu bebê — Mia pegou o celular arrastando para ver todas as fotos. O coração chega aquecia. — Já estou com saudade. 

— Eu também.

Eles comeram com a fome de mil leões, também depois da noite que tiveram era perfeitamente compreensível. 

Então de repente depois de mastigar o bacon Mia sentiu o estômago embrulhar, ela parou. 

— O que foi? —  O espanhol indagou. 

Mas a boca dela encheu de água, a doutora apenas levou a mão para frente evitando que o pior acontecesse. Ela não pensou duas vezes e correu para o banheiro.

Mia se ajoelhou diante do vaso e colocou tudo o que tinha digerido para fora, o corpo contraída, o estômago chegava a doer de tanto que ela forçava ao vomitar, lágrimas enchiam seus olhos. De repente uma mão deslizou pela testa dela puxando seus cabelos para trás e quanto outra passava pela suas costas. 

Ela não queria que Marco a visse naquele estado, mas doía demais para para que conseguisse falar. 

O camisa 20 podia a sentir contorcer, estava preocupado e se perguntava o que teria a feito tão mal. Esfregando suas costas ele esperou pacientemente até que ela acabasse e quando o fez Mia se sentou no chão ofegante enquanto Asensio foi pegar uma toalha para ela se limpar.

— Não queria me visse assim — ela escondeu o rosto e ele revirou os olhos se ajoelhando a sua frente.

 — Você já fez isso por mim lembra? — Ofereceu a toalha. 

Mia fez careta se limpando. 

— Está se sentindo melhor? 

"Ele era tão fofo todo preocupado." — Pensou a morena ao fita-lo. 

— Sim, acho que saiu tudo — suspirou e o jogador sorriu de canto. 

— Acha que foi o que? Será que foi a comida? 

— Eu não sei, pode ter sido — Mia deu de ombros.  

— Talvez seja melhor ficarmos aqui no hotel então — mas a doutora negou. 

— Mas nem pensar! Eu já to bem, e por mais que esse quarto seja maravilhoso e eu queira morar aqui, eu quero mais aproveitar essa cidade com você — Marco fungou. 

— E se passar mal de novo? 

— Eu já disse que to ótima Marco — garantiu firme e o espanhol suspirou. 

— Você é muito teimosa, hein? — A morena fez fico. — Tudo bem, mas que tal beber uma aguinha, comer uma maçã? Minha mãe sempre me fazia comer maçã quando vomitava, não me pergunte porque — ela sorriu. 

— Vou tentar, quero ficar bem longe de comida por enquanto — Marco se levantou e a ajudou a fazer o mesmo. 

— Jamais imaginei ouvir isso sair da sua boca — Mia riu. — Fica aí e eu trago tudo — pediu a deixando sentadinha na cama. 

Asensio a fez tomar pelo menos 500ml de água para repor o que ela perdera, quanto a maçã ela conseguiu comer pelo mais da metade o que era bom. Tudo certo ambos foram se arrumar. 

Eles foram visitar os pontos turísticos mais próximos ao hotel, a Catedral do Sangue Derramado e o Museu Russo. A Catedral que era o maior símbolo da cidade, por isso estava cheia de turistas, fora construída exatamente no lugar onde o czar Alexandre segundo sofreu um atentado que o levou a morte. Ela era belíssima no seu estilo russo-bizantino, internamente os mosaicos iam do chão ao teto, dessa vez eram permitidas as fotos, já que está nunca foi usada como tempo, sendo apenas um museu. Outro motivo pela a enorme quantidade de turistas era o FIFA Fan Fest estava no pátio onde a catedral ficava e logo o jogo começaria. 

Marco estava devidamente disfarçado com boné e óculos escuros por precaução, mas foi bom para os dois andarem no meio de toda aquela multidão juntos, sem serem reconhecidos. Eles aproveitaram aquele talvez fosse o único dia naquela viagem que poderiam ficar assim. 

Mia não passou mais mal, mas o jogador também garantiu seu bem estar, não parou de fazer a namorada tomar água durante o passeio, ele inclusive compara uma garrafa de um litro perto do hotel para levar consigo. E eles se divertiram muito até Marco ter que voltar para o hotel e seguir com a seleção de volta para Krasnodar.

 

… 

 

No Estádio de São Petersburgo os 64 mil lugares estavam cheios e a maioria da torcida era de verde e amarela, tudo tremeu quando a bola de Neymar entrou.

— GOOOOOOOOL — berrou a torcida no segundo gol da seleção brasileira sobre a Costa Rica. Depois de um primeiro jogo difícil em que o Brasil pressionou mas não saiu do empate e de um primeiro tempo até com pênalti anulado tudo o que precisavam essa isso. 

Mia e as meninas pularam de alegria ao lado de vários estranhos que naquele momento se tornaram amigos de jogo. Era um clima bem diferente agora, até o primeiro gol tudo estava tão tenso, parecia que o resultado ia se repetir até Coutinho salvar o dia. Agora só felicidade.

No campo Ney abraça Case e Coutinho, depois a galera vai para cima nos pés da arquibancada. 

— Oh meu Deus, obrigada senhor! — Am berra. 

— Navas mandou bem demais hoje — Sarah comenta. 

— Eu quero matá-lo e parabeniza-lo — Mia diz com a mão no peito, o coração ainda acelerado demais.

A vitória de dois a zero estavam sendo alívio não só para a torcida, mas para os jogadores e Tite, todos estavam sofrendo muita pressão depois de um começo decepcionante. Tanto que assim que o árbitro apontou centro o camisa dez caiu de joelhos no campo chorando. O atacaram muito durante essa semana, era quase cruel a forma que exigiam dele. 

Brasil 2, Costa Rica 0 e esse resultado eliminava a seleção costarriquenha da copa da Rússia.  

— Todos os gols nos acréscimos, porque brasileiro ama deixar tudo para o final — a doutora brinca enquanto elas subiam a arquibancadas. 

— É mais emocionante — Am diz com um sorriso malicioso.

— Emocionante o caralho, eu quase enfartei — ginger estala a língua e as três riem. 

— Clarice pediu para encontrarmos ela no portão C — Mia avisa após ler a mensagem da esposa de Marcelo. 

Elas iriam juntas para o vestiário encontrar os meninos e Clarice estava com suas credenciais. Depois de enfrentar uma multidão para chegar até ela, Anne e os meninos, o grupo rumou até os túneis. 

A festa estava tão grande na entrada do vestiário quanto a minutos atrás estava na arquibancada, Coutinho havia acabado de receber o Man of the Match, o segundo da copa e quando algumas esposas chegaram que só ficou maior. As meninas parabenizaram todos, inclusive Phillipe pelo prêmio. 

— O menino couto ta demais! — a doutora falou moreno que riu piscando de volta.

E também conheceram os outros jogadores, os meninos fizeram questão de apresentá-las a todos. 

— Assinamos sua camisa, eu lembro — Thiago falou.

— Eu sou uma grande fã, sério — Mia declarou e de fato era, ela o considerava um dos melhores zagueiros que a seleção já teve. 

— Quem não é, não é? — Jesus disse com braço ao redor dos ombros da doutora. O capitão riu negando.

— Obrigado Mia. 

Em um momento Ney puxou a doutora e ela sorriu para ele, não tinham se falado até agora porque o jogador estava com Bruna e ela não queria atrapalhar.

— Awn! Parabéns pelo gol — ela disse o abraçando. O camisa 10 sorriu. 

— Parece que um peso saiu das minhas costas — falou e eles se afastaram.

— Eu sei, o primeiro jogo foi...eu odiei os suíços com todas minhas forças — ele riu. — E o árbitro também, claro. 

— Pois somos dois. Mas vem! Vou te apresentar a Bruna — ele falou animado.

Neymar a guiou entre os demais jogadores até a morena alta e bronzeada vestindo calça jeans folgada e a camisa do Brasil conversando com  Rafa e Daniel Alves. 

— Bru, essa é a Mia, aquela amiga que eu te falei — o jogador falou e a atriz sorriu. 

— Sim' É um prazer te conhecer Mia — disse dando um beijinho de cada lado da bochecha. 

— O prazer é todo meu — a doutora foi simpática. 

— Ah! Dani pra você que não sabe, foi a Mia que meio que juntou esses dois novamente — Rafa contou ao lateral. 

— Conselhos de uma bêbada a beira mar, as vezes dá certo — deu de ombros e todos riram. 

— Ai como é bom te ver garota! — A irmã de Neymar falou puxando a médica pra si. 

— Também, a gente precisa sair de novo juntas por favor — Rafa riu.

— Nunca vou esquecer do ano novo, ou daquele pós no iate — Mia riu também, parecia uma vida atras. 

— Nós vamos sair hoje a noite, quer ir com a gente? — Bruna sugeriu apoiada ao ombro do namorado. 

— Que inveja — Dani comentou e Neymar concordou. 

— A gente faz um samba lá em Sochi — eles riram.

— Eu adoraria, mas meu voo sai hoje as nove. — Bruna e Rafa sorriram fraco. De fato era uma pena. 

— Agora só você indo para Paris, ou para o Brasil.  

— Ou você indo para Madrid, sua louca. 

 

 

 

— Eu estou tão aliviado — Case confessou a elas em um momento que estavam com Marcelo, Anne e Clarice. 

— Eu imagino, a pressão que a mídia fez...eu ficava agoniada só de ver — Am falou. 

— E o jogo contra Suíça, sai do estádio me sentindo injustiçada, aquilo não foi gol — Mia disse e todos concordaram. 

— Vocês não tem ideia de como ficou o clima no vestiário, todo mundo puto — Marcelo contou. — Eu até tentei mediar a situação com Thiago, mas foi foda. 

— Sinceramente a arbitragem esse ano ta de brincadeira, gol que era para ser anulado e não foi, hoje um pênalti anulado também — Sarah exprimiu indignada. 

— É o peso de ser Brasil — Clarice suspirou.

— Sempre pesam a mão com a gente — Anne fala com pesar. 

— Parece que vão recorrer, mas ainda sim precisamos fazer o nosso — Case disse alisando o ombro da esposa. 

— Justiça demora — Am sorriu fraco. — Mas vamos animar né galera?! Vencemos agora somos a ponta do grupo. 

— Isso mesmo! E no próximo jogo vamos cravar essa vaga — Mia acrescentou, sorrisos começaram a aparecer, o clima melhorou e o assunto mudou para os bastidores e momentos engraçados na viagem. 

 

— Vocês invadiram mesmo, não foi? — Tite diz ao chegar no corredor com Sylvinho, seu assistente, ao lado. Todos riram enquanto o técnico atravessava a pequena multidão para adentrar o vestiário soltando algumas piadas para alguns. — Espero que tenham aproveitado, vou precisar que os rapazes entrem agora — anunciou simpático e um gemido ecoou de alguns, gerando risadas em geral. 

Despedidas feitas as meninas seguiram no uber para o hotel ao som da versão especial para a copa de ritmo mexicano. 

 

 

 

Dessa vez elas chegaram no aeroporto com uma hora de antecedência, o voo direto para Krasnodar, onde descansariam por três dias para então segui com a seleção espanhola para o terceiro jogo e ultima jogo da primeira fase. 

— O voo atrasou — Am veio do guichê da companhia aérea para se sentar ao lado das amigas, uma fila se formava diante do balcão  para reclamação de vários passageiros. 

— Puta que pariu, quando não é a gente, é o voo — Sarah bufa. 

— Sabe quanto tempo? — A morena indaga.

— Uma hora, talvez menos — as três suspiraram.

— Só espero não passar a noite aqui — a ruiva cruzou os braços deitando a cabeça em um daqueles travesseiros que encaixam no pescoço. 

— Eu também — Am murmurou. 

E lá se foi o tempo passando, elas monitoravam no quadro de voos, mas nada. Quando iam no balcão a atendente dizia que o avião já estava em curso, e nisso o sono, a impaciência começavam a vir.

— Amiga, ta tudo bem? Você ta pálida — Sarah indagou a médica e estendeu a mão para pegar na dela. Estava fria. 

— Eu to um pouco enjoada, já já passa — tentou minimizar rapidamente, sentia alguns espasmos pelo corpo, as procurava parar de pensar nisso, senão poderia ser pior. 

— Tem certeza? Você ta fria — insistiu. — A gente pode comprar um remédio na farmácia. 

— Não precisa, vai passar — foi firme. Ginger suspirou, mas insistiu, mas também ficou de olho. 

Mia achou realmente que não era nada demais, mas depois de alguns minutos o enjoou foi aumentando, de espasmos se tornou constante e um arrepio vinha pela espinha.

— Gente eu to me sentindo mal — Mia avisou baixinho quase não aguentava faltar e se 

levantou rumando para o banheiro que graças ao bom Deus era próximo.

Am e Sarah olharam para ela, já estavam quase dormindo nas cadeiras. 

— Merda! Fica aí e eu vou atrás dela — a ruiva falou ao se levantar num pulo. Alguém precisava ficar para vigiar o painel e as malas. 

A morena empurrou a porta de uma das cabines e ao ver o vaso o corpo que já não aguentava mais se segurar curvou-se imediatamente, ela só teve tempo de afastar os cabelos da forma que conseguia. 

Sarah adentrou o banheiro e foi fácil achar Mia já que este estava vazio, ela viu a amiga prostrada na privada fazendo de tudo para manter a cabeça o mais longe possível da abertura. Ginger passou a mão pelos cabelos dela os segurando e com a outra deslizava sobre as costas na intensamente de dar algum tipo de conforto, mas sentindo a médica de contorcer de dor. 

— Eu falei pra você sua vadia teimosa! — Rosnou a espanhola assim que a morena conseguiu parar de vomitar. — Ta sentindo melhor? Que merda você comeu? 

— Eu não sei, acho que to comendo muita besteira que meu corpo não ta acostumado — disse um pouco zonza. 

— É né! Desde que começou a viagem você não para a boca, achei que era besteira de Am, mas agora com você assim... — suspirou. — Melhor se cuidar gatita, você não quer ficar doente quer? — Recebeu uma resposta negativa. — Agora deixa de ser teimosa, vamos falar esse rosto e comprar uma garrafa de água pra ressuscitar. 

Mia riu. 

 

 

O flash estourou diante do rosto do camisa dez, o prêmio de homem do jogo estava em suas mãos e um enorme sorriso no rosto. Ele tinha feito uma grande partida no 3x0 sobre a Polônia. Embora não tenha feito gols deu os passes para te eles acontecessem, atuou como mestre no meio de campo, distribuiu dribles e também algumas chutes a gol que animaram a torcida. James se sentiu recuperado, parecia que tinha voltado ao seu bom futebol finalmente, ainda mais quando a torcida gritava "olé" cada vez que ele driblava um polonês. Ospina, Mina, Falcao e Cuadrado também fizeram um jogo ótimo, o time estava impecável e fechou toda a seleção polonesa.

E diferente do primeiro jogo no vestiário foi uma festa, todos aliviados e felizes com a performance em campo. Música alta, eles dançavam pelo cômodo, comemoravam até Pekerman entrou na onda. Na zona mista James ficou encarregado de responder as diversas perguntas, o camisa 10 deu entrevistas para os principais canais de mídia esportiva do mundo e do seu país e em um momento Mina passou por trás dele bagunçando seu cabelo, o que fez Rodríguez rir. 

— O clima está melhor no vestiário não é James? — A repórter perguntou em português.

— Sim, estamos felizes que conseguimos fazer dar certo, encaixar as jogadas e acertar o gol — respondeu na mesma língua.

— Mas você não conseguiu deixar o seu. 

— Pois é, estou feliz pelas assistências, vencemos. Mas quem sabe no próximo.  

No ônibus para o hotel, a festa continuou, por mais que cansados a felicidade anuviava tudo, eles só sentiram quando parassem. James estava especialmente animado para encontrar a família, seria bom vê-las, comemorar com elas esse momento. Era louco como você ia do fundo do poço ao alto ao topo de uma partida para outra, isso era Copa do Mundo. 

— Papá! — Salo gritou correndo para seus braços. Rodríguez a abraçou forte, abraçar a filha era com certeza a melhor coisa do mundo. — Você jogou muito bem, mas não fez meu gol — ela fez bico e o jogador sorriu alisando sua bochecha. 

— No próximo princesa, no próximo eu faço — prometeu.

— Filho! — Dona Pilar veio depois dando um beijo no alto da cabeça do homem. 

— Deu tudo certo dessa vez mãe — a mulher sorriu. 

— Você merece isso e muito mais.

Elas viram o quanto ele se esforçou, viram o quanto ele treinou. Juana o abraçou e depois Daniela veio. James colocou Salo no chão e abraçou sua esposa. 

— Eu disse que conseguiria — ela falou e ele sorriu. 

Com a liberação de Pékerman, o camisa 10 e o goleiro da Colômbia se juntaram em um jantar para comemorar tudo em família. Todos estavam tão felizes, animados com a possibilidade da classificação, ainda mais quando o Japão tinha empatado com o Senegal. Olhando de fora tudo parecia perfeito, o momento perfeito, família, vitória, prêmio...mas enquanto jantavam James não parava de se lembrar da sua primeira copa, mais especificamente dos momentos com Mia. Ele lutava contra aquilo, realmente lutava, mas as memórias vinham de forma que não conseguia controlar. 

Depois da vitória contra o Japão quando se encontraram no hotel, ele a encontrou apenas com sua camisa e deixou todo o desejo que sentira sair como uma avalanche. As cenas se passavam em sua mente, tudo vinha, o cheiro do seu perfume, o som do gemidos, o gosto do champanhe em sua língua quando se beijavam, vê-la ter seu primeiro orgasmo. Eles foram só um naquela noite, foi voraz e intenso como se não fossem um do outro naquele instante explodiriam. Mas não foram só as lembranças do sexo que voltaram, era diferente agora, ele lembrava mais das conversas, dos olhares, de quando se divertiam juntos. Na praia, correndo pela areia, abraçados dentro do mar, em um restaurante quando se ter podiam se tocar, quando os olhares falavam mais que tudo, por celular, eram horas conversando, no sofá da casa dela, assistindo filme enquanto as mãos da então estudante deslizavam entre suas mechas, ou na cozinha dançando cumbia. Parecia outra vida, um mundo paralelo, um outro James, porque aquela mulher o fazia esquecer de tudo, o fazia relaxar de uma forma quase perigosa. 

" Nós girávamos pela cozinha, no início era uma cumbia, mas depois virou uma confusão. Eu não ligava e ela tão pouco, estávamos sendo livres, vivendo, aproveitando. O cheiro da massa e do molho do ar, a música alta, risadas enquanto fazíamos passos engraçados e exagerados. Mia girava sorrindo, eu ajoelhado apenas a admirava. Ela era tão linda, tão pura, tão doce e única. Naquele momento eu senti medo, medo por estar me envolvendo demais, medo porque agora a ideia de perdê-la passava a ser um queimor no meu peito. Ela parou sentando na minha coxa, envolvendo minha nuca com os braços e com aquele enorme sorriso capaz de iluminar o mundo. Alisei seu rosto tirando uma mecha de cabelo para trás da orelha. 

— Eu amo te ver dançar — confessei e ela acabou com o espaço entra nossas bocas."

Todos gargalharam na mesa, Daniela apertou seu braço e fez James saiu do seu estupor. Ele olhou para sua esposa, ela estava tão encantadora e radiante, eles estavam tão bem, estava tudo tão bem. 

"Porque essas memórias ficavam voltando? Eu não a vejo a tanto tempo, porque não paro de pensar nela? Eu achei que as coisas iam melhorar depois dessa vitória, achei que estava lembrando de tudo para me consolar, porque aquela copa foi um grande momento para mim. Mas agora que eu já tenho tudo, que estou vivendo o momento que desejei por anos, porque não consigo aproveitar? Porque ele não parece tão incrível quanto imaginei?" 

— Ta tudo bem, amor? — Ela perguntou e eu sorri alisando sua mão. 

— Ta sim. 

" Droga! O que está acontecendo comigo?"

 

… 

 

Em Krasnodar Hierro liberou que os jogadores encontrassem suas famílias após o treino de manhã. Marco passou a tarde com a família no CT e a noite como planejado foi visitar Mia no hotel dela, já que ela não poderia ir ao centro de treinamento. Eles mataram a saudade dos dias longe e embora não pudessem sair do quarto aproveitaram ali mesmo. 

— A gente pode assistir uns filmes — ela sugere enquanto Marco estalava seus dedos nos pés. 

— É uma boa, preciso descansar — ele revirou os olhos e a médica jogou um travesseiro acertando sua face, o fazendo rir.

— O que você quer ver? Ação, comédia, drama... — Mia pegou o controle passando as opções. 

— Um de policial seria legal — eles se olharam.

— Com muita investigação e perseguição — disseram juntos. 

Era exatamente o tipo de filme que assistiam na maioria das vezes que estavam juntos, pelo menos havia um consenso nesse caso. Eles escolheram o filme, e embora ficassem falando o tempo todo, as vezes passando alguns minutos olhando o celular, conseguiram acompanhar a narrativa. Aquele filme seguiu de outro, na realidade a sequência, mas nesse os dois estavam sonolentos demais para chegar ao final, acabaram dormindo na metade no filme. 

Três da manhã foi a hora que Marco viu no despertador portátil ao lado na cama quando se levantou para ver o que estava acontecendo. A luz do banheiro estava acesa e sons de regurgitação soam porta a fora. Preocupado o jogador levantou em dois segundo e seguiu para o outro cômodo. Mia acabava de se sentar no chão, os cabelos bagunçados, a camisola azul amassada, o rosto virado para o chão. 

— Amor... — Marco a chamou e ela ergueu os olhos marejados. — O que está acontecendo? — Perguntou suavemente se aproximando devagar. 

Mia limpou as lágrimas.

— Eu acho que estou com infecção alimentar, mas pode ser crise de gastrite também — disse e os ombros do camisa 20 caíram. Ela se levantou. 

— Mia você....

— Eu falei com as meninas sobre isso, quer dizer, eu melhorei minha alimentação esses dias. Talvez meu estômago esteja frágil demais — ela falava rápido andando até a pia para lavar o rosto, escovar os dentes. — Amanhã eu vou passar na farmácia e comprar um magnésio para diminuir a acidez, eu só espero que por Deus eles entendam o que eu falar — Marco a ouvia calado, Mia parecia tão certa do que estava falando. 

— E se você for ao hospital, só para ter certeza. Já foram duas vezes Mia — ela ergueu o rosto e o olhou pelo espelho. 

— Nada de hospital — se virou para ele. — Eu sei o que to fazendo. Sou médica esqueceu? — Marco suspirou.

— Eu to preocupado com você. 

" Se soubesse que foram três vezes ia ficar mais..." — Pensou ela. 

A doutora sorriu de canto e o abraçou. 

— Não precisa, eu vou ficar bem. Só preciso que fique deitadinho comigo o resto da noite? — O olhava nos olhos com aquele olhar que o espanhol não conseguia dizer não. 

Então ele apenas anuiu e beijou o alto da testa dela.  

 

No dia seguinte eles se despediram cedo e o jogador foi direto para o treino. Seria força máxima contra o Marrocos, todos juntos nesse propósito e por isso o treino foi longo e puxado. Nada de mídia hoje, foi tático demais para isso, Hierro preparou jogadas, formou dois possíveis times titulares, triangulações treinadas, cobradas de falta e escanteio, tudo tinha que estar afinado. 

— Ta tudo bem pisha? — Isco indagou ao amigo quando eles se sentavam no banco após o fim do treino.  

— Ta, porque? 

— Sei lá, te achei estranho no treino, como se alguma coisa tivesse incomodando — Marco suspirou olhando para o campo verde, os ajudantes recolhendo os instrumentos de treino, os jardins a diante. Isco o fitou esperando uma resposta. 

— Eu to preocupado com a Mia — decidiu falar. 

— Como assim? Porque? — O camisa 22 indagou agora mais curioso que antes.  

— Bro, ela anda enjoando, vomitou no dia que tivemos livre lá em São Petersburgo e ontem ela passou mal de novo se madrugada — Isco tomou uma postura diferente. — Ela disse que é gastrite ou infecção alimentar, eu sei que ela e médica, mas tenho medo de ser algo mais grave. Quer dizer, se algo acontecer com ela...eu não sei o que vou fazer Isco — ele se virou para o amigo que suspirou pesadamente. 

— Marco, assim, quando minha ex mulher enjoou desse jeito não era nada gastrite ou infeção alimentar — o jogador fez uma pausa procurando as palavras certas. — Era só meu filho crescendo dentro dela. 

Asensio ficou apático por pelo menos dez segundos, até então ele não tinha se quer cogitado isso.

" Como eu não pensei nisso antes?" 

— Existe essa possibilidade? — O meia perguntou suavemente para um Marco ainda inerte.

O jogador começou a pensar em tudo, tantas coisas vinham que parecia que a cabeça ia explodir. 

— Talvez — foi o que ele respondeu após um longo suspiro. 

Isco sorriu de canto e deu batidinhas no ombro do amigo. 

— É, pisha. Acho melhor falar com ela. 

 

… 

 

— Porque você quer ir na farmácia? Aconteceu alguma coisa? — Am indagou. 

— Eu vomitei de novo ontem, preciso da sua ajuda para comprar um negócio — ela explica rápido já puxando a amiga pelo pulso para fora do quarto. 

— Como assim de novo Mia? — Am parou puxando o braço, odiava quando a médica era teimosa desse jeito. 

— Am, não importa. Agora, por favor vamos na farmácia — pediu tentando convencer a loira. 

— Eu não vou com você Mia, e você também não para canto nenhum até não explicar de porra está acontecendo — a morena bufou. 

— Quantas vezes você passou mal nessa viagem? Fale a verdade — Perguntou a amiga mais antiga enquanto Mia estava sentada na cama. 

— Três, uma com Marco, outra com vocês e a ultima foi ontem — foi sincera. Am e Sarah ( que havia sido chamada minutos antes para enquadrar a fisioterapeuta ) se olharam. 

— Amiga você já pensou que isso pode ser outra coisa — Ginger sugeriu calmamente e a doutora entendeu.

— Não é — afirmou categoricamente. 

— Mia, mas se for? — Am insistiu e ela e Mia trocaram olhares intensos, mas que foi logo partido seguido de um estalo de língua.  

— Gente, não é. Que coisa! Eu só preciso ir na porra da farmácia comprar um remédio antes que eu enjoe de novo e se vocês não forem comigo eu vou sozinha — as amigas suspiraram pesadamente.

— Tudo bem, a gente vai com você. 

 

… 

 

O jogo da Espanha contra o Marrocos não foi nada do que os espanhóis esperavam, sim, o time africano ficou na defensiva, foi super agressivo, fazendo uma chuva de cartões amarelos e pouco atacou, mas soube se aproveitar das faladas espanholas para marcar dois gols, mesmo já eliminado. A Espanha não parecia a mesma dos primeiros jogos, pouco criativa, sem brilho empatou a partida graças ao VAR. No final o placar foi de 2 x 2, com gols de Isco e Aspas, o primeiro sendo declarado o melhor da partida e de fato foi. Com esse resultado a La Roja seguia na Copa encabeçando o grupo e eliminando o Irã e Marrocos. Embora não tenha sido a melhor partida, o clima era de alívio, o próximo adversário seria a Rússia, dona da casa, portanto um desafio. Mas agora seria treino e mais treino, mas daquela noite de classificação em Kazan Marco estava no quarto de hotel com Mia. Ele precisava conversar pessoalmente com ela, era um assunto delicado demais. 

— E se você tiver gravida? — Pergunta antes que a doutora insista na mesma história. — Porque você que atrasou com anticoncepcional e a gente não se preocupou de transar com camisinha até você fazer outra consulta pra injetar de novo.

Mia suspirou profundamente, era verdade, ela já havia pensado nesse fato. 

— Amor, pra mim as coisas não diferentes. Eu tenho alguns problemas que me fazem ter dificuldade de engravidar, por isso eu não me preocupei — ela explicou olhando nos olhos do namorado. — Minha médica sempre disse que se eu quisesse ter um filho iria precisar tentar mesmo e com todo um tratamento por trás — acrescenta com um sorrisinho, mas olhos, Marco percebeu, rinha uma pitada de tristeza neles. 

— Mas tem possibilidade não tem? — Ele insiste e ela suspira profundamente. 

— É muito difícil, foi só uma vez — Mia fala, era quase como se não quisesse se iludir.

— Mas existe a possibilidade — ela anui. 

O jogador leva as mãos ao rosto apoiando os braços nas coxas. Eles ficam em silencio. Os dois remoendo a ideia de que isso poderia ser verdade, deixando a realidade cair.  

O camisa 20 passou todos os dias desde a conversa com Isco pensando da ideia de ser pai. Claro que inicialmente aquilo assustou, afinal ele ainda era novo demais, eles eram, mas como tempo foi parecendo melhor até que ele passou a gostar da ideia.

Já Mia... ela nunca pensou que isso fosse acontecer, primeiro por causa do seu problema, segundo porque sempre foi muito responsável com essas coisas. Claro que ela tinha 60% por cento que não era, mas os 40% a assustavam muito e por isso negava tanto. Ser mãe agora, com 24 anos de idade, no meio de carreira ainda iniciando, fora que ela e Marco não namoravam nem a seis 

Tantas coisas passavam pela cabeça dos dois que o silêncio do quarto nem era ouvido tamanha a confusão dentro de suas mentes. 

— Marco eu juro que eu não planejei isso... — ela fala baixinho, nem sabia se Marco queria ter filhos, eles nunca falaram sobre isso. 

" Meu Deus! E se eu estiver e ele não quiser? Se ele pedir para eu tirar? Eu não vou fazer isso. Eu não sei quando vou conseguir ter um filho de novo. Mas Deus! Criar uma criança, em um país estrangeiro, sem minha família...sem ele." 

— Eu achei que isso ia acontecer daqui a alguns anos, mas...— ele ergueu os olhos para ela. — Seria incrível Mia — o coração a doutorai se aliviou. — Ser pai. Ter um filho nosso, um filho com você.

A doutora sorri para ele e o abraça. Ela nunca pensou que ia ficar feliz ao ouvir isso, que ia sentir alívio. 

" Eu estou feliz? Eu estou mesmo feliz por Marco querer um filho comigo? Meu Deus!"

Marco sorri também e afaga seus cabelos. 

— Eu só não quero que você se decepcione se não for tudo bem — ela diz e ele anui. 

Mas naquela noite eles só falaram e pensaram nisso. E se for? Quando foram dormir a ideia tinha passado de assustadora para aceitável quase adorável. 

 

… 

 

Marco saiu cedo para pegar o voo de Kazan para Krasnodar, já Mia permaneceu da cidade com as amigas já que elas assistiram o jogo da Alemanha na cidade. Mas este só seria a noite e a morena havia combinado com o namorado que faria o teste o mais rápido possível.

Com um vestido branco soltinho, meias grossas pretas, casaco e botas a morena se olhou no espelho do quarto. 

" E se?" 

Ela passou a mão pela barriga e forçou um pouco tentando se visualizar gravida. Seu coração acelerou com a possibilidade. Ela balançou a cabeça, realmente não queria se iludir. Não queria ter esperanças. 

De repente alguém bate na porta. 

— Pronta? — Sarah pergunta ao lado de Am e a médica apenas anui. 

 

 

Lágrimas caem pelo rosto do meia colombiano, ele não acreditada no que estava acontecendo. Não podia ser real. Era verdade que nos treinos sentiu um desconforto na panturrilha, mas depois de um massagem passou e ele Pékerman o escalou como titular e capitão. Mas aos 20 minutos do primeiro tempo, em meio a um zero a zero aquela dor voltou, James ainda aguentou mais dez minutos em campo, se forçou a aguentar, mas mancava e não conseguia ser tão rápido, podia presidir o time. Aos 32 ele pede para sair deixando toda uma torcida preocupada e os companheiros de equipe também. 

Sozinho James deixou o campo, totalmente frustrado e triste, não conseguia esconder os sentimentos estampados em sua face. Câmeras dispararam quando ele passou pelo túnel, mas o jogador só se permitiu cair no vestiário. Ele não jogaria mais, sabia pela dor que sentia que aquela lesão o tiraria da copa. Mais uma chance perdida, mais um sonho adiado. As lágrimas caiam devagar enquanto ele se apoiava nos ninhos sentado no banco. Ele prometeu um gol a Salo que não ia poder cumprir, criou esperanças para um campeonato melhor esse ano, levar a Colômbia para uma semi final, para o pódio, era sua meta. Claro que isso ainda poderia acontecer, e esse torcia com todas as forças para que acontecesse, mas não ia poder participar, não ia poder ajudar, estava decepcionando uma nação, decepcionado seu ídolo que veio assistir ao jogo. 

"Só de pensar na quantidade de gente com minha camisa hoje..."

De repente aquelas memórias que o atormentavam durante esses dias voltam, a dor que sentia agora parecia com a que sentiu quando foram eliminados pelo Brasil, quando parecia que seus sonhos tinham sido ceifados. Naquela época ele lembra de pegar o celular e procurar falar com Mia. Porque não procurou Daniela? Porque não sua mãe? Ele nunca entendeu, mas sabia que precisava da morena. Precisava ouvir a voz dela, por um segundo que fosse. Mas então viu a mensagem que ela mandou acabando tudo. E por um segundo um mundo pareceu desabar de novo. 

"Porque doeu tanto? Porque se eu sabia que uma hora ou outra ia acontecer?" 

James fez uma das coisas mais inconsequentes de sua vida naquela noite, ele não conseguia pensar em nada, apenas que não podia perdê-la, não aquele momento, não quando tudo parecia dissolver nos seus dedos. Ele não falou com ninguém apenas pegou um avião e foi parar na casa de Mia. A ver fez um alívio crescer no peito, mas este foi logo esmagado pela realidade. O jogador implorou por ela, implorou pelo seu carinho, implorou para a única pessoa que conseguia o anestesiar. E ela confessou que sentia algo por ele, esse deveria ser o seu maior medo, deveria ser a deixa para se afastar, ele era um homem casado. Mas James ficou feliz, ele ficou tão feliz por ouvir aquilo, foi sua única felicidade naquele dia, e por mais que não pudesse dizer o mesmo, ele não sentia como algo errado.

Olhando para o outro lado do vestiário ele pensou algo que jamais admitiria. Mas naquele momento, agora, ele só queria ouvir aquilo de novo. Só queria vê-la, sua Mia, aquela que o fazia esquecer de tudo. 

 

 

Mia, Am e Sarah compraram todos os tipos de testes das mais diferentes marcas da farmácia e voltaram para o hotel. 

" — Amor, eu vou fazer" — ela avisou ao jogador. 

" — Não quero que se preocupe, ta bom? Eu nunca vou abandonar você, ou vocês. Eu amo você Mia, independente de tudo." — Ele havia acabado de chegar no CT, estavam ele e Isco no quarto esperando o resultado. 

A doutora respirou fundo e foi para o banheiro com todos os quatro testes.

 

 

P.O.V James. 

 

Como eu não consigo viver isso sem ela? Porque a casa coisa que eu faço, casa jogo, cada vez que chego no estádio, ou que eu saio eu lembro dela? Porque eu ainda sinto tanto sua falta quando eu tenho tudo? Deus! Eu e Daniela não poderíamos estar melhores. Eu tinha desculpas para estar com Mia quando estava sozinho, quando brigava com minha mulher, quando estava infeliz com o casamento, mas e agora? Qual a desculpa que eu tenho agora que está tudo perfeito? Eu ao menos tenho pensamentos sexuais, não é trepando que ela vem em minha memória. Então porque? Porque se eu jurei que só sentia tensão por ela? Eu nunca dei tanta importância a sexo assim.

Levo as mãos a cabeça, estava tudo tão confuso. Meu coração alternava entre um apertar sufocado, e um disparar galopante. 

Porque minhas memórias de um dos melhores momentos da minha vida, em quase todas ela estava presente? Porque, toda vez que quis me sentir seguro e feliz eu lembrei dela, de nós? Porque não de Daniela? 

Eu amo minha mulher. E-eu amo...eu tenho que amar. 

Lembro de quando nos conhecemos, quando nos casamos, busco os sentimentos, quero os sentir latentes, quero que me façam melhorar. Mas o que vem é apenas uma emoção fria, como a nostalgia do que um dia foi um grande sentimento. 

Porque? Porque se estávamos tão bem? 

No entanto quando lembro de Mia...meu coração acelera no peito, minhas mãos suam. Lembro de como era maravilhoso provoca-la, se senti-la se render devagar a mim, mas de como era muito melhor tê-la ao meu lado, me apoiando, sendo minha amiga, minha médica, minha anestesia, minha força. Lembro de quanto me ergueu sozinha, de quando me levou para jogar com as crianças, de quando cuidou de mim com toda paciência, quando brincou com minha filha, ela conquistou Salo de uma forma que só minha Mia seria capaz de fazer. Quando estávamos juntos o tempo parava, mas ao mesmo tempo não parecia ser o suficiente, não...nenhum tempo perto dela parecia o suficiente. Lembro do seu sorriso, de sua risada, sua careta de descontentamento quando fazia uma piada e ela não queria rir, seu olhar, seu toque, seu beijo. 

" Se afaste dessa garota antes que o pior aconteça." — Foi o que minha mãe pediu. 

Hoje eu entendo, não era de sexo que ela falava, era de algo muito pior. 

Como ela percebeu tão antes de mim? 

As lágrimas voltam a descer pelas minhas bochechas. 

Não pode ser...

 

P.O.V Mia.

 

— Não pode ser... — falei, lágrimas subiram para minhas linhas d'água. 

Os quatro testes enfileirados na bancada do banheiro, o resultado aparente. 

"— Amor? O que deu?" — A voz de Marco soou agoniada no outro lado da ligação no viva voz. 


Notas Finais


SOLTEI A BOMBA E CORRI! Jamia shippers? Masensio shippers? Como vocês estão se sentindo nesse momento? Eu falei que essa copa ia ser fogo no parquinho. Finalmente a cabeça dura do James viu a luz, depois de cinquenta capítulos, mas tudo bem. Mas logo agora com Mia talvez grávida e Masensio no seu auge de amor. Lágrimas escorrem.
Espero que tenham gostado. Me contem tudo nos comentários, eu sei que demorei, mas depois disso tudo, meu mereço um carinho né? Kkkk
A PARTIR DE HOJE SE INICIA UMA NOVA FASE NA FANFIC! Vai ser só tiro viu 😈😏😏
Besitos amores, se cuidem e até o próximo.


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