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História I know he's married - Ressaca moral


Escrita por: mydarlingzayn

Notas do Autor


HOLA MIS AMORES! Me dediquei esses dias pra conseguir trazer uma atualização o mais rápido possível para vocês. É bem provável que a próxima demore mais um pouco, porque eu to cheia de trabalho pela frente, mas vou continuar tentando postar o mais rápido que puder.
Espero que gostem, até as notas finais.

Capítulo 74 - Ressaca moral


 

Acordei com a cabeça pulsando como um coração, pesada como se tivesse um carregando uma cesta de pedras logo acima.

Porra! Droga de cerveja desgraçada!

De olhos fechados eu permaneci, sabia pela fofura da superfície abaixo de mim, que eu estava em uma cama, mas a grande merda era que eu não lembrava de maior parte da noite anterior. Eu nem lembrava onde eu estava, muito menos como havia encontrado um colchão tão macio, mas eu iria ficar aqui.

Ah sim, eu iria ficar aqui até minha cabeça não estar parecendo crescer como a da Rainha Vermelha de Alice.

Enfiei o rosto com mais força contra o que parecia ser um travesseiro e tentei lembrar do que aconteceu ontem, principalmente como terminei a noite. Mas era tudo uma sequência de borrões, flashes...eu rindo com alguém, bebendo, dançando com Aine, bebendo com Sarah, fazendo um brinde com os meninos, bebendo de novo...

Por Deus! Eu minha cabeça vai explodir.

Eu não devia ter bebido tanto. Fazia muito tempo que não ficava desse jeito, a ponto de não saber onde estou. Acho que só na época da faculdade, e foi uma única vez, eu sempre fui tão controlada, sempre soube meu limite. E agora, justo agora, na minha primeira festa com o time...

Meu Deus! O que eu fiz? Será que paguei muito mico? E onde caralhos eu estou?

Porra! Que dor de cabeça infernal!

Ok! Já entendi, é melhor ficar quieta e não pensar em nada. Ok! Tudo bem.

Não sei quanto tempo eu fiquei ali, paradinha, e acho que dormi nesse meio tempo, porque quando acordei de novo, minha cabeça já não doía mais tanto e eu tinha a capacidade de abrir os olhos.

E foi o que eu fiz, bem devagar com medo de encontrar uma explosão de luz, mas estava tudo escuro e...eu estava em casa.

Como eu cheguei em casa?

Enquanto ainda deitada eu tentei mesmo lembrar de como isso aconteceu, mas eram apenas mais borrões, risadas, cerveja e mais cerveja.

Eu juro que nunca mais chego perto de cerveja na minha vida.

Demorei uns 20 minutos na cama ainda, parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim, eu me sentia como se prestes adoecer, e ela justamente por isso que eu precisava comer alguma coisa. Por mais que meu estomago não parecesse concordar muito.

Levantei-me com o resto de minhas forças e segui até o banheiro. Vestia uma camisa como pijama e a calcinha era nova, ou seja, ou eu fui muito boazinha e fiz tudo sozinha, mesmo completamente embriagada, ou alguém fez isso por mim.

Jesus! Eu preciso ligar para Sarah. Ela precisa me contar tudo o que aconteceu, porque depois da quarta garrafa de cerveja eu não lembro mais que quase nada.

Não tive nem coragem de me olhar do espelho, apenas fui na direção do chuveiro, me despi e deixei que água descesse pelo meu corpo. Pela luz que entrava de uma janela lateral ainda está de dia, o que significa que eu não entrei em estado de hibernação e dormi por 24 horas seguidas.

Depois de passar alguns minutos embaixo da água quente, com os músculos mais relaxados, me enrolei na toalha e rumei até o closet. Peguei o moletom mais confortável que tinha, penteei os cabelos e sem coragem de secar com o secador, desci com eles molhados mesmo.

Encontrei minha bolsa no andar de baixo, em cima do sofá e foi por ali que eu fiquei. Peguei o celular e só foi entrar nas redes sociais para começar a ter pistas sobre o que aconteceu.

Havia vários, eu repito, VÁRIOS, vídeos e fotos onde eu estava marcada.

Havia uma foto dando um beijo na bochecha de Sané, uma com Julia, Lisa e Aine, sentadas bem sofisticadas no início da festa, com Neuer e seu namorado, com Coutinho e Aine, com Thiago e Odriozola, uma outra foi com Sarah e Leon, eu já parecia um pouco mais bêbada ali. Aí foi que foi ladeira abaixo. A próxima foto era minha abraçada com Muller, Lewan e Kimmich na beira da piscina, cujos olhos de todos estavam vermelhos e parecíamos incrivelmente bêbados, depois uma foto minha com o engradado de cervejas onde estava escrito por Muller em seu perfil apenas para amigos:

“Será que teremos mais uma bávara?”

O próximo era um vídeo meu cantando com Aine e Lisa. Em seguia uma foto comigo, Neuer e Sané dando língua e mostrando o dedo do meio para Kimmich que se vangloriava por ter ganhado algum jogo, pelo menos era o que a tradução do alemão dizia. Depois tudo começou a ficar desconexo. Uma foto minha com os meninos e havia um machado na minha mão. O que eu estava fazendo com um machado mão? Depois...Meu Deus eu estava virando short! Que bebida vermelha é aquela? Parece algo demoníaco.

Eu não consegui mais ver. Saí da sequência de imagens e vídeos, abri o aplicativo de comida e pedi algo, e logo em seguida liguei para Sarah.

Já chega! Eu precisava de respostas.

 

— Gatita, você até acordou cedo hein? Achei que ia virar o dia dormindo — foi a primeira coisa que a ruiva falou ao atender.

— São 4 da tarde e eu estou um caco, parece que um caminhão passou por cima de mim — ouvi sua risada.

— Era de se imaginar, né? Já comeu?

— Não, acabei de pedir comida..., mas eu preciso, preciso que me conte tudo, porque eu só lembro nitidamente até a quinta garrafa de cerveja. De resto...

— Bom, se quer saber foi muito divertido.

— Sarah eu preciso saber se eu passei muito mico, pelo amor de Deus. 

Eu juro que podia a visualizar revirando os olhos.

— Não! Você foi extremante divertida e todos te adoraram.

— Divertida como? Divertida palhaça fazendo merda ou divertida sociável engraçada?

— Ah Mia, pelo amor de Deus!

— Por favor, você sabia que eu não queria beber, sabe que eu tinha medo por ser a minha primeira festa e...

— Você não fez merda, e sim, foi engraçada, mas não palhaça — suspirei de alivio.

— Agora me conta por que eu tava com o machado na foto que o Gnabry postou no Instagram?

Mais uma vez minha amiga ri.

— Ah! A gente fez você arrombar a porta de uma casa — eu me engasguei com o ar.

— O que? — Ela riu mais.

— É uma tradição da Baviera, lançamento de machado no alvo, e um dos desafios de iniciação do time.

— Meu Deus...e como eu fui nisso? Deve ter sido vergonhoso.

— Tem uns vídeos no meu celular, gravei pra você ver depois de sóbria. Vou te mandar — fiz careta, mas afastei o celular e coloquei no viva-voz pra que pudesse ver o vídeo.

Estávamos do lado de fora, ao lado da área da piscina, e havia um alvo alguns metros a frente, ao redor uma fila de pessoas assistia enquanto eu me posicionava, Leon e Kimmich atrás de mim, o moreno falando alguma coisa perto do meu ouvido, como se passasse alguma informação, eu anuía de uma forma exagerada demais. E minhas pernas...uma a frente a outra, quase como um compasso, os saltos já eram, percebi. Sarah gritava em apoio, o som fazia o celular vibrar. Eu então, finalmente, joguei o braço com o machado para trás, o que quase partiu a cabeça de Kimmich no meio, por sorte ele se abaixou a tempo e joguei. O machado girou uma, duas e na terceira...caiu que nem bosta na frente do alvo, mal conseguido bater em qualquer parte da placa de madeira e se enterrando na grama.

— Ah não! Vamo de novo! Eu posso ir de novo? — Minha voz soou, eu olhava para todos os dois lados, como se buscasse alguém no meio do público.

E aparentemente a pessoa que eu estava procurando, provavelmente Muller, deixou porque houve uma comemoração. Eu até dei um pulinho de alegria.

E lá fui eu, tentar de novo. E depois de novo. E de novo. E então de novo até que o vídeo acabou.

— Quantas vezes eu tentei acertar essa merda?

— Umas 5 a 6.

— Meu Deus...

— Mas em sua defesa, nas últimas duas você acertou a placa.

— No alvo?

— Não, na verdade o machado bateu e caiu em uma, e na outra ele bateu e passou direto — fechei os olhos.

— Meu Deus eu sou um fracasso.

Sarah continuou contanto sobre a noite passada, ela detalhou o quanto nós nos divertimos e como foram os desafios, inclusive explicou o que era aquela bebida demoníaca que eu vi em vídeo.

— Sério gatita, os meninos te adoraram, principalmente porque você levou tão a sério os desafios.

— É, mas eu perdi todos, pelo que você me contou.

— Mas essa não é a questão gatita. Os desafios servem para mostrar apenas o quanto você deseja fazer parte da equipe, e eles viram que você deseja muito. Sério, você quase brigou comigo pra continuar bebendo as cervejas.

Eu bufei.

— Nossa nem me lembre. Eu me arrependo amargamente agora — coloco a mão por cima do estomago. — Mas sério mesmo que eles gostaram de mim?

— Claro que gostaram, o Kimmich mesmo que me disse! Tem como não gostar? Você sóbria é legal, mas bêbada... — eu ri.

— Só você pra me fazer ver o lado bom de ter ficado embriagada nessa festa — suspirei pesadamente. — E como eu cheguei em casa hein?

— Bom, eu te levei quando percebi que você estava bêbada o suficiente para COMEÇAR a fazer merda. Te dei um banho, coloquei uma roupa cheirosinha, coloquei para dormir — ri. — E depois fui pra casa.

— Awn! Você é a melhor amiga do mundo, sabia? Eu achei que ia acordar no sofá com um cachorro lambendo minha boca — ela riu.

— Sorte sua que o Muller e a Lisa não terem cachorro — ri mais. — Mas gatita, na verdade, aconteceu uma coisa que você precisa saber.

Paro.

— O que?

— Lisa me contou que você quase tinha caído no corredor e eu fiquei preocupada e fui trás de você, mas ela disse que o James já estava te ajudando.

Fiquei calada, porque não sabia o que dizer.

— Mas ela não sabia de nada e foi por isso mesmo que eu fui correndo para onde ela disse que vocês estavam. E quando eu cheguei na cozinha ele estava fazendo carinho no seu rosto, inclinado na cadeira, próximo demais, você tava bêbada e ele era ele. Entende? Eu surtei na hora, me meti no meio, puxei você. Ele ficou todo sem jeito, falando que não era o que eu tava pensando. Mas porra o jeito que ele tava te olhando amiga...

Meu coração estava acelerado. Eu acho que prendi a respiração desde que ela começou a descrever a cena e me dava um desespero por não lembrar disso, um desespero por deixar as coisas chegarem aquele ponto.

— Meu Deus Sarah! — Soltei o ar. — Você acha que eu... — meus lábios tremeram.

— Você estava totalmente bêbada Mia, ele que estava se aproveitando de você, da sua fragilidade, da sua inocência em achar que ele quer ser apenas seu amigo.

Meu coração apertou. Engoli seco me sentindo tão mal naquele momento.

— E eu até queria pedir desculpa a você se me envolvi demais é que...

— Não! Pelo amor de Deus, não! Você foi perfeita, e-eu nem tenho como te agradecer por isso.

— Não tem que agradecer, eu que não quero mais ver aquele capiroto se aproximando de você pronto pra foder tua vida de novo.

— Pois é, e que bom que você me avisou — inspirei fundo tentando não pensar muito naquilo para continuar o papo.

Mas quando nós desligamos o que a ruiva falou martelava na minha cabeça. A cena...eu tentava me lembrar, e quando não conseguia, tentava imaginar. O toque, a forma que ele se aproximava... Eu achei que isso nunca fosse acontecer de novo. Eu realmente achei que não havia mais nada. E ele está com Daniela ainda.

Merda!

James não mudou nada. E eu não sei por que isso, no fundo, bem no fundo, era doloroso.

Depois de tudo, da sua depressão, daquela nossa despedida e de todos esses meses longe, eu pensei, eu realmente pensei que podíamos ter um recomeço amigável. Eu realmente achei que ele tivesse seguido em frente.

E agora eu me perguntava. Será que eu fiz o certo vindo para cá? Será que vir aqui não me fazia entrar em looping do que aconteceu em Madrid?

Uma sensação estranha de dejá vù me veio, como se tudo estivesse prestes a acontecer de novo. Mas não ia. Não, não ia, porque eu não sou mais aquela Mia. E principalmente, porque eu não sinto mais nada por James.

Isso! Como Ginger falou, eu estava completamente bêbada, aquilo não dizia nada sobre mim, mas sim sobre ele.

Despertei daqueles pensamentos apenas quando a campainha tocou. Era o entregador com minha comida. Então eu esqueci de tudo porque nada era maior do que minha fome naquele momento.

 

 

...

 

 

Na segunda-feira de manhã eu peguei o carro e segui para o CT, seria o primeiro dia de reuniões sobre a integração do novo método e eu estava animada pelo que vinha pela frente, para começar a ver tudo.

O dia começou bem, as reuniões muito produtivas, ideias aflorando, tudo se ajustando, adaptando.

— Tem tudo pra dar certo — foi o que Roland disse.

Os novos fisioterapeutas e preparadores físicos especialistas em alto desempenho e resistência corporal foram escolhidos, eu entraria em contato com eles em breve fazendo a proposta. E esperava mesmo que aceitassem.

Depois da reunião eu segui para meu escritório para resolver a parte burocrática, Gerry, Knut e Gianni se encarregavam as sessões por enquanto. Bom, o papel do chefe era muito mais longe da ação do que eu imaginava, mas eu estava sabendo lhe dar com isso. Papeladas e mais papeladas em cima da mesa, acabei pedindo comida do escritório mesmo. Não sei quanto tempo passei ali, mas quando percebi que não conseguia mais absorver e raciocinar nada era cerca de duas da tarde.

Decidi esticar um pouco as pernas. Enfiei o celular no bolso e desci. O dia estava ensolarado com algumas nuvens, ainda era verão e eu devia aproveitar o máximo os dias fora de casa com esse sol, pelo menos foi o que todos me disseram. Então aqui estava eu, caminhando pela beira dos campos verdes e vazios, os regadores ligados para nutrir o gramado e a terra. Inspirei, experimentando o cheiro da terra molhada, do vento do verão, a sensação gostosa do sol quentinho na pele. O contato com a natureza realmente vazia bem aos meus sentidos, a minha cabeça.

O time reserva estava treinando na academia hoje, mas o principal estava a dois campos de distância. Eu não ia chegar perto, queria ficar mais na minha hoje, ainda mais depois da loucura que foi sábado e de ter falhado em todos, absolutamente todos os desafios. Eu estava morrendo de vergonha, era fato.

Então passei longe, mas aparentemente o destino estava de sacanagem comigo, porque ouvi alguém falando comigo lá de trás. E eu conhecia aquela voz.

— Veio ver o treino? — Ele indagou bem-humorado.

Gelei.

Me virei devagar e James estava atrás de mim, suas roupas escuras de treino. Provavelmente tinha vindo da sede.

O sorriso dele me fez hesitar, então eu lembrei do que Sarah disse.

— Não — fui fria.

Seu sorriso murchou um pouco, mas ele insistiu.

— E você está bem? Quer dizer...ficou tudo bem depois da festa? E-eu fiquei preocupado porque você quase caiu e...

Inspirei devagar.

— Eu estou bem. E não precisava se preocupar, eu sei me cuidar — o interrompi, sabendo bem onde sua preocupação estava, aonde ele poderia chegar.

Eu conhecia bem James, e se ele de fato não mudou, eu o conhecia melhor ainda. Ele já usou da minha fragilidade para me beijar uma vez, nunca vou esquecer da festa dos patrocinadores em Reina Sofia. E ele iria fazer de novo sábado, se não fosse por Sarah. Eu não podia confiar nele.

O jogador abriu a boca e sem palavras fechou novamente. Então ele apenas anuiu.

— Eu sei que sabe — disse mais baixo, mais cabisbaixo.

— Agora me dá licença, eu preciso ir.

Não o esperei responder, apenas saí, passando por ele como um raio, de volta para a sede.

Não, de jeito nenhum, James iria entrar na minha vida daquela forma de novo. Eu não ia permitir, por mais que sentisse no fundo meu coração apertado, como se eu estivesse sendo grossa com uma pessoa que só quis cuidar de mim. Ele fez parecer que era só isso. Mas não foi. E eu sabia o quanto James podia ser manipulador. Eu não ia cair de novo nesse papinho.

 

 

No dia seguinte trabalhei com equipe de fisioterapia e preparação física um pouco mais. Decidida a me focar no meu trabalho eu procurei esquecer completamente o que aconteceu e qualquer pensamento relacionado a isso eu enxotava rapidamente da minha cabeça.

Assim que a reunião acabou desci para o refeitório com todos. O clima estava bom, eu me sentia cada vez mais a vontade com o pessoal e eles parecia sentir o mesmo comigo, até já marcamos um jantar depois que essa primeira fase terminar. Era tudo o que eu queria, porque para esse método funcionar todos tínhamos que estar em sintonia, unidos.

— Posso roubar ela só um pouquinho de vocês? — Kimmich perguntou para a equipe física já puxando minha cadeira para trás.

— Claro, fique à vontade — disse Knut. Eu o olhei incrédula e depois olhei para o loiro noivo da minha amiga com o mesmo olhar.

— Mas lembre-se de devolver Kimmich! A gente ainda precisa dela — Gerry apontou enquanto eu me levantava.

— Vocês são terríveis, sabiam? — Os fuzilei e eles riram.

— Ah! A gente devolvo, prometo — o jogador disse.

— O que foi Joshua? — Indaguei a ele enquanto o camisa 6 me guiava até a mesa do time.

— Vai ver — ele disse com aquele sorrisinho e eu franzi os cantos dos lábios.

Chegando na mesa senti todos os olhos se verterem na nossa direção. Corrigindo, na minha direção. Fiz cara de paisagem.

— Tava fugindo da gente Mia? — Muller provocou, cruzando os braços e se escorando no encosto da cadeira.

Arqueei uma das sobrancelhas.

— Definitivamente não — o loiro fungou, vi sorrisos florescendo em cada rosto, menos em um. James ficou na dele, parecendo um pouco a parte da brincadeira.

Que bom que meu recado fez efeito.

— Por que será que eu acho que isso é mentira? — Leon apoiou os cotovelos na mesa com um sorriso malicioso no canto da boca. Estreitei os olhos para ele.

— Deve ser porque você está superestimando o poder de vocês sobre mim, como sempre — subi o queixo e houve chiados e gemidos, eles pareciam ter gostado na verdade.

— Linguinha afiada — Lewan cantarolou. — Achei que queria ser uma bávara.

— E eu quero — apoiei os braços na mesa, o espaço vazio na cabeceira, olhando para cada um. — Eu sei que os bávaros adoravam ser provocados para possam provar justamente o contrário, mas também adoravam provocar para testar. Então — dei de ombros.

Sorrisos apareceram novamente.

— E você acha que passou? — Sané indagou.

Inspirei fundo.

— Não, fui mal em todos os desafios, não faria sentido — fui sincera.

Olhares trocados, mais sorrisos, até James sorriu dessa vez, como se soubesse algo que eu não sabia.

— Acontece Dra.Mia — Muller começou. — Que como você disse, nós bávaros gostamos do desafio e, mais importante que vencer todos é se esforçar para vencer todos.

— E a gente tem que admitir — Neuer disse com um sorriso bem-humorado. — Ninguém tentou tanto.

Risadas soaram. Eu sorri.

— Você é uma bávara Mia — Lewan disse.

— É uma de nós — Leon completou.

Meu sorriso se alargou. Eu realmente estava com vergonha de muitas coisas, mas ouvir aquilo me fez sentir muito, muito melhor.

— Na verdade a gente meio que sabia antes da festa, os desafios só confirmaram — Kimmich falou ao meu lado e eu fechei a cara.

— Então vocês, seus ridículos, me fizeram ficar daquele jeito pra nada? — Levei as mãos a cintura e foi aí que risadas explodiram. — Não riam demais não, vou fazer vocês pagarem no pós-jogo — brinquei.

Quer dizer, nem era tão brincadeira assim.

 

 

...

 

 

Os dias foram passando, o trabalho consumindo maior parte do meu tempo, tanto dentro do CT quanto fora, eu não tinha tempo para quase nada. Mas eu não estava reclamando, pelo contrário, trabalhar por algo que eu acredito, com o clube dando todo suporte a minha metodologia, eu não poderia estar mais feliz. E o mínimo era me dedicar 100% àquilo. Fiquei por trás do computador e no backstage ao menos até o jogo seguinte, o primeiro da temporada da Champions contra o Club Brugge, em Bruges na Bélgica. Era apenas uma hora e vinte de voo, então fomos no mesmo dia do jogo.

Chegamos em Bruge as cinco da tarde e seguimos de ônibus direto para o estádio. Era engraçado e até estranho fazer esse percurso agora, com uma nova equipe, em outra posição. Comigo, ia apenas Gerry, Knut e Gianni voltando a suas origens no CT. Hansi e Benjamin ficavam na frente, os ouvia falar das estratégias desejando sobre uma imagem do campo no ipad. Eu e Gerry ficamos atrás, Peter do outro lado do corretor lia um livro com seus óculos na ponta do nariz, para trás era a boa e velha bagunça do time. No início da equipe de mídia passou gravando os jogadores a caminho do primeiro jogo da temporada da Champions, todos estavam sentadinhos bonitinhos, mas a realidade era que de vez enquanto um se levantava para falar com o outro, atazanar o outro, as vezes até rolava uma cacofonia generalizada em alemão eu não entendia nada.

Gerry riu quando eu arregalei os olhos e olhei para trás.

— Não, eles não estão brigando. E sim, você se acostuma — ele falou plácido na poltrona dele, tão relaxado como se aquilo fosse normal.

Achei que estavam brigando e então começaram a rir.

— Espero que sim — foi o que eu falei me ajeitando na cadeira. — Vou começar as aulas de alemão assim que a gente tiver conseguido inserir o plano novo.

O meu vice fungou.

— Vai ser legal ver você entendendo o que eles estão falando — ele indicou com o polegar a parte de trás e eu sorri.

Entramos pelos fundos do estádio, as câmeras pegando nossa saída do ônibus, os rapazes todos arrumados, terno e sapado fechado, como era de praxe em jogos da Champions. Como parte do DM, eu não tinha essa exigência, por sorte.

Nós seguimos pelos corredores abaixo das arquibancadas, sendo levados por uma sinalização até o vestiário, este já estava todo arrumado graças a equipe de governança que chegou um pouco antes. Peter, eu e Gerry seguimos para nossa areazinha, colocando nossas bolsas, ajeitando nosso material. Os treinadores e preparadores vieram também, os jogadores chegando e se distribuindo em seus armários.

Era sempre assim, essa energia caótica de vestiário, cada equipe arrumando tudo, os jogadores indo trocar de roupa, o técnico e o assistente trocando informações com o resto da equipe técnica. Erramos uma comitiva enorme, só não maior que a de uma seleção, mas ainda sim era gente demais.

Nós subimos primeiro com os preparadores para montar o circuito no nosso lado do campo. O Estádio Jan Breydel era até grande, e as pessoas começavam a lotá-lo olhávamos os gerentes de equipamento colocávamos cones, elásticos e bolas perfiladas no chão. Toni, o treinador de goleiros, ficava mais próximo das traves falando com para um dos gerentes o que estava planejando para hoje.

Eu suspirei cruzando os braços na altura do peito, o dia estava mais frio em Bruge que em Munique, enquanto olhava o circuito. Fizemos tudo com base do time adversário, o estudo vindo de Benjamin e Hansi. Sabíamos que eles eram inferiores tecnicamente, mas isso não significava que íamos ganhar de certeza, nunca dá para dizer isso no esporte, posso dizer isso por experiencia própria.  Então montamos uma estratégia física e técnica, ao invés de fazer os mesmos exercícios de sempre, fiz algumas, ainda pequenas, mudanças só para ver como o time reagia.

E da beira do campo eu observei o time submergir do túnel, o uniforme preto de treino para o aquecimento. Fiquei ao lado dos preparadores, os observei fazer os exercícios de perto, estudando tudo enquanto o estádio enchia, os fotógrafos se acomodavam por trás das placas, as câmeras de TV e repórteres faziam suas primeiras entradas para dar as notícias mais frescas. Logo depois do aquecimento, todos bem, Hansi iria passar a escalação oficial para que fosse anunciada.

— Vamos Thomas! Ta achando que é moleza? — Gritei para Muller que fazia a corrida de aquecimento de um lado para o outro a partir do meio de campo. Do outro lado era o time da casa que se aquecia.

O jogador fez careta para mim e eu o mandei um beijo no ar.

Eu falei que ia ter volta gatão!

Passei por cada estação do circuito, falei com os meninos, fiz perguntas, Gerry também os checava e Peter observava tudo de perto, conversando com Benjamin.

— Sente alguma coisa aqui? — Perguntei para Josip.

— É uma fisgada aqui — disse colocou a mão na parte posterior da coxa, mais perto das costas do joelho.

— No lugar da sua última lesão — afirmei puxando a meia para baixo apalpar melhor.

— É-é... — ele anuiu, parecendo um pouco surpreso por eu saber da lesão, já que eu não trabalhava aqui na época.

Bom, eu falei que tinha estudado bem o time, não falei?

— Eu sou esticar um pouco, ta bom? Se sentir dor me avisa — o alemão anuiu, sentado no chão. Eu de joelho na frente dele, me levantei e puxei uma perna a esticando bem e depois balançando.

Ele fez careta de dor, mas depois de um tempo sua face se suavizou.

— Eai?

— Ta melhor — disse.

— Flexiona ela pra mim — pedi e ele o fez, não parecendo sentir mais dor. — Você não alongou direito isso aí, ta ficando com o musculo tenso demais e por isso dói — apontei o ajudando a levantar.

Eu sabia que Josip era novo no time, chegou nessa temporada, vindo de um time pequeno alemão, bom jogador, mas a técnica, até mesmo para os exercícios, precisava melhorar.

Eu ia ficar de olho nele.

— Valeu Mia! — Josip sorriu de canto para mim.

Dei uma piscadela para ele e o observei voltar o circuito.

— É, você parece bem boa no que faz — virei para trás vendo Leon com aquele sorrisinho esperto no canto da boca.

Inspirei fundo e cruzei os braços.

— E você ainda duvidava depois de todo esse tempo? — Arqueei uma das sobrancelhas.

O jogador fungou ainda sorrindo e deu um passo na minha direção.

— Você já percebeu como nós somos desconfiados — foi minha vez de fungar.

Dei um passo na sua direção, ele era bem mais alto que eu, magro, mas não tanto. O rosto realmente se destacava, mas depois do trabalho que faríamos...eu ia deixar aqueles jogadores todos bombados. Leon ficaria um pedaço de...

Mia!

— Eu já percebi o quanto vocês gostam de provocar — falei.

Leon pareceu gostar mais ainda daquilo porque inclinou o rosto mais para baixo, os olhos castanhos silvando.

— Eu gosto d...

— Leon! — A voz masculina tão conhecida chamou.

Nós nos viramos e James estava alguns metros olhando para cá.

— O técnico ta chamando — disse o colombiano, apontando para Hansi na beira do campo com o queixo.

— Vai lá e depois termina o treino!

O alemão suspirou e fez uma reverência.

— Sim, senhora.

Ri e o vi cruzar o campo para falar com Hansi. Por um segundo me atrevi a olhar na direção de James, ele desviou na mesma hora.

 

 

...

 

 

 

Segui na direção do vestiário, o jogo contra o Bremen havia acabado a alguns minutos, mas eu tive que resolver algumas coisas primeiro antes de começar o pós-jogo.

Como sempre o vestiário estava uma loucura, havíamos vencido, e o clima de comemoração estava no ar, o som saindo dos alto falantes, música latina e o vuco vuco nos corpos masculinos, vestidos ou seminus entre os bancos, armários e chuveiros, isso sem falar na cacofonia das vozes.

Já acostumada, depois de uns 2 jogos, fui andando entre eles, brincando sobre a vitória, trocando piadas internas, eles pareciam ter se acostumado com minha presença também. Não que tivessem se incomodado antes, aqueles homens não tinham vergonha de nada, contudo, tinham muito respeito por mim.

Estava seguindo para onde instalamos as macas quando meus olhos encontraram James saindo dos chuveiros. Ele estava apenas a toalha estava enrolada ao seu quadril, os cabelos molhados ficavam negros, uma mecha perdida sobre a testa, no abdômen pingos deslizavam pelos músculos definidos, ondulando até descer na direção do V esculpido semicoberto pela toalha. Apesar de já ter participado de dois jogos, aquela era a primeira vez que eu o via daquele jeito. Seu corpo não havia mudado tanto desde a última vez, mas havia novas tatuagens ali no peito sólido, e nos braços musculosos...

Merda!

Eu xinguei mentalmente quando o olhar dele quase encontrou o meu, sendo muito rápida ao desviar para outro abdômen. Leon passava ao lado do camisa 11, ele era mais magro, mais alto, ainda sim, definido. Não era nada, nada, mal. Mesmo assim desviei de novo e acabei encontrando o olhar de James em mim por um breve segundo.

Ah que ótimo! Ele me pegou secando o Leon! Lindo!

O colombiano então abaixou a cabeça e continuou seu caminho no fluxo de corpos ali dentro.

Desviei também e segui até as macas.

— Vamos começar logo com isso — falei para Gerry.

 


Notas Finais


Eai? O que acharam? A Mia finalmente uma bávara! Pena que ela não lembra de quase nada de legal que aconteceu. E a pergunta é :
Nossa fisioterapeuta agiu certo afastando o James?
E o Leon hein? Parece que ele ta investindo mesmo nela. O James apenas observando.


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