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História I Love You, Idiot Elf! - É Tarde Demais, Ela Não Vai Voltar...


Escrita por: ArqueiraDaLua

Notas do Autor


"As mentiras cercam de todos os lados. Não há escapátoria nessa teia de enganações... Infelizmente, cai na armadilha antes de me libertar com a verdade.

É tarde demais."

....

Sinto muito.

Capítulo 47 - É Tarde Demais, Ela Não Vai Voltar...


Fanfic / Fanfiction I Love You, Idiot Elf! - É Tarde Demais, Ela Não Vai Voltar...

[...]

- A Grande Guerra recomeçou e o Senhor das Trevas ainda vive.

Terminando sua frase a jovem saiu dali em passos calmos, sem dirigir nenhum olhar ou palavra para qualquer indivíduo estático no Salão Principal. Se prepararia para a guerra começando com o presente embaixo do guarda-roupa.

[...]

Um mês depois...

A brisa suave brincou com as mechas de cabelo branco as fazendo voarem levemente, a manhã silenciosa revelava um Sol esplendoroso que aquecia até mesmo as construções mais gélidas. Por toda parte se via faerys contentes carregando suas compras diárias no mercado principal, esquecidos completamente do temor que caía sobre a Fortaleza de Eel. 

Os olhos celestes contemplaram a multidão por breves instantes antes de voltarem para a adaga cravejada de rubis que descansava em uma de suas mãos. Seu olhar refletiu na lâmina antes de encontrarem a queimadura entorno de seu pulso. A marca que ganhara naquela noite sombria. Seu corpo tremeu em espasmos leves ao lembrar do ocorrido, carregado de uma tensão que assustava a si própria.

Um mês.

Já se passara um mês e nada acontecera. Todos os moradores de Eel ignoravam o ocorrido, apenas a Guarda Obsidiana estava sempre em alerta, principalmente depois do ataque as Forjas na qual levara tantas armas à ruínas. A Fortaleza estava desprotegida e Athaleos apenas esperando o momento certo para atacar. Não havia como prever quando ocorreria uma batalha.

Imersa nesses pensamentos, Lua levantou-se determinada, antes de voltar a golpear o boneco de treinamento que Valkyon lhe emprestara. Sua ira aflorava toda vez que treinava, era como se retornasse para aquela noite maldita, quando desejara com fervor que conseguisse a morte de Athaleos. O boneco de pano pareceu se transformar diante de si, parecia sorrir-lhe com sarcasmo, antes que pudesse perceber já o deixara em farrapos no chão. Completamente destruído.

- Com este já são cinco bonecos que você destrói. - a moça virou-se para o indivíduo de cabelos prateados que segurava um imenso machado em suas mãos, cumprimentando-o com a cabeça.

- Eu prometo que pagarei por todos no meu próximo salário. - voltando-se novamente para a frente tentou alguns golpes que aprendera com Jamon fazendo o líder da Obsidiana sorrir singelamente. 

- É impressionante o quanto você mudou em um único mês. Nem parece fazer parte da Guarda Absinto. - vendo que a moça não prestava atenção em si o rapaz caminhou até ela, segurando-a delicadamente pela cintura a fim de que interrompesse seu treinamento. - Não se esforce tanto, seu corpo é muito frágil para tantos golpes contínuos.

Desta vez, Lua o olhou com firmeza. Seus olhos intimidantes não se desviaram nenhuma vez das orbes douradas de Valkyon.

- Eu entendo que esteja preocupado, mas eu sei o que estou fazendo. Essa guerra vai acontecer em breve, preciso estar preparada o máximo possível para protegê-los.

- Você não está sozinha, nunca se esqueça que também devemos protegê-la. - a garantia no tom de voz do guerreiro a fez suspirar. Realmente estava muito tensa, seu corpo precisava relaxar, podia ser uma Cristaly mas seus músculos continuavam sendo fracos. 

- Vou aceitar seu conselho por hoje. Obrigada, meu amigo. - a garota se afastou do mesmo em passos rápidos, suor frio escorria de sua testa. Tudo parecia tão bem ao seu redor, ainda sim, tudo mudara.

Nada continuava o mesmo, sua vida era a prova disso. Desde aquela noite, diversos faerys e membros da Guarda foram descobertos como traidores e cúmplices do exército do Senhor das Trevas, incluindo Chrome. A maioria escapara, porém outros estavam presos e condenados por seus próprios crimes. A pedra Europa se destruíra antes de cumprir o feitiço, deixando toda a dimensão da Fortaleza desprotegida. Fora julgada, acusada e quase morta naquela mesma noite.

Realmente, tudo mudara.

- Quanto mais esse pesadelo vai durar?... - a pergunta saiu num tom baixo até sentir esbarrar em alguém. Imediatamente se afastou, contudo, ao perceber quem era acabou por abrir um sorriso. - Ezarel.

- Sua cara está mais cansada que o habitual, humanos sempre são tão frescos assim? - o sorriso repleto de deboche decorou a face do elfo, fazendo-a soltar uma pequena risada. Tudo havia mudado. Menos ele. Quando mais precisava ele estava ali por si, cuidando e protegendo, era um dos poucos que a fazia sorrir. Lua não o respondeu, o abraçando com força enquanto afundava o rosto no peito do alquimista, o mês que passara fora importante demais para perceber que Ezarel era tudo para si. Era sua força. Sua vida. Seu amor.

Calando-se, o elfo a enlaçou docemente, o perfume de seus cabelos era refrescante e tê-la em seus braços representava a maior alegria que tinha. Ficaram assim por breves minutos, parados no corredor e a mercê de olhares curiosos. Mas quem se importava? A albina se afastou sorrindo, notando o anel prateado que estava em seu dedo anelar direito.

O anel de compromisso que Ezarel lhe mostrara na noite do ritual do feitiço de Encantia. Em breve se casariam, e logo o pesadelo acabaria. Pelo menos assim esperava.

- Você promete que quando tudo isso acabar nós iremos embora? - Ezarel acariciou sua face antes de beijar sua testa. Seu coração doía. Doía demais.

- Prometo, fadinha. Só precisamos terminar aquela poção e pronto. Estaremos livres para irmos onde quisermos. - ninguém sabia ainda que planejavam partir, um chefe de guarda desistir de seu cargo requeria grandes discussões, mas nada os fariam mudar de ideia. Recomeçariam em outro lugar. Longe de todos e longe dos problemas.

- Não sei se essa poção "esconde presença" vai adiantar alguma coisa, Ezarel. Athaleos sabe quem sou eu e onde estou, virá atrás de mim de qualquer jeito.

- E permitir que ele te machuque novamente? Jamais! - os olhos turquesas analisaram o pulso queimado da jovem antes de se tornarem raivosos. O elfo nunca o perdoaria por tê-la ferido, nem que tivesse que acabar com o Norlam sozinho apenas para vingá-la. - Aquele demônio pode voltar, mas não tocará em você nunca mais.

- Brandon também vai voltar cedo ou tarde, aquele vampiro quer sua cabeça acima de qualquer coisa. - Ezarel sorriu com sarcasmo.

- O banho de cerveja não foi o bastante para o sanguessuga. 

- Pare de brincar. Ele já veio atrás de mim apenas para matá-lo, lembra? Temos que ficar em alerta o tempo todo, preparados para qualquer artimanha. - o alquimista a calou com outro beijo fazendo-a esquecer do próprio chão. Pelo Oráculo, estava quase pegando fogo. Notando o rubor tomar conta dela o rapaz se afastou, rindo consigo mesmo. - Estou tentando não engravidar, sabia? Mas você parece que está fazendo de tudo para isso acontecer.

- Só foram algumas vezes. - a face fingida do elfo a fez corar ainda mais. Sabia por si mesma que não foram apenas algumas vezes. Ultimamente, mesmo com todas as preocupações eles arrumavam tempo para se amarem como dois adolescentes à flor da pele. Não que estivesse reclamando, mas correr o risco de ser mãe num período de guerra era pedir para entrar em desespero. - Vou terminar aquela poção irritante de uma vez e depois a chamo, tudo bem? Só falta alguns ingredientes e tudo entrará no eixo.

- Ok, te encontro depois. Tenho mesmo que visitar um local. 

A expressão entristecida da jovem fada fez o alquimista compreender no exato momento onde ela iria. 

(***)

- Lua, as flores estão prontas! - Karenn e Alajéa gritaram juntas da barraca do mercado. A albina sorriu singelamente, era bom ver o quanto elas estavam unidas depois da traição de Chrome, Karenn passara a trabalhar numa barraca de flores junto da amiga como se quisesse esquecer do jovem lobo. E o pior era que compreendia muito bem, sentia falta dele e de muitos outros. Mas eram inimigos, talvez um dia lutassem um com o outro. 

Seu coração partia ao pensar na possibilidade.

- Muito obrigada, meninas. Elas estão lindas como sempre. - pagando pelas flores a garota deixou o mercado indo em direção aos Estábulos de Eel. Não precisou nem esperar por muito tempo antes de sua Danalasm surgir majestosamente na entrada, era incrível como sua mascote era radiante em beleza. - Bom dia, garota. Preparada para outro passeio?

Ártemis raspou uma das patas no solo, respondendo positivamente. Lua subiu em seu torso com cuidado para não esmagar as flores, lembrando-se sempre de agir com cautela mesmo que a Danalasm aguentasse seu peso sem qualquer dificuldade, segurando em seu chifre azul deu sinal para que ela andasse, galopando até o Portão Principal.

- Voltarei logo. - afirmou para os guardas antes de ir junto de sua mascote até a beira da floresta. Logo depois de algumas árvores entrelaçadas uma clareira fechada se revelou, no meio uma decoração de pedra simples estava carregada de flores. Algumas murchas e outras ainda bem cuidadas. Descendo de Ártemis, a garota se aproximou depositando as flores junto das outras. Sua expressão entristeceu. - Olá Ciel.

Depois de contar a Miiko e aos líderes de Guarda sobre Athaleos e sua farsa, uma busca foi feita em todas as redondezas da floresta até acharem os restos mortais do verdadeiro Ciel. Os ossos restantes foram enterrados a fim de darem ao guerreiro um descanso final. Mesmo sem conhecê-lo, Lua trazia flores toda semana para seu túmulo, dessa forma, lembrando-se sempre da crueldade do Norlam e seu erro em acusar alguém que partira a muito tempo. Fazendo uma breve oração a moça deixou o local quando avistou algo escuro no chão. Se aproximando notou ser uma pena negra.

Uma familiar pena negra.

- Leiftan... - murmurou, incrédula. Olhando ao redor buscou por ele, notando seu coração disparar. Sabia que ele ainda não a abandonara. Correndo os olhos para cada árvore e sombra não analisada acabou por esquecer do tempo até ouvir alguém lhe chamar.

- Senhorita, está tudo bem? - um dos guardas do portão a olhava com preocupação, a demora da moça o fizera se alarmar e ir atrás de sua presença antes que ocorresse algo. Depois do ataque de Athaleos, a líder da Guarda Reluzente proibira qualquer um de permanecer distante da Fortaleza por muito tempo. 

- Estou bem. Não foi nada. - a moça suspirou antes de se voltar para o soldado. - Eu já acabei, podemos ir. - subindo novamente em Ártemis que estranhamente estava muito quieta, a jovem partiu acompanhada do guerreiro. Dentro de si, seu coração doía.

Um pressentimento ruim começava a nascer.

[...]

Enquanto isso, no Laboratório de Alquimía...

A poção estava pronta. O frasco descansava em uma de suas mãos pesando mais do que deveria. Ezarel fechou os olhos. A dor em seu peito parecia aumentar a cada segundo. O livro de receitas continuava aberto encima da mesa, revelando em uma das páginas três palavras grifadas: Água de Lete.Este fora o último ingrediente da poção, e infelizmente, o mais difícil de colocar.

Ezarel socou a mesa fazendo diversos tubos de ensaio tremerem.

- Você sabe que isso é essêncial para nossa segurança, não sabe? - a voz séria de Miiko o fez franzir a testa, não conseguia acreditar que tudo estava indo tão longe. - Eu prometo que essa será a última medida tomada, Lua estará livre para fazer o que desejar.

- Retirando o que ela tem de mais precioso?! Ela jamais vai nos perdoar. - a líder se aproximou a fim de tocar em seus ombros num sinal de apoio, contudo, o elfo se afastou ainda mais irritado.

- Isso é para o bem de todos, não podemos nos arriscar assim. O Senhor das Trevas vai retornar cedo ou tarde, essa é a única maneira de protegê-la.

- De proteger você, quer dizer! Você nunca se importou com Lua, desde que Europa foi embora você só a vê como um objeto da profecia. Eu sou muito idiota por ter aceitado esse plano... - cerrando os punhos o rapaz sentou-se numa cadeira qualquer. Estava tão próximo da felicidade que desejava, mas estava colocando tudo a perder.

Tudo por um plano idiota.

- Você sabe a verdade, Ezarel. Finge que se preocupa com ela, mas sequer a ama de verdade. Seu desprezo é notável, mas saiba que assim que ela tomar essa poção você estará livre para terminar esse relacionamento falso. - o alquimista tremeu. Terminar? - Te dou liberdade de seus próprios atos. Faça o que achar melhor.

Ezarel levantou a cabeça, olhando-a com todo o desprezo que lhe era típico. 

- Está na hora de contar a verdade. - Miiko assentiu com sua ordem.

(...)

Lua encolheu-se ainda mais na cama, tremendo de um jeito anormal. A sensação em seu coração não passara, estava quase enlouquecendo. O quarto parecia escurecer em sua volta e quanto mais fechava os olhos mais ouvia a risada macabra de Athaleos em sua mente. Não contara a ninguém o que ocorrera de verdade naquela noite. Conseguia se lembrar de tudo, cada detalhe e cada dor que sentira: a luta, os ferimentos, o poder, a fuga de Athaleos. A queimadura em seu pulso pareceu doer ainda mais.

O pesadelo não tinha fim. Tudo a assombrava e o temor era constante em sua mente. Não estava pronta. Sabia que não. Jamais desejara com tanto fervor voltar para casa. Ainda sim... Ezarel significava tudo para si. A escolha de ficar e voltar ainda não estava resolvida.

A Grande Guerra recomeçou e o Senhor das Trevas ainda vive.

Seu corpo deu um sacolejo assombroso antes de sua mão tocar em algo macio debaixo do travesseiro. Retirando-se momentaneamente de seus transes, a jovem tirou a pena negra que guardava ali apertando-a em suas mãos. Era como um amuleto que a livrava de qualquer coisa ruim, nunca sentira tanta falta de Leiftan quanto agora. De repente, enquanto enxugava o suor da testa, sua visão encontrou um papel dobrado encima da cômoda. Não tinha notado isso quando chegara ao quarto. Pegando-o com cautela, abriu seu conteúdo escrito numa perfeita caligrafia.

"Me surpreende o quanto você é ingênua, Lua. Água de Lete não tem esse nome por nenhum motivo, acha mesmo que sua presença pode ser escondida?

Contos de Fadas não existem. Cuidado com a traição, minha querida.

Leiftan."

O coração da jovem parou. Não era possível.

Seu olhar caiu para a janela aberta antes de recordar da pena negra que encontrara na floresta. Ele estivera ali? Tremendo, guardou o bilhete embaixo do travesseiro antes de sair do quarto.

Precisava verificar isso por si mesma. 

Suas pernas se moviam por vontade própria. Queria gritar. Misericórdia, será que sua vida não tinha sossego? Avançando até a Biblioteca adentrou o recinto de maneira silenciosa, Keroshane e Ykhar sorriram ao vê-la, infelizmente, a mesma não retribuiu.

- Algum problema, Lua? - perguntou Kero, preocupado. A garota assentiu.

- Eu preciso saber o que a Água de Lete faz, poderiam me dizer, por favor? É muito importante. 

Ykhar, sem responder, caçou um dos livros espalhados pela mesa até pegar um de capa verde. Abrindo-o procurou pela palavra-chave.

- Aqui diz apenas que é um componente de poções de esquecimento. É também um rio grego famoso nas histórias mitológicas. - Lua perdeu o oxigênio. Como pudera esquecer? Lete era um dos rios que estudava nas aulas de história. 

Estava perdendo o chão.

- Algum problema, minha amiga? - o espécime de unicórnio e a brownie se entreolharam, preocupados. A Cristaly estava pálida, como se estivesse prestes a desabar. - Lua?

- E-Eu... Estou bem.... Preciso ir. - correndo para fora do recinto a mesma se dirigiu até o Laboratório de Alquimia aos tropeços. Não podia acreditar. Ezarel nunca faria isso. O local bem perfumado e limpo revelou um elfo concentrado na leitura de um livro, encima da mesa um frasco de líquido branco descansava suavimente.

Seus joelhos tremeram.

- Ezarel? - o rapaz a olhou, abrindo um sorriso. Alguma coisa estava diferente.... Podia sentir.

- Estava na hora, fadinha. Venha tomar sua poção e logo tudo vai ficar bem. - pegando o frasco se aproximou dela, o sorriso continuava em seu rosto. Por outro lado, a jovem suava frio. Estava na hora de desmascarar a mentira.

- Você sabia que na mitologia grega, Lete era um rio na qual as almas do submundo tomavam para esquecer de suas vidas passadas? Era um meio de abandonar o sofrimento. - Ezarel ficou imóvel, seu coração falhou numa batida, contudo, forçou um sorriso.

- Eu também gosto de mitologia grega. Lete é um dos rios que mais me fascina... Agora você quer beber a...

- Fascina tanto que colocou até na minha poção? - a frieza nas palavras da moça o petrificaram novamente. Não sabia o que dizer. 

- Como você...

- Acha que eu sou idiota? Por que quer que eu perca a memória? Acha que Athaleos vai se enganar por isso? - a raiva era evidente no tom de voz da jovem, ver os olhos cianos que tanto amava mentirem na cara dura a fazia sentir ainda mais ódio. - Por que está fazendo isso, Ezarel? Por que não me contou a verdade? 

- Você não vai perder a memória. - garantiu ele de modo sereno. A garota franziu a testa. - Essa poção vai fazer todos aqueles que te amam e conhecem te esquecerem para sempre.

- O quê....? - dando um passo em falso a albina sentiu seu corpo fraguejar. Não podia ter escutado bem. - Está querendo dizer que eu não vou mais existir?

- Sinto muito. Mas essa é a única opção, sendo a última fada do Cristal você deve permanecer aqui, o seu mundo apenas vai atrapalhar. - enchendo a mão a moça despejou um tapa com toda sua ira na face do alquimista. Manchas vermelhas marcaram o rosto de Ezarel o fazendo abaixar a cabeça.

- Você é um monstro! Quer me usar como um imã dos pedaços do Cristal?! VOCÊ ACHA QUE EU NÃO TENHO UMA VIDA?! - lágrimas grossas rolavam pelo rosto de Lua. A dor em seu peito aumentava a cada instante a fazendo tampar os olhos. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. De repente, enquanto mantinha a visão fechada, sentiu Ezarel a puxá-la pelo braço com brutalidade. Antes que tivesse tempo de dizer algo o rapaz colou seus lábios junto aos dela, tomando-a de surpresa.

Mas o quê?

Bastou apenas poucos segundos até entender a real intenção do elfo. Enquanto estava de olhos fechados o mesmo tomara a poção em seu lugar, obrigando-a tomar por meio do beijo de modo que não houvesse escapatória. Lua se debateu, contudo, era tarde demais. O líquido espesso passava para sua boca descendo ousadamente pela garganta, sua mente nublou em milhares de pensamentos sentindo todas elas desaparecerem. Seu pai, sua mãe, sua melhor amiga, seus amigos e até mesmo sua avó Europa. Todos eles não se lembrariam mais de sua existência. Era tarde demais. Mordendo os lábios do mesmo o empurrou para longe de si, limpando a boca logo em seguida. 

- Por quê....? - lágrimas continuavam a sair, desta vez, precisou se apoiar na mesa para não desabar. Ezarel baixou o olhar, era tão covarde que sequer olhava em seus olhos.

- Ele fez isso para impedir sua fuga e para revelar a verdade de uma vez por todas. - uma voz séria inundou seus ouvidos a fazendo se virar. Do meio das prateleiras de poções surgiu a figura de Miiko, sua expressão era gélida e os olhos azuis carregavam uma estranha compreensão. Ezarel se recompôs, ainda desviando o olhar.

- Revelar a verdade? Do que está falando, Miiko? - a voz da garota estava sumindo. Suas orbes celestes voltavam-se para a kitsune e o elfo constantemente.

Eu nunca te amei. - Ezarel levantou a cabeça revelando uma expressão fria e olhos repletos de deboche. Lua paralisou com a frase. - Tudo foi um plano para te manter aqui, desde quando você chegou em Eldarya esse plano estava presente.

- Não entendo...

- PARE! Pense um pouco se você é capaz disso! - até Miiko estremeceu com a voz furiosa do alquimista. - Quando você pisou em Eldarya elaboramos uma estratégia para mantê-la aqui, alguma coisa que fizesse sua mente e coração prisioneiros. Miiko deu a ideia de um romance, um falso amor que te encantasse ao ponto de não desejar voltar. Infelizmente, eu fui o escolhido azarado.

A risada sem humor do mesmo fez a líder da Guarda Reluzente tomar a palavra.

- Sabíamos que Ezarel odiava os humanos, mas a opção era a mais sensata. Sendo seu chefe de guarda e o que mais passava tempo contigo ele era o mais indicado. - a kitsune se aproximou com cautela, sua voz era suave. - Não queríamos chegar nesse ponto, mas você acabou colaborando nesse amor e apenas levamos o plano adiante. Claro que houveram muitos imprevistos, Leiftan e Athaleos, por exemplo. Você acabou descobrindo cedo demais, não dava para parar. Ezarel até mesmo a fez cheirar uma poção para fazê-la se esquecer dos poderes, mas não deu certo. Sua aura é mais forte do que pensamos, não podemos impedir.

- Mas... E Luzzie... Você disse que... me amava. - Ezarel abriu um sorriso repleto de sarcasmo, mas seus olhos estavam amargurados. Repletos de dor.

- Eu precisava te conquistar, e não consegue isso sem mentiras, não é? - um nó se fez na garganta da Cristaly. Era um pesadelo. Iria acordar em breve e ver que tudo era uma ilusão. Esse não era o seu Ezarel. Não era. - Luzzie nunca existiu, humana. Eu precisava te ganhar de vez então forjei um drama qualquer. Uma história de amor trágica para ferir seu coração. Reconhece isso?

Lua olhou para o colar delicado que estava nas mãos de Ezarel. Aquele de vidro que continha uma flor amarela. Seu coração parou dentro do peito ao vê-lo jogar o colar no chão, quebrando os restos com o pé. Como se não valesse nada.

- Desculpe por toda essa mentira, mas era necessário. Agora não há nenhum motivo para você ir embora, não? Quem ia querer uma humana sem família que não existe mais para ninguém? Agora eu finalmente posso dizer que essa farsa acabou, não preciso mais te enganar. Mas se posso me vangloriar de algo, é que tudo foi fácil demais. Você é fácil demais, Lua. E isso me dá nojo. - a expressão de Ezarel era imersa em raiva e desprezo, não havia nenhum traço da doçura que conhecia. Ou pensava conhecer.

- Sentimos muito, Lua. Mesmo que doa é melhor acabar com a mentira do que viver numa realidade falsa. - prosseguiu Miiko - Mas precisamos de você.

Finalmente os joelhos de Lua cederam, seu corpo caiu no chão enquanto suas mãos trêmulas tampavam os ouvidos. Mentiras. Era tudo mentira. Imagens e cada recordação vivida voltou numa rapidez incrível. Havia se apaixonado. Se declarado. Se entregado de corpo e alma. Cada momento que passaram juntos.... Era um plano. Um maldito plano.

Athaleos. Leiftan. Brandon. A Velha.

Todos a tinham alertado e não quisera ouvir. Estava surda e cega num amor que não era real. Um conto de fadas que não existia. 

Uma risada macabra ecoou em sua mente seguida por um par de olhos cinzas e opacos. E então... Tudo fez sentido.

"A confiança nos outros traz a traição, o Amor que nutre em seu peito será sua destruição. E no fim, a Morte te levara, traída e sofrida por quem mais amava."

Não era uma profecia. Era um aviso. Um aviso sobre seu futuro. Tudo estava certo. A morte não era de sua carne, e sim da sua alma. Do seu amor.  Lentamente sentiu um quebrar no peito. Rachaduras se espalhavam como pragas nas plantações. Conseguia ouvir se quebrar. Mais uma vez. Mais uma vez. Cada pedaço do seu coração... Despedaçado e morto.

Ezarel tentou se aproximar da figura encolhida no chão, mas era tarde demais. Do fundo de sua garganta Lua liberou um grito amargurado e ensurdecedor. Um grito tão alto, capaz de libertar todas as dores mais profundas que sentia. No mesmo instante, frascos de poções, tubos de ensaio e potes vazios explodiram em um turbilhão de pedaços de vidro. Ezarel e Miiko se protegeram dos minúsculos fragmentos cortantes, tampando a visão, e ao abrirem os olhos buscando no meio daquele mar de coisas quebradas e ingredientes estragados...

Lua havia desaparecido.

[...]

Correr era a única coisa que fazia. O grito e a explosão atraiu diversos faerys até o Laboratório, sem nada entenderem. Lua correu o mais rápido possível, mesmo tropeçando nos degraus e ignorando chamados alcançou seu quarto fechando a porta com toda força que tinha. Suas pernas cederam novamente. Suas mãos agarravam os cabelos até ficarem sem circulação de sangue.

Malditos. MALDITOS!!

Idiota. Burra. Ingênua. Fraca. Imbecil. 

Milhares de xingamentos inundavam sua mente enquanto mais gritos abafados saiam. Estava acabada. Sua tristeza competia com seu ódio a fazendo desejar a morte de todos eles. Que Ezarel sofresse até o último de seus dias. Que Eldarya inteira queimasse no fogo do inferno.

- MALDITOS! - avançando contra os móveis de seus quarto jogou todos eles no chão, quebrou utensílios, rasgou vestidos. Nada adiantava. Sua dor não tinha fim. Levando uma das mãos até o peito desejou arrancar seu coração à força, seus dedos arranhavam a pele tão forte que estava quase ao ponto de sangrar. Maldito orgão sofredor. - Você vai me pagar, Ezarel... 

Avançando até a adaga cravejada de rubis que um dia pertencera ao Mascarado, segurou-a com força, tremendo. Sentia ódio. Cada célula queimava em ódio. Ainda chorando, Lua viu seu longo cabelo branco escorrer pelo chão. Não conseguiria feri-los. Sabia disso.

Agarrando seu cabelo com brutalidade cortou uma longa mecha tentando aplacar a dor que sentia. Mãe. Cortou outra mecha. Pai. Cortou outra. Lynn. E outra. Castiel. E outra. Lysandre. E outra. E outra. E outra. A adaga voava sem piedade contra seus cabelos, tirando uma por uma... Até que não houvesse mais nada para cortar.

Seus olhos turvados encontraram o espelho na parede, notando seu reflexo abatido e com os cabelos cortados acima do queixo. A montanha de mechas prateadas jogadas no chão foi o bastante para fazê-la jogar a adaga contra o espelho. Quebrando-o em milhões de pedaços.

Não tinha mais nada. Ninguém. Desejava apenas a morte.

- Por favor... Me leve daqui... - sua súplica não tinha destino, apenas saia livremente, tentando alcançar alguém que lhe tirasse a dor. 

Até que alguém a chamou. 

Levantando a face, Lua viu diante de si uma figura encapuzada a observando com doçura. Os olhos esmeraldas refletiam dor mas também compreensão. A garota enxugou as lágrimas, incrédula.

- Venha comigo, Lua. Vou te levar para casa... - Leiftan ofereceu a mão, aguardando pela sua amada.

Desta vez não houve hesitamento, nem perguntas. Sem sequer dizer uma única palavra, Lua estendeu a mão, segurando-a como um último fio de esperança.

(...)

- LUA!! - Ezarel correu para fora do Laboratório empurrando todos que estivessem na sua frente. Não escutava nenhuma pergunta ou comentário dos seus amigos. Tudo o que desejava era alcançar aquela que tanto amava.

Lua era sua vida. Jamais sentira tamanha dor ao fazé-lá sofrer daquele jeito.

Gritando por seu nome, avançou até seu quarto batendo com força na porta. Ninguém respondeu. Retirando a chave reserva na qual sempre guardava no bolso abriu a porta com brutalidade, sentindo seu mundo inteiro desabar.

Não era possível.

Passando por cima de toda a bagunça correu até a janela sem perceber que já estava chorando. Seu grito ecoou por toda Fortaleza de Eel num lamento torturante. Era tarde demais.

 

 

Ela se fora. Para sempre.


Notas Finais


....

Desculpem pelas notas iniciais, mas quis incorporar a Lua nesse capítulo.

Nem sei o que dizer, vou deixá-los falarem por si mesmos. Lembrando que o próximo é o último capítulo da primeira temporada.

VAI TER SURPRESA!!


Kiss de Prata e até a próxima (>^-^)>


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