História I Love You, Idiot Elf! - Apenas a Saudade não se Apaga

Os raios solares cintilavam por entre as folhas das árvores mostrando o belo dia que nascera, o toque quente do Sol em seu rosto foi o bastante para fazê-la despertar de seu sono profundo, satisfeita pela noite bem dormida embora alguns fatos ruins a tivessem perturbado antes de dormir como uma pequena discussão com um certo elfo de cabelos azuis. Antes que pudesse levantar a albina sentiu um suave peso sobre o corpo, algo macio e confortável que lhe cobria por inteira, olhando para baixo notou uma pequena manta de pelagem clara sobre si, no momento soube a quem pertencia. Mesmo franzindo a testa a garota não deixou de sentir gratidão com o ato bondoso de Ezarel mesmo depois de tudo que ocorrera ontem, Lua esticou o corpo se espreguiçando e ao levantar levou o cobertor as narinas aspirando o doce perfume de flores e mel que continha do elfo. Era quase como cheirar um vasto campo de flores silvestres. Sorrindo por um breve instante a mesma olhou em volta procurando agradecer ao rapaz, contudo, ele não estava presente. Apenas as bolsas de vestimentas e remédios permaneciam encostadas num tronco de árvore qualquer.

- Ezarel? - chamou baixinho. O espaço vazio provocou um arrepio na moça que temendo que o elfo tivesse partido sem ela correu para procurá-lo. Sentia uma tensão no peito e por um momento quase se esquecera que estava zangada com ele, Lua apressou o passo olhando em sua volta quando avistou uma cabeleira azul por entre as folhagens. Um suspiro de alívio foi solto e mesmo hesitante se aproximou, curiosa para saber o que ele fazia.

- Bom dia. - cumprimentou, sem expressão. Ezarel deu um pequeno sobressalto, virando-se surpreso.

- Bom dia. - respondeu secamente por fim. Lua franziu a testa, indignada consigo mesma por não saber o que fazer. Queria agradecer, sabia que devia, mas por que era tão difícil? 

- Eu... Quer dizer, eu queria agradecer por ter... Me emprestado a sua coberta. - soltando a frase com rapidez desejou sair dali o mais rápido possível. Sem perceber seu rosto começou a ruborizar.

- Você estava tremendo muito ontem a noite, acordei várias vezes com as suas reviradas no chão, então decidi cobri-la antes que morresse congelada. - o elfo não se virou mantendo-se concentrado em algo. A albina esfregou uma mão na outra nervosamente antes de se aproximar para ver o que o mesmo fazia. No chão, numa pequena vasilha de barro o alquimista preparava algo parecido com uma bolacha branca de aparência bonita, curiosa, Lua esticou o pescoço assistindo em silêncio a preparação da comida, um silêncio perturbador preencheu o lugar.

- V- Você dormiu bem? - indagou, querendo quebrar a tensão. Incrivelmente o elfo se virou para ela, demonstrando quaisquer expressão.

- Dormi sim. Descobri que você não ronca. - sem saber o porquê Lua soltou uma pequena risada, mas ao perceber o que fazia pigarreou voltando para a expressão séria. O rapaz a encarou em silêncio antes de se levantar num pulo gracioso. - Tome. - disse entregando um pedaço do alimento branco. - É chamada de Cirela, uma bolacha com capacidade de cessar a fome por horas. Muito usada em viagens mas coma devagar, pode causar indigestão. 

Lua mastigou a estranha bolacha na boca sentindo um delicioso sabor de frutas vermelhas com mistura de leite, era extremamente maravilhoso e inovador. Contudo, seguiu a risca o aviso do elfo comendo o mais devagar que podia. Ezarel fez o mesmo, mas estranhamente nada disse enquanto comia, sem esboçar qualquer reação que não fosse indiferença, o que era raro de sua parte.

- Huummm delicioso. Deveria ter isso em meu mundo. - sorriu. O mesmo olhou para a garota seriamente antes de se afastar. 

- Vamos! Temos que seguir em frente. 

Lua suspirou alto, por mais que estivesse com raiva e o mesmo vivesse enchendo seu saco não conseguia deixar de sentir saudades do seu sorriso e seu jeito irritante de ser. Mas porque se importava tanto com isso se existia apenas ódio entre eles?

***

Os pedregulhos aumentavam a medida que avançavam sob a floresta, folhas secas eram esmagadas sobre seus pés e cada vez mais a mata se fechava ao redor. Deveria ser meio dia já que o Sol estava no pico de sua altitude, enquanto caminhavam um atrás do outro nenhum de ambos pronunciou uma única palavra, exceto pelas pausas de descanso onde os pesos eram trocados.

Por mais que fingissem nenhum dos dois podia negar que sentia falta um do outro nas conversas e risos, era quase uma tortura que se alastrava por todo o corpo. Ezarel sentia seu peito doer graças a maldita doença humana toda vez que olhava para a jovem calada, queria dizer algo, talvez um pedido de desculpas ou uma provocação mas ao lembrar das duras palavras ditas pela mesma sua vontade se esvaía, embora soubesse que tinha feito muito pior com ela. Eram quase duas da tarde quando se aproximaram de um extenso rio de águas transparentes, a correnteza forte produzia altos sons que foi logo atraído pelo casal. 

- Preciso encher meu cantil pois a água acabou. - pronunciou a faeliena se aproximando do rio.

O elfo assentindo se afastou dela que aproximando-se da margem em passos rápidos não percebeu uma pequena pedra pontiaguda a frente, de repente, em questão de segundos a albina se viu tropeçando na pedra para logo em seguida ser engolida pelas águas. Lua se debateu o máximo que pôde forçando seu corpo a emergir, sua respiração se perdia em grandes bolhas de ar enquanto o medo tomava conta de si. Iria morrer. Ezarel ouvindo os gritos altos da garota se virou bem a tempo de ver a mesma afundando nas águas, se debatendo o quanto podia para tentar se salvar.

- Ezarel!... S-socorro... Não sei... Nadar... - o elfo arregalou os olhos sentindo uma pontada forte no peito, em um curto espaço de tempo tirou sua blusa e cinto correndo até ela num desespero anormal. Não a deixaria morrer. Não perderia ela de jeito nenhum.

A correnteza forte a impedia de se mover, água entrava pela sua boca e nariz avançando ousadamente para seus pulmões, por mais que tentasse agitar os braços se via afundando cada vez mais no rio. Embaixo d'água um silêncio mortal se preencheu por seus ouvidos, não conseguia distinguir mais nada a não ser as restantes bolhas de ar que escapavam de seus lábios. Onde estava ele? Realmente a  deixaria morrer afogada?

Me desculpe, Ezarel... - sussurrou em pensamentos desejando apenas que a mensagem chegasse até ele.

Sua consciência se esvaiu em questões de segundos, diante de seus olhos quase fechados uma figura se aproximou de braços esticados tentando mais que tudo alcançar a sua garota irritante. Infelizmente, era tarde demais. A escuridão tomou conta de sua mente que se apagou em instantes.