História I Saved You - Eclipse

O céu estava nublado, as nuvens cinzas já escondiam os poucos raios de Sol e os trovões já eram audíveis. Minhas mãos estavam trêmulas e suadas com medo da reação da Bella, minhas pernas fraquejavam. Meu Deus, por que isso tudo? É só um beijo. Tudo bem que não é um beijo qualquer, além de ser o primeiro beijo do meu raio de sol, é o beijo do amor da minha vida, o primeiro e planejado por mim. A Bella é impulsiva, como será que ela irá reagir? Mesmo com todo o medo, continuei caminhando na direção da academia, o prédio estava escuro, a única luz acesa era a da academia e já dava para ouvir o som dos socos que Bella dava no saco. Entrei devagar, tentando fazer o mínimo de barulho e parei na porta, observando-a. Seu corpo é incrivelmente perfeito, enquanto eu a olhava tudo parecia estar em câmera lenta, me permitindo ver todos os seus mínimos detalhes. O suor escorrendo pelo seu pescoço e rosto, o jeito que ela jogava os cabelos para trás, os seus olhos estavam semicerrados e fixados no saco, seus lábios estavam entreabertos e seus músculos se contraiam conforme ela se movia. E mesmo com tudo isso, ela parecia estar desconcentrada, já que parava constantemente, parecendo estar com raiva. Falta coragem para andar, minhas pernas estavam paralisadas, pareciam não estar sob o meu comando. 

-Mas que inferno! - Sussurrei e subi as escadas para as salas da Ribalta. Entrei na sala de música e me joguei no palco. - Por que eu sou tão covarde? - Falei, olhando para o teto. Andei até o meu violão e me sentei no palco, tocando as primeiras notas da música favorita da Bella. No mesmo instante, todos os cantos escuros do prédio foram iluminados por um raio, me fazendo levar um susto. 

POV Bella

-Por que eu sou tão covarde? - Me perguntei, dando mais um soco no saco. Eu estava totalmente desconcentrada, não estava conseguindo treinar, meus pensamentos estavam apenas em um garoto de cabelos cacheados. Me sentei no chão, encolhendo as pernas ao meu corpo. Pelo vidro da academia dava para perceber que o céu estava escurecendo, os poucos raios de sol estavam sendo cobertos pelas nuvens escuras e já era possível ouvir o barulho dos trovões. Isso sempre me assustou, sempre tive medo de vento, raios e trovões. Sempre fiquei sozinha no meu quarto, encolhida e morrendo de medo quando chovia desse jeito, meu pai nunca pensou em me proteger. O vento já estava forte o suficiente para me fazer ficar ali e a chuva já caía. Sempre fiquei sozinha em tempestades, poderia ficar mais uma vez. Todos os lados do prédio foram iluminados por um raio que me fez me encolher mais e esconder a cabeça entre os joelhos. Eu realmente tinha muito medo. Um trovão alto me fez soltar um grito preso na minha garganta. As poucas luzes acesas ali apagaram e eu revirei os olhos, era o que faltava. Um grito de dor ecoou pelo ambiente e eu me levantei assustada. Tinha mais alguém ali. -Mãe? - Gritei, pensando na possibilidade da minha mãe estar ali. Andei lentamente até a porta, iluminando um pouco com o visor do celular. Não tinha ninguém ali, o que me deixou mais assustada ainda. - Mãe? - Perguntei novamente e não obtive respostas. Me virei para voltar para a academia mas ouvi novamente um barulho, vindo da escada. 

-Bella? - A voz era conhecida, a mesma voz rouca e alegre. Rafael. 

-Rafael? O que está fazendo aqui? - Perguntei, observando ele descer as escadas esbarrando em tudo. Ri fraco e ele se aproximou de mim. 

-Vim te procurar. - Ele falou, baixo. 

-Mas eu estava ali o tempo todo. E você estava lá em cima. - Abaixei a cabeça e ele segurou meu queixo, fazendo com que eu o olhasse. - O que foi? 

-Gosto dos seus olhos. - Ele disse baixo. - Amo essa imensidão que você carrega dentro deles, seus olhos são misteriosos. 

-Misteriosos? - Perguntei, com um sorriso fraco em meu rosto. 

-Exatamente. - Seus dedos acariciaram levemente meu rosto e eu fechei os olhos. - Abre os olhos. Eu quero desvendar todos esses mistérios. 

-E você está esperando o que? - Juntei a pouca coragem que existia dentro de mim e deixei escapar. Ele sorriu fraco e uniu nossas testas. Nossos olhos se encontraram mas se fecharam rapidamente. Não dizem que as melhores coisas não são para serem vistas e sim, sentidas? Foi exatamente o que eu senti quando seus lábios colaram nos meus. 

Eclipse. 

Uma de suas mãos foi para a minha cintura, me puxando para perto do seu corpo. Levei minhas mãos para seus cabelos, puxando-o para mim. Meu Deus, meu primeiro beijo estava acontecendo. Abracei-o forte, encostando minha cabeça em seu peito. Mais uma vez, um trovão soou alto pelo ambiente e eu o abracei o mais forte que eu pude. 

-Tem medo? - Assenti e ele nos separou, segurando minha mão. - Vem comigo. - Andamos até a academia e ele se sentou no chão. Me sentei ao seu lado e ele envolveu meus ombros, me puxando para perto. - Você parece tensa.

-É que você sabe, não é? Foi meu pri...

-Eu sei. - Ele me interrompeu e beijou meus cabelos. - Foi ótimo, fica tranquila. 

-Sério? - Perguntei, olhando-o e ele assentiu. Encostei minha cabeça em seu ombro e a cada raio que iluminava a academia, a cada trovão, eu o abraçava mais forte. 

-Por que tanto medo? 

-Eu nunca tive alguém pra ficar comigo durante as tempestades. Então, sempre tive muito medo. - Falei baixo e ele segurou meu queixo novamente. 

-Agora você tem a mim. - Ele disse e eu sorri. - Tudo bem que você tem os seus pais, a Bruna, a Jenny e a Anaju mas jamais se esqueça que eu estou aqui pra sempre. Não se preocupe, meu amor. Eu sempre irei salvá-la. 

-Promete? 

-Prometo. - Ele respondeu e uniu novamente nossos lábios. - Nós somos como o eclipse lunar. 

-Você anda lendo meus pensamentos? - Perguntei e ele riu. - É sério, eu estou pensando nessa coisa de eclipse desde ontem. 

-Eu sou o Sol e... 

-E eu a Lua. - Falei e ele assentiu, sorrindo. 

-Na lenda, Deus deu as estrelas para a Lua não se sentir solitária. As suas estrelas são seus olhos. - Ele falou, olhando diretamente nos meus olhos. - Mas a única coisa que é diferente, é que o nosso eclipse acontecerá pra sempre, nenhum obstáculo me deixará longe da minha Lua. 

-Mas por que você me chama de raio de sol? 

-Porque o Sol precisa dos raios para brilhar e eu preciso de você... - Sorri fraco, abaixando a cabeça. 

-Mas o Sol tem brilho próprio, igual a você. Você brilha sozinho, sem esforço nenhum. 

-O Sol precisa dos raios para brilhar - ele acariciou meu rosto novamente - eu preciso de você para respirar. 

-Rafa... 

-Eu estou falando sério, Bella... - Ele disse, sério mas logo sorriu. 

-Mas por que eu? 

-Eu encontrei em você o que faltava em mim. 

-Mas nós somos tão diferentes. - Falei e ele assentiu. 

-Exatamente! Toda a sua coragem, sua força, sua determinação, era isso que faltava em mim e você me deu. Eu não tenho muita coragem mas isso não vem ao caso. 

-Você realmente têm muita coragem... Está aqui, me beijando. Aqui têm câmeras, meu pai pode estar nos observando nesse momento. - Falei e ele tremeu. - Relaxa, bobo. Tem câmeras mesmo mas você esqueceu que faltou luz? 

-Esqueci. - Ele disse e nós rimos. - Mas eu não tenho medo dele. Eu tenho pavor. 

-Para de ser medroso. - Falei e ele negou. 

-Impossível. O medo é parte de mim. 

-Mas você me protege sempre, não parece ter tanto medo assim. 

-A vontade de te proteger é maior que todo o medo que existe dentro de mim. E olha que o que mais tem dentro de mim é medo. - Ri novamente e ele me abraçou. 

-Eu tenho medo. - Falei e ele me olhou curioso. - Medo do meu pai biológico aparecer, medo de não poder ficar com meus pais, medo de ficar longe de você. 

-Bella... Vai dar tudo certo e independente de qualquer coisa, eu não vou deixar ninguém tirar você de mim. Entendeu? - Assenti e ele beijou minha testa. 

-Rafa, como você soube que eu estava aqui na academia? - Perguntei e ele sorriu. 

-Tenho meus contatos. 

-E esses contatos por acaso se chamam Bruna, Jennifer e Anaju? - Ele assentiu e eu revirei os olhos. - Elas são demais. 

-Elas querem ver você feliz. 

-E eu estou. - Falei fazendo com que nossos olhos se encontrassem novamente. - Eu nunca me senti tão feliz. - Encostei a cabeça em seu peito e fechei os olhos. (...) 

-Acordem! - Ouvimos a voz de Bruna e nos levantamos imediatamente. - A luz voltou, a chuva parou, a cena estava linda mas seu pai virá atrás de você se não for embora logo. - Ela falou e eu cocei os olhos. - São 21:00. 

-Oi? - Perguntei, incrédula. 

-Isso mesmo, vai pra casa. - Ela disse e antes de eu poder correr, Rafael me puxou e selou nossos lábios. Bruna nos olhava com um sorriso e eu revirei os olhos para ela. - Depois você me agradece. Vai logo, te amo. 

-Tchau! - Falei, fechei a academia e corri para casa. Assim que abri, meus pais levantaram. 

-Onde você estava? - Meu pai perguntou. 

-Na academia. - Falei. 

-Ficou esse tempo todo lá? - Assenti. - Ótimo. 

-Eu vou tomar banho e estarei no meu quarto. - Falei e corri para o quarto. 

Finalmente. 

POV Rafael 

-Obrigada, Bruna. - Falei e a abracei, assim que a Bella saiu correndo dali. 

-Não precisa agradecer, eu quero ver vocês felizes. A Bella é como se fosse a minha irmãzinha. - Ela disse, sorrindo. 

-Vamos, eu tenho que ir pra casa. - Falei e abracei-a novamente. Fui caminhando lentamente até chegar em casa. Assim que abri a porta, minha mãe veio na minha direção. 

-Onde você estava, Rafael? - Ela perguntou e eu sorri. 

-Por aí. - Falei e ela revirou os olhos.

-Com esse sorriso aí? Ele estava com a Bella. - Chico falou e eu dei um tapa em seu pescoço.

-Cala essa boca. Só um pouquinho. - Falei e ele deu de ombros. - Se precisarem de mim, estarei no meu quarto. - Subi correndo e assim que entrei, me joguei na cama. 

Eu estava me sentindo diferente. Quando eu a beijei, pareceu que era meu primeiro beijo e, sinceramente, foi o melhor beijo que eu dei em toda a minha vida. Eu me sentia com um dever a cumprir, e o meu dever é fazer a Bella feliz, fazê-la se sentir protegida, amada e especial. E eu farei, não irei medir esforços para que eu nunca veja uma lágrima escorrer de seus olhos, a não ser que seja de felicidade. Farei o possível e o impossível para manter aquele sorriso lindo em seu rosto. Irei cuidar do seu coração com a minha vida. Eu estava me sentindo bem, eu estava me sentindo completo. 

Finalmente. 

(...)

Me levantei mais cedo hoje. Fui até o banheiro, escovei os dentes rapidamente e troquei de roupa. Quando desci, meus pais já estavam arrumando a mesa para o café da manhã.

-Bom dia, filho. Acordou cedo. - Meu pai falou e eu assenti. 

-Perdi o sono. - Falei e minha mãe assentiu. 

-E essa insônia tem olhos azuis? - Ela perguntou e eu ri. 

-Ah, e o nome é Isabella? 

-Vocês podiam parar um pouco, não é? - Falei e eles riram. - Estou com fome. 

-Normal. - Meu pai falou. Depois de tomar o café, saí de casa na esperança de encontrar a Bella mas acho que está cedo demais para encontrar a Bella aqui num domingo. Me sentei em um dos bancos da praça e peguei meu celular. 

-Rafael! - Ouvi a voz da Bella me gritando e me levantei, vendo-a parada na porta da sua casa, com um sorriso lindo em seu rosto. Assim que eu me virei, ela correu na minha direção e pulou no meu colo, me fazendo rir. 

-Bom dia, raio de sol! O que aconteceu? 

-Eu tenho uma novidade pra você!