Depois de finalmente deixar a garota de olhos coloridos sozinha no banheiro, Adora se encostou na porta com os olhos fechados, sentindo uma pancadinha de vento acariciar seu rosto, vindo direto da varanda do quarto. Na sua mente, Adora ainda conservava o desenho perfeito das curvas leves e acentuadas que se formavam pela barriga, cintura e quadril de Catra. A pele de tom caramelo ainda mantinha alguns resquícios de água, formando pequenas gotas que teimavam em escorrer lentamente pelo abdomem da garota enquanto deslizavam com facilidade até a barra da calcinha vermelha minimamente a mostra. Toda vez que os olhos de Adora se fixavam na camisa branca em suas mãos, a imagem de Catra desabotoando botão por botão invadia sua mente como se pertencesse ali.
Adora com certeza já havia visto dezenas de garotas só de top, inclusive ela mesma se vestia assim muitas vezes na hora dos treinos, de shortinho folgado, com o tênis de sempre e um top confortável. Mas com Catra era diferente. Adora sentia desejo por ela, sentia vontade de tocá-la, vontade de beijá-la e isso parecia estar lhe consumindo a um ponto em que a loira não estava mais aguentando ficar perto daquela garota, não daquele jeito. E justamente por conta disso, ela preferiu tirar aqueles pensamentos da cabeça, pelo menos por enquanto, afinal… Catra ainda estava ali, do outro lado da porta, provavelmente nua e isso era convidativo demais ao corpo quente e molhado de Adora.
Assim que conseguiu conter sua vontade de dar uma espiadinha pela porta, Adora foi até seu closet e pegou algumas roupas pra si, deixando seu par de tênis molhados na varanda do quarto pra secar. Ela estava torcendo que Catra saísse logo do banheiro e deixasse o cômodo livre, afinal, Adora ainda estava encharcada e o tecido se tornava cada vez mais pesado por causa disso.
Alguns longos minutos já haviam se passado e Adora ainda não estava escutando nenhum barulho de água vindo do banheiro, o que na sua cabeça já se tornava um sinal de que talvez Catra não estivesse se sentindo bem, deixando a loira preocupada. Mas quando a menina propositalmente se aproximou um pouco mais da porta, pôde ouvir alguns passos e a voz resmungona de Catra falando alguma coisa que ela não conseguia entender.
Como não queria incomodar, Adora tentou ao máximo não fazer muito barulho e nem mesmo bater, mas estava tão curiosa pra saber o que Catra estava resmungando que ela simplesmente colou sua orelha na madeira com cautela. Apesar da porta ser grossa, agora Adora conseguia ouvir perfeitamente a voz da garota dizendo:
“A única coisa que eu queria agora é…”
- … Adora ? - No momento em que a loira ouviu seu nome ser chamado por Glimmer com estranheza, sua única reação foi dar um pulo de susto, tropeçando sem querer num montinho de livros que ela mesma havia deixado ao pé da escrivaninha e quase caindo sobre eles antes de encarar a presença confusa de Glimmer na porta, que já estava de roupa trocada e cabelo penteado. Catra havia demorado tanto assim ?
- Ahm… Oi ! - A loira disse, acenando pra Glimmer de um jeito estranho e chutando os livros pra trás com o calcanhar como se isso fosse capaz de esconder o real motivo do seu tropeço de segundos atrás.
- … Eu não vou nem perguntar - Glimmer revirou os olhos impaciente - Cadê a Catra ? -
- No banho - Adora apontou pra trás de si com o polegar e um sorriso nervoso. Lá estava sua mente de novo, reproduzindo uma possível imagem de Catra, nua…
- Okay, isso foi definitivamente estranho - A baixinha fez uma expressão semelhante a uma careta quando finalmente entendeu o porquê que Adora estava com a orelha colada na porta do banheiro.
- Ahm… Falando em "definitivamente"... Se tem uma coisa que eu definitivamente tô, é com fome. E você ? Tá com fome ? - Adora tocou no ponto fraco de Glimmer numa tentativa desesperada de mudar de assunto.
- Claro que sim! - Como se tivesse invocado um monstro, a barriga de Glimmer começou a roncar baixinho assim que Adora mencionou a palavra fome.
- Acho que os meninos e a Catra também estão. Afinal, a gente passou a noite toda só conversando a base de energético e petiscos… - Apesar de ter sido uma festa incrível, já passava e muito das sete da manhã agora e Adora realmente estava começando a sentir fome. - Deixa eu resolver isso, rapidinho - Enquanto Glimmer continuava encostada na entrada do quarto, Adora pegou um telefone branco que ficava preso na parede, bem ao lado da sua cama, discando alguns números antes de começar a falar francês baixinho com um tom de voz que Glimmer continuava achando engraçado mesmo que já tivesse escutado centenas de vezes.
Enquanto Adora falava ao telefone, Glimmer ficava fazendo uma mímica idiota, performando vários tipos divertidos de biquinhos, fingindo falar francês também.
- Para! - Adora sussurrou risonha, afastando de leve o telefone da boca e usando uma das mãos para abafar o som enquanto uma voz grave lhe confirmava várias informações a respeito do pedido. Demorou apenas mais alguns poucos segundos pra Adora se despedir com as únicas palavras em francês que Glimmer tinha conseguido aprender, “au revoir”.
- Ai… Eu nunca vou me cansar disso. - A baixinha de cabelo rosa esfregava os olhos marejados enquanto ria naturalmente.
- Merci - Adora sorriu, arrastando um pouco a voz propositalmente na pronúncia do R.
- A propósito, o outro banheiro tá livre, se você quiser. -
- Ah, sim! Eu… Acho que vou pra lá mesmo, a Catra tá demorando bastante. Talvez ela ainda esteja tentando se recuperar do susto. - A loira mentiu, sabendo muito bem que Catra estava ótima, inclusive ótima o suficiente para provocá-la desabotoando aquela camisa quase transparente… E essa imagem era tudo na cabeça de Adora, que tentava parecer o mais natural possível enquanto falava… O que claramente não estava funcionando.
Quando a loira pegou suas roupas e passou ao lado de Glimmer na entrada do quarto, indo em direção ao banheiro do corredor, a baixinha de cabelo rosa segurou seu braço com delicadeza, fazendo Adora olhar pra ela ligeiramente confusa.
- Me… Desculpa por ontem. Eu sei que fui uma babaca preconceituosa com a Catra só porque ela mora na Crimson Waste. - Glimmer falou baixinho, encarando o chão envergonhada. - Você é a minha melhor amiga e… Eu tenho medo. Tenho medo que ela magoe você Adora. A Catra com certeza não é... como a gente… - Agora a baixinha usava seu dedo indicador para apontar de forma alternada entre si mesma e Adora - Você entende o que eu quero dizer ? - Pelo jeito como Glimmer lhe encarava, Adora conseguiu de fato assimilar em qual ponto a amiga estava querendo chegar.
- E-Eu e a Catra não fizemos nada uma com a outra, quero dizer, juntas! E não estamos nem saindo nem nada, eu só queria dançar com ela na festa e tava sendo tão bom e… - Adora começou a se explicar nervosa, mas foi interrompida por uma Glimmer vermelha, que escondia o rosto com uma das mãos, se perguntando o porquê de Adora ter que trazer aquela imagem de novo de volta a sua mente.
- Adora, eu sei! - A menina tratou de deixar bem claro que não estava insinuando nada - É só que… Eu não quero que ela use você. Então, por favor, não perca a cabeça. - Glimmer pediu com preocupação, vendo Adora sorrir de leve apesar do nervosismo.
- Tá tudo bem. Eu não vou deixar que ela faça nada que eu não queira, okay ? - Assim que terminou a frase, Adora se tocou do que havia dito e Glimmer deixou que seu queixo pequeno caísse involuntariamente, chocada. Se não fosse sua mandíbula segurando o maxilar com firmeza no lugar certo, com certeza o queixo da baixinha teria desabado no chão com violência.
- ENTÃO VOCÊ QUER MESMO ALGUMA COISA ?! - Glimmer perguntou quase num berro e Adora sentiu que sua cabeça ia explodir de tão vermelha. Catra não podia ouvir aquela conversa lá do banheiro, podia ?
- BANHO! - A loira gritou de volta de um jeito nervoso e correu na direção do banheiro como se sua vida dependesse disso, deixando pra trás uma baixinha de cabelo rosa chocada que agora tentava assimilar na sua cabeça que Adora realmente tinha algum interesse por Catra… E ela teria que aprender a lidar com isso.
Ao mesmo tempo em que Glimmer se mantinha petrificada no corredor, Catra continuava rondando aquela banheira impacientemente, procurando alguma indicação de como fazer aquele retângulo chique se encher de água quente e espuma, que nem ela via nos filmes.
- Não é possível que não tenha um botão de ligar, uma chave ou uma torneira! - A menina resmungava consigo mesma enquanto contava os seis jatos grandes direcionais e os oito mini jatos específicos para as costas. - Talvez se eu olhar de dentro… - Catra ponderou com a mão massageando de leve o queixo. Se não estava do lado de fora, talvez estivesse do lado de dentro, de acordo com a sua lógica.
Sendo assim, com cuidado, ela entrou na banheira branca e perfeitamente emoldurada por uma plataforma de mármore que parecia dar continuidade nas laterais, fazendo a banheira parecer uma espécie de mini piscina chique. Mas só de pensar em piscina, Catra sentiu um leve refluxo com gosto de cloro, fazendo uma careta.
- Hm… Vamos lá… Botão, botão, botão… - Ela estreitava os olhos procurando com cautela até sentir um alto relevo na pontinha dos dedos - Achei! - A menina de olhos coloridos e sorriso feliz pareceu comemorar consigo mesma ao notar um pequeno painel digital, bem próximo ao lugar onde ela supostamente deveria se encostar, de acordo com a posição do travesseiro confortável que claramente servia pra apoiar o pescoço. Mas para o azar da garota, a legenda dos botões estavam numa língua estranha, que Catra não conhecia - Claro. Por que eu imaginei que uma coisa chique dessas estaria em português ? - Ela ironizou baixinho. Adora parecia ser mais rica do que ela pensava e parando pra avaliar com calma, isso era meio assustador.
Depois de alguns segundos de receio, finalmente Catra decidiu que daria seu jeito, como sempre.
- O botão de ligar é sempre o maior, então deve ser esse - Ela pensou em voz alta enquanto apertava um botão redondo que respondeu ao seu toque se iluminando na cor azul turquesa e em seguida fazendo todo o painel se acender também. A única coisa que Catra havia entendido daquilo tudo, era que o painel era à prova d’água por causa da película de vidro que havia por cima dele. - Okay, okay… Vamos lá. - Depois de mais alguns segundos ponderando sobre o que fazer, Catra resolveu simplesmente seguir seu instinto e apertar o primeiro botão da esquerda, o que lhe chamou atenção. E por sorte, era justamente o botão que fazia a banheira encher. - Eu sou um gênio! Quem precisa aprender outra língua só pra tomar banho ? Tsc… Que perda de tempo - Seu sorriso presunçoso e convencido já tomava conta de quase todo rosto, enquanto ela escolhia ansiosa o próximo botão, com a sensação levemente incômoda da água começando a subir e molhar de leve as suas coxas.
Num ato ansioso e impensado, Catra simplesmente resolveu apertar mais dois botões, que aparentemente não fizeram nada, deixando a garota de olhos coloridos frustrada. Se os botões estavam ali, com certeza deveriam servir pra alguma coisa. Sendo assim, Catra teimou em apertar novamente. Só que, mais uma vez nada aconteceu… Ou pelo menos, foi o que ela pensou, até o momento em que o painel da banheira resolveu começar a piscar de um jeito estranho que chamou sua atenção pra lá.
Enquanto a menina tentava entender o que de fato estava acontecendo, a banheira emitiu um som longo, alto e agudo, do nada. O que acabou assustando Catra numa proporção maior do que ela poderia imaginar, principalmente quando um belo conjunto de oito mini jatos resolveram acertar as costas dela com uma rajada feroz de água gelada, que fez a morena soltar um grito fino e apavorado, tentando a todo custo se levantar. Mas o piso da banheira estava inexplicavelmente escorregadio, e Catra acabou simplesmente caindo sentada na água de novo, enquanto o jato mais alto acertava sua cabeça por trás, fazendo com que seus cabelos longos e negros fossem jogados pra frente pela potência da água.
Em meio ao desespero, somente agora Catra havia percebido que junto com os jatos, ela também havia ativado dois compartimentos laterais, que estavam liberando algum tipo de líquido rosa.
Não demorou menos que três segundos pra Catra finalmente assimilar que o líquido era, na verdade, uma espécie de sabão. A menina chegou a essa conclusão genial justamente pela quantidade enorme de espuma que começava a se formar na linha do seu quadril e continuava subindo rapidamente até sua barriga. A banheira estava enchendo muito, muito rápido, com jatos vindos de toda parte.
Desesperada, Catra começou a apertar todos os botões de uma vez só enquanto xingava a banheira com todos os palavrões que ela conhecia. Mas nada fazia a água parar de subir, muito pelo contrário. A cada botão apertado, a banheira iniciava uma nova série de funções aleatórias como ligar as luzes de fundo, escolher uma playlist do spotify, adicionar sais de banho, selecionar a intensidade da água, mas nada resolvia o problema e a espuma continuava subindo com velocidade.
Somente quando as bolhas já estavam quase chegando na linha do seu pescoço, foi que Catra fechou os olhos com força e decidiu apertar o maior botão do painel de novo, torcendo pra que ele fizesse tudo aquilo parar… E pelo menos naquela única vez, seus pedidos foram atendidos.
Quando o dedo trêmulo em conjunto com a unha preta firme e comprida se afastou de forma lenta e receosa do botão, a banheira voltou a normalidade, cessando os jatos d’água e diminuindo gradativamente a quantidade de líquido rosa enquanto o painel se apagava de novo. Depois de alguns segundos, com seus olhos coloridos arregalados, Catra finalmente se permitiu soltar todo ar que havia aprisionado nos pulmões durante aquele pequeno teste de sobrevivência pré-apocalíptico.
- Swift Wind estava certo. - Ela pensou por um segundo - Essa coisa de tecnologia ainda vai destruir a humanidade… - Com dificuldade, Catra tentava ampliar sua visão usando uma das mãos pra abanar com raiva uma quantidade considerável de espuma que havia se formado bem na frente do seu rosto, com uma expressão mau humorada. - Isso não foi nada como nos filmes… - A menina resmungou, se sentindo enganada. - Pelo menos eu sei onde fica o ralo… - Por sorte, Catra havia notado uma pequena correntinha que segurava o tampo de inox do ralo, antes mesmo de ligar a banheira - Se eu secar tudo isso logo a Adora não vai nem perceber essa bagunça. - Catra pensava consigo mesma, apostando num sorrisinho confiante… Que desapareceu completamente, no momento em que a morena se deu conta de que a sua luta épica contra a banheira havia resultado não só em um mar de bolhas, mas também em diversas poças enormes de água que se espalhavam pelo chão inteiro. E pra completar o cenário desastroso, todos os produtos de cabelo de Adora fizeram o favor de ir parar no chão, provavelmente durante o momento em que Catra escorregou na banheira, numa tentativa inútil de se levantar.
Por sorte, apesar de espalhadas, as embalagens coloridas dos produtos continuavam fechadas, mesmo que estivessem uma em cada canto do banheiro. Enquanto Catra observava toda situação desastrosa que ela mesma havia criado, a garota notou que até mesmo o espelho parecia conservar algumas gotículas de água. E sabe-se Deus como... havia espuma até no tampo da privada. Claramente, Catra teria que dar um jeito naquela zona antes de sair dali.
Mas mesmo assim, a garota ainda permanecia sentada na banheira, com um tufo de espuma no alto da cabeça e a boca entreaberta numa expressão de descrença. Catra parecia ter um dom pra se envolver em situações surreais como essa. Mas a única coisa que a garota conseguia fazer naquele instante era afundar lentamente na banheira até desaparecer nos vales de espuma com um sussurro encrencado.
- Puta… merda… -
A essa altura, Bow e Swift Wind já estavam na sala junto com Adora e Glimmer, que pareciam não estar se encarando nos olhos por algum motivo constrangedor.
- Mas falando em demora, cadê a Catra ? - O ruivo perguntou curioso, com seus cabelos acobreados e molhados penteados pra trás de forma elegante. Chegava a ser até engraçado, porque apesar de todo o ar de glamour, Swift Wind estava vestindo um shortinho vermelho folgado e uma camisa de algodão branca com as mangas curtas dobradas até os ombros, já que o dono da camisa era um pouco mais alto e forte do que ele. Porém, o que mais chamava atenção, era o desenho criativamente bobo de uma nave alienígena abduzindo uma bola de futebol americano. As roupas de Bow costumavam variar bastante, desde croppeds, regatas e shortinhos até camisas sociais de botão e calças formais que faziam o garoto parecer um nerd adulto de vez em quando.
Porém, aquela combinação de shortinho e camisa havia sido o meio termo mais aceitável escolhido por Swift Wind. Afinal, o ruivo não tinha uma autoconfiança tão forte pra usar uma cropped naquele momento.
- Ela já devia ter saído do banho há eras… - Glimmer reclamou emburrada - Mas como alguém que escolhe o clã da horda sequer se importaria em gastar toda água do planeta sozinha ? Isso é bem a cara dela mesmo - A baixinha ponderou irritada arrancando uma risadinha de Adora, que assim que se lembrou do que havia dito no corredor, voltou a encarar o chão envergonhada, vendo Glimmer fazer o mesmo. A loira ainda não conseguia acreditar que havia insinuado em alto e bom tom sobre a possibilidade de ceder aos encantos de Catra e a malícia provocante que vinha junto com eles. Ainda mais pra Glimmer, que pareceu ter ficado constrangida só de imaginar a cena, sem querer, é claro.
- Aconteceu alguma coisa… ? - Bow perguntou intrigado, vendo as duas se entreolharem nervosas e depois olharem pra ele novamente, cada uma sentada numa ponta do sofá, com um espaço considerável entre si.
- Não! Por que ?! - A dupla falou exatamente ao mesmo tempo, no mesmo tom e com a mesma expressão sorridente suspeita. O que só deixou o rapaz ainda mais intrigado com a situação e o ruivo atento com uma ligeira impressão de que Catra poderia ter alguma coisa a ver com isso.... Ela sempre tinha.
- Vocês estão… estranhas. - Bow se atreveu a dizer enquanto analisava a situação. Mas ainda sim, ele sabia bem que não conseguiria fazer nenhuma das duas falar, então preferiu simplesmente mudar de assunto. - A propósito, eu não sei se eu já disse, mas essa camisa fica linda em você - Bow comentou sorrindo pra Glimmer, que estava usando uma regatinha lilás com detalhes rosa e um shortinho branco. - E apesar de não ser muito o seu estilo, você ficou lindo nessa camisa também. E não é porque fui eu que escolhi, mas deu super certo! - O rapaz sorriu com gentileza pra Swift Wind também e pelo visto, somente Adora percebeu quando Glimmer e o ruivo agradeceram com um rubor suspeito nas bochechas e um sorrisinho abobado enquanto desviavam os olhos pro chão. Ela só não havia entendido o porquê. Mas antes que pudesse perguntar inocentemente sobre o que estava acontecendo, a campainha da casa chamou sua atenção.
- Deve ser a comida! - Adora deu um salto do sofá, largando a almofada que estava segurando e sendo imediatamente seguida por uma Glimmer de olhos brilhantes e sorriso animado, que cantarolava um “até que enfim…” enquanto as duas seguiam pra porta.
- É… Acho que eu tô imaginando coisas. - Bow comentou pra si mesmo, vendo as amigas voltarem a agir naturalmente em questão de segundos quando o assunto se tornou comida.
- Você que é lindo - Num impulso, movido pela saída das meninas, o tom meio tímido e inseguro de Swift Wind chamou a atenção de Bow para o rapaz sentado ao seu lado, que agora fazia um esforço tremendo para manter seus olhos lilás fixos no rosto bem desenhado do garoto alto de pele negra e cabelo crespo meio raspado nas laterais.
- Quem ? Eu ?! - Bow perguntou visivelmente sem jeito, apontando pra si com o dedo indicador. Ele definitivamente não estava esperando por um elogio assim, do nada.
- É. Eu... te acho lindo. Você tem um... coração lindo. E é forte, justo e gentil - Enquanto falava, o garoto de cabelo acobreado se encolhia levemente, com os ombros, usando suas unhas pintadas pra raspar nervosamente a superfície do sofá onde estava sentado. - E eu acho, particularmente, que as suas croppeds são incríveis! O jeito como você… sabe ? Combina elas com qualquer ocasião. Eu acho um espetáculo! Fora que, mesmo sendo uma coisa mais… atípica ? - O mais velho pareceu pensar, procurando uma palavra mais adequada - Você continua usando, independente do que as pessoas pensam. E é preciso ter muita coragem pra fazer algo assim. Eu admiro muito você. Digo… Isso! Em você! É mesmo... lindo. - Swift Wind engoliu seco, se xingando mentalmente por já ter falado "lindo" demais. Mas não sabia como descrever Bow com outra palavra que não fosse aquela. O rapaz era lindo. - Por dentro e por fora. - Swift Wind enfatizou, vendo a expressão sem jeito de Bow se transformar pouco a pouco em um sorriso feliz, gentil e caloroso enquanto o atleta repousava a mão forte sobre o seu ombro, com carinho.
- Eu digo o mesmo de você, Swift. Sei que as coisas principalmente na faculdade são meio… Você sabe, difíceis. Ainda mais quando a gente precisa lidar com pessoas estúpidas. - A voz de Bow agora parecia ter oscilado visivelmente para um tom mais sério e chateado. O atleta de salto em altura ficava com raiva só de lembrar das cenas que já teve que presenciar naquela instituição de ensino hipócrita, cerrando um dos punhos. - E eu... vejo como você lida com isso todos os dias, com as pessoas que ficam te excluindo só por ser diferente, sem nem se dar o trabalho de te conhecer. Mas você nunca deixou de ser quem você é e muito menos de se vestir como gosta por causa delas. - Enquanto escutava aquelas palavras, um pequeno filme se repetia na cabeça de Swfit Wind, um filme nada agradável de péssimas experiências escolares e acadêmicas - Eu também admiro a sua coragem e… Bem, eu nunca pensei que fosse chegar pra te dizer isso pessoalmente porque a gente nunca tinha conversado assim antes, mas… Por muito tempo, mesmo sem saber, você sempre foi uma inspiração pra mim. Mesmo antes das nossas melhores amigas resolverem pregar peças de ensino fundamental uma na outra - O garoto riu, relembrando a cena idiota de Adora pulando por cima de Catra na arquibancada só por implicância - Sempre que eu sentia vergonha ou receio de me vestir como eu gosto, eu lembrava de você e… Sentia que eu também poderia fazer isso. Que eu também podia ser forte, assim como você. - A expressão completamente surpresa de Swift Wind deixava bem claro que ele não fazia a mínima ideia de que Bow o via daquela forma - Acho que talvez ainda não tenha se dado conta, mas você é uma pessoa incrível e que com certeza é um espelho pra muitos caras como eu, que talvez tenham medo de ser quem são de verdade. - Bow sorriu mais uma vez, com certa emoção na voz - Eu nunca pensei que um dia a gente ia mesmo se conhecer e se falar desse jeito, mas… Já que aconteceu, eu queria te agradecer. Obrigada, Swift. Por não ter desistido e continuar sendo assim tão lindo, por dentro e por fora. Bem do jeito que você é. - Sem aviso prévio, Bow simplesmente se lançou pra frente na direção de Swift Wind e o envolveu num abraço carinhoso e agradecido, que fez o ruivo ficar totalmente sem reação. Nunca imaginaria, em toda sua vida, que durante todo esse tempo… Bow também estava lhe observando. E que ele era admirado! Se lembrava bem de todas as vezes que foi chamado de estranho, aberração, viadinho extravagante e coisas bem piores pelos seus colegas de turma e até mesmo por desconhecidos, tanto dentro da faculdade como fora. Mas agora, bem ali… Dentro do abraço de Bow, nada disso importava. Aquele abraço, aquelas palavras… pareciam ter tirado todo o peso de cima dos ombros largos do rapaz, permitido que Swift Wind pudesse se sentir realmente querido, realmente aceito… E isso era melhor do que qualquer adereço de unicórnio do planeta.
Apesar do coração acelerado e das lágrimas que insistiam em querer marejar seus olhos lilás, Swift Wind se entregou ao momento e abraçou Bow de volta, bem apertado, como se pudesse prendê-lo ali pra sempre, dentro do seu carinho. Mas infelizmente, o abraço foi rompido alguns segundos depois, quando Adora apareceu na sala novamente, chamando os dois pra sala de jantar. Afinal, a loira tinha zero noção do que estava acontecendo e eles dois não podiam julgá-la por isso. Sendo assim, os garotos se afastaram com risadinhas abobadas e sem jeito, se levantando pra poder seguir Adora até a mesa.
- A Catra ainda não desceu… Será que ela tá legal ? Não é melhor eu ir lá pra dar uma olhada ? E se ela se sentiu mal e não conseguiu chamar ninguém ? E se alguma coisa aconteceu ?! - Adora se perguntava nervosa, com as mãos na cabeça como se fosse enlouquecer discretamente. Enquanto isso, Glimmer revirava os olhos de forma lenta e dolorosa, querendo acertar sua amiga com um tapa na testa, pra ver se ela parava de surtar.
- Adora, ela tá okay! Eu acabei de ouvir a voz dela antes de descer. Parecia estar fazendo um show no banheiro, cantando ópera ou sei lá - Glimmer resmungou, se sentando à mesa e sendo acompanhada por Bow, que sentou ao seu lado e Swift Wind, que sentou de frente pra ele. Pelo visto, ela não havia percebido que o tal falsete de ópera poderia ser chamado de “o desastre do banheiro, segundo ato.”.
- Ela canta no banho ? - Adora se perguntou deixando a preocupação de lado só um pouquinho pra imaginar a garota mau humorada cantando no chuveiro. Assim que terminou a pergunta, todos na mesa começaram a olhar fixamente pra Swift Wind, aguardando uma resposta.
Quando finalmente notou os olhares sobre si, o ruivo se encolheu desconfortável.
- Tão me olhando por que ? Eu não faço ideia! - Ele se apressou em dizer, notando um beicinho decepcionado se formar nos lábios de Adora.
- Mas você conhece tão bem a Catra… Me diz, de que tipo de coisa ela gosta ? - Adora perguntou como quem não queria nada, fingindo indiferença, mas Glimmer percebeu o real interesse da amiga. Apesar de Bow ter ficado meio aéreo na conversa.
- Assim de cabeça… uma coisa que ela goste de verdade eu não sei. A Catra não parece gostar de muitas coisas, é uma pessoa meio difícil de agradar - O rapaz deu uma risadinha sem jeito, vendo Adora concordar de leve com a cabeça - Mas se tem alguma coisa que eu sei que ela realmente parece gostar, é de você. - Swift Wind disse sem rodeios, fazendo Adora corar até as orelhas.
Okay, ela não estava esperando por essa. E pelo visto, Glimmer também não, já que a baixinha pareceu realmente surpresa com aquela informação. Não era segredo nenhum que Catra tinha algum interesse por Adora, mas Glimmer definitivamente não imaginava que fosse algo concreto ao ponto de ser confirmado por Swift Wind daquela forma.
Então quer dizer que o sentimento era recíproco…?
- Eu também gosto muito da Catra! - Adora se apressou em dizer, com um sorriso enorme apesar da vergonha e dos olhares atenciosos que lhe observavam - Mas as vezes eu realmente me pergunto se ela sente o mesmo… - Aquela reflexão baixinha não foi alta o suficiente pra ser ouvida por ninguém além da própria Adora.
- Senhorita Grayskull ? - Uma voz desconhecida chamou atenção de todos sentados na mesa, quando um dos homens responsáveis pela refeição do dia apareceu na divisória entre as duas salas. - Podemos começar ? -
- Pode começar sim! Ela tá super de acordo! Pode trazer a comida! - Glimmer se intrometeu na conversa, super animada. Já conseguia até sentir o cheirinho gostoso que começava a exalar da cozinha, a medida em que algumas pessoas de uniforme continuavam levando algumas caixas pra lá.
- Não vamos esperar a Catra ? - Adora perguntou preocupada, vendo Glimmer reclamar de novo.
- Se a gente for esperar ela terminar o show e secar as últimas reservas de água do país, eu vou morrer de fome! -
- Vocês acham que ela ainda vai demorar ? - Bow perguntou meio sem jeito, sem conseguir disfarçar a carinha de satisfação ao sentir o cheiro inebriante que vinha da cozinha. Estavam todos com fome, pelo visto.
- E então ? - O homem responsável pelo serviço perguntou mais uma vez, com um sorriso gentil.
- Ahm... Certo, pode trazer sim. Obrigada! - A dona da casa pediu com educação, vendo o homem acenar de leve com a cabeça.
- Certo, senhorita Grayskull -
- Pode me chamar de Adora mesmo. - A loira sorriu meio sem jeito, com uma das mãos coçando a nuca, meio desajeitada.
Enquanto isso, Glimmer já estava conversando algum assunto aleatório com Bow enquanto Swift Wind prestava atenção. Adora queria ter esperado Catra, mas não seria justo deixar todo mundo com fome até ela resolver aparecer. Sendo assim, Adora se sentou à mesa e se juntou aos outros em mais uma conversa sem pé nem cabeça que era conduzida orgulhosamente por Glimmer e seu senso estranho de aventura.
Alguns bons minutos se passaram, até que Catra conseguisse finalmente organizar todo o banheiro, como se nada tivesse acontecido. Nem ela mesma sabia dizer como havia arrumado tudo tão rápido, mas estava orgulhosa de si e... frustrada também.
- Nunca mais eu mexo nesse inferno - Ela suspirou cansada, ainda enrolada na toalha branca e felpuda de Adora, com as mãos apoiadas no quadril. No fim das contas, Catra acabou limpando tudo e tomando banho no chuveiro mesmo, que pelo menos, era enorme, comum e a água era quentinha e gostosa como o paraíso. Depois de tudo que ela passou com aquela banheira, era o mínimo que a garota merecia agora, um banho realmente relaxante.
Depois de uma última checada no banheiro organizado, Catra se aproximou do ganchinho de metal onde Adora havia deixado algumas roupas limpas pra ela. Apesar de estar agradecida, Catra ainda encarava a embalagem de calcinhas novas com uma expressão emburrada e sem jeito.
A primeira era verde, com alguns desenhos de melancias com carinhas fofas, sorrindo. A segunda era azul bebê com várias estrelinhas amarelas. E a terceira e última, que foi a escolhida, era branca com bordas pretas e alguns donuts coloridos, mas não tão chamativos.
Enquanto se vestia, Catra se perguntava que tipo de calcinha Adora estaria usando agora… Mas sua mente perdeu o fio da meada quando seu estômago roncou alto e resmungão, lhe causando um desconforto.
Por sorte, o shortinho jeans que Adora havia deixado ali coube perfeitamente na cintura de Catra, ficando apenas um pouco folgado nas coxas, o que já era de se esperar por motivos óbvios. E entre as cinco opções de camisa, Catra decidiu vestir uma camisa azul tiffany mais soltinha, que cobria apenas um dos ombros. Era a melhor opção entre as camisas claras e as roupinhas fofas que ficaram restando como opção.
Quando Catra saiu do banheiro e notou que Adora já não estava no quarto, a menina procurou pelo corredor, desconfiada. Mas não viu ninguém. A única coisa que fez Catra se situar de pra onde ir, foi a gargalhada escandalosa de Swift Wind no andar de baixo, acompanhada por uma risada igualmente alta e divertida que pelo visto… parecia ser de Glimmer.
- Era só o que me faltava, vocês dois virando amiguinhos agora… - Catra resmungou emburrada, sentindo uma pontinha de ciúme, mesmo que não admitisse.
Descendo a escada de dois em dois degraus com certa pressa, Catra finalmente chegou até a sala, tendo suas narinas invadidas por uma mistura de cheiros deliciosa que vinha de algum lugar próximo dali.
- Finalmente apareceu! - A voz de Swift Wind chamou a atenção de Catra pra sala de jantar, que agora estava repleta de opções deliciosas sobre a mesa, desde pães e bolos até tipos variados de comida que Catra não conhecia, mas que já estava louca pra provar. Porém, o que mais chamou a atenção da menina foram as pessoas bem vestidas que transitavam pela mesa trazendo mais algumas opções.
- Senta aqui! - Swift Wind acenou pra cadeira ao lado dele, que também ficava coincidentemente próxima de Adora, que estava sentada bem na cabeça da mesa, como a boa anfitriã que era.
Catra não teve nem reação, principalmente quando viu um rapaz de barba e uniforme puxar a cadeira gentilmente pra ela sentar. Aquilo tudo era muito novo e de certa forma, muito chocante pra Catra assimilar fácil assim. Enquanto isso, Adora parecia em êxtase vendo o quanto Catra havia ficado uma fofura com as suas roupas. Aquele tom de azul definitivamente combinava com ela.
- Se não quiser tudo bem, sobra mais pra mim - Glimmer deu de ombros, fazendo Catra revirar os olhos e se sentar abusada. Mas antes que a garota de olhos coloridos pudesse falar qualquer coisa, um outro rapaz apareceu ao seu lado segurando uma jarra toda ornamentada, de vidro.
- Aceita suco de morango ? - O tom da pergunta foi tão formal que Catra ficou sem jeito, se encolhendo na cadeira e apenas acenando positivamente com a cabeça enquanto via o líquido rosa ser despejado no seu copo.
- Senhorita Grayskull, devemos apresentar o cardápio novamente para a senhorita… ? - O homem mais velho que parecia ser o chefe, encarou Catra com ar questionador, fazendo a menina responder seu próprio nome baixinho.
- Para a senhorita Catra escolher seu desjejum ? - Por fim, ele completou aguardando uma resposta de Adora, que parecia mais preocupada com o desconforto de Catra diante daquela situação do que com qualquer coisa relacionada ao cardápio.
- Tá tudo bem, só… pode trazer o que ela quiser. Se não tiver por aqui, você pode providenciar ? - Adora perguntou com gentileza, vendo Catra praticamente se apavorar e balançar as mãos em frente ao rosto numa negativa nervosa.
- N-Não precisa! Tá ótimo! Eu vou comer o que tem aqui, obrigada! - Ela disse meio desesperada, fazendo Glimmer rir baixinho e quase se engasgar com bolo enquanto Bow julgava sua melhor amiga com os olhos e Swift Wind continuava comendo como o lorde francês que nasceu pra ser.
- Ahm... certo! É isso. Podem nos dar licença agora ? - Adora sugeriu educadamente, vendo o chefe assentir com total compreensão e respeito. A menina não queria que Catra ficasse ainda mais tensa naquela manhã.
- Claro, senhorita Grayskull. Tenha um ótimo dia. - Ele se despediu com um aceno leve de cabeça e se retirou da sala junto com os demais funcionários, que haviam servido cordialmente a todo grupo. Na mesa já havia comida o suficiente e Catra ainda estava visivelmente desconfortável com aquela situação. Não que ela não estivesse gostando, mas definitivamente não estava acostumada, aquela realidade não passava nem perto do que a menina vivenciava diariamente na Crimson Waste. Ser servida daquele jeito ? Era coisa de outro mundo.
- Você contratou esse pessoal só pra fazer seu café da manhã ? - Catra perguntou baixinho, visivelmente surpresa. Mas só agora a menina tinha percebido também que os copos de plástico e as garrafas residuais da festa haviam sumido completamente. Além do café da manhã, parece que mais alguém havia aparecido pra limpar a casa toda, colocando tudo de volta no seu devido lugar. Nem parecia que na noite anterior havia acontecido uma festa ali.
- Antes que você pergunte, não é todo dia que isso acontece - Adora se apressou em explicar, com um sorrisinho sem jeito. Ela não queria que Catra pensasse que ela era algum tipo de riquinha esnobe e mimada, o que claramente… Não fazia o estilo dela. - É que a casa estava uma bagunça e eu não ia conseguir dar um jeito em tudo e ainda fazer café da manhã pra vocês, sozinha. É a primeira vez que você e o Swift Wind vem aqui, então… Eu só queria que fossem bem recebidos - A loira ofereceu a Catra um sorrisinho sincero, que fez a menina de olhos coloridos se perguntar como a vida de Adora conseguia ser tão perfeita enquanto a dela parecia ter sido escrita por alguém que a detestava.
- Mentira. Todo dia uma dama de companhia vem acordar a Adora trazendo café na cama e ajuda ela a escolher as melhores roupas pra se vestir pra faculdade - Glimmer falou com naturalidade e a boca cheia de bolo, fazendo Catra arregalar os olhos.
- Sério ?! - O jeito chocado como Catra havia perguntado aquilo foi demais pra o autocontrole de Glimmer, que agora estava tendo um acesso de riso do outro lado da mesa enquanto Adora apoiava a testa em uma das mãos, envergonhada por Catra ter acreditado naquela brincadeira idiota.
- Claro que não! - O rosto vermelho de Adora parecia combinar bem com a camisa regata branca e o shortinho jeans escuro que estava vestindo. Adora conseguia ser tão bonita mesmo usando algo tão simples e isso era a única coisa na qual Catra conseguia pensar no momento além do pensamento insistente de querer atirar um pão de queijo na testa de Glimmer.
- Se eu tivesse esse dinheiro todo, pode ter certeza que nem no chão eu pisava - Swift Wind fez uma expressão esnobe que foi levada por todo mundo como uma piada hilária… mas ele realmente estava falando sério.
Por incrível que pareça, o café da manhã transcorreu na mais perfeita paz apesar de algumas intriguinhas já esperadas entre Catra e Glimmer, mas pelo visto a baixinha de cabelo rosa estava mais afim de implicar amigavelmente com Catra do que de fato brigar com ela. E claro, Catra estava correspondendo o "carinho" na mesma intensidade.
Enquanto isso, Adora aproveitava a situação pra conhecer Catra um pouco mais e sondar algumas informações que ela julgava importantes, como o tipo de comida ela mais gostava, coisas que ela tinha vontade de fazer e até mesmo bobagens mais generalistas como a matéria favorita da faculdade.
Ao mesmo tempo, Swift Wind e Bow pareciam ainda mais próximos durante as conversas e Glimmer parecia estar começando a se acostumar com a presença de Catra ali, ao lado de Adora. Por mais que algo dentro dela ainda tivesse um pezinho atrás, era nítido o jeito carinhoso com que a garota de olhos coloridos sorria e olhava pra Adora enquanto conversavam. Ela não podia estar fingindo isso, podia… ?
Depois de finalmente terminarem de comer, Bow e a baixinha de cabelo rosa precisaram se despedir de Adora pra voltar pra casa. A mãe de Glimmer não era muito fã de deixá-la dormir fora, mas como havia sido aniversário de Bow e eles haviam ficado na casa de Adora, Ângela permitiu que Glimmer ficasse até o amanhecer… com tanto que Bow a deixasse em casa depois. Eles dois eram os únicos amigos de Glimmer em quem a mãe dela confiava.
Ao mesmo tempo em que se despediam de Adora, Swift Wind puxava Catra de lado, cochichando alguma coisa em seu ouvido.
- Tudo bem, eu entendo. Manda um abraço apertado pra Ângela e pros seus pais também, Bow - Adora lembrava enquanto abraçava os dois amigos ao mesmo tempo, como de costume, e era retribuída.
- Pode deixar - O mais alto entre os três respondeu e Glimmer balançou a cabeça positivamente. - Swift, você e a Catra vão querer uma carona ? - Bow virou a cabeça levemente na direção deles, ainda envolvido naquele abraço em trio.
- Eu adoraria, mas meu carro tá lá fora e eu acho que não tô mais… fora de mim - O rapaz escolheu bem as palavras pra não falar “bêbado” em momento algum, era vergonhoso demais. - Mas a Crimson Waste fica pro outro lado, então acho que não vai dar pra Catra ir com a gente - O ruivo comentou pensativo, como se tivesse acabado de se dar conta disso, o que não era de fato verdade.
Enquanto os três melhores amigos estavam se despedindo, Swift Wind havia cochichado pra Catra que iria tentar deixar ela sozinha com Adora e que a amiga deveria aproveitar aquela oportunidade pra se aproximar. Porém, Bow interrompeu os dois antes que Catra pudesse dar uma resposta.
- É mesmo ? - Glimmer perguntou desconfiada - Então não é melhor chamar um Uber ? - Instantaneamente Catra se encolheu mais ao fundo. Ela não tinha dinheiro pro Uber e a Crimson Waste era consideravelmente longe dali. A única coisa que Catra conseguia pensar no momento era no quanto Glimmer parecia uma menininha mimada falando daquele jeito.
- Não tem problema, eu levo a Catra em casa - Adora se prontificou no mesmo instante, fazendo Swift Wind se virar pra amiga e levantar as sobrancelhas sugestivamente, sem que os outros percebessem.
- Não precisa, Adora. Eu posso pegar um ônibus aqui perto - Apesar do plano perfeito de Swift Wind estar dando certo, Catra estava um pouco apavorada em ficar sozinha com Adora depois do episódio do banheiro. Não sabia se conseguiria se manter nos eixos sozinha com ela.
- Mas fica muito longe! - Adora retrucou, se aproximando - Tá tudo bem, eu te levo. Tenho que devolver uns livros na biblioteca de qualquer forma, então é caminho pra mim - De fato, Adora ainda precisava devolver alguns livros. Mas a validade da entrega ainda se estendia até a semana que vem.
- Se não for te incomodar mesmo… - Catra sorriu de leve, vendo Adora corresponder o seu sorriso com uma expressão meio boba e feliz.
- É impressão minha ou toda vez que a Catra sorri a Adora faz uma cara estranha… ? - Bow perguntou intrigado, cochichando no ouvido de Glimmer, que continuava observando a cena meio abusada.
- É, ela faz essa cara de idiota derretida. - A baixinha comentou cruzando os braços com suspiro pesado enquanto observava de longe a expressão feliz no rosto de Adora. Deveria ficar feliz por ela… Mas era tão difícil simplesmente ignorar seu instinto superprotetor.
- Enfim, vamos ? - Swift Wind chamou atenção com um estalo, vindo das suas mãos unidas.
- Vamos, vamos! - Bow se recompôs e abriu a porta pra Glimmer passar junto com ele - Você vai agora ? - Os olhos castanhos do rapaz buscaram Adora lá atrás, que parecia estar procurando alguma coisa.
- Vou sim. Daqui a pouco eu tô saindo. Só preciso pegar minhas coisas lá em cima e o documento do carro - A loira comentou levemente nervosa, vendo Catra se aproximar com os braços cruzados e uma expressão indiferente enquanto esperava.
- Se você quiser a gente espera - Glimmer surgiu novamente pela porta, fingindo uma risadinha natural, mas que era visivelmente uma mistura de nervoso com preocupação. Apesar de tudo, ela ainda não sentia segurança pra deixar as duas sozinhas, mesmo que Adora tenha dito que iria se cuidar.
- Não! Vamo logo! Eu preciso chegar em casa cedo e se tiver alguém da polícia rodoviária por aí, vocês vão na frente e me avisam. Sei lá se o álcool já foi todo embora. Eu tô me sentindo bem sóbrio, mas vai que ainda dê alguma coisa. - Swift Wind pensou na desculpa perfeita pra tirar Bow e Glimmer dali, vendo Catra apoiar a testa em uma das mãos com uma expressão de quem não estava acreditando.
- Tem razão, qualquer coisa estamos juntos. É melhor mesmo. - Bow puxou a isca do ruivo, para o azar de Glimmer - Vem, vamos pra casa - Ele disse com carinho, repousando uma das mãos nos ombros de Glimmer e sussurrando no ouvido dela - A Adora não é nenhuma criança, ela vai ficar bem. -
Depois disso, o atleta simplesmente conduziu Glimmer até o carro com um sorriso gentil, sendo seguido por um Swift Wind satisfeito que ia embora cantarolando.
Mesmo feliz por ter passado a noite com seus amigos, Adora ainda ficava triste em ter que vê-los partir. Pelo menos, Catra ainda estava lá.
Espera.
Catra. Ainda. Estava. Lá.
Assim que os dois carros saíram, Adora teve que fechar a porta e finalmente encarar a imagem de Catra bem ali, encostada com o corpo no sofá, lhe encarando com os olhos coloridos e brilhantes de sempre. Sem saber ao certo o que fazer, Adora resolveu simplesmente correr meio desajeitada até a escada.
- Você se importa de esperar rapidinho enquanto eu pego as coisas lá no quarto ? - A menina perguntou sem jeito, mesmo que Catra não estivesse fazendo nada além de olhar pra ela, com seu jeitinho indiferente.
- Não. Eu tô de boa - Por também não saber ao certo como reagir, Catra simplesmente se jogou no sofá de um jeito folgado, cruzando as pernas e se aconchegando nas almofadas macias, com os olhos fechados. - Eu espero -
- Ahm… Okay. Eu volto logo! - Adora subiu as escadas praticamente correndo enquanto Catra abriu apenas um dos olhos pra observar enquanto a loira subia descoordenadamente os degraus.
Estava sozinha com ela, e isso era ótimo. Mas como iria demonstrar seus sentimentos sem parecer uma perfeita canalha idiota ? Era muito difícil falar de carinho e afeição enquanto tudo que sua mente pensava era em sexo. Não que o único interesse de Catra fosse esse, muito pelo contrário, mas Adora por si só já era uma tentação divina aos seus sentidos e tê-la sozinha naquela casa, sem Glimmer pra atrapalhar, parecia bom demais pra ser verdade.
Enquanto isso, no andar de cima, Adora pegava alguns livros aleatórios só pra fingir que devolveria, colocando tudo na mochila. Seu maior problema não era levar Catra em casa, mas sim ficar sozinha com ela. Adora não sabia o porquê, mas alguma coisa em Catra lhe fazia perder a compostura sem muito esforço. Adora tinha medo de acabar demonstrando seus sentimentos e não ser correspondida da forma que esperava, afinal… Catra não era muito de demonstrar qualquer coisa que não fosse sarcasmo, ironia ou deboche. Ou seja, quem lhe garantia que Catra sentia o mesmo ? E se fosse só um interesse passageiro ? O que Adora faria com tudo aquilo que estava guardado em seu peito ? Ela não sabia se queria arriscar, então decidiu apenas tirar isso da cabeça e seguir com seu plano inocente, no qual o objetivo era passar mais um tempinho com Catra, antes dela ir.
Quando finalmente desceu as escadas, segurando a alça da mochila com uma das mãos, a loira diminuiu o barulho dos seus passos à medida em que chegava no andar de baixo. E para surpresa de Adora, Catra ainda estava na mesma posição, deitada, com os olhos fechados.
- Catra… ? - Adora chamou meio receosa, mas não foi respondida - Você dormiu… ? - A menina pensou consigo em voz alta, se aproximando apenas o suficiente pra notar que Catra parecia realmente ter caído no sono. E como Adora poderia julgá-la ? Passaram a noite toda acordadas, numa festa, fora o caso estressante da piscina e do afogamento. Era natural que a outra estivesse cansada. E pra falar a verdade, Adora também estava, mas era mais acostumada por conta da convivência com Glimmer.
Deixando a mochila no pé da escada, Adora se aproximou com passos cuidadosos do sofá. Olhando assim de perto, Catra parecia totalmente inofensiva deitada confortavelmente naquele sofá enorme, com os braços cruzados sobre o peito e as pernas cruzadas uma sobre a outra, bem esticadas.
Pela primeira vez, Adora estava tendo a oportunidade de observar Catra com calma, gravando cada detalhezinho do seu rosto adormecido meio coberto pelo cabelo.
Com um sorriso que Adora não percebeu se formar nos próprios lábios, a loira decidiu se ajoelhar ao lado do sofá, ficando de frente pra Catra, numa distância considerável. Por um breve momento, a atleta pensou em balançá-la de leve na intenção de acordar, mas a menina parecia estar num cochilo tão tranquilo… Que Adora simplesmente a deixou continuar.
Quando a respiração de Catra pesou um pouco durante o sono, ela se mexeu de leve, fazendo uma mecha grossa de cabelo preto deslizar sobre sua bochecha e cobrir seu rosto. O cabelo de Catra era pesado, preto e volumoso de um jeito bonito que Adora nunca havia visto antes.
E num ato de pura gentileza, Adora usou uma das mãos para afastar a mechinha de cabelo do rosto de Catra com cuidado, prendendo delicadamente atrás da orelhinha pequena dela, que formava um arco perfeito.
Adora com certeza não havia percebido, mas estava próxima o suficiente pra fazer sua respiração quente acariciar de leve o rosto de Catra. E foi justamente por conta dessa sensação quentinha em sua bochecha que a garota adormecida abriu os olhos coloridos de repente, dando de cara com Adora tão próxima que poderia… beijá-la.
Apesar do susto por ter visto Catra abrir os olhos daquele jeito, Adora não conseguiu ter outra reação que não fosse congelar ali, com seus olhos azuis fixos nos dela, sem conseguir se afastar. E mesmo com o coração quase explodindo no peito pela visão de Adora lhe encarando daquele jeito, Catra também não conseguia se mexer, e muito menos ignorar seus pensamentos constantes de querer beijá-la, mas não o faria. Se tinha uma coisa que Catra não queria fazer era assustar Adora. Por mais que o desejo lhe instigasse, ela não queria acabar indo rápido demais e estragando tudo. Adora não era como as outras garotas com quem ela já havia dormido, Adora era… especial.
Tão especial... Quanto a forma carinhosa com que a menina de olhos azuis segurou seu rosto com uma das mãos, mantendo os olhos fixos nos seus e fazendo um carinho terno na sua bochecha macia, com a pontinha do polegar. Somente quando os olhos coloridos pareceram desviar sua atenção lentamente até os lábios de Adora, foi que a loira resolveu lentamente se aproximar, fechando os próprios olhos e deixando que seus lábios quentes fossem pressionados com leveza sobre os de Catra, selando um beijo.
A boca de Adora era macia, quente e gostosa ao mesmo tempo em que entregava aquele beijo tímido.
O ar de inocência no jeito como Adora deslizava os lábios sobre os seus só fez com que Catra sentisse a necessidade de entreabrir os próprios lábios, na intenção de sugar de leve o lábio inferior da loira, que soltou um gemido baixinho e contido por conta disso. O jeito como Catra lhe beijava era delicioso.
Sem nem mesmo ter consciência do que estava fazendo, uma das mãos de Catra abriu caminho até a nuca de Adora, fazendo um carinho ali ao mesmo tempo em que sentia a atleta usar a língua para aprofundar o beijo.
A sensação de beijar Catra daquele jeito era tão nova e excitante que Adora nem mesmo se deu conta de que já estava praticamente puxando a menina pra si com necessidade e se sentando ao lado dela no sofá, sentindo que Catra também levantava aos poucos, sem romper o beijo.
As duas permaneceram naquela troca deliciosa de carinhos com a boca por alguns segundos, até o momento em que Catra finalmente tomou coragem de segurar a cintura de Adora e puxar a menina pro seu colo. Como se já tivesse feito aquilo centenas de vezes, Adora se encaixou perfeitamente sobre as pernas de Catra, deixando uma perna apoiada de cada lado do corpo quente da morena.
Sentindo uma satisfação enorme por notar que Adora estava correspondendo às suas investidas, Catra teve a segurança pra se soltar um pouco e se permitir deslizar os lábios provocantemente... da boca quentinha, até a bochecha vermelha da garota sentada em seu colo, percorrendo um caminho gostoso com beijos que seguiam maliciosamente até o maxilar marcado e delicado, onde a morena depositou uma mordidinha sacana que fez Adora suspirar visivelmente excitada.
As mãos livres de Adora pareciam não estar sobre o seu controle, acariciando a cintura de Catra, enquanto ela recebia uma série de beijos gostosos no pescoço, com os olhos fechados e a boca entreaberta numa expressão adorável de prazer e timidez. Aquela era a primeira vez que Adora se sentia tão à vontade com alguém…
Até que sentiu as mãos de Catra irem de encontro a sua bunda com vontade, apertando com firmeza e causando uma dorzinha gostosa por conta das unhas longas e pontudas sendo pressionadas sobre o short.
No momento exato em que se deu conta de que havia perdido um pouco o controle, Catra percebeu a forma desconfortável como o corpo forte da loira enrijeceu, lhe fazendo tirar as mãos dali no mesmo instante com uma expressão assustada de quem havia acabado de voltar à realidade depois de um sonho erótico super realista.
Mas Adora ainda estava no seu colo, com o rosto vermelho e as mãos apoiadas em seus ombros. E isso… Era muito real.
- Adora… - Apesar da reação negativa de Adora, a única coisa que Catra conseguia pensar em dizer era o quanto havia gostado daquele beijo e do quanto precisava beijá-la de novo. E de novo… e de novo…
- E-Eu… - Adora estava completamente sem jeito agora que finalmente havia voltado a si. Catra nem mesmo era sua namorada, mas lá estava ela, com as mãos deliciosamente apoiadas na sua bunda e o pior de tudo… era que Adora havia gostando.
- Você… Me beijou - Catra sussurrou baixinho, mais pra si mesma do que de fato pra Adora. Ela ainda não estava conseguindo acreditar que havia sido realmente beijada, sem brincadeiras, sem provocações… Adora havia simplesmente lhe beijado, por livre e espontânea vontade, como ela queria que fosse.
- E você… Gostou ? - Mesmo completamente sem jeito, Adora perguntou usando sua voz mais tímida. Não tinha muita certeza de que havia feito a escolha certa ao beijar Catra daquele jeito, mas sentia que não tinha como voltar atrás agora. Principalmente enquanto ela ainda se encontrava sentada no colo daquela garota de olhos felinos, com suas coxas grossas uma de cada lado do quadril da morena.
- É… Foi incrível - Catra poderia muito bem ter minimizado a situação e dito que o beijo não havia sido essa coisa toda, somente pra sair por cima. Mas… Por incrível que pareça, seu instinto defensivo havia caído por terra, fazendo com que Catra só conseguisse falar a verdade. E a verdade era que o beijo de Adora era tão incrível quanto ela imaginou que fosse.
- Foi incrível… Pra mim também - Adora sorriu de leve, desviando o olhar por timidez, o que era uma pena. Porque se tivesse mantido os olhos em Catra, pela primeira vez na vida, ela teria notado o jeito encantado com que a menina lhe encarava depois do beijo.
A conversa meio desajeitada havia definitivamente parado por ali. Mas Catra ainda sentia tanta vontade de beijar Adora de novo que chegava a morder de leve os próprios lábios, conservando a sensação quentinha do formigamento causado pela língua da atleta, que havia deslizado deliciosamente por ali.
Sendo assim, Catra não se conteve em segurar de novo, com firmeza, a cintura de Adora e puxar o corpo dela novamente contra o seu. Mas para a surpresa de Catra, Adora não havia correspondido dessa vez.
- Eu acho que… Preciso levar você pra casa - A loira de olhos azuis comentou baixinho, apertando de leve os ombros relaxados de Catra, que se afastou imediatamente... com um olhar confuso e culpado.
- Okay… - Adora não havia... gostado de verdade, certo? Essa só podia ser a única explicação plausível na cabeça de Catra pra justificar a forma como a menina recuou diante da proximidade que foi proposta por ela. - Me desculpa por… - Antes que Catra pudesse dizer qualquer coisa, Adora apoiou o dedo indicador sobre os lábios finos dela, silenciado a garota com delicadeza.
- Não! Eu... amei! - Adora disse com uma risadinha divertida e sem jeito - É só que… Eu não sei se eu vou me arrepender se a gente... continuar. E eu não quero me arrepender. Não por causa disso, não com você… Então… A gente poderia só… -
- Ir mais devagar ? - Catra perguntou erguendo uma sobrancelha, com ar de ironia - Falando assim você parece até uma virgem, sabia? - O jeito brincalhão e zombeteiro que Catra usou pra dizer aquilo fez Adora se encolher de leve, visivelmente desconfortável e… triste.
- Espera… - Como se tivesse finalmente ligado os pontos, os olhos de Catra se arregalaram como se fossem saltar do rosto - Você é mesmo virgem?!! - Aquela pergunta gritada em conjunto com a expressão totalmente surpresa de Catra fizeram Adora levantar do seu colo no mesmo instante, sem nem pensar duas vezes, virando o rosto na direção oposta.
- Claro que você iria fazer piada com uma coisa dessas… - Adora desdenhou de si mesma, visivelmente magoada pela sua própria ingenuidade. Mesmo depois do beijo, dos carinhos e da entrega… ainda era a mesma Catra. O que mais ela poderia esperar?
- Não! Adora, não! - Catra levantou num salto, tentando se explicar - Eu não tô fazendo piada! Eu só não… Imaginava - A medida em que a ficha caía, a voz de Catra vinha ficando mais baixa e culpada.
- Tudo bem, eu vou pedir um Uber pra você. - Adora disse num tom de seriedade formal, que até então Catra não conhecia, pegando seu celular de cima da mesa de centro e abrindo o aplicativo.
- Adora, me desculpa! Eu não fazia ideia, okay?! - Catra estava em pânico, não conseguia acreditar que levou apenas três segundos pra estragar tudo. - Não é vergonha alguma você ser virgem ou não! Eu só… Me desculpa. Eu não fazia ideia. - Com uma das mãos, Catra instintivamente segurou as mãos firmes de Adora, que ainda seguravam o celular.
E por mais brava que estivesse, Adora sabia que Catra não havia feito por mal. Era só que… Aquele assunto deixava lhe deixava visivelmente instável emocionalmente.
Adora mal teve tempo de se descobrir lésbica antes de sofrer a primeira decepção amorosa da sua vida. Quem dirá transar com alguém depois disso.
Trocar carinhos e beijos durante uma ficada não era um problema pra ela, afinal… Não era como se fosse a primeira vez que Adora estava ficando com uma menina. Catra não era nem de longe a primeira garota com quem ela havia ficado depois de uma festa. Mas quando as coisas começavam a esquentar, Adora sempre dava um jeito de parar por ali. Alguma coisa sempre a impedia de dar um passo adiante. A insegurança ainda era seu maior obstáculo.
- Tudo bem, Catra. É só que… Eu não quero falar mais sobre isso. Okay ? - Adora disse por fim, soltando um suspiro pesado e bloqueando o celular antes de cancelar a corrida.
- Me desculpa, de verdade. - Catra apertou de leve a sua mão, fazendo Adora voltar a olhar pra ela - Não quero que você se arrependa... - Os olhos coloridos estavam tão preocupados que Adora conseguia ver nitidamente o brilho sincero em cada um deles. E por hora… Aquilo era o suficiente.
- Ainda não me arrependi… Sorte sua que você beija bem o suficiente pra eu não me arrepender - Adora brincou, com uma risadinha que fez Catra suspirar aliviada - Só, me deixa te levar pra casa. Okay ? -
Tendo a certeza de que Adora não havia se arrependido e muito menos que ela lhe odiava, Catra deu de ombros indiferente, concordando levemente com a cabeça.
- É o mínimo que você pode fazer depois de eu ter te dado esse beijo incrível - Catra sorriu convencida, fazendo Adora corar de leve com uma expressão bravinha.
- Cala a boca! Eu que te beijei! - Sem aviso prévio, Adora simplesmente catou uma almofada fofa do sofá e atirou na direção de Catra, que desviou com facilidade.
- O que foi ? Eu prejudiquei suas habilidades atléticas com meu charme ? - A garota de olhos coloridos ergueu as sobrancelhas sugestivamente, fazendo Adora rir.
- Você é tão convencida… - Adora estreitou os olhos na direção de Catra que simplesmente manteve o mesmo sorrisinho insolente.
- É, eu tenho potencial -
- Tem, tem sim. - Adora revirou os olhos mesmo que estivesse rindo.
Num clima de cumplicidade, as duas seguiram juntas até o carro enquanto Catra explicava pacientemente o porquê de Adora não poder parar na porta da Crimson Waste.
Apesar de todas as complicações, aquele parecia ser o começo de algo novo e completamente diferente… Pra Adora, estava a sendo uma descoberta de sentimentos e sensações únicas. Algo que ela nunca mais pensou que poderia sentir de novo. E Catra não conseguia pensar em outra coisa que não fosse em como havia simplesmente deixado aquela garota insuportável com quem ela topou no corredor, se tornar a alegria mais bonita e sincera que já lhe aconteceu. Catra sabia que elas eram diferentes em tudo, mas iguais em uma coisa… No sentimento que estavam começando a nutrir uma pela outra. E por mais que ainda não fosse amor, por hora, já bastava. E já era o suficiente pra aquecer seu coração.
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