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História I want love - Eu quero ver você tentar...


Escrita por: Nacchan_Hwang

Notas do Autor


Heeeey ~
Eu sei que disse ia postar no fim de semana, maaaaas... Meu notebook tá morto e enterrado ;-; Infelizmente não tem nenhuma Entrapta pra salvar ele, então eu que lute pra escrever tudo e editar pelo celular Kkkk Desde já agradeço os comentários incríveis que vocês deixaram no capítulo anterior :') E principalmente... Espero que vocês gostem do novo capítulo >////<

Capítulo 5 - Eu quero ver você tentar...


Fanfic / Fanfiction I want love - Eu quero ver você tentar...

Numa pista de terra batida bem mais vazia que o normal, rodeada por calçadinhas naturais cobertas de grama, era possível enxergar perfeitamente a silhueta bem desenhada daquela menina loira de olhos azuis que vestia uma camisa regata branca combinando com os sapatos gastos de corrida e um shortinho rosa bebê folgado, fazendo as abas largas do tecido dançarem quase que sensualmente em movimentos de sobe e desce pelas coxas expostas de Adora, enquanto ela caminhava num trote lento por aquele caminho de terra bem demarcado no chão. 

Como já era de costume desde os períodos passados, Adora sempre levantava mais cedo pra se exercitar um pouco antes de começar as aulas. Aquilo ajudava seu cérebro a processar melhor as informações ao longo do dia. 

A pista de cooper por onde ela corria naquela manhã não era tão grande e nem demarcava divisórias espaçosas como a pista de atletismo, mas em compensação era bem mais próxima da natureza, rondando graciosamente o campus enquanto ofertava ao olfato o aroma agradável que o orvalho impregnava delicadamente pelas folhas das árvores e plantas ao redor. Enquanto fazia sua caminhada matinal, a estudante de educação física aproveitava a oportunidade para curtir sem pressa aquela sensação gostosa que o calor do sol morninho projetava em sua pele pela manhã. Como naquele horário nunca tinha ninguém pelas pistas, Adora aproveitava o tempo livre pra se conectar consigo mesma e tentar esfriar a cabeça quando precisava pensar em tudo ou simplesmente não pensar em nada. 

O barulho dos seus próprios passos na areia batida com minúsculas pedrinhas de cascalho marrom faziam seus pensamentos ficarem mudos, abrindo espaço apenas para a melodia dos pássaros e o farfalhar das  folhas sendo levemente balançadas pelo vento. Aquilo transmitia uma sensação de paz que Adora não sabia como explicar, só sentir. Durante alguns dias mais frios, ela preferia correr com seus fones de ouvido, escutando alguma música que tornasse seus sentidos mais aguçados. 

Apesar da baixa velocidade com que corria, Adora estava muito concentrada no caminho para notar o barulho que pouco a pouco se aproximava, similar ao canto de uma cigarra, causado pela travada violenta de corrente que Catra provocou no momento em que fixou os dois pés estáticos nos pedais, sem fazer nenhum giro, apenas aproveitando o impulso e a velocidade que já havia pego na bicicleta.

Quando a corredora deu por si, um vulto veloz fez a menina gritar quando passou praticamente voando ao seu lado, com uma distância mínima de apenas alguns centímetros, gritando um "BOM DIA, ADORADA!" O mais alto que seu tom de voz permitiu. Adora tomou um susto tão grande que chegou a tropeçar nos próprios pés, resultando num tombo ridiculamente engraçado sobre a grama verde que amorteceu sua queda.

Aquela cena fez Catra gargalhar tão alto quanto uma criança se divertindo horrores com seu filme favorito. 

Quando Adora finalmente olhou pra ela, ainda sentada no chão com cara de apavorada e sem conseguir processar direito o que havia acontecido, foi que Catra decidiu acionar os freios traseiros da bicicleta, fazendo o pneu de trás derrapar propositalmente pela pista num cavalo de pau deveras estiloso.

-  Hey adora… - Catra cumprimentou com o seu tom debochadinho e cínico de sempre, apoiada de braços cruzados sobre guidão e apreciando a expressão raivosa no rostinho de Adora, que começava a ficar vermelho de raiva, quando finalmente se deu conta do real motivo dela ter tropeçado. 

-  Qual é o seu problema?! - Adora levantou aos berros, usando as mãos para limpar as próprias palmas e o short levemente manchado de terra, fazendo Catra se sentir levemente vingada pelo dia anterior. 

-  Ué, não se pode mais nem dar bom dia ? - A garota de olhos coloridos perguntou fingindo inocência enquanto observava Adora se aproximar da bicicleta, deixando escapar um sorrisinho insolente quando viu que a outra estava praticamente soltando fogo pelas orelhas.

-  A gente não tinha dado uma trégua ?! Ontem inclusive ?! Achei que a gente tava de boa, qual é! - Adora protestava indignada, apontando o dedo indicador na cara de Catra que continuava assistindo a cena com um olhar felino e soberbo de quem não carregava nem um pinguinho de culpa. 

Enquanto a atleta reclamava sem parar sobre Catra ser irresponsável e não medir as consequências dos seus atos, a novata avaliava que apesar dos braços fortes e das coxas robustas por conta exercícios de corrida,  o rostinho vermelhinho e irritado de Adora era bonitinho demais pra ser levado a sério numa briga como aquela. 

Apesar de todo sermão, do qual Catra só ouviu o "irresponsável" e "Podia ter machucado alguém, blá blá blá, velocidade, blá blá blá, você é cega?!", a estudante de zootecnia continuava ali avaliando minuciosamente a outra, pensando que com certeza ela poderia intimidar alguém se quisesse, mas pra isso precisaria não estar coradinha de raiva. 

Quando Catra finalmente percebeu que Adora havia calado a boca, ela resolveu falar alguma coisa só pra não transparecer que havia se perdido na conversa e na silhueta daquele corpo curiosamente atrativo. Por mais que a novata tentasse disfarçar, os seus olhos interessados não negavam, num cantinho bem escondido da sua mente, Catra realmente achava Adora atraente. 

- Você me julga mal, Adora. - Ela deu de ombros, dissimulada - Eu não fiz nada, só te dei bom dia. A culpa não é minha se você se assustou. - A carinha emburrada da outra só fez Catra se divertir ainda mais - É uma pena, nem todo mundo consegue lidar com meu bom humor pela manhã - Catra suspirou fundo, fingida, como se ela fosse a verdadeira vítima da situação. 

Aquele comportamento imaturo só irritava tanto Adora porque ela sabia que era proposital. Catra com certeza já era bem grandinha pra entender que não era passando com uma bicicleta praticamente por cima de alguém que se inicia um cumprimento de bom dia. O que a novata realmente queria era chamar atenção e aquele comportamento só deixava isso cada vez mais evidente sempre que as duas se encontravam. Adora com certeza já desconfiava, só não tinha certeza do porquê.

Naquele dia no corredor, Catra poderia ter simplesmente ido embora depois que se esbarraram. Mas ela decidiu seguir Adora pelo corredor, mesmo depois da menina ter ido embora sem olhar pra trás. Catra poderia ter deixado pra lá, mas ela preferiu voltar e provocar Adora numa perseguição infantil, tudo aquilo só pra chamar sua atenção. E pra falar a verdade, não era tão diferente de agora, mas dessa vez Adora já sabia o que fazer. 

O pior castigo pra quem quer chamar atenção é simplesmente esse: ser ignorado. 

-  Okay, Catra. Okay… - Adora suspirou lentamente, falando aquilo mais pra si mesma do que pra menina petulante que lhe encarava estranho, com uma sobrancelha erguida, observando enquanto a Adora respirava fundo e soltava o ar devagar algumas vezes com os olhos fechados. Como se estivesse reunindo forças pra não perder a cabeça. - Você não vai mais tirar minha paciência, hoje. - Depois de alguns poucos segundos Adora deixou que suas pálpebras deslizassem para cima lentamente, revelando um belo par de olhos azuis claros, acompanhados de um sorriso sereno. Catra não estava entendendo, mas naquele momento Adora estava comemorando internamente que o exercício de meditação que aprendeu no yoga tinha realmente funcionado. - Tenha um ótimo dia. - A loirinha disse com gentileza, transparecendo sinceridade. E antes que desse tempo da outra dizer qualquer coisa que perturbasse a sua paz, Adora iniciou uma nova caminhada, deixando Catra pra trás. 

Aquela calma toda só fez a estudante de zootecnia ficar menos satisfeita com seu desempenho matinal em irritar Adora até o momento, vendo a menina se distanciar sem nem olhar pra trás. Sendo assim, em poucos segundos, Catra finalmente havia percebido o óbvio: Adora queria ficar sozinha naquele instante. 

Algo dentro dela se incomodou profundamente com isso, deixando-a aborrecida. Mas se era isso que Adora queria, tudo bem, Catra não ia se opor. Sendo assim, ela tomou a decisão mais cabível em uma situação como essa, quando alguém deixa claro que quer ficar sozinho. Ela simplesmente montou em sua bicicleta fez o que tinha que fazer… seguir Adora, claro. 

A cada passo que a loira dava na direção da pista, Catra acompanhava com uma pedalada e seu olhar entediado, tentando transparecer que não estava nem aí. Seguindo Adora de pertinho, numa distância mais segura agora, Catra posicionou a bicicleta bem ao lado da garota de shortinho rosa enquanto acompanhava seu ritmo lento de corrida. Vez ou outra Adora olhava disfarçadamente pra ela pelo cantinho dos olhos enquanto Catra mantinha seu olhar fixo à frente, ouvindo o som relaxante dos passos da menina em contraste com o som abafado do pneu da sua bicicleta, acompanhando o percurso calada. 

Por conta do horário, o vento estava mais forte que o normal, derrubando sobre elas algumas poucas folhas e flores pequeninas que mais pareciam pedacinhos rosa de algodão doce se desprendendo dos galhos. Depois de alguns poucos minutos, Catra parecia ter sido envolvida pela aura de paz do lugar, já quase se esquecendo do seu objetivo primário de irritar Adora e agora por incrível que pareça, estava até apreciando a sua companhia. Apesar do olhar tedioso fixo à frente, sua mente estava distraída contemplando a paisagem e os pequenos cachinhos de flores que eram levados pelo vento. 

O mesmo vento que acariciava as árvores também brincava amavelmente com os longos fios negros e volumosos de Catra, que a cada leve pancada de vento presenteavam Adora com um aroma delicioso de shampoo que lembrava muito molho de maçã. 

As duas ficaram presas naquele ciclo por cerca de cinco minutos, só voltando a realidade quando Adora percebeu o quanto estava se distanciando do seu bloco esportivo,  parando imediatamente de forma brusca, fazendo Catra tomar um susto pela parada repentina. Ver a imagem de Adora ficar pra trás num borrão fez Catra dar um solavanco na bicicleta, quase caindo pra frente quando o pneu de trás levantou num impulso antes de aterrissar novamente no chão com um baque surdo na terra misturada com cascalho. 

-  Por que você tá me seguindo ? - Adora perguntou levemente frustrada, não pela companhia de Catra em si, mas pela menina continuar agindo como se não estivesse ali. Por que era tão difícil ignorá-la mesmo ela ficava quieta ? 

Quando ouviu a voz de Adora e finalmente voltou a si, Catra balançou a cabeça de um lado pro outro bem rápido, quase como uma chacoalhada, como se tivesse saído de um transe. 

-  Quê? E quem disse que eu tô te seguindo ? Eu ?! Não! Pfff! - Catra riu de nervoso por um segundo. Foi pega com a guarda baixa. Obviamente ela estava mesmo seguindo Adora, só não podia deixar que a menina percebesse que ela havia gostado disso. - Eu só tô afim de andar por aqui. Além de ser monitora de turma você é fiscal de pista também ? - Aquele tom irritantemente presunçoso de Catra causava um incômodo esquisito no estômago de Adora toda vez que a menina de cabelos negros sorria com o cantinho dos lábios, olhando na sua direção. 

-  Não! Eu… só… - Adora não tinha muito o que dizer, afinal, a pista era pública e Catra poderia sambar em cima da bicicleta vestida de dinossauro se ela quisesse. Só de pensar que mais uma vez Catra tinha a resposta certa na ponta da língua já era motivo suficiente pra começar a tirar Adora do sério. Essa garota nunca cansa de brigar ? - Qual é! Você tá numa área esportiva! Fala a verdade, você nem mesmo gosta de esportes! - Adora revirou os olhos em protesto, sabendo muito bem que Catra só estava tentando tirar ela do sério. De novo.

-  Como você sabe que não ? - A garota na bicicleta deu alguns passos pra trás, dando a volta na sua velharia branca até ficar de frente pra Adora, sentando desleixada no assento de couro gasto, apoiando ambos os pés no chão enquanto escondia as mãos nos bolsos folgados daquela calça jeans estilo boyfriend que estava vestindo. 

O guidão agora livre, sem o apoio dos seus braços, dava um meio giro em direção ao coz baixo daquela calça jeans que ficava parcialmente coberta pela sobra da camisa regata folgada que estava vestindo. O vento vez ou outra fazia o tecido da camisa se movimentar pelo corpo de Catra, deixando parcialmente a mostra as laterais bem desenhadas da sua barriga e os vestígios de um top preto e apertado que usava por baixo da regata, contrastando perfeitamente com o colar de prata estilo militar que ela usava pendurado no pescoço. 

Mas Adora não deixaria barato.

-  Aposto que nem sabe o que é uma assistência! - A atleta e capitã do time de basquete desafiou, cruzando os braços como uma sabichona. Depois dessa, Catra teria que admitir que só estava ali pra tirar sua paciência, como vinha fazendo na maior parte do tempo desde a primeira vez em que trombaram uma na outra.

-  É quando um jogador de basquete passa a bola diretamente pro cara mais próximo da cesta marcar o ponto. -  Catra disse indiferente, com a feição mais séria do que de costume, deixando Adora surpresa. É, Catra estava muito a frente na contagem de pontos. 

-  Tá bom, essa foi muito fácil. - Adora desconversou com uma expressão emburradinha com a qual a novata estava começando a simpatizar. 

-  Você também é ? - Catra perguntou num tom insolente, piscando seu olho azul pra Adora que instantaneamente franziu a testa sentindo um quentinho incômodo em suas bochechas. A loirinha passou quase meio segundo com a boca entreaberta tentando formular alguma palavra, mas sua mente estava em pane, sem saber como reagir diante daquela pergunta repentina que nada tinha a ver com o que estavam falando. Enquanto isso, Catra continuava lhe encarando com aquele sorrisinho sem vergonha, carregado de conotação sexual. 

Apesar de todo o nervoso, Adora sabia muito bem que Catra estava mais interessada em zoar com a cara dela do que em de fato passar uma cantada. 

- Será que dá pra você levar uma conversa a sério por pelo menos cinco minutos ?! - Adora perguntou num misto de irritação e constrangimento, escondendo o rosto com uma das mãos, fazendo Catra cair na risada. 

Apesar da brincadeira ter funcionado como ela previu, Catra não tinha certeza se Adora gostava de meninas, mas alguma coisa nela fazia parecer que sim. E de qualquer forma, Catra só estava brincando. Não estava ?

-  Mas eu tô séria, ué. Foi só uma pergunta. Se bem que... - Antes que a engraçadinha pudesse fazer mais alguma brincadeira provocante na tentativa de sondar cuidadosamente a sexualidade de Adora, seu celular começou a vibrar freneticamente por baixo do tecido jeans. 

Tirando rapidamente o aparelho do bolso, Catra viu uma enxurrada de mensagens chegando pela barra de notificação. Deslizando o polegar pra baixo, ela leu rapidamente o corpo de algumas mensagens que iam e vinham pela tela de bloqueio. 

Claramente, era Swift Wind, perguntando onde diabos ela estava e deixando bem claro que ela não esquecesse o jaleco pra entrar no laboratório. Era mesmo, aquela seria sua primeira aula de bioquímica do semestre, precisava chegar no setor de zootecnia, guardar sua bicicleta, trocar de roupa e estar na porta em menos de vinte minutos. 

Por mais que a curiosidade dentro dela clamasse por uma resposta de Adora, Catra não era atleta e muito menos tão rápida na bicicleta como Adora seria correndo, então não podia se atrasar mais do que isso.

- É, eu preciso ir agora - A voz grave e despreocupada de Catra fez Adora voltar a si. Apesar de tudo, alguma coisa nela havia gostado da provocação, mesmo que  não admitisse pra si mesma.

Seus olhos azuis se permitiam registrar sem pudor aquela cena, enquanto Catra montava em sua bicicleta, petulante como de costume, com suas roupas folgadas e sorriso atrevido, virando na direção oposta de Adora, com o pé direito fixo no pedal. 

- Até que foi legal o passeio, de nada pela companhia. - Catra se virou apenas pra sorrir debochada com o cantinho dos lábios - A gente se esbarra por aí, Adorada. - A menina se despediu com um aceno, depois de virar as novamente costas.

Apesar do humor ácido e do brilho provocativo que nunca deixava seus olhos coloridos, Adora pensou que talvez Catra estivesse tentando ser amigável dessa vez... do jeito dela. Mesmo com aquele apelido idiota e jurando que Adora agradeceria a ela por alguma coisa.

Quando Catra desapareceu em direção ao setor de zootecnia, passando em alta velocidade por cima da grama com a bicicleta, pra cortar caminho, Adora deixou um longo suspiro derrotado escapar pelos seus lábios. Ela tinha que ir logo por ali, ignorando todas as placas de "não pise na grama" que haviam pelo caminho. 

- Ela faz questão de ser idiota - Apesar de não estar com nenhum clima pra voltar a correr, Adora resolveu fazer o caminho inverso, seguindo direto pro vestiário feminino que ficava próximo da pista de atletismo e como ela tinha a chave, ficava mais fácil de entrar. 

Seu armário sempre tinha alguns uniformes, roupas extras e algumas jaquetas vermelhas da universidade, daquelas que ela ganhava todo ano. Olhando sua pulseira digital, Adora viu que não daria tempo de voltar pra casa, por mais perto que fosse. Decidiu aproveitar o vestiário vazio e tomar um banho rápido antes de ir pra aula, deixando suas roupas sujas em um saquinho no fundo do armário e caminhando até uma das cabines com chuveiro.

Enquanto a água fria do chuveiro caía numa enxurrada deliciosa sobre a sua cabeça, a mente bagunçada de Adora lhe traiu, trazendo a imagem sacana de Catra piscando pra ela daquele jeito idiota, só pra provocar e tirar sarro dela. 

Já não bastando tudo que havia feito desde o primeiro dia, Catra ainda conseguia invadir até mesmo seus pensamentos,  se apresentando lá firme e forte, pra testar a paciência de Adora. 

-  Eu não posso me distrair... - Adora rosnou baixinho pra si mesma martelando uma das mãos contra os azulejos vermelhos e brancos da parede, sentindo uma onda de dor latejar do seu punho até o braço. O fluxo da água que descia dos seus cabelos até a planta dos pés foi interrompido quando Adora  pegou a toalha branca e passou pelo rosto como se quisesse se afundar nela que nem uma pedra se afunda sem medo quando é jogada no fundo de um poço. - Mas quem me dera fosse assim tão fácil… - Adora suspirou profundamente na toalha com cheirinho de amaciante antes de se secar e sair do box. 

Depois de vestir uma calça legging preta, seus sapatos de sempre e uma camisa bege de algodão por baixo da jaqueta esportiva vermelha e branca da universidade, Adora seguiu pra sua sala torcendo que os cabelos soltos pudessem secar até a hora do intervalo. 

Chegou pontualmente, como de costume, sentando em uma das primeiras cadeiras, bem de frente ao quadro, ao lado de Bow, que já esperava por ela enquanto quebrava a cabeça pra entender algumas fórmulas e protocolos avançados de treino. 

- Você tá legal ? - Bow perguntou assim que percebeu o semblante meio cansado que Adora trazia no rosto.

- Acho que sim, só tô cansada. Acordei cedo, fui correr, demorei mais do que deveria… - Ela finalizou a frase com um bocejo desajeitado que fez Bow sorrir em resposta, oferecendo um carinho gentil nos cabelos loiros da outra, que agora estavam esparramados por cima dos ombros. Adora quase nunca soltava o cabelo e mesmo assim seus fios dourados não ficavam marcados pelo elástico. Eram tão lisos que que até pra bagunçar era difícil. 

- Tá preparada pra esse fim de semana ? - Bow levantou as duas sobrancelhas sugestivamente como se estivesse querendo insinuar algo. Mas Adora sabia bem do que se tratava. 

- Não brinca, já é esse fim de semana? - Adora choramingou manhosa deitada sobre a bancada da sua cadeira, fazendo um biquinho. 

- Como assim ? Claro que é! Animação! - Bow jogou os braços pra cima numa tentativa inútil de promover o mínimo de dignidade em Adora, que continuava deitada implorando pela morte. - Eu sei que você odeia, mas por favor, eu juro que no próximo semestre eu não deixo mais colocarem o seu nome. Só dessa vez… - Os olhinhos brilhantes de Bow poderiam engolir Adora com sua aura pidona. 

- Okay… Mas por favor, chama só os mais chegados. Eu detesto bagunça e ainda mais você sabe como a Glimmer fica com essas festas. - Adora suspirou com desgosto lembrando de todas as vezes que Glimmer derrubou "sem querer" as peças do xadrez, do war, da dama e de todos os jogos de tabuleiro possíveis e imagináveis no qual ela estivesse perdendo. Adora e Bow não ligavam muito, já as outras pessoas com quem ela queria jogar nos fins de festas…

- É, eu sei. Mas vai ser uma coisa bem família, relaxa. Só os mais chegados. Esse fim de semana, tá bom ? - 

- Aham… - Ela soltou o ar pela boca fazendo uma careta entediada quando o professor passou pela porta. Como não teve tempo de comer um lanche depois da corrida de hoje cedo, a barriga de Adora estava roncando e implorando por um pedaço enorme de melancia. Mas ainda faltava quase duas horas pra saciar sua fome no intervalo, até lá… caderno, caneta… e aula de nutrição. Que castigo. 

O intervalo de todas as turmas eram no mesmo horário, o que facilitava bastante o período de troca de professores. Durante a construção da universidade, os arquitetos planejaram um refeitório a cada cinco setores, para evitar a superlotação entre os cursos. Dessa forma, era comum que muitos estudantes de outros cursos migrasssem entre os refeitórios pra almoçar com seus colegas mais próximos.

Desde o seu primeiro dia na universidade, aquela era de fato a primeira vez que Catra colocava os pés no refeitório, graças a insistência de Swift Wind. A comida do refeitório não era ruim, mas ela preferia comer seu almoço caseiro, especialmente preparado durante os únicos momento de paz naquele inferno que ela chamava de casa. Não era fácil cozinhar em silêncio quase absoluto durante a madrugada, mas era o único horário em que os seus colegas bêbados estavam apagados e roncando como tratores nos quartos confortáveis lá de cima.

Como nunca foi uma pessoa de muitos amigos, Catra estava mais do que acostumada a  comer sozinha em algum lugar calmo e reservado. Mas o refeitório não era nem de longe calmo e muito menos reservado. Assim que entraram pela porta leste, Catra foi mergulhada naquele salão cheio de alunos, casais, comida e mais casais, um mais estranho que o outro. 

- Vamos pegar uma mesa! - Swift Wind disse animadíssimo, segurando sua bandeja com almoço nas mãos. Ao contrário de Catra ele adorava multidões. Aquela não era sua primeira vez no refeitório, mas era a primeira vez que poderia se sentar com alguém, igual a todo mundo, e comer com uma amiga, não sozinho como todas as outras vezes em que ficava esperançoso para que alguém sentasse do seu lado, mas nunca aconteceu. Ninguém queria ficar perto de uma alegoria de carnaval ambulante, era o que diziam. 

Swift Wind não perderia essa oportunidade por nada! Queria aproveitar aquele momento ao máximo, enquanto Catra ainda o suportava. 

- Lá fora é bem menos barulhento - Ela reclamou mau humorada, jogando de qualquer jeito sua bolsa térmica sobre uma das poucas mesas vazias ao fundo.

- Mas aqui tem gente! Calor humano! - Swift Wind respirou fundo como quem apreciava o cheiro das multidões e Catra instantaneamente fez uma careta, sentando de qualquer jeito ali, enquanto o ruivo continuava a falar deslumbrado sobre as sete maravilhas do refeitório - Tem risadas! E fofocas! E… - O rapaz foi interrompido bruscamente quando Catra levantou num salto, quase derrubando a bandeja de Swift Wind no chão, branca como se tivesse visto um fantasma. 

- O que foi ?! - Ele perguntou apreensivo, olhando na mesma direção que ela e entendendo na hora o motivo do pavor nos olhos coloridos da menina. 

Huntara estava de pé, vestindo uma camisa preta de algodão bem colada ao corpo, destacando os músculos exageradamente fortes dos seus braços, peitoral, ombros e onde mais pudesse haver musculatura ativa. Vestia também uma calça preta de couro feita sob medida, não era preciso nem dizer o que todo aquele couro preto e apertado destacava em conjunto com seu par de coturnos excepcionalmente brilhantes. Pra Catra, era a visão do satanás abrindo as portas do inferno.

Ou nesse caso, fechando. A brutamontes se colocou de pé junto com seu grupo de capangas, bloqueando a passagem de um dos portões de entrada do refeitório. Huntara liderava o bando, então se mantinha bem a frente da entrada da porta, socando a própria mão ameaçadoramente enquanto metia medo num grupo de jovens que pareciam ser novatos. 

- O refeitório não é um lugar para os fracos! - Huntara gritava, chamando atenção de alguns alunos que já estavam dentro do salão. - Se querem comer, tem que sobreviver primeiro! Eu desafio todos esses covarde a tentarem passar por essa porta sem levar um soco na cara primeiro! - Ela ria alto, sendo acompanhada pelos companheiros de casa que Catra conhecia bem. Aquela situação não podia ficar pior. 

Apavorado, Swift Wind procurou com os olhos os seguranças que tomam conta do refeitório durante o período da manhã, mas pelo visto, eles foram coagidos a sair até que Huntara terminasse sua apresentação. Ou show de horrores, como algumas pessoas comentavam aos sussurros. Ela sempre foi valentona, mas nunca havia feito algo do tipo. Essa era a primeira vez que a gangue de Huntara se mostrava tão agressiva. Talvez fosse pela enorme quantia em dinheiro que os pais dela mandaram ao reitor solicitando que "cuidassem bem" da filha deles não importando o que aconteça. Mas não era nada confirmado, ao que parece.

Mesmo nas mesas mais ao fundo, onde Catra estava com Swift Wind, era possível ver de longe as feições assustadas dos estudantes amontoados em frente ao muro de músculos que era Huntara. 

- Se vocês não caírem fora agora, eu mesma vou colocar vocês pra fora na porrada! - Ela erguia seu punho fechado e avançava na direção dos estudantes rindo maldosa, num ato de ameaça genuíno. Pela altura da garota e pela quantidade de músculos muito bem distribuídos e treinados do seu corpo, até um leigo teria noção de que um soco dela poderia quebrar mais de um osso por vez quando atingisse o seu alvo.  

Mas o que realmente apavorou Catra não foi nem o grupo amedrontado e trêmulo encolhido atrás da porta de entrada, e por incrível que pareça, também não foi a ameaça explícita de Huntara. 

Mas sim a visão de um corpo pequeno e altivo se colocando bem na linha de frente, com uma postura desafiadora. Os pequenos punhos cerrados e os dentes trincados de raiva chamavam atenção enquanto aquele rostinho sério encarava Huntara com um par ameaçador de olhos azuis tão claros que podiam ser vistos mesmo de longe. 

- Então você vai colocar alguém pra fora no soco ? - A voz grave e nada parecida com o gaguejar tímido que Catra ouviu horas atrás se fez ouvir em alto e bom tom pelo salão que ficou tão silencioso quanto um velório em questão de segundos. -  Eu quero ver você tentar... -

Swift Wind engoliu seco como se tivesse bebido um copo de 500ml de areia do deserto - Aquela não é a… ? - Antes mesmo que ele pudesse terminar a pergunta, Catra já havia respondido com um tom mais que surpreso, era quase como um sussurro apavorado.

- Puta merda, Adora... -


Notas Finais


Poxa Adorada... E agora ? :x

Cês acham que isso vai dar certo? >_>"


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