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História I want love - Quando as palavras se tornam canções


Escrita por: Nacchan_Hwang

Notas do Autor


Heeeey ~ ✨
Olha só quem resolveu aparecer *desvia dos tomates* ops! Calma galerinha ;-; Não me odeiem

Eu sei que demorou pra caramba pro capítulo sair e que eu tô postando ele às onze da noite de um sábado... :') MAS eu posso explicar. Durante esse tempo aconteceram umas coisas que acabaram me deixando meio mal e por conta disso eu acabei me distanciando um pouco da fanfic pra poder dar mais atenção aos meus próprios sentimentos e pensamentos nesses tempos conturbados de quarentena. Espero que entendam <3

Em compensação pela demora, eu gostaria de entregar pra vocês esse capítulo, que é o maior já escrito até agora ❤️✨ Tentei meu melhor pra deixar a leitura bem fluída e gostosa pra vocês então espero que gostem ><

Boa leitura e até lá embaixo! *Insira um sorriso aqui* 😁

Capítulo 7 - Quando as palavras se tornam canções


Fanfic / Fanfiction I want love - Quando as palavras se tornam canções

Devido a proporção gigantesca que a briga entre Adora e Huntara havia tomado diante do corpo estudantil, no dia seguinte ambas foram chamadas até a sala do reitor, onde deram suas versões totalmente diferentes do que aconteceu. 

Enquanto Adora entregava uma versão totalmente realista, completa e detalhada a respeito de como Huntara estava intimidando os outros estudantes a base de insultos e insinuações violentas, Huntara apenas ouvia tudo sentada na poltrona confortável ao seu lado com uma expressão de quem não estava dando a mínima. O velho reitor de semblante sereno permanecia sentado ali, com seus dedos grossos e enrugados entrelaçados sobre a mesa. De vez em quando, pra mostrar que estava ouvindo, o reitor concordava levemente com a cabeça enquanto a loira tentava se explicar e deixar bem claro o porquê de ter agredido outra estudante que tinha duas vezes o seu tamanho em altura, em largura e em músculos.

- Eu entendo perfeitamente, senhorita Grayskull. - O homem careca que parecia ser tão baixo quanto Glimmer, ponderava enquanto tamborilava os dedos sobre a enorme mesa de madeira.

- Então o senhor sabe que eu estou falando a verdade - Adora sorriu aliviada, recebendo um olhar reprovador.

- Eu entendo que essa situação levou as duas a tomarem medidas irresponsáveis e violentas... - Ele disse limpando a garganta. Enquanto isso, Huntara continuava sentada despreocupadamente na poltrona confortável mais a frente. 

Depois de toda explicação coerente de Adora, o reitor deu a palavra a Huntara que, na posição em que estava, devería no mínimo se defender. Mas tudo o que a garota fez foi ignorar a situação e comentar sobre o quanto Adora estava sendo exagerada e como tudo não passou de uma brincadeira com os novatos, que por acaso, acabou causando aquele mal entendido. Enquanto falava, Huntara procurava sempre deixar bem claro que não guardava nenhum tipo de ressentimento por Adora pelo houve, nem mesmo pela marca levemente roxa que a loira havia deixado em sua face direita. 

Apesar da cara de paisagem, o reitor sabia muito bem quem havia começado toda confusão. Até porque, vários alunos também foram chamados pra depor a respeito do ocorrido numa reunião especial, assistidos com atenção pelo corpo de membros honorários do conselho de ética da universidade.

A solução mais correta e mais coerente para os membros do comitê seria a expulsão de ambas, pela incitação à violência no ambiente estudantil. Porém, como os boatos confirmaram posteriormente, o reitor havia mesmo recebido um "cumprimento generoso" dos pais de Huntara meses antes, dando a garantia de que nada de ruim aconteceria com a filha deles até onde ele pudesse evitar.

E como havia prometido, o velho mexeu seus pauzinhos, garantindo que as meninas tivessem apenas alguns poucos dias de suspensão onde poderiam repensar suas ações e esfriar a cabeça. Afinal, "Jovens, vocês sabem como é", foi o que ele disse ao comitê de ética com a desculpa de que um aviso firme já seria o suficiente.

Até porque, expulsar Adora, que lutou pela segurança dos colegas e livrar a agressora principal da punição que merecia seria uma injustiça descarada demais até pra ele. E tendo consciência de que todo aquele marketing negativo pegaria muito mal pra imagem da faculdade lá fora, ele preferiu sair como o reitor benevolente da história, ao invés de injusto.

Além  da punição de três dias de suspensão das dependências da faculdade, o comitê de ética ainda estipulou que as garotas deveriam manter pelo menos um metro e meio de distância entre si quando frequentassem o mesmo ambiente dentro campus. Só por precaução.

E como em toda boa instituição de ensino superior, as notícias correram mais rápido do que Usain Bolt na reta final das olimpíadas, causando um tumulto eufórico entre os estudantes. 

Antes mesmo que as próprias Adora e Huntara ficassem sabendo da decisão tomada pelo comitê, toda universidade já estava sabendo da suspensão, da medida restritiva e principalmente, sabendo que que dali pra frente aquela universidade jamais seria a mesma.

Em questão de pouco tempo vários grupos se formaram entre os estudantes dos mais diversos cursos. Uma parte gigantesca acreditava que Adora havia sido uma espécie de heroína, defensora dos fracos e oprimidos. Outra parte, bem pequena, achava que ela tinha apenas dado sorte. E por fim, havia o grupo que sentia uma certa afinidade pelas atitudes grotescas de Huntara e torciam pra que Adora tivesse sido expulsa junto com a valentona, pela própria segurança deles. Claro que nem é preciso mencionar que esse último grupo se tratava da gangue formada pelos moradores da Crimson Waste e alguns outros aspirantes a delinquente. 

Mas no fim de tudo, a paz havia reinado… Só que infelizmente, não para todos. Afinal, apesar da euforia e admiração repentinas que Catra havia sentido por Adora no dia da briga, nada se comparava ao medo que a garota sentia agora em ser descoberta por Huntara. Até porque ela e a valentona ainda moravam sobre o mesmo teto e Catra não sabia ao certo como reagir diante de tudo aquilo, principalmente agora que a adrenalina e os ânimos haviam enfim se acalmado.

Quando Catra voltou pra casa naquele dia, ainda meio abalada pela situação toda, a garota ficou em alerta o tempo todo, atenta a qualquer barulho que indicasse a chegada da brutamontes naquela república. 

Seus pensamentos se embaralhavam entre perguntas que basicamente se resumiam em: E se alguém tivesse visto ela acertar Huntara ? E se a essa altura ela já estivesse sabendo de tudo ? E se ela chegasse do nada batendo primeiro e perguntando depois ? 

O embrulho no estômago já era quase uma gastrite nervosa, mas não era como se Huntara fosse notar. 

A grandalhona anunciou sua chegada na casa com uma batida violenta na porta de entrada e um mau humor irritadiço, praguejando aos quatro ventos sobre o quanto era tedioso ter que passar a manhã toda presa naquela sala que cheirava a madeira velha misturada com vômito, de acordo com a própria descrição dela. 

- Mas chefe, você não foi expulsa ? - Uma voz grave e abobalhada chamou atenção de Huntara na sala ao mesmo tempo que provocava um efeito semelhante sobre a audição aguçada de Catra, que até o momento ainda estava andando pelo quarto minúsculo nervosamente, de um lado pro outro.

- Claro que não, idiota! - A voz de Huntara ecoou pela casa, fazendo Catra enrijecer como um soldadinho de chumbo e praticamente colar sua orelha na porta por instinto, apreensiva. - Você acha que o idiota do reitor vai me expulsar? Eu PAGO o salário dele! - 

- V-Você tem razão, chefe! - Uma voz esganiçada gaguejava na sala.

- Mas o que diabos realmente rolou ontem, Huntara ? - A voz conhecida do braço direito de Huntara se fez ouvir - Eu nunca vi você perder uma luta, ainda mais contra uma nanica... - O silêncio constrangedor na sala pesou até mesmo sobre Catra, que ainda estava trancada no quarto, ouvindo tudo colada na porta.

- Eu não perdi, Kyle. - Era visível o mau humor na voz da garota, mas era notável também o jeito completamente diferente dela falar com Kyle. O garoto não parecia nada ameaçador quando se olhava de perto. Era magro, pequeno, pálido e com cabelos lisos cor de palha que cobriam parcialmente seus olhos igualmente claros. O garoto parecia mais um fiapinho de vassoura do que de fato um homem, mas em questão de maldade era tão perigoso quanto Huntara… ou mais ainda do que a garota.

- Alguém me acertou por trás quando eu estava quase fazendo a loirinha se render pra mim! - A única mulher presente na casa além de Catra vociferou audivelmente, fazendo a morena de olhos coloridos engolir seco. 

- Mas você não viu quem foi ? - Um dos garotos perguntou curioso recebendo um grito colérico como resposta.

- Se eu soubesse você acha que eu não teria matado o desgraçado na porrada naquela mesma hora, lá mesmo ?!! - A pergunta não só fez o rapaz empalidecer como também fez as pernas de Catra bambearem num misto de alívio e nervoso. Huntara não sabia. 

- Graças aos céus… - Catra finalmente se permitiu soltar todo ar dos pulmões, encostando as costas na madeira gelada da porta enquanto continuava ouvindo Huntara reclamar na sala.

A grandalhona não fazia ideia de quem havia lhe acertado por trás, apesar de ter reclamado sobre isso em alto e bom tom junto aos seus lacaios por pelo menos uns dez minutos enquanto permaneciam jogados nos sofás da Crimson Waste. 

Ouvir tudo aquilo fez os nervos de Catra voltarem a funcionar gradativamente depois de alguns minutos. 

Huntara não sabia. 

Essa certeza deveria ter sido o suficiente pra garota se manter a salvo da gigante... mas nada na vida era assim tão fácil. 

Afinal, três dias de suspensão eram mais do que o suficiente pra Huntara transformar sua vida num inferno, mesmo sem motivos concretos pra isso. Dali em diante seriam três dias inteiros tendo que aguentar mais garrafas vazias em sua porta, a música alta e os desaforos que vez ou outra tinha que suportar quando topava com a outra pela casa. Eram três dias no inferno. E por um milésimo de segundo irracional… a morena sentiu ferver em seu corpo uma raiva contida de Adora por isso. 

Por mais que soubesse que não fazia sentido algum, a mente de Catra continuava repetindo que era culpa de Adora que Huntara estivesse em casa a partir de agora. E também era culpa dela parecer tão imbatível no meio de uma briga onde claramente ela deveria ter perdido. 

Toda aquela situação só fazia Catra pensar sobre o que diabos ela tinha na cabeça pra se envolver naquilo… havia sido realmente só pela oportunidade de se vingar de Huntara, por todas as idiotices que ela vinha aprontando durante esse tempo em que Catra passou a morar na Crimson Waste ? Ou havia sido o seu instinto, aliado ao pico de raiva e adrenalina que estava sentindo  no momento, por ter que presenciar Huntara tratando Adora daquele jeito estúpido ? 

Sem sombra de dúvidas Catra preferia continuar afirmando pra si mesma que só havia feito aquilo por vingança. Mas no fundo, ela sabia que por mais que tentasse ignorar aquela voz baixinha que se escondia estrategicamente por entre os seus pensamentos, não dava pra fugir dos sussurros que continuavam repetindo a mesma coisa sem parar. 

"Você sabe o que sentiu" 

E a negação vinha em forma de raiva, principalmente quando pensava em Adora. Catra na verdade só tinha medo de admitir pra si mesma que atacou Huntara por se importar minimamente com aquela loira inexplicavelmente atraente de olhos azuis. 

Mas seu orgulho jamais aceitaria o sentimento repentino e destrutivo que tomou conta de todos os seus sentidos no dia anterior. Foi como uma sensação real de que alguém estava dilacerando o seu peito sem piedade, como uma chama, altamente inflamável, perto de um tracejado de pólvora. E tudo isso somente por ter presenciado o momento exato em que Huntara machucou Adora, com o puxão maldoso em seus cabelos.

Aquele sentimento conturbado e desobediente pareceu ter consumido seu peito em questão de segundos, desencadeando nela uma reação involuntariamente desesperada, como a de bater em alguém. Mesmo ela sabendo que não era certo. 

A única certeza que Catra tinha no momento era que esse sentimento precisava ir embora, mas que ela não sabia como fazê-lo desaparecer. E mesmo que Catra continuasse a repetir pra si mesma no íntimo dos seus pensamentos que não era possível… A mesma voz continuava sussurrando baixinho aquela verdade esmagadora demais pra ser digerida facilmente: Ela se importava com Adora. De alguma forma que não sabia explicar, ela realmente se importava.

E era muito complicado pra Catra processar que talvez ela realmente considerasse Adora como alguém em potencial, alguém que poderia vir a ser muito mais do que só uma amiga irritantemente atraente, principalmente depois de tudo que havia acontecido entre as duas. 

- Por que você não sai da minha cabeça, sua insuportável ?! - A morena praguejou esfregando freneticamente a própria cabeça com as pontas dos dedos, bagunçando seus volumosos cabelos negros numa tentativa inútil de afastar Adora de seus pensamentos. 

Quando finalmente se deu por vencida, Catra desabou desleixadamente na cama pequena com uma expressão emburrada. Depois de alguns segundos encarando o teto e bufando audivelmente, a garota simplesmente esticou o braço pra perto da mesa e puxou pra si uma capa de couro preta que servia de proteção para o seu violão surrado, que tinha da mesma cor. Sentando-se com as costas apoiadas na parede, Catra posicionou firmemente o instrumento sobre o colo, afinando algumas cordas frouxas pela umidade. 

Talvez dedilhar alguns acordes ajudassem a mente da garota a tirar Adora de lá.  

No momento em que a pontinha afiada de suas unhas fizeram ressoar a primeira escala melódica em dó maior, Catra sentiu uma paz conhecida percorrer seus pensamentos. E a medida em que dedilhava com habilidade as cordas de aço tensionadas pela madeira,  uma melodia agradável ia se formando pouco a pouco, como um quebra-cabeça, preenchendo a sua mente. 

Quando as primeiras notas fizeram sentido aos seus ouvidos, Catra começou a cantarolar algo, baixinho. Muitas vezes a garota sentia como se alguém estivesse sussurrando aquelas palavras em seu ouvido, porque as rimas e estrofes simplesmente apareciam, naturalmente, como uma expressão sincera e contida dos seus sentimentos mais profundos. 

Era melhor colocar logo tudo aquilo pra fora, principalmente naquele momento, em que ninguém além dela mesma poderia sequer ouvir seus sussurros acompanhados pela melodia fraca do violão.

- Faço tudo pra chamar sua atenção, de vez em quando eu meto os pés pelas mãos… Engulo a seco um ciúme quando outra idiota quer tirar de mim sua atenção...  - A imagem de Huntara surgiu na mente de Catra e fez a menina dar uma ênfase raivosa ao "idiota" na música, porque ela sabia que no fundo… Também estava sendo uma babaca por continuar provocando Adora a ficar com raiva dela quando na verdade só queria arranjar um jeito de se aproximar. 

Não esperava que a loira fosse correr atrás dela pelo chaveiro quando se conheceram. Não esperava que ela fosse saltar por cima dela e sujar toda sua roupa terra. Muito menos esperava que essa mesma garota fosse livrar sua cara do treinador bravo depois de tudo isso. 

Esperava a raiva, esperava as discussões idiotas… mas talvez a coisa que ela menos esperava, no fim de tudo, foi  que a companhia de Adora fosse lhe fazer experimentar um sentimento tão reconfortante durante aquele passeio silencioso na pista de cooper. Ou ainda, que a garota fosse tão gentil, tentando sinceramente uma trégua entre as duas… mas como sempre, Catra precisava estragar tudo. 

Adora era confiante e assustadoramente forte quando precisava ser, mas ao mesmo tempo ela também parecia uma criança birrenta quando ficava com raiva, principalmente quando Catra estava por perto. Seu jeito de falar, seus olhos azuis apertados e até o biquinho fofo que fazia depois de reclamar deixavam a novata balançada de um jeito que ela não sabia explicar.

Catra nem mesmo sabia quando havia passado a reparar nesses pequenos detalhes, mas sua mente já havia gravado tão bem alguns trejeitos de Adora… Que se tornava difícil não pensar nela.

- O seu charme, seu olhar… - Catra cantarolava baixinho, ainda emburrada - Sua… metida a heroína… do topete loiro que me irrita… - Quando percebeu que a música estava ficando melosa demais, Catra começou a resmungar constrangida depois de ouvir em voz alta seus próprios pensamentos. E num movimento rápido, a menina puxou sua mochila pra perto, pegando um caderno pequeno e um lápis mordido na ponta com o qual anotou as palavras que vinham sinceras do seu coração, direito naquela folha de papel… menos a última parte, porque essa não havia sido tão sincera assim. 

Catra continuou dedilhando insistentemente aquela mesma melodia que precisava registrar, antes que tudo simplesmente fugisse da sua cabeça. E por coincidência, ou não, a sonoridade da canção lhe fazia pensar que talvez devesse tentar ser pelo menos um pouquinho mais legal com Adora… no fundo, ela queria mesmo ser amiga dela. Só ainda não sabia como dizer isso sem parecer melosa ou uma completa idiota. 

A tarde já estava começando a dar os primeiros sinais de sua presença, tendo em vista que os tons de azul ciano no céu começavam a ganhar um leve degradê amarelado, quase imperceptível.

Naquele mesmo dia, num bairro bem mais afastado da Crimson Waste do que Catra poderia imaginar, Adora andava de um lado pro outro na cozinha com suas meias confortáveis de algodão enquanto procurava alguma coisa pra comer na geladeira farta, cheia de comida nutritiva, energéticos e algumas latinhas de refrigerante que ficavam jogadas mais ao fundo pra quando Bow e Glimmer vinham visitá-la.

- Não acredito como ele teve coragem de dizer na minha cara que a briga não tinha sido nada demais! Ele é o reitor! O mínimo que poderia ter feito seria punir Huntara de verdade pelo que ela fez! - Adora reclamava consigo mesma, batendo a porta da geladeira com força.

A geladeira de inox, com duas portas enormes, combinava perfeitamente com os tons de preto e cinza das bancadas de mármore, que por sua vez, contrastavam num oposto sublime com o piso de porcelanato branco. Uma cozinha bem planejada como aquela não queria guerra com ninguém.

Mas também, o que esperar de uma casa de primeiro andar toda decorada em estilo moderno, com janelões de vidro e portas de madeira de carvalho? Sem falar nos dois quartos enormes no andar de cima, do escritório, da piscina, das duas salas, do quintal, do jardim e da garagem simbólica que poderia abrigar perfeitamente dois carros se Adora não tivesse apenas um. Aquele carro branco esportivo, lançado no início do ano. Morar no bairro nobre de Bright Moon tinha suas vantagens.

- Nada tira da minha cabeça que ele foi comprado… - Adora ponderava pensativa, levando seu prato feito até o microondas. 

Comparada com Catra, Adora tinha uma vida de rainha. Sua casa era grande, silenciosa e obsessivamente limpa. 

Mesmo morando sozinha, Adora fazia questão de que cada coisa permanecesse no seu devido lugar. Detestava bagunça, apesar dos seus livros de estudo permanecerem sempre empilhados desajeitadamente sobre a mesa de vidro do escritório. A piscina de tamanho considerável que ficava na parte de trás da sua casa era, sem dúvidas, a cereja do bolo nos dias de verão. Principalmente quando Bow e Glimmer decidiam passar uns dias lá, durante as férias, e às vezes acabavam ficando até o período de volta às aulas. Era divertido. 

- Se ao menos alguém tivesse filmado alguma coisa… - A loira soltou um suspiro pesado, pegando seu prato de volta e sentando confortavelmente em um dos banquinhos livres que ficava do outro lado da bancada. Não se conformava em ter sido suspensa daquele jeito, em ter sido punida por fazer o que era certo. Mas agora não havia muito o que pudesse fazer.

Depois de comer seu almoço cheio de proteínas e vitaminas essenciais, Adora jogou tudo na pia e arrastou os pés até a sala, onde se permitiu afundar vagarosamente no sofá branco e confortável que formava um L perfeito. O móvel era usado como divisória entre a sala de estar e a de jantar, sala essa que Adora nunca nem mesmo usava, já que só comia encostada na própria bancada da cozinha ou bem largada no sofá. 

Depois de toda frustração por ter sido suspensa, Adora só desejava algumas horas de paz. Bow e Glimmer até se ofereceram pra passar a tarde junto com ela naquele dia, mas a loira já havia recusado gentilmente. Depois de toda aquela situação surreal com Huntara e o reitor, ela só queria seu sofá confortável, suas meias de algodão e seu MacBook sobre o colo, logado no seu jogo online favorito. 

Mesmo ali, quietinha e sentada com as pernas grossas apoiadas sobre uma singela mesinha de centro, Adora ainda não conseguia acreditar que havia simplesmente… perdido pra ela. 

Vez ou outra, a sensação incômoda e dolorida em seu abdômen relembrava sua mente do soco forte de Huntara, que mais parecia uma martelada. 

Só de pensar nisso, o maxilar da menina já travava de raiva e suas têmporas pulsavam com força. Não havia ganho a briga de verdade. Se não fosse pela pessoa misteriosa que acertou Huntara por trás, Adora provavelmente estaria toda desconjuntada na enfermaria agora. A loira tinha consciência de que Huntara tinha pelo menos o dobro do seu tamanho e da sua força também, mas ser pêga desprevenida daquele jeito havia sido tão… humilhante. 

Apesar dos longos treinamentos de luta com sua mestra, Adora sabia que ainda era muito cedo pra confiar cegamente nas suas habilidades de combate. 

"Pense antes de atacar! Você precisa entender o que está fazendo e quais as consequências dos seus golpes. Ainda vai acabar levando uma surra por ser tão impulsiva. Você é forte, Adora. Tem uma boa técnica, mas somente a sua força bruta sem estratégia é como tomar chá numa xícara de cristal… Com um buraco no fundo."

Aquelas palavras pareciam dominar completamente seus pensamentos conturbados. Adora sentia tanta vergonha de si agora… Havia feito exatamente o contrário do que foi ensinada a fazer. Tanto tempo treinando autocontrole pra perder toda a razão justo agora, brigando com Huntara.

"Sempre vai existir alguém melhor ou mais forte e não há nada que se possa fazer. Mas se quer melhorar, precisa aprender a controlar seus instintos e pensar nas consequências antes de atacar." 

E claro, não podia faltar a frase que a capitã mais odiava "Paciência, Adora. Ninguém é perfeito". 

Só de pensar nisso, a loira já sentia seus pés formigando por baixo das meias. Eles eram sempre a primeira parte do seu corpo a dar sinais de que o seu sangue estava começando a ferver, logo depois das suas bochechas vermelhas, é claro. 

Mas esse seria um problema que ela resolveria depois, quando estivesse com a cabeça no lugar. Por hora, Adora se contentava apenas em abrir seu jogo, selecionar uma equipe de pessoas aleatórias e tentar subir alguns níveis naquele universo paralelo onde ela podia tudo. Podia ser forte, rápida, estratégica… E ao mesmo tempo proteger seus amigos. Em outras palavras, naquele universo, ela podia mesmo ser perfeita. E naquele momento, apenas isso lhe bastava.

Depois do jogo, sua rotina já estava planejada, como em todas as tardes: estudar, revisar o trabalho do seu grupo, estudar mais, ajudar alguns novatos que estavam sob a sua mentoria no curso, fazer uma chamada de vídeo com seus pais pelo MacBook e tentar estabelecer um diálogo saudável com os dois por pelo menos três minutos antes de esquecerem que ela existe de novo…. sempre mais do mesmo. 

Depois de cumprir suas obrigações, Adora finalmente havia percebido que a noite estava chegando, principalmente quando uma leve pancada de vento arrancou gemidos fantasmagóricos dos vidros das janelas, que iam do teto ao chão. Sendo assim, vestiu suas roupas de treino, que consistiam em um shortinho preto e um top de cor semelhante, pra combinarem com seu tênis branco de estimação. E seguiu pro quintal, enrolando bandagens grossas sobre os punhos fortes que horas antes haviam castigado o rosto de Huntara.

Se a piscina e os janelões de vidro do quintal não eram o suficiente pra fazer de Adora uma estudante privilegiada, talvez a barra fixa, o saco de areia e sua mini academia ao ar livre, planejada na área de trás do quintal, pudessem fazer.

Depois de um aquecimento rápido, a loira deu início ao seu treinamento. Injustiças, lembranças, raiva… Tudo aquilo era descontado no treino, especialmente quando Adora socava com vontade o saco de areia pesado, que balançava descoordenado de um lado pro outro. 

No intervalo rápido, entre um soco e dois chutes, Adora se perguntava inconscientemente "Quem acertou a Huntara quando eu estava no chão...?" E aquela pergunta rondava na sua cabeça como um mantra, junto com a imagem do sorriso nojento de Huntara, que só fazia a menina socar o saco com mais raiva no coração. Quando finalmente cansou de mutilar os próprios punhos no couro gasto do material de luta, Adora finalmente começou a se sentir melhor. Pra ficar perfeito, só faltava seu banho relaxante na banheira aquecida, com direito a sais de banho e um shampoo gostoso de frutas vermelhas. Ter pais bem sucedidos na vida tinha suas vantagens. 

De banho tomado e vestindo apenas uma calcinha fofa de melancias em conjunto com sua camisa de moletom azul bebê, Adora se jogou na enorme cama de casal que havia no seu quarto. O móvel moderno de tamanho king era perfeitamente forrado com colchas brancas, macias e cheirosas, como as de um hotel.

- Que delícia… - Adora se esticou preguiçosamente, fazendo a barra da camisa subir até a linha das costelas, deixando visível seu abdômen definido e delicado. Era tão bom finalmente se deitar. 

Com os olhos fechados por um instante,  a garota respirou fundo e em seguida esvaziou todo ar dos seus pulmões, se sentindo renovada. Somente quando sentiu sua mente relaxar e o cheiro gostoso dos lençóis limpos invadir suas narinas, foi que Adora se deu conta de que não havia pego no celular desde que chegou em casa, o que de fato era um problema. Glimmer provavelmente já deveria ter mandado umas duzentas mensagens e figurinhas reclamando sobre o vácuo, como de costume. 

Rindo com esse pensamento, Adora levou a mão até a mesinha de cabeceira que ficava ao lado da cama, mas pra sua surpresa o aparelho não estava lá. 

- Ué… Mas eu sempre deixo aqui… -  A garota pensou em voz alta, analisando melhor a mesinha apesar do escuro. 

Depois de tatear o móvel por alguns segundos e ter a certeza de que não havia nada lá além de um porta retrato, a garota se forçou a levantar, acender a luz e procurar na sua mochila: nada. 

Talvez tivesse deixado na sala… mas pelo visto, não. A cozinha estava exatamente do mesmo jeito que havia deixado, sem celulares nas bancadas. O sofá enorme provavelmente poderia ter engolido o aparelho entre os vãos das almofadas… mas não engoliu. Como último recurso, Adora se forçou a vestir um shortinho de algodão e sair de pijama, no frio, acendendo todas as luzes possíveis que iluminassem tanto o quintal quanto a sua área de treino, só que mais uma vez… não havia nada ali, nem nos outros cômodos também. 

Por um segundo, Adora levou a mão até às têmporas respirando fundo, tentando ao máximo se lembrar onde havia deixado… mas nada lhe vinha à mente. 

Glimmer provavelmente ficaria preocupada, mas Adora estava tão cansada, até mesmo pra ficar conversando por mensagem de celular… que preferiu simplesmente desistir.

A loira sabia bem que no dia seguinte não precisaria acordar cedo pra ir pra faculdade, então teria o dia inteiro pra procurar o aparelho com calma, com a cabeça descansada. Afinal, ela tinha certeza de que havia trazido o celular pra casa… Não tinha ?

- Amanhã eu procuro, dane-se. Só quero mesmo é dormir. - A garota disse pra si mesma quando um bocejo demorado se esticou pelos músculos do seu rosto. 

Glimmer provavelmente ficaria uma fera pelo vácuo. Mas só dessa vez… ela achou que não haveria problema. Sendo assim, voltou pra cama e se aconchegou nos lençóis quentinhos até pegar no sono. 

No dia seguinte, apesar de Adora ter dormido até tarde, já não se podia dizer o mesmo de Catra, que por algum motivo esquisito havia chegado mais cedo na faculdade naquela manhã e procurado alguém disfarçadamente com os olhos pela pista de cooper, antes de guardar a bicicleta.

Seu dia teria sido perfeito se não fosse por Swift Wind falando como uma matraca heróica e apaixonada durante todo o primeiro período de aulas da manhã. Ele havia ajudado o seu atleta maravilha. Tá, ótimo.  Só que agora o rapaz só falava nisso, o tempo todo. 

- E aí quando todos estavam ocupados prestando atenção naquele circo que tava rolando no meio do refeitório, eu me aproximei e segurei ele, nos meus ombros! Como um verdadeiro cavaleiro de armadura! - Swift Wind se gabava, batendo no próprio peito com orgulho enquanto Catra guardava o resto dos seus materiais na mochila para que pudessem ir ao refeitório. 

- Você mal tava se aguentando em pé com o peso dele nas suas costas... Que belo cavaleiro de armadura hein ? Tem certeza de que você não era só o cavalo ? - Catra provocou, zombando da cena distorcida e fantasiosa que Swift Wind havia criado em sua mente sobre o que aconteceu no dia anterior. 

- Shh! Você tá estragando a minha história! - O ruivo reclamou antes de retomar sua narração fervorosa, explicando detalhadamente como Bow havia fixado seu olhar glorioso no dele e apertado forte o seu ombro, com um sorriso agradecido e cheio de paixão.

- Ei! Parando pra pensar com calma agora… isso... realmente aconteceu! - Catra parou bruscamente ao completar seu raciocínio, exclamando eufórica.

- Não foi ?! - Os olhos de Swift Wind brilharam emocionados.

- Foi sim! - Catra sorriu animada, apoiando ambas as mãos nos ombros do rapaz, encorajadora. - Aconteceu… nos seus sonhos, provavelmente - Num piscar de olhos a expressão da menina mudou por completo, se transformando num misto de zoação e deboche, que fizeram Swift Wind bufar irritado.

- Você é uma verdadeira estraga prazeres! - Ele reclamou emburrado, colocando a mochila nas costas e abrindo a porta da sala por onde Catra passou com seus passos desleixados e um sorrisinho insolente, como se fosse a dona do lugar. 

- É. Eu tento, sabe ? Dar o meu melhor e tal. - Ela deu de ombros com desdém, virando as costas e fazendo o ruivo bufar audivelmente, lhe acompanhando. 

Os dois seguiram para o refeitório sem maiores problemas. Apesar da confusão do dia anterior, aquele parecia ser um dia normal, como qualquer outro. 

Bem..... Parecia. 

Pelo menos até eles chegarem. 

No momento em que seus tênis surrados cruzaram a linha da porta, os dois levaram um susto com a quantidade gigantesca de pessoas almoçando ali. O refeitório daquela ala nunca havia ficado tão cheio em todo esse tempo. 

As pessoas conversavam alto, freneticamente. Pessoas estranhas, que nunca haviam colocado os pés ali, agora sentavam nas mesas e ocupavam lugares que há muito tempo estavam vazios. 

Porém, o mais interessante ainda era que, mesmo com Adora fora do campus por três dias, não se falava em outro assunto que não fosse ela. 

- Você tá maluco ?! Eu vi com meus próprios olhos quando a Adora deu uma voadora na cara da grandona e depois ainda derrubou ela com três socos na barriga, um chute na testa e um peteleco no nariz. Tudo isso enquanto tava com uma das mãos amarrada nas costas e comendo um pastel! -  Um estudante novato afirmava, batendo na mesa com autoridade enquanto discutia em pé de guerra com outro aluno mais velho, um nerd de óculos grossos, que jurava ter visto Adora dar um triplo carpado na mesa antes de derrubar Huntara usando a força de uma técnica secreta e milenar coreana, que era ensinada somente aos discípulos diretos dos guerreiros voadores lendários. Ou seja, provavelmente ninguém estava falando nada com nada naquele dia pós confronto.  

Enquanto uma pequena multidão se reunia e discutia sobre os prováveis super poderes lendários de Adora, Bow e Glimmer permaneciam sentados na  mesma mesa de sempre, que por coincidência ficava logo atrás daquela mesa conturbada, de onde podiam ouvir claramente toda a discussão. 

Os dois amigos não conseguiam nem sequer olhar um pro outro sem cair num loop infinito de risadas que começavam pouco a pouco a tirar o fôlego. Glimmer só faltava chorar de rir, com seus olhos lacrimejando e Bow ficava escondendo constantemente o rosto entre as mãos, abafando a risada, pensando que seria mais fácil Adora tropeçar no próprio cadarço do que fazer um mortal triplo carpado.    

- Ai, eu tô chorando… - Glimmer dizia baixinho, tentando aos poucos parar de rir. 

- Sério, a Adora é incrível, mas acho que quando descobrirem o quanto ela também é desastrada vão começar a dizer que ela derrubou Huntara com um canudo de Toddynho que ela ia jogar no lixo e sem querer pegou na testa dela.  -

- Tipo isso! - A baixinha concordou, caindo na risada novamente, mas dessa vez de um jeitinho mais controlado. 

Quando sentiu uma vibração agitar seu bolso e o barulho de notificação alarmar em seu celular, Glimmer pegou o telefone tão rápido que parecia que o aparelho estava queimando a sua pele. 

Esperava que fosse Adora dando alguma notícia, mas novamente… não era. 

- Acho que de agora em diante até nós dois vamos precisar marcar um horário fixo pra poder ligar e mandar mensagem, né ? Quem sabe a gente encontra um lugarzinho vago na nova agenda lotada da princesa Adora... - Glimmer comentou em tom de brincadeira, segurando uma risada, mas no fundo Bow sabia que ela estava realmente preocupada pelo sumiço da amiga, desde ontem. Tentando transparecer gentilmente que não havia entendido nada, Bow fingiu recobrar o ar de um jeito exageramente divertido antes de finalmente se recompor e parar de rir também. 

- Para com isso Glim, ela vai responder. Talvez só esteja cansada, ou querendo ficar sozinha, ou sei lá. Você sabe que a Adora sempre foi uma ótima aluna, também é monitora de turma, então você imagina como deve estar sendo pra ela ter que tomar uma suspensão onde todo mundo, inclusive os professores, ficaram sabendo ? Eu imagino que deve tá sendo super difícil. - Bow concluiu reflexivo, fazendo a garota de olhos cintilantes concordar levemente com a cabeça. Ela ainda não tinha pensado por esse lado. As vezes era difícil lembrar que mesmo sendo tão boa em tudo… Adora ainda era uma pessoa, como qualquer outra. E um acontecimento assim deixaria qualquer um abalado emocionalmente. 

- Será que é por isso que ela não me responde desde ontem ? - Glimmer apoiou seus bracinhos pequenos cruzados sobre a mesa, repousando o queixo sobre eles com um olhar triste. 

- Não sei, acho que ela talvez só esteja querendo algum espaço, sabe ? A faculdade é quase uma segunda casa pra ela. Então acho que ficar proibida de vir aqui por três dias, mesmo com a casa que ela tem, deve estar sendo realmente um castigo. - Os dois concordavam com o olhar enquanto a conversa se desenrolava - Fora que ainda tem a festa no fim de semana. - 

- Verdade. Você acha que ainda vai rolar ? - Glimmer perguntou.

- Eu não sei. A gente precisa falar com ela de qualquer forma, pra saber. - O rapaz soltou um suspiro, fazendo a baixinha de cabelo rosa suspirar também. - Mas nesse momento, como melhores amigos, acho que a única coisa que podemos fazer agora é esperar, dar suporte e estar lá pra ela quando for preciso. - Bow se sentia mal por não poder fazer mais do que isso. Porém, ele entendia a importância de se dar espaço quando era necessário. Ao contrário de Glimmer, que mais uma vez, apesar de toda a conversa, tentava inutilmente ligar de novo pra Adora, esperando o sinal de chamada ressoar até cair na caixa postal. 

- Glimmer… - O rapaz chamou a atenção da outra com um tom de voz repreensor.

- Eu sei, eu sei! Não é pra ligar! Mas… argh! Eu odeio ficar sem notícias! - Glimmer jogou o aparelho sobre a mesa de metal, vendo o celular deslizar levemente até ficar preso entre o tampo da mesa e o apoio do prato de Bow. 

- Paciência. Enquanto isso a gente pode só ficar aqui ouvindo as histórias mirabolantes da… - Antes que Bow pudesse finalizar, uma pessoa estranha se aproximou de repente, praticamente se autoconvidando para sentar na mesa, junto com eles. 

Ao mesmo tempo em que Glimmer revirou os olhos, Bow apoiou a mão nas têmporas deixando a cabeça pender pra frente, visivelmente chateado. Aquela já era provavelmente a décima sexta pessoa a aparecer daquele jeito só nesse intervalo. 

Mesmo já sem paciência pra lidar com os novos membros do fã clube gigantesco da Adora, Bow recusou a presença da pessoa, como vinha fazendo desde o primeiro minuto em que havia sentado naquela mesa.  Os dois sabiam muito bem das reais intenções daquela gente, que só estava tentando se aproximar por interesse, devido a tudo que aconteceu.

Quando finalmente a pessoa foi embora visivelmente arrasada, Glimmer se permitiu reclamar em voz alta.

- Alguém precisa saber de onde tá saindo essa gente e ir lá fechar a porta! Tá ficando insuportável já... - A baixinha comentou soltando o ar de forma ríspida enquanto tirava um milk shake de dentro do apoio de papelão colorido que mantinha o copo longe do alcance das mãos, evitando que derretesse mais rápido. Era basicamente uma embalagem pra viagem, com uma mensagem rabiscada de caneta verde no verso. A inscrição dizia "Adora rainha, Huntara nadinha" em letra cursiva. 

Quando se deu conta do que realmente estava acontecendo, Bow não conseguiu evitar de lançar um olhar repreensivo na direção de Glimmer, que continuava se fazendo de desentendida. 

Ao mesmo tempo em que a menina reclamava sobre as atitudes das pessoas, ela também se preparava pra abocanhar despreocupadamente o canudo transparente do milk shake de morango que havia ganhado apenas alguns minutos atrás, aparentemente um presente nada suspeito, se não tivesse vindo do que parecia ser o novo fã clube de seguidores da Adora Grayskull.

- É, eu tô vendo como tá insuportável. Você tá detestando… - O rapaz argumentou, levantando uma das suas sobrancelhas grossas sarcasticamente enquanto assistia a amiga sugar sem remorso uma parte generosa daquele creme gelado com cobertura de morango, fazendo suas bochechas rosadas inflarem cheias antes de engolir, mostrando uma expressão completamente extasiada de satisfação. 

- É o meu favorito. O que eu poderia fazer ? Negar ?! Seria no mínimo falta de educação, já que eles me presentearam com tanto carinho... - Ela deu de ombros, bebendo mais um pouco do milk shake que realmente parecia delicioso. 

- Aham… Então foi por isso que você também aceitou os cookies, os ingressos do cinema, essa fita no seu cabelo…. - Bow listava cada item contando nos dedos, avaliando os "presentes" que Glimmer havia recebido por "educação" e pela "reputação da Adora".

- É, faz parte. Você vai ver, um dia a Adora vai me agradecer por me sacrificar desse jeito pra manter a boa reputação dela pro fã clube. - A menina dizia tudo isso com pesar, como se estivesse sendo horrível ganhar um monte de comidas gostosas, acessórios legais e ser "obrigada" a tomar sozinha todo aquele copo enorme de milk shake de morango.  

Pelo cinismo aliado a cara de paisagem da outra, mais uma vez os dois caíram na risada. Bow principalmente, quando Glimmer soltou o canudo antes da hora, fazendo a pressão do plástico jorrar uma quantia considerável de milk shake na cara dela, sujando completamente a bochecha direita e uma partezinha do queixo, próximo a boca. 

Apesar de tudo, era divertido pra ele estar com Glimmer de novo depois de tanto tempo longe e ainda sim, perceber que quase nada havia mudado entre os dois além da aparência. O que de certa forma, ainda era uma pena...

Bow estava prestes a comentar discretamente sobre isso quando teve sua atenção capturada pela imagem de uma pequena multidão que curiosamente vinha se formando e se fechando em volta de uma mesa específica, mais ao fundo. 

- Só pode ser brincadeira… - A voz irritada do rapaz deixava bem claro seu incômodo com aquela visão - Essa gente não tem limite?! - O atleta questionou, pasmo, levando uma das mãos até a própria testa e consequentemente fazendo Glimmer olhar na mesma direção quase que instantaneamente. 

Na mesa mais ao fundo, era possível ver mesmo de longe que um amontoado de fios ruivos acobreado chamava atenção dos outros alunos por conta do coque alto e meio bagunçado, como se tivesse sido feito às pressas. Em meio a multidão, estava o sujeito, dono dos cabelos longos e sedosos, que parecia se mover com dificuldade por entre os corpos e rostos desconhecidos que agora formavam aquela pequena aglomeração em volta da sua mesa geralmente solitária.

- Ah… Olha só, se não é a criadora de problemas... - Glimmer comentou sarcasticamente, semicerrando seus olhos brilhantes no momento em que percebeu a presença de Catra ao lado de Swift Wind, também sendo engolida pela aglomeração com cara de poucos amigos. 

Percebendo que Bow já estava passando uma das pernas por cima do banco, na direção dos dois, Glimmer jogou os braços pro alto irritada.

- Não, qual é! Eles nem são amigos da Adora. E muito menos nossos amigos! - Ela reclamou, ganhando um olhar desacreditado de Bow, que muitas vezes não sabia ao certo como lidar com o egoísmo infantil da garota. 

- Você por acaso esqueceu que o Swift ajudou a gente ontem? Se não fosse ele, eu acho que a gente nem tinha chegado direito lá no setor de enfermagem, do outro lado do campus. E você sabe disso! Para, vai... Ele é um cara legal. Só é meio incompreendido. -  

- Meu problema não é com ele, Bow. E você sabe muito bem. É com ela... - Glimmer estreitou os olhos novamente, na direção de Catra, sentindo uma pontinha de prazer quando notou a irritação demonstrada por ela a cada vez que era abordada por algum estranho daquele grupo que os cercava. 

De fato, não é como se Adora nunca tivesse comentado sobre Catra antes, mas coincidentemente… ou não, todos os comentários sempre vinham acompanhados de uma queixa a respeito de alguma bobagem aprontada por ela, ou até mesmo sobre alguma gracinha que deixava Adora irritada.  

E toda essa situação sempre deixava Glimmer incomodada de certa forma, porque apesar de tudo, Adora não parecia sentir raiva da garota. Era como se, apesar das provocações infantis e brincadeiras de mau gosto, Adora estivesse se divertindo e apreciando aquela convivência de cão e gato com Catra. 

Essa era mais uma daquelas situações onde Glimmer não sabia se deveria puxar a orelha da amiga pra razão ou deixar ela se aventurar nessa nova descoberta sem medo, como a criança impulsiva que era.

Mas o fato era que, Glimmer não gostava nem um pouco de Catra e provavelmente não seria agora que iria começar.

- Quer saber? Eu vou até lá. - Bow decidiu, se levantando de vez 

- Não! Não vai, fica aqui... Tá tão bom só nós dois... - Glimmer tentou choramingar como um último apelo, fazendo um beicinho fofo por cima do canudo grosso e colorido do milk shake. 

- Glimmer, eu devo uma a ele. E você sabe muito bem, tanto quanto eu, que por mais que a Adora reclame e talvez até negue até a morte se alguém perguntar, no fundo… ela simpatiza com aquela amiga dele também. A gente não pode proteger ela pra sempre e você precisa aprender a deixar a Adora tomar suas próprias escolhas, mesmo que você não goste. Enfim, como eu disse, eu volto logo. Aproveita e já abre mais espaço na mesa, pra dois. - O rapaz sorriu confiante, usando uma das mãos livres pra bater divertidamente nos pés de Glimmer e derrubar suas pernas do banco propositalmente, já que estavam apoiadas por birra, no espaço vazio ao lado dele, ocupando um lugar. 

- Ela que sente no chão! - Glimmer rosnou, vendo Bow se afastar em direção a mesa tumultuada mais ao fundo.

Desde que se lembrava, tudo o que Swift Wind sempre quis foi ser notado, ter vários amigos e viver a fama como a estrela que nasceu pra ser. E agora, diante de tudo o que aconteceu, aquele era definitivamente o seu momento de brilhar. Ou pelo menos, era pra ter sido, mas tudo o que Swift Wind realmente conseguiu foi ser engolido por um amontoado perguntas incessantes, que pra piorar a situação, ele nem sabia responder.

- Caramba, Swift! Eu não fazia ideia de que você e a Adora eram tão próximos! Eu acho que nunca vi vocês andando juntos por aí. Você sabe dizer se ela tem Instagram, Facebook ou alguma coisa assim ? - Uma garota desconhecida comentou casualmente, fazendo Swift Wind sorrir sem jeito, totalmente desconcertado. 

- Sabe como é, né ? A gente tem quase que uma… Conexão, sabe ? As vezes é como se eu pudesse conversar com ela sem precisar dizer uma palavra. Por isso que a gente quase nunca sai conversando por aí e tal. - O ruivo mandou super bem na sua pior desculpa esfarrapada, que foi tão absurda, que conseguiu arrancar até mesmo uma gargalhada alta de Catra, apesar dela ainda estar irritada pelo excesso de pessoas em volta.

- Pois é. Quase uma telepatia que eles tem… - A morena caçoou com ironia, jogando as duas pernas cruzadas despreocupadamente sobre a mesa antes que um rapaz de boné tivesse a chance de se sentar sobre o tampo. Quanto menos gente enchendo o saco, melhor.

Apoiando as costas na cadeira e sustentando uma expressão de irritação palpável, Catra se mantinha plena em seu lugar. Alguns alunos mais corajosos até se atreviam a olhar fixamente pra ela, mas acabam engolindo seco ou desviando os olhos quando sentiam uma aura de ameaça praticamente emanar da pele dela.

Enquanto isso, cada vez mais perguntas difíceis sobre Adora surgiam de forma sufocante pra Swift Wind, que nunca havia de fato conversado com ela e muito menos tinha toda essa conexão que ele jurava ter. - Você sabe dizer se ela gosta de zagueiros ? - Um cara de sorriso convencido perguntou, parecendo o Jonny Bravo.

- Bem, Adora eu não sei. Mas eu?! Gosto pra caramba de… -

- Unicórnios, né ? - Swift Wind foi interrompido e finalmente por uma pergunta que ele sabia responder.

- Sim! Eles são incríveis! O símbolo do glamour, da beleza! Quem não gosta de unicórnios, minha gente? Eu mesmo, amo! Amo de paixão! - 

- Ain, eu também! - A garota festejou, se aproximando ainda mais - Por falar nisso, eu tenho até uma bolsa de unicórnio incrível que eu acho que você vai amar! A gente podia quem sabe até marcar algum rolê, saca ? Tipo eu, você, a Adora e tals… - Carregada de segundas intenções, a moça de cabelo repicado continuava se oferecendo assim, como quem não quer nada, fazendo Catra trincar os dentes inconscientemente.

- Um rolê que você fala é tipo... sair juntos?! - Swift Wind perguntou confuso, mas por sorte, foi a única coisa que o rapaz precisou dizer antes da própria Catra responder a menina com alguma grosseria debochada, que infelizmente o ruivo não entendeu muito bem na hora por conta das outras três perguntas que fizeram pra ele quase que ao mesmo tempo.

- Gente, vocês são muito legais e tudo mais. Só que eu e a Adora na verdade não somos tão prox... - As coisas pareciam ainda piores quando Swift Wind tentava se explicar no meio da confusão, porque o ruivo não conseguia terminar nem mesmo uma frase simples sem ser interrompido por alguma pergunta como "Qual a cor favorita dela?", "Ela curte algum outro tipo de esporte?", "Vamos sair pra algum lugar legal! Você chama a Adora e..." 

Em contrapartida, aquela situação toda só parecia querer testar ainda mais a pouca paciência que Catra pensava que tinha. Só de lembrar que tudo isso só estava acontecendo por culpa de Adora, que teve a brilhante ideia de enfrentar Huntara sozinha, fazia Catra querer jogar sua cadeira na próxima pessoa que falasse o nome "Adora" perto dela.

- Hey!! - Uma voz peculiar chamou atenção no meio da multidão, ganhando o foco tanto de Catra quanto de Swift Wind, principalmente por conta da mão pequena que de alguma forma havia conseguido segurar de leve a manga da camisa verde que o rapaz vestia.

A voz calma e doce que se pronunciou pertencia a uma moça de olhos verdes delicados, com longos cabelos vermelhos que se desenrolavam em cachos até os ombros. 

- Só por curiosidade… - Ela continuou - Você sabe dizer se a Adora meio que, você sabe... gosta de alguém ? - Aquela pergunta repentina acabou chamando mais atenção do que deveria, não só de Catra e Swift Wind, mas também de todos que estavam presentes em volta da mesa. 

O ruivo só conseguia abrir e fechar a boca lentamente, sem saber o que dizer, principalmente agora que não tinha o que falar.

 Mas por sorte, ele não precisou pensar por muito tempo. Afinal, a resposta veio como um choque.

- Mas é claro que ela gosta! - Uma voz grave e conhecida surgiu de repente, chamando mais uma vez a atenção do grupo. - Se eu tenho certeza de uma coisa na minha vida é que a Adora gosta pra caramba... dos amigos dela, e com certeza, se ela estivesse aqui agora, iria querer que vocês todos nos deixassem em paz por pelo menos um segundo! - Bow reclamou surgindo como um xerife de velho oeste por entre os desconhecidos, com passos pesados e uma expressão severa, mantendo firme o tom de voz carregado de julgamento que fez com que todos os alunos se encolhessem acanhados. 

- Bow ! - Swift Wind sorriu de nervoso, acenando freneticamente como se o rapaz estivesse a quase três metros de distância. Ainda não havia se acostumado a tê-lo tão perto. 

- Vocês deveriam se envergonhar! Agindo feito idiotas, perseguidores. - Bow alternava seu olhar entre a duas metades do grupo, que agora olhavam pra baixo envergonhados. - Se querem saber alguma coisa sobre a Adora esperem ela voltar pra faculdade e perguntem pra ela! É simples! Agora façam um favor enorme pra mim e pro que resta da dignidade de vocês e deixem a gente em paz! - O atleta que tinha a fama de ser tão calmo e compreensivo realmente precisou criar um pequeno tumulto no refeitório pra conseguir ser ouvido.

- Vem, Swift. - Bow estendeu a mão pro ruivo, que segurou sem nem pensar duas vezes. - Você e a Catra deveriam sentar com a gente, a Glimmer vai adorar conhecer vocês melhor! - O garoto sorriu com gentileza, fazendo algumas pessoas se afastarem pra que Swift Wind pudesse passar por entre eles.

- Sentar com você?! Jura?! Seria incrível! - O ruivo sorriu maravilhado, vendo Bow acenar positivamente com a cabeça e lhe entregar um novo sorriso como resposta.

- Você vem, Catra ? - Bow perguntou receptivo, recebendo um desviar de olhos entediado como resposta. 

- Dispenso - Catra respondeu com desdém, afundando ainda mais seu corpo na cadeira e limpando as próprias unhas despreocupadamente. Tudo que ela menos queria era sentar com o trio maravilha. 

- Gata, faça-me o favor! - Swift Wind protestou, encarando Catra, que parecia fazer questão em ser do contra. 

- Você tem certeza? - Bow perguntou novamente, com um sorriso sapeca nos lábios - Poxa Catra, que pena! A gente ia ficar feliz se você fosse. Logo você que é TÃO amiga da Adora e sabe TANTO sobre tudo o que ela gosta. Mas tudo bem, vamos só eu e o Swift, então... - 

Aquela frase nada tendenciosa pareceu ter quebrado o feitiço da vergonha que Bow havia jogado nas pessoas ao redor da mesa, provocando uma nova explosão de perguntas desesperadas que agora eram dirigidas a Catra, que precisou levantar da cadeira e quase subir na mesa como um gato arisco pra evitar o toque das pessoas em seus braços, lhe cutucando. 

Swift Wind não fez a mínima cerimônia ao extravasar uma risada alta e escandalosa quando viu a expressão desesperada e irritada de Catra, principalmente agora, que as pessoas pareciam tentar chegar cada vez mais perto dela como zumbis.

- Mas que inferno! - Catra gritou frustrada, abrindo caminho pelas pessoas com as próprias mãos até chegar perto o suficiente de Bow e Swift Wind, com uma expressão de irritação palpável. - Andem logo! - Ela reclamou num rosnado. 

- Você é genial - Swift Wind elogiou, tentando segurar o riso quando viu Catra passar irritadíssima por entre os dois, seguindo emburrada pra mesa onde Glimmer estava sentada preguiçosamente.

- Eu espero que eu seja, se não, acho que acabei de criar a segunda briga mundial nesse refeitório….  - Bow comentou apreensivo, vendo Catra praticamente se jogar no banco que ficava em frente a Glimmer, arrancando da outra um olhar fuzilador. - Céus… - 

Apesar de não ter entendido muito bem o que Bow quis dizer, Swift Wind seguiu o rapaz rapidamente até a mesa. 

- … -

- … - O silêncio constrangedor entre Glimmer e Catra causava uma certa tensão no ar, principalmente quando Bow e Swift Wind se juntaram a elas, sentando cada um ao lado das suas próprias amigas. 

Glimmer, apesar de permanecer em silêncio, continuava encarando Catra com fogo nos olhos, mesmo notando que a menina não estava nem um pouco interessada nela, olhando fixamente pra uma máquina de refrigerantes recém abastecida, perto da porta. 

- Então… - Bow começou com uma voz nervosa, limpando a garganta audivelmente, numa tentativa de chamar atenção e iniciar algum diálogo entre os quatro estudantes presentes. - Vocês fazem o mesmo curso aqui na universidade ? - O rapaz perguntou tentando parecer o mais casual possível, recebendo de Glimmer um revirar discreto de olhos.

- Sim! Eu e a Catra fazemos zootecnia juntos. O nosso bloco fica bem ao lado do seu, lá no centro esportivo. - Swift Wind dizia tudo isso com as pernas cruzadas e os cotovelos apoiados sobre a mesa, fazendo seu coque bagunçado acompanhar os movimentos naturais da sua cabeça enquanto falava. 

- Que legal! Eu e a Glimmer não fazemos o mesmo curso, ela faz fisioterapia. Mas somos amigos há bastante tempo e temos várias aulas juntos. - Bow afirmou sorridente.

- Nós só temos aula juntos porque ele reprovou Bioquímica - Catra disse sem emoção, fazendo o ruivo praticamente ter um mini infarto na frente de Bow. 

- Catra! - Swift Wind reclamou, fazendo Bow cair na risada pela sinceridade da outra. 

- Relaxa, bioquímica é chato pra caramba mesmo. Se não fosse a Glimmer me dando umas aulas de reforço eu acho que nunca teria passado também - O atleta disse com um sorrisão, fazendo Glimmer corar de leve. 

- É, sim… A Catra vem me ajudando bastante também. Apesar desse mau humor terrível, ela é ótima professora de bioquímica. - Swift Wind sorriu dando uns tapinhas amigáveis nas costas de Catra, que também sentiu seu rosto corando de leve e por isso desviou o olhar emburrada, pra outra direção. 

- Olha só, que legal né ? Uma coisa em comum! - Bow comemorou com um olhar que dizia claramente "agora vocês tem um assunto pra conversar!". Mas obviamente Glimmer ignorou o recado. 

- A Adora tá legal ? - Catra perguntou de repente, surpreendendo até mesmo Swift Wind, que parou de olhar pra Bow pra olhar pra ela, surpreso. 

- Ahm… Tá sim, eu acho. Ela comentou alguma coisa sobre um desconforto na barriga. Mas também depois de um soco daqueles, né ? Minhas costas mesmo estão doendo até agora. - O rapaz de cabelo preto e crespo soltou uma risadinha sem jeito - Mas a gente não conseguiu falar muito com ela de ontem pra hoje. Estávamos pensando em dar uma passada na casa dela mais tarde. Se vocês quiserem, acho que ela não se incomodaria em receber vocês dois. E a propósito, eu nem tive a chance de te agradecer direito por ontem. Obrigada Swift, pela força. - Num ato de gentileza, Bow segurou a mão de Swift Wind por cima da mesa, fazendo o garoto de cabelo acobreado sorrir de orelha à orelha. 

- Não foi nada! - 

- Eu não sei se a Adora iria se sentir confortável se eu fosse... - Catra ponderou usando com o tom um tantinho mais elevado do que gostaria, já que só estava pensando alto, mas pro azar da morena Glimmer havia escutado. 

- Eu também acho. Afinal, não é como se vocês fossem amigas nem nada do tipo - A mais baixa entre os quatro comentou em tom sério de provocação, fazendo Bow chutá-la de leve por baixo da mesa. 

- E o que você sabe, Glitter ? - Catra perguntou com sarcasmo, errando o nome da outra de propósito, notando imediatamente que Glimmer só estava tentando atingí-la de alguma forma. Ela só não sabia o porquê.

- Eu sou a melhor amiga da Adora, o que você acha que eu sei ? - A menina de cabelo rosado e franja lateral trincou os dentes ao ver Catra soltar uma risada presunçosa. 

- Melhor amiga, é ? - 

- É. Eu sei muito bem qual é o seu tipo. Não pense que eu vou deixar você brincar desse jeito com os sentimentos da Adora. Primeiro rouba o chaveiro dela, depois fica se fazendo de vítima pro meu pai! - Glimmer rosnou, martelando a mesa com as mãos. 

- Seu pai ? - Catra perguntou confusa.

- Errh… o treinador Micah é… o pai da Glimmer - Bow contextualizou, sem saber ao certo se deveria ou não se meter naquela conversa. 

- Aquele altão de boné é seu pai ? - Swift Wind perguntou surpreso. 

- Na verdade ele usa tênis especiais que fazem ele parecer mais alto, mas o Micah tem basicamente quase o tamanho da Glim… - Antes que pudesse terminar, Bow foi acertado por uma cotovelada irritada de Glimmer nas costelas.

- Já disse pra não ficar falando dos sapatos! - A baixinha reclamou, ficando ainda mais irritada depois da risada alta que Catra fez questão de soltar sem o menor pudor. 

- Você também usa sapatos especiais ? Ou esse é só o seu tamanho natural de banquinho de engraxate ? - A novata provocou, recebendo um palavrão como resposta. Estava conseguindo irritar Glimmer também, pelo visto ela era muito boa nisso. - E sobre a Adora… Bom saber que ela fala sobre mim. Significa que eu realmente faço alguma diferença, não é mesmo ? Uma pena, Glitter… Que ela nunca tenha me falado de você. - O sorriso maldoso no cantinho dos lábios de Catra parecia tão satisfeito que Swift Wind poderia jurar que a amiga já tinha planejado todo aquele diálogo anteriormente na sua cabeça, pois ela parecia saber exatamente o que dizer pra tirar Glimmer do sério. Mas dessa vez, havia deixado a baixinha sem resposta. 

- E não precisa se preocupar. Eu não tenho interesse em brincar com os sentimentos de ninguém, muito menos da nova adorada do universo - Catra ironizou, fazendo Glimmer rosnar. - Eu tenho mais o que fazer. - 

E com essa frase, acompanhada de um último sorriso arrogante, Catra se levantou da mesa com desinteresse, apoiando sua mochila sobre um dos ombros e olhando Swift Wind com sua expressão natural de tédio. 

- Vejo você mais tarde. - A menina disse, se despedindo do amigo e acenando levemente com a cabeça pra Bow - Obrigada pela companhia, foi super agradável, ao contrário da Glitter. - 

- Vai se foder! - Glimmer retrucou, batendo na mesa.

- A propósito… - Catra continuou, ignorando totalmente a reação exagerada da outra - Diz pra Adora que eu mandei um beijinho - Catra piscou um de seus olhos coloridos com malícia, fazendo Glimmer se levantar num impulso, doida pra dar uns tapas nela. Mas a baixinha foi contida por Bow, que segurou seus ombros, forçando seu corpo pequeno pra baixo. - Tchau, Glitter. - Catra acenou virando de costas e seguindo seu caminho calmamente até a máquina de refrigerantes do outro lado da mesa. 

- Aquela filha da… - 

- Calma! Calma, senta aí! Você tá muito nervosa! - Bow dizia preocupado, tentando fazer com que Glimmer recobrasse a razão. 

- Você viu o jeito que ela falou comigo! Ela tava pedindo! - A baixinha rosnava, tirando as mãos de Bow dos seus ombros e sentando enfurecida no banco, com os braços cruzados sobre o peito. 

- Ahm… Eu peço desculpas pela Catra. Ela realmente consegue ser insuportável algumas vezes, mas eu garanto que no fundo ela tem um bom coração. - Swift Wind interveio a favor da amiga, sabendo muito bem que Catra só fazia aquilo porque não sabia resolver seus problemas com um diálogo saudável. Já havia percebido isso desde as primeiras vezes em que viu a morena interagir com Adora pelos lugares. 

- Eu duvido muito! - Glimmer respondeu, recebendo um sorriso amarelo de Swift Wind. 

Enquanto isso, Catra aguardava pacientemente o processo lento e doloroso que era esperar a máquina de refrigerantes empurrar sua latinha de Coca-Cola pra frente, aguardando até que a bebida caísse na bandeja de baixo, onde ela podia pegar. 

- Então quer dizer que ela fala sobre mim… - A morena de cabelos volumosos e repicados pensava consigo mesma enquanto esperava - Se a glitter não fosse tão chata eu até poderia ter aproveitado a oportunidade pra me aproximar… Inferno. - Catra praguejou vendo a latinha emperrar no segundo final antes de cair. - Eu mereço… - A garota bufou, dando um soquinho na máquina, na intenção de fazer a latinha despencar. Mas como a máquina estava com um dos pés frouxos, acabou balançando mais do que deveria, fazendo a latinha cair na bandeja e rolar direto pra baixo da geladeira. 

- Perfeito. - Catra revirou os olhos, tendo que se abaixar pra esticar o braço por baixo da máquina colorida. Mas pra sua surpresa, ao puxar a latinha, um outro objeto acabou sendo arrastado na sua direção. 

Era um celular. 

Um iPhone novinho, em sua versão mais recente, embalado numa capinha amarela e branca com alguns desenhos que lhe pareciam familiares, mas não conseguia lembrar de onde. 

- Hm… Parece que hoje é meu dia de sorte - A menina comentou pra si mesma, ficando de pé e olhando ao redor pra ver se alguém se pronunciava a respeito. Mas ninguém parecia ter notado o sumiço do celular, ainda mais ali, embaixo da geladeira. - Tá descarregado - Catra constatou depois de tentar desbloquear a tela, que permaneceu apagada. - Talvez eu devesse devolver… ou não. Já tá perdido mesmo. E bem que eu tava precisando de um celular melhorzinho - Ela comentou consigo mesma, abrindo a latinha de refrigerante e seguindo com o celular pelo corredor que levava até a área externa da faculdade. 

Depois de conseguir matar o calor com a Coca-Cola estupidamente gelada, Catra guardou o celular no bolso fundo da sua calça e seguiu pra casa em sua bicicleta, parando numa banquinha de eletrônicos usados apenas pra comprar um carregador temporário até ter dinheiro pra comprar um melhor. Ela só precisava ligar o celular e formatar, não devia ser tão difícil. 

Assim que passou pela porta de entrada da Crimson Waste, Catra foi recebida por uma almofada que voou na sua direção, mas por instinto, a garota desviou. 

- Você é rápida, novata - Huntara comentou, vendo Catra de cara amarrada, olhando em sua direção. 

- Pena que eu não posso dizer o mesmo de você - Num impulso de raiva, Catra acabou provocando a mais alta em tom de deboche, vendo Huntara levantar e vir andando com passos pesados na sua direção. 

- O que você quer dizer com isso… ? - Huntara perguntou ameaçadora, encarando Catra olho no olho, que nem os lutadores de MMA fazem antes da luta oficial. 

Assim que percebeu o que havia dito, Catra engoliu seco. Só podia estar ficando maluca. 

- Tem correio pra você, lá fora. Achei que já tinha pego - Quase como um instinto de sobrevivência, a memória de Catra lhe fez lembrar de ter visto um pacote pardo na caixa de correio com o nome de Huntara assim que chegou em casa. 

- Ah.. sim. - A grandona bateu com a palma da mão na própria testa, fazendo Catra respirar aliviada por dentro. - Eu esqueci completamente, ia pegar hoje cedo, mas acabei dormindo demais. Valeu, novata. - A chefe da Crimson Waste simplesmente passou por ela amigavelmente, dando dois tapinhas em seu ombro direito. 

- De boa - Foi a única coisa que Catra conseguiu dizer antes de correr pro seu quarto da forma mais discreta possível, tentando ao máximo não demonstrar o quanto suas pernas estavam tremendo. 

Aquela foi por pouco. 

Quando finalmente chegou no quarto, Catra jogou sua mochila sobre a cama, tirou o celular do bolso e colocou pra carregar em cima da sua mesa enquanto tomava um banho.  

Assim que plugou o carregador no aparelho, a tela instantaneamente acendeu, mostrando as animações padrão  de iniciação do sistema.

Catra deixou o iPhone carregando até terminar sua higienização e vestir uma roupa confortável antes de se jogar na cama de solteiro levemente desconfortável que parecia mais quente a cada dia naquele cubículo. 

- Vamos ver, vamos ver… - A garota disse ansiosa, pressionando o botão Power pra acender a tela e ficando pálida como gelo quando seus olhos azul e amarelo identificaram o rosto sorridente de Adora preenchendo todo o espaço da tela de bloqueio.

- Não… brinca… - 


Notas Finais


AAAAAAH MINHA ADORADA! VIAJEI TANTOS ESPAÇOS, PRA VOCÊ CABER ASSIM NO MEU ABRAÇOOOO... *Berrando, fingindo que canta*

Minha gente, e esse celular ? :v
Babado, confusão e gritaria, é disso que a gente gosta u_u/

Obrigada a todes que chegaram até aqui, ao fim desse capítulo enorme kkkkkk E espero de coração que tenham gostado ❤️✨

Prometo me cuidar direitinho pra poder escrever e postar com mais frequência como tava fazendo antes >< E claro, eu agradeço IMENSAMENTE em caps pelos comentários incríveis que vocês vem deixando a respeito da história, a respeito da escrita e até mesmo as piadinhas bobas, eu adoro kkkkk Vocês não sabem o quanto significa pra mim receber esse carinho e incentivo de vocês :') Então, sintam-se amades!

Tô muito emotiva essa semana, me julguem xD

Vejo vocês loguinho -^-^-

Ps: A música que a Catra canta no quartinho se chama "Pensando em você" da banda pimentas do reino. A letra da música foi adaptada afim de bater com o contexto da história e também da personagem. Sempre que eu usar alguma canção, vou deixar aqui nas notas pra vocês saberem. É isso galerinha, fui :*


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