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História Identity Crisis - C21. Calling


Escrita por: AoKiriDay

Notas do Autor


Capítulos 08 ao 30 sendo postados. ><

Capítulo 22 - C21. Calling


Ele acordou com dor de cabeça. O teto não era o mesmo de colégio, mas o que ele sempre via quando criança.

Tudo na Mansão Sieghart estava silencioso naquela manhã fria de domingo, fazendo-o recordar que em breve ele teria que estar presente no almoço de família, já que a maioria de seus parentes decidiu pousar no aniversário de Elesis.

— Droga. — ele murmurou impaciente, colocando o braço por cima dos olhos. Parecia que um alfinete estava cutucando sua fronte e não ia parar sem a ajuda de um comprimido.

O moreno levantou devagar passando a mão no cabelo embaraçado, quase uma juba, e foi se olhar no espelho. O que viu não agradou: a barriga lisa, inchada, o corpo flácido, seus olhos vermelhos, o cabelo longo, a barba mista de pelos ruivos e negros toda desalinhada.

“Eu preciso treinar mais.” Pensou, desanimado. Sieghart saiu para o banheiro, planejando raspar os poucos pelinhos da cara de bebê que tinha, mas aproveitou para pegar a tesoura e abaixar todo o cabelo, deixando-o arrepiado ainda, mas comportado. Depois tomou um banho bem demorado e quando saiu já se sentia outra pessoa.

Posta uma camisa branca, ele saiu pelo corredor, passando por portas de onde já se ouviam algumas vozes.

Sieghart olhava para sua casa, nostálgico. Poucas coisas haviam mudado por ali, apenas alguns quadros novos e flores que eram trazidas do jardim pelas empregadas.

Ele abriu uma alta porta corrediça de vidro, que dava para o larguíssimo jardim da família. Imediatamente ouviu um latido e sem conseguir reagir muito bem, o enorme pastor alemão apareceu do lado de um arbusto, correndo em sua direção, parando bem em sua frente e cumprimentando-o com um olhar animado e a cauda balançando devagar.

— Griffith! — Sieghart exclamou surpreso, abaixando-se para acariciar a cabeça do velho e forte companheiro. — Rapaz, você está bem velho, hein. Desculpe por não vir te ver há tanto tempo.

O cão latiu mais uma vez, lambendo a mão do moreno, perdoando-o.

Sieghart sentiu-se arrependido por ter deixado a mansão e ter visitado poucas vezes. Ele nunca mais deu atenção ao seu mais fiel amigo, o cão de guarda Griffith, que fez companhia a Sieghart desde que era um bebê. Quando o moreno ficava só, entediado das dezenas de brinquedos, sem uma mãe ou pai presente, ele sempre era levado para o jardim por Griffith, que o puxava pela manga e corria com ele brincar. Quando Elesis vinha, os dois e o cão saíam pelo terreno e pela casa, fazendo o cão procurá-los e persegui-los incansavelmente.

— Vamos dar um passeio, garoto. — Sieghart sorriu, caminhando com o cachorro ao lado.

Naquele tempo que teve para pensar, o moreno recordou-se com mais calma da conversa com Dio naquela madrugada, que tinha sido no mínimo estranha. Ele olhava para o chão, sem prestar muita atenção ao arredor.

“Ele estava bêbado.” Sieghart coçou a nuca, sentindo preocupação. Como ele reagiria quando se reencontrassem? O beijo que eles compartilharam tinha sido... E Dio ligando naquele horário, dizendo coisas como “quero escutar sua voz”. Só de pensar nisso as borboletas remexiam em seu estômago.

Ele não gostava, mas lembrar da sensação dos braços, da voz, dos lábios daquela criatura, fazia seu rosto esquentar como o próprio inferno. Sieghart empurrou um fio de cabelo atrás da orelha e olhou na direção de um coreto branco, muito pequeno, que havia no jardim da casa. Foi surpreendido ao ver o cabelo de Elesis sendo manuseado por mãos muito brancas e delicadas numa trança amável. Lire também usava uma trança e sorria muito genuinamente, totalmente distraída junto à ruiva, fazendo o penteado para ela. As duas estavam sentadas na estrutura, falando algo que ele era incapaz de escutar, mas ouvia as vozes das duas, muito bonitas, falando tão docemente uma com a outra que parecia até uma canção.

Sieghart ficou uns instantes observando, percebendo que nunca havia visto Elesis sorrindo daquela forma. Não tão de repente a trança foi terminada e querendo virar-se, Elesis encarou Lire. Elas pararam de falar, ficando sérias.

Os olhos prata esticaram com a cena. Sieghart prendeu os dedos no tecido de sua calça, tentando sair sem ser visto enquanto elas aproximavam os rostos, fechando os olhos. Foi num segundo. Ele quis virar o rosto para não ver, mas as bocas das duas meninas se juntaram nem um pouco inocentes e bastante envolvidas.

Sieghart não conseguiu tirar os olhos quando sua prima levantou o braço e abraçou a loura, juntando-a em seu corpo, até mesmo passando a mão em sua coxa desnuda, enquanto a francesa a tocava na face e no ombro.

Ele acordou quando Griffith lambeu sua mão. Ele segredou com o cão mentalmente: “Vamos sair daqui”. De volta à porta de vidro, Sieghart viu seu reflexo. Ele estava pálido. Griffith grunhiu e esperou o dono se recompor.

— Eu já sabia disso. Não sei por que foi tão intimidante ver pessoalmente. — Sieghart murmurou, acariciando o focinho do cão. — Acho que eu sou um idiota.

O toque de seu telefone o interrompeu. O contato na tela foi ainda mais intimidador do que a cena anterior, fazendo o moreno ganhar uma expressão dura instantaneamente. Ele ainda pensou se atendia ou não, mas o fez mesmo assim.

— O que você quer? — perguntou.

Sieghart ficou parado e sério por no máximo um minuto e desta forma desligou, sem nenhum indicio do que se tratava a conversa.

— Mestre?

O moreno olhou para a direita, vendo uma empregada nova da casa chamando-o timidamente. Ela fez uma pequena reverência e avisou que o café estava sendo servido.

— Leve o café ao meu quarto, Estela. Avise minha família que vou poder me juntar a ela durante o almoço apenas. — disse, passando a mão na franja.

 

No colégio.

 

Lass olhava da janela da biblioteca, a quadra lá fora estava vazia, exceto por um pequeno grupo de garotos que brincava de bola. Alguém tocou seu ombro.

— Ei, Lass. — cumprimentou a pequena Rena com um sorriso. Ao lado da loura estava a menina asiática, Ara Haan.

— Olá.

Ele sorriu de volta para as duas amigas e deu espaço para que elas sentassem junto consigo no largo pufe.

— Vocês também voltaram cedo para a escola. — Lass comentou, arrumando os óculos, sentindo-se um pouco feliz por não estar sozinho.

— Sim. A mamãe não podia ficar comigo por causa do trabalho, então eu pedi para voltar para a escola no domingo. — explicou Rena. Ara assentiu, demonstrando que seu caso foi igual.

— Eles estão bem ocupados ultimamente não? — Lass perguntou não realmente preocupado com isso, já que ele sempre ficava sozinho mesmo.

— É...

— E seu irmão, Lass? — perguntou Ara inocente.

Lass não respondeu imediatamente, pensando sobre o que tinha acontecido. Ele sabia que estava ficando louco. Talvez fosse sua idade e seus hormônios, mas sem dúvida, em sua mente, Lupus estava ficando aos poucos mais gentil.

O garoto não conseguia negar que o irmão era um homem lindo, que todas as vezes que ele perdia a cabeça, Lass não sentia nada a não ser dor. Lass sentia que o meio-irmão precisava de ajuda e o único que sabia disso era ele. Lupus dependia dele.

— Ele está bem. — respondeu apenas, com um sorriso enigmático.

 

No dormitório masculino.

 

— Ah.

O encontro que não podia voltar a acontecer havia finalmente acontecido. O mais velho estava sentado na escrivaninha e tinha se virado para ver quem havia chegado ao dormitório. O italiano havia aberto a porta sem nenhuma esperança de encontrar alguém na academia em pleno domingo.

Os dois pares de olhos vinho estreitaram. Nenhum deles contente em ver ao outro.

Dio quase estalou a língua quando entrou, deixando sua mochila na cama perfeitamente arrumada e tentando ignorar o universitário.

É verdade que antes Dio daria algum cumprimento sarcástico e trataria o veterano com um humor negro, mas hoje ele não estava nem aí para essas coisas, pois ele estava completamente irritado consigo mesmo por ter agido como um idiota naquela madrugada.

“O que eu estava pensando quando liguei pro Sieghart?” Ele se martirizou pela décima vez naquele dia.

— Você parece nervoso com algo, Fiammeggianti. — comentou Lupus, tentando não esboçar nenhuma expressão. Ele em particular também estava à flor da pele com o que estava acontecendo com Lass.

— Com várias coisas. — respondeu seco, tirando o carregador da mochila.

Lupus fez um “Hm” e voltou ao computador. Ele estava no mínimo curioso, pois sabia que estava rolando algo entre Sieghart e Dio, fato que o incomodava bastante.

— Eu pensei que você estaria no aniversário de Elesis também. — disse Lupus depois de alguns minutos de silêncio.

Dio ergueu a orelha no mesmo instante, curioso. Mas ainda assim ele tentou esconder o interesse.

— Por que eu estaria? — disse, fingindo apatia e deitando-se na cama, olhando algo em seu celular.

— Você tem se aproximado do Sieg. — Lupus provocou, arrastando a língua no nome do amigo.

— Dele sim, não da prima. — Dio disse, sorrindo maldosamente. — Ele é o único que me interessa me aproximar nesse lugar.

— Engraçado. Ele não parece estar interessado em você. — Lupus soltou, irritado com a atitude convencida do mais novo.

Dio tirou os olhos do celular e encarou o moreno.

— E ele não parece interessado em você também. — disse o italiano com veneno na voz.

Lupus quase levantou da poltrona quando ouviu aquela barbaridade. Ele já não estava de bom humor porque ele não pôde ficar na Mansão Sieghart para fazer companhia ao amigo e ainda mais porque Sieghart recusou seu convite para ficar em sua casa e tomar um café pela tarde. Aquele momento era um costume importante para ele, mas Sieghart não estava tendo tempo para ele ultimamente.

Dio sorriu levemente ao ver o outro ficando quieto e cuidando da própria vida. Ele também tinha que pensar no que fazer dali em diante com o Sieghart, já que pelo visto as coisas entre eles estavam caminhando.

Houve silêncio por um ou dois minutos e Dio foi chamado pelo moreno novamente.

— Que foi?

Lupus estava meio sério agora.

— Eu acho melhor perguntar de uma vez, já que eu estou curioso. Você está querendo algo sério com o Sieghart? — indagou o moreno muito diretamente.

Dio arregalou os olhos em surpresa. Essa pergunta era... Ele não queria ter sentido o que sentiu ao ouvi-la. Supostamente ele deveria apenas conquistar o moreno, por pura satisfação, apenas para vencer, apenas para completar seu sentimento de conquista e inflar seu enorme ego. Então por quê?

Ele engoliu em seco e encarou o outro.

— E se eu estiver? — Dio perguntou desconfiado. Aparentemente o veterano se importava demais com o moreno, o que não era normal. — O que você tem a ver com isso?

O moreno mordeu o lábio por dentro.

— Ele é meu melhor amigo, Fiammeggianti. Eu o admiro e prezo pela amizade dele. O último namoro dele o fez sofrer muito e demorou para ele se recuperar. Então se você estiver brincando e fizer qualquer coisa para prejudicá-lo eu garanto que vou acabar com você.

Quando Dio abriu a boca para responder, seu telefone começou a tocar com uma ligação. Ele teria ignorado, mas quem ligava era quem ele menos esperava naquele dia.

— Vamos ver quem está brincando. — Dio disse, olhando feio para o moreno e saindo do quarto para atender ao telefone fora do quarto.

O corredor estava vazio felizmente, mas ele ainda se afastou um pouco, evitando que o Wilde ouvisse qualquer coisa.

Ele respirou fundo, arrastando o ícone verde.

— Oi.

 

Alguns minutos antes, na Mansão Sieghart

 

Sieghart tinha tido um péssimo dia novamente. Ele não conseguia conversar com Elesis por causa do beijo que a viu trocar com Lire, como se fossem um casal já há um bom tempo. Ele não conseguiu comer direito o almoço por causa de sua tia avó Zehlia que não parava de insinuar sobre Sieghart estar fugindo de mulher. Ele não pôde caminhar pelo terreno, pois seus primos ficavam correndo por tudo gritando feito loucos e também porque Nina Von Claire também estava hospedada na mansão e ele não queria vê-la nem pintado de azul.

Ele estava encurralado. Tinha recebido um ultimato naquele dia através de uma ligação. Por isso tinha passado a tarde em seu quarto refletindo sobre os últimos acontecimentos e especialmente sobre Dio. Quanto mais pensava, mais ficava confuso. Em dado momento ele cansou-se de pensar, querendo acabar com tudo de uma vez, com aqueles sentimentos conflitantes e principalmente com seu desespero.

Pegou o celular e sem demora, sem pensar demais, clicou para ligar. Nem mesmo quis mandar mensagem.

— Oi.

— Oi. – respondeu Sieghart sem graça. Tinha certeza que seu rosto estava rubro já. “O que estou fazendo, meu Deus?”

Ele esperou que Dio dissesse qualquer coisa, mas a única coisa que ouvia era sua respiração. Ele lembrou-se da respiração em seu ouvido no outro dia, fazendo-o arrepiar.

— Você está ocupado agora? — indagou Sieghart, quase arrependido.

— Não, estou livre. Aconteceu alguma coisa? É estranho você ligar. — Dio disse do outro lado.

— Hm. — Sieghart assentiu, mais preocupado com o timbre de voz grave que Dio tinha. — Não aconteceu nada demais. Você se lembra de que me ligou essa madrugada, não é?

— Lembro.

— Você estava dizendo coisas meio estranhas. Você se lembra?

Pausa por um instante.

— Lembro sim.

— O que... O que foi aquilo?

— Você quer conversar sobre isso agora mesmo?

— Sim, eu preciso conversar agora.

— Ah, sim.

— Depois de eu te retribuir você começou a me evitar. E então você me ligou. — Sieghart perguntou, coçando a testa, extremamente nervoso por aquela conversa estar acontecendo. — Eu sei que as coisas ficaram mais estranhas ainda, mas por que você ficou tão surpreso? Eu pensei que você estava sério em relação a mim.

Dio suspirou:

— Eu estava sério, mas não achei que você ia mesmo me retribuir. Você agia como se nós não tivéssemos nenhuma chance... então eu...

— Mas não era isso o que você queria? — indagou Sieghart exasperado, sem compreender mais nada.

— Era... Mas eu estou sentindo coisas que não deveria. Nesse momento as coisas estão confusas para mim.

— Isso não faz sentido. — Sieghart disse, irritado. Ele estava quase desistindo, apesar de sua consciência não o deixar em paz.

— Eu pensei que te conquistar era o suficiente, mas quando estamos juntos eu perco o controle. Eu penso em coisas desnecessárias.

Sieghart sentiu seu rosto queimar com as palavras do italiano. Seu estômago deu uma reviravolta e ele fechou os olhos, assimilando. Dio também parecia muito sobressaltado com a conversa, mas logo disse:

— Nós devíamos falar sobre isso pessoalmente. — Dio disse do outro lado da linha, coçando a cabeça. Ele estava nervoso. Não sabia que as coisas iriam chegar a esse ponto. Ele estava com medo na realidade, afinal, Sieghart era um homem também.

— Você pode fazer isso agora?

— O quê? Agora? — Dio arregalou os olhos, sentindo o coração acelerar. Sieghart estava sendo muito repentino.

— É. Agora. Eu preciso te ver agora... Dio.

 

Continua



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