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História I'll Not Kill You - Jimin (BTS) - Sangue Nostálgico PT. 2


Escrita por: IvyMckenziePark

Notas do Autor


Oie, meus amores? Como cês tão? Espero que bem!
Bom, passei um bom tempo fora, mas resolvi aparecer para fazer um "especial" de 1K KKKKKK
Obrigada por tudo, o ep tá grande, mas espero que não se sintam entediados lendo

Ah, vocês gostaram da nova capa? E desta que fiz pros eps? Tava cansada daquelas porcarias mal feitas e improvisadas, esse vai ser o padrão agora, ok?

Espero que gostem, a Omma fez com carinho ^-^

Capítulo 10 - Sangue Nostálgico PT. 2


Fanfic / Fanfiction I'll Not Kill You - Jimin (BTS) - Sangue Nostálgico PT. 2


                        Jimin




                          Quarto do Namjoon, 20:33

                                   

Em muito tempo não me vi tão cansado quanto estava naquele momento. Apesar de ter cuidado apenas da decoração, foi um trabalho exaustivo, não tão árduo e assíduo como o dos outros, mas exaustivo. O perfeccionismo, durante muitos instantes me fez perder a cabeça.


Os garotos ainda tagarelavam no primeiro piso, e ao mesmo passo de suas falas e risadas, eu soltava lufadas que expressavam o meu enfado. Joguei meus fios negros e pouco oleosos pelas gotículas gordurosas de suor que se formavam na raiz de meus cabelos para trás, soltando o ar enquanto meu corpo se chocava com o colchão rigoroso.


Meu celular vibrou por baixo de alguns lençóis, causando-me cócegas e tremores tênues no corpo, tateei-o sem desfocar o olhar do teto em uma paleta de amarelo e branco, reflexo da luz romântica e primorosa que dava esse toque a toda a casa. Toquei duas vezes na tela, e ao acender-se, ela mostrou-me algumas mensagens.


Mãe ♥️ (3 mensagens): ᠂  20:07

É em duas semanas, não esqueça. 

Como vão as coisas por aí?


Ivy (14 mensagens) ᠂  agora
          Digitando...


Abri o chat com Ivy-ssi, não estava com saco para a minha mãe e aquele maldito assunto mais uma vez. Acho que aquele era o real motivo de tanto stress da minha parte nos últimos tempos, eu sentia que precisava espairecer.


Comecei a conversar com Ivy-ssi, passamos algumas horas jogando papo fora, eram assuntos completamente aleatórios, mas também, excepcionalmente complacentes. Uma das melhores conversas em muito tempo!


Os garotos chegaram e começou aquele zumbido no meu ouvido, tentei me esconder embaixo das cobertas, mas só o que fiz foi atrair as brincadeirinhas das quais eu não estava a fim de participar no momento, para cima de mim.


— O que você tá escondendo aí, hyung? —  Jungkook me chamou, com aquela típica voz infantil de quando estava esperando para aprontar. — Anda tendo aulas com o Namjoonie hyung? — riu com o que parecia ser uma gargalhada presa em sua garganta a um bom tempo.


— Nada que seja da sua conta, oh infeliz! — o repreendi com um tom notoriamente forjado de irritação, puxando a coberta ainda mais para o meu lado.


A essa altura eu digitava algumas palavras desconexas, e tinha dificuldade para entender o que ela pronunciava em seus longos áudios completamente sem nexo e fora de contexto, como toda a nossa conversa, se fôssemos reparar bem. Afinal, eu não me comportava de modo muito discrepante ao dela.


Ouvi alguns grunhidos, sussurros e sons de peles se chocando, a sonância de tecidos flácidos, tinidos contidos. Provavelmente alguns daqueles animais estavam se estapeando. 


— Sai! — forcei a voz aguda e rouca, estourando minhas cordas vocais, a fazendo parecer grave e forçada.


— Sai você, eu quero ver! — o tom de Jungkook era exatamente concordante ao meu.


Ficamos nessa lenga-lenga por minutos que pareciam intermináveis, puxando a coberta para o lado de um, para o lado de outro, o tempo todo. Até ouvirmos um som de tecido caro cedendo. Meu coração deu uma leve refrigerada, e não precisava encarar Jungkook para saber que ele, assim como eu, estava de olhos escancarados.


Nós dois largamos os lençóis. Eu continuei a jogar papo fora no celular, e senti o colchão mais aéreo e leve, sinal de que não estava mais lá.


Ao checar o horário novamente, eram 23:12. Ivy-ssi não respondia mais minhas mensagens, embora ainda tivesse o visto em todas elas. Ou estava cansada de conversar, ou havia caído no sono. Despedi-me, mesmo sabendo que estava a falar sozinho. Desliguei o celular, virei-me para a beirada da cama, as mãos fazendo do algodão do travesseiro um sanduíche, a cabeça toda hora a se mexer à procura de uma posição confortável, o que era impossível, ouvindo aquele barulho sintético e nada caseiro, a cada mínimo movimento que eu fazia.

Algo martelava na minha cabeça a cerca de quarenta minutos. Os faróis de carros, motos e outros veículos ilustravam aquela noite escura, entravam pela cortina do quarto e batiam em meu rosto, obrigando-me a espremê-los.


Essa repetição durou por longos e áridos minutos de desprazer. Ora ou outra eu parava para velar o sono dos outros enquanto fazia-me questionamentos do que poderia estar por aflorar seus sonhos a tal hora.


E ao olhar para Taehyung roncando com os braços esparramados por cima de Yoongi hyung, a boca entreaberta, quase babando, pela enésima vez, as minhas pálpebras adormeceram como se tivessem me cedado, o peso delas trazendo o breu morosamente, e eu finalmente apaguei.




O local onde eu me encontrava transmitia-me um ar pesado, mas falando em clima, era arejado, dava para sentir os grânulos de umidade assomando-se em minha respiração, um gosto de poeira adoçava minha boca ao passo que eu sentia o vento frio carinhar as partes desnudas de meu corpo, eriçando o tecido de minha pele e os tênues fios que enfeitavam-na.


Ao olhar para um lado, virar-me para trás no mesmo impulso, e voltar-me para frente, diversas vezes, apavorado, com a sensação de nostalgia agarrando-me cruelmente, eu notei estar em um corredor. Era um pesadelo, todos os indícios me indicavam isso, mas não tinha como não me apavorar, uma vez que a fantasia podia se misturar com a realidade. Os dois extremos do corredor eram trevosos, completamente negros, davam a impressão de infinidade, e não saber o que me esperava por ali era motivo de devassidão.


Sem explicação, eu ouvi o gotejar viscoso, carregado da textura vermelha como vinho, aquela melodia macabra do sangue escorrendo do cinto até pintar o carpete. O choro fanho, medroso, as lamúrias de medo, medo de demonstrar o acovardamento. E lá estava aquele garotinho, meu quociente dizia-me clararamente que eu não sabia quem era, mas o meu subquociente sussurrava, ali, cerce ao meu ouvido, originando em minha nuca, espinha dorsal e dedos a horripilação que assemelhava-se a cócegas forçadas, sussurrava com todas as letras, eu o conhecia, e muito bem. Mas quem era? 


A criança comprimia-se na metade de seu tamanho, recostada ao batente de uma porta que parecia uma comum como tantas outras, mas amplicada em no mínimo três vezes, seu tamanho proeminente e robusto era avassalador, ainda mais se comparado à estatura da criança à sua guarda. Os joelhos sendo apertados com as mãos, com a falsa impressão de proteção, os cabelos negros e incrivelmente lisos cobrindo-lhe qualquer parte de seu rosto que pudesse ser visível a mim, a pele pálida e frondosa de suas mãos mostrava-me suas veias esverdeadas e ressaltadas, algumas manchas roxas revelavam a negligência de sua saúde. 

 

A cada suspiro, fungada e murmúrio que o garoto soltava tímida e medrosamente, eu sentia uma facada certeira, afiada, sem o mínimo de compaixão, em meu peito. Os olhos ardiam com as lágrima acres, eu sentia o calor escaldante acarrear nas minhas bochechas, mas refreei-me e me recompus. 


Foi então que eu ouvi o ranger de alguma das milhares de portas, foi então que os meus dedos formigaram de maneira incontrolável e que eu engoli em seco e a saliva raspou minha garganta como nenhuma lâmina afiada estaria hábil a fazer, perderia o fio, por instantes até achei que choraria em clamor e devoção à dor. Seus passos eram como marteladas em meu interior, faziam estrondar os meus nervos. 


Durante bons momentos eu imaginei que aqueles passos jamais fossem me revelar seu dono, mas a cada segundo que passava, eles traziam-no para mais perto de nós, os calçados estridentes unidos à força de seus pés para castigar minha enxaqueca, fazendo minha cabeça pesar com mais intensidade, até as luzes quase inexistentes de onde eu me encontrava mancharem suas roupas escuras com uma mísera claridade no rosto cabisbaixo, impossibilitando-me ver a expressão que o estampava, os punhos cerrados, dando a notar suas artérias muito mais robustas e aviltantes que as do garoto, este mesmo que não demorei a entender que era o único e total foco daquele homem alto e mal personificado.


Calafrios fizeram curvas, disputaram rachas, e correram por toda a extensão de minha espinha, era quase impossível manter-me imóvel com o turbilhão de sensações que invadia-me.


Como se tivessem passado óleo em minhas orbes, eu vi tudo à minha frente embaçar, perder a forma, em segundos pude sentir a angústia de perder a visão, tudo era um borrão e aquilo não poderia me assustar mais. 


Meu estômago se embrulhou, a minha cabeça titubeava em uma dor hostil, os sons pareciam mais ecoantes, distantes, profundos, minhas pálpebras arderam como fogo, as mãos das águas salgadas abraçando-me as íris, queimando minha pele. Aquela cena foi tomada por lágrimas, lágrimas de desespero, e não eram mais pelos simples maltratos que eu sentia em meus olhos e rosto, e sim pelo que vinha a seguir. E como para privar-me disso, as cortinas daquela peça de horrores fecharam-se para mim antes do desfecho da história. Era tudo um breu, eu sentia-me flutuando, o corpo molengo, um ar inexistente que me fazia morto, e foi então que a voz exaltante ressoou em meus ouvidos, ficando a cada segundo mais nítida e presente, causando estalidos e pulsares extremamente dolorosos em minha glabela e nos globos oculares. 


— Hyung... Hyung... HYUNG! ACORDA, CARALHO! — a cada palavra que Jungkook soltava era um solavanco de meu corpo, ele me chacoalhava como animais averiguam a vida de seus companheiros, era fofa a sua preocupação, mas doía.


A sensação de acordar foi uma das mais aliviantes e transitórias da minha vida. Meu corpo inteiro doía, o suor frio demarcava meus músculos, sentia meus dedos do pé e das mãos tremendo compulsoriamente, o cheirinho de mofo e aromatizantes que o quarto de Namjoon hyung exalava parecia um dos mais aconchegantes em comparação. Meu coração ainda parecia seguir alguma batida acelerada de música, com milisegundos de descanso, mas nenhum momento da minha vida fora tão reconfortante quanto aquele.


Jungkook expulsou-me da cama aos pulos e tabefes. Nós gritamos até os outros acordarem murmurando e resmungando com as peles escaldantes e mais amenas que o normal.


Disputamos uma corrida para ver quem ficava com o banheiro primeiro, Hoseok hyung venceu depois de empurrar Jin hyung contra a quina da parede e o ver se contorcendo de dor, com uma certa dose de drama, e depois de pisar nas costas de Taehyung que caiu por cima dos travesseiros e dos colchões que estavam estirados no chão. Eu fui o segundo após ele, e então entramos juntos para encurtar o tempo. Agarrei minha mochila e então trancamos a porta, ofegantes, antes que as feras nos alcançassem soltando fogo pelas ventas.



                         [...]



Nós saímos, eu com o cabelo esvoaçante e bagunçado, e Hoseok hyung com as roupas pendendo para o lado direito, o elástico da calça prendendo a bainha da blusa, os pés do moletom dentro do tênis, e a mochila do lado esquerdo dos ombros.


Foi a vez dos outros, que incrivelmente, demoraram bem menos que nós.


Chegamos na escola apenas uns dez minutos atrasados, nós costumávamos ir a pé para ficar conversando durante o caminho, mas neste dia tivemos que apelar para o motorista de Namjoon hyung.




                           Ivy


Residência Park


             Quinta-feira, 02 de fevereiro, 08:03

                                                         

Ao passar pelo corredor hiperventilado, percebi que os ar-condicionados não eram a única fonte de frieza ali.


Uma boa parte dos alunos, em sua maioria garotas, arrostavam-me com seus olhos mortos, ermos, mas que me diziam muito sobre seus sentimentos, suas energias chocavam-se com a minha, transmitindo-me telepaticamente a repulsa. Os calafrios brincaram com os movimentos, fazendo-me tremer involuntariamente ao tentar ignorá-los e seguir ao meu armário.



Toquei a superfície gélida e corpulenta de meu armário, num tom de rosa provocante, assemelhava-se à minha imagem no momento. Eu senti a pancada doer em mim, pelo susto, meu coração contraiu-se numa dor abafada. Triunfante, aquela mão se fez presente, espalmada no aço bem revestido, talvez fosse uma alusão, mas a porta parecia deformada logo abaixo daquela mão ossuda.


Sua mão chocou-se com o aço de forma que qualquer um sentiria dormência no músculo, exceto uma pessoa regida pela adrenalina, com uma faísca perigosa de ódio.


A concentração de todos, que há bons minutos já me pertencia, agora havia sido presa às sete chaves comigo. Eu sentia seus olhos me perfurarem mesmo estando de costas para os acontecimentos.


Me virei acanhada, passo por passo, direcionando-me para o motivo de meus batimentos descompassados. Eu não conseguia puxar ou soltar o ar por nenhum lugar, os braços unidos ao meu peito, segurando uma agenda em uma das mãos, onde descontava toda a minha força para apertar discretamente o couro da capa, os olhos o mais apertados que pude e o pescoço inclinado para baixo, caso abrisse os olhos, o único tormento que teria, seria o barro disfarçado na sola de meus sapatos.


Estava acontecendo de novo, ali, estávamos apenas no segundo dia de aula.

Para, por favor!

Calada, o quanto antes vai ser melhor!

Aquilo ardia, ardia demais, eu sentia minha alma queimar, minha garganta fervia com o líquido ácido da angústia, o rancor que eu guardava. O ar batia nas minhas feridas como se fossem filhas desobedientes, até mesmo aquilo machucava, respirar doía, estar ali doía. Meu interior pruía para gritar.


— PARAAAA! — minha voz saiu como o rugido de alguma criatura da mitologia, um grito fanho, gutural, largado no ar, com todas as minhas forças, um tom esganiçado, rouco, pedinte de ajuda, como a de alguma criatura em seus últimos momentos de sanidade.


Minhas mãos perderam o controle, larguei a agenda no chão, olhando-a espantada com tamanho espalhafato que eu acabara de causar. Seus olhos eram tão assustados e indignados quanto os meus, eu me via neles, congelando com seus pensamentos, com os meus pensamentos.


Estávamos estáticas, uma à frente da outra, a mercê uma da outra, mas congeladas demais para nos mover ou nos tirar daquele transe.


Mas, esdrúxula, cheia de luxúria e transpirando orgulho, ela ajeitou a pose, agora ereta, nariz empinado, os lábios pintados de vermelho, franzidos, e um olhar oscilante, que não sabia se poderia manter na reta do meu. Ela lufou, dando a ver uma mecha de sua franja levitar sorrateiramente.


Seu peito subia e descia e ela parecia hesitar, mas por fim, foi visto que tomou uma decisão.


Eu não me sentia tão amedrontada, mal sabia eu que estava completamente errada em sentir-me tão confiante.


Sem dar um passo, ela inclinou seu corpo para a frente, ficando íngreme, moldando seu tronco à posição do meu, um lábio quase por engolir o outro, os olhos arregalados, enormes, pareciam querer me devorar a cada mero movimento de suas íris.


Sem que eu esperasse, aquela mão forte e prepotente filou meus cabelos pela nuca, dando a sentir alguns de meus fios cedendo ao seu ímpeto.


Ela esguiou-se sorrateiramente, adornando o formato perfeito de minha nuca com seus dedos ágeis e rudes.


Minha coluna arqueou-se até eu sentir que não conseguiria ser mais flexível que aquilo, alguns estalidos foram reproduzidos pelos meus ossos superestimados no momento.


Transigi aos seus anseios e apenas deixei-me desmoronar no piso lustroso e teso. Amansando a queda com uma das mãos que aflingiu-se de primeira, fazendo-me arrastar o ar pelos dentes, com os ossos que ligavam a mão ao pulso lixando um ao outro.


Vi seus joelhos curvando-se, talvez a única parte de seu corpo que fosse humilde o suficiente para concluir tal ato. Seus cotovelos alinharam-se à sua barriga, as mãos cruzadas à minha frente, um sorriso cínico, árduo, hostil. Apesar de seus dentes quererem mostrar-se como a imagem de seu orgulho, o brilho que refletia de seus olhos mais pareciam lágrimas, suas orbes espelhavam seu ódio, sua fúria.


A revolta consumiu-me novamente, em um todo. Algo semelhante a uma pontada no peito, algo que encorajava-me a expelir o que há muito vinha guardando, um impulso indômito, a postos para me encaminhar a um pedestal de queda livre.


— POR QUE VOCÊ FEZ ISSO? QUAL O SEU PROBLEMA? VOCÊ NÃO TEM BOCA? NÃO SABE CONVERSAR? — minha sonância rasgava-me as cordas vocais, o tom enfurecido não combinava com o meu timbre. A esta altura eu já cuspia as palavras com toda a minha revolta embolada nelas.


Eu parecia corajosa, destemida, mas por dentro, me sentia aos cacos, um verdadeiro animal indefeso à espera do ataque de seu predador. Parecia que eu fugia da vida social, mas numa situação como aquela, eu não tinha outra escolha a não ser encarar meu maior medo, afrontar o agressor. Se calafrios, mãos trêmulas, dores contínuas e ar falho fossem o preço a pagar, pois bem, eu pagaria. Tudo pela minha paz!


— Prazer, Dong Sun, a dona da pessoa a quem você está tentando conquistar! — seu tom era ácido com seu sarcasmo, mas adocicava-se com a pitada de meiguisse que ela adioconava. O esboço de sorriso continuava ali, mas não era armonioso, pois seus olhos transmitiam muito bem a sua raiva, contrastando com seus dentes amarelos.


— O quê? — soltei todo o ar que a minutos estava aprisionando, um suspiro surpreso.


— Não se finja de cordeiro, todos nós sabemos que você é o lobo da história! — sua unha facilmente cortante alisou minha bochecha quente e ruborizada. Afinal, a essa altura, metade da escola nos cercava com seus olhares confusos e intrometidos, não os julgo. — Estou falando do Jimin, pra não se confundir com nenhum dos seus outros casinhos... — ela bafejou por cima das unhas, as polindo no casaco cardigan. Em seguida, analisando-me dos pés à cabeça, com o mesmo olhar de um jurado ou um juiz, um ar de quem julga insuficiente, vulgar.


— Casinhos? Jimin? — meu semblante era certeiro, mostrava-lhe o quanto aquelas palavras me atingiam, de forma severa. Eram grotescas, sem fundamento as suas acusações. — Quer saber... — soltei um riso soprado, acariciando o interior de minha bochecha com a língua, ao desviar o olhar para o lado, logo voltando a encontrar o dela. — Você acha que é o quê? Dona dele? Sério que você disse isso? — minha risada saiu como a de algum bebê rindo das piadas e brincadeiras infames e bestiais dos pais, uma risada gostosa de soltar, vinda do baú de atitudes às quais eu jamais usava. — Acha que ele é algum cachorro ou alguém que pode prender numa coleira? — eu segui seus olhos com os meus, o canto dos lábios esticados num sarcasmo audacioso. O intuito era provocá-la, ela parecia cão que late mas não morde.


Sua mão ergueu-se, espalmada, vibrando, hesitante, mas carregada de sua ira. Pronta para descer de encontro com a pele escaldante de meu rosto.


Foi então que uma mais bruta ainda agarrou-lhe os pulsos enraivecidos, cheios de veias ressaltadas. Uma mão gordinha, quase inofensiva, se não fosse seu ato no momento. No impulso, aquela mão a puxou, virando-a e a fazendo colar seu corpo ao dele, dando a ver seus peitorais ofegantes, chocando-se um contra o outro, as costelas dela visíveis pelo fino tecido de sua blusa. A mão dele ainda segurava a dela, acima de suas cabeças, os olhares selados. 


— Você não ia fazer isso, IA? — ele iniciou com um tom sereno, extremamente bonançoso, senti-me plácida com seu timbre tão ermo. Mas foi aí que sua voz aumentou, empurrando-me para trás, meu peito subiu e meus olhos se estreitaram.


— Jimin... Eu... E-eu — as palavras pareciam não se formar nem mesmo em sua cabeça, ela estava encurralada, e aquilo quase a deixava muda. — Eu não posso crer que já está nas mãos dela! — afirmou, a indignação tomando posse de seus atos.


— Eu não estou nas mãos de ninguém! — ele rosnou com a boca a pouco por ser solta pelas cordas que a seguravam, rente ao ouvido dela, fazendo-a estremecer de medo, os olhos dele perdidos em sua pele eriçada, enquanto os olhos dela mantinham-se apertados, comprimidos, junto com o medo que ela esforçava-se para não revelar. — Você ia mesmo bater nela por ciúmes de alguém que você nem tem? — com impulso, ele projetou-se para trás, ficando aprumado à sua frente.


— Por favor... Parem! — eu enfiei-me na discussão, a voz embargada, quase por ser afogada, puxada pela insegurança, mas ainda pertinaz. — Não quero que briguem por minha causa! Podemos resolver isso... Ai... Calma... Calmamente! — numa tentativa falha e dolorosa de me levantar, apoiei meu peso na mão machucada, e percebi que não era a única a impossibilitar-me de concluir movimentos cotidianos ali, meus joelhos e coluna rangiam, enfraquecidos.


Eu odiava aparentar indefesa, digna de pena, mas era aquele tipo de imagem que eu transparecia ali, parecia a coitadinha, não queria que me achassem forjada.


Jimin jogou-se de joelhos, cara a cara comigo, agarrando minhas mãos e olhando no fundo de meus olhos, com preocupação. Dong Sun apenas revirou o olhar, bufando enquanto saía dali em uma marcha etiquetada.


— Vamos pra enfermaria! — ele já ia levantando quando soltei minha mão da dele de forma bruta e repentina. Senti-me culpada, como uma criança birrenta, mas foi um ato ufanico.


— Não precisa, eu posso fazer isso! — soltei uma afirmação seguida por um suspiro pesado.


Sun Hee adentrou a escola, completamente avoada, até dar-se conta de todo o alvoroço, todos nos olhando, perplexos, e nós dois, estirados no pátio.


Ela correu lado a lado com sua aflição, logo me erguendo juntamente a Jimin, os dois me direcionando até a sala mais distante do corredor.


Comigo deitada naquela maca com ares  de remédio e enfermos, os dois pareciam pais preocupados com o diagnóstico de seus filhos, recostados cada um a um lado diferente do batente da porta, olhando-me estupefatos.




                            [...]




Acordei sufocada, usei de todas as minhas forças para puxar o ar que de mim estava fugindo, aqueles pesadelos tomavam uma parte de mim, sempre, e para me recuperar, o meu refúgio era o meu bom e velho diário, a minha enésima caneta falha, e as palavras que flutuavam até pousar nas folhas desgastadas daquele papel qie , e eu precisava dele mais do que tudo naquele instante.


Ao procurar incessantemente por todos os cantos, as mãos formigando de desespero, eu tomei consciência e vi que nem minha mochila nem nenhum outro pertence meu estava ali. E sim, confinados em alguma parte escura daquele armário de metal, agora com uma porta amassada que eu jamais me esqueceria. 



                     Namjoon


                                     Casa dos Kim, 17:20


É hoje o dia em que me liberto das amarras que me impedem de ter uma mente tranquila e avoada como os demais. Pelo menos, é essa a intenção. 


Após cerca de duas ou três horas de queixumes teatrais se manifestando desde a boca aos movimentos e sinais de Jin, de uma panela carbonizada, e louças oleosas à minha custódia, eu e Jin finalmente recebíamos nosso tão condigno descanso. 


Às 19:00 em ponto o alarme que eu havia programado para lembrar-me de meu dever do dia tocou, estridente e pregador de peças como eu deveria ter previsto. Jin saltou do sofá, os olhos esgazeado, a boca acereijada bradando um "Uoh, uoh" enquanto suas mãos espanavam  despropositadamente o sofá. Desliguei-o de incipiente, em seguida minhas lumes miraram o telefone sem fio, um olhar tão afiado quanto meu desejo. As minúsculas luzes verdes prendendo minha atenção, desafiando-me a tocá-lo. 


Na ligação com o meu genitor, simulei uma contusão profunda, esbravejei desesperadamente e urrei de dor para exprimir a urgência, atos improvisados dignos de um ator renomado. Com a minha mãe o drama foi menor, bastou dizer que havia me lesionado para ela virar toda tormentos. Me sentia um boneco controlado por um ventríloquo, este, com certeza, seria Seokjin. 


Ao primeiro toque do telefone, minhas mãos afobadas foram de encontro com o tal, meu pai avisou-me que estava a caminho.  


Foi questão de minutos para que ouvíssemos o tinido da chave na fechadura da porta da sala. Eu e Jin, de prontidão, fugimos para detrás da churrasqueira, o nosso camarote com vista privilegiada do terraço onde Jimin havia decorado. 


A silhueta de meu pai logo se evidenciou por trás das cortinas que uniam-se num bege como areia e num grinalda discreto, suas mãos afastaram o tecido, em seguida abriram as portas do terraço, com cautela para não amassar as pétalas de rosa já murchas da noite anterior com aqueles pés de patos tamanho 45. Examinou o lugar, olhou adiante, talvez à minha procura, e ao constatar minha ausência, desapareceu por de onde veio. 


Ele havia sacado a minha jogada, e, como planejado, estava aceitando meu convite para uma partida. Bastou alguns minutos para sua mão aparecer por entre o tecido translúcido, como um anfitrião em uma reunião importante, indicando-a o lugar. Minha mãe sorria abobada, mesmo de longe, eram perceptíveis as suas orbes de aspecto vitral, emocionadas. As mãos escamosas e pálidas a cobrir a boca e toda aquela região, um olhar oscilante entre meu pai e a mesa etiquetada. 


Pelos sorrisos bem traçados, concluí que Jimin havia feito um bom trabalho, e minutos mais tarde, pelos acenos de cabeça e pela mastigação controlada, notei que ele não foi o único. 


Ao céu se colorir como aquarela, numa brincadeira despreocupada que ousava no laranja e no azul denim, a lua e o sol trocando de postos e as estrelas e as nuvens se agrupando, vi seus contornos desaparecendo em meio à luz interior do local, um forte baque de uma porta corrente contra a outra, e as cortinas unindo-se em uma só novamente. 


Eu e Jin aguardamos para não dar na cara, eu no celular, ele a gabar-se por seus dotes gastronômicos. 


Ao engatinhar com passos quatrípedes sorrateiros até a ventana extensa, eu camuflei-me em meio a um vaso alto, espiando os dois a tratarem dos afazeres domésticos com o maior semblante de alegria. Lavavam as louças, sorridentes, mesmo que em meio a um bando de tapeçaria suja, grudenta e oleosa. Era cabuloso e intrigante, mas se estavam felizes, eu estava em paz. Sinalizei com a mão direita para que Jin contornasse a casa juntamente a mim. Passamos horas ali escolhendo qual seriam nossos carros, nossas casas e decidindo ilusões altas demais para nossos futuros, até acharmos que era o momento certo para nos abrigar novamente em casa. 


Destranquei a porta da sala de estar, entrando despreocupadamente e inventando uma desculpa qualquer para fugir para o meu quarto e avisar aos garotos que havíamos conseguido concluir aquela fase. 



Notas Finais


Espero que tenham gostado.

Me falem o que acharam nos comentários, alguma teoria sobre os sonhos e possíveis mistérios que possam ter encontrado

Até a próxima ♥️💅


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