NO CAPÍTULO ANTERIOR: -Andy?- Meus dedos simplesmente travaram e todo o resto do meu corpo se arrepiou. Eu poderia reconhecer aquela voz doce em qualquer lugar e definitivamente não era de alguém que havia acabado de comprar aquela casa...
Continuando...
Me virei lentamente ainda com aquela idéia de que tudo aquilo poderia ser apenas a minha mente me pregando peças pelo fato de eu querer muito que aquela pessoa estivesse ali. Minhas mãos tremiam um pouco sem motivos concretos e quando eu me virei completamente, minhas pernas bambearam.
Parada ali na porta, havia uma baixinha com os cabelos ruivos e atrapalhados um pouco abaixo do ombro, com um roupão e um gato no colo. Era ela, ela estava ali na minha frente e eu não sabia onde colocar tanta felicidade que eu estava sentindo naquele momento, estava feliz, mas simplesmente não sabia o que fazer.
-Nicka?- Ela havia me chamado pelo apelido, então eu também podia...- O que faz aqui?- Ela podia muito bem dizer “eu que te pergunto, o que ta fazendo aqui no jardim da minha casa?”, mas parece que ela estava um pouco mais calma e gentil do que da última vez que conversamos.
-Bom... Meu tio me ligou dizendo que conseguiu vender a casa, então era pra eu vir tirar o resto das coisas e pegar o dinheiro- Ela me olhou com aqueles olhos grandes atrás daqueles óculos que, se antes eu os achava desajeitados, agora acho lindos- E bom... Como estou precisando do dinheiro, eu vim- Ela completou quando percebeu que eu estava calado- E você? O que faz aqui?- Agora sim ela perguntou. Colocou o gato no chão e desceu os degraus da porta ficando um pouco mais perto de mim, mas ainda estávamos longe...
-Ah, entendi... É que agora meu apartamento fica tão perto que eu tenho que passar sempre aqui sabe, então vim aqui só pra...- Eu iria mentir, mas depois pensei “pra que?”- Na verdade, eu estava passando por aqui e percebi uma luz acesa ali em cima- Ela continuou me olhando como se estivesse realmente interessada na minha resposta- Então eu dei uma olhada, para ver se a placa de vende-se ainda estava aqui e quando percebi que não... O mundo inteiro simplesmente desmoronou nas minhas costas, tive a mesma sensação de quando você foi embora e não tive vontade de ir pra nenhum outro lugar, quis ficar aqui, mesmo que tivesse certeza que a pessoa que acendeu aquela luz não fosse você- Ela me olhava com um meio sorriso nos lábios enquanto ainda me olhava com cara de interesse- Então eu me sentei nessa escadinha e... Depois de meses agüentando... Eu não consegui segurar as lágrimas- Eu disse essa última parte olhando para o chão porque estava quase chorando de novo e não queria isso, depois de um tempo com tudo em silêncio, olhei para seu rosto e seus olhos estavam molhados, ela mordia seu lábio inferior como se também estivesse quase chorando.
-Eu vou ficar aqui até domingo- Ela disse acabando com o silencio entre a gente e... Puxando assunto, talvez?
-Ah sim, que legal- Eu não estava pensando direito no que falar e nem prestando atenção no que ela dizia, eu só conseguia pensar que queria muito lhe abraçar, mas não sabia se podia fazer isso- Ah... Eu fiz uma coisa pra você- Me lembrei do bilhete e imediatamente comecei a procurá-lo em minha mochila.
Já estava com a mão no bilhete, mas estava difícil tirá-lo de dentro do fichário, olhei para ela sorrindo do mesmo jeito que estava sorrindo mais cedo para minha “chefe”, odeio quando tento fazer coisas perto de pessoas e não consegui fazer que nem uma pessoa normal. Ela me olhava com cara de curiosa e quando finalmente consegui pegar o bendito bilhete... Pude perceber que havia se amassado todinho (ou fui eu mesmo que amassei naquela confusão... Que seja), mas mesmo assim lhe entreguei, me desculpando pelo seu estado. Ela pegou de minha mão sorrindo e o desdobrou, ficou um tempo lendo e... Eu estava com muita vergonha, tanta que nem conseguia olhar para ela, fiquei olhando para os meus sapatos enquanto ela lia.
-Andy?- Ela me chamou com uma voz doce e baixa, quase que um sussurro- Olhei para ela e ela sorria para mim, enquanto uma lagrima escorria de seu rosto e ela segurava o bilhete com as duas mãos. Por que ela chorava? Estava tão ruim assim? Já estava me preparando para pedir desculpas e dizer que não tinha ficado tão bom assim porque eu achava que ela não veria, mas ela falou antes de mim- Posso te abraçar?- Ela perguntou com tanto receio que eu até me senti mal, eu nunca negaria um pedido desse, ainda mais de Nicka.
-Claro que pode- Eu disse e logo após larguei minha mochila no chão e abri meus braços para que ela viesse. Ela veio quase que correndo e me abraçou tão apertado que quase me deixou com falta de ar, lhe correspondi do mesmo jeito e acho que ela gostou porque ficamos bastante tempo assim.
-Obrigada- Dessa vez ela realmente sussurrou no meu ouvido enquanto passava a mãozinha direita entre meus cabelos que haviam começado a crescer novamente.
-Por nada, mas... Você não precisa agradecer sabe, eu nem caprichei muito nisso, não pensei direito no que iria escrever e nem tentei fazer letra bonita... Não que esteja escrito alguma mentira ai... É tudo verdade, mas sabe... Eu realmente achei que estava escrevendo mais para guardar porque tinha certeza que você nunca veria- Eu disse assim que nos soltamos do abraço. Enquanto eu falava, ela ainda olhava o bilhete e sorria, mas sabia que estava prestando atenção em mim.
-E é exatamente por isso que ficou lindo- Não entendi...- Você nem sabia que eu veria isso, então com certeza não escreveu nenhuma mentira aqui- Ela deu uma pausa e mordeu seus lábios como se estivesse segurando um sorriso- Não que eu esteja te chamando de mentiroso, mas você sabe, quando fazemos algo assim para alguém, escrevemos coisas que nem fomos nós que inventamos- Isso é verdade- E como você nem sabia que iria me entregar... Eu tenho certeza absoluta que escreveu isso de coração, brigada mesmo Andy- Ela terminou de dizer e limpou suas lágrimas com a manda do roupão.
-Bom, isso é verdade. Eu escrevi de coração e... Que bom que gostou- Eu não sabia bem o que dizer, não esperava que ela tivesse uma reação tão boa assim. Ela estava olhando novamente para o bilhete e sorria muito, mas de repente me olhou com uma cara um pouco triste.
-Sabe... Você foi o único que se importou... Quando meu tio me ligou avisando que eu teria de vir para cá hoje, eu mandei para todos os meus amigos daqui, que não são muitos, mas existem, dizendo que eu viria e que seria meu aniversário. Todos eles me desejaram feliz aniversário por mensagem, mas até agora ninguém apareceu aqui...- Ela ficou calada e quando foi falar algo, ela falou antes de novo- Até alguns minutos atrás eu estava toda arrumada esperando pelo menos uma pessoa chegar... Nem meu tio veio- Agora sim ela havia parado de falar e voltado a chorar.
-Hey, não chora, por favor- Eu definitivamente não sei como fazer uma pessoa parar de chorar- Sabe, se essas pessoas não foram capazes nem de se preocuparem com o aniversário da amiga, da sobrinha ou o que for, elas não merecem que você se arrume para esperá-las e muito menos que fique assim por causa delas... Vem cá- Eu disse e me aproximei dela, lhe abraçando novamente- Eu sempre vou me importar com você ok? Mesmo que não esteja mais aqui comigo, sempre vou me lembrar de você e sentir sua falta. Então, você sempre pode confiar em mim ta bom? Nunca se esqueça que, mesmo longe, eu estou sempre pensando em você e sempre disposto a te fazer feliz, tudo bem?- Ela não respondeu, mas pude sentir que ela balançou a cabeça. Depois de um tempo, me soltei do abraço para limpar suas lágrimas.
-Hey Andy- Ela me chamou enquanto eu terminava de secar suas bochechas, olhei para ela como se estivesse lhe respondendo e ela imediatamente ficou com as bochechas coradas- Sabe... Eu não sei bem como te pedir isso, mas... Você não quer ficar um pouco comigo? Sabe... Comemorar meu aniversário- Claro que eu queria muito ficar com ela, mas me surpreendi com a pergunta- Quer dizer... Se você puder né, se tiver algum compromisso eu não vou ficar chateada, por ir sem problemas- Ela disse passando a mão em seus cabelos, numa tentativa falha de arrumá-los.
-Claro que eu fico- Eu disse e ela sorriu para mim, saber que ela estava sorrindo por minha causa era a melhor sensação do mundo- Mas, você se importa de esperar só alguns minutinhos? Preciso fazer uma coisa rápida- Ela imediatamente abriu a boca como se fosse me perguntar o que eu precisava fazer, mas se policiou e apenas ficou calada, mas respondeu depois de um tempo.
-Claro que não me importo, pode ir lá- Ela disse como se tivesse ficado desanimada com o fato de que eu precisava sair- Eu vou te esperar lá dentro ta, então quando voltar é só bater a campainha- Balancei a cabeça afirmando que havia entendido e lhe dei um abraço rápido antes de subir em minha moto e ir onde eu queria.
Mas onde era? Eu iria em uma loja de jóias e compraria qualquer coisa que eu achasse bonitinho para dá-la de presente à Nicka. Eu não sabia exatamente o que eu podia comprar uma hora daquelas (que não fosse demorar uma eternidade comprando) que ela iria comprar, então essa foi minha melhor idéia. Finalmente achei uma joalheria e... Simplesmente fiquei perdido lá dentro, era tanta coisa que eu não sabia o que comprar porque... Eu queria algo simples (não por conta do dinheiro, mas sim porque pensem... Se ela não gostasse e fosse algo simples, ela podia usar disfarçadamente pelo menos quando estivesse perto de mim). Depois de muito procurar, finalmente achei um cordãozinho de ouro com um coração ouro e vermelho pendurado, era lindo e dava para disfarçar, então seria isso mesmo que eu compraria.
-Só isso mesmo senhor?- A mulher do caixa me perguntou quando chegou a minha vez na fila e eu lhe mostrei o colar que queria (ou cordão, que seja...).
-Sim, só isso mesmo. O preço é aquele mesmo que estava na vitrine?- Eu nem sei se aquilo se chamava vitrine, mas ela havia entendido, isso que importa.
-Sim, é esse mesmo, mas... Qual letra o senhor vai querer?- Como assim quais letras? Não entendi essa pergunta.
-Letra?- Ela me deu um sorriso como se estivesse satisfeita por eu ter feito aquela pergunta e então abriu aquele coração, me mostrando que dentro havia uma letra. Logo em seguida ela me perguntou novamente, qual letra eu queria.
Depois de bastante tempo pensando, eu decidi que seria a letra “D”, porque é a única inicial que eu e Nicka temos em comum, e se ela não quisesse pensar assim, era só fingir que era do nome dela mesmo.
“D” de Dominika e Dennis (que é meu segundo nome).
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