Então, após meses sem uma noite de descanso como a noite passada, a manhã chega para devolver Jungkook ao seu patético mundo de solidão.
A luz da manhã atravessa a janela e adentra o local e com isso, a mesma cola-se ao rosto do jovem que, antes, estava dormindo. O mesmo levanta sem muita cerimônia, olha para a janela; seus olhos estão inchados, suas vestes amassadas. Mais um dia comum no seu apartamento.
Sentado na cama, com as mãos apoiando, ele joga a cabeça para trás com intenção de tirar a tensão que é de costume em todas as manhãs; porém, hoje não. Ainda não percebeu, mas, a noite passada revigorou seu corpo.
O motivo? O pedaço de papel amassado que se encontra debaixo de uma das mãos de Jungkook... para ser mais específico: o conteúdo do papel.
Ele pega o papel e analisa o mesmo. Solta uma meia risada e se joga na cama. Fica alguns segundos com os olhos fechados e, ao abrir, olha para o teto acinzentado e com algumas manchas de infiltrações. Fecha os olhos novamente. Seu sorriso inexplicável permanece em sua alva face.
Eis que o jovem escuta um barulho de algo caindo, vindo da direção do banheiro. Abre os olhos e levanta em um desespero silencioso.
Não tinha deixado ninguém entrar no local e, o seu único amigo que tem a chave, estava fazendo uma viajem à trabalho.
Andando na ponta dos pés, vai na direção do banheiro e, ao chegar perto, tenta escutar algo mais, então, sons de algo batendo na pia surgem.
Ele abre a porta e vê um rapaz dentro do local vestido com roupas extremamente folgadas para o corpo mesmo e com sua escova de dentes em mãos. O desconhecido nota a presença de Jungkook e encara o mesmo; olha para a escova e em seguida para Jungkook.
– Ah... Kookie... Como se usa isso? – O rapaz desconhecido questiona, fazendo uma expressão confusa, com um sorriso extremamente leve.
Jungkook fica sem reação. Ele encara o rapaz com sua escova em mãos. Tenta achar algo que explique a presença de um estranho em seu apartamento. Eis que ele tem uma grande ideia: beliscar seu braço, na crença de que ainda está dormindo. O que não funcionou de primeira, fazendo o mesmo tentar novamente.
A expressão confusa do rapaz desconhecido aumenta notoriamente. Jungkook não fechava seus olhos e continuava a se beliscar e isso fez brotar curiosidade no desconhecido.
– Kookie... Está tudo bem? – O desconhecido joga levemente a cabeça para o lado.
Ao ouvir a pergunta, Jungkook fecha a porta em um movimento brusco, que faz com que ele machuque a mão na maçaneta.
Com a porta fechada, ele trava a mesma e fala em alto e bom som.
– 'Tá bom! - Puxa fôlego. – Quem é você? Como sabe o meu nome? E o quê faz no meu banheiro? – Jungkook dispara as questões.
O, até então, desconhecido, após o susto, se aproxima da porta e começa a responder. Sua testa está encostada na porta, seus punhos cobertos pela camisa de mangas compridas, fazendo com que somente seus dedos ficassem visíveis. Ele fecha os olhos e respira fundo.
– Ah... Sou o Tae. Bom... acho que você me criou. E eu... quero que o Kookie me ensine a escovar os dentes. – A fala de Tae tinha longas pausas entre algumas sílabas.
– 'COMASSIM?! - Jungkook grita e começa a andar de um lado para o outro no pouco no espaço de seu apartamento. – E-eu te criei?! Como? Sou pai? Quem é você? Já largou minha escova?! – Jungkook estava atordoado com o acontecimento bizarro.
Durante toda sua suposta existência, esteve com Jungkook. A reação do mesmo, deixou um primeiro sentimento em Taehyung: receio.
Ele respira fundo mais uma vez
– Acho que essa não é a melhor maneira de começar nosso primeiro diálogo. – Tae diz, com esperança de que Jungkook abra a porta.
– Cara, eu devo ter enlouquecido. – Pensativo, com o dedo indicador encostado ao seu lábio inferior, Jungkook se perde em suas paranóias e ignora o que Tae acabara de dizer.
Alguns minutos se passaram. Jungkook estava sentado no chão encostado na porta do banheiro. Pensado. Tae estava de pé, encostado na porta.
– Abre a porta Kookie... – A voz manhosa de Tae faz subir um arrepio que veio da ponta da sua coluna vertebral, até o pescoço, fazendo o destino final do arrepio levantar alguns pelos.
Parecia tão familiar. Um som novo, porém inexplicavelmente conhecido. Isso fez Jungkook baixar a guarda. Ele passa a mão no ponto final do arrepio, respira fundo, e, enfim, abre a porta do confinamento de Tae.
A mão de Jungkook está, ainda, na maçaneta. Sua expressão chega a ser um pouco engraçada. Está de olhos fechados com o nariz meio empinado.
– Vai para a cama e me espera lá.
Outra pessoa veria duplo sentido na frase; porém, a inocência de Tae, faz com que ele simplesmente obedecesse o comando.
Ao ver Tae passando pela sua frente, Jungkook nota que o mesmo é um pouco mais alto que ele.
Já na cama, Tae se senta com as pernas cruzadas, como uma criança a sentada no chão do jardim de infância. Jungkook olha para Tae, quê está fingindo estar distraído olhando para a janela. Fecha os olhos, respira fundo e vai em direção do mesmo.
Chegando perto, recebe sua atenção; seus olhos o encaram, sua face está sem expressão alguma, somente os fios de cabelo caídos em sua testa fazem movimentos leves na obra viva que estava à frente de Jungkook.
Ele, pela primeira vez, se encanta com Tae; é como se, naquele momento, o tempo tivesse parado e só existiam eles dois.
Uma face desconhecida, porém, familiar; fazia Jungkook se sentir bem. Não sabia o porquê de estar sentindo-se assim por causa de um estranho... simplesmente sentia.
O término do momento aconteceu quando um vento fez com que a janela aberta batesse um pouco na parede. Um som quase inaudível, mas foi suficiente para tirar Jungkook do transe. Jungkook lembra do que estava prestes a fazer.
– Tae... – Jungkook fecha os olhos, senta na cama e respira fundo. – ... como eu te criei?
– Ah... não foi porquê você quis... – As palavras fizeram um nó na cabeça de Jungkook. Tae percebe e tenta explicar mais claramente. – Eu sou... uma... uma memória... – Tae estala os dedos – Isso! Uma memória do seu... subconsciente!! Isso!! Sou uma memória do seu subconsciente!!
– Eu devo estar dormindo...
– Não... se for um sonho... é a primeira vez que interajo com você. Não entendi muito bem. Tudo o que eu sei é que eu vivia na sua mente. Sei seus gostos. Tudo o que você sabe e as coisas que lembra. Mas não sei como vim parar aqui.
O silêncio invadiu o ambiente.
– Eu... não lembro de você...
– Nem eu... eu, simplesmente estou existindo agora. É tudo muito novo para mim também. Mas... eu tenho você para me ajudar! Não é, Kookie? – Ele junta suas mãos com as de Jungkook, o mesmo olha para suas mãos entrelaçadas e nota como o outro aparentava achar aquilo normal.
Nunca tivera sentido-se tão bem. As mãos sobre de Tae sobre as suas; quentes e suaves como a luz límpida do sol, na mais linda manhã.
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