Bônus - não há como, MinSeok. Parte 1
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Onde eu estava?
Para onde eu fui?
O que aconteceu?
- M-Minseok? - uma voz feminina me despertou.
- q-quem é você e como sabe meu nome? - perguntei assustado vendo uma silhueta atrás da neblina. - e onde estamos? Você me sequestrou?
- não se lembra? N-não se recorda mesmo? - sua voz tornou-se chorosa e, por algum motivo, me senti culpado de ter causado isso.
- quem é você?
Ela não me respondeu e desapareceu. Aquilo me intrigou, mas eu estava assustado, onde diabos é aqui?
- Kim MinSeok, certo? - uma voz grossa me chamou.
- é, quem é você?
- sou a Morte...
- A MORTE? EU SOU NOVO DEMAIS PRA MORRER! Não me mate, por favor! - me ajoelhei implorando.
- mais um caso... - resmungou.
- mais um caso do quê?
- MinSeok, você já está morto. - anunciou direto.
Arregalei meu olhos e senti vontade de chorar, que diabos... Como eu estava morto? Não senti meu rosto sendo molhado pelas lágrimas que eu sentia "soltar" de meus olhos.
- como eu morri? - disse sôfrego.
- ande reto e não pare, chegará aonde, pessoas como você, ficam.
- que tipo de pessoas? - perguntei me levantando e começando a andar.
- das suicidas. - sua voz ficou distante e eu me virei bruscamente para trás, não encontrando nada.
Eu estava num completo vazio. Mesmo morrendo de medo, ou que seja o que eu estava sentindo, continuei a andar como a "Morte" falou.
Eu tinha me matado? M-mas como a-assim?
[...]
Aquilo parecia estar distante, pois tive a sensação de continuar andando por vários e vários dias...
- continue, MinSeok, você está quase lá. - ouvi uma voz familiar bem distante. Decidi ouvi-la.
Forcei meus olhos ao avistar uma sombra de forma abstrata. A névoa foi dissipando-se e reconheci o que era aquilo, uma placa de madeira com coisas escritas.
- vale dos suicidas. - li em voz alta e logo uma porta surgiu, assustando-me de uma tal forma que cai na superfície que andava.
Olhei a porta e ela parecia ter sido esculpida na era das trevas da antiguidade, cheia de desenhos amedrontares, vampiros, gárgulas e espíritos com expressões de desespero. Levantei depois de um tempo e empurrei a porta, abrindo-a.
Um brilho extremamente claro saiu da porta e fechei meu olhos por instinto, quando senti a luz tinha dissipado-se, abri meus olhos e arregalei-os ao ver que estava em um lugar totalmente diferente. E nada macabro como a porta.
Era um grande campo esverdeado e havia pessoas andando e conversando. Aqui não era o paraíso, então o que era?
- uma prisão. - um homem disse ao meu lado.
- como? - perguntei assustado. Ele apareceu do nada!
- você foi confinado à ficar aqui, a não ser que um anjo o tire daqui, mas você iria para outro lugar e faria tarefas "angelicais". - exclamou em tom debochado.
- por que estou aqui?
- você é burro, garoto? Você se matou e veio parar aqui, onde não é nem céu e nem inferno.
- então é o quê?
- por que não cala a boca? Quantas perguntas!
- desculpe.
- tinha que ser novato.
- alguém já saiu daqui?
- já, até hoje, apenas duas pessoas saíram daqui. Elas se tornaram anjos da guarda.
- está aqui há quanto tempo?
- sessenta anos, conheci ambas, uma era Rosetta, se suicidou, porque seu pai a espancava e molestava ela. - olhou para o nada e suspirou. - e a outra era _____, se matou, porque não aguentava o que tinha sofrido e estava sofrendo, que se eu não me engano, na Coreia, um país do mundo humano.
- elas estavam aqui há quanto tempo?
- Rosetta chegou quando eu estava nos meus dez anos aqui, ela saiu apenas alguns meses depois que chegou...
- mas como sabe o que aconteceu com elas?
- quando elas partem, um anjo conta o que as almas "escolhidas" se transformaram, motivando todas as almas daqui a tentarem sair, mesmo nunca contando o critério para serem os "escolhidos".
- entendo, e a outra? A _____?
Senti meu coração apertar ao falar o nome dela. Estranho...
- ela chegou aqui há cinco anos e saiu apenas duas semanas depois.
- hum, como será que eles escolhem as almas para sair? - perguntei comigo mesmo.
- ninguém sabe. - resmungou. - mas as que saíram daqui viraram anjos da guarda e tentam proteger os humanos que pensam em se matar, e se elas conseguem impedir isso, as meninas se tornarão, oficialmente, anjos e vão recebendo "dons" ou até a chance de renascer.
- sistema complicado.
- concordo. Por que se matou, novato?
- não sei. - respondi aéreo.
- você não se lembra?
- não. - cocei o pescoço envergonhado. - por quê?
- é raro as almas não lembrarem-se, geralmente lembram e passam seus dias se arrependendo do que fizeram.
- eu realmente não sei...
[...]
Passaram-se meses e eu vivia andando pelo campo, às vezes conversando com uma menina, que se matou por causa de um menino, chamado Jackson, ela me contou que se matou com um tiro, assustador... E outra hora com o Steve, o cara que falou comigo quando cheguei.
As meninas que saíram desse lugar me atiçaram e perguntei a todos sobre elas. E a que mais me instigou foi a _____. Eu não sabia, mas meu coração batia de modo diferente quando falavam dela.
- todas as almas, se reúnam. - um anjo disse descendo do "céu" e pisando na grama.
Todas as almas se juntaram e ficaram quietas esperando o anjo falar.
- um de vocês sairá daqui. - anunciou. - Kim... MinSeok.
Eu? Por quê?
- te explicarei do porque depois, venha. - me chamou para se aproximar.
- se deu bem, novato. - Steve falou.
O anjo sem nome me tocou e, num instante, eu estava em outro lugar.
- bom, primeiro, sabemos que você não se lembra de nada.
- sim... - assenti receoso.
- e segundo, sabemos o motivo. - continuou. - mas a questão é, você quer lembrar da sua vida ou quer saber do motivo de não lembrar?
- quê? - perguntei incrédulo. - não pode ser os dois?
- não, esse é um presente, então é apenas um favor que faremos, pense com cautela.
" seu passado é doloroso, não se lembre dele. "
Uma voz familiar disse em minha cabeça.
" saiba do porque de você não lembrar. "
Mas por que essa voz diz isso?
" para seu bem, MinSeok. "
Espere... Eu sei da onde essa voz é! A mesma voz que ouvi no dia que eu apareci naquele lugar!
Mas aquela voz parecia triste por saber que eu não me lembrava da vida que tive.
- eu quero saber da minha vida, e o que me trouxe ao ato do suicídio. - disse.
- está bem. Me siga.
Começamos a andar por corredores extensos e cheios de curvas. Até que paramos em frente à uma porta marrom simples.
- entre e veja o que aconteceu na sua vida para te levar ao pecado do suicídio.
- está bem, vamos lá. - falei sozinho e abri a porta, entrando logo em seguida...
- alunos, sentem-se! - o professor falou.
Todos se sentaram e eu fiquei observando da onde eu apareci assim que entrei por aquela porta, numa cadeira.
- hoje temos uma aluna nova, vinda do exterior. - todos olharam curiosos para a menina ao lado daquele professor.
Meu coração se aqueceu.
- olá, meu nome é ______, vim do Brasil, espero que nos demos bem. - disse com um bom coreano.
Ela se sentou na minha frente.
A sala de aula começou a se distorcer e agora a sala estava vazia.
Eu olhava para mim... Espere, estou me vendo?
- Hey, você fala muito bem em coreano! Quantos anos você tem? - eu perguntei para a menina.
- tenho 16 anos. - ela se levantou e me ignorou, saindo da sala depressa.
Mais uma vez, a sala começou a mudar e agora eu estava num parque, e parecia que tinha passado-se algumas semanas desde aquela "conversa" com a _____.
Ela tem o mesmo nome da menina que saiu do vale dos suicidas. Coincidência.
- Hey, eu sei que você gosta que eu seja seu amigo, não finja que não, _____! - eu falei para ela de um modo brincalhão. Ela sorriu torto e bufou.
- tá, tá, MinSeok, me deixe comer! - resmungou.
- aish, não seja tão fria, estrangeiros não são calorosos?
- sou um erro de fabricação. - exclamou irritada.
A cena de mim e de _____ ficou distante e logo eu apareci em outro lugar... Minha casa?
Eu estava dormindo na cama e me mexendo nela, talvez eu estava tendo um sonho.
- eu... Amo... Você. - sussurrou.
Eu amo quem?
- te amo... _____.
Antes do meu raciocínio funcionar, eu apareci na escola novamente. _____ estava me abraçando e deu-me um beijo na bochecha.
Por um segundo, tive a impressão de ter sentido isso.
" meu deus, ela abraçou! E me beijou! " - o pensamento daquele MinSeok foi ouvido por mim.
- MinSeok, por que quis ser meu amigo?
- porque você é legal, e sei que sofreu e quero te deixar feliz agora!
- obrigado... - ela disse envergonhada.
- prometo nunca te deixar, _____.
- pro-promete? - assinto cruzando nossos mindinhos...
Apareceram mais lembranças em que eu ficava extremamente tímido e corado perto dela. E então eu tinha voltado novamente para a sala, mas _____ não estava lá. E pelo que o MinSeok pensava, ela nunca faltava nem quando estava doente.
Fiquei curioso.
Mais mudanças de "cenário" ocorreram.
Eu estava em casa e eu atendia a campainha, revelando a _____.
Eu a metralhei de perguntas e ela apenas deu um sorriso para mim, dizendo que estava tudo bem, o que percebi ser uma mentira dela.
Ficamos conversando e assistindo filmes até que ela me beija... Tivemos uma relação.
Tudo fica preto e eu apareço num quarto diferente, vendo minha imagem chorar num canto deste cômodo monótono é mais feminino que o outro. Vi que eu segurava uma carta, eu "peguei-a" e li...
Ela
Se
Matou.
Ao digerir isso, eu comecei a sentir uma dor, e um buraco sendo aberto na minha alma, então olhei para meu peito, onde tinha um vazio enorme no local que ficava meu coração.
Eu senti vontade de chorar e vendo minha imagem ali, desamparada, em prantos e sem chão, eu desabei junto a ela.
Dessa vez, eu fiquei bastante tempo vendo meu eu chorar enquanto sua aparência envelhecia, mas não muito, apenas a barba tinha crescido e eu tinha ficado mais magro.
Então ele levantou-se do chão que estava e começou a caminhar por Seul. Eu não sabia onde ele estava indo, eu apenas seguia meu corpo, que estava extremamente apressado em chegar em algum lugar.
Ele então parou numa ponte, e eu arregalei os olhos. Foi aqui.
Foi aqui que _____ morreu.
Foi então que eu senti as lágrimas escorrem sobre minhas bochechas e pingarem no chão, mas desaparecendo logo em seguida. Minha alma chorava e sofria.
Centenas de pensamentos passaram na cabeça daquele menino, que olhava para água de modo árduo, como se pudesse trazer a menina de volta.
Então uma chuva começou, mas ele não parece ter notado, esse era o menor dos problemas, era um detalhe supérfluo e minucioso.
Ele subiu naquela barra e respirou fundo, e sorriu...
- eu lhe prometi que nunca lhe deixaria sozinha, e hoje, estou a cumprindo, _____.
Corri em sua direção.
- não faça isso! Não! NÃO! - eu gritei em vão para eu mesmo.
Vi seu corpo cair em câmera lenta, exatamente como naqueles vídeos editados ou nos filmes. Mas antes do meu corpo colidir com a água tudo congelou.
Eu me apoiava na barra, olhando meu corpo congelado no tempo, assim como tudo à minha volta.
Um arrepio percorreu-me e eu vi um vulto passando pela minha alma e indo ao meu corpo.
- não deveria ter feito isso, MinSeok... - essa voz.
Essa voz era da _____! E a mesma daquela que falou comigo. Mas como?
Ela sussurrou coisas para mim e desapareceu segundos depois.
Então um clarão contornou meu corpo e assim que pisquei, eu já tinha afundado na água.
- _____! - gritei em plenos pulmões.
Tudo começou a se destruir e o Anjo apareceu em minha frente.
- pronto, já sabes de tudo.
- onde está _____? - o anjo olhou-me.
- ela? Bem, ela falhou na missão de salvar um humano, não sei o que acontecerá com ela, provavelmente escalada a outra pessoa.
Saí correndo e fui para qualquer lugar, procurando-a. Parei em diversas portas e fui repreendidos por seres angelicais.
Ela estava aqui, certo? Ela se lembra de mim! Eu preciso acha-la.
- pare onde está! - o Anjo disse indo atrás de mim.
- eu preciso vê-la! Você não entende!
Continuei correndo e quando virei o corredor daquele lugar estranho, colidi com algo e caí.
- ai, você está bem, menino? - perguntou uma pessoa estendendo sua mão para me ajudar.
- você... É você! ______!
- é, sou eu. Novato? - perguntou para alguém atrás de mim.
- sim, _____, desculpe, ele saiu correndo do nada.
- tudo bem. Quem é você? - sorriu olhando para mim.
- você não s-se l-lembra?
- lembro do quê?
- _____! Venha, aqui está a pessoa que irá cuidar. - chamou um outro anjo.
- estou indo, Gabriel! Tchau, novato e Joaquim!
- tchau, ____. - Disse Joaquim, que tocou meu ombro e apertou de leve. - desculpe-me não te contar, o castigo por ela ter falhado é perder a memória de quem ela um dia foi...
- por quê? Logo agora que eu finalmente lembrei-me dela! - meu joelhos enfraquecem novamente e eu me apoio na parede. - não... Como faço para ela lembrar-se novamente?
- não há como, MinSeok.
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