1. Spirit Fanfics >
  2. Imortais Sagrados >
  3. Capítulo Onze

História Imortais Sagrados - Capítulo Onze


Escrita por: GhostMel

Notas do Autor


Helloa! Eu não tava esperando nada do dia de hoje, mas no final ele se tornou um dia incrível, mesmo eu tendo ficado num limbo de amor e odio para com a Gotouge, amada? O que foi aquilo? ENFIM, resolvi postar e no limite do prazo que eu tinha estabelecido
Novidades: em um dos caps passados eu disse que eu tinha feito resumos dos arcos, mas que tinha ficado horrível, lembram? Apois, nesses últimos dias me concentrei em fazer algo que prestasse pq estava sofrendo do "efeito borboleta" na história KKKKK resumindo o rolê: tenho quatro capítulos praticamente prontos, então acho que consigo publicar de 4 em 4 dias.
É suficiente pra vocês não enjoarem da minha cara e causar suspense, né?
SPOILER ALEATORIO DO CAP: Falta Tômpero
Bem, bem... sem mais delongas: aos novos favs e leitores sejam bem vindos ao reino das luzes ou das trevas, seja la qual vc escolha e à todos boa leitura 💓

Capítulo 12 - Capítulo Onze


Se fosse necessário escolher um lugar o qual a princesa considerava um refúgio, sua resposta imediata seria o templo. Estava certa de que nas noites de confusão, medo e abandono havia ido mais vezes ao encontro dos deuses que ao quarto de seus pais ou de sua irmã em busca de conforto. Ela não queria parecer fraca frente aos outros. Shinobu precisava suportar, era um dever confiado a ela desde que nascera, ela foi notada pelo Deus do Caos, ela era a criança que a profecia chamou de “barco à deriva entre duas terras”.

E era simples. Desde o seu primeiro dia de vida, desde que a tempestade parou ao ouvir seu choro, Persis também havia parado. O tempo havia parado, como a súbita pausa na respiração que se faz quando se aproxima o clímax da história, todos apenas sobreviviam antes do desfecho. Se o barco iria navegar em direção às terras da destruição ou da vida, era uma incógnita que só poderia ser respondida pela princesa, pois a embarcação era sua própria carne e o leme sua alma. Havia vida antes dela nascer, e só haveria vida depois que ela morresse.

– Eu nunca gostei de te encontrar aqui – Tamayo se aproximou. – Você sempre vinha quando se sentia inquieta, ficando sozinha, ao invés de procurar apoio.

– Ninguém podia me ajudar. Existem coisas que é melhor guardarmos para nós, para evitar o sofrimento.

– Isso não é justo – retrucou.

Há tempos, Tamayo era o mais próximo de uma figura materna que as princesas tinham, vez que a morte precoce da rainha marcou a vida das herdeiras do trono. Mas, apesar disso, Shinobu não a procurava quando sentia medo ou aflição. Não desde que seu futuro havia sido lhe revelado, e pela própria sacerdotisa. A menina, ainda tão nova, se escondia cada vez mais dentro de várias versões dela mesma para tornar sua vida suportável, e, para Tamayo, presenciar aquilo era doloroso. Foi por volta dessa época que começou a ir ao templo todas as noites verificar se a pequena sombra do que era sua princesa estava ali.

– É apenas mais um dever – Kochou respondeu.

– Sabe que não é disso que falo, minha querida princesa. Não é justo que viva esses sentimentos sozinha.

– Tamayo-san, você prometeu que não falaria mais disso – Tamayo suspirou resignada. – E prometeu que só ficaria triste depois que eu partir.

– Então, perdoe-me – a sacerdotisa encarou a princesa com pesar. – Você é tão forte, Shinobu-sama. O dever de um soberano é pôr a vida de seus súditos acima da sua. Ele é aceito pelo seu povo por ser o mais capaz, dentre todos, de protegê-los. Jamais haverá rei maior que você.

A princesa encarou Tamayo com um sorriso genuíno. Desses que escapavam por entre suas máscaras, deixando os olhos violetas tão transparentes quanto água. Um vislumbre raro de sua pequena princesa, e tão lamentosamente rápido quanto um sonho bom.

– Desejava voltar para a medicina na cidade – revelou à Tamayo. – Sinto falta de poder cuidar das pessoas de verdade.

– Escolha alguém de sua confiança para acompanhá-la, assim pode voltar para as ruas.

– Não seria estranho chegar na cidade com um soldado? Desse modo, não conseguirei passar despercebida.

– Ele pode te acompanhar como um simples amigo. Tomioka-kun é quem fica pela madrugada, não? Ele é discreto.

– Tomioka-san não é discreto, é uma pedra de mármore. Ele me seguiria por aí feito um cão de guarda e seria muito mais difícil explicar porque há um homem no meu pé de maneira tão esquisita! – o comentário fez Tamayo rir.

– Nesse caso, fica a seu critério. Mas, nas atuais circunstâncias, ele é sua melhor defesa.

– Um castigo, com toda certeza, para ele e para mim. Mas só voltarei a importuná-lo mais tarde.

– Shinobu-chan! Finalmente te encontramos! – Mitsuri adentrou o templo na companhia de Rengoku; ambos cumprimentaram Tamayo antes da menina continuar: – Vamos preparar o almoço! Tenho uma ideia que ainda não experimentamos!

– Devo me preocupar? – a princesa perguntou.

– Mitsuri está obcecada por molhos e quer testar um novo. Mas molhos deixam a comida saborosa, então tudo deve acabar bem! – Rengoku se adiantou em responder.

– Molhos são a alma da comida! – ela declamava com os olhos verdes brilhando. – É como ter uma existência cinza e insossa e de repente encontrar o amor! – suspirou.

– O quê? – Shinobu se divertia com os devaneios da amiga. – O que comida tem a ver com amor?

– Ela também está com essa ideia fixa sobre encontrar um amor. O que é louvável! Viver para uma paixão é prova de um coração ardente!

– Ora, mas uma boa comida só se faz com amor! – Kanroji insiste.

– Deve ser por isso que Sanemi cozinha tão mal.

– O arroz dele tem melhorado... – a rosada tentou defender.

– Você quer dizer: passar de uma pasta cimentada para algo mastigável? – a princesa não tinha nenhuma piedade, e se divertia com isso.

– O importante é não desistir! Eu mesmo comi o arroz, com o guisado ficou ótimo! – Mitsuri concordou com Kyoujurou.

– Rengoku-san, você e Mitsuri-chan, se eu deixasse, comeriam até pedras!

– Então, vamos! Vamos cozinhar! – Mitsuri implorava para que fossem à cozinha.

– Podemos esperar? Preciso passar um relatório para Makio-san e Iguro-san.

Algum tempo depois, entre conversas e risos, Iguro e Makio chegaram ao templo acompanhados pelo capitão e Sabito. A tarde se aproximava e logo seria necessário que os turnos fossem trocados.

A atmosfera era descontraída e as devidas apresentações daqueles que não se conheciam foram feitas.

– Olhe só os seus olhos! – Kanroji exclamou se referindo à Iguro. – São lindos! Nunca vi nada igual!

– E-Eh, obrigado! – Iguro tentava não olhar fixamente para moça que estava muito próxima.

– Você deve ser uma pessoa muito preciosa para nascer com olhos assim!

– Obrigado, é uma anomalia genética – o médico, definitivamente, não sabia reagir ante as gentilezas e a proximidade. Queria ter conseguido disfarçar melhor seu nervosismo, mas estava começando a ser óbvio demais. – Shinobu-sama...? – tentou mudar de assunto.

– Então, o que descobriu, Shinobu-sama? – Tamayo foi quem iniciou a discussão. Ela sempre tinha consigo o tom de extrema confiança nas habilidades de Shinobu. A pergunta nunca era se a princesa havia descoberto algo, mas sim o quê.

– É um composto sofisticado. Consigo cruzá-lo com substâncias que encontramos em algumas poucas plantas, mas nenhuma é nativa de Persis. Cultivá-las aqui seria um privilégio de poucos.

– Plantas estrangeiras sendo cultivadas para assassinar herdeiros do trono... – Makio meditava.

– Isso me parece um plano muito bem arquitetado! – Rengoku opinou. – Meu pai pode nos passar informações sobre os sátrapas que se juntaram a insurreição. Com certeza teremos suspeitos entre eles!

Tomioka se mantinha calado, mas estava certo de que algo não se encaixava na narrativa. Sem dúvidas, poderiam haver suspeitos entre os sátrapas. Sem dúvida, havia alguém poderoso por trás das mortes e seja lá qual fosse o plano... mas se queriam matar as herdeiras do trono, por que começar com Shinobu?

– Vamos checar os carregamentos dos navios que entraram em Persis. Certamente uma carga de sementes, flores ou o que seja, deve ter sido, ao menos, notada com estranheza – declarou.

– De fato – Sabito continuou. – Se entraram em Persis com toneladas de flores, alguém deve ter visto. Os registros de carga com toda certeza devem ter sido apagados, então nos resta procurar os marinheiros e trabalhadores do porto.

– Me encarregarei disso! – Rengoku se adiantou. O capitão o olhou resoluto, mas no fim, aquiesceu com uma condição:

– Está certo. Uzui acompanhará você.

– Ainda reluto em trabalhar com vocês – Kyoujurou era muito verdadeiro quanto suas convicções, – mas estou de acordo!

– Bom... – Mitsuri resolveu falar ao terminarem de estabelecer os próximos passos – podemos, então, preparar o almoço?

♤♤♤

Aquela procissão de pessoas de mundos tão diferentes se dirigiu à cozinha de forma descontraída. Bem, ao menos a maioria deles, vez que Giyuu e Sabito se concentravam nos pormenores do caso enquanto ouviam Iguro e Makio relatarem o interrogatório que fizeram com a criada que fora envenenada.

– Ela disse que o próprio rei a entregou o embrulho – Makio falava aos dois. – Pediu que ela retirasse o vestido e pusesse na cama.

– Contou que o rei parecia radiante, e obviamente ela não achou necessário questionar de onde veio o vestido, de modo que não sabe se ele passou por outras mãos além do rei. Ela confia plenamente nele – Iguro continuou, revirando os olhos em desagrado.

– Sim. Aparentemente é comum que o rei presenteie a princesa muitas vezes e nunca houve nenhum problema. Os tecelões entregam ao rei e o rei faz uma surpresa à filha – a médica concluiu.

– É verdade. Mas ela contou que houve um momento em que deixou o vestido sozinho, logo após esticá-lo na cama. Segundo seu relato, a barra do vestido estava amassada, resolveu passá-lo e saiu para buscar o ferro quente.

– E quando voltou, não reparou em nada de anormal, apenas diz que sentiu um odor estranho, um cheiro forte de flor que não havia reparado antes. Imaginou que viesse do vestido e colocou os braços por dentro do forro para esticá-lo e sentir o cheiro. Bem, um tempo depois suas mãos começaram a queimar e já sabemos o que acontece a partir daí... – Makio terminou o relatório. Iguro e ela eram uma dupla excepcional.

– Como ela está agora? – Sabito perguntou.

– Se recuperando. Vai ficar com muitas cicatrizes, mas certamente está muito melhor que antes.

Shinobu, Mitsuri e Kyoujurou entraram na cozinha real fazendo a maior algazarra, mas a surpresa dos empregados era de alegria, vez que estavam acostumados às bagunças culinárias daquele trio. Os três se conheciam desde a infância e sempre que podiam tomavam o fogão e as panelas, forçando todos no palácio a comer o que quer que a imaginação fértil de Kanroji, a obstinação de Kochou em seguir as receitas e os temperos de Rengoku – ele sempre achava que a comida precisava de mais sal para ficar “saborosa” – quisessem preparar. No início havia sido um martírio para todos. Mas, de desastre em desastre, os três acabaram se tornando capazes de sobreviver entre carnes e legumes.

Naquele momento, guiados pela agitação inconfundível dos inquilinos do palácio, Uzui, Hinatsuru e Suma se juntaram à bagunça. Eram tão acostumados a um ambiente barulhento que mal se incomodaram com a cozinha cheia.

– O que estão fazendo tão extravagantemente? Isso é uma festa?

– Creio que seja apenas rotina... – Iguro respondeu observando a cena.

– Fizeram o que pedi? – Tomioka perguntou.

– É óbvio, capitão! – Uzui adotou sua postura séria. – Há pelo menos quatro maneiras de escapar da ala oeste. Primeiro: se amarrar uma corda no telhado consegue facilmente entrar e sair pelas janelas dos quartos.

– Fizemos isso e foi horrível! – Suma lamentou. – Meus braços quase se partiram, por pouco não caí e me espatifei no chão! Foi tenebroso!

– Deixe de agir como uma medrosa! – Makio a reprovou.

– Mas, é verdade! – protestou entre lágrimas ao lembrar da experiência.

– Do telhado você pode ir para qualquer parte do palácio – Hinatsuru manteve o raciocínio.

– Segunda: escadaria principal. Terceiro: passagem para o labirinto em um dos quartos. E quarta: o templo.

– Na verdade, o templo é a fuga mais rápida. Se conseguir despistar os guardas pelos corredores, chegar até ele é fácil.

O capitão anuiu e com as conversas sobre o caso encerradas, os piratas, inevitavelmente, se puseram a observar as exclamações de espanto da chefe de cozinha enquanto os três responsáveis pelo almoço discutiam por algum motivo que parecia ter a ver com temperos.

– Falta sal! – Rengoku dizia.

– Rengoku-san, se puser mais sal não vai ter nenhuma diferença entre este caldo e a água do mar!

– A-Ah, não discutam, por favor! – Mitsuri odiava discussões, principalmente na hora do almoço.

A cena era divertida aos olhos dos demais. Um homem defendendo com ardor e paixão o uso de sal, uma mulher tentando o convencer que tanto sal faria mal aos seus órgãos e uma outra choramingando para que parassem.

– Ela seria uma excelente esposa para o capitão! – Uzui comentou, mas, aparentemente, o único surpreso com o comentário sem propósito do mestre carpinteiro havia sido Tomioka.

– Você acha? – Suma questionou como se Tengen não estivesse dizendo absurdos.

– É claro! Olha para ela, é bastante entusiasmada e o capitão completamente tedioso. Um par extravagante, feito o dia e a noite! – todos, exceto Giyuu, riram discretamente, e ele nem se importou em questionar porquê de repente havia virado o alvo da conversa.

– Soube que dançaram no baile! – Hinatsuru disse, animada.

– Graças a mim. Por nada! – Iguro se gabou.

– E dessa vez nem precisei interceder! – foi a vez de Sabito gracejar. – Meu irmãozinho está crescendo! – falou enquanto bagunçava os cabelos de Giyuu.

– Não estou interessado na princesa – respondeu, num misto de seriedade e timidez que deixava tudo mais engraçado e um tanto fofo.

– Mas, quem citou nomes aqui? – Uzui se fez de desentendido. – É você quem está vermelho e se defendendo!

– Não estou – retrucou sério.

– Oh, ele está! – Sabito tornou a bagunçar a cabeleira negra do irmão. Giyuu se afastou, emburrado, cruzando os braços em sinal de desagrado. Tengen ia fazer outro comentário irritante quando ouviram Mitsuri gritar:

– Chega! – a mulher tinhas as bochechas infladas e vermelhas, mas ao perceber que havia se tornado o centro das atenções se desconcertou. – N-Não vamos discutir na hora do almoço! Olhem, eles podem decidir se falta sal ou não! – apontou para os piratas.

Kanroji pegou uma colher generosa do caldo e levou até Iguro, que estava mais próximo do local onde cozinhavam.

– Iguro-san, pode experimentar, por favor?

Ela aproximou a colher e o médico ficou estático de repente. Obanai não conseguia formar uma ordem coerente em seu cérebro, até que Tengen bateu em suas costas gritando “experimenta, Iguro!”. Obanai ficou vermelho dos pés à cabeça, apenas não sabia se era de pura vergonha ou se era fúria e desprezo por Uzui. Ele provou o caldo que ela lhe oferecia gentilmente e exclamou com certo constrangimento:

– Está ótimo... – Mitsuri sorriu até os olhos.

– Obrigada, Iguro-san! – retornou ao fogão.

O médico continuou paralisado. A ele pareceu que havia ficado muito mais tempo, talvez uma eternidade, ali parado, ao invés de apenas alguns segundos. Claro, a única voz que seria odiosamente capaz de tirá-lo de seus devaneios era a de Uzui.

– Ora, ora... quem diria que precisaríamos invadir Persis para encontrar esposas para vocês!

– Agradeça ao Giyuu, Iguro! – Sabito seguiu com as zombarias. – Se ele não tivesse levado uma remada, você jamais conheceria Kanroji-sama. Estão quites!

Tomioka se manteve impassível mesmo com os comentários e risadas de sua tripulação. Ele não estava disposto a se aborrecer com os desvarios de duas pessoas que não se contentariam com suas existências até vê-lo casado. Ao contrário do capitão, Iguro não era tão alheio as emoções, de modo que uma nuvem negra carregada de ódio e raiva pairava sobre sua cabeça, enquanto as veias de sua fronte pareciam explodir. Mas, afinal, não era como se Sabito e Uzui se importassem com a distância ingênua de Giyuu e o desconcerto raivoso de Obanai. Paz, de fato, seria um sentimento distante para o médico e o capitão.

♤♤♤

A tarde se iniciara com todos extremamente satisfeitos com o almoço servido pelos três cozinheiros, apesar dos desentendimentos entre os temperos. Com o fim da vigília matutina, Sabito se despedia de Giyutaro, seu parceiro de guarda, quando Giyuu se aproximou.

– O que diz dele?

– Parece preguiçoso e meio lento, mas é forte e mais atento do que aparenta. Às vezes faz um comentário qualquer sobre a vida, mas creio que não se importa com esse tipo de coisa – era praticamente a mesma descrição que ouvira de Murata. – E quanto ao soldado que está com você? Soube que Giyutaro e ele eram parceiros.

– Fraco – respondeu simplesmente, fazendo Sabito rir.

– Isso significa que agora você tem duas pessoas para proteger e já o descartou como suspeito?

– Resumidamente – confirmou.

– Está certo. Bom, fico feliz que não esteja com nenhum lunático. Eu, de outro modo, preciso estar em alerta. Então, se me der licença, vou procurar minha esposa e dormir até a noite.

Ambos se despediram e Tomioka caminhou tranquilamente até os aposentos da princesa, lembrando que teria de treiná-la dali para frente. Era mais contato do que esperava manter, mas ela estava certa: treinar seria melhor que vigiar portas e Shinobu necessitava de noções básicas de defesa. Se algo acontecesse – e ele não queria nem pensar nessa hipótese – o capitão esperava que ela pudesse, ao menos, ganhar tempo contra os assassinos.

– Tomioka-san! O que achou do almoço hoje? – ela o encontrou primeiro, o cutucando enquanto fazia suas perguntas com a voz melodiosa. Murata a acompanhava.

– Muito bom.

– Ara, se você e seu vocabulário reduzido conseguiram usar duas palavras para elogiar, então, estava realmente bom! – gracejou.

– Kochou-sama, podemos dar início ao treinamento?

Tomioka estava se tornando um perito em ignorar palavras irritantes. Ele estava acostumado com Sabito e Uzui, mas era certo que nenhum dos dois sequer chegavam aos pés de Kochou, que carregava consigo uma lastimável dose venenosa e sincera até demais em meio aquele tom divertido.

– Claro! Vamos ao salão de treinos!

– Prefiro que usemos uma sala reservada. É melhor que não saibam que está treinando.

– E-Eh! – Murata levantou a mão como se pedisse permissão para fazer uma pergunta. – Isso me inclui?

O soldado achara que Giyuu se esquecera da presença dele ali e, por isso, num descuido, revelou o treinamento secreto. Murata não entendeu o olhar entediado que o capitão lhe lançou, mas era óbvio que se ele estava escutando sobre um treinamento secreto, era porquê também fazia parte do segredo.

– Você ajudará, e é o único que saberá a respeito disso. Se alguém deste palácio mencionar o treino, saberei que foi você – ameaçou, fazendo o rapaz engolir seco.

– Você não é tão ameaçador quanto quer parecer, Tomioka-san! Assim você parece fofo! – ela tocou a ponta do nariz do capitão com o indicador. Murata não ousou concordar, pois tremia. Giyuu suspirou contrariado, abrindo passagem para que Shinobu pudesse levá-los até uma sala em que pudessem treinar sem interrupções.

– Shinobu! Shinobu! – ouviram Kanae chamar.

– O que há, Kanae? – a princesa perguntou.

– Papai mandou os tecelões! Estão aqui para lhe fazer um vestido! Venha!

– Ah! – exclamou animada. – Eu já vou indo!

Tomioka a encarou com sua costumeira inexpressividade, mas Shinobu sabia que aqueles olhos estavam condenando sua escolha naquele exato momento. Ele não desviava seu olhar do dela, como se estivesse esperando que ela tomasse a decisão mais correta – isto é, ir treinar.

– O treino ficará para amanhã, eu lamento – respondeu, desafiando o olhar do capitão.

– Você vai provar vestidos? – ele perguntou, com indignação contida.

– Sim! – deu de ombros.

– Ao contrário do treinamento, um vestido não irá salvar sua vida – Shinobu compreendia o que ele queria dizer, mas não abriria mão do tempo com quem amava. Nunca. Não viu saída a não ser utilizar seus subterfúgios jocosos.

– Ara, não precisa ficar tão ansioso para ficarmos à sós, Tomioka-san! Amanhã, prometo, ninguém irá nos interromper!

Não havia remédio que curasse a teimosia da princesa. De modo que, minutos depois, Giyuu estava em frente ao quarto em que as princesas experimentavam vestidos, ouvindo gritinhos de entusiasmo e comentários sobre tecidos que ele nem sabia existir. Os braços estavam cruzados, como sempre, a expressão taciturna; mas suas mãos apertavam com tanta força a curvatura de seu braço, que Murata teve certeza que o capitão deveria estar desejando enfiar a espada no próprio pescoço, apenas para não ter de lidar com Kochou.

– Tomioka-san, a princesa precisa desse tipo de distração... – o soldado tentou acalmá-lo. – Tenho certeza que é uma maneira de Kochou-sama se manter bem, mesmo com tudo isso acontecendo...

Giyuu não respondeu e nem iria. Não importava que ela precisasse de distrações. Um treinamento poderia dar a ela a segurança que um vestido, certamente, não poderia. Era isso que a manteria bem, não um pedaço de pano.

– Não faz mal, é apenas um dia. Amanhã ela estará treinando, ela prometeu que ninguém os interromperia – nada que o soldado falava tinha qualquer efeito sobre Tomioka. Ele permanecia sério e impassível.

"Vestidos... vestidos idiotas. Ideias tolas.", era o que se passava na cabeça do capitão, repetidamente. Então, como uma aparição dos deuses, Shinobu emergiu das cortinas do umbral, rodopiando num vestido que estava bem maior que ela, mas não diminuía em nada sua beleza. Na verdade, as mangas maiores que seus braços deixavam seus movimentos leves, graciosos... a bainha, que estava enorme, era segurada por suas mãos escondidas pelo tecido e a faziam parecer um anjo se divertindo entre nuvens. A boca se abriu em surpresa; o corpo dela ondulava devagar, mesmo ele tendo certeza de que aquela imagem vagarosa era fruto de sua imaginação perversa.

– O que acharam desse tecido? – perguntou aos dois que vigiavam a porta.

– Shinobu, volte! – Kanae chamou do quarto. – Ainda não terminamos o corte!

– Eu já vou! – respondeu. – E então? – repetiu a pergunta enquanto rodopiava.

– Está perfeito, Kochou-sama! – Murata foi o único a responder.

Tomioka não respondeu. E era melhor mesmo que não pronunciasse palavra. Ele queria ficar irritado. Não, na verdade ele estava irritado. Não tinha que se preocupar com vestidos tolos. Mas quando Shinobu o encarou, ela riu. Riu, se divertindo de sua expressão, que com certeza ainda demonstrava, ainda que levemente, sua surpresa. Ela não precisava de uma resposta. Giyuu travou o maxilar e desviou o olhar, se recompondo. A princesa voltou para o quarto.

Quando ela se foi, a sensação inominável se agitou no peito. E o receio? O receio se transformou em medo, medo puro, pois onde antes havia sua simples e ingênua curiosidade, agora o capitão reconhecia as armadilhas do desejo.


Notas Finais


Fico imaginando se algum dia vou poder botar uma música pra vocês acompanharem o capítulo e terem aquela imersão nas cenas, mas eu escrevi esse cap ouvindo o cd inteiro de calypso, então errr... acho que não.
Até o próximo cap 💓


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...