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História Imortais Sagrados - Capítulo Vinte e Um


Escrita por: GhostMel

Notas do Autor


Helloa, Imortais! Como estão? Capítulo logo cedo com as devidas desculpas pela demora 💓
Acho que não tenho muito a acrescentar, apenas desejar boas vindas aos nossos novos Imortais e uma boa leitura a todos 💓

SPOILER ALEATORIO DO CAP: Só se vive uma vez, duas se tiver plano da unimed.

Capítulo 22 - Capítulo Vinte e Um


O laboratório, os estudos médicos, a descoberta de novas substâncias, todo o universo condensado naquele cômodo, inundado pelos anos de dedicação, sempre foram a válvula de escape para Shinobu. Estar ali exigia que pensamentos irritantes ou preocupantes se calassem, nada falava mais alto que a busca pela perfeição das suas pesquisas. Nada conseguia desviar a concentração dos inúmeros medicamentos que Tamayo e ela criavam. Nada, até a tarde passada.

Desde o acontecido no jardim, Kochou não conseguia sustentar decentemente sequer o menor equilíbrio emocional. Horas de meditação foram reduzidas a pó, nem o próprio sono foi capaz de lhe trazer paz, e graças ao caos que seus pensamentos se transformaram, a princesa resolveu se enfurnar em seu mundo de estudos, na companhia de Tamayo, para conseguir focar em algo que não fossem as "desculpas-esfarrapadas-para-não-encontrar-Tomioka-hoje". Seria até óbvio demais dizer que seu intento estava longe de sair como planejado, mas nem tudo havia falhado; se a princesa antes tinha um turbilhão de sentimentos, agora era possível distinguir um com extrema facilidade, e este era, nada mais nada menos, que a raiva. Sim, raiva. Raiva, porque Giyuu Tomioka acabara de roubar a única atividade capaz de fazê-la esquecer seus problemas. E para isso não havia perdão.

— Me pergunto, Shinobu-sama, o que poderia estar te incomodando tanto.

— Hum? Não há nada me incomodando, Tamayo-san. — Shinobu disfarçou.

— Está prestes a descartar uma das amostras que consideramos eficaz, enquanto guarda a que deveria descartar. — A princesa olhou para o frasco em sua mão e logo em seguida para o ármario. Respirou fundo ao se dar conta do erro.

— Foi um descuido.

— Você nunca cometeu um descuido. Não aqui. — Tamayo voltou sua atenção para o composto líquido que analisava. — Acho que estou perto do que procuramos. — Mudou de assunto; a sacerdotisa sabia que Shinobu ainda tomaria algum tempo para se permitir tirar a máscara.

— Letal e indolor. Achei que ainda precisaríamos testar mais algumas substâncias antes de finalizar.

— Se tivesse sido você a encarregada da toxina, certamente já estaria pronto.

— De jeito nenhum. Tamayo-san prometeu que o faria para mim! — respondeu, descontraída.

Tamayo observou como o sorriso de Kochou crescia, mesmo em completo desacordo com a realidade. Não conseguiu acompanhá-lo e se limitou ao habitual suspiro resignado. Em todos esses anos, resignação talvez fosse a palavra que melhor definisse a sacerdotisa, e ser ciente disso era experimentar, todos os dias, o veneno amargo da impotência.

— Está certo. Agora, por favor, poderia pôr a amostra em suas mãos no ármario, antes que a jogue fora?

— Claro! — ela foi rápida em trocar os frascos. — Peço desculpas por minha desatenção.

— Sabe que não deve estar aqui se não puder focar no trabalho, certo?

— Ah, Tamayo-san, imaginei que estar aqui fosse o único jeito de me concentrar em algo.

— Não... — A sacerdotisa escondeu o riso. — Está bastante concentrada, só que em outra coisa.

— Ara... — Shinobu se deixou cair de joelhos na tapeçaria, cruzando os braços em uma expressão descontente. Meditou por certo tempo antes de, finalmente, falar: — Acho que cometi um grave erro, Tamayo-san.

— Que tipo de erro?

— Do tipo que não posso consertar. Tamayo-san, creio ter aberto uma porta em meu coração que não consigo fechar.

— Minha querida princesa, o coração é uma casa com muitos quartos. Se a deixamos vazia, ela perde seu propósito. Seria um lugar sossegado, silencioso e... monótono. — Se aproximou de Shinobu. — Para a maioria das pessoas que abrigamos, nós mesmos somos responsáveis por permitir a entrada, mas existe uma porta, somente uma, que não pode sequer ser construída por você. Ela surge numa parede vazia e só a pessoa que a fez é quem possui a chave. Quando menos esperar, a porta vai estar aberta.

— E o que eu faço? — Kochou não tinha ideia de como lidar com isso. — O que eu faço se ele abrir a porta? — Tamayo sorriu quando ela mencionou, sem perceber, "ele".

— Você pode entrar... ou seguir para outros cômodos. Mas ela ainda vai estar aberta.

A princesa se pôs a inspirar e expirar lentamente enquanto absorvia as palavras de sua mestra. Tinha de pensar nos seus passos e em suas atitudes. Tomioka e ela haviam cruzado uma linha, e Kochou sabia — pelos deuses, e como sabia! — que seu ingênuo interesse havia se transformado em algo mais forte e não tinha a menor pretensão de voltar atrás. Mas de uma coisa estava certa: era diferente. Diferente de tudo. E essa diferença despertava dúvidas que jamais se permitiu ter.

O que sentia por Tomioka, ainda que meio disforme e incompleto, era diferente do amor que sentia por sua família ou por seu povo. O que sentia por eles a fazia querer partir. Partir sem nenhum peso, nenhum porém; partir porque amava-os e não hesitaria em deixar essa vida se isso significasse que estariam bem. O que sentia por Tomioka a fazia querer ficar. Querer viver. Experimentar. Estar. O que sentia por Tomioka era egoísta. Incontrolavelmente egoísta.

— Tamayo-san, preciso voltar à cidade. — A sacerdotisa assentiu. Então, ela havia escolhido os outros cômodos.

— Será bom para você ficar um tempo a sós com "ele". — Shinobu a olhou como se tivesse acabado de ser flagrada depois de fazer uma travessura. — Não está pensando em ir sem Tomioka-kun, não é? — a princesa revirou os olhos. Bem, não poderia fugir disso, afinal.

— Não, apenas pensei que pudesse me acompanhar.

— Oh não, querida! Dessa vez, estará por sua conta.

— Ara, não seja assim! Por favor, Tamayo-san, estou pedindo.

— Nem que fosse uma ordem, Shinobu-sama.

♤♤♤

Se fosse necessário eleger o pior dia de treinamento dentre todos que já participara, aquela tarde, sem dúvida alguma, seria a escolhida pela princesa; e não foram necessariamente os exercícios torturantes que a fizeram ganhar esse título, mas sim, o despreparo emocional de Shinobu para ficar frente a frente com o capitão.

A princesa precisava de uma tarde, uma única tarde, longe de Tomioka para pôr em ordem seus pensamentos; no entanto, e não surpreendentemente, ele rechaçou uma por uma as desculpas que Kochou tentou para escapar. Agora estavam os três: o capitão, mais sério do que de costume — se é que isso era possível —; a princesa, errando posturas e defesas bobas graças a dificuldade de se concentrar; e Murata, o único aparentemente contente com a situação, porque sabia que o plano de Sabito e Kanae havia conseguido um avanço, embora não soubesse qual. E também porque, dada a debilidade de Shinobu, seus ataques e contragolpes estavam sendo muito mais efetivos.

Giyuu, de sua parte, não estava feliz tampouco tranquilo, de modo que lidou com a situação da maneira mais 'ele' possível: mantendo uma distância segura e sendo ainda mais rigoroso. A despeito disso, queria se desculpar apropriadamente com a princesa. Precisava, ou nunca teria paz. Com isso em mente, sua ansiedade aumentava a cada segundo em que aguardava o pedido de Murata para deixar o posto mais cedo, mas já se passavam minutos desde que se pôs a organizar o material de treinamento e nada do soldado colaborar.

Murata e a princesa conversavam animadamente enquanto faziam alguns alongamentos para cessar as dores do treino. Tomioka, em seu interior, estava em ebulição; no único dia em que aquele pedido seria extremamente conveniente, o idiota fazia pouco caso — mesmo que nem estivesse ciente. O capitão havia esperado tempo demais, tanto por orgulho quanto por receio, mas agora se via na péssima situação onde precisaria abrir mão de ambos.

— Você não tinha alguém para encontrar hoje? — perguntou, se aproximando dos dois. A princesa estremeceu ao ouvir a voz severa de Tomioka bem atrás de si.

— T-Tem? — ela gaguejou, quase como se implorasse que Murata não fosse.

Levou alguns segundos para o soldado entender o que aquela mirada séria queria dizer, mas não havia dúvidas: era um silencioso convite a se retirar para deixá-los um momento a sós; muito embora, se olhos fossem palavras, aquelas, certamente, não seriam nada gentis.

— A-Ah! É claro, estava quase me esquecendo! Desculpe-me, Kochou-sama, Tomioka-san... — Fez uma reverência nervosa. — Creio que preciso ir... agora... — Murata correu porta afora.

— Murata-san! — Shinobu ainda tentou gritar, mas era tarde.

Bem, ela também tinha algo para falar ao capitão, só não esperava estar a sós com ele para isso. Respirou fundo e se virou, dando de cara com as orbes azuis bem próximas, próximas como não deveriam estar. Giyuu estava sério e não pretendia enrolar nenhum segundo mais, arrancaria aquilo do peito de uma vez, feito um curativo, ainda que doesse.

— Kochou-sama, peço que perdoe meu comportamento de ontem a tarde. — Ele mantinha a postura. — Foi uma atitude tola, inconsequente, fruto de um desejo irracional que não voltará a acontecer. Reitero minhas desculpas. — Não titubeou um só momento.

A princesa estancou no lugar. Abriu e fechou a boca diversas vezes sem saber o que dizer a princípio. Desejo. Foi um simples desejo. Não havia nada mais. Ela não precisava se preocupar, muito menos se martirizar se se tratava apenas disso. Mas então... por que não conseguia agir como se fosse assim? Ah, coração estúpido! Por que tinha que mergulhar de cabeça em algo tão carnal como se houvesse profundidade suficiente para não se ferir? Por que tinha que ser a única a experimentar esse descontrole? Acaso havia virado mania perder a cabeça sempre que esse homem antipático estava envolvido?

— Não se preocupe, Tomioka-san. — Respirou fundo em desalento. — Está tudo bem! Não é como se precisássemos levar isso tão a sério, certo? Não tem importância. — Gracejou para disfarçar o nervosismo. Ele anuiu, se preparando para deixar o cômodo. — À propósito, tenho algo a fazer que necessito lhe dizer, mas precisa prometer que guardará segredo.

O capitão a olhou com desconfiança antes de assentir.

— Preciso ir a um lugar hoje, e fica fora do palácio. Quero que me acompanhe.

— Você quer sair? — perguntou, descrente. — Isso não vai acontecer. — Tomioka seguiu para porta, dando pouca importância à raiva que se apossou de Shinobu.

— Eu não fiz um pedido, Tomioka-san. — Retrucou, firme. O capitão parou. — Sairei hoje, o que desejo saber é se estará comigo ou não. — Tomioka expirou o ar com força, incomodado. — Confie em mim... por favor.

Confiar... Ele confiava e não tinha que provar isso. Não tinha que ceder a qualquer capricho desvairado para demonstrar que confiava nela. Pelo menos um dos dois deveria ter os pés firmemente fincados ao chão da realidade perigosa em que estavam envolvidos, e decerto, esse alguém estava longe de ser a princesa. Tomioka tinha de agir.

♤♤♤

Era início da madrugada e o palácio, assim como a noite, estava quieto. Apenas um par de vozes desafiavam o silêncio dos corredores, mas de tão baixas se perdiam facilmente.

— Voltaremos antes do amanhecer. — Giyuu passava instruções à Murata — Se algo acontecer, peça ajuda. Não seja estúpido de envolver-se num confronto, você me entendeu?

— Sim, senhor! — respondeu, pondo-se em guarda.

O soldado quase não conseguia conter o riso perto do capitão e da princesa desde que Sabito lhe contara o ocorrido entre os dois. Sim, ele havia saído da sala de treinamento direto aos aposentos do imediato para descobrir se sua intuição estava certa.

— Estou pronta, Tomioka-san. — Kochou saiu do quarto com roupas simples e uma grande bolsa a tiracolo. — Por favor, Murata-san, não deixe perceberem que saímos.

— Não se preocupe, Kochou-sama! Cobrirei vocês. Espero que aproveitem o passeio, a noite está linda! — ele sorriu abertamente.

— Não estamos indo passear. — O capitão cortou a alegria e Shinobu riu.

— Bom, de toda sorte, aproveitem! — Murata insistiu. — E tomem cuidado.

— Você também, Murata-san. Nos vemos ao amanhecer!

Kochou e Tomioka ganharam as ruas sem muita dificuldade; o capitão não ficou surpreso quando a princesa revelou que já havia escapado do palácio diversas vezes na companhia de Tamayo. Ela conhecia muito bem as saídas menos guanercidas e era astuta para evitar os soldados do palácio, se esgueirando por cada sombra feito um felino, inevitavelmente, fazendo-o pensar em como ela seria uma ótima pirata. Sacudiu a cabeça para afastar esses pensamentos inconvenientes. Se concentre, Giyuu!, ria a sensação inominável.

Tennouji os seguia de longe, Tomioka havia lhe dado ordens para sinalizar sobre qualquer movimento suspeito próximo à eles, então, de certo modo, estavam seguros. O capitão apenas seguia a princesa pelas ruas de Persis sem emitir qualquer ruído. Kochou também não falava, o que era bastante incomum, mas quando a olhou de relance pode notar um certo deleite nos olhos violetas e a tranquilidade que a envolvia. Shinobu estava aproveitando as ruas, as luzes, as pessoas, como se acabasse de reencontrar um velho amigo, e Tomioka decidiu não interromper. Ateve-se ao dever de se manter atento e vez ou outra voltava a apreciar o passeio, mesmo que não fosse bem a cidade o alvo de sua admiração.

Chegaram numa parte mais simples da capital e pararam frente a uma casa grande em comparação com as demais, mas igualmente humilde. Mesmo as ruas estando quase vazias, havia certo movimento frente ao local, além de pessoas entrando e saindo a todo momento.

— Amal-chan! Minha querida Amal-chan! Há quanto tempo não te vejo! — uma mulher de baixa estatura e meia idade envolveu Shinobu num abraço, tão logo a viu entrar. — Minha querida, não sabe a falta que fez a este lugar! Por onde andou, Amal-chan?

Aquela casa era um hospital destinado à parte menos abastada da cidade; e não foi difícil intuir que a tal "Amal-chan", na verdade, se tratava de um disfarce da princesa; Shinobu parecia muito familiarizada àquele lugar.

— Zahur-san, estou tão feliz em estar de volta! — Kochou devolveu o abraço. — Como estão as coisas?

— Nada muito diferente desde a última vez. Recebemos algumas doações no tempo em que esteve fora! — Shinobu ficou satisfeita em ouvir que seus cuidados chegaram à eles — Aonde está Tamara-san? Oh! — ela finalmente havia notado Giyuu. — Este rapaz está com você? Ah, Amal-san! Mas é claro! Uma jovem como você deve ter formado família, necessitado tempo para organizar um casamento... entendo agora seu sumiço. Está muito bem acompanhada, devo dizer! — analisou o capitão como se fosse a própria sogra. — Tamara-san deve estar orgulhosa!

— Ah não, Zahur-san! Eu não teria tamanho mau gosto para me casar com alguém tão ranzinza! — procovou Tomioka, que apenas revirou os olhos. — Tomioka-san é um... amigo. Sabe como Tamara-san é cautelosa, e não podendo acompanhar-me, pediu que ele o fizesse. Como Tomioka-san é um homem bastante gentil, apesar de seu jeito descortês, aceitou o pedido que fizemos com tanto carinho.

— Oh, entendo! Seja bem-vindo, meu jovem! Obrigada por trazer Amal-chan para nós outra vez! Ela e Tamara-san são uma luz para esse lugar! — imaginou que Tamara se tratasse de Tamayo.

— Não precisa agradecer. — Respondeu.

A tal Zahur saiu puxando Shinobu pelos corredores da casa, a qual era muito maior por dentro do que aparentava. No início, a mulher achou estranho que Tomioka seguisse Kochou por aí feito um cão de guarda, mas resolveu não contestar. Giyuu não parecia o tipo de pessoa a qual se deve questionar as atitudes, assim que apenas continuou a guiar a princesa para uma sala improvisada nos fundos, aonde ela faria os atendimentos. Um cômodo pequeno, apenas com uma mesa, cadeira e uma cama improvisada. Tinha uma saída para fora do hospital, e foi frente a essa porta que Tomioka se quedou estático observando Shinobu receber e cuidar de diversas pessoas. Muitas, inclusive, já a conheciam.

— Amal-san, mas esse remédio tem um gosto muito ruim! — reclamou um garotinho.

— Se tomar todo o rémedio eu te darei dois doces! — ela negociou.

— Três! E eu prometo não fazer caretas! — Shinobu riu, aceitando a proposta.

— Ei, Tomioka-san! — foi até ele após o garotinho sair. — Não gostaria de experimentar um doce também? Quem sabe ele faça essa cara azeda desaparecer! — cutucou as bochechas de Giyuu, os olhos brilhando em animação.

— Kochou-sama sempre vem aqui? — perguntou, ignorando a provocação. — Por que?

— Um soberano tem de conhecer seu povo, não? — ela se voltou para a mesa, falando tranquila. — E eu preciso amá-los. Eu preciso amá-los, Tomioka-san, assim como amo minha família.

O capitão assentiu. Teve a impressão de que aquelas palavras queriam dizer algo mais, mas estava fora do seu alcance compreender. O último paciente da madrugada era um senhor em avançada idade, que também conhecia e recordava com carinho a "Amal-chan".

— Meu rapaz, eu não tenho mais idade para competir com você pelo coração da preciosa Amal-chan. — Disse brincalhão enquanto tinha o braço enfaixado pela princesa. — Não precisa me encarar desse jeito.

— Ziyad-san, não diga isso à Tomioka-san! Ele não consegue fazer outras expressões, entende? É uma pena, tentei vários remédios, mas nada parece funcionar! Uma tragédia. — Ela fingiu sussurrar para o senhor como se lhe segredasse algo. Tomioka simplesmente a olhou desgostoso e saiu para checar os arredores. — Não somos nada um para outro. — Completou ao velho.

— Está certa disso? Afinal, você gosta dele.

— Os velhinhos são sempre assim tão sábios? — Shinobu queria dizer "enxeridos".

— É a idade, querida Amal-chan. Já vi tanto com esses olhos, que as emoções não me passam mais despercebidas, não é a primeira vez que as vejo. Você gosta dele. Pode admitir para mim, se quiser.

— Prefiro não o fazer. Enquanto estiver só em minha mente, posso tratar como um simples delírio.

A longa madrugada no hospital havia chegado ao fim e Tomioka aguardava, do lado de fora, a saída da princesa. O céu ainda estava escuro, muito embora as estrelas estivessem pouco a pouco a se apagando. Shinobu parecia cansada, mas em seu sorriso tinha algo de revigorante. O capitão fez sinal para que seguissem ao palácio, mas os olhos violetas estavam muito além dele.

— Não sente falta do mar, Tomioka-san? — Giyuu não respondeu, mas ela não esperava que o fizesse. — Nunca estive em um navio. Nem no porto. Tomioka-san, poderíamos ir até lá?

— Kochou-sama, vamos nos atrasar se desviarmos do caminho.

— Eu sei, mas... — "Talvez eu não tenha outra chance.", seria o complemento da frase. Mesmo assim, ainda que estivesse certo que ela não morreria, Tomioka logrou entender o que ela não conseguiu terminar.

— Se nos apressarmos, conseguiremos estar no palácio antes do amanhecer.

O capitão nunca havia presenciado, por tanto tempo, aquela genuína felicidade da princesa. Aos seus olhos, Shinobu era agora como a borboleta que sempre levava de enfeite nos cabelos. Livre para voar, depois de uma eternidade presa num casulo construído por ela própria. Estava tão fascinado por ela, que sequer hesitou em levá-la a bordo de um dos navios — depois, é claro, de subornar a vigilância.

Kochou irradiava mais luz que qualquer estrela, brincando pelo convés, fazendo perguntas sobre tudo em relação ao navio e ao mar. Assistir o seu voo era belíssimo.

— Kochou-sama, você pode se ferir gravemente se cair daí. — Advertiu ao vê-la caminhando sobre a amurada.

— Você nunca se diverte, Tomioka-san? — replicou, se pendurando nas enxárcias. A princesa estava tão entretida que mal notou a aproximação do capitão.

— Se machucar não é divertido. — Ele envolveu sua cintura e a puxou, um tanto brusco, de volta para o convés.

Shinobu paralisou, apenas não sabia se por ter sido pega de surpresa ou pelo forte agarre em que Giyuu ainda a mantinha presa. Pareceram horas o tempo que passou o encarando entre os braços dele, querendo acabar com a pouca distância que os separava, dessa vez sem barreira alguma. Deveriam? Certamente não. Mas então ela se lembrou das palavras de Giyuu mais cedo. Ele a havia beijado por um desejo. Um simples e puro desejo. Ela o desejava agora. Poderia devolver o que ele havia lhe roubado primeiro?

Decidiu no momento em que o abraço afrouxou ao seu redor, se aferrando a camisa do capitão e unindo seus lábios numa carícia urgente. Tomioka, a princípio, congelou ante a ação repentina, e a demora em correspondê-la quase fez Shinobu recuar. Foi o suavizar das mãos em sua roupa que o despertou. Ela estava se afastando e ele não queria que se afastasse.

Apertou-a ainda mais contra si, impedindo que ela separasse tanto o corpo quanto os lábios dele. A princesa sorriu entre os beijos e o capitão aproveitou a brecha para invadir sua boca com a língua. Não demorou para que Shinobu o correspondesse com ainda mais fervor, levando as mãos ao pescoço de Giyuu, aprofundando o ósculo.

A desorientação típica das primeiras vezes os instigava a ir cada vez mais fundo, cada vez mais curiosos e desejosos, até se encontrarem num ritmo próprio, que se volvia mais e mais lento ao passo que o ar se acabava, cessando, enfim, por completo.

— Me desculpe. — Ela quem falou após um longo silêncio. — Foi uma atitude tola fruto de um desejo irracional. — Tomioka arqueou uma sobrancelha e Kochou podia jurar que ele se controlava para não sorrir.

— Estamos quites. — Respondeu. — Temos de voltar.

— Você sempre acaba com a diversão. — Shinobu o puxou pela camisa mais uma vez e mordeu levemente seu pescoço. O capitão ficou boquiaberto vendo-a se dirigir, com um riso travesso, à saída. — Vamos, Tomioka-san! Você disse que não podíamos nos atrasar!

Os dois chegaram ao palácio antes mesmo dos primeiros raios de sol, e muito diferente de como estavam mais cedo, desesperados para esquecer ou experimentar, ambos se sentiam confortáveis um com outro. Embora não houvesse mais barreira que os protegesse, Shinobu e Giyuu apenas torciam para que, seja lá o que tivessem, não fosse longe demais.

— Estão aí! Pelos deuses, estão bem! — Sabito correu à eles assim que pisaram na ala oeste. Ele parecia desesperado. — Aonde vocês estavam!?

— Está tudo bem. Kochou-sama tinha assuntos para resolver. — Uma estranha sensação se apoderou do capitão quando notou que suas palavras não tranquilizaram o imediato. — Sabito, o que aconteceu?

— Murata...

— Aonde ele está? — o coração de Shinobu batia forte e o corpo esfriava, antecipando uma resposta tão temida, que jamais poderia ser verdade. — Aonde está Murata-san?! — a voz de Sabito tremeu ao responder:

— Murata está morto!


Notas Finais


Convés: Parte descoberta de um navio.
Amurada: Parapeito da embarcação.
Enxárcias: Conjunto de cabos que seguram os mastros.

Acho que eu tb sou uma estraga-diversão aksaksa o spoiler aleatorio ia ser "quando eu morrer ces vao me dar valor" bem alá mamãe, mas achei que ia ser spoiler demais KAJSKASJA
Até o próx cap 💓


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