53 a.c.
Gália.
Os legionários de Roma eram famosos entre todos. Os guerreiros mais obedientes e eficazes: homens que superaram tudo que o mundo já havia presenciado em poderio militar, capazes de vencer quaisquer guerras. O cônsul Tobirama se orgulhava de suas legiões e lutava junto a elas em todas as batalhas.
Em suas campanhas, conquistou inúmeros territórios e seus mais variados povos, transformando Roma em um dos maiores Impérios do mundo. Poucas foram as vezes em que ele perdeu, e dessas poucas vezes os malditos bretões estavam envolvidos.
Suas derrotas iam muito além de perder em campo de batalha. Tobirama havia perdido sua maior batalha em um campo inóspito e que hoje, era impossível até mesmo para ele alcançar. Sua maior derrota foi no coração e não lhe foi dado o direito a uma segunda tentativa em busca de vitória. Fazia anos, mas ele ainda sonhava com sua opressora todas as noites. E agora, ele havia perdido para ela mais uma vez.
— Não conseguimos encontrar nem mesmo o corpo — Suigetsu falava. O homem era o portador da águia da decima legião. Honrado e fiel como todos os outros que serviam a Roma. Apesar de possuir pouca idade, os cabelos do legionário eram como brancos. Claros demais para comparar com o dourado do Sol. Seus olhos chegavam a parecer violeta dependendo do reflexo da luz. — Ele não morreria tão facilmente, nem seria capturado. — Suspirou. Suigetsu havia crescido junto a Sasuke, passaram pelo treinamento juntos e apesar de servirem em legiões diferentes eram ainda como irmãos.
Sasuke havia desaparecido durante o último ataque. Evaporado junto a escuridão que deu lugar ao dia, quase como magia.
— Até o mais valoroso dos guerreiros pode cair — Tobirama responde-lhe. Mesmo que seu coração estivesse amargurado com aquele fato. As mãos estavam cerradas e os olhos cravados no mapa. Os cabelos deste, já brancos pela idade, foram bagunçados. Suigetsu já havia reparado que essa era uma das muitas manias que o general tinha em comum com seu amigo. Aquele pequeno sinal o fazia entender o quanto o homem estava em aflição.
Os celtas fugiam aos montes para a Britania, como animais assustados. E os malditos bretões abrigavam a todos eles, como se fosse apenas para irrita-lo. E agora, Sasuke desaparecia. Ele era seu melhor soldado, o mais querido e mais leal. O melhor da décima-segunda legião e seu filho. O último fato era desconhecido por todos os outros legionários que travavam aquela batalha, e até mesmo pelos que não estavam ali, afinal, Tobirama jamais deixaria que soubessem de seu maior pecado.
Ele acima de qualquer outro havia pregado contra os celtas e seus costumes. Difamava seus deuses e suas crenças, se pondo acima deles. Então, o quão vergonhoso seria se os que o seguiam soubessem que ele não só havia se deitado com uma sacerdotisa britana como havia tido com essa, um filho?
Olhar para Sasuke era como olhar para o rosto de Mikoto. Ele a lembrava dela todos os dias, e naquele momento, mesmo não vendo a face do filho ele a lembrava mais do que nunca. Uma única noite havia dado aquele fruto improprio, e ele se negou a crer que aquela criança era sua quando a mulher chegou a sua porta pedindo que cuidasse e protegesse o filho.
Havia conhecido Mikoto em uma de suas idas a Britania. Um pequeno barco levou cerca de cem homens para a ilha, esses com o intuito de descobrir tudo o que pudessem sobre aquela terra, dos costumes mais simplórios ao maior segredo.
Apenas um homem voltou para a embarcação no dia combinado. Os outros, Tobirama possuía certeza, foram mortos em um ritual sangrento. Assim que desembarcaram, todos — inclusive ele próprio — foram capturados e levados para o interior de uma caverna em algum lugar da ilha. Passaram dias sem ver a luz do sol, sendo servidos de pouco água e ainda menos de alimento. Eles estavam sendo purificados, era o que Mikoto dizia sempre que ia vê-lo.
Tobirama entendia que eles fariam parte de algo grandioso, afinal, boatos sobre as práticas celtas já haviam chegado a seus ouvidos. Eles eram chamados de feiticeiros por alguns, de sacerdotes por outros, e alguns, que eram mais tolos que quaisquer outros os consideravam iguais aos deuses.
A grande sacerdotisa era a única que visitava o local, e se encarregava dos cuidados que eles necessitavam. Tobirama conseguia visualizar a face da mulher perfeitamente quando fechava seus olhos, bem como ainda era capaz de lembrar-se do som de sua voz e de suas suplicas.
Ela havia suplicado coisas a ele duas vezes, e em todas as duas, o pedido da mulher fora atendido. No primeiro, ele ganhou a liberdade apenas para tocar-lhe o corpo, ainda sobre a terra úmida da caverna. A escuridão impedia que os outros vissem o que acontecia, já que o archote fora apagado quando ele concordou com a proposta da mulher. Depois daquele dia, ele seria para sempre culpado, não apenas por ter se deitado com a sacerdotisa, mas sim, por ter feito isso em troca de liberdade enquanto todos os outros ficaram lá, para morre.
Essa, entretanto, não foi a versão que informou em seus escritos. Segundo suas palavras mentirosas ele havia sido o único a escapar bravamente, pela força de sua espada. Tobirama narrou uma luta sangrenta contra os inimigos; a versão que todos conheciam era a de como Tobirama e a centúria que o acompanhava, pereceram em uma emboscada. Centenas e centenas de bárbaros os atacaram, eles lutaram gloriosamente, porém, nem todas as vidas ceifadas por suas lanças e espada fora o suficiente para lhes garantir a vitória. Em um último ato de lealdade, os legionários vivos conseguiram suprimir as forças inimigas para que o general voltasse a praia e assim levasse com ele suas histórias e a oportunidade de vingar suas mortes.
Anos depois, quando Tobirama achava que aqueles dias haviam ficado no passado, Mikoto bateu a sua porta. Era noite quando ela veio, o corpo coberto por uma capa negra, divergindo com suas vestes sempre brancas. Atrelado em suas pernas, um pequeno menino choroso, de cabelos e olhos tão negros quanto os da mulher.
E foi naquela noite, que Mikoto fez uma nova suplica ao atual Procônsul Tobirama. Mikoto já tinha o filho que sua deusa deseja; um garoto no qual, corresse sangue romano. E agora, ela precisava que ele fosse um, por completo. Essa foi a suplica dela, e em troca, o segredo de Tobirama estaria para todo o sempre seguro. Antes de partir, Mikoto ainda disse;
— Faça dele, um verdadeiro romano.
— Por que tudo isso? — Perguntou, enquanto via a dor nos olhos negros tanto da que ia, quanto da criança que ficava.
—Porque a Britânia precisará de um romano — respondeu, sem explicar verdadeiramente qualquer coisa — e quando esse dia chegar, meu menino voltara para casa.
Tobirama entendeu apenas naquele momento o que Mikoto disse a tantos anos antes. Sasuke não estava morto; a maldita sacerdotisa o havia vindo buscar.
— Atacaremos a Britânia —Ele disse por fim, fazendo Suigetsu espantar-se.
— Senhor ... — O homem iria falar, mas a mão erguida de seu comandante o fez calar-se.
— Aqueles que tentam oprimir a nós e a nossa amada Roma, sofrerão o devido castigo. — Com sua fala, Suigetsu sai da tenta e entendeu; até o mais valoroso dos guerreiros pode estar fadado a cair.
[...]
Grã-Bretanha
Sasuke não sabia a quanto tempo estava naquela caverna ou mesmo naquele lugar. Os ferimentos de seu corpo já estavam curados e suas forças recuperadas graças aos alimentos trazidos pela pequena criança que estava a cuidar de si. Sasuke já havia perguntado muitas coisas à ela, porém, apenas respostas evasivas fluíam de seus lábios.
Havia descoberto seu nome, e já conhecia o som quase nulo de seus passos. Alene era em grande parte do tempo silenciosa. Trazia o alimento e sempre lhe dizia que ainda não era a hora de sair da caverna, contudo, não explicava o motivo.
Os olhos negros de Sasuke já estavam acostumados a escuridão do local, então, já não era tão difícil quanto antes distinguir algumas formas. Mesmo agora, quando Alene se encontrava longe do archote que ela trouxe, ele podia vê-la. Sentada sobre o chão, aonde a terra e um pouco de vida brigavam pelo espaço com as rochas, ela brincava com pequeninas pedras.
— Me dirá algum dia por quê está me ajudando? — Sasuke perguntou. Já havia feito essa mesmo pergunta tantas outras vezes que perdera as contas.
Alene o observou, e ela, diferente dele que a via naquela escuridão como apenas mais uma sombra, o enxergava perfeitamente. Sasuke era o homem mais bonito que já havia visto, porém, não possuía a sabedoria com a qual ela estava acostumada a lidar.
— É o que eu devo fazer — respondeu com as mesmas palavras de sempre. Não gostava de dar respostas as pessoas, preferia que elas descobrissem por si mesmas, e isso com certeza era algo que havia herdado de Sakura. A sacerdotisa possuía a resposta de quase todos os mistérios e os que não conhecia ela se dedicava até saber, entretanto, nunca os revelava a quem lhe pedia. Sakura sempre dava aos tolos um caminho para seguir; Alene daria um caminho para Sasuke. — As respostas não estão todas lá fora, — ela disse — as mais importantes talvez estejam dentro de você, romano.
Sasuke absorveu as palavras, vendo a sombra da criança mover-se para lhe deixar só mais uma vez, e em como todos as outras, ela simplesmente desapareceu quando a luz do dia que alcançava a entrada da caverna tocou seu corpo.
O romano não era um tolo como Alene julgava. Ele sabia o que ela era, e o porquê de estar com ele ali, apenas não queria acreditar. Havia passado os últimos dias em pura reflexão. O rosto da mulher que estava adormecida a seu lado, e uma parte nova que se fazia presente em seu corpo, como se algo que pertencesse a ela estivesse agora atado a si.
...
— Tem algo que gostaria de nos dizer, sacerdotisa? — A velha senhora perguntou, enquanto Temari e todos os outros olhavam para Sakura achando que ela não encontraria uma saída.
Naruto ainda não havia acordado, o romano parecia ter se esvaído já que não era encontrado em lugar algum, e Temari havia feito a grande besteira de acusar Sakura de o estar escondendo. Nos primeiros dias, Temari havia se dedicado a procura-lo em cada lugar daquela terra, mas não conseguiu encontra-lo. À noite, ela mal dormia, pensando no bem-estar de seu irmão.
Quando fez a acusação, sabia que poria a vida de Naruto ainda mais em risco; na verdade, ela já estava quase que conformada com a morte deste, já que acordar depois de tantos dias era como impossível, e o romano já deveria ter sido morto, mesmo que todos de sua tribo afirmassem que não o haviam encontrado, então, se perderia algo, faria com que Sakura perdesse algo também. Ela desconfiava que a Sacerdotisa conseguiria acordar Naruto se assim desejasse, bem como ela desconfiava que a mulher havia feito com o romano, suas acusações inclusive se fundamentavam sobre isso. Sakura era perversa, e parecia se divertir com seu sofrimento nos últimos dias.
— A vocês? Nada — disse, olhando para as três mulheres já de idade tão avançada — A você Temari, eu tenho — voltou-se para a mulher de cabelos loiros e os verdes — eu já esperava que seu povo fosse mal-agradecido, assim como já havia visto que você era a pior entre todos eles.
— Sakura, meça suas palavras e seus atos, eles são nossos convidados e você concordou com isso! — Repreendeu a alta sacerdotisa Mikoto. A mulher já estava no fim de seus dias, todos eram capazes de perceber isso. A pele estava enrugada, os cabelos brancos, e a beleza já havia a deixado há muito tempo. Alene deveria ter substituído a ela, porém, está havia sido roubada pela morte, e era apenas por isso que a mulher ainda estava lá, representando a sabedoria de seu povo.
Muitos achavam que Sakura era quem deveria assumir seu lugar, porém esses eram apenas os desejos do povo, e segundo Mikoto, não era o desejo da deusa. Porém, isso não impedia Sakura de ser a mais abençoada de todas elas, e para isso Mikoto, a sacerdotisa de maior sabedoria entre todas da Britania, não possuía explicação.
— Sou acusada, e não posso acusar? A justiça da Deusa não existe mais em você, Mikoto? — Entre todos, Sakura era a única que a chamava pelo nome. Não que isso fosse faltar com o respeito, era apenas ousado; corajoso.
— Não me tome por tola Sakura, eu sem bem o que está querendo fazer — Mikoto suspirou, observando a escuridão que Sakura era. Para se tornar uma druidesa, como elas eram chamadas pelos romanos e tantos outros povos, muitos anos de treinamento eram necessários. O conhecimento de séculos era transmitido pelas palavras sabias das mais velhas; os corpos e espíritos das escolhidas purificados, longe das terras tocadas por homens e mulheres indignas; suas mentes abertas para a verdade do mundo e a compaixão impregnada em seus corações, para que até mesmo nas decisões mais difíceis, elas fossem benevolentes; para que até nos castigos mais dolorosos, não houvesse prazer. Elas deveriam sentir a dor de quem castigavam, para que seus corpos não fossem tomados pelas trevas. Para que o poder não as corrompessem, como era de costumo de todo e qualquer homem. Sakura havia passado por tudo isso, a deusa a havia escolhido na infância, e a aceitado quando o treinamento em Ynis Mon* havia acabado, mesmo Mikoto vendo apenas escuridão nos olhos verdes da moça.
Mikoto a teria mandado de volta para casa quando a encontrou junto ao corpo de Alene. Sakura mudou naquele dia, e para a grande sacerdotisa ela não servia mais para aquela missão, porém, esse era o seu desejo e não o da Deusa.
— Me diga de uma vez Sakura, tú estas a proteger um inimigo? — Mikoto perguntou novamente, mesmo que não acreditasse em uma palavra do que Temari havia dito. Sakura era a escuridão que abafava a luz do Sol; ela não ajudava nem mesmo os amigos. Porém, devia dar a devida atenção aos seus visitantes, afinal, não desejava que uma guerra se iniciasse entre eles.
— Eu nem mesmo sei onde ele está — respondeu sinceramente — ele desapareceu, não importa o quanto eu me esforce, algo o esconde de mim. — Mikoto sabia que aquilo era verdade, porque algo escondia o romano dela também, algo poderoso.
— Mas você fez algo para que ele acordasse — Temari voltou a acusar. Cega em sua irá. Os sábios de seu povo já estavam fartos de sua teimosia, porém, diferente de Sakura que parecia capaz de obedecer, Temari não conseguia.
— Sim — Sakura confessou e todos perderam-se na confusão. — Eu curei suas feridas, sussurrei em seu ouvido e o guie de volta. Os fortes sempre voltam, então Temari, não me acuse quando não tenha nada para acusar. Seu irmão dorme, porquê é fraco. Falho como você mesma é.
— Mentirosa! — Gritou a moça, os olhos vermelhos pelas lágrimas que segurava — Você me ameaçou, disse-me que se o romano fosse morto por meu povo mataria meu irmão.
Temari estava descontrolada. Se algo não fosse feito contra Sakura, Naruto morreria ainda na noite daquele dia. Ela sabia disso, e mesmo que antes parecesse tão certo para si a morte do irmão, e que isso fosse algo com que pudesse viver, agora, ela já não era mais capaz de aceitar.
—Sakura — Mikoto ciciou — por que ameaçou matar Naruto? — Perguntou, agora já vendo a irá se acender em todos os gauleses. As coisas pareciam apenas se complicar.
— Não era uma ameaça — Sakura disse simplória — eu a estava avisando, já que ela ensinou que talvez achasse o romano morto, então eu apenas disse o que aconteceria caso isso acontecesse.
— Mataria meu filho, indefeso, caso algum de nós matasse um inimigo? — Perguntou Minato, o líder da tribo. Sua face era pura incredulidade. O homem possuía cabelos dourados como o Sol, os olhas azuis como o céu, e a violência de uma tempestade. Naquele momento, seu único desejo era partir a pequena mulher ao meio com sua espada, para que assim ele nunca mais ameaçasse seu povo.
Sakura estava um tanto distante dele, porém, aproximou-se para responder, olhando fundo em seus olhos para que não houvesse dúvidas quanto ao que diria.
— Não me tome por covarde — começou — ou mesmo fraca. Eu mataria não só seu filho indefeso, quanto você e todos os que anda contigo armados, caso o romano pereça pelas mãos de um de vocês. — Os olhos verdes emanavam o mal que ele carregava consigo, e as palavras de Minato foram roubadas devido a isso. Sakura não era, aos olhos dele, digna de ser uma sacerdotisa.
Por isso, os olhos azuis do homem correram desesperados para Mikoto, visto que essa era a única que poderia fazer alguma coisa.
— A Britania não precisa de vocês — Sakura se pronunciou, ainda com os olhos focados no homem a sua frente, afinal, ela sabia que se desviasse os olhos ele a atacaria. — A Britania precisa de um Romano. Achei que soubesse disso, Sacerdotisa — A última frase, foi dita para Mikoto.
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