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História Imprevisível - Ruínas


Escrita por: biagw

Capítulo 19 - Ruínas


“Oi, Sarada?” - Boruto encarou sua colega de time confuso e curioso, percebendo o quanto ela parecia aérea, algo que não era muito comum. A garota retribuiu seu olhar um pouco assustada, como se tivesse saído de uma transe - “O que foi? Por que está tão quieta hoje?” 

“Não é nada” - a Uchiha disfarçou, enquanto observava as nuvens passando no céu. Ainda era bem cedo, mais do que estava acostumada a sair de casa normalmente. E na verdade tinha ido pra Academia mais cedo porque queria pensar um pouco sozinha, só não esperava que o filho do hokage fosse ter a mesma ideia e aparecer por lá também - “E você? Por que veio mais cedo hoje?” 

“Hm, eu só não queria ficar em casa” - bufou e torceu o nariz, parecendo irritado. Ao contrário de Sarada, Boruto nunca se esforçava pra esconder as coisas que sentia ou queria de seus amigos, ele era sempre muito direto e confessava seus problemas sem nenhuma trava - “As coisas andam bem chatas por lá ultimamente” - os olhos negros da menina estreitaram e sua expressão se tornou ainda pior - “Meu pai estraga tudo como sempre”  

“Então você também ja sabe?” - Sarada suspirou, cheia de desesperança. No entanto, ao contrário do que ela imaginou naquele momento, os olhos azuis se voltaram em completa dúvida. Boruto não sabia do que ela estava falando.  

“Sei o que?” - o Uzumaki era também muito observador e perspicaz. Ele não a deixaria sair da situação enquanto não soubesse o que era a coisa que ela escondia; e Sarada sabia disso, tanto que deixou claro em sua expressão ‘estou encrencada’ sem precisar dizer nada - “Sarada, está na sua cara que está escondendo alguma coisa! Fala logo” 

“O que está acontecendo na sua casa... Seus pais vão se separar?” - a pergunta da Uchiha pegou o garoto de surpresa e logo uma expressão triste ocupou o rosto dele 

“Eu não sei, ninguém fala nada sobre isso... Mas eu vi minha mãe guardando algumas coisas do meu pai, então” - encarou o céu junto da companheira, desanimado. Boruto estava frustrado por não saber tudo que queria sobre sua família e por só poder assitir tudo desabando sem fazer nada. A lembrança de ter visto sua mãe chorando em silêncio sozinha na noite anterior não saia de sua cabeça - “Por que?” 

“Porque meus pais vão se separar” - Sarada tinha um nó na garganta que fazia sua voz falhar um pouco. Ela abraçava os próprios joelhos, chateada. Boruto a encarou surpreso e preocupado, era realmente estranho ver tudo aquilo acontecendo - “Eu os ouvi conversando sobre isso ontem” - podia sentir as lágrimas entaladas em seus olhos, as que tinha aguentado até ali pra não derramar (e que queria continuar aguentando)  

“Mas seu pai não tinha finalmente voltado pra Vila? Você estava tão feliz nas últimas semanas” - Boruto estava um pouco chocado. Primeiro porque era realmente difícil ver aquela sua amiga tão pra baixo e depois porque queria dizer que não era só a sua família que estava ruindo.  

“Eu acho que ele... Se cansou da mamãe” - por mais que não quisesse, Sarada sentia um pouco de remorso. Sempre carregou consigo a imagem perfeita de seu pai que Sakura havia pintado e agora era como se ele se parecesse cada vez menos com aquela perfeição. Era estranho pensar que seu pai amava outra pessoa que não fosse sua mãe e que ele mesmo havia confessado isso. Justo quando ela pensou que a família finalmente estaria junta todos os dias, que a tal missão secreta que os afastava tinha acabado, isso tudo acontecia... Se perguntava se o amor de seu pai por ela e sua mãe nunca fora real  

“Será que todos os pais fazem isso?” - Boruto franziu o cenho, desdenhoso e irritado. No fim, ele sentia que o grandiosíssimo hokage podia se resumir ao homem que estava estragando a vida de sua mãe. Tinha plena certeza que a culpa de todos os desastres de sua família era dele. Bufou, derrotado.  

“Boruto...” - Sarada chamou sua atenção, ainda sem ter certeza se deveria revelar tudo que havia descoberto ou não. Na verdade ela não queria dizer, porque podia imaginar sua reação, mas seu peito pesava sem poder partilhar aquilo com alguém. O loiro a encarou mais uma vez, esperando que continuasse - “O meu pai e o seu pai... Eu acho que eles estão juntos” 

“O que?!” - Boruto parecia incrédulo. Não podia crer no que tinha escutado.  

“Quando meu pai dizia que amava outra pessoa...” - suspirou, com as lágrimas querendo explodir em seus olhos. Não sabia julgar a situação como boa ou ruim, não conseguia entender o sentimento dos adultos que mudava assim do nada, nem dizer o que era real ou não nos sentimentos do seu pai - “Ele falava do nanadaime” 

 Quando Sarada encarou o colega de time mais uma vez, achou que ele tinha perdido a alma por um instante. Boruto estava completamente chocado e não sabia dizer exatamente por que. Sasuke era seu mestre e estava envolvido com seu pai? E Naruto estava traindo Hinata assim? Ele acabaria com o casamento por causa daquilo e abandonaria sua família como Sasuke estava fazendo? Era por causa daquele garoto que surgiu do nada como seu meio-irmão? 

“Oi, Boruto!” - como Sarada esperava, o Uzumaki era impulsivo demais e não esperaria mais pra ir atrás de satisfações - “Boruto!” 

“Eu vou descobrir o que aquele velho idiota está fazendo!” 

 

... 

“Sasuke-kun” - Sakura não estava tão surpresa ao abrir a porta e dar de cara com o marido. Ou ex-marido. Ela tentava parecer calma e ter o controle de toda a situação, mas suas mãos tremiam um pouco. Sasuke por sua vez, não escondia o desconforto e seus olhos acabavam mais presos no chão - “Eu já separei quase tudo que me pediu” 

“Obrigado, Sakura” - respondeu, simples, engolindo seco e a seguindo pra dentro do lugar que costumava ser seu lar. Dava pra ver que Sakura tinha mesmo feito algumas alterações, tirados certas lembranças e substituído algumas de suas marcas. A casa até parecia ter um ar mais pesado e gélido.  

 Sasuke não tinha esperanças de viver por muito tempo, essa era a verdade. Desde de que descobriu ter herdado a mesma doença de seu irmão, soube que aquele era o fim da linha e não estava assustado com isso, nunca teve medo da morte. No entanto, aquela certeza se tornava a única razão que o fazia estar disposto a arriscar toda a vida que já tinha por uma nova versão que talvez nem desse certo.  

 Devia tanto a Sakura que não sabia como medir ou colocar em palavras. Ela curou seu coração despedaçado, o sustentou por anos, foi seu porto seguro e lhe deu Sarada, seu maior amor. Provavelmente era a única mulher no mundo que estaria disposta a estar ao seu lado depois de tudo que havia feito anos antes. E, por isso, jamais a abandonaria, tinha basicamente jurado a si mesmo que estaria ao seu lado pra sempre, quase que pagando a dívida que lhe devia.  

 Mas a certeza da morte da morte próxima tinha mexido com sua mente e coração. Sasuke continuava sendo um grande covarde quando o assunto eram sentimentos, seus e de outras pessoas, e por esse motivo ele já pensava em se afastar mesmo antes de Naruto reaparecer com todo seu amor. Se Sakura e Sarada estivessem mais longe, sentiram menos dor quando ele partisse e se libertariam mais facilmente pra continuar vivendo. Talvez fosse um pensamento bobo, mas era sua melhor solução.  

 E, por mais que quisesse cumprir sua promessa e estar ao lado de mulher por toda a vida, uma morte próxima significava não poder mais fazer várias coisas. Significava pouco tempo restante pra lidar com seus próprios problemas e sentimentos. Sasuke começou a se perguntar se deveria cumprir a promessa ou seguir a vontade guardada em seu coração por anos. Bem provavelmente ele teria desistido de ambas as opções, não fosse Naruto surgir declarando seu amor com tanta vontade.  

 Foi naquele momento que o Uchiha percebeu que queria se dar se uma chance. Uma única mínima chance de viver aquele amor antes de partir.  

“Sakura...” - a casa estava em completo silêncio, com exceção do barulho dos ingredientes no fogo e dos talheres que estavam sendo usados pela matriarca. Sasuke juntava as caixas separadas pela até então esposa, que não eram muitas, mas tinham suas coisas, quando decidiu complementar tudo que havia dito no dia anterior - “Me desculpe” 

 Sabia que seus pedidos de desculpas não mudariam nada na situação, nem fariam com que ele parecesse menos cruel e traíra. No entanto, queria dizê-los do mesmo jeito, ainda que não se sentisse menos pior. Sakura permaneceu calada, mexendo nas coisas da cozinha, segurando as lágrimas quase secas - já tinha gastado boa parte delas durante a madrugada.  

“Me desculpe por trair seu coração desse jeito” - aqueles eram os únicos momentos em que a coragem do famoso Uchiha sumia aos poucos. Seus olhos não se dirigiam à garota na cozinha e sua voz não tinha tanta força quanto o costumeiro - “Por te fazer sofrer outra vez...” 

 Mesmo quando não queria, ele acabava se sentindo o grande culpado por todas as dores das pessoas a quem amava. Parecia que isso não mudava com os anos. E, quando as lágrimas de sua antiga companheira começaram a rolar, ele hesitou por um instante em continuar com a decisão que tinha começado a tomar. Desde criança, por que sempre parecia que sua existência era como um fardo pra tanta gente? Talvez fosse esse motivo de não ter medo algum da morte.  

“Está tudo bem, Sasuke-kun" - por mais que quisesse xingar e brigar com todos seus conhecidos, tudo que Sakura conseguia fazer era concordar com o decorrer das coisas e se colocar em segundo plano. Estava falando de seu melhor amigo e do homem que amava, podia tentar quanto quisesse, não conseguia sequer lançar alguma maldição a eles. Seu coração doía, mas ela se obrigava a pensar que poderia superar a situação e recomeçar, ainda que se sentisse ridícula no instante seguinte - “Não se desculpe por algo que não pode controlar” 

 Mais que qualquer um, ela sabia bem o que era sofrer por não poder mandar no coração. Estava grata pelos últimos anos vividos, pela família que havia construído e por ter pelo menos sentido um pouco de seu amor ser retribuído. Não poderia se dizer feliz, mas se esforçava pra não guardar nenhuma mágoa ou rancor. No fundo, sempre soube, sempre.  

  

“Sakura, eu não quero que você pense que todos os anos que passamos juntos foram uma mentira” - Sasuke se aproximou dela, sendo claro e sincero. Seu coração batia rápido e ele queria demonstrar o quanto ela ainda lhe era importante, apesar de qualquer coisa - “Eu nunca mereci tudo que você me deu e serei pra sempre agradecido por cada momento que vivemos e principalmente por Sarada. Eu te amei, de verdade. Eu só...” 

"Eu sei disso, Sasuke-kun, não se preocupe” - as boas lembranças era tudo que ela carregaria daquele relacionamento e estava orgulhosa por tê-las. Enquanto tudo durou, realmente não havia alguém que pudesse dizer que era uma farsa ou que os sentimentos eram inexistentes. As coisas apenas mudaram de lugar com o tempo - “Eu vou me recuperar...” - sorriu de leve, secando o rosto enquanto se distraia com a receita que preparava no fogão.  

“Eu nunca terei como te agradecer o suficiente por tudo, Sakura” 

“Só seja feliz, Sasuke-kun... É o suficiente pra mim” 

 

... 

“B-Boruto?” - Naruto encarava o filho parado na porta do escritório com um semblante de surpresa e sem saber o que teria o levado até ali. O garoto parecia ainda mais irritado que em qualquer outro momento em que se encontraram durante a semana e seus olhos estavam cheios de ódio e tristeza - “O que faz aqui? Não deveria estar na Academia?”  - brigar sobre ele ter invadido o escritório sem permissão era perca de tempo, isso acontecia vezes demais e o menor nunca obedecia as regras depois da mesma bronca. 

 Os pulsos do mais novo estavam cerrados e ele mal sabia por onde começar a falar. Estava tão irritado que não conseguia pensar direito e ver o quanto seu pai parecia feliz naquela manhã o deixava ainda mais certo de que seus maiores medos eram reais. Ele estava mesmo com outra pessoa e acabaria destruindo a família no final.  

“Você é um velho nojento, sabia?” - Naruto podia ver as lágrimas de raiva se formarem nos olhos do filho, mas ainda não entendia porque ele estava tão irado e emotivo - “Por que está fazendo essas coisas? Por que começou uma família logo se não ia ficar com ela no final?!” 

“Boruto, do que está falando?” - sem imaginar o que se passava na cabeça do garoto, o nanadaime apenas dispensou discretamente seu assistente que ainda estava na sala e decidiu conversar com ele - “Aconteceu alguma coisa?” 

“Você vai abandonar a minha mãe, não vai?” - normalmente Boruto era uma criança madura pra idade, que enfrentava qualquer tipo de perigo com o peito cheio e sem nenhum medo. Mas, enfrentando aquela situação, ele só conseguia parecer um garotinho frágil que perdia a paciência fácil e que tinha medo de se perder pelo caminho - “Eu realmente não me importo se você for embora, mas a mamãe e Hima...” - aquela mentira já tinha se repetido tantas vezes que Naruto as vezes acreditava. Era óbvio que ele sentiria e se importaria, tanto que estava ali naquele momento, cobrando um posicionamento com o coração apertado e acelerado  

“Boruto, eu não vou abandonar ninguém” - Naruto se aproximou dele, tentando acalmá-lo e sendo rejeitado. Àquela altura já era fácil entender o que se passava pela cabeça do menor - “Eu e sua mãe...” - ponderou um pouco sobre contar a verdade ou esconder. mas, tendo um filho esperto como o seu, mentir só pioraria as coisas, então o melhor era ser sincero. Suspirou - “Sim, nós vamos nos separar, mas isso não significa que eu vá abandonar qualquer um de vocês. Nem Hinata, nem você, nem sua irmã” 

 Boruto parecia petrificado em sua frente, suas expressões eram indecifráveis. Agora que seu medo tinha tomado a verdadeira forma, a raiva também tinha crescido. Sentia-se traído pelo pai e pelo mentor ao mesmo tempo, além de mais abandonado que o normal. Mesmo que soubesse do amor que o pai sentia, ainda tinha medo de que o sentimento sumisse com o tempo e que ele simplesmente se esquecesse dos filhos que já teve. Como sempre, seu medo aparecia na forma da irritação extrema, da raiva.  

“Nós vamos conversar melhor sobre isso em casa, tudo bem? Eu não posso te explicar tudo agora” - Naruto se abaixou na frente dele, tentando alcançar seus ombros mas sendo afastado outra vez. Como pai, sentia-se um grande fracasso.  

“Você é mesmo um idiota, eu te odeio!” 



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