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História Imprints - Centelha III


Escrita por: Pisinoe

Notas do Autor


Gente, mais de 400 favoritos e tantos comentários maravilhosos!!! Não sei nem o que dizer ou como agradecer! Vim atualizar o capitulo mais rápido para comemorar, espero que gostem!

Capítulo 3 - Centelha III


03.

 

O primeiro sonho aconteceu durante a segunda noite do festival de Samhain daquele ano.

Meu corpo se entregou à exaustão assim que cheguei no dormitório e deitei na cama, e caí nos braços de Morfeu como uma pluma flutuando no ar que encontra o chão. Sempre soube que os sonhos de uma bruxa não são ordinários, mas lembro que aquela foi a primeira vez que senti algo tão intenso em minha vida.

Talvez fosse meu subconsciente influenciado pelo que a vidente havia me dito sobre o homem de aura dourada. Ou talvez fosse pelo meu desejo de me sentir conectada à alguém de uma forma que transcende qualquer barreira e explicação humana.

E em meio à imagens turvas, ele apareceu.

De alguma forma inexplicável, assim que nos encontramos eu soube quem ele era. Como se minha alma o reconhecesse, como se o vazio em meu peito fosse preenchido de uma sensação avassaladora e meu corpo tivesse encontrado seu encaixe perfeito.

A sensação de me sentir completa me roubou o fôlego de um jeito arrebatador.

Não havia um centímetro do meu corpo que não tivesse sido tocado, beijado e explorado por sua boca. Ele fez comigo coisas que eu nem sabia que podiam acontecer entre duas pessoas, não que minha experiência inexistente pudesse me dar algo a mais que um conhecimento básico. Mas era a intimidade familiar de seu toque, como se tivéssemos feito isso mil vezes antes em outra vida, que me deixou completamente enfeitiçada.

Como se nossos corpos fossem derreter juntos, deixando nossos corações e mentes entrelaçados em uma cadeia inquebrável.

Horas mais tarde, quando acordei extasiada e desnorteada por ter tido um sonho tão real que por um momento não consegui discernir se aconteceu mesmo ou não… 

Infelizmente não conseguia mais lembrar de seu rosto. 

 


 

Quando Ino finalmente chegou do festival, passou três dias desacordada.

A universidade esteve em grande parte vazia nos dias seguintes, pois assim como ela, a maioria dos estudantes havia festejado além da conta e agora estavam em modo de hibernação total.

Aproveitei esses dias de paz e silêncio para tentar colocar minha mente em ordem. Não era como se eu pudesse ignorar o primeiro sonho erótico que eu tive, e que me deixou completamente desnorteada. E também com tudo que havia acontecido durante a única noite em que estive na festa, não podia sequer ter a pretensão de que não lembrava da maneira que Sasuke me tratou.

Mesmo assim, cada vez que lembro do sonho, é seu rosto que me vem à mente em vez de o de um estranho.

É difícil entender o que se passa pela cabeça dele, e não consigo evitar pensar nele quando ele está tão próximo de mim agora. Sei que é errado pensar nele dessa forma, pois ele é comprometido e eu não existe nenhuma ínfima possibilidade de algo acontecer entre nós. Não tem como competir com uma mulher que foi escolhida pelo destino para ele, eu sei. Mas o que eu posso fazer se não consigo ser imune à ele? Até eu mesma sei que ele não merece metade do tempo que perco pensando nele, e depois do que a vidente me disse sobre o homem de aura dourada, preciso seriamente rever meus sentimentos sobre Sasuke.

Imagina se eu deixasse o dourado passar despercebido por estar babando por outro? Não posso permitir que isso aconteça. 

Saí do dormitório hoje de manhã, após verificar que Ino ainda estava respirando, para assistir a aula de Demonologia, mas já que quase ninguém veio assistir, o professor nos deu passe livre para ir embora antes. Como não conseguia mais ficar remoendo certos acontecimentos com as vozes da minha cabeça e não queria arriscar encontrar com você sabe quem e pensar mais besteiras ainda, decidi ir para a biblioteca procurar algum livro sobre auras. Eu precisava estudar mais sobre isso para entender o que me esperava, e era uma boa distração.

Perdi algumas horas lendo sobre, completamente obcecada com o assunto. Para quem não se interessava sobre esse tipo de coisa antes, eu não sabia o que estava perdendo. Acho que não tenho nenhuma aptidão para ver auras, mas as descrições me davam uma ideia sobre quem era o quê. Hinata, tenho quase certeza que tem aura roxa e Naruto, sem dúvida alguma, é amarelo. É claro que até nisso eles combinavam. Enfim… Ler sobre a aura dourada só serviu para me deixar mais ansiosa ainda. Uma pena que não encontrei nenhum feitiço para poder revelar a aura das pessoas, ou conseguir conjurar a do tal dourado até a mim.

Terei que viver com essa revelação agora, e não sei como irei sobreviver até o final da faculdade se não encontrá-lo, mas pelo menos não fui abandonada pela Deusa do Amor, né?

É melhor que nada, certo? Certo. Essa fase irá passar. Se repetir isso dez vezes, talvez eu acabe acreditando até o final do ano.

Estava guardando um livro sobre chamas gêmeas e outro sobre “Como curar um coração quebrado: Feitiços e Poções” na bolsa quando alguém me cutucou assim que saí da biblioteca, me fazendo tomar um susto.

— Hinata? —  exclamei surpresa ao vê-la, após o susto passar. — O que está fazendo aqui?

— Vim procurar um livro sobre poções de revitalização que Naruto me pediu, para ajudar o Sa.. — ela estava respondendo, mas então os olhos cristalinos se fixaram no último livro que coloquei na bolsa. —  Por que você precisa de feitiços para curar um coração quebrado?

— Ah, isso… — tentei pensar em uma maneira de desconversar, pois eu não tinha coragem de admitir a verdade em voz alta. Ela era uma marcada, nunca me entenderia e não queria que me julgasse por cobiçar o homem alheio. — Eu não preciso, mas nunca é demais se precaver, certo? Vai saber quando Ino vai finalmente pedir minha ajuda com isso.

— Hã… Entendi — ela não parecia ter realmente acreditado, mas era educada demais para me desmentir na minha cara — Hm, eu queria te perguntar se você quer vir comer comigo? Naruto vai me encontrar somente mais tarde pois está ajudando o Sasuke com algo, mas tem um bistrô legal aqui perto da faculdade. Não aguento mais comer macarrão japonês.

Eu sabia que essa era a comida favorita do loiro, o que significava que eles passaram os últimos dias juntos também. Tentei olhar disfarçadamente para o pescoço dela, mas ela estava usando um lenço bonito e de aparência que cobria muito bem a região.

— Tudo bem — aceitei, afinal eu não tinha nada melhor para fazer e há tempos que não temos a oportunidade de conversar sozinhas assim. Hinata é tranquila e reservada assim como eu, e apesar de não falar muito, o oposto de Ino, eu sempre me senti confortável com ela.

Caminhamos juntas em silêncio até o bistrô que ela havia falado, um lugar charmoso que eu não havia conhecido ainda. Era pequeno e aconchegante, simples mas de aparência romântica. Percebi que só haviam casais ali além de nós duas, o que me deixou curiosa. Esse provavelmente era o ponto de encontro do campus. Acho que não me importaria que um garoto me trouxesse para jantar aqui.

Assim que a ninfa de cabelos azuis que veio anotar nossos pedidos saiu, Hinata me perguntou:

— Para onde foi naquela noite? Você sumiu depois que foi atrás do Sasuke. Ele também não voltou mais — essa última parte me fez levantar uma sobrancelha, pois eu não sabia. Ele realmente parecia apressado em sair dali o mais rápido possível. — Aconteceu algo?

— Não aconteceu nada, ele só foi grosso comigo como sempre. Não estava mais no clima de curtir festa nenhuma depois de beber tanto então resolvi ir pro dormitório dormir, me desculpe por não avisar.

Ela suspirou, apoiando a mão no queixo enquanto me olhava com pesar.

— Ele não é tão chato assim o tempo todo, e é um amigo realmente leal quando o conhece melhor, mesmo que seja difícil para você acreditar — arqueei uma sobrancelha em surpresa, pois realmente era difícil imaginar aquilo. Ela riu da expressão cética que eu devo ter feito — Sei que ele não tem sido muito agradável ultimamente, mas tente ver pelo lado dele. Naruto me disse que a distância de sua marcada não ajuda a melhorar o temperamento dele…

Fechei os olhos, fazendo uma careta sem que pudesse me conter. Escutar boatos sobre ela era bem diferente de ouvir diretamente da boca de uma amiga minha que ela de fato, existia.

Eu precisava mudar de assunto rápido se não quisesse vomitar aqui mesmo.

— Hinata… Posso lhe fazer uma pergunta íntima? 

— É claro que sim — ela assentiu, olhando-me com curiosidade.

— Eu não sei é falta de educação querer saber mas… Como você sabia que o Naruto era o cara que o destino havia reservado para você?

— Ah… — ela parecia estar esperando outra pergunta. — Eu não sabia.

— Mas… Você sempre gostou dele..? — apontei, gesticulando com as mãos minha confusão. — E então descobriu que era sua marcada...

— Sim, desde a primeira vez que o vi, quando tinha seis anos — seus lábios rosados se curvaram em um sorriso nostálgico. — Mas não… Eu nunca tive certeza. Não até o dia do meu aniversário de dezoito anos, quando a ligação das marcadas finalmente nos conectou. As vezes acho que ainda estou sonhando, pois é tudo irreal e bom demais para ser verdade. No entanto, a forma como ele me trata e tudo que faz por mim… — ela suspirou, suas bochechas pálidas ruborizando.

— E você não tem medo que… Tudo que ele sente por você seja por causa da ligação? 

Essa era a resposta que eu mais queria ouvir de sua boca. Foi tudo que eu sempre quis saber, mesmo quando assistia os filmes humanos sobre lobos e marcadas.

— Eu estaria mentindo se dissesse que não… Descobrir que eu era sua marcada, foi demais para mim. Para nós dois — sua sinceridade me surpreendeu, eu não esperava que logo ela, sempre tão romântica e apaixonada por ele, pudesse ter se sentido assim. — Mas foi mais fácil para Naruto aceitar, como se fosse tão natural como respirar para ele. No começo eu pensava nisso todos os dias, e talvez por uma insegurança própria minha, eu não conseguia acreditar que ele pudesse me amar assim para o resto da vida. Esse também foi um dos motivos que me levou a pedir a ele que esperasse por mim, para que deixasse nosso relacionamento fluir aos poucos, porque não sei se você sabe, mas… O primeiro passo da ligação é o olhar, e em seguida, o toque. Mas a última fase, hmm... Selar a ligação dos marcados, te consome completamente. Nada mais no mundo importa depois da mordida.

Fiquei em silêncio, sem saber o que responder, mas ela não se incomodou.

Havia um respeito mútuo entre nós, e ela sabia que eu nunca a julgaria por sua sinceridade.

Se ela, que era de uma linhagem antiga de bruxas e sempre viveu nesse mundo, ficou abalada quando descobriu que sua primeira paixão era de fato o amor de sua vida, como uma meia-humana como eu teria reagido? Provavelmente nunca saberei, mas ainda sim, me conforta saber que o conto de fadas deles é tão real quanto o amor que nasceu entre eles.

Acho que no fundo, ao me colocar em seu lugar, a entendia completamente. Eu não sei o que faria em sua posição... E eles ainda eram tão novos. Como ela teria espaço para descobrir quem ela era se o vínculo sobrenatural que os unia vinha antes de tudo na sua vida? 

— Então todos os Lycans um dia vão encontrar suas marcadas?  — quis saber por fim.

— Pelo que Naruto me contou, não. É bastante comum, mas não garantido. Talvez metade deles encontre — explicou a bruxa lunar. — A ligação com a marcada geralmente se mostra por volta do aniversário de dezoito anos do lobisomem. Se sua marcada predestinada não for alguém que eles já conheçam, o vínculo os obrigará a procurar sua outra metade, não importa onde ela estiver. 

Abri a boca para me atrever a perguntar o que eu na verdade tanto queria saber, mas a ninfa voltou com nossos pedidos, me interrompendo antes que pudesse falar.

Enquanto comemos, é impossível não me perguntar como foi que Sasuke, tão mau humorado e nada romântico, se sentiu ao encontrar sua outra metade. Será que ele também a aceitou facilmente? Talvez ela fosse fácil de amar, assim como Hinata. E será que ele já a tinha mordi….

Assim que percebo que estou pensando no que não me diz respeito novamente, me repreendi mentalmente. Não o conheço o suficiente para entendê-lo, e talvez nunca me aproxime o suficiente para que isso aconteça.

 

 

As semanas seguintes se passam quase em um borrão em minha mente.

Entre tentar aprender o máximo de teoria mágica possível, estudar para provas que nunca antes tive que fazer na minha vida, lidar com as loucuras das criaturas mágicas e convencer mamãe de me deixar passar as férias de Yule com Ino e seus pais durante o Solstício de Inverno, acabei esquecendo de ler os livros que havia pegado, mas de todo jeito consegui me distrair completamente ao ponto de não ter tempo para mais nada.

Ino finalmente me contou sobre o tal homem de aura azul que ela aparentava já ter conhecimento sobre, e mesmo que ela não o tivesse encontrado pessoalmente ainda, sabia sobre sua existência fazia exatamente um ano. Ele foi a primeira pessoa que as cartas mostraram à ela, porém saber que um dia estariam juntos não a impedia em nada de viver o quanto quisesse até lá.

Ah, como eu gostaria de ser um pouco mais como ela…

Às vezes quando estou caminhando pelo campus, me pego olhando para as pessoas ao meu redor. Obrigo-me a observar os garotos à minha volta, tentando descobrir se há algum traço em alguém que eu ache atraente, e apesar de serem fisicamente mais bonitos que os adolescentes maldosos com os quais eu convivia, nenhum me chamou atenção até agora.

Tenho a impressão de me sentir observada uma vez ou outra, mas não sei por quem.

Pelo menos os deuses têm estado contribuindo comigo nestes últimos tempos. Quase não vi Sasuke, somente de longe, e não estou nem um pouco envergonhada de admitir que sim, eu o estava evitando o máximo possível e tendo completo sucesso nisso mesmo que meu coração queira o contrário. A tortura agora era somente uma vez na semana, durante uma hora, onde éramos obrigados a compartilhar a mesma aula de Tenebrologia.

Ele sempre estava com o nariz tampado, e eu não tentei mais falar com ele. Sei que ele não me deve sua atenção, mas eu também posso ter orgulho próprio. 

Até porque cada vez que o via, ele parecia ainda mais azedo e perturbado, mas agora tenho a consciência limpa de que a culpa não é minha, afinal, estou fazendo um favor a nós dois. Gostaria de dizer que cheguei em um ponto que não me importo mais com sua presença, mas estaria mentindo.

Lá no fundo, nos breves momentos que me permito pensar nele, é inevitável não querer saber o que tem lhe deixado tão cansado e com sombras escuras abaixo dos olhos. E todas às vezes que isso acontece, me lembro que não é problema meu.

Nas noites que me sinto sozinha e com saudades de casa, tento chamar por meu familiar.

Ino já me perguntou várias vezes onde ele está, e não sei exatamente o que dizer.

Para meu pesar, ele não apareceu nenhuma vez.

 

 

Uma das melhores partes de se morar nesta cidade mágica é que não existe inverno, a estação que mais detesto durante o ano. Aqui o clima é sempre agradável, e mesmo no começo de dezembro, o sol brilha do lado de fora e há uma brisa quente circulando no ar.

Fui bem em todas as minhas provas apesar de ter tido uma crise de ansiedade achando que falharia todas, e nunca me senti tão aliviada em finalmente ser boa em algo e não ter ninguém para tirar sarro de mim quando fazia algo errado. A Diretora Senju me chamou para uma reunião em particular antes do recesso, e algo me diz que é sobre meus poderes.

Não sei mais por quanto tempo conseguirei disfarçar que não sou exatamente uma bruxa verde, e acho que ela vem suspeitando disso depois da última coisa que viu na aula de Herbomagia. A professora Shizune deve ter contado a ela que meu braço se curou completamente, mesmo uma planta carnívora me mordeu feio por causa de um descuido. Sem ajuda de uma curandeira.

Ino e eu combinamos de sairmos juntas para comprar maquiagem depois da última aula da semana, afinal precisamos repor nosso estoque de sombra preta, mas ela me enviou uma mensagem avisando que se atrasaria pois precisava fazer uma leitura de tarot para uma sereia em apuros.

Fico esperando sentada em um banco perto do bosque dentro da universidade, enquanto mexo no celular para passar o tempo. O dia está quente, mais que o normal, e os estudantes estão se refrescando com chá de frutas geladas e sorvete. Acho que preciso de um também.

Estou voltando para o banco, quase pulando de felicidade com minhas quatro bolas de sorvete banhadas em uma cobertura grossa de chocolate e algo a mais que não sei identificar, quando noto uma garotinha no caminho me olhando com os olhos brilhando.

Errado, ela não está olhando para mim, e sim para o meu sorvete enorme.

Até quis ignorá-la, porque geralmente crianças quanto mais longe de mim melhor, mas parando para pensar melhor… Não é normal ver uma aqui no campus. Sem os pais. Devia ser no mínimo preocupante, não? 

Será que eu sou a única pessoa aqui que pensa isso? Parece que sim.

— Oi? — arrisquei me aproximar da pequena criatura, e ao chegar mais perto percebi que ela me lembrava de alguém. Cabelos pretos e escorridos, pele clarinha e grandes olhos negros… Ela era tão linda e fofa. Parecia quase humana, se não fosse pela magia animalesca que emanava precocemente dela.

Ela arregalou os olhos, exalando alto pelo nariz pequeno e arrebitado, quando me agachei para ficar à sua altura. Não devia ter mais que três anos.

— Oh… Bruxa tem cheiro bom. Aeri gostou de você — ela disse sorridente, e foi impossível não achar fofo como ela se enrolava com as palavras e referia a si em terceira pessoa. Aeri era um nome bonito.

— Obrigada, Aeri. Meu nome é Sakura — falei sem graça e com vontade de apertar suas bochechas, mas não poderia me comportar como uma maníaca se não quisesse assustá-la — Me diz, você está aqui sozinha? Cadê seus pais?

Assim que perguntei sobre seus pais, ela arregalou os olhos e procurou por alguém ao nosso redor, esquecendo-se momentaneamente de babar no meu sorvete. Ficou óbvio que ela havia se perdido e não tinha notado que estava sozinha até então.

— Oh… Papai não está aqui! Aeri se perdeu! Ah não, vou ficar de castigo… — a pequena fez um bico decepcionada, baixando a cabeça em seguida. Ajoelhei-me em sua frente, erguendo seu rosto com afagos gentis. Havia lágrimas umedecendo seus olhos brilhantes.

Ok, hora de bancar a adulta que eu não sou aqui. O que é mesmo o certo a se fazer nessa hora? Ah, primeiro: sem pânico. Segundo, acalme a criança. Terceiro: leve-a de volta para os pais dela.

— Como isso aconteceu? 

— Papai estava conversando com meu titio favorito, mas eles falavam demais… Aeri cansou de esperar! E fui brincar com um diabrete, mas o diabrete corria muito, então senti cheiro de sorvete de longe e agora Aeri não sabe voltar…

Ela estava muito nervosa, chorando e falando mais rápido que Naruto quando ficava empolgado com alguma coisa. A única coisa que o acalmava nessas horas era encher sua boca de comida. Não faria mal comprar sorvete para ela, certo? 

— Que tal eu comprar um sorvete pra você, que nem o meu, e aí a gente procura pelo seu pai juntas? — propus, e ela enfim parou de chorar, assentindo imediatamente. Era a mesma coisa que oferecer doce pra formiga.

— Você é uma bruxa boazinha? — assenti tentando passar-lhe confiança e ela ergueu uma mão pequenina para mim. Entrelaçamos nossos dedos e corremos em passos curtos em direção à sorveteria.

Fomos juntas comprar, e ela fez questão de pedir quatro bolas de chocolate com mais calda de chocolate derramada em cima e todos os os biscoitos que viu na frente. Espero que não tenha uma overdose de açúcar, ou será que isso não existe para crianças imortais? Não sei.

— Então, Aeri, diz pra mim qual o nome do seu pai? Vai ser mais fácil encontrá-lo assim.

— O nome dele é papai! — ela respondeu, simplesmente, enquanto se lambuzava toda com o sorvete. 

— Mas como que ele se chama de verdade? — tentei especificar.

— Aeri não sabe! — cruzou os bracinhos, bufando. Nossa, quanta personalidade. — Eu sempre o chamo de papai… 

— Certo — suspirei, tentando manter a calma e pensar em uma alternativa. — Como seu pai é então? A cor do cabelo dele, algo que possa nos ajudar a identificá-lo…?

Ela se empolgou logo, contando nos dedos miúdos tudo que sabia sobre seu pai:

— Meu pai é muuuuuito alto, e tem o cabelo e os olhos igual de Aeri! De noite ele vira um lobo negro muuuuito grande de olhos vermelhos, e as meninas da escolinha dizem que ele é muuuuito lindo, por isso Aeri é muuuuito linda também…

Santa Hécate.

Não podia ser, os boatos tinham sim um fundo de verdade… Será que essa menininha é filha do Sasuke?!

— Espera… Por acaso você é uma Uchiha?? — exclamei escandalizada, não conseguindo acreditar na hipótese de que Sasuke teve uma filha com 15 anos. Acho que minha pressão vai cair aqui mesmo.

— Ohhh, como você sabe o nome de Aeri?

O que ainda restava do meu sorvete caiu no chão.

— ...Eu conheço seu pai.

Sasuke tem uma filha.

Há um caroço dentro da minha garganta e acho que pode ser o meu coração.

Como eu poderia dizer a ela que sabia sim muito bem quem seu pai era, mas que ele era a última pessoa que eu queria ver ali sem expor o quão abalada eu estava por dentro?

Ela é uma criança, pelos deuses, Sakura. 

Eu não posso pensar em mais nada além de retorná-la para onde ela pertence, porque tenho certeza que Sasuke deve estar muito preocupado nesse momento, isso se já não tiver surtado completamente. Melhor fazer isso o mais rápido possível, ou ele pode achar que eu a sequestrei ou algo assim. Droga… Se a filha dele está aqui, a mãe também deve estar.

Quero me jogar em uma cova e nunca mais sair de lá.

Mas primeiro preciso devolvê-la para ele, e só então entrar em um colapso nervoso.

Mando uma mensagem para Ino dizendo que estou com a filha perdida de Sasuke e que irei encontrá-la depois. Ela me envia vários textos com O queeeeeee??? mas não tenho tempo de responder porque a lobisomem-mirim não para de falar sobre seu papai e o quanto ela adora quando ele a leva para passear em sua forma lupina sem que sua vovó soubesse.

Tendo mais ou menos uma ideia de onde ela pode ter vindo, fazemos juntas o trajeto de volta para uma parte mais afastada da faculdade, próximo de onde fica outro dos dormitórios mistos. Aeri foi brincando o caminho inteiro com as flores que fazia desabrochar ao redor de seus pés, não parecendo notar nenhum pouco meu estado de choque.

Eu sempre soube que Sasuke tem o olfato aguçado, e provavelmente estava procurando por sua cria à essas alturas, então não deveria ter me surpreendido quando ele nos encontrou antes que chegássemos.

Ele estava todo suado, os olhos negros ferozes e selvagens, as pupilas dilatadas de uma forma que não era exatamente humana, e todos os músculos do corpo tensos.

Aeri saiu correndo em sua direção, acenando com os punhos pequenos e gorduchos para ele.

Eu fiquei para trás, querendo desviar o olhar, mas estou acorrentada ao momento em que o vejo se ajoelhar até a garotinha, tão parecida e tão linda quanto ele. A perfeita imagem de um reencontro feliz. Só está faltando a mãe do lado dele, para terminar o quadro de família perfeita. 

— Onde você estava, Aeri? — ele ralhou sério com ela, daquele jeito que me deixava intimidada, mas que dessa vez não parecia afetar a menina em nada, pois ela continuava rindo — Não sabe o quão preocupados nós ficamos porque você sumiu? Nunca mais faça isso!

Eu posso sentir o alívio dele no meu peito vazio enquanto meu coração e os outros órgãos do meu corpo parecem estar entrando em colapso geral dentro de mim. Será que se eu for embora sem dizer nada, ele nem vai perceber que eu estive aqui?

Nunca desmaiei na vida, mas não sei quanto mais minha pressão vai aguentar. 

— Poxa, não foi tão ruim assim, Aeri só brincou um pouquinho e tomou sorvete com a bruxa cheirosa…

Tarde demais.

Os olhos negros deles se desviaram para mim em surpresa, como se estivesse notando pela primeira vez que eu estava ali e não acreditasse que seus sentidos não o tivessem avisado. O que era ainda mais chocante, sendo que ele nunca perdia a oportunidade de torcer o nariz mesmo que eu passasse por ele de longe. Ele devia estar se sentindo pior do que aparentava. 

Será que ele estava doente?

— Sakura — seus lábios naturalmente avermelhados estavam pálidos, e ele terminou de perder a pouca cor que restava em seu rosto quando dei um passo inconsciente para perto dele.

— Oi — falei desconfortável, sem ter onde enfiar a cara e querendo sumir dali o mais rápido possível. Nem quando descobri que o cara realmente tinha uma filha, que ainda por cima era extremamente adorável, eu consegui parar de achá-lo atraente.

Eu sou uma pessoa horrível. Tenho certeza disso agora.

Olhando para a menina, e depois para mim, acho que ele finalmente conectou os pontos e chegou a uma conclusão que não gostou, pois se levantou imediatamente. Mesmo que ele parecesse exausto, ainda continuava mais alto e muito maior que eu. E injustamente lindo.

É claro que o mundo é injusto, ou essa tortura não estaria acontecendo logo comigo.

— Porque você estava com ela? — ele perguntou perturbado, como se de repente o mundo não fizesse mais sentido para ele. Ótimo, porque para mim também não fazia. E então pela primeira vez na vida, eu vi como o rosto dele se contorceu em pânico completo. — Aconteceu alguma coisa? O que ela te falou?

— Ah… Eu a encontrei perto da sorveteria, ela estava perdida porque se distraiu com um diabrete. Mas eu a trouxe imediatamente pra cá assim que soube que ela era sua filha, juro! — expliquei rápido antes que ele resolvesse que eu havia roubado sua cria ou algo assim, do jeito que ele parecia à beira de um surto.

Os olhos dele se estreitaram em minha direção, e eu achei que fosse em irritação, mas quando ele abriu a boca de novo, seu tom parecia completamente confuso:

— Do que você está faland…

— Sabia que a tia Sakura é amiga do papai? — a menina nos interrompeu, e só então percebi que Aeri estava agarrada na perna de Sasuke, sorrindo enquanto brincava com uma flor em sua mão. — Aeri gosta da amiga do papai!

Como se fosse possível, ele ficou mais atordoado ainda com o que ela disse por último, seu choque é claramente visível.

Tentei corrigir antes que ele reclamasse que eu estava falando mentiras para a menina. — Espera, eu não disse que era amiga sua, Sasuke. Eu só estava tentando ajudar e….

— De onde você conhece o meu irmão, Sakura? — ele me cortou entredentes, em um misto de impaciência, descrença e indignação. 

— Quê? — exclamei perdida, sem entender mais nada. — Você tem um irmão?

— Quem mais você acha que é o pai dela? — ele rebateu em um tom irônico, olhando-me como se eu tivesse perdido a cabeça de vez.

Oh.

Acho que vou desmaiar de vergonha.

 


Notas Finais


Primeiramente, bem-vindas as leitoras novas! E mil obrigadas pelos comentários incríveis. Não tive tempo de responder porque estava viajando o mês todo, mas li todos eles com muito carinho e queria dizer que fiquei muito feliz com todo o retorno :)

Ainda tem muita coisa para acontecer com esses dois, se preparem hehe! Não esqueçam de favoritar e comentar dizendo o que acharam, pois este é o incentivo de escrever a história ;D

Realmente preciso atualizar Filhos do Pecado da próxima vez e a faculdade vai voltar, então se quiserem leiam ela e minhas outras fics por enquanto :)

Beijos <3


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