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História Imutável Destino - Azul turquesa


Escrita por: Psico_Poetica

Notas do Autor


Autora sua linda, não acredito, você não desistiu da fanfic? Passou três fucking meses e não desistiu? Não, meus amores! Eu não desisti!!! \o/ E não vou, never! Eu vou até o final, tenham fé em mim!
Mas e essa capa divosa, mona? Poooois é pessoas *-* eu ganhei de presente!!! To passando até mal de felicidade. Foi uma leitora muito fofa que fez pra mim, ela tava me ajudando com o capítulo e tudo mais... É muito amor não é? Bom, pessoas lindas que eu amo, eu espero que apreciem o capítulo, não esqueçam de comentar dizendo o que acharam do capítulo, combinado?
Boa leitura <3

Obs.: O capítulo ficou meio longo, espero que não se incomodem <3

Capítulo 28 - Azul turquesa


 

A respiração de Sasuke jazia pesada e seus orbes cor de ônix semicerrados, enquanto sustentava o peso do corpo magro sobre os cotovelos. Os fios lisos, do cabelo escuro, caiam-lhe sobre o rosto, cobrindo parcialmente o olhar provocante. Havia um lençol de tecido leve, jogado sobre suas costas, que objetivava-se em cobrir-lhe da cintura para baixo.

O silêncio, até então predominante no quarto, só foi quebrado por um longo suspiro feminino de prazer. A menina deitada sob Sasuke, possuía as bochechas muito coradas e os lábios apertados em uma expressão de êxtase, enquanto os cabelos ruivos jaziam pregados no tórax, pelo suor.

No momento seguinte, uma brisa suave e ligeiramente gélida, adentrou de repente pela fresta da janela de vidro, arrepiando a pele alva do rapaz.

Estranhamente, aquele toque lhe pareceu familiar..

No instante seguinte, o Uchiha já se afastará apressado, como se um incomodo insuportável se apossasse do seu corpo. Ele fechou apertou olhos, sentando-se sobre o colchão macio e dando as costas à jovem com quem se deitara. Depois passou as mãos, nervosamente, sobre os cabelos negros, arrepiando-os. No mesmo segundo um suspiro discreto escapou-lhe pelos lábios finos e pálidos.

A mulher na cama, balbuciou algo inaudível, ainda absorta nas sensações que percorriam seu corpo, enquanto Sasuke limpava-se com a barra do lençol. Apanhando o isqueiro e o maço de cigarros, na cabeceira da cama, ele retirou um e acendeu-o com um trago comprido, no canto dos lábios.  Aspirou a fumaça lentamente, sentindo-a descer, seca, pela garganta. Depois, ele soprou-a para fora, formando uma nuvem perolada diante de seus olhos.

— Espera, querido... Aonde você vai? — Perguntou a mulher, finalmente desperta, quando Sasuke levantou-se decidido, procurando pela calça jeans — Não vai me deixar aqui sozinha de novo, não é? — Choramingou ela, com a voz manhosa. 

No entanto, o clamor continuou sem uma resposta concreta, ao menos pelos segundos seguintes. O moreno não lhe dirigiu o olhar, em parte porque já se ocupava em vestir-se, sem permitir que o cigarro em seus lábios se apagasse. Como se tivesse atrasado para um importante compromisso, Sasuke cobriu, às pressas, o peitoral nu, com a blusa azul-marinho, franzindo as mangas compridas até os cotovelos. Em seguida, abotoou o cós da calça, apertando o cinto de couro e afivelando-o habilmente. Depois, passou a procurar seus pertences, espalhados no calor do momento, pelo apartamento.

— Fique comigo, Sasuke-kun... Ao menos dessa vez... — Persistiu a ruiva, em vão.

O garoto permaneceu ignorando-a por completo, enquanto seguia, em passos firmes, até o banheiro da suíte. De frente ao espelho, ele fitou sua própria imagem refletida. Os olhos escuros, o fitaram de volta, como se esperasse por um conselho que não viria. Ele molhou o rosto na água corrente da torneira e enquanto se enxugava na toalha branca, ainda pôde ouvir a voz feminina falando-lhe do cômodo ao lado:

— Porque está tão frio comigo? — Questionou a mulher, fazendo com que Sasuke revirasse os olhos, aborrecido.

Ele apressou-se em terminar ali e deixou do cômodo, voltando a assoprar fumaça pelo corredor. Estava decidido a sair, o quanto antes, daquele apartamento e procurar por um bar interessante, ou algo parecido. Havia afinal, um ponto positivo em tudo aquilo... Finalmente estava de volta à Europa, o que lhe era um imenso alívio. Por fim, voltara à Berna, capital da, não tão desagradável, Suíça, onde vivera a maior parte da infância. Não que aquilo significasse que tivesse, realmente, algo contra o Japão... Mas ultimamente, passara muito mais tempo lá, do que gostaria. E estar de volta ao luxuoso continente Europeu, para o rapaz, era uma experiência muito mais interessante que a metódica Ásia.

— Eu estava com saudades, amor... — Disse ela, com um tom de voz doce, quase como se ronronasse como um verdadeiro filhote de gato.

Sasuke conhecera a mulher há pouco menos de dois anos antes de mudar-se para Yokohama, à procura de Hinata. Ficara algum tempo com ela, como casinho de pré-adolescência, mas não fora nada além de diversão. Naquela época, o Uchiha parecia enfrentar uma permanente fase de rebeldia... E quando a ruiva declarou-se para ele, fora a oportunidade ideal, para conseguir todo tipo de favores que lhe interessavam naquela idade.

Embora, percebesse agora, que para ela, aquele relacionamento parecia ter significado bem mais...

— Você desaparece por anos... E agora que volta, está distante assim. O que está acontecendo? — Recomeçou a ruiva em um tom infantil, envolvendo o corpo nu no lençol branco de algodão. Ela engatinhou pela cama e esforçou-se em uma pose apelativamente sensual. No entanto, o moreno sequer, preocupou-se em lhe dar atenção, fazendo com que a garota franzisse as sobrancelhas, indignada. — Você conheceu outra mulher. — Acusou ela, com uma certeza firme na voz arrastada. E recebendo, como resposta, um olhar intimidante, vindo do moreno. — É isso, não é? Quem é ela?

— Não me perturbe, Karin... — Respondeu ríspido, apanhando as chaves sob a mesa de centro.  — Eu tenho mais o que fazer. 

Ela se levantou lentamente da cama, desajeitada pela visão embaçada e apanhando os óculos no criado-mudo, abriu a boca para retrucar... No entanto, decidiu-se por não fazê-lo, quando com um olhar hesitante, visualizou o revólver que o rapaz ajeitava por baixo do cinto no quadril.

Sasuke era imprevisível de mais... E por vezes, era difícil saber o quanto avançar.

Antes que Karin ousasse se aproximar mais, o Uchiha saiu pela porta, sem se despedir e batendo-a com uma força exagerada atrás de si. Desceu as escadarias do apartamento, ainda com o cigarro aceso nos lábios e só deteve os passos apressados, frente a o Volt Opel, de pintura escura e calotas esportivas cromadas, que esperava estacionado do lado de fora do edifício. Adentrando no veículo, ele trancou a porta em um estalo e debruçou-se sobre o volante.

Fechando as orbes negras, ele suspirou longamente, permitindo que a mente se esvaziasse, minimamente, dos pensamentos frustrantes. Repentinamente, o celular vibrou ruidosamente em seu bolso, ecoando uma faixa de Heavy metal dos anos 70, de uma banda pouco conhecida - que possivelmente já nem existia mais. Sasuke levou o aparelho até próximo do ouvido, sem se preocupar em olhar o nome iluminado no identificador de chamadas e atendeu com um murmúrio abafado.

Otouto, tenho um trabalho pra você. — Foi o que a voz de Itachi, no outro lado da linha, proferiu.

— Ok. — Resmungou Sasuke, apagando o cigarro contra o rastro de café no fundo de um copo de isopor, que descansava no banco do passageiro — Chego em vinte minutos.

Ele deu partida no carro elétrico e rapidamente já estava seguindo, em velocidade alta, pela estrada principal. As casas históricas, de arquitetura medieval, aos poucos foram sendo substituídas por arvoredos cada vez mais extensos, até que não fosse possível avistar quase nada da cidade, por trás das montanhas baixas. A certa altura, o Uchiha virou em uma estrada de chão de pedra portuguesa, percorrendo-a em subida, até os portões de aço de uma luxuosa propriedade.

Sasuke parou, frente a um painel digital e esticando o braço para fora da janela do carro prensou as pontas dos dedos na superfície plana. O computador apitou em um ruído discreto, decodificando as digitais e exigiu uma confirmação de voz em seguida. Sasuke murmurou rispidamente algo como: “abra logo essa porcaria”, e o portão obedeceu, deslizando para o lado e permitindo a passagem do carro.

Depois de percorrer mais cerca de 300 metros, pelo extenso perímetro de entrada da propriedade, ele adentrou na garagem da majestosa casa e estacionou em uma vaga livre, ao lado de outros veículos no local. Enquanto se ocupava em soltar o cinto de segurança, ele ouviu o ronco poderoso de uma moto e olhando através vidro escuro do carro, avistou o irmão mais velho sentado sobre o assento de couro da Suzuki Hayabusa, analisando uma série de documentos que Sasuke não conseguiu identificar ao longe.

Com moderado desânimo, ele abandonou o veículo e ativou o alarme, enquanto caminhava até o irmão.

— O que houve? Onde está indo? — Questionou o garoto, cruzando os braços diante do tórax e observando curiosamente o rapaz diante de si.

— Friburgo. Tenho uma negociação pra fazer. — Respondeu Itachi de maneira simplória, voltando a guardar a papelada em uma maleta, que por seguinte, fora colocada dentro de uma mochila.

— Hm... — Murmurou o moreno, arqueando as sobrancelhas de maneira quase imperceptível. Não se lembrava de ter ouvido sobre quaisquer interesses políticos recentes, para que Madara pudesse encaminhar, especialmente, seu irmão para aquilo. — E para que você me chamou aqui?

O Uchiha mais velho não respondeu de imediato, apenas lhe direcionou um olhar profundo, como se avaliasse algo em Sasuke. Sentindo-se incomodado, o garoto enrijeceu os músculos da face em uma careta audaciosa e aguardou que o irmão continuasse. Itachi deixou transparecer um sorriso tênue com a reação do irmão, mas que despareceu segundos em seguida, quando ele voltou a proferir de maneira dura, como se desse uma ordem:

— Você vai ficar com Hinata essa noite.

O garoto permaneceu imóvel, sem piscar, como se esperasse que Itachi desmentisse ou justificasse o que acabara de ser dito.

— Como assim? — Proferiu, franzindo a testa e semicerrando os olhos como se quisesse intimidar o irmão como fizera à Karin.

— Não sei se é possível que eu seja mais específico. — Respondeu o mais velho, com um tom exagerado de paciência. Como Sasuke só retornara-lhe com um ar de irritação, ele prosseguiu: — Nesse momento, Madara-sama está com Hinata... É provável que ela vá precisar de monitoramento, quando voltar ao quarto. Preciso que cuide disso.

— Isso não estava nos planos. — Sasuke levou a mão aos olhos, massageando as pálpebras.

— Agora está.

Aborrecido, ele olhou em volta, constatando desgostoso, que quase todos os veículos pertencentes aos membros da organização jaziam estacionados na garagem. O que significava que não se encontravam ocupados, com afazeres fora da mansão.

— Me recuso a acreditar que não há mais ninguém que possa fazer isso. — Persistiu contrariado, embora sentisse que não surtiria efeito algum, além - é claro - de afundar seu humor.

— Você pode não acreditar, Otouto... Mas isso não muda nada. — Declarou Itachi, de maneira indiferente. E colocando o capacete, girou o punho sobre o guidão da moto, arrancando-lhe mais um rugido, antes de virar-se para o irmão: — Não será tão difícil. É só por uma noite. Estarei de volta pela manhã.

Merda — Bufou para si mesmo, em um murmúrio abafado.

Seria mesmo obrigado a perder uma noite inteira com Hinata, mesmo depois de tantos meses enfurnado num disfarce estúpido, em função dela?

Itachi pareceu não ouvir o xingamento, ou simplesmente preferiu ignorar a atitude do irmão. No entanto, antes de sair, ele ergueu a mão na altura da testa do garoto e tocou-lhe a testa com dois dedos esticados, em um gesto característico.

— Hey, Sasuke — Chamou-lhe a atenção, fitando-o de maneira firme — Tente não fazer nenhuma besteira.

Aquela seria uma promessa difícil de cumprir... Concluiu, enquanto observava o irmão afastar-se velozmente, no veículo possante.                                                          

 

 

...

 

 

 

Hinata tentou acalmar a respiração ofegante, já que se tornara tão ruidosa, que fizera quase impossível de se ouvir alguma outra coisa na sala. Grossas gotas de água, ainda escorriam por seus fios compridos, trilhando o caminho exato de sua espinha e aumentando seus calafrios. Seus músculos doíam, endurecidos pela tensão e ela apertava os dentes com tanta força, que sua mandíbula rangia, dolorida, como se reclamasse da falta de coragem.

Tudo o que conseguia pensar, era que a qualquer momento, a voz implacável de Madara Uchiha, iria lhe atingir novamente... Derrubando qualquer esperança, ou força de vontade, que estivesse tentando reunir.

Nessa espera angustiante, longos segundos se passaram em absoluto silêncio. Nada de passos, murmúrios, nenhum arrastar de cadeiras... Nada que lhe garantisse, que Madara fizera outra coisa, além de encará-la com os olhos malignos, lendo sua alma e desvendando os seus temores. Em meio à ausência completa de ruídos, tudo o que a Hyuuga podia identificar, no breu, eram as algemas que pesavam em seus pulsos, embora ela não atrevesse a se mexer.

Ele estava jogando novamente... Calculou a menina. Torturando-a com aquele maldito suspense...

Repentinamente, como se pudesse ler seus pensamentos, algo atracou-lhe o maxilar, com brutalidade, forçando-lhe a cabeça para cima. Hinata apertou os olhos, deixando um murmúrio de dor escapar pelos lábios rosados, o que deferiu uma dor aguda em sua cabeça. Quando ergueu os braços para afastar a figura que lhe feria, algo lhe agarrou também as mãos, impedindo-a.

— Shhh... Quieta. — Ordenou o Uchiha. E embora seu tom de voz não passasse de um sussurro, a garota obedeceu quase imediatamente, receosa.

O coração de Hinata palpitava descompassado, dentro do peito apertado, como se quisesse saltar pra fora da boca. Ela sentia, com aversão, a mão gélida do homem contrastando com a pele quente de seu rosto. Não podia enxergá-lo, mas sabia que estavam perto de mais... No máximo, arriscaria dizer, que centímetros lhes separavam, pois podia experimentar nitidamente, o hálito dele soprando em seus lábios.

Instintivamente ela se encolheu. Embora não soubesse, exatamente, se por medo ou repulsa.

Aquele homem trazia a tona o pior de si.

Odiava-o pelo que fizera a sua mãe.

Por ter tirado seu pai.

Por ter ceifado a vida de seus amigos, por Kakashi...

E odiava-o por Sasuke...

Madara por sua vez, alheio ao que passava pela mente da garota, cravou intensamente o olhar sob as íris cor de pérola de Hinata, quase hipnotizado. Na primeira vez que vira a Hyuuga daquela maneira, não tivera a oportunidade de admirá-la verdadeiramente, como possuía agora em que finalmente, estava de volta de onde jamais deveria ter saído: do seu lado. A sensação de deleite era incontestável.

Ele sorriu vitorioso.

Eram olhos de uma beleza ímpar, quase surreal.

— Eu lhe presenteio, com olhos como estes... — Murmurou o homem, lentamente e ainda em voz baixa, absorto na cor prateada que irradiava de seu olhar — E você me agradece desperdiçando-os completamente. — Continuou, arqueando as sobrancelhas, como se a considerasse uma afronta pessoal. Em retorno, a menina engoliu em seco, sentindo o ar travar-se em sua garganta. — Que decepção, Hina-chan. — Proferiu, forçando a mão contra a mandíbula da menina e fazendo-a gemer involuntariamente.

— Isso não é um presente... É uma maldição. — O homem surpreendeu-se com a resposta inesperadamente dura. A morena fixara as orbes sobre ele, com insolência e não demonstrara qualquer insegurança, ao pronunciar a frase — Por causa destes... Olhos... Eu perdi a visão. — Persistiu a garota, com a voz abafada e semicerrando as pálpebras em sinal de desafio, embora não soubesse exatamente para onde olhava.

— Você perdeu porque é deploravelmente fraca. — Contrapôs o Uchiha, deixando transparecer, ainda que minimamente, a irritação com a falha de Hinata. Em seguida soltou-lhe o rosto, deixando uma marca vermelha na pele alva da menina, onde antes jaziam seus dedos.

No mesmo segundo a Hyuuga respirou fundo, enchendo os pulmões de ar, temendo que não tivesse outra chance de voltar a fazê-lo. No entanto, não houve muito tempo para alívio, pois ela sentiu, com um arrepio, que Madara pressionava seu corpo contra o dela, eliminando a distancia entre os dois. A morena tropeçou nos próprios pés, enquanto buscava, inutilmente, afastar o Uchiha.

— Mas não se desespere... Não é permanente. Eu não permitiria que fosse. — Seguiu Madara, encarando com prazer, o rubor crescente no rosto da menina e agarrando a jovem Hyuuga pelo braço, com o intuito de inutilizar suas tentativas de mantê-lo longe. — Ainda que seu despreparo lastimável, a tenha causado... Vou reverter o seu erro. — Concluiu, e Hinata não pôde identificar de inicio, apenas pelo tom, se aquela seria uma boa coisa.

...

Reverter...

A palavra ecoou na mente da garota.

Era possível reverter?

...

Se fosse mesmo possível, a menina voltaria a enxergar como antes.

Aquele era um pensamento que deveria lhe trazer algum conforto e alegrá-la... Mas não foi assim que a Hyuuga se sentiu.

Para ela, não havia razão para voltar a ver.

Qual seria a finalidade de ter sua visão de volta, sabendo que nunca mais veria seus amigos e as pessoas que importavam para ela? Provavelmente, tudo o que lhe restaria para ver, naquele lugar horrível, seria sofrimento... Não havia outra utilidade, ao recuperar sua visão, que não, continuar vendo como as coisas que mais amava eram tiradas dela com tanta crueldade.

Ainda, como se não bastasse, Madara ergueu o queixo da jovem com a ponta dos dedos, levando os olhos perolados a pairar sobre si, antes de continuar:

— Eu a quero perfeita, Hinata... Como me é merecido. — Disse ele, a voz sonoramente imperante, enquanto a fitava com os mesmos olhos faiscantes de quando a dominara algumas noites atrás. — E não aceitarei menos que isso.

— Nunca vou ser o que você deseja. — Protestou a menina, agora esforçando-se para manter a voz firme. Porém, perto dele, era muito fácil que acabasse por perder a postura a cada frase — Eu me recuso.

— Querida... — Um sorriso de deboche transpareceu no rosto de Madara, embora suas feições denunciassem a insatisfação com as palavras da garota — Eu não lhe perguntei qual é a sua pretensão.

E dizendo isso, mergulhou a mão na cabeleira escura da menina, prendendo os fios compridos entre seus dedos e passou a guiá-la pela sala. A Hyuuga fechou os olhos, e mordiscou os lábios, tentando distrair a dor. No entanto, quando fez a menção de levar as mãos até o local de pressão em sua cabeça, algo gélido, que ela reconheceu imediatamente como uma lâmina, tocou-lhe de leve a garganta, fazendo com que desistisse da ideia. 

Com a perda da visão, os outros sentidos da garota, pareciam ligeiramente mais apurados. Ela podia sentir, claramente, o fio da lâmina, roçar em sua pele... Assim como a respiração discreta de Madara à sua nuca.  

— Seja gentil e me acompanhe, Hina-chan. — Disse o homem, pressionando a adaga contra o pescoço da jovem. — Não iremos muito além.

Hinata não precisava enxergar, para imaginar onde o Uchiha a estava levando.

Com o raciocínio afetado pelo receio e ansiedade, ela ergueu o braço, balançando-o em um aceno, na tentativa de que, qualquer objeto solto, viesse ao seu encontro e fosse um auxilio para que escapasse. O abajur, na escrivaninha, obedeceu-a de imediato, levitando de maneira fantasmagórica, antes de sair voando em disparada, em sua direção. Pelo canto dos olhos povoados por espirais, Madara observou com desdém, o objeto que rasgava o ar, atirando-se contra si. E segundos antes da colisão, ele simplesmente executou um movimento rápido e discreto com uma das mãos, e o abajur foi jogado bruscamente para trás, por uma corrente de chamas alaranjadas e estilhaçou-se contra a parede.

— Foi uma tentativa válida, minha cara... — A voz de Madara penetrou rouca, em seus ouvidos. — Continue persistindo.

Apesar da latente dor em sua cabeça, a menina forçou-se a memorizar quantos passos Madara a arrastara, até finalmente parar. A lâmina foi retirada de sua garganta, no exato momento em que ela ouviu o destrancar da fechadura. Logo, o homem também soltara-lhe os cabelos e seu corpo foi colocado novamente em movimento, fazendo-a tropeçar na escada de três degraus, antes de alcançar o piso de rocha crua, lá em baixo.

Hinata apalpou o escuro, quase que por instinto, mas não havia nada em que se segurar... Então, inevitavelmente, foi direto ao chão, caindo sobre os joelhos. O som da queda repetiu-se algumas vezes, em eco, pela sala vazia. Enquanto se levantava, ainda pôde ouvir o barulho dos passos de Madara atrás de si e depois um ruído estranho, como o arrastar de pesadas correntes, no lado oposto do local.

— Hinata-sama? — Uma voz razoavelmente fraca, porém familiar, chamou por seu nome, despertando-a imediatamente.

Suas orbes peroladas arregalaram-se, já molhadas de lágrimas, sem que pudesse evitar.

Ela reconheceu de imediato: era a voz dele!

— Ka... Kashi... — Engasgou-se, enquanto caminhava às cegas, procurando pelo tutor.

Dois braços a envolveram calorosamente e de súbito. Hinata sentiu que seu corpo parara de obedecer por alguns segundos, devido ao choque, mas logo que retomou o controle, abraçou-o de volta de maneira quase desesperada. O contato desajeitado da menina arrancou-lhe um gemido abafado, mas estava tão feliz por tê-la de volta em seus braços, que a dor de seus ferimentos pareceu apenas mais um detalhe.  

— Kakashi-kun! Graças a Deus! — Murmurou a menina, fechando os olhos e afundando as mãos nas vestes do rapaz, como se quisesse segurá-lo para que nunca mais fosse embora — É você de verdade, não é?

Mas o destino parecia discordar da vontade da menina.

Antes mesmo que o grisalho pudesse lhe responder, seu corpo frágil foi arrastado para trás, de maneira brutal e sem qualquer consideração. Madara agarrara-lhe a blusa escura e a erguera em um empuxo, separando-a do Hatake. Suas costas bateram contra o abdômen rígido do Uchiha, e antes que pudesse agir, ela se viu rodeada pelos braços dele. A menina ainda tentou soltar-se, mas se debater em vão, contra aquele homem, só serviu para que ela se sentisse ainda mais incapaz.

— Não se precipite, Hina-chan... — Preveniu ironicamente, a voz melodiosa do homem, ao mesmo tempo um sorriso de escarnio surgia-lhe no canto dos lábios — Tudo a seu tempo.

— Hinata-sama! — Bradou a voz de Kakashi, mergulhada em angustia, fazendo com que o estômago da garota desse uma volta completa.

No entanto, algo fez com que Hinata voltasse sua atenção, quase instantaneamente, para si mesma.

Havia algo errado...

Suas mãos...

Elas estavam... Molhadas?

A menina constatou, com um calafrio, que algo úmido escorria por entre seus dedos... Algo que ela identificou, pelo aroma, com uma agulhada de pavor.

— Kakashi... Isso é... Sangue? — A voz da garota saiu em um sussurro quase inaudível. Ela ergueu os olhos, como se esperasse enxergar a mancha rubra que provavelmente encharcava-lhe a pele alva das palmas — Por que ele está sangrando? Está ferido? — Balbuciou, em tom mórbido. Depois, com os olhos arregalados, sentiu que uma fúria crescente, arranhava-lhe a garganta, antes de prosseguir: — Me prometeu que não faria mal a ele!

— A promessa foi de que Kakashi estaria vivo... E, aparentemente, estou cumprindo com a minha palavra. — Respondeu o homem e sua voz soou jocosa, o que fez com que Hinata se amaldiçoasse por acreditar que o tutor estaria minimamente seguro naquele lugar.

Ela ouviu o rumor da voz do Hatake iniciar uma frase, mas antes que pudesse concluir a primeira palavra, fora interrompido por uma onda inesperada de tosse molhada. Demorou algum tempo até que o grisalho parecesse recuperar novamente o fôlego, período em que o coração da jovem Hyuuga se estreitou temeroso. Uma mescla de exaltação e agonia parecia tomar, pouco a pouco, os sentidos que ainda lhe restavam, deixando Hinata entregue à escuridão. Seus olhos ardiam intensamente, como se, de modo repentino, houvesse saído ao sol depois de muitas noites em claro.  

— Por favor, solte ele! — Exasperou a Hyuuga. — Ele precisa de um médico!

— Um médico? — A risada maldosa do Uchiha soou baixa e singela como um suspiro — Ah, é verdade... — Hinata travou o corpo, institivamente, quando sentiu os longos cabelos arrepiados do homem, roçarem em seu rosto, de maneira repentina. Madara debruçara-se sobre seu ombro, esbarrando os lábios, onde jazia costurado um sorriso malicioso, no lóbulo de sua orelha — Você ainda não conhece muito à meu respeito não é, Hina-chan? Quanta grosseria a minha, não me apresentar formalmente...

Em um movimento hábil, o homem escorregou o braço que aprisionava Hinata, até a cintura fina da garota e girou-lhe o corpo, colocando-a novamente frente à ele. Então, curvou-se em uma reverência cordial e com uma suavidade que não combinava em nada com ele, o Uchiha levou a mão da garota aos lábios e depositou um beijo demorado sobre o dorso, enquanto a encarava com um ardor impetuoso nas íris arroxeadas.

— Vamos fazer da maneira correta, de acordo? Madara Uchiha, ao seu dispor, minha cara. — Gracejou ele, e em resposta, a Hyuuga puxou a mão enojada, arrancando uma expressão de desprazer de Madara. Ele ergueu a cabeça lentamente, fitando os olhos parados da menina por algum tempo, antes de continuar: — Seu pai e eu nos formamos em Arqueologia, em Harvard, depois em Biologia Evolutiva Humana, há alguns anos. Mas recentemente eu me interessei por outra área em particular, e me consagrei pela Universidade de Kyoto, em medicina... — E com o último dizer, os olhos de Hinata se arregalaram delatando a surpresa, o que devolveu o sorriso cínico ao Uchiha — Se é essa sua reivindicação, garanto que sou atencioso com meus pacientes e estou cuidando pessoalmente da saúde de Kakashi.

— Como? — Balbuciou a menina. Sua voz era baixa, e a pergunta parecia dirigida mais a si mesma, que ao homem à sua frente. Ela não continuou com palavras, mas seus pensamentos completaram, por si mesmos: Como era possível, que um monstro como Madara... Alguém que não possuía o menor pudor, em tirar uma vida... Fosse graduado em uma profissão cujo objetivo principal, era, justamente, cuidar de pessoas? ... Chegava a ser impressionante, a capacidade daquele homem em ser cético. — Por quê? — Reformulou ela, de maneira automática.

— Além do status social da profissão, digamos que é como um hobby... — Esclareceu ele, compreendendo com rapidez, a real fonte de dúvida da menina. — Tenho um interesse, especial, na dinâmica corporal... — Acrescentou o Uchiha, sem se prolongar no assunto. — No entanto, por mais que eu tenha explorado as fraquezas e limites do corpo humano, não só em uma, mas em duas formações... Ainda não possuo instrumentos especializados, para lidar com casos como o seu, por exemplo. E isso me foi frustrante, nos primeiros momentos, devo admitir. — Pronunciou o homem, e o ódio explícito na voz mansa, minguou o fôlego da Hyuuga.

Talvez, provocá-lo antes, houvesse sido um grande erro... Raciocinou a menina. Madara era um homem imprevisível, afinal. Ela teria que encontrar logo uma maneira de sair daquele lugar com Kakashi, antes que algo irremediável acontecesse. Afinal, eram dois contra um... Ao menos daquela vez, ainda que com desvantagens significantes, as chances pareciam estar ao seu favor.

— Honestamente, a minha tolerância quanto ao que foge do meu controle, é muito pequena. — O homem deu seguimento, com um abrupto tom de calmaria — E estar com você tem sido uma surpresa à parte, Hina-chan. — E embora a raiva do Uchiha estivesse supostamente sob domínio, Hinata teve certeza de que aquilo, decididamente, não seria sinônimo de boas notícias — Às vezes agradável, como quando a olho e vejo exatamente o que desejo saber: seu potencial, perspectivas, possibilidades... E algumas vezes não. — E o dizendo, ergueu a mão e tocou o rosto da Hyuuga em uma carícia fria, que a deixou sem reação — Como agora, em que é quase possível tocar seu patético desespero...

— Solte-a, seu maldito — Rosnou a voz fraca e diminuta de Kakashi. — Tire suas mãos sujas dela!

Madara moveu apenas os olhos, na direção do grisalho, como se testasse a dimensão de sua audácia. Umedecendo os lábios com a ponta da língua, ele sorriu novamente, ainda com a ponta dos dedos sobre a bochecha corada da jovem, que parecia sofrer em um conflito interno, sem saber se faria melhor em tentar algo, ou se permaneceria passiva, para que uma atitude impulsiva não acabasse ocasionando alguma punição maior à Kakashi... Se estava ali com o Uchiha, já significava que nada de bom ocorreria ao grisalho.

— Ah sim, quase me esqueci da sua presença, Kakashi-kun. — Declarou o Uchiha, com um brilho sádico nos olhos lilases — Que tolice a minha... Afinal, foi por sua causa que eu trouxe Hinata até aqui. — Continuou ele, de maneira exageradamente polida — Como eu dizia, é fácil ver através de você, querida. No entanto, inesperadamente... Sua cegueira me foi um enigma. Logo, pensei que Kakashi poderia nos auxiliar com isso, já que ele a conhece melhor que ninguém...

— Cegueira? Hinata está... — Kakashi começou em um murmúrio, com os olhos arregalados. Finalmente o Hatake compreendera a razão de Hinata mover os olhos, incessantemente, pelos cantos do cômodo, em uma busca visivelmente confusa. — Deus! O que fizeram com ela?

— O que fizemos? Não, meu caro... O que você fez a ela durante todo esse tempo? Hinata tem o emocional de uma criança de cinco anos e o psicológico completamente desestruturado... — Enunciou Madara, agora inteiramente voltado ao Hatake — Em que você a transformou?

— Você é quem vem me falar do psicológico dela? Seu desgraçado! Ela nunca teve um minuto de paz na vida, por sua causa! — Vociferou Kakashi, e por razão do esforço, uma dor intensa irradiou do ferimento em seu abdômen e ele foi forçado a voltar a baixar a voz antes de continuar: — Eu nunca a transformei em nada. Hinata é quem é. — Continuou, e apesar da respiração pesada, dessa vez a voz soara de maneira mais mansa. Hinata arregalou as orbes, surpresa com o tutor, não apenas por aquelas palavras, mas principalmente pelas que vieram a seguir:  — A essência dela é pura e boa... Nem você, conseguiria mudar algo assim!

— Ah, que doçura... — A voz de Madara Uchiha ecoou exageradamente afável, o que causou um péssimo pressentimento em Hinata. — Realmente muito emocionante. — Murmurou, e o tom gentil veio acompanhado de um ruído oco, que arrepiou cada fio da nuca da jovem Hyuuga.

No instante seguinte, o urro angustiante de Kakashi inundou a sala.

— É perfeitamente compreensível agora, a postura utópica de Hinata. — Ponderou Madara, voltando a golpear o rapaz, que agora jazia estirado ao chão, com um chute. O Hatake curvou os braços sobre o tórax fraturado, enquanto um filete grosso de saliva lhe escorria pelo queixo. Para o Uchiha, não era exatamente agradável, ter que sujar as mãos com homens como aquele, mas o clamor aflito da jovem atrás de si parecia renovar sua disposição a fazê-lo.  — Mas não se preocupe... Cuidarei para que isso mude e ela volte à realidade.

Contraindo-se dolorosamente, o coração de Hinata pareceu parar de bater de brusquidão, pelo tempo que se seguiu. Suas mãos, ainda manchadas de sangue, tremiam em espasmos curtos e involuntários, enquanto ela arfava, estática. Seu corpo enrijecera como concreto.

Aquela cena...

Fora assim com Lee...

Um grito de dor...

E o perdera.

— KAKASHI! — Bradou a Hyuuga, libertando-se de sobressalto da inércia — Não! Por favor!

— Tínhamos um acordo... — Disse o moreno, abafando as palavras ao voltar a acertar Kakashi com brutalidade. Ele afundou a bota, sem piedade, nas costelas do Hatake, punindo-o pela ousadia de tentar se colocar de pé outra vez. Os olhos amendoados do rapaz esbugalharam-se quando osso frágil estalou, e a sala foi tomada novamente pelo uivo dolente do grisalho. Hinata grunhiu, com a voz trêmula e os lábios do Uchiha se repuxaram em um sorriso de canto, antes que completasse: — A vida dele, pela sua submissão.

Se algo a incomodava, amargamente, desde que tomara a consciência de estar dentro da Akatsuki, era o fato de que baixara a cabeça e aceitara cada imposição que lhe fora feita. Já temia pela segurança de Kakashi e Sakura, antes mesmo que lhe fossem usados como ameaça. E mesmo com a dignidade ao chão, àquele homem era capaz de acusá-la com tamanha injustiça... Como Madara podia jogar tão baixo contra ela?

— Ele está ferido! — Tentou argumentar, a Hyuuga, já exaltada, enquanto se atirava em passos desesperados pelo cômodo. Ela podia escutar, agoniada, a cada golpe, cada gemido falhado de Kakashi, cada gota de ira nas palavras refinadas de Madara... Qual era o maldito tamanho daquela sala? Por que não os alcançava? — Por favor, pare!

Com uma grande dose de culpa entalada na garganta, o grisalho fechou os olhos e seus lábios finos se mexeram balbuciando em tom baixo:

— Desculpe, Hinata-sama...

Sem forças para reagir, restava à Kakashi permanecer no chão, encolhido e imóvel, com o braço curvado sobre o tronco, na tentativa de estancar ferimento, enquanto se amaldiçoava mentalmente por falhar de maneira tão miserável. Por mais que quisesse, não conseguia se levantar ou evitar os ataques. Seu corpo, fraturado e exausto, se recusava a obedecê-lo. Não se alimentara há dias e a dor em seu tórax era insuportável. Na verdade, se não perdera a consciência até então, considerava-o um milagre.

— Você me traiu, Hina-chan. — A perversidade nas palavras do Uchiha, era quase palpável. Suas íris cintilavam de prazer, diante das faíscas azuis que tramitavam pelas mãos da Hyuuga e enrolavam-se braço a cima, como serpentes de gelo. Era exatamente como imaginara... Concluiu Madara. Kakashi era a ferramenta perfeita para controlá-la. — Como espera que eu honre com a minha parte?

Uma dor aguda irradiava detrás dos olhos claros da garota, profundamente dentro de sua cabeça, nublando seu raciocínio e impedindo-a de pensar com clareza. O suor frio escorria por sua testa, colando a franja farta à pele, enquanto os joelhos fraquejavam devido ao nervosismo. As palmas de suas mãos e as solas de seus pés ardiam e queimavam, quase como se o chão frio de rocha, estivesse, na realidade, tomado por chamas.

— Eu n-não... — A garota ainda tentou contestar, mas suas palavras foram sobrepujadas novamente, por mais gritos de dor... Embora, estes, se tornassem cada vez mais fracos. Os olhos claros já estavam arregalados e molhados de lágrimas quando ela implorou mais uma vez, tateando o breu: — POR DEUS, PARE! — Sua voz soou em uma mescla de pânico e raiva.

Com uma pontada dolorida, a morena cerrou os olhos com força, e quando voltou a abri-los, a silhueta de Madara transpareceu pouco à diante. Ela arfou, alarmada, quando reconheceu que o Uchiha parecia se preparar para ferir o Hatake novamente.

Não... Exasperou-lhe uma voz interna. Kakashi... Não aguentaria por muito mais.

— PARE! Vai matá-lo!

Bastou um impulso firme, no chão de pedra, para que o corpo de Hinata os alcançasse rapidamente, apesar da distância. Com as mãos espalmadas, presas lado à lado pelas algemas, ela avançou contra Madara com os olhos acesos em ferocidade. Todo seu corpo tremia em silêncio, tanto de pavor quanto de fúria.

Não iria perder Kakashi como perdera todos os outros.

Não iria abrir mão de mais ninguém.

Os olhos em espirais seguiram os movimentos da jovem, e com velocidade superior, o homem desviou-se do ataque sem quaisquer problemas. Irada pela tentativa falha, a Hyuuga girou o corpo, erguendo a perna e emendando um golpe com o calcanhar. No entanto, antes que pudesse acertá-lo, os dedos habilidosos do moreno agarraram-lhe o tornozelo de maneira firme.

A visão de Hinata permanecia ligeiramente embaçada, como se olhasse através de uma janela com muitas camadas grossas de poeira, mas a simples sombra de um sorriso sádico, no rosto turvo de Madara, era mais que suficiente para despertar toda raiva que tentara reprimir desde que chegara ali.

— Sua mira já foi mais precisa, Hina-chan. — Sussurrou-lhe a voz grave, enquanto ela encarava os olhos frios do Uchiha. — Está longe de ser o suficiente.

Como em resposta, a menina jogou o corpo para trás, um movimento rápido, e posicionou as mãos no chão apoiando-se sobre elas. Então, arqueou a perna livre e tentou golpeá-lo novamente. Porém, imediatamente, como um espelho, o mais velho barrou o chute com o antebraço, embora, por fim, acabara soltando-a para fazê-lo. Com a oportunidade, Hinata usou o próprio peso em uma acrobacia, tomando uma distância razoável do Uchiha. Rapidamente ela levantou-se, ofegante, e encarou o brilho acinzentado dos olhos de Madara com ódio. Pela primeira vez, a sensação de ardência despareceu de suas mãos e foi prontamente substituída pela sensação suave, de um frescor agradável, semelhante ao que vivenciara entrando na cachoeira.

O frio se transferiu das palmas trêmulas de Hinata, tomando forma enquanto subia pelo ar, desenhando-se em grandes chamas cor de turquesa, que evolviam-lhe desde as pontas dos dedos até o final do pulso. Os cabelos negros da Hyuuga agitaram-se, quase como em uma tempestade, embora nenhuma brisa cruzasse aquele local. Rapidamente ela já avançara de volta contra o homem, erguendo os punhos fechados e atacando-o.

No entanto, por mais vigor que concentrasse, ela seguia errando os golpes de maneira consecutiva, - não porque não estivessem sendo efetivos o bastante, mas sim porque o Uchiha parecia se esquivar de todos com uma inacreditável destreza. Seu corpo se movia tão rápido, que ainda que a morena estivesse prestes a acertá-lo, ele se evadia e a impossibilitava de fazê-lo. Aliás, ele não parecia sequer preocupado, com o fato de que Hinata estava realmente determinada a feri-lo.

— Pare de brincar comigo! — Rosnou ela, após golpear a esmo, voltando a errá-lo por pouco.

— Quanta agressividade, querida. Só estou tentando encorajá-la. — Respondeu-lhe o homem, de maneira branda, fitando-a com o olhar carregado de uma ambiciosa expectativa. — Sei que pode fazer melhor que isso.

A menina franziu a testa irritada e apertou os punhos com tanta força que as unhas quase adentraram na pele fina de sua palma. A raiva que sentia parecia correr seus pensamentos, dificultando sua reflexão sobre as prováveis consequências das atitudes que tomara. Ela só queria calar o eco infernal dos gritos de seus amigos e do sofrimento de Kakashi, causados por aquele homem horrível.

O Uchiha por sua vez, parecia alheio à fúria da garota, ao admirar a luz azulada das chamas, que refletiam nos olhos claros da Hyuuga e ressaltavam a delicada palidez de seu rosto.

 Finalmente.

Aquele sim, é que era seu verdadeiro prêmio... E já era hora de ser recompensado.  

De modo a confirmar, ainda que involuntariamente, as expectativas de Madara, Hinata concentrou a energia nas solas dos pés da melhor maneira que pôde e disparou contra o mais velho com grande velocidade. Apesar da visão desfocada, ao se aproximar para atacá-lo, a jovem identificou, com horror, uma mancha escarlate em um lado da face do Uchiha. O fluído vermelho-vivo, escorria, ainda fresco, como tinta em um tela em branco.

Mas Madara não estava sangrando...

Hinata não o fizera um arranhão, sequer.

O sangue era de Kakashi...  Aquele demônio o havia ferido tanto assim?

Em questão de segundos, o fogo azul alastrou-se para o restante do corpo da morena, tomando-a por completo. O contorno da íris se tornou tênue em meio à luz perolada que esvaia de seus olhos. No instante seguinte Hinata ergueu as mãos algemadas e com um gesto curto, liberou uma onda de energia que avançou diretamente rumo à Madara. A Hyuuga acompanhou quando o homem tentou se defender cruzando os braços na frente do rosto, como se o passado se refizesse diante dela, mas o ataque o acertou em cheio ainda assim. Rastros profundos cravaram-se no chão, no local onde seu corpo foi empurrado para trás, levantando uma nuvem de poeira densa.

Os olhos da morena arregalaram-se, vidrados, ao mesmo tempo em que queimavam incomodamente. As vistas embaçadas a obrigavam a se esforçar para manter o mínimo de nitidez na visão. Já não conseguia fechar os olhos e sua respiração picada deixava explicito o desequilíbrio interno da menina. A energia que fluía de si, uivava em seus ouvidos, abafando os demais ruídos em seu entorno.

Porém, um som pareceu quebrar essa barreira, adentrando profundamente em seus tímpanos.

Ele estava rindo...

— É muita presunção sua, acreditar que me apanharia duas vezes com a mesma jogada. — Os olhos lilases de Madara transpareceram por entre os fios negros que lhe caiam sobre o rosto. Os braços, que permaneciam protegendo-lhe o rosto, irradiavam uma aura muito semelhante à energia de Hinata, exceto pela discreta cor avermelhada que acobertava-lhe os membros. — Sinto dizer, que você é muito previsível, Hina-chan.

A Hyuuga cerrou os dentes, deixando escapar um murmúrio de frustração. O Uchiha parecia intacto. O máximo que aparentava ter conseguido com aquela ofensiva, fora afastá-lo alguns poucos metros e empoeirar suas roupas. Ao menos, com as marcas no solo, a menina soube que àquele não fora um ataque sutil... Então como Madara o parara com tanta facilidade?

— Não fique tão impressionada. Você não teve verdadeiros oponentes, até agora. Naruto e Jiraiya, por exemplo, são tão fracos quanto covardes... Sasori não resistiu aos impulsos, Hidan foi cegado pela arrogância, Deidara estava alienado e as habilidades de Itachi comprometidas... — Proferiu o homem, concertando a postura. Ele deslizou os dedos sobre o cabelo arrepiado, jogando-os para trás e falou com altivez: — Ninguém ainda havia lhe confrontado de igual para igual.

Ignorando a fala do homem, Hinata executou o mesmo movimento e voltou a lançar uma torrente luminosa contra o Uchiha. Esse, por sua vez, ergueu a mão, que jazia envolta em uma espécie de luva de fogo, e fechou-a sobre o a áurea azul, fazendo com que se quebrasse como vidro. Esse cenário se reproduziu pelas vezes seguintes em que a garota repetira e repetira o mesmo ataque, embora não surtisse efeito algum.

Furiosa pelas vãs tentativas, ela lançou-se na direção do moreno, para atingi-lo com as próprias mãos. Os olhos em espiral ziguezagueavam perdidos, buscando acompanhar a velocidade de Hinata. Ela sabia que podia acertá-lo. Madara não era rápido o bastante para segui-la. Com os dedos esticados, ela aproximou-se o máximo possível e investiu contra ele, com todo o ardor que conseguiu reunir.

A visão desfocada tornou-se completamente nítida a tempo de ver o Uchiha mover-se minimamente para o lado, evadindo-se da investida. O golpe passou a milímetros de seu rosto, e antes que a garota pudesse tomar consciência do erro, ele agarrou-a pelo pulso com firmeza. Hinata gritou pela agonia de ter a pele queimada pelas chamas, e a luz turquesa que lhe cobria, deixou-a rapidamente, como se nunca tivesse existido.

— É intrigante... Que o seu ponto fraco, seja também a fonte da sua força. — Disse ele, levando a mão livre à face da garota, enquanto percorria o contorno de suas feições com os olhos, examinando-a como à uma vitrine. Hinata cravou o olhar sobre ele, com o rosto deformado pela dor, e arrancou-lhe uma expressão de contentamento — Enfim... Aparentemente, nosso objetivo aqui está cumprido... Apesar da sua péssima pontaria, percebo que já pode me ver.

As chamas de Madara se extinguiram suavemente, deixando visível a profunda marca no braço da morena, e só então Hinata conseguiu fôlego o suficiente pra balbuciar:

— O q-que... você f-fez... c-comigo?

— Eu libertei você. — Declarou. E embora estivessem falando de situações diferentes, a Hyuuga entendeu do que se tratava a sua suposta liberdade — Alforriei-a dos seus limites. Agora pode ser quem realmente é.

— Eu não sou isso... — Objetou ela, com a voz arrastada e anêmica, sentindo os músculos tremerem pela dor palpitante em seu pulso — Eu não sou como voc...

Hinata não pôde concluir a frase, pois estremeceu, quando de súbito, os lábios do Uchiha se colocaram sobre os seus, abafando suas palavras. Seu corpo congelou de imediato, e a menina viu-se completamente estática, com a boca entreaberta e os olhos perolados arregalados, enquanto lágrimas grossas e cristalinas rolavam por suas bochechas. Uma das mãos do homem desceu-lhe até a cintura, apertando-a com possessividade, enquanto, com a outra, ele ocupava-se em mergulhar os dedos nos fios compridos e lisos do cabelo da morena.  

A maneira como ele a beijava, agressivamente, quase como se quisesse machucá-la, deveria fazer com que seu corpo o repelisse... Mas não fazia. O sabor dele era... Inesperadamente doce. Ela queria se soltar, correr para longe e repudiar as marcas que estava deixando em sua pele, mas se viu obrigada a esforçar-se para não agir justamente de maneira contrária e se entregar a ele.

O rosto do Uchiha estava colado ao seu de tal maneira, que a Hyuuga pôde sentir quando o sangue de Kakashi, que vira á pouco em Madara, manchou-lhe a bochecha. Estava suja... Com o sangue do homem que mais amava... E mais do que isso, ela estava beijando quem o havia ferido. O Hatake estava caído... Machucado ao ponto de não conseguir, sequer, levantar-se... E ela estava nos braços da pessoa que lhe causara tanta dor... Que tirara seu pai e seus amigos... Que fizera tanto mal à sua mãe...

A Hyuuga sentiu uma dor aguda no coração apertado, quando um calafrio lhe percorreu o estômago e ela teve uma abrupta vontade de gritar e chorar como criança. Sentia-se nauseada e um nó tão grande se formara em sua garganta, que respirar havia se tornado uma tarefa difícil. O que estava acontecendo? Por que não conseguia rejeitá-lo? Sua energia estava tão voltada a não corresponder-lhe o beijo, que parecia não restar forças para afastá-lo.

Quando ele se afastou, por fim, Hinata estava sem fôlego e seus olhos perolados jaziam fixos no teto baixo do local. Lágrimas escorriam pesadas, por sua face e pingavam-lhe pelo queixo. O Uchiha se abaixou e descansou, afetuosamente, uma das mãos sobre o ombro da Hyuuga antes de afastar uma mecha espeça do cabelo úmido e aproximar os lábios de seu ouvido.

— Você não recuou. — Sussurrou a voz aveludada de Madara, enquanto um sorriso malicioso desenhava-se em sua boca.

A menina soluçou, levando as mãos ao peito e apertando o tecido fino da blusa entre os dedos. Ela fechou os olhos, derramando mais lágrimas e encolheu-se, inundada de sentimentos torturantes.

— Por quê? — Perguntou ela, de maneira honesta, em um murmúrio quase sem fala.

— Porque seu corpo sabe a quem pertence. — Declarou, e então a encarou, com um olhar cruel e faminto, como se a amargura de Hinata o nutrisse verdadeiramente.

— Você... é... doente. — Balbuciou a morena, de maneira hesitante. Ela não estava apaixonada... Tinha horror a ele. Ser beijada por ele não havia sido prazeroso... Fora um tormento. Seu corpo não pertencia aquele homem desumano. Nada pertencia a ele... E Hinata precisava se lembrar disso, então ela ergueu o olhar vacilante a ele e recomeçou: — Tudo o que eu sinto por você é noj...

Madara atracou a mão na garganta da Hyuuga, interrompendo-a de brusco. O ar travou-se em seus pulmões e a dor em seu pescoço era intensa. Não conseguia respirar. Naquele momento, com uma piada irônica do destino, a última coisa que a garota - que acabara de recuperar a visão - foi capaz de ver, constituiu-se na expressão de ódio no rosto do Uchiha, antes que sua cabeça fosse batida com força contra a parede às suas costas, levando-a a perder a consciência.

— Admiro sua sensatez em preferir não concluir a frase, Hina-chan. — Disse o Uchiha, embora não houvesse mais ninguém para ouvir.

 

 

...

 

 

Sasuke passara a última meia hora em um longo banho de chuveiro e tanto seu estado psicológico, como seus músculos estavam - finalmente - relaxados. Enquanto seguia pelo corredor, seus dedos deslizavam sobre a tela plana do Smartphone, buscando algo que atraísse sua atenção - ainda que momentaneamente. Mas, além do escândalo político mais recente, não havia nenhuma outra novidade.

Ele puxou a barra de notificações com a ponta do polegar e constatou satisfeito, que o download de álbuns de hard rock que fizera, estava concluído. Pelo menos teria outra opção, que não, escutar Hinata a noite toda. Ao se aproximar do seu destino, uma presença familiar, chamou-lhe a atenção. Por instinto, ele ergueu os olhos do aparelho celular, para a figura posta frente à porta eletrônica e a encarou.

— Está atrasado. — Repreendeu-lhe Deidara, assim que Sasuke aproximou-se. O moreno sequer deu-se ao trabalho de respondê-lo. O que algumas horas de atraso significavam, afinal? Teria de passar a madrugada acordado, em uma tarefa ridícula... Merecia o tempo que gastara para se preparar para tal. — Hinata já está no quarto. — Declarou o rapaz, antes mesmo que o moreno precisasse, realmente, lhe perguntar algo. Os olhos de Sasuke eram, irritantemente parecidos com os de Itachi, o que diminuía - em muito - a vontade do loiro em prolongar aquela conversa — Acabei de lhe aplicar um sedativo... Então imagino que ela não vá te dar trabalho.

— Ótimo. — Murmurou ríspido, quando a tranca destravou-se com um tinido musical discreto.

— Se possível... — Recomeçou Deidara, voltando a atrair a atenção do jovem Uchiha — Tente não perturbar de mais a garota... Ela não está em um de seus melhores dias.  

— Tsc... Que pena. — Proferiu ele, em tom de zombaria, enquanto lançava um olhar arrogante ao loiro, por cima do ombro. — Estou comovido.

Deidara franziu o cenho e suspirou, ligeiramente aborrecido, enquanto observava o moreno adentrar no cômodo escuro à sua frente. Estava errado ao comparar aquele garoto à Itachi...

Sasuke era ainda mais desagradável.

 

...

 

A porta se fechou com um estalo, às costas do Uchiha.

Ele esperava que aquilo fosse suficiente, para alertar Hinata de sua presença.

Mas não houve qualquer manifestação de que surtira o efeito desejado.

Logo de início, o garoto estanhou o fato de que, grande parte das luzes do quarto ,estavam apagadas. Havia somente uma claridade escassa, no fundo do aposento, gerada pela lâmpada do banheiro. Ignorando o fato, ele prosseguiu até o centro do quarto, em passos firmes. Recusando-se a olhar para os lados, ele se atirou - impaciente - na cadeira de madeira e curvou-se sobre a mesa de metal frio à sua frente, entrelaçando os dedos e descansando o queixo sobre as costas das mãos.

Só então, ele direcionou um olhar relutante, para a cama onde descansava a única outra pessoa naquele quarto.

Hinata se encontrava alguns metros à frente, sentada e meio encolhida sob os joelhos dobrados. Sua cabeça pendia escorada na parede de concreto e ela conservava-se tão imóvel, que se os olhos cor de pérolas não estivessem - visivelmente - abertos, se poderia facilmente pensar que estivesse dormindo. As madeixas negras cobriam-lhe parte do rosto pálido, escorregando, ainda levemente úmidas, pela curva delicada de seu pescoço. E as mãos frágeis descansavam em seu colo, unidas como em uma oração.

Ainda que ela permanecesse consciente, o olhar parado da menina, irradiava uma sensação estranha... De ausência.

Como se não houvesse ninguém ali.

Como se fosse apenas um corpo abandonado naquela cama. Vazio e sem alma.

Mas o julgamento superficial de Sasuke não se ocupou em pensar sobre a ocorrência, já que estava suficientemente preocupado, em contar os minutos, aguardando para ouvir a voz infantil e irritante da menina. Com certeza ela iria chamar seu nome, a qualquer momento... - Pensara ele -  Com o adicional daquele sufixo estúpido: “kun”, que tanto lhe irritava. Como um maldito gravador, repetindo sempre a mesma coisa. Sabia que a garota não iria se conter por muito tempo. Provavelmente ela o encheria de perguntas, como fizera na ultima vez que a vira.

 

“Que tipo de príncipe encantado é você, Sasuke-kun?”. Ela perguntaria.

 

“Por que você é tão mal, Sasuke-kun?”

 

“Como você pôde trair os meus sentimentos imaginários, de pré-adolescentezinha sem sal, Sasuke-kun?”

 

E todo aquele discursinho chato, para o qual, ele não estava com a mínima paciência. 

Bastava esperar... Hinata, absolutamente o perturbaria com algo semelhante. Podia calcular nos dedos, os segundos, até que isso acontecesse.

No entanto... Apesar da crença do moreno, a Hyuuga não demonstrara qualquer sinal, de que tivesse realmente, notado a presença do Uchiha na sala. As íris cor de lua, permaneciam fixas em um ponto vazio do quarto e não fizeram qualquer esforço para encará-lo. Na verdade, a menina não se movera nem um milímetro, nem mesmo antes, com a entrada barulhenta do rapaz. Sequer piscara e parecia nem respirar, tamanha era sua indiferença para com o mundo externo. y

O rapaz estalou a língua em deboche, desviando os olhos cor de ônix.

Logo ela tentaria chamar sua atenção de alguma maneira, não tinha qualquer dúvida. 

Era apenas questão de tempo.

E com esse pensamento, ele encaixou o par de fones nos ouvidos e aumentou o volume do celular ao máximo. Com um suspiro, ele deixou que, o som harmonioso dos solos de guitarra, o ajudasse a ignorar - tanto quanto possível - o incomodo que sentia por estar ali. Então, Sasuke fechou os olhos, tentando se concentrar apenas na música.

Claro que aquilo não representava nenhuma dificuldade para ele. Aliás, nada ali lhe representava alguma dificuldade.

Hinata, por exemplo, não ia lhe causar problema algum.

Primeiramente porque estava dopada... Refletiu ele.  Mas não pôde concluir o pensamento, pois com um estalo de consciência, descobriu-se desconfortável. Percebera que aquele, fora o único momento, em que pensara seriamente sobre o fato. Afinal... Por qual razão Hinata estava dopada? Será que duvidavam tanto de sua capacidade, a ponto de pensar que só conseguiria passar algum tempo com ela, se ela estivesse fisicamente em desvantagem? Ou Deidara falava a verdade, quando disse do estado emocional da Hyuuga? Hinata estaria tão mal assim?

A faixa mudou e uma música diferente invadiu os ouvidos do Uchiha. Porém, daquela vez, não fora o suficiente para distraí-lo por completo. Talvez fora um erro, se manter relapso de mais, em relação a atual situação da organização. Ele tamborilou os dedos, acompanhando o ritmo, de maneira quase automática, enquanto o som da bateria e a voz do cantor serviam-lhe de plano de fundo. Com um suspiro entediado, Sasuke tirou o maço de cigarros do bolso, levou um à boca e acendeu-o com o isqueiro.

Com tantas coisas no mundo, com as quais podia se ocupar... Fora obrigado a agir como babá.

Em uma tragada, ele fechou os olhos e prendeu a fumaça do cigarro, vivenciando uma branda sensação de relaxamento, antes que a soprasse para fora. A nuvem acinzentada dissipou-se no ar, na direção da cama onde Hinata descansava, ainda entorpecida. No mesmo instante a garota iniciou uma crise de tosse, inalando a fumaça branca. Foi a primeira vez em que reagiu à presença dele. Um sorriso irônico pairou nos lábios do garoto, quando percebeu o mal que causara à Hyuuga.  

Se a presença da morena o incomodava tanto, nada mais justo do que incomodá-la também.

Sasuke parecia certo dessa perspectiva, até o momento em que a crise da menina se intensificou, imergindo a sala no som da tosse seca. O rosto da menina se avermelhara, enquanto suas pequenas mãos mantinham-se presas a garganta de maneira angustiante, quase como se estivesse sendo sufocada por alguma entidade não visível. O Uchiha surpreendeu-se com a fragilidade que a garota apresentou. Hinata nunca fora a pessoa mais forte e resistente que Sasuke já conhecera, mas ele também não se lembrava de vê-la abalada daquela maneira, muito menos por algo tão insignificante.

Os olhos do garoto fora tomados pela cor rubra do Sharingan, quando alguém tocou-lhe o ombro inesperadamente, chamando por seu nome. Ele virou-se para o homem às suas costas pronto para ataca-lo, mas foram os olhos negros de Itachi que o encaram de volta, acalmando-o. Ele retirou os fones do ouvido e desligou a música, esperando que irmão dissesse algo, já que sua paciência estava curta até mesmo para tolerar a abordagem lenta do mais velho. Itachi era equilibrado de mais, e isso chegava a ser irritante, já que Sasuke era significantemente imediatista.

— O que está fazendo aqui? — Sasuke o encarava de maneira ríspida, em um misto de apreensão e uma indiscreta curiosidade.

— Também é bom vê-lo, Otouto. — Respondeu-lhe Itachi — Parece que a negociação era, na verdade, uma cilada... Mas foi útil para resolver de vez a situação. — Explicou, com um ar ligeiramente sombrio, no tom de voz monótono. Depois, ele direcionou sua atenção à Hinata, cuja boca escancarada parecia servir como melhor respiradouro — O que está havendo aqui?

— Drama? Quem se importa? — Resmungou o garoto, desviando os olhos, agora novamente escuros, como os do irmão. — Eu acabei de chegar.

Itachi caminhou até a menina, que jazia retraída, com a cabeça entre os joelhos e as mãos trêmulas ainda sobre o pescoço.

— Apague o cigarro. — Disse o mais velho, com um tom de voz firme. E, embora uma careta de irritação tomasse a expressão de seu rosto, Sasuke tragou o fumo uma ultima vez, antes de pressionar a ponta acesa contra a mesa, apagando-o.

De maneira sutil, Itachi curvou-se na altura da menina e afastou suas mãos, com delicadeza. Ainda que relutante, Hinata permitiu o contato, preferindo concentrar-se em respirar da melhor maneira possível. Então, Itachi tocou com os dedos o local onde Hinata segurara de maneira tão aflita, constatando o volume incomum e extraindo um gemido falho da morena.

— Está inchada... — Revelou o Uchiha, e afastando os cabelos pesados para trás do ombro da menina, ele visualizou manchas vemelho-arroxeadas em toda volta do pescoço fino. Por um segundo, Itachi fechou os olhos em silêncio e afastou-se da Hyuuga — Pode ir, Sasuke. Estou assumindo o posto.

Frustrado, o garoto jogou o cigarro apagado ao chão e, logo, se dirigiu a saída. Agora a situação fazia mais sentido... Hinata não o chateara simplesmente porque suas cordas vocais estavam danificadas o bastante para que não conseguisse falar. A porta destrancou-se com o corriqueiro barulho eletrônico e o rapaz encarou o corredor, pronto para esquecer-se de tamanha perda de tempo.

— I-Ita-chi... kun... 

Sasuke virou-se minimamente, lançando um olhar confuso a - até então muda - Hinata. Os olhos cor de perola possuíam um brilho diferente, ao encarar seu irmão... Um brilho que não estivera lá até a alguns minutos...

 

...

 

Itachi-kun?

 


Notas Finais


Amores, antes de tudo... Quero me desculpar pela demora. Aqui em casa todo mundo resolver meter a mão no meu pc e toda hora tinha um filho de Jashin para excluir o meu capítulo. Eu tive que reescrever o capítulo inteiro, por pelo menos umas 3 vezes, sem exagero. Demorou também porque, apesar das férias da faculdade, eu continuo trabalhando, então, mesmo com folga a noite, eu demorei de mais pra concluir esse capítulo por muitas razões. Tive alguns problemas pessoais nesse fim de ano, que roubaram basicamente toda a minha disposição de fazer qualquer outra coisa, que não, deitar em posição fetal e acolher as minhas bad’s. Enfim, obrigada por lerem e por me acompanharem até aqui <3 sério. E novamente, me desculpem pela demora.


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