IN A HEARTBEAT
Capítulo dois – Take a risk or lose a chance
Levou mais tempo do que imaginara para que tomasse uma decisão.
Precisava pensar muito bem em todos os prós e contras porque sabia que isso afetaria toda a relação que estava construindo com Baekhyun. Já não andavam mais em terreno frágil, o que era um ótimo indício para a amizade que formavam, mas sabia que era fácil abalar a estabilidade que construíram caso colocasse Baekhyun sob pressão de forma repentina. Conhecia o ex-namorado o suficiente para que pudesse prever sua reação caso o fizesse.
Por outro lado, também conhecia bem a si mesmo para saber que não conseguiria seguir com as dúvidas que pairavam em sua cabeça. Estava dizendo repetidamente que não era nada e que em breve deixaria de pensar a respeito, mas o comentário de Joonmyeon foi o estopim para que parasse de mentir. Continuou a pensar sobre o que o Kim havia comentado, sobre como pareceu genuíno e isso o deixava ainda mais intrigado.
Sabia que ainda queria Baekhyun. Não havia nenhum motivo para que não dissesse a verdade para si mesmo e continuasse a omiti-la na esperança de que se tornasse mentira. Sabia que seus sentimentos não haviam diminuído de intensidade com a distância, conforme havia esperado, mas estavam criando ainda mais raízes com a recente aproximação.
O fato de que Baekhyun parecia começar a agir de forma mais cômoda e tranquila ao seu lado, sem levantar seus muros de defesa e permitindo que o Park voltasse a entrar em sua vida era um grande motivador ao mesmo tempo em que era a coisa que mais lhe deixava em dúvida. Poderia Baekhyun estar se sentindo da mesma forma que ele, mas não dizia nada?
Estariam os dois se enganando porque não tinham coragem suficiente para falarem a respeito do passado e seguirem em frente como os adultos que eram?
Pelo seu lado, Chanyeol sabia que sim. Sabia que a única coisa que lhe impedia de colocar tudo em pratos limpos com Baekhyun era a perspectiva de que isso iria afastá-lo mais uma vez, dessa vez de maneira definitiva, e não era isso que o Park queria, não depois de já ter um gostinho novamente de como era ter sua companhia de volta.
Contudo, sabia que era preciso. E foi por esse motivo que convidou Baekhyun a uma cafeteria que costumavam ir juntos nos tempos em que namoravam e que era próximo o suficiente da biblioteca onde o Byun trabalhava para que ele fosse em seu horário de almoço.
Tinha um bom tempo entre o momento em que conversaram pelo telefone e a hora marcada para que o encontrasse e Chanyeol pensou em usar desse período para planejar tudo o que diria ao mais velho. Queria ser o mais claro possível e deixá-lo ciente de seus sentimentos, de seus desejos e só podia torcer para que fossem recíprocos e Baekhyun também o quisesse de volta.
Precisava também se preparar para a possibilidade de que nada disso fosse verdade, mas Chanyeol pensaria nisso em um outro momento. Dessa vez, queria se manter apegado a ideia positiva de que tudo daria certo para que, quem sabe dessa forma, conseguisse atrair Baekhyun mais uma vez para dentro de seus braços.
Afinal de contas, fora o mais velho quem lhe disse que as palavras têm poder e precisava ter cuidado com as coisas que desejava – elas poderiam se tornar realidade.
Chanyeol nunca chegou a acreditar muito nessas palavras até se pegar pensando em como o término facilitaria muito mais suas vidas enquanto discutiam no fim de seu relacionamento e a maneira como seu desejo se tornou realidade quando Baekhyun pediu pelo fim.
Era a hora do destino lhe ajudar mais uma vez, agora de uma maneira mais positiva.
Passou todo o tempo que tinha restante organizando seus pensamentos e montando uma linha de tempo sobre tudo o que diria ao mais velho, desde o relacionamento de ambos até os momentos estranhos que ainda protagonizavam. Não imaginou que levaria muito tempo para fazer tudo isso e que ainda chegaria no horário que havia marcado com o Byun, uma vez que sabia o quanto ele odiava atrasos.
Mas a verdade é que, quando Chanyeol olhou pelo relógio, percebeu que faltavam apenas trinta minutos para o horário marcado e a cafeteria ficava há quase uma hora de onde morava.
Praguejou por todo caminho, ciente de que isso não faria com que encontrasse Byun Baekhyun em seu melhor humor e porque também sabia que o ter de mal humor não lhe ajudaria em nada em seu intuito. Só podia torcer para que alguma coisa também tivesse acontecido na biblioteca e o atrasasse sem querer, o suficiente para que chegassem juntos.
Até mesmo havia pego um Uber para chegar mais rápido, ao invés da costumeira caminhada tranquila que costumava fazer até o local, mas seus esforços foram infrutíferos.
Porque quando chegou no local, após agradecer ao motorista pela corrida, Baekhyun já ocupava a mesma mesa que outrora batizaram como deles e batucava os dedos de maneira impaciente.
Naquele momento Chanyeol soube que já estava ferrado.
Caminhou da forma mais despreocupada que conseguiu já que não adiantaria em nada demonstrar que viera até ali correndo; o Byun provavelmente o viu descer do Uber pelo canto de olho, pois a mesa ficava bem próxima à janela.
“Oi, Baekhyun”, Chanyeol o cumprimentou ao se aproximar da mesa, puxando uma cadeira para si, “desculpa o atraso.”
“Não é como se eu já não estivesse acostumado, não é mesmo?”, Baekhyun devolveu em um tom sarcástico. O sorriso em seu rosto não era caloroso como havia se acostumado a ver, mas entendia a frustração do mais velho em relação a atrasos – não tinha também a melhor reputação com eles.
“Eu tive alguns... Imprevistos”, Chanyeol justificou, ciente de que já havia usado dessa justificativa várias vezes, “mas fico feliz que você não tenha ido embora. Realmente preciso falar com você.”
O mais velho ainda tentou manter a expressão dura em seu rosto, mas não conseguia negar o quanto estava curioso com o que quer que Chanyeol tinha para conversar consigo. O Park havia se recusado a dizer uma palavra que fosse em relação ao assunto, mantendo segredo mesmo que tentasse de todas as formas lhe arrancar alguma informação.
Chanyeol conseguia ser bem teimoso quando queria e Baekhyun sabia disso, dadas todas suas tentativas durante o namoro que tiveram, mas não custava nada tentar, certo?
Por esse motivo, relaxou seus ombros tensionados, apoiando-se à mesa com um olhar que lhe incentivava a falar. Chanyeol assentiu ainda sem dizer nada, voltando a pensar em tudo o que havia organizado em sua casa, mas que se perdera em meio a sua confusão com os horários e o desejo de não se atrasar muito.
Era chegada a hora. Baekhyun estava ali para ouvi-lo e precisava expor tudo o que estava sentindo – mas por que diabos era tão difícil fazer isso o olhando, ciente de que também tinha em mãos a chance de estragar tudo?
“Acho que precisamos conversar sobre nós dois”, Chanyeol soltou de uma vez por todas. Sentiu o peso sair de cima de seus ombros, um aperto diferente em seu peito ao ver a expressão surpresa de Baekhyun. “Desde que namorávamos ao que... Ao que quer que tenhamos agora.”
Baekhyun esperava que esse momento não chegasse, mas não podia fugir mais. Não era justo consigo tampouco com Chanyeol.
Olhou mais uma vez para Chanyeol, agradecido por ele não ter perdido a sutileza em saber lê-lo e decifrar os momentos em que era melhor esperar pelo que tinha a dizer ao invés de pressioná-lo a algo. Chanyeol sempre soube lê-lo muito bem, não seriam alguns meses que teriam feito com que o Park tivesse perdido essa capacidade.
Entretanto, não podia deixá-lo esperando para sempre, sabia disso. Só precisava... Encontrar a maneira mais fácil de começar a falar.
Olhou ao redor de onde estavam, embebido pela sensação de nostalgia que aquele lugar trazia. Era um de seus lugares favoritos e que Chanyeol lhe apresentou enquanto namoravam; tornou-se o lugar deles em pouco tempo, dividindo uma mesa próxima à janela – a mesma em que estavam agora –, duas xícaras de cappuccino e qualquer coisa que poderia virar uma longa conversa.
Tudo sempre foi motivo para que falassem e falassem, sem que o silêncio conseguisse encontrar seu espaço; ao contrário do que viviam agora, onde o silêncio já começava a incomodá-los, mas nenhum dava o próximo passo após o início feito por Chanyeol.
“Vir aqui... É nostálgico”, Baekhyun escolheu comentar, voltando seu olhar ao mais novo; viu em seu rosto que Chanyeol não esperava que respondesse dessa forma e conseguia entender como ele o via fugindo do assunto dessa maneira. “Traz muitas lembranças que construímos juntos, parece que está intrínseco a essas paredes.”
“Foi intencional”, Chanyeol admitiu com um dar de ombros. “Não é como se eu conseguisse voltar aqui sem pensar em todas as tardes e noites em que você esteve comigo também.”
O mais velho deixou que um suspiro escapasse por seus lábios. “Nós não terminamos faz tanto tempo assim para que as memórias acabem no esquecimento.”
“Ou talvez a gente não queira esquecê-las”, Chanyeol arriscou em dizer. “Seja sincero comigo, Baekhyun. Por que nós terminamos?”
Baekhyun mais uma vez escapou seu olhar, desviando-o para o café que tinha em suas mãos. Escolheu não pedir um cappuccino porque seria familiar demais, mas o café também começava a soar como Chanyeol – como o mesmo Chanyeol que lhe levava café quando estava atrasado, o Chanyeol que lhe provocava com o cheiro vindo por sua varanda, o Chanyeol a quem deu café no elevador...
“Nós destruiríamos um ao outro, Chan”, Baekhyun respondeu em um suspiro. “É claro que havia amor, havia amor demais, mas a gente não sabia lidar com esse sentimento. Não sabíamos lidar com as discussões, com os desentendimentos bobos, tudo tomava proporções grandes demais.”
Chanyeol não tinha como refutá-lo. Tinha em sua memória bem fresca as recordações de cada discussão que tiveram, cada motivo que, vendo por uma nova ótica, eram estúpidos demais para que gerassem a comoção que um dia criaram; o relacionamento que começou sendo perfeito e que juraram ser para sempre se desgastou com o tempo pela inaptidão de ambos em lidar com seus temperamentos.
Ainda assim, eram teimosos. Teimosos o suficiente para manter aquele mesmo sentimento vivo em seus corações, como se soubessem, bem lá no fundo, que não era certo que terminassem dessa forma. Ainda havia alguns capítulos a serem escritos nessa história – e era hora de decidirem por quanto tempo mais poderiam levar.
“Você tem razão”, Chanyeol concordou, encolhendo os ombros rapidamente. “Não soubemos lidar com coisas que, vendo agora, eram fáceis de resolver, mas talvez já estivéssemos desgastados o suficiente para não tentar mais. Três anos é muito tempo e, mesmo que tenha muito amor, às vezes só amor não é suficiente.”
Baekhyun assentiu, bebericando de seu café para que não tivesse que dizer nada naquele momento. Algo lhe dizia que Chanyeol também não havia terminado o que tinha para dizer – conhecia o olhar em seu rosto, a determinação que carregava consigo, e sabia em seu coração que essa era a conversa decisiva que buscavam evitar há semanas, mas já não havia mais como.
“Mas eu nunca deixei de amar você, Baek”, Chanyeol confessou com um breve sorriso, não exatamente feliz – e isso parecia simplesmente errado demais para o mais velho porque Chanyeol era sempre feliz. “Seis meses se passaram e podem se passar mais seis, eu não acho que serei capaz de deixar de amar você da mesma forma que amei três anos atrás. Nós podemos ter desgastado nosso relacionamento, mas nunca o sentimento que nutri por você.”
Seria mentira se Baekhyun dissesse que não esperava por uma declaração como essa porque seu coração batia desenfreado em seu peito, ansioso por dizer como se sentia da mesma forma. Não pensava se era impensado demais, se deveria repensar os prós e contras – porque estava bastante ciente do que isso poderia significar –; a única coisa que queria era retribuir a esperança que Chanyeol demonstrava em seus olhos.
“Eu... Eu também”, Baekhyun confessou. “Não poderia deixar de amar você nem mesmo se eu quisesse.”
Engoliu em seco ao ouvir a resposta do menor, ansioso pela continuidade. Contudo, Baekhyun não disse mais nada, resguardando silêncio como costumava fazer todas as vezes em que se sentia confrontado e não tinha uma resposta pronta. Esse costumava ser um motivo para que se desentendessem, quando Chanyeol queria uma resposta e Baekhyun não a tinha, mas não mais.
Não deixaria que fosse mais um problema.
“Então... O que nos impede de tentar de novo?”, Chanyeol quis saber, não aguentando guardar para si a dúvida que lhe atormentava há dias desde que Joonmyeon aparecera. “Por que pareceu tão desconfortável com a ideia de ser confundido com um casal comigo, como Joonmyeon fez?”
Não esperava que Chanyeol tivesse notado seu comportamento com o comentário de seu melhor amigo, mas, parando para pensar, era bem óbvio que notaria. O que Chanyeol não sabia a seu respeito?
“O problema não é você”, Baekhyun respondeu, “é que... Eu não quero estragar tudo, entende? O sentimento não morreu, mas eu não quero arriscar a amizade que construímos e ver tudo acabar de novo. Não deu certo uma vez, por que daria agora? E, então, você se afastaria mais uma vez e nós estaríamos na estaca zero. De novo.”
As coisas começavam a ficar mais claras para Chanyeol com a confissão do mais velho. Era um medo bastante compreensível e muito semelhante ao que sentia; parecia óbvio agora que o período afastado um do outro desde o término não lhes fizera o bem que esperavam e apenas alimentou o medo que já existia antes.
De perderem o outro para sempre.
“E se nós fôssemos com calma?”, Chanyeol propôs. “Quer dizer... Nós não precisamos voltar a namorar agora. Podemos deixar que as coisas aconteçam como elas precisam acontecer, mas sem refrear o que nós sentimos... Se for para que fiquemos juntos de novo, vamos saber que é o certo a se fazer.”
Baekhyun pareceu ponderar a proposta. Ainda havia o medo em sua mente de fazer com que Chanyeol se afastasse caso alguma coisa desse errado, mas era o Park quem estava ali, à sua frente propondo que tentassem de novo. Era ele quem havia dito primeiro que ainda o amava... Não podia ser tão errado assim para que não desse ao menos uma chance.
Se fosse para acontecer, Baekhyun estava mais do que feliz pelo que o destino lhe reservava. Tentou não pensar em todas as opções ruins, ciente de como seu cérebro buscava sabotá-lo; não era hora para isso.
“Eu não quero mais ter que fingir que não amo você, Baek”, Chanyeol deu de ombros com um breve sorrisinho, um pouco mais animado do que os anteriores. “Nós podemos continuar amigos, podemos continuar como estamos fazendo agora, só... Vamos deixar que as coisas aconteçam.”
“Tudo bem”, Baekhyun concordou, a réplica do sorriso do mais novo em seu rosto. “Vamos... Dar uma chance a isso. Não vamos apressar nada, só deixar acontecer.”
“E já é o suficiente”, Chanyeol arrematou, dessa vez com um sorriso bem mais aberto em seus lábios, exatamente como fazia o coração de Baekhyun saltar em seu peito.
Como ainda fazia.
Era cedo para que dissessem que todos seus medos foram superados e que não mais temiam a ideia de que os problemas do namoro anterior voltassem a dar as caras. Ainda assim, não havia mais o aperto em seus peitos por refrearem seus sentimentos, pela incerteza do que o outro lado ainda sentia, pela constante ideia de não conseguir seguir em frente.
Às vezes, seguir em frente significa dar um novo passo em direção ao passado mais uma vez.
E era exatamente isso que Chanyeol e Baekhyun buscavam fazer – uma viagem até o passado de ambos, longe das discussões e desentendimentos, mas de volta aos momentos em que a companhia do outro era o melhor lugar do mundo para se estar.
. . .
Baekhyun não sabia muito bem como ele e Chanyeol fariam com que suas tentativas dessem certo, a bem da verdade.
Talvez ainda houvesse muito receio em seu interior para que conseguisse dar o primeiro passo, então esperou pelos movimentos do mais novo. Fora ideia de Chanyeol, afinal de contas, e nada justo que também fosse o Park a ditar o caminho pelo qual seguiriam. Baekhyun não sentia como se estivesse no controle da situação e, em várias ocasiões, isso o irritaria muito.
Contudo, dessa vez, era até mesmo um alívio saber que Chanyeol tomaria conta de tudo.
Passou boa parte do restante de seu expediente na biblioteca pensando na conversa que tivera com o ex-namorado, rememorando cada parte dela, principalmente o momento em que Chanyeol lhe disse que ainda o amava. Ainda fazia com que seu coração desse saltos em seu peito, como ocorreu na primeira vez em que o ouviu dizer o mesmo, e isso mostrava muito a respeito de seus sentimentos também.
Por mais que tentasse, era impossível se ver distante do que sentia por Park Chanyeol. Talvez a paixão pudesse ter esfriado e, por consequência, feito com que seu relacionamento se desgastasse com as brigas que se seguiram e se tornavam cada vez mais constantes, mas nem mesmo a distância entre ambos foi suficiente para sufocar o amor que sentia pelo Park.
Chanyeol estava tatuado em seu peito – exatamente como a tatuagem que carregava em seu pulso e que sempre iria lembrá-lo.
Foi bom ter um momento sozinho – a biblioteca estava mais vazia do que de costume e Baekhyun agradeceu por isso – porque pôde pôr os pensamentos em ordem sem que ninguém lhe atrapalhasse. Tivera seu próprio tempo para lidar com o medo e o sentimento constante de que tudo daria errado, dando espaço à confiança em Chanyeol.
Confiou três anos de sua vida nas mãos do ex-namorado, por que não poderia dessa vez?
O problema surgiu quando o dia seguinte chegou e Chanyeol não o procurou como Baekhyun havia imaginado.
Imaginara que o Park faria exatamente como três anos e meio atrás, quando tentou lhe conquistar se fazendo presente de todas as formas, ainda que fossem apenas amigos no início. Depois de um tempo, a companhia do Park se tornou quase indispensável aos seus dias e foi quando percebeu que estava apaixonado por ele.
Passara por sua mente que talvez Chanyeol pudesse repetir seus passos, mas não foi como aconteceu e Baekhyun estava confuso quanto a seus planos.
E se ele também estivesse esperando que desse o primeiro passo? Fora Baekhyun quem voltou ao estúdio na primeira vez, demonstrando ter mais interesse do que só no traçado do tatuador. E se Chanyeol não tivesse dito nada porque esperava isso do Byun e, por isso, nunca sairiam do lugar novamente já que o mais velho não encontrava a coragem necessária para chamá-lo?
Resolveu dar-lhe mais tempo – se estivesse esperando por seu contato, seria bom ver até que ponto aguentaria ir sem lhe questionar o motivo de seu silêncio, como o Byun estava se controlando para não fazer com Chanyeol. Quem sabe ele só estivesse ocupado naquele dia? O dia seguinte era uma nova história e, quem sabe, teriam uma conversa diferente.
Mas o dia seguinte também chegou e Chanyeol não lhe disse mais do que alguns cumprimentos quando se encontraram sem querer no elevador, a caminho de seus respectivos trabalhos. O Park parecia ocupado com o que tinha em seu celular e Baekhyun resolveu que não era a hora certa para lhe questionar o que estava acontecendo.
Era sexta-feira e também a última esperança que o mais velho possuía no que quer que estivesse acontecendo antes de subir até o apartamento de Chanyeol e questioná-lo.
Sua subida não foi necessária, entretanto, quando sentiu seu celular vibrar ao seu lado.
Eram oito horas da noite de sexta-feira e o Byun se questionou, inicialmente, quem poderia estar lhe mandando mensagens. Joonmyeon não poderia ser – o amigo já havia se conformado que Baekhyun não saía para festas e preferia passar seu fim de semana descansando em frente a televisão – e, verdade seja dita, Baekhyun não possuía muitos outros amigos além do Kim.
Sua surpresa foi maior quando percebeu que era o número de Chanyeol.
Não havia excluído o número do mais novo desde que terminaram e até mesmo a última conversa que tiveram estava lá, escondida após algumas trocas cordiais de mensagens a respeito de seus apartamentos – quando Baekhyun precisava que Chanyeol fizesse silêncio e o Park se recusava a ouvi-lo pela varanda. Ver o antigo contato em suas notificações fez com que seu coração desse um sobressalto, de repente nervoso com o que poderia ser.
Era só Chanyeol – seu ex-namorado a quem não fora capaz de superar. Não era nada demais, certo?
Baekhyun queria muito acreditar nisso, mas a verdade é que era impossível.
Abriu a mensagem em seguida, curioso por seu conteúdo após dois dias sem que o ex-namorado lhe dissesse nada realmente substancial desde as palavras trocadas na cafeteria.
“Baekhyun
Está em casa hoje?”
Engoliu em seco, olhando para o teclado; como deveria respondê-lo? Já havia passado da fase de flertes há muito tempo, com outras pessoas antes de Chanyeol, mas era estranho quando a pessoa do outro lado da tela é seu ex-namorado. Deveria tentar alguma coisa ou respondê-lo como se não fosse ninguém importante?
Escolheu respondê-lo da primeira forma que surgisse em sua mente, uma vez que qualquer resposta era melhor do que seu silêncio.
“Estou, sim
Assistindo Netflix como sempre, você sabe”
“Você nunca sai de casa nos fins de semana, né?
Eu tinha que arrastar você praquele pub com nossos amigos hahaha”
“Algumas coisas não mudam
Você mesmo disse”
“Eu não gostaria que mudassem, de qualquer forma
Gosto que esteja em casa porque era exatamente o que eu queria
Posso descer até aí?”
“Claro
Não é como se não estivesse vindo aqui antes pra começar a pedir permissão agora lol”
“Dessa vez é diferente ;)
Já apareço aí
Até mais!”
Não lhe respondeu mais nada, mas estava curioso com o que poderia ser. Chanyeol era conhecido pela mente mirabolante e por estar sempre pensando em alguma ideia que todos sabiam das chances de dar errado, mas que também era impossível de tirar de sua cabeça. Baekhyun costumava segui-lo em suas ideias malucas e devia admitir que até mesmo sentia um pouquinho de falta disso.
O que o mais novo estava planejando para os dois dessa vez?
Ajeitou-se em seu sofá, sua atenção já há muito desfocada da série que passava na televisão. Vez por outra dispensava seu olhar até a porta de entrada, esperando pelo momento em que Chanyeol tocaria sua campainha e pudesse descobrir o que estava escondendo de si. Seria essa a resposta para os dois dias de sumiço?
Quando a campainha por fim soou, levantou-se rapidamente de onde estava e irrompeu em direção à porta, tomando o devido cuidado para que o Park não soubesse que estava tão ansioso por sua chegada – de uma maneira que surpreendeu até a si mesmo, que não esperava por uma reação dessa maneira.
Estava tão perdido.
Ao abrir a porta, a expressão de surpresa em seu rosto foi inevitável porque Chanyeol não estava sozinho; às suas costas, pendurado em seu ombro, estava seu companheiro de todas as horas, o violão que dedilhava a todo momento enquanto namoravam e que usava para lhe dedicar as mais variadas canções. Fora inevitável, mais uma vez, que todas as memórias voltassem até sua mente.
O que não passou despercebido pelo Park.
“Pensei que poderíamos ter uma noite divertida hoje”, Chanyeol comentou assim que o viu, após cumprimentá-lo com um sorriso. “Por isso trouxe o violão. Chega de cantarmos pela varanda, já, já o síndico expulsa a nós dois.”
“Eu não duvidaria disso”, Baekhyun riu.
“Além do mais, meus planos para hoje era mostrar que ainda somos uma boa dupla juntos”, Chanyeol continuou, “e qual maneira melhor do que o que fazíamos tão bem?”
Baekhyun amava todos os momentos em que cantava com Chanyeol, seja em seu apartamento ou no do mais novo; havia alguma coisa de mágico no mundo que se transportavam quando estavam juntos dessa maneira, como se nada mais pudesse alcançá-los além das músicas que dedicavam um ao outro. Vê-lo com o violão às suas costas era nostálgico, mas vê-lo falando sobre a mesma coisa trazia uma sensação de conforto em seu peito.
Era como saber que não estava sozinho com esse sentimento – e a ciência de que Chanyeol estava consigo fazia com que tudo ficasse um pouquinho melhor.
Permitiu que o ex-namorado entrasse em seu apartamento e o acompanhou até o sofá, mantendo a televisão ligada apenas para que tivessem som ambiente. Não seria o foco de nenhum dos dois, sabia disso, uma vez que Chanyeol já estava ajeitando o violão em seu colo, preferindo sentar-se no chão para que encontrasse uma posição mais confortável para si.
Lembrava de cada uma dessas manias estranhas que o Park possuía – de ir sempre contra a maré e do que todos esperavam – e era inevitável o pequeno sorriso que surgia em seus lábios por vê-lo repeti-las.
Escolheu sentar ao seu lado, encostando-se no sofá para ter um melhor apoio. Não disse nada enquanto Chanyeol dedilhava o violão, afinando-o; gostava de observá-lo enquanto estava concentrado fazendo algo e não tivera muitas oportunidades de fazer isso desde que voltaram a conversar de maneira mais civilizada.
Perguntou a si mesmo porque escolheram o pior caminho após o término, uma vez que agora sabiam que não dera resultado algum; deu o seu melhor para vê-lo apenas como um vizinho incômodo com quem brigava de vez em quando, mas a quem estava tentando enganar quando seu coração ainda tinha as mesmas reações a ele de quando estavam namorando?
Seis meses foram desperdiçados dessa maneira – e agora era hora de correr atrás do tempo perdido.
“Você se lembra de quando a gente compunha de vez em quando?”, Chanyeol comentou de repente, assustando-o. Baekhyun assentiu; tinham algumas composições feitas um para o outro e que mantinham guardadas como pequenos segredos. “Eu estava pensando... Podíamos tentar de novo?”
O Byun hesitou. As composições carregavam boa parte de seus sentimentos um pelo outro, traziam toda a intensidade que viviam e eram importantes para Baekhyun justamente por ser algo apenas deles. Agora que viviam em um território estranho, sem que soubessem exatamente o jeito certo de continuarem, tinha certo medo de quais palavras poderiam surgir.
Contudo, percebeu que o medo era um sentimento constante que lhe impedia de realmente conseguir superar suas barreiras e entregar-se novamente ao que sentia por Chanyeol. Se não conseguisse vencê-lo pouco a pouco, obstáculo por obstáculo, como poderia esperar chegar a algum lugar?
“Acho que sim”, resolveu concordar, em um rompante de coragem. “Acho que vai ser divertido.”
Chanyeol assentiu com um sorriso animado e Baekhyun procurou por uma caderneta pelos móveis por perto, encontrando na mesinha ao lado do sofá. Conseguia sentir o nervosismo correr por seu corpo, mas também sentia a ansiedade em igual intensidade. Estava curioso pelo que poderia sair de algo escrito com Chanyeol depois de tanto tempo.
“Acho que estou um pouco enferrujado”, Baekhyun comentou com o ex-namorado, “faz muito tempo desde que escrevi qualquer coisa.”
“Mais uma das atividades que só fazia comigo?”, Chanyeol brincou com uma piscadela, propositalmente tentando constrangê-lo. Não é como se não soubesse a verdade. “Também era algo só nosso, para mim, então... Vamos adquirir o hábito novamente juntos.”
Baekhyun concordou, batucando com a ponta da caneta no papel, tentando encontrar uma boa primeira frase para que começassem a escrever. Enquanto isso, Chanyeol dedilhava notas aleatórias no violão, tentando criar uma melodia que combinasse com o que queriam. Era sempre assim que funcionavam – não precisavam falar nada diretamente para que soubessem que estavam na mesma sintonia.
Após seis meses, só podiam torcer para que ainda funcionasse.
Os primeiros acordes começaram a sair do violão, com Chanyeol mantendo um pequeno sorriso em seu rosto conforme avançava com algo que lhe agradava. Baekhyun parou com os movimentos contra o papel para prestar atenção; ver Chanyeol tocar era um de seus passatempos favoritos enquanto estavam juntos.
Chanyeol lhe surpreendeu ao não demonstrar nenhuma melancolia na melodia que estava criando, diferente de como havia imaginado; era como se o Park ansiasse por um recomeço para ambos sem que estivessem apegados ao término, aos sentimentos suprimidos durante meses, e Baekhyun percebeu, por fim, que essa era a melhor forma para que recomeçassem.
Nunca chegariam a um futuro se não conseguisse deixar o passado para trás.
“Hello angel”, Baekhyun cantarolou baixinho, sem retirar os olhos de Chanyeol. O Park o olhou de relance, a sombra de um riso frouxo em seus lábios pelo apelido recuperado, “you’re like a painting, you’re all I see when I look to the skies.”
Não era nenhuma mentira, uma vez que Chanyeol morava no andar acima do seu e todas as vezes o céu emoldurava seu rosto enquanto conversavam pela varanda; era uma bela imagem, agora que se recordava de cada um dos momentos, e parecia bonito colocar dessa maneira na música que escreviam. Anotou o início que havia criado, deixando que o ex-namorado desse continuidade de onde parou.
“City street lights, even if the lights go out and the moon disappears”, Chanyeol continuou, se atrapalhando um pouco com o ritmo que Baekhyun havia estabelecido antes, encaixando-se entre os acordes de seu violão, “I have a star that fell from the skies and it’s you.”
Parecia íntimo demais, real demais, mas Baekhyun não estava se importando porque também parecia sincero demais. A forma como Chanyeol o olhava enquanto cantava era exatamente como o olhava no passado, quando ainda estavam bem um com o outro e quando nem todas as canções do mundo eram suficientes para que dissessem o que sentiam.
E essa caminhava para ser a mais importante entre todas as músicas que já escreveram juntos.
“Even when I close my eyes, I can’t sleep”, Baekhyun cantou, rindo baixinho por se recordar de todas as vezes em que Chanyeol não lhe deixava dormir por alguma razão, mesmo quando era por pura provocação, “I spend the entire night with thoughts of you, your sparkling smile lets me breathe.”
Havia também muitas verdades em cada palavra que cantava para o ex-namorado; não se importava mais se era suposto que fossem devagar, que não apressassem o processo para que não cometessem os mesmos erros. Queria deixar Chanyeol ciente de como passava parte das últimas noites pensando nele e em como sentia tanta falta daquele sorriso que agora voltava a ser dispensado em sua direção.
O sorriso de Chanyeol sempre fez com que Baekhyun se sentisse mais vivo – vê-lo sorrindo para si mais uma vez, sem nenhum vestígio da zombaria que se acostumou a ver nos últimos meses enquanto trocavam farpas pelas varandas, era como respirar ar puro após muito tempo submerso.
Demorou um pouco para que Chanyeol dissesse mais alguma coisa, provavelmente pensando na melhor forma de dar continuidade àquilo. Ainda que estivessem apenas cantando frases aleatórias um para o outro e depois fossem organizar de uma maneira mais coesa, sabia que o Park gostava de fazer tudo com o máximo de perfeccionismo possível.
Não seria diferente agora que a música também carregava um peso diferente para ambos.
“The sky gave you everything and this world gave me you, so you can’t fly back into the sky”, Chanyeol cantou baixinho, olhando-o fixamente, como se esperasse que Baekhyun pudesse captar todas as verdades escondidas nas palavras cantadas.
O mais velho percebeu, naquele mesmo momento, que não desejava isso – ainda que lhe fosse dada a chance de voar para longe, de recomeçar longe de Chanyeol o suficiente para que sua presença não lhe afetasse e pudesse se ver livre dos sentimentos que lhe sufocavam, Baekhyun jamais escolheria essa opção.
E eram aqueles olhos tão sinceros, que carregavam tanto carinho em suas íris, que lhe prendiam onde estavam e não lhe davam sequer a margem para arrependimentos.
“Even the brightest jewel in the heaven for sure couldn’t be brighter than you”, Baekhyun sussurrou, olhando-o com a mesma intensidade que Chanyeol ainda usava para olhá-lo; já não havia mais ritmo em suas palavras e os acordes começavam a se perder também nos dedos de Chanyeol, mas não importava. “Don’t drift away from me, baby, won’t you stay? I’ll only love you forever.”
Os acordes morreram por completo quando Chanyeol depositou o violão ao seu lado e o silêncio que se seguiu às suas palavras foi aterrorizador. Foi o momento em que Baekhyun se deu conta de tudo o que estavam fazendo, de todas as palavras trocadas, de como se viu envolvido por toda a sinceridade que Chanyeol trazia que permitiu que a sua também transbordasse através das palavras.
Havia exposto seus sentimentos em uma bandeja para seu ex-namorado e agora esperava pelo que viria em seguida. Estavam indo rápido demais, como havia temido?
“Acho que nunca compomos algo melhor”, Chanyeol comentou. “Algo que fosse mais... Intenso que isso.”
Baekhyun não tinha como discordar. “Eu gostei”, resolveu responder da maneira mais impessoal que conseguiu, esperando que Chanyeol fizesse o mesmo para que não continuassem com o mesmo clima constrangido que construíram. “Acho que ficará muito bom quando fizermos alguns ajustes e reorganizarmos algumas frases... A sua melodia também combinou bastante!”
Chanyeol assentiu, ainda olhando-o em silêncio. Não conseguia identificar seus pensamentos naquele momento e a incerteza lhe deixava incomodado; sentia como se estivesse muito distante do Park em ocasiões como essa e não ajudava em nada no que estavam tentando recuperar um com o outro.
O Park apanhou o caderno que estava em seu colo, lendo cada uma das frases que Baekhyun escreveu, mantendo o silêncio como seu companheiro e fazendo com que o Byun agonizasse ainda mais em seu canto. Contudo, em seguida ergueu o olhar, carregando em seu rosto um sorriso que fez com que tudo em Baekhyun respirasse aliviado.
“Eu acho que está perfeita do jeito que está”, Chanyeol elogiou. “Nós ainda somos a melhor dupla que poderíamos formar, Baek.”
“Tem algumas coisas que nem mesmo o tempo consegue mudar”, Baekhyun concordou.
Seu ex-namorado abriu a boca como quem esperava dizer alguma coisa, mas fechou-a em seguida, como se estivesse arrependido do que ia dizer. Baekhyun lhe encarava com um sorriso que fazia suas mãos suarem frio e sua barriga se retorcer inteira e Chanyeol sabia o que isso significava; pensou em dizer-lhe a respeito, mas a música já carregava sentimentos o suficiente para que despejasse ainda mais em cima de Baekhyun.
Além do mais, ainda era cedo, certo? Talvez estivesse confuso em relação aos próprios sinais de seu corpo, talvez fosse a influência de uma letra tão sincera e carregada de tantos sentimentos... Ao invés de permanecer pensando a respeito e encontrando caminhos diversos para um beco sem saída, escolheu apanhar o violão novamente, colocando-o em seu colo e ajeitando-se em uma posição mais confortável.
“Ainda podemos tocar algumas das suas favoritas”, Chanyeol propôs, mudando o assunto por completo; era mais seguro para si mesmo e Baekhyun não o questionou. “Ainda gosta tanto de The Script quanto gostava seis meses atrás?”
“Terminei meu relacionamento com você, não com a minha banda favorita”, Baekhyun brincou, rindo de maneira mais livre.
O Park rolou os olhos, mas começou a tocar os primeiros acordes de Flares – ainda se recordava de todas as músicas favoritas de Baekhyun e percebeu que não havia errado quando viu o sorriso animado que surgiu no rosto do ex-namorado, começando a cantar em seguida. Permitiu-se ser embalado pelo som de sua voz, perdendo-se em todas as sensações que só a voz de Baekhyun lhe provocava.
Era nítido que o Byun estava mais solto agora que não caminhavam por um terreno tão pessoal e estavam apenas repetindo algo que já vinham fazendo, ainda que fosse através de suas varandas. Sua postura estava mais relaxada e ele mantinha os olhos fechados ao se aproximar do refrão, o sorriso involuntário manchando seus lábios. Era a visão mais linda do mundo para o Park e dar-se conta disso também lhe fazia perceber como estava ferrado.
Não tinha como ignorar os sinais; podia mentir para si mesmo pelo tempo que achasse necessário, mas a verdade não mudaria e Chanyeol sabia disso.
E, enquanto ouvia seu ex-namorado entoar o refrão de uma de suas músicas favoritas sentado em sua sala de estar, os olhos fechados e o rosto em paz – Did you see the sparks filled with hope? You’re not alone cause someone’s out there sending out flares –, Chanyeol se deu conta que não era apenas o amor que sentia por Baekhyun que ainda preenchia seu peito porque ainda estava inevitavelmente apaixonado por ele.
A única coisa pela qual poderia torcer é que o tempo fizesse com que Baekhyun se apaixonasse por si novamente e que estivesse lá, como a música que cantava dizia, mandando-lhe uma luz do lado de fora, como sempre significou em seus dias.
Seu ponto de luz no fim do túnel.
. . .
Se havia algo que Baekhyun odiava fazer era pensar demais.
Muitas coisas ruins aconteciam quando parava para pensar demais em qualquer coisa. Acabava encontrando contras onde provavelmente não havia, mas sua mente lhe indicava que era potencialmente perigoso e que não deveria investir naquilo. Reconhecia que, em grande parte dos momentos, era só sua mente tentando lhe sabotar mais uma vez, mas era difícil parar uma vez que entrava no ciclo.
E, se havia alguma coisa que não deveria estar pensando demais, era em Chanyeol.
Não exatamente em seu ex-namorado, mas em tudo o que estava acontecendo entre ambos e a incerteza que lhe dominava se estavam fazendo a coisa certa. Desde a noite de sexta-feira passada em seu apartamento, a música que compuseram juntos e o restante do tempo que dispensaram na companhia um do outro – enquanto Baekhyun cantava ao som do violão de Chanyeol, como nos velhos tempos –, não conseguia deixar de pensar a respeito.
Desde o início, três anos e meio atrás, percebeu de cara que Park Chanyeol mexia consigo de uma maneira que não conseguia explicar. A primeira sessão que fez com o ex-namorado foi o suficiente para lhe acender a curiosidade e fazer com que voltasse ao estúdio, o que acabou fazendo com que conhecessem mais e mais um do outro com o passar do tempo. Baekhyun percebeu, com os encontros que tiveram subsequentes, que sempre havia um pouco mais do Park para conhecer e que sempre estaria ávido por mais.
Nos três anos de relacionamento, teve certeza de todas as questões levantadas, tendo a oportunidade de conhecer cada lado que o Park possuía e se apaixonar por cada um deles. O mais novo era por completo encantador e Baekhyun tinha certeza que não haveria um único dia em sua vida em que não fosse suspirar apenas por vê-lo sorrir, ao seu lado ou não.
Seis meses desde o término, isso ainda era uma verdade.
A recente aproximação de Chanyeol fez com que tudo em si desmantelasse, desde as barreiras que havia imposto para não se machucar mais às certezas que estabeleceu para si mesmo, dizendo-lhe que deixaria tudo no passado, passasse o tempo que fosse necessário. Cumpriu muito bem seus objetivos talvez por uma semana ou duas, mas Chanyeol fez questão de tornar tudo mais difícil ao provar que não iria a lugar algum.
Quando concordaram em reaver a amizade que os levou a se apaixonarem um pelo outro, Baekhyun não esperava que os antigos sinais voltassem em um combo. Quando concordou em ter Chanyeol mais próximo de si, sem as barreiras que criaram após o término, não imaginava que teria que lidar com seu coração e mente confusos.
Quando concordou em tê-lo ao seu lado e tentarem mais uma vez, não esperava que lidaria mais uma vez com a dúvida se era melhor que tentassem ou se isso iria apenas machucá-los ainda mais.
Não queria deixar que o medo vencesse mais uma vez, mas era inevitável após a experiência de como era ter um relacionamento desgastado ao lado de Chanyeol.
Se ao menos o Park soubesse que não era por si que temia; se ao menos soubesse que seus receios se concentravam na ideia de machucá-lo novamente, de pressioná-lo como outrora havia feito... Talvez conseguisse compreender o porquê de estar reticente com sua aproximação, ainda que tenha concordado com sua proposta e estivesse, de fato, tentando.
Se tornava cada vez mais difícil não ceder à sua própria mente e as imagens que projetava, mas estava dando o seu melhor porque Chanyeol acreditava em ambos e o mínimo que Baekhyun deveria fazer era o mesmo.
Agradeceu mais uma vez pela biblioteca vazia – ainda que na maior parte do tempo achasse isso ruim por as pessoas se interessarem cada vez mais pela leitura, era bom ter um momento para si mesmo enquanto estava tão confuso e não conseguia encontrar as respostas certas para suas dúvidas. Não podia expor nenhuma delas a Chanyeol, uma vez que era ele o causador de todas.
“Baekhyun?”, ouviu ao seu lado, despertando do transe em que estava e procurando pela fonte do ruído. “Está entre nós ou eu deveria voltar em outro horário?”
Quando ouviu a voz de Joonmyeon tão próxima de onde estava, focalizando o melhor amigo com dois livros em mãos e um sorriso travesso nos lábios, foi quando Baekhyun percebeu que estava viajando demais e era melhor que retornasse à Terra. Quantas pessoas poderiam ter entrado na biblioteca sem que as visse de onde estava, na recepção, e o que poderiam estar fazendo entre as estantes?
Park Chanyeol voltara à sua vida lhe trazendo muito mais dores de cabeça do que estava esperando.
“Desculpa, eu só estava meio distraído”, se desculpou com o amigo. “Você estava aí há muito tempo?”
“Não muito”, Joonmyeon deu de ombros. “Você já estava meio viajando quando eu entrei e, como eu sabia onde estavam os livros que eu precisava, não o incomodei e fui procurá-los sozinho. Mas infelizmente preciso que você os registre antes que eu saia da biblioteca. Sabe como é, eu tenho uma ficha impecável por aqui e não quero manchá-la por sua causa.”
Havia um claro tom de zombaria nas palavras de seu amigo, mas Baekhyun ignorou esse fato porque desta vez merecia. Joonmyeon sabia que levava seu trabalho bem a sério, ainda mais quando estava sozinho para tomar conta de toda a biblioteca, então sabia que o Byun tinha assuntos sérios nos quais pensar e estava tentando descontrair o ambiente com uma piadinha.
Apanhou o livro das mãos do amigo, esperando pelo momento em que a curiosidade de Joonmyeon seria maior do que sua vontade de deixá-lo falar por conta própria. Conhecia muito bem o Kim e sabia que ele não conseguiria se conter por muito tempo; era até mesmo bom que isso acontecesse porque Baekhyun não confiava em ninguém mais do que confiava em Kim Joonmyeon.
E Deus sabia o quanto precisava de uma opinião amiga nesse momento de tamanha confusão.
Estava registrando o livro no sistema quando ouviu o suspiro teatral vindo ao seu lado, contendo um breve sorriso pelo quanto o mais velho era previsível. Olhou-o novamente, pronto para entregar o livro e lhe indicar quando deveria devolvê-lo, quando Joonmyeon se apoiou no balcão da biblioteca e o olhou de maneira séria.
“O que está acontecendo?”, quis saber, sem rodeios. “Você está quieto demais, não é do seu feitio fazer isso.”
Sabia o quanto Joonmyeon também costumava ser direto demais e era justamente o que precisava – alguém que não lhe permitisse rodeios, uma vez que sabia que não conseguiria chegar à verdade se lhe fosse dada a chance de enrolar.
“É sobre o Chanyeol”, respondeu com um breve encolher dos ombros, colocando o livro ao lado do amigo. “Estão acontecendo algumas coisas e... Eu não sei bem o que pensar.”
“Que tipo de coisas?”, Joonmyeon insistiu. “Vocês pareciam bem da última vez que os vi aqui.”
O Byun assentiu em silêncio, uma breve mordida em seu lábio inferior denotando seu nervosismo. “Depois daquele dia, Chanyeol e eu tivemos uma conversa a respeito dos nossos sentimentos”, resolveu revelar de uma vez. “Você nos confundiu como um casal quando nos viu aqui e Chanyeol deve ter pensado que nós poderíamos funcionar de novo porque ele me chamou para aquela antiga cafeteria que íamos juntos e disse que ainda me amava.”
O choque no rosto de seu amigo era explícito, mas Baekhyun ainda não havia acabado e sabia que podia surpreendê-lo um pouquinho mais. “Eu acabei dizendo que eu também o amava ainda, que não havia mudado depois do término”, continuou, analisando bem as expressões do amigo conforme falava. “Nós chegamos a conclusão de que... Não faria mal algum se nós tentássemos de novo. Não precisamos apressar nada, nem estamos namorando de novo, mas estamos convivendo um com outro e deixando que o tempo faça sua mágica.”
Suspirou ao terminar de falar, esperando pelo que quer que o amigo tivesse a dizer. Joonmyeon parecia estar absorvendo todas as informações que jogou em si, o livro ao seu lado completamente esquecido. A biblioteca estava em completo silêncio, nem uma alma viva além dos dois a ocupar aqueles corredores, e a ausência de sons estava começando a deixá-lo sufocado.
A opinião de Joonmyeon sempre contou muito para si – não costumava fazer nada que o amigo desaprovasse porque sabia que não havia ninguém que pensasse mais nos prós e contras de qualquer coisa do que Kim Joonmyeon. Embora o Kim tenha lhe confundido como um casal de novo com Chanyeol quando o viu, estaria considerando uma boa ideia que estivessem tentando de novo?
“Não é isso que está te incomodando”, Joonmyeon voltou a falar, surpreendendo-o. Suas sobrancelhas estavam vincadas, o mesmo olhar sério de outrora. “O que foi, Baekhyun? No que está pensando?”
Esse era o mal de se deixar conhecer tão bem por seu melhor amigo, Baekhyun pensou. O Kim conseguia ler suas expressões melhor do que qualquer um para saber o que estava pensando no momento.
“Eu não sei se isso é uma boa ideia”, Baekhyun sussurrou, como se dizer em voz alta pudesse fazer com que algo terrível se concretizasse. “Não sei se é uma boa ideia me aproximar de novo do Chanyeol, se tentarmos de novo pode dar certo... Não quero machucá-lo como da última vez.”
Joonmyeon bem se recordava das últimas semanas em que Baekhyun namorou Chanyeol. O amigo ligava para si em quase todas as noites para reclamar de mais uma briga que tivera com o mais novo, uma discussão boba que tomou proporções grandes demais, quase sempre magoado por uma palavra ou outra que não deveria ter sido dita.
Recordava-se bem de como não fora uma época boa para nenhum dos dois e de como se sentiu triste em ver que um casal que, meses antes, era seu exemplo de felicidade a ser construída conseguiu arruinar-se de dentro para fora dessa maneira.
Olhou mais uma vez em direção ao amigo, percebendo como o medo em seus olhos era real. Baekhyun era verdadeiro demais para o próprio bem, conseguia ver através de seus olhos como seu medo era real; temia machucar Chanyeol logo agora que suas feridas estavam cicatrizando, amava-o demais para que pudesse arriscar a felicidade do Park em troca de uma tentativa incerta.
Contudo, também sabia que Baekhyun muitas vezes se deixava dominar pelo medo em momentos que não deveria – e eram nesses momentos que Joonmyeon se encaixava.
“Você ainda o ama, certo?”, Joonmyeon questionou, vendo o assentir recebido em resposta. “Não posso lhe dizer que é impossível que você o machuque novamente. Talvez vocês voltem a brigar, talvez discutam pelos mesmos motivos ridículos das outras vezes, mas... E se isso não acontecer? E se dessa vez for diferente, agora que vocês sabem no que erraram e podem consertar juntos?”
“Mas e se acontecer?”, Baekhyun insistiu. “Nós estávamos tentando voltar a amizade que tínhamos, sabe. Mas agora que estamos tentando de novo, eu não consigo deixar de pensar em como cada gesto meu pode ser entendido de outra forma, algo que não calculei poderia machucá-lo e...”
“Baekhyun, respira”, o Kim o interrompeu. “Você não pode prever o futuro. A única coisa que você tem certeza nesse momento é de que você ainda ama o Chanyeol e que ele ainda te ama também. Todos nós cometemos erros, talvez vocês fossem imaturos demais para o sentimento de vocês, mas são novas pessoas agora.”
“Só se passaram seis meses desde que terminamos, Suho”, Baekhyun suspirou. “Ninguém muda tanto assim em meio ano.”
“Talvez não”, Joonmyeon concordou com um dar de ombros, “mas se seis meses são pouco tempo, os erros ainda estão frescos na memória de vocês dois para que não os repitam, não é?”
O amigo sempre teve uma ótima retórica e sabia como fazer com que as pessoas concordassem consigo. O Byun estava tendo sua experiência no momento, enquanto não sabia como retrucar ao que Joonmyeon havia dito; sim, ainda tinha fresco em sua mente tudo o que acontecera entre ele e Chanyeol, os erros e brigas que os levaram até o fim, mas não impedia o medo que sentia de repeti-los.
Joonmyeon apanhou seu pulso em suas mãos, fazendo com que voltasse seu olhar ao traço delicado que havia tatuado em seu pulso. Era impossível que se esquecesse daquela tatuagem e sabia o que o amigo iria dizer antes mesmo que ele abrisse a boca e falasse qualquer coisa.
“Foi ele quem tatuou esse coração, não foi?”, Joonmyeon lhe perguntou. Sem esperar por resposta, uma vez que sabia qual era, continuou: “E você se lembra o porquê de ter tatuado?”
Não havia uma forma para que se esquecesse o motivo pelo qual escolheu tatuar um coração enquanto Chanyeol possuía em seu pulso o traçado que lhe fazia par. O significado que havia designado para sua tatuagem era o mesmo, ainda que tivessem terminado, ainda que tivesse se passado seis meses que estavam separados.
“Porque Chanyeol sempre teria morada em mim”, Baekhyun sussurrou, “porque meu coração sempre seria um lar para ele.”
Joonmyeon sorriu ao ouvi-lo falar – já havia ouvido a mesma explicação outras vezes, inclusive no dia em que Baekhyun tatuou, e sabia que aquele significado não havia se perdido. Seu amigo tinha seus motivos para o temor que sentia em relação ao futuro, mas jamais saberia se estava certo ou não caso continuasse a fugir.
“Quem sabe é a hora de você deixá-lo voltar para o lar dele, então”, Joonmyeon sussurrou em resposta. “A escolha é sua, no final das contas, Baek. Mas se quer saber o que eu acho... Vocês sempre foram o casal que tinha mais sintonia que eu já vi e, se a vida colocou uma nova chance à sua frente, você deveria agarrá-la. Não vivemos esse tipo de amor duas vezes.”
O Byun olhou para cima encontrando o olhar do amigo e o sorriso amigável em seus lábios. Joonmyeon sempre quisera o seu bem e era a pessoa mais sincera que conhecia; estaria ele certo dessa vez também? Deveria derrubar todos seus muros e permitir que Chanyeol se aproximasse por completo, permitir a si mesmo que se apaixonasse mais uma vez por seu ex-namorado?
Olhando em um vislumbre para a tatuagem em seu pulso mais uma vez, Baekhyun se perguntou se já não havia se apaixonado mais uma vez e não havia notado.
“Obrigado, Joonmyeon”, Baekhyun o agradeceu, dessa vez com um sorriso mais tranquilo em seus lábios.
“Não se esquecendo de me chamar para ser seu padrinho de casamento, está tudo certo”, Joonmyeon brincou, apanhando o livro esquecido à bancada. “Tenho que ir agora. Boa sorte, Baek. Você vai tomar a decisão certa, eu sei que sim.”
Baekhyun acenou em despedida ao amigo, assistindo-o enquanto sumia pelas portas de entrada. Apoiou o rosto na mão, deixando que o peso de seu corpo encontrasse apoio na bancada, e permitiu que sua mente viajasse um pouquinho mais. A conversa com Joonmyeon fora mais esclarecedora do que estava esperando, no final das contas.
Talvez essa fosse a hora certa de deixar no passado os medos que lhe dominavam e faziam com que sempre tivesse um pé atrás com a aproximação de seu ex-namorado. Talvez essa fosse a hora certa de derrubar os muros que construiu em defesa própria e permitir que Chanyeol se aproximasse mais uma vez, que lhe conquistasse novamente como sabia que aconteceria.
Não era um bom mentiroso e sabia que não enganava a si mesmo; o Park lhe conquistava dia após dia, com gestos tão bobos que passariam despercebidos para a maioria das pessoas, mas não para ele. Baekhyun sempre estaria atento a cada pequeno detalhe que compunha Park Chanyeol.
Suspirou, erguendo-se mais uma vez e se aprontando para voltar ao trabalho; com a biblioteca vazia, podia dedicar seu tempo para arrumar os livros desorganizados nas prateleiras e essa sempre foi a sua parte favorita. Podia se perder em meio àquelas histórias e vivenciar cada uma delas, ainda que não fizessem parte de sua vida.
Dessa vez, Baekhyun não se importava nem um pouco com isso porque tinha sua própria história de amor para viver e não a trocaria por nenhuma de qualquer um dos livros que lhe rodeavam.
E essa era a melhor resposta que poderia encontrar.
. . .
Dessa vez, não foi necessário que reunisse tanta coragem assim para o que queria fazer.
Conseguia se recordar com clareza da primeira vez em que fizera o mesmo percurso algumas semanas atrás, quando as coisas ainda eram um pouco incertas e quando a única certeza que possuía era um dueto improvisado em suas varandas. Conseguia se recordar de como seu coração batia rápido e ansioso naquele momento e em como, dessa vez, as sensações eram completamente diferentes.
Ainda eram os mesmos Baekhyun e Chanyeol, mas havia pequenas mudanças, ainda que tão sutis, que faziam toda a diferença.
Em outros tempos, bater na porta de Chanyeol lhe deixaria ansioso e haveria uma voz em sua mente lhe mandando desistir porque era loucura e deveria voltar para a segurança de seu apartamento. Em outros tempos, o nervosismo lhe devoraria no momento em que o Park lhe atendesse e não saberia o que dizer, colocando-se em papel de bobo na frente de seu ex-namorado.
Dessa vez, contudo, havia segurança em suas batidas e até mesmo estava cantarolando uma música qualquer enquanto aguardava pelo retorno de dentro do apartamento. Um sorriso teimoso insistia em se desenhar em seus lábios, sentindo-se como um adolescente de novo enquanto fazia algo rebelde – ainda que não fosse nada demais bater à porta de seu vizinho.
Quando Chanyeol abriu a porta, Baekhyun abriu ainda mais seu sorriso ao vê-lo sorrir de volta para si.
Em outros tempos, ver Chanyeol lhe deixaria nervoso pela possibilidade de um passo poder colocar tudo a perder. Dessa vez, ver Chanyeol só fazia com que seu coração se aquecesse novamente, como sempre deveria ter sido.
A conversa que tivera com Joonmyeon fora de grande valia para que pudesse resolver as dúvidas que ainda permeavam sua mente. Talvez ainda não estivesse com todas as respostas que precisava, mas não podia negar que se sentia bem mais tranquilo em relação a Chanyeol após a visão de seu amigo em relação ao que estava vivendo.
Sabia da opinião de Joonmyeon desde que terminaram, de como acreditava que acabariam voltando em algum momento e estaria lá para dizer eu avisei, mas Baekhyun preferira não olhar por esse ângulo porque era mais confortável dessa maneira. Encarar a possibilidade que o Kim defendia era o mesmo que olhar para seus temores e aceitar a ideia de enfrentá-los e, por muito tempo, Baekhyun sabia que não estava pronto para isso.
Agora, um mês desde que concordou em tentar com Chanyeol e tendo o sorriso do Park recepcionando-o, Baekhyun sabia que valia a pena – era aterrorizante e, por vezes, ainda se questionava se daria certo, mas tinha certeza que valia a pena tentar.
Escolheu não dizer a Chanyeol sobre o que conversara com o melhor amigo. Não havia necessidade que o Park soubesse a respeito de seus medos – ou sabia que isso acabaria fazendo com que se culpasse por algo que não tinha culpa alguma. A última coisa que gostaria era começar algo com Chanyeol mais uma vez enquanto seu ex-namorado ainda se culpava pelo passado.
Se estava tentando deixar para trás os erros de seu passado para não os repetir com o Park, esperava que Chanyeol fizesse a mesma coisa e pudessem, finalmente, iniciar uma nova etapa, sem qualquer influência do que já viveram.
“Não esperava ver você hoje”, Chanyeol comentou assim que deu permissão para que entrasse em seu apartamento, mas não havia nenhum tom de reprimenda em suas palavras. “Achei que trabalharia até mais tarde, não era hoje aquela catalogação dos livros?”
“Eu ia”, Baekhyun concordou, sentando-se no encosto lateral do sofá, “mas meu chefe apareceu dizendo que tinha uma dedetização marcada para hoje à noite e nós estávamos dispensados, vamos fazer isso semana que vem agora.”
“Você deve estar arrasado por ser retirado de maneira tão abrupta do meio dos livros”, Chanyeol zombou. Baekhyun rolou os olhos; a mania que o Park possuía de brincar com sua paixão pelos livros não era de hoje, mas já estava acostumado a ignorá-la.
“Se você continuar bancando o engraçadinho desse jeito, eu posso repensar os planos de hoje à noite”, Baekhyun o ameaçou e Chanyeol ergueu uma sobrancelha, curioso. O que seu ex-namorado tinha em mente? “O que você acha que é?”
“Isso é algum tipo de pegadinha para que eu fale alguma coisa e depois você me deixe envergonhado porque eu pensei em algo que nunca passou pela sua cabeça?”, Chanyeol arriscou. “Não te conheci ontem, Byun Baekhyun.”
O mais velho riu porque era verdade; se Chanyeol brincava com seu gosto por livros, Baekhyun costumava brincar com a ingenuidade de seu ex-namorado, dando-lhe pistas para algo que havia preparado apenas para fazê-lo escolher um caminho completamente errado e geralmente sexual e, em seguida, revelar o que tinha em mente.
Imaginou que conseguiria pegá-lo mais uma vez na mesma pegadinha, mas Chanyeol havia aprendido todos seus truques.
“Eu trouxe o seu combo favorito do McDonalds”, Baekhyun mostrou, indicando as sacolas de papel que tinha em suas mãos e Chanyeol não havia notado antes. Havia apoiado ambas no sofá assim que se sentou para que o Park não as visse. “Big Mac com dobro de picles, não é?”
“Você ainda lembra de cada detalhezinho meu”, Chanyeol comentou com um tom risonho, aproximando-se a passos rápidos de onde o mais velho estava antes de bagunçar seus cabelos de leve. Baekhyun encolheu os ombros, tentando escapar do toque de Chanyeol enquanto reclamava para que soltasse seu cabelo.
O mais novo não teve tempo de perceber como aquela cena era estranha, mas Baekhyun sim – transportava-o direto para meses atrás, quando trazer um combo do Big Mac para Chanyeol era parte de sua rotina, assim como brigar com o rapaz por bagunçar seu cabelo em agradecimento. Até mesmo o tom de Chanyeol ao lhe recordar de como se lembrava de cada detalhe seu fazia com que Baekhyun se sentisse um pouquinho envergonhado.
Sabia que não era necessário – céus, era seu ex-namorado e não terminaram há tanto tempo assim para que se esquecesse de três anos de sua vida, mas, ainda assim, não tinha como impedir o leve rubor que tomou conta de suas bochechas em seguida.
Chanyeol sabia como fazê-lo corar em todas as situações possíveis e o Byun o odiava por isso, uma vez que ele sequer estava atento a essa habilidade que possuía.
Enquanto devaneava em seu constrangimento, não percebeu como o Park já vasculhava as embalagens em busca de seu lanche, sentando-se no chão da sala de estar com sua sacola ao reconhecê-la. Não viu outra alternativa para si além de fazer o mesmo, apanhando seu próprio Big Mac – sem picles e alface, por favor – e arrumando um jeito confortável de estar ao lado de Chanyeol.
Encostou-se no sofá, aproveitando que o chão estava forrado pelo tapete felpudo que Chanyeol se recusara a comprar quando lhe indicou na loja, mas que, de maneira misteriosa, apareceu em seu apartamento uma semana depois quando Baekhyun comentou que realmente tinha gostado do tapete.
E ele o mantinha ali, ainda que tivessem terminado.
“Cara, parece que você adivinhou os meus pensamentos”, Chanyeol comentou, ainda mastigando o Big Mac, “eu estava louco por um desses hoje.”
“Termine de mastigar antes de falar, idiota”, Baekhyun ralhou consigo, empurrando-o de leve pelo ombro. “Eu estava vindo para casa quando tive ideia de passar por lá e comprar... Pensei que poderíamos comer juntos e fazer alguma coisa.”
“Eu estava jogando videogame”, Chaneyol indicou para a televisão com o jogo ainda pausado, “se você quiser lembrar os velhos tempos de quando não conseguia ganhar uma partida de mim...”
“Você está muito convencido para o meu gosto”, Baekhyun lhe indicou, “eu melhorei bastante no videogame nesses últimos seis meses, se quer saber!”
Chanyeol ergueu a sobrancelha, uma expressão duvidosa. “Eu duvido tanto disso”, expôs. “Pega o joystick, vamos ver quem ganha essa.”
Baekhyun não era de negar nenhum desafio que lhe era proposto, ainda mais quando quem lhe propunha era Park Chanyeol – sabia o quanto seu ex-namorado era competitivo e nada lhe deixaria mais feliz do que provar que sabia jogar muito bem qualquer jogo que escolhesse, só para fazer com que engolisse suas palavras.
Chanyeol não precisava saber que não havia melhorado tanto assim, não é? Quem sabe a vida pudesse lhe ajudar dessa vez em só um golpezinho de sorte. Não estava pedindo muito.
Contudo, a vida não pareceu ouvi-lo.
O jogo escolhido era de corrida – um dos que Baekhyun menos gostava porque passava a maior parte de seu tempo no videogame com jogos de torneios e lutas – e parecia até mesmo fácil no começo, quando largou na frente de Chanyeol e manteve a liderança por um tempo considerável. Não estava sequer acreditando que iria mesmo calar a boca de seu vizinho dessa maneira, mas cantara vitória cedo demais.
A pista se tornava mais complicada com o passar do jogo e Baekhyun encontrava problemas em desviar dos obstáculos impostos; conseguia ver o carro de Chanyeol se aproximando mais rápido do que deveria, perigosamente próximo de onde estava com a liderança e, em um descuido seu por estar olhando mais para o carro alheio do que para o seu, não percebera uma das curvas que se aproximava e chocou-se contra ela.
Seu carro foi jogado para fora da pista e o tempo necessário para que voltasse ao embate foi o suficiente para que o tatuador conseguisse a liderança e uma boa vantagem de distância entre ambos.
“Como sempre, distraído demais para dirigir”, Chanyeol riu, jogando o peso de seu corpo de leve em cima de Baekhyun, em uma tentativa de distrai-lo ainda mais e tornar sua vitória ainda mais fácil.
“Não é justo!”, Baekhyun exclamou, tentando empurrá-lo de volta para seu lugar. “Você está me atrapalhando, Chanyeol, não tem graça desse jeito!”
“Parece divertido o suficiente pra mim”, o Park continuou a rir. “Como é a visão aí de trás, Byun?”
“Em breve você saberá por conta própria”, Baekhyun o ameaçou, conseguindo sucesso em sua última tentativa de fazer o Park voltar ao seu lugar de origem.
O tatuador não deu ouvidos à ameaça feita pelo ex-namorado, continuando a provocá-lo para tirá-lo do sério e fazer com que se distraísse mais. Contudo, mal poderia saber o que Baekhyun tinha em mente e estava apenas esperando pelo momento certo para agir; enquanto Chanyeol continuava a provocá-lo, não percebia que também estava se distraindo com a possibilidade de uma vitória fácil.
Sendo bem sincero, foi até que fácil desligar o joystick de Chanyeol e assistir seu carro se chocar contra a parede.
“Byun Baekhyun!”, Chanyeol gritou, apertando o botão para ligar o joystick novamente. “Isso não é justo! Você desligou o meu controle, ganhar desse jeito não vale!”
“Tentar me esmagar para que eu não consiga jogar é uma tentativa mais justa para você?”, Baekhyun replicou. “Jogamos com as armas que temos, bebê. Agora me diga você como é a vista aí de trás.”
Com o tempo que seu joystick levou para ligar novamente, Chanyeol já havia perdido sua liderança e Baekhyun agora corria direto para a vitória. Sabia que não havia uma forma de alcançá-lo novamente, mas não deixaria barato dessa forma; o Byun não ganharia por meios legais e exigiria uma revanche em seguida.
Park Chanyeol não perderia em seu jogo favorito, nem mesmo para aquele por quem seu coração ainda batia mais forte.
A linha de chegada foi cruzada pelo carro de Baekhyun e seu joystick encontrou o tapete no momento em que o mais velho o soltou ao erguer as mãos para comemorar sua vitória. Chanyeol também largou o seu de lado, um bico insatisfeito em seus lábios pela derrota – não aceitaria a vitória do mais velho quando fora sabotado.
Contudo, antes que resolvesse dizer qualquer coisa em decorrência da vitória roubada, Baekhyun virou em sua direção com um sorriso aberto, os olhos meio fechados pelas bochechas altas; a alegria era explícita em sua expressão e fazia com que Chanyeol quase se esquecesse do porquê iria brigar com ele naquele momento.
Maldito fosse seu coração apaixonado que nunca conseguiu se desvencilhar por completo de Byun Baekhyun.
“Eu ganhei de você! Eu disse que eu poderia!”, Baekhyun se gabou, sem se importar pelos métodos utilizados para alcançar a vitória. “Como se sente agora, Park Chanyeol?”
“Foi roubado!”, Chanyeol insistiu. “Você só pode provar que ganhou quando vencer mais uma partida, senão eu vou lembrá-lo todos os dias como você é um cheaterzinho!”
Baekhyun rolou os olhos para a ameaça, mas sabia que era real; Chanyeol não lidava bem com derrotas e, verdade fosse dita, o tinha sabotado para que conseguisse vencer. Porém, não seria problema algum vencê-lo mais uma vez de maneira limpa dessa vez, agora que já conhecia a pista e não tinha como se surpreender pelo caminho. Só precisava tomar cuidado para não derrapar nas curvas como acontecera na primeira vez e a corrida estaria no papo.
Sugou um pouco mais da coca-cola em seu copo – desgostoso consigo mesmo por ter esquecido de pedir sem gelo e agora estar completamente aguada – e apanhou o joystick mais uma vez, de nariz erguido pronto para mais uma rodada.
“Vamos de novo, então!”, Baekhyun concordou. “Na mesma pista para eu provar que eu posso detonar você!”
Iniciaram uma nova partida, com Baekhyun muito mais atento ao que deveria fazer dessa vez; não deixaria que Chanyeol tivesse o gostinho de lhe dizer que só havia vencido por tê-lo sabotado antes, estava indo bem antes de se distrair. Sabia que o rapaz iria tentar mais uma vez provocá-lo, mas bastava que não se deixasse levar.
O Park, por sua vez, dividia sua atenção entre a tela da televisão – já havia jogado aquela pista tantas vezes que nem precisava olhar para saber onde deveria virar – e o rapaz ao seu lado, não conseguindo impedir que seus pensamentos voassem até o relacionamento que tiveram. Noites como essa costumavam ser rotineiras enquanto estavam juntos e Baekhyun sempre reclamava por perder todas as vezes.
Vê-lo vencer uma partida jogada contra si talvez simbolizasse também um novo começo para ambos, como se os velhos hábitos estivessem no passado por completo.
Embora completamente alheio aos pensamentos de Chanyeol, Baekhyun não conseguia pensar em outra coisa. O clima entre ambos, ainda que estivessem exaltados pelo jogo, era tão tranquilo que era quase como estar viajando no tempo e voltando aos tempos bons de seu namoro, quando comiam fast food jogados no chão e com os joysticks ao redor de ambos, cansados demais após várias partidas seguidas porque Baekhyun não aceitava perder.
O Byun se deu conta, nesse momento, que ter tudo isso de volta não era tão aterrorizante assim como havia pensado.
Dessa vez, a partida rodou mais rápido do que da primeira, com ambos cometendo menos erros. Ultrapassaram um ao outro diversas vezes ao decorrer do caminho, mas agora que se aproximavam da linha de chegada novamente, era Baekhyun quem estava na liderança. Chanyeol estava se esforçando para superá-lo uma última vez, mas conseguia perceber que a derrota era iminente.
Baekhyun realmente iria vencê-lo em seu jogo favorito e não poderia acusá-lo de nada.
Ao passar pela linha de chegada, o Byun comemorou mais uma vez, o som de sua risada ecoando pela sala de estar, o joystick voltando a encontrar seu lugar no tapete enquanto Baekhyun deixava que a felicidade que sentia se expressasse. Não costumava ganhar muitas vezes, ainda mais de Chanyeol, então era algo a ser comemorado.
Inclinou seu corpo em direção ao de seu ex-namorado, seu sorriso muito próximo do bico que Chanyeol tinha em seus lábios pela derrota, não demorando a selar seus lábios em um selinho demorado. Seus olhos fechados – que sorriam por conta própria, ainda alheio em sua alegria – não conseguiram ver o choque que passou pelos olhos do mais novo.
Mas não demorou até que tomasse consciência novamente.
Afastou-se em seguida, o riso morrendo aos poucos enquanto seu rosto assumia uma expressão preocupada; deveria ter feito isso? Deveria ter se controlado? Deixou-se levar de tal maneira pelas lembranças de quando faziam isso juntos enquanto namoravam que se esqueceu de que não poderia comemorar da mesma maneira?
O silêncio de Chanyeol fazia com que tudo se tornasse ainda pior porque agora Baekhyun não sabia se havia passado todos os sinais e se havia estragado tudo antes mesmo que tivesse a chance de realmente aproveitar o que tinham, sem nenhum medo.
Estava pronto para pedir desculpas – sem nem mesmo saber se deveria – quando o Park voltou a agir, inclinando-se em sua direção e roubando um novo beijo. Dessa vez, não permaneceu como um selinho como havia feito; permitiu que o mais novo lhe beijasse, entregando o quanto queria aquele contato há tanto tempo, sentindo o carinho que Chanyeol lhe dispensava com uma das mãos em seus cabelos.
Levou uma das mãos livres ao rosto do tatuador, deixando que ela permanecesse ali, em um carinho mudo em sua bochecha. Não sabia o quanto havia sentido falta dos beijos de Chanyeol até tê-los novamente e não queria se afastar agora que já os tinha mais uma vez. A sensação continuava a mesma da primeira vez que o beijou, preenchendo-o de alegria.
Os beijos de Park Chanyeol lhe recordavam todos os momentos que jurou ser invencível, das risadas compartilhadas naquele mesmo tapete, dos toques trocados e os arfares doados; recordavam-lhe a paixão que acendia em seu peito, o calor gostoso que o amor de Chanyeol lhe provocava. Funcionava como uma droga na qual se viciara ao primeiro toque e conseguia sentir os mesmos sintomas se repetindo sem que nada fizesse para impedi-los.
Entretanto, em algum momento a realidade os chamaria de volta e foi em Baekhyun que bateu primeiro.
Afastou-se do toque alheio, recuperando sua respiração enquanto afastava seu corpo lentamente. Chanyeol o olhou sem entender, mas nada disse; sabia que um beijo como esse não era exatamente o melhor caminho para que recomeçassem aos poucos, mas imaginara que Baekhyun queria tanto quanto ele ao beijá-lo primeiro.
Talvez estivesse errado.
“Eu... Eu tenho que ir”, Baekhyun comentou, seu tom de voz um pouco incerto enquanto se erguia do chão. “Esqueci que tenho que... Fazer algumas coisas do trabalho. Foi bom jogar com você, Chanyeol, até outra hora!”
O Park não teve chance de impedi-lo ou falar qualquer coisa que lhe fizesse ficar. Conhecia Baekhyun como a palma de sua mão para saber que o beijo fora suficiente para deixá-lo confuso e que era melhor dar um tempo para pôr seus pensamentos em ordem antes que dissessem qualquer coisa um ao outro. Ouviu o bater da porta, indicando que seu ex-namorado havia ido embora, e suspirou, apoiando a cabeça no sofá às suas costas.
Seu coração ainda batia acelerado em seu peito, recordando-lhe do beijo trocado e de todas as sensações tão vívidas em seu peito enquanto Baekhyun estava tão próximo de si. De olhos fechados, amaldiçoou baixinho a vida por estar lhe testando dessa maneira.
Não imaginara, uma hora antes, que sua noite teria essa reviravolta – era só mais uma terça à noite que passaria jogando Need for Speed e, de repente, ganhara lanches de fast food espalhados pela sua sala e um beijo com o sabor do molho especial do Big Mac.
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