História In My Veins - Ever after

Abri a porta de casa e a bati com força, indo diretamente para o meu quarto enquanto Seokjin andava atrás de mim perguntando se tudo estava bem. Virei para ele e coloquei o pen-drive na sua mão, voltando a andar para o meu quarto, jogando meu corpo cansado na cama. Abracei o travesseiro e afundei meu rosto no mesmo, xingando tudo o que se passava na minha cabeça, fazendo Seokjin chamar minha atenção. Pedi desculpa e me levantei, andando até o banheiro e me trancando lá dentro, sentando na beirada da banheira enquanto a mesma enchia. Tirei minhas roupas e me apoiei na pia do banheiro, fechando os olhos e lembrando da conversa com Yoongi. Ele não podia aparecer e dizer que, mesmo longe de mim, ele cuidava de mim. Ele não tinha o direito de fazer isso. Eu sentia como se ele estivesse rindo mais de mim, mesmo com suas palavras ecoando na minha cabeça. Eu sabia o quanto Yoongi era orgulhoso e eu poderia levar em consideração seu orgulho por não ter falado comigo, mas eu não sabia o que realmente pensar. Era tão fácil achar que ele me odiava. Talvez eu estivesse acostumado com a ideia de Yoongi me odiar. E, naquele momento, eu queria odiá-lo.

Entrei na banheira e coloquei minha cabeça para trás, encarando o teto. Ouvi Seokjin batendo na porta e ele abriu uma fresta, olhando para meu rosto.

- Acho que você vai querer ver as músicas – Ele disse.

- Eu não quero ver nada agora – Respondi e desviei meu olhar do seu.

Seokjin apenas fechou a porta e eu senti um nó na minha garganta. Eu realmente era um fraco. Fechei meus olhos e passei a língua pelo lábio inferior, soltando um suspiro baixo.

Peguei meu celular e disquei o número de Yoongi, sendo ignorado novamente. Já havia perdido a conta de quantas vezes o havia ligado durante aquelas semanas e não obtinha nenhuma resposta. Se Seokjin não me dissesse que o via na sua empresa, eu com certeza acharia que algo havia acontecido. Mas nada, aparentemente, estava acontecendo. Eu estava sendo ignorado pelo meu melhor amigo, isso sim. E eu nem sabia o motivo, para piorar. Vasculhei em todas as lembranças que pude alcançar, procurando algo que eu tenha feito mas nada parecia estranho. Talvez eu tenha forçado demais nossa amizade? Ou ele pode simplesmente ter se cansado de mim.

Eu só sei que conseguia sentir meu coração quebrando em milhares de pedaços e essa era, com certeza, a pior coisa que eu havia sentido durante minha vida inteira.

Eu só queria correr até ele e abraçá-lo, implorando para que não me deixasse pois eu não fazia ideia de como viveria sem ele. Eu não podia.

Ele era meu melhor amigo e, por algum azar, eu estava apaixonado por ele.

Era tão clichê mas eu ainda conseguia sentir tudo, apenas pensando nele. Ele vivia em meus pensamentos e eu nem sabia se ele pensava em mim da mesma maneira. Mas todos os meus sentidos gritavam que não. Ele me considerava apenas um amigo e, se era isso o que ele queria, então eu seria seu amigo.

Mas por que meu amigo estaria me ignorando agora?

Sentei-me na minha cama e peguei um caderno e uma caneta, prensando a ponta da mesma na folha enquanto deixava as ideias surgirem na minha mente. Eu tinha tanto que queria falar e, como não podia dizer para ninguém, eu escreveria. Escreveria o que estava sentindo e só assim eu poderia me livrar daquela dor, que eu não fazia ideia de quanto tempo me assombraria.

Saí da banheira e enrolei uma toalha na minha cintura, andando até o quarto e abrindo uma gaveta do armário. Encontrei minha pasta de música ali e sentei-me na cama. Lembrava perfeitamente das noites que passava escrevendo e tentando me comunicar com Yoongi, sentindo a dor da rejeição mais uma vez. Eram tão cheias de sentimento que, vendo agora, eu me sentia bem pior. Eu achei que nada havia mudado mas, mesmo conseguindo sentir tudo, eu estava tão mal com o abandono que apenas conseguia me culpar.

Ouvi batidas na porta e Seokjin a abriu, olhando para minha cama. Ele carregava um lanche e deixou na minha cama, olhando para a bagunça de folhas que eu havia feito.

- São as músicas que escrevi – Eu disse baixo, entregando uma para Seokjin e rindo. – Eu consigo me lembrar do vazio que eu senti no começo. Era agonizante.

Seokjin leu a letra e sorriu, dizendo para eu esperar enquanto pegava seu notebook que havia conectado o pen-drive. Me levantei e coloquei uma calça, voltando a sentar-me na cama e organizando as folhas bagunçadas. Seokjin reapareceu e me entregou seu notebook, deixando-me sozinho em seu quarto. Olhei para todos os arquivos e, vendo que havia um aberto, mordi o lábio inferior e decidi começar por esse. Meu celular tocou quando comecei a ler e o peguei, vendo o nome de Yoongi na tela. Franzi o nariz e atendi, colocando o aparelho no ouvido para ouvir o silêncio. Mordi meu lábio inferior ao ouvir Namjoon despedindo-se de Yoongi e mandando ele não virar a noite no estúdio, o que me fez rir nasalado. Dizer isso era em vão e todos sabiam. Estávamos falando de Min Yoongi.

- Seokjin pediu para eu te ligar – Ouvi sua voz cansada.

Ah, aquele idiota. Engoli em seco e encostei-me na cama, passando os olhos na música e lendo-a. Yoongi permaneceu em silêncio até eu ouvir um barulho de um gemido leve.

- O que você está fazendo? – Perguntei.

- Eu estou com dor – Yoongi respondeu como se fosse óbvio. – Meu estômago está me matando.

- O que você comeu hoje? – Perguntei desviando minha atenção da música, ouvindo Yoongi.

- Eu não lembro, acho que só tomei café.

- E você acha isso bonito?

- Não enche o saco – Yoongi respondeu e suspirou. – Eu estive ocupado.

- Mesmo assim, você tem que cuidar da sua saúde – Eu respirei fundo e mordi o lábio inferior. – Você sempre sentia essas dores antes porque não se alimentava direito. Principalmente quando passava o dia no seu quarto escrevendo e produzindo. Imagino que agora esteja pior. Vá para casa.

- Eu nem lembro mais como é minha casa – Yoongi confessou e eu franzi a testa.

- Aonde você dorme?

- Aqui – Imaginei ele dando de ombros e revirei os olhos. – Gasto muito tempo indo e voltando para casa.... Sabe o que seria bom agora?

- O que?

- Maratona de desenho enquanto você passa a mão nos meus cabelos até eu dormir, como você fazia antes.

Eu deixei uma gargalhada escapar, ouvindo Yoongi fazer o mesmo. Sorri pela sua risada e prendi meu lábio entre os dentes, olhando para o notebook e lendo mais uma vez uma parte da sua música.

- Taehyung? – Ouvi ele me chamando e esperei que ele continuasse, fechando a tela do notebook e tirando o pen-drive, segurando-o na minha mão. – Me desculpe.

- Yoongi? – O chamei como ele havia feito e sorri de lado quando ele respondeu um “hm?”. – Espero que você lembre o caminho da sua casa. E prepara suas coisas porque eu estou indo aí.

Ponha seu isqueiro no ar e me leve de volta para casa

Quando está tudo dito e feito e seguimos por onde o ar for

Ouvi dizer que noite após noite você tem chamado meu nome

E eu me encontro correndo para te encontrar

Eu não quero fugir das barreiras que eu construí

Você é o único

O único a me provocar

Que confia e acredita em mim

Você é o único

O único que me conhece

E no escuro você me mostra

Que é perfeitamente irresponsável

Droga, você me deixa sem defesa

Então se acostume

E tome tudo o que eu tenho

Até que não haja mais nada

Até que tenha apenas sua voz na minha cabeça

E quando as luzes se acendem

Você me vê como eu sou

Você ainda está dentro de mim