Primeiramente, ela sentiu o corpo totalmente mole sobre aquele chão duro e frio. Os olhos pesavam e estavam embaçados. Era uma tortura ter de piscá-los com força para que sua consciência voltasse à total estabilidade.
A dor que Hinata sentia em sua nuca era praticamente insuportável. Foi ali que ela fora atingida e ali latejava. Demonstrando que ela foi incapaz de manter-se de guarda alta para proteger sua casa e seus filhos.
Foi aí que veio o lapso de memória e consciência e ela lembrou-se: seus filhos.
Aqueles malditos!
Se eles tocaram em seus filhos, ela não saberia o que fazer, como agir. Pelo seus filhos, Hinata daria sua vida e, agora, estava quase incapaz de se mover, porque sua cabeça girava, tudo estava embaçado.
Mas isso não importa.
A dor não importa.
A consciência não importa.
Hinata levantou com a ajuda do apoio do sofá. Enquanto uma de suas mãos estava na nuca - que ainda latejava de dor -, a outra mão estava no sofá, pressionando o móvel para que seu corpo fosse impulsionado para cima e ela, enfim, se levantasse.
Começou a caminhar com dificuldade, totalmente cambaleante até as escadarias. Apoiou-se na parede com uma de suas mãos, enquanto a outra ainda continuava na nuca. Tateando as paredes, ela começou a subir degrau por degrau, o mais rápido que ela conseguia - o problema é que "o mais rápido que ela conseguia era muito lento" -. Hinata começou a xingar a si mesma na própria cabeça. Ela não desistiria.
Ela tateou as paredes com as duas mãos pelo corredor dos quartos e o primeiro quarto, que era o de Boruto, ela entrou.
Seu coração gelou.
As pernas bambearam.
O Coração estava à mil por hora.
Boruto não estava lá...
Hinata começou a caminhar na direção do quarto de Himawari, sua protegida caçula, com ainda mais dificuldade. Além da dor e da tontura, teria que lidar com a falta de ar, pernas bambas e o coração prestes a explodir.
Sentiu a facada duas vezes.
Seu coração morreu.
Suas pernas não tinham mais equilíbrio.
Himawari não estava lá.
- Não, não, não, não, não
Hinata repetia a mesma palavra com as mãos na cabeça. Tinha que ser um pesadelo! Seus filhos não estavam mais ali, ela não pôde protegê-los. Ela queria acordar desta tortura.
Hinata fechou as mãos e começou a dar socos em suas próprias têmporas e apertar as pálpebras, enquanto ainda repetia aquelas palavras:
- Não, não, não, não, não...
A dor, o aperto das pálpebras e toda aquela situação fazia Hinata derramar grossas e quentes lágrimas por suas bochechas.
Aquilo não podia ser real!
- Céus, o que eu faço? O que eu faço?
Hinata estava prestes a ter um colapso nervoso. Não conseguia raciocinar direito. Seus filhos foram levados pelos homens que a nocautearam e sabe-se lá o que eles estavam fazendo com suas crianças.
Hinata estava no chão, uma de suas mãos estavam - totalmente trêmulas - em sua boca, ela chorava, ela apertava suas pálpebras.
Tudo doía.
Sua nuca, seus olhos, suas mãos, suas pernas e, principalmente, seu peito... seu coração. Fisicamente e emocionalmente. Além do coração bater forte contra o próprio peito, ela sofria por seus filhos.
Eles desapareceram.
Hinata forçava a si mesma para voltar ao normal, ela precisava raciocinar.
E era tão óbvio o que ela deveria fazer, que se sentiu ainda mais inútil por ter demorado tanto para pensar.
- Naruto-kun... - ela sussurrou o nome da pessoa que resolveria tudo.
Claro, ele resolveria!
Ele é pai das crianças
Ele é o Hokage!
Ele resolveria, não é?
Ainda um pouco tonta, Hinata começou a se levantar e andar na direção da porta de sua casa. Precisava encontrá-lo, imediatamente.
...
Naruto tinha dores de cabeça e nas costas constantemente. O trabalho de Hokage exigia dele disposição. Eram milhares de papéis todos os dias para carimbar e assinar, ele era totalmente ocupado.
E, agora, para completar, sua vida pessoal estava totalmente na merda! Sua filha estava magoada, seu filho estava revoltado e sua esposa estava jogando tudo isso em sua cara. Ele compreendia que ela estava certa, mas ela foi tão cruel e impiedosa. A forma com a qual ela falou magoou muito Naruto.
Era raro isso, mas Naruto aproveitou que estava sozinho para permitir que algumas lágrimas fossem derramadas.
"Você é a bomba que destrói a família"
Estas palavras ecoavam na cabeça de Naruto e não paravam. Era uma tortura. Naruto quis iludir a si mesmo e dizer que tudo não passava de algo dito no calor do momento, mas tudo que é dito "no calor do momento" é algo que está entalado na garganta de quem proferiu aquelas palavras.
Há quanto tempo Naruto fazia com que Himawari, Boruto e Hinata fossem infelizes?
Pensar nisso fazia com que Naruto se sentisse um verdadeiro merda!
Mas todos esses pensamentos deixaram a mente de Naruto no momento em que ouviu batidas em sua porta.
Ele apoiou as costas na cadeira e sentou-se em uma posição formal para receber seja lá quem fosse.
- Entre!
Assim que deu a autorização, Naruto viu Shikamaru e Sasuke adentrando sua sala. Pergaminhos nas mãos e feições sérias. Naruto já sabia que se tratava de algo sobre a missão externa de Sasuke e isso teria que receber total atenção de Naruto.
- O que tem nesses pergaminhos? - Naruto ergueu uma das mãos e Sasuke jogou um pergaminho na sua direção, do qual ele pegou no ar. Shikamaru fez o mesmo e ele repetiu a mesma ação.
- Mais vestígios dos Otsutsuki... - Sasuke respondeu, simplismente.
- Alguma novidade? - Naruto perguntou, varrendo os olhos pelo pergaminho que Sasuke jogou para ele.
- Não... - Sasuke respondeu. - Apenas mais pergaminhos para serem mandados ao Centro de Inteligência para serem traduzidos.
- Entendo... - Naruto respondeu com pesar na voz, quase em um suspiro cansado. Deixou o pergaminho de Sasuke fechado sobre a mesa e pegou o pergaminho de Shikamaru. - E o seu, Shikamaru?
- Um dos pergaminhos que o Sasuke trouxe da outra vez, mas já traduzido. - Shikamaru respondeu.
- Está bem... - Naruto disse, com mais pesar. Tanto Shikamaru quanto Sasuke notaram que ele não estava bem. - Vou começar a ler...
Naruto passou uma das mãos no rosto e Shikamaru e Sasuke se encararam de soslaio, chegando em uma conclusão de que Naruto não estava bem.
- Ei, Naruto... - Shikamaru o chamou e Naruto apenas continuou passando a mão no rosto. - Por que não espera um pouco? Você parece cansado...
Naruto passou as duas mãos no rosto e, em seguida, apoiou os cotovelos na mesa. Ele bufou e seus braços se cruzaram sobre a mesa, fazendo com que ele apoiasse a testa nos próprios antebraços.
- O que aconteceu? - Shikamaru perguntou, andando até o lado de Naruto e dando tapinhas nas costas do amigo.
Shikamaru e Naruto não perceberam que Sasuke ficou alheio a eles. Ele começou a olhar para os cantos e, depois, para a porta, como se estivesse esperando alguém passar ali.
- Minha esposa... - Naruto murmurou e sua voz foi abafada por estar com o rosto enterrado nos próprios braços.
- Falando nela... - Sasuke murmurou e apenas estas palavras foram o suficiente para que Naruto e Shikamaru encarassem Sasuke e vissem que ele encarava a porta com atenção.
Naruto também sentiu
Era o chakra de Hinata se aproximando.
De repente, ele ficou em alerta.
- NARUTO-KUN!
Ela apareceu em sua porta, totalmente eufórica. Estava visivelmente assustada, com medo, tremendo.
Naruto se levantou de sua cadeira e caminhou até Hinata com passos rápidos. Ela atravessou a sala com passos cambaleante e Naruto veio de encontro com ela, a abraçando. Hinata escondeu o rosto com as mãos e enterrou-se no peito de Naruto.
Quando a abraçou, viu que sua esposa tremia muito, muito mesmo, ela hiperventilava e chorava; tudo ao mesmo tempo.
- Hinata, o que aconteceu, hime? - Naruto sabia que era inútil perguntar, já que ela mal conseguia ficar de pé, muito menos falar.
Passou as mãos pelos cabelos dela e viu que ela estava completamente suada, além de trêmula e as lágrimas dela molhava suas roupas.
- Shikamaru... - ele chamou a atenção do amigo e viu que ele encarava Hinata com preocupação, mas olhou para Naruto assim que foi chamado. - Traga um copo d'água para ela, por favor. - Shikamaru nem ouviu direito o pedido e começou a caminhar na direção da porta.
- Traga Sakura até aqui... - foi Sasuke quem pediu para Shikamaru. - Ela vai saber o que fazer.
Shikamaru assentiu e começou a sair para finalmente chamar por Sakura e buscar um copo d'água para Hinata, que estava tendo uma clara crise de ansiedade.
- Hinata... - Naruto afastou Hinata do peito dele, segurando-a pelo rosto com as duas mãos. - Você precisa manter a calma.
Sasuke não ficou parado, ele pegou a cadeira de Naruto e a arrastou para perto de Hinata, para que ela se sentasse.
- Obrigado, Sasuke... - foi Naruto quem agradeceu e ele apenas assentiu.
Naruto ajoelhou-se diante de Hinata e colocou as mãos nos joelhos dela. Ele pegou um lencinho de seu bolso e começou a secar as lágrimas de sua esposa que, aos poucos, começou a controlar sua respiração.
- Isso, se acalma... - Naruto praticamente sussurrava e Hinata tinha uns espasmos para que a respiração fosse controlada. Seus soluços ainda aconteciam, mas a tremedeira diminuía. - Está tudo bem, Sakura-chan está vindo e ela vai te ajudar a controlar sua crise...
Naruto passou as mãos no cabelo de Hinata, colocando as mechas dela atrás de suas orelhas. Shikamaru apareceu com o copo d'água e entregou-o para Naruto, que ajudava a esposa a beber, já que ela não tinha forças nas mãos para segurar o copo.
- Mandei um Anbu até a casa de Sakura, logo ela chegará... - Shikamaru disse, se afastando para pegar um pequeno ventilador da mesa de Naruto e ligá-lo, para que ele ventilasse o rosto de Hinata.
Demorou cerca de cinco minutos para Sakura chegar. Ela estava ofegante, claramente correu como uma maratona até ali. Sequer os cumprimentou, já chegou dando as ordens médicas:
- Naruto, me ajude a tirar o casaco de Hinata. - a voz de ordem de Sakura fez com que ele agisse.
Naruto abriu o zíper daquele moletom pesado e lilás que Hinata sempre usava, deixando-a apenas com uma blusa fina branca que ela usava por baixo.
Sakura concentrou chakra na palma das mãos e colocou sobre o peito de Hinata, a examinando, contatando que a frequência cardíaca dela estava muito mais elevada que o normal e se continuasse assim, o estado dela poderia se agravar.
-É uma crise de ansiedade bem mais grave. - Sakura disse e isso assustou Naruto. - O emocional dela atingiu totalmente o físico. O que aconteceu? - ela virou-se para Naruto.
- E-eu não sei, Sakura-chan.
- Eu vou ter que sedá-la... - Sakura disse.
- Não, não, não, não... - Hinata se agarrou em Sakura pelos braços, praticamente cravando as unhas nela, como se Sakura fosse sua inimiga mortal naquele momento.
- Pare com isso, Hinata! - Naruto praticamente praguejou, agarrando-se em sua esposa.
Hinata não compreendia mais as próprias atitudes, mas não podia ser sedada. Estar totalmente consciente fazia com que Hinata ficasse ainda mais ansiosa. Pois ela sabia que a cada vez que ela tentava falar, era mais atraso para realmente contar, pois sua respiração pesada não permitia. Sakura queria atrasá-la ainda mais seu relato sedando-a e ela não poderia permitir isto. Começou a agredir a amiga e o marido que tentava segurá-la.
- Ela está tendo uma crise de pânico junto com um transtorno explosivo intermitente - Sakura fez uma cara de dor ao ver o ferimento que Hinata fez em seu braço. - Shikamaru, Sasuke-kun, ajudem aqui!
Sasuke e Shikamaru se aproximaram em passos rápidos de Hinata. Enquanto Shikamaru segurou em baixo dos braços as pernas de Hinata, Sasuke segurava-a pelo pescoço com seu único braço e Naruto segurava os dois braços de Hinata.
Ela precisava lutar.
Não conseguia mexer as pernas
Nem os braços.
Mas ela conseguia mover sua cabeça.
Hinata abaixou o rosto na direção do braço de Sasuke e cravou seus dentes com força. Mesmo que por cima da roupa, ela conseguiu ferir Sasuke com a força de sua mandíbula, vendo que ele gemeu de dor e proferiu diversos palavrões.
- PARE, HINATA! - Naruto gritou, mas ela continuou com seus dentrea cravados ali e fazendo a maior força que podia com seus braços e pernas.
Sakura, mais rápido que ela pôde, aplicou o sedativo na veia de Hinata, por mais que ela não colaborasse. O efeito foi de segundos. Ela parou de lutar.
- Tirem as coisas de cima da mesa. - Naruto pediu e seus três amigos fizeram o que ele pediu.
Naruto pegou Hinata no colo, com uma de seus braços em baixo do joelho dela e a outra nas costas dela, carregando o corpo quase completamente amolecido de sua esposa até a mesa.
- Na.... ru...to.... kun...
A voz de Hinata soou sussurrada de sua boca e Naruto aproximou o ouvido dos lábios da esposa para ouví-la.
- Nossos filhos... - ela sussurrou.
- O que tem eles? - Naruto perguntou, ainda com o ouvido próximo dos lábios de Hinata.
- Foram le...va...dos...
Naruto sentiu seu corpo gelar. Suas pernas bambearem. Seus olhos arregalaram.
Era por isso que ela teve todas estas crises?
O que aconteceu?
Como ocorreu um sequestro dentro de Konoha?
Quem ousaria sequestrar os filhos do Hokage?
Como ele poderia agir o mais rápido possível, se a única pessoa da qual poderia relatar só iria acordar daqui a, no mínimo, horas...
Seus filhos estavam em perigo.
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