História Inaceitável (Laços) - Jeito Ninja

Naruto andava por Konohagakure cabisbaixo, com os ombros caídos e totalmente deprimido com a situação em que se encontrava. De repente, sua vida havia virado de cabeça para baixo. Perdeu sua esposa, seus filhos e seus amigos, restando-lhe apenas o cargo de Hokage.

Era irônico pensar que dois sonhos que ele sempre teve na infância, acabaram guerreando entre si: o sonho de ser Hokage e o sonho de ter uma família.

Um sonho acabou colidindo contra o outro e fez com que ele ficasse nessa situação: sozinho.

Todos o condenavam, talvez ele mesmo se condenaria. Sua vida inteira foi repleta de solidão, mas mesmo assim ele nunca abaixou a cabeça e sempre seguiu em frente - não importa o quão difícil isso fosse -.

Mas, agora, tudo mudou. A situação de solidão voltou à sua vida e ele se abalou, se abalou ao ponto de não conseguir não demonstrar sua fraqueza. 

O grande Hokage andava pelas ruas de Konoha completamente deprimido. Ele, que deveria simbolizar segurança, proteção, confiança, estava cabisbaixo, estava mal. Naruto se sentia fraco. Ele não conseguiu salvar seus filhos e sequer conseguiu salvar o seu casamento. Que tipo de símbolo de esperança era esse? Como as pessoas confiariam nele se ele sequer conseguia proteger as próprias crianças.

Naruto sentia falta dos sorrisos de seus filhos. O abraço, a voz, os trejeitos de Boruto e Himawari que lembravam tanto ele mesmo e Hinata também. Eles eram uma família tão feliz, tão perfeita e, de repente, tudo acabou.

Ele deixou que acabasse.

Quando criança, Naruto se recusava a chorar pelas ruas de Konoha. Ele se recusava a demonstrar para aqueles cidadãos que o maltratavam, que eles conseguiam fazê-lo ficar triste. Mas, agora, o grupo misterioso de Mutsuma não estavam o vendo, não é? Ele não sabia se tinha forças para segurar essas emoções e esses sentimentos ruins dentro do próprio peito até chegar no escritório do Hokage.

Ele se permitiu desabar.

Sentou-se no mesmo banco que se acomodou quando era adolescente, quando Jiraiya morreu. Naquele dia, ele se sentiu sozinho de novo e, agora, isso se repetiu. Sentou naquele banco, apoiou seus antebraços em suas coxas, abaixou a cabeça e permitiu que as lágrimas pesadas rolassem pelo seu rosto.

Naquela época, Naruto pensava que mostrou apenas o seu pior lado para Jiraiya, ele queria que seu mestre - e padrinho - o visse se tornar Hokage. Mas, agora, Naruto não tinha certeza se gostaria que Jiraiya o visse nessa situação, nesse estado deplorável que se encontrava. Sozinho.

- Naruto?

Como se tudo se repetisse propositalmente, Iruka surgiu ali coincidentemente, assim como na outra vez em que esteve ali, naquele mesmo banco, há dezesseis anos atrás.

Rapidamente, Naruto secou as lágrimas, mas permitiu que Iruka se aproximasse. Seu ex sensei sentou-se ao seu lado no banco e ficou encarando seu rosto de perfil derrotado, com uma expressão de empatia. 

- É muita coisa acontecendo, não é? - Iruka perguntou, enquanto ainda encarava o rosto de perfil cabisbaixo de Naruto.

- É só... - Naruto tinha uma voz completamente rouca e baixa, carregada pelo embargo das lágrimas. - Eu só acho que tudo está se repetindo, sabe? Esse sentimento de solidão sempre me persegue... Eu perdi tudo, Iruka-sensei...

Um silêncio perdurou entre os dois. Naruto se recusava a olhar para Iruka por pura vergonha - estava envergonhado pelo fato de que permitiu que tudo lhe fosse tirado, logo ele que sempre lutou pelo que amava -. Enquanto Iruka não tirava seus olhos de Naruto.

Ele colocou uma de suas mãos nas costas dele em um ato de consolo, enquanto Naruto permaneceu da mesma forma: olhando para baixo, inconsolado.

- Ainda não é tarde demais, Naruto... 

Ele chamou a atenção dele e, portanto, Naruto o encarou com as sobrancelhas franzidas em sinal de confusão.

- Nunca é tarde demais para alcançar algo que realmente queremos, Naruto... - ele sorriu para ele, logo depois que conseguiu que Naruto o encarasse. - Principalmente se tratando de você.

Naruto permaneceu encarando Iruka com uma expressão confusa.

- Você sempre lutou por aquilo que quer sem nunca desistir, não é? - ele abriu uma sorriso ainda mais largo. - E se tem algo que eu sei muito bem, é que você quer muito Boruto e Himawari de volta, assim como Hinata...

Naruto abaixou a cabeça, novamente.

- Eu não cumpri com o que você me pediu, Iruka-sensei... - a voz dele ainda estava rouca e baixa. - Você me pediu para que eu fizesse Hinata feliz e não foi o que eu fiz. Eu fui um péssimo marido, eu...

- Naruto! - Iruka o interrompeu e ele o encarou com o rosto surpreso. - Todos nós erramos, todos nós temos defeitos... Ninguém é perfeito! Mesmo que você tenha errado, você reconheceu o seu erro e quer se redimir. - Naruto permanecia o encarando e ele continuou. - Hinata ama você incondicionalmente e eu sei que ela está agindo assim porque está brava com você, mas isso não anula o que ela sente...

- Como pode ter tanta certeza, 'ttebayo?!

Iruka sorriu.

- Porque ela também foi minha aluna e eu a conheço bem... - Naruto o encarou com o cenho franzido, confuso. - Se lembra de quando eu pedi para que vocês escrevessem em um papel o nome da pessoa com quem vocês gostariam de passar os últimos minutos de sua vida?

Naruto se lembrava bem. Foi a mesma atividade da qual ele jogou o papel fora, pois ele não tinha o nome de ninguém em mente. Ele não tinha família e sequer tinha amigos.

- Ela escreveu o seu nome, Naruto...  - ele sabia dessa informação e, agora, ele sabia que a amava ao ponto de escrever o nome de Hinata naquele papel. - Você acha que esse desejo dela se esvaiu? Logo agora, quando ela precisa de você e você precisa dela?

Naruto ficou em silêncio.

- Eu já ouvi vocês dois dizendo 'Eu nunca vou desistir'... - Naruto o encarou novamente. - Eu já ouvi vocês dois dizendo 'eu não volto atrás com a minha palavra, porque esse é o meu jeito ninja de ser'. - Naruto ainda encarava Iruka, com os olhos arregalados e a boca semi aberta. - Vocês dois estão perdendo a essência de vocês, perdendo o jeito ninja de vocês... Estão abaixando a cabeça para o inimigo e isso não é do feitio de nenhum de vocês! E eu sei, porque vocês dois foram os meus alunos!

Iruka estava certo. Naruto nunca foi de desistir, nunca abaixou a cabeça para qualquer inimigo que fosse, mesmo que parecesse impossível. Por que ele estava fugindo agora? A situação eta difícil, mas ele não desistiria.

...

Voltando a caminhar pelas ruas movimentadas de Konoha, ao lado de Iruka-sensei, em direção ao QG, de repente, algo ficou estranho. Naruto reparou que, ao seu redor, as pessoas pararam e começaram a olhar para cima, encarando o grande telão que tinha no centro de Konoha.

Naruto, achando estranho, olhou para Iruka - que o encarou de volta - e, em seguida, olhou para cima para encarar o telão.

O telão transmitia chiados, aparentando um mal contato ou um mal sinal de satélite, mas foi questão de segundos até que se estabilizasse e eles pudessem ver em HD a imagem de um homem mascarado.

A máscara dele era preta e tinha detalhes imperceptíveis por serem igualam pretos. Ela aparentava ser de plástico e tinha dois buracos para os olhos. O homem estava encapuzado, então era impossível ver a cor de seus cabelos.

- Boa tarde, Nanadaime Hokage... - ele falava com uma voz robótica, sendo impossível de identificar ou reconhecer a voz dele. - Recebemos o seu pronunciamento e cá estamos para lhe dar uma resposta.

Os punhos de Naruto cerraram ao lado de seu corpo e a maioria dos civis ali presentes encararam o rosto de Naruto, que estava apenas olhando para aquele telão como se sua vida dependesse disso.

- Nossa negociação será feita pessoalmente, Nanadaime. - ele continuou. - Nossa localização será dita aqui em rede nacional mesmo, pois nós sabemos que outros ninjas de Konoha irão querer ajudá-lo a salvar suas crianças... - isso era ótico. - Porém, quero deixar claro a todos que, se você não vier sozinho, Nanadaime, nós saberemos... E quando você chegar até nossos esconderijo, você verá a garganta de Boruto e Himawari cortadas!

Um burburinho de vozes de civis começou, isso tornou-se uma enorme comoção eventualmente e as pessoas olhavam para Naruto, que estava com seus punhos cerrados ao lado de seu corpo e suas unhas estavam perfurando a palma de sua mão. Naruto tremia de ódio, estava arrepiado e sua espinha estava gelada. Sua mandíbula estava tensa. Seus olhos estavam fixos, estáticos, raivosos.

- Nossa localização fica a exatamente 79km dos portões de Konoha, em uma área subterrânea. - o homem continuou falando. - Quando chegar até aqui, você será capaz de sentir o meu chakra, mas não sentirá o chakra de seus filhos, já que eles foram selados por mim. 

Fazia sentido que nem ele e nem mesmo Sasuke pudessem sentir o chakra das crianças. O desgraçado havia usado um selo que impede o fluxo de chakra. Provavelmente seus filhos estavam inconscientes neste exato momento.

- Nanadaime-sama... - a voz do homem chamou a atenção de Naruto novamente e ele encarou o telão. - Mostrarei a você a situação de suas crianças...

O homem esticou uma de suas mãos - cobertas com luvas pretas - até a câmera que o filmava e virou-a na direção de onde Boruto e Himawari estavam. 

Foi neste momento que Naruto quase fraquejou com suas pernas, seu corpo tremeu e sua respiração ficou descontrolada. Todos os sistemas de seu corpo entratam em colapso por conta dos sentimentos que afloravam na pele de Naruto.

Boruto e Himawari estavam acorrentados em uma cadeira de metal. Os pulsos e tornozelos tinham correntes de ferro grossas e banhadas à chakra. Estavam inconscientes e cabisbaixos. Porém, era possível ver os rostinhos deles: eles estavam espancados. Os nariz e boca de ambos sangravam muito, os olhos de ambos estavam extremamente inchados. As roupas deles estavam banhadas a sangue. Eles estavam inconsistentes e era possível ver o selo de rompimento de fluxo se chakra em seus pescoços.

A câmera voltou até o mascarado

- Te espero aqui, Nanadaime...

A transmissão ao vivo cessou.

Silêncio

Silêncio absoluto em Konoha

Tudo parou

Todos olharam para Naruto.

Ele tremia. De medo e de raiva. Os olhos estavam tão arregalados que parecia que saltaram de suas órbitas. Os punhos estavam cerrados e as palmas das mãos sangravam por conta do fato de Naruto ter cravado as próprias unhas em sua mão. Lágrimas saíam involuntariamente dos olhos dele. Naruto sentia gosto de sangue dentro de sua boca, porque ele mordeu a parte de dentro de suas bochechas com muita força sem perceber.

- Naruto... - Iruka tentou tocar no ombro de Naruto, mas ele praticamente sumiu em fumaça em sua frente.

Ele foi na direção de Boruto e Himawari.