Lauren POV
Barulho, muito barulho, isso é tudo que eu sei sobre onde eu estou, abri os olhos, mas a claridade me fez fechá-los novamente, aos poucos minha mente foi tornando a realidade, estou no sofá da casa de Elise, e a julgar pelas vozes que vem da cozinha, eu sou a única que ainda dorme, ou dormia né, os três conversam animadamente, me sentei no sofá e no mesmo instante um gemido de dor escapou pela minha garganta, sinceramente eu acho que até o chão é mais macio do que esse sofá, me levantei e fui até a porta da cozinha, Elise está cortando verduras, Normani lavando a louça e Alex secando.
— Bom dia, porquê vocês tem que falar sempre tão alto? - Perguntei mal humorada, e me apoiei no batente da porta.
— Bom dia, por que você tem que dormir tanto? - Elise perguntou.
— Eu não dormi mui… - Parei de falar quando vi a hora no relógio da parede, 11:50. — Certo, eu dormi muito… alguém tem um remédio pra dor de cabeça?
— Na minha bolsa. - Normani respondeu.
— Tá aqui no meu bolso. - Alex disse. — Eu não coloquei lá de volta. - Justificou.
Sai de onde eu estava e fui até ele.
— Você queria mesmo era roubar meus remédios. - Normani acusou.
— Talvez. - Alex respondeu, risonho.
Enfiei a mão no bolso da calça dele e puxei o remédio, antes de me afastar passei a ponta dos dedos pelo abdômen dele, aproveitando que ele está sem camisa e apenas de calça.
— Pedaço de mau caminho. - Brinquei.
— Se quiser experimentar esse lado da força, estou à disposição. - Ele disse sugestivo.
Revirei os olhos e fui pegar água na geladeira.
— Ouvi boatos que Lauren está apaixonadinha. - Elise disse e no mesmo instante me engasguei com a água.
— Quê? Eu? Apaixonada? Não mesmo! - Coloquei a garrafa de volta na geladeira e puxei uma cadeira da mesa pra me sentar.
— Não faça a sonsa, Jauregui. - Normani disse olhando pra mim. — Camilinha Cabello, nós estamos ligados em você.
— De onde vocês tiraram isso? Eu não estou apaixonada por ela, pelo amor de Deus, é só… uma atração e vocês não podem me julgar por isso, ela é linda, tem um cheiro maravilhoso e o sorriso dela é lindo.
— Tá fudida, quando fala do sorriso já é amor. - Alex disse rindo. — Com uma bunda daquelas você vem me falar do sorriso? Sinto informar mas a paixão tomou conta de você.
— Vocês são uma vergonha pra mim. - Bufei. — Eu não estou apaixonada por ela, fim.
— Tá bom, você não está apaixonada, a gente vai fingir que acredita, agora conta o que aconteceu no banheiro. - Normani disse. — Porque eu vi você indo atrás dela e quando voltou ela não passou nem dez minutos na mesa e já disse que ia embora.
— Espero que você não tenha tomado um tapa dela de novo. - Elise disse, mas na mesma hora colocou as mão na boca e eu a fuzilei com o olhar. — Desculpa.
— Que história é essa? - Alex e Normani perguntaram ao mesmo tempo.
O que mais eu poderia fazer? Contei sobre o maldito tapa na cara e pra minha total insatisfação os dois também disseram que eu mereci o tapa, estou começando a acreditar que eu realmente mereci. Já que estava na chuva, resolvi me molhar, contei pra eles sobre o que aconteceu no banheiro do bar e sobre ela ter dito que não fica com mulheres e aquele ser o último beijo.
— Eu acho que ela é casada. - Normani disse.
— Eu não acho, se não tivesse entrado ninguém no banheiro, ela com certeza iria transar com a Lauren. - Elise contrapôs.
— Traição existe, sabia? - Normani perguntou.
— Laur disse que ela sempre ressalta que não fica com mulheres, ela pode ser lésbica e não se aceitar. - Alex sugeriu.
— Faz sentido. - Elise concordou.
— Vocês estão embaralhando a minha mente. - Soltei o ar dos pulmões. — Pode ser que ela só não sinta atração por mim.
Os três pararam o que estava fazendo e olharam pra mim.
— Ela estava te puxando pra cabine do banheiro, você acha que ela queria o que lá dentro? - Elise perguntou. — Rezar?
— Atração por você com certeza não é o problema. - Normani concordou.
— Talvez ela tenha um pau no meio das pernas. - Alex disse simples.
— Quê? - Normani perguntou e eu não consegui nem me pronunciar.
— Ué, isso acontece com algumas garotas, já ouvi falar de alguns casos.
— Faz um favorzinho Alex, fica calado, amor. - Elise disse e ele deu de ombros. — Vamos marcar de sair outras vezes, e dessa vez, como quem não quer nada, vamos tentar fazer ela falar sobre a vida pessoal.
— Eu tenho é medo de vocês, são tão sutis como um tiro de bazuca. - Falei sincera.
Eles riram.
— Mas mudando de assunto, aquela Dinah também é uma gata e super simpática. - Elise disse. — Talvez devêssemos tirar um dia pra visitar esse zoológico. - Completou em um tom sugestivo.
— Concordo. - Eu disse. — Que Dinah é uma gata e simpática, não que vocês devem ir até lá, que fique claro.
— Você não vai ficar com as duas, sua egoísta. - Alex disse.
— Ela é bi, também tenho chances. - Disse pra provocá-lo.
— Meu Deus, eu tô rodeada de gays! - Normani exclamou.
— Me dá uma chance pra te trazer pra dentro do bonde. - Elise disse e como resposta Normani sacudiu as mãos perto dela, fazendo respingar água em seu rosto.
O almoço só ficou pronto depois das três, passamos o resto do dia na casa da Elise e de noite cada um foi pra sua casa. No domingo só me encontrei com Alex, porque tínhamos um trabalho da faculdade para fazer e estávamos no mesmo grupo. Elise estava dando aulas extras para duas crianças e Normani foi fazer um teste para seleção do elenco de uma peça que vai entrar em cartaz.
*****
Antes de sair para faculdade na segunda-feira, tive que revirar toda a casa, até encontrar a pulseira que Camila tinha esquecido na boate de Berlim, soltei um suspiro de alívio quando encontrei ela no fundo de uma gaveta, coloquei no bolso da minha calça e terminei de arrumar as coisas que precisaria pra hoje dentro de uma mochila.
Infelizmente naquele dia de estágio eu não encontrei com a Dinah e muito menos com a Camila, esse encontro só veio na terça.
Tentando encontrar o café que Dinah mencionou para mim outro dia, peguei um folheto do zoológico, que no verso tem um pequeno mapa do local, e segui as instruções, que não estão muito claras para mim.
— Meu Deus, você tá parecendo uma turista com esse mapa nas mãos. - Ouvi a voz familiar de Dinah e ergui a cabeça.
— Esse lugar é enorme, eu não tenho culpa, estou tentando chegar na cafeteria que você falou. - Eu disse.
— Esse mapa é um lixo, é mais fácil eu encontrar uma agulha no palheiro do que chegar em algum lugar aqui dentro usando ele. - Ela disse e puxou o mapa das minhas mãos, analisando ele com desprezo.
— Eu ia encontrar com a Camila no laboratório, mas vou levar você até o café. - Pegou o walk talk que tem preso na cintura. — Mila, vou demorar um pouco aqui, porque vou no café. - Um “QSL” veio quase que de imediato.
— Sério mesmo que vocês se comunicam através de walk talk? - Perguntei, tentando não rir.
— Sério, inclusive amo, queria que pegasse fora daqui também. - Ela disse fazendo biquinho.
— Você fala ai e só ela escuta? - Perguntei, enquanto caminhávamos.
— Não, todos os aparelhos que estiverem em operação nessa mesma faixa de frequência escutam, que no caso somos só nós, os veterinários.
— Entendi, e o que significa “QSL”? - Perguntei, porque essa tinha sido a resposta de Camila.
— Entendido, ok. - Respondeu. — Pode ir tomar seu café em paz, Dinah gata. - Dessa vez ela respondeu com menos seriedade na voz.
— Ainda não conhecia esse seu lado convencida. - Eu disse.
— Agora que você vai começar a me conhecer de verdade. - Ela disse e eu acabei rindo.
Não demorou muito e chegamos ao tal café. O lugar é bem pequeno e para completar tem várias mesas espalhadas pela área, o que dificulta ainda mais andar ali. Pegamos o café e saímos pra fora.
— É impossível ficar ai dentro. - Dinah disse, se sentando no batente da porta e eu repeti o gesto dela.
— Pelo menos o café deles é bom, né? - Eu disse e ela maneou a cabeça positivamente.
— Ontem a Mila demorou no banheiro… - Ela disse em um tom sugestivo. — E depois resolveu ir embora logo depois, você teve algo com isso?
— Eu pedi desculpas pra ela.
— E ela?
— Me desculpou. - Fiz uma pausa e tomei um pouco do café antes de continuar. — Pedi um beijo pra ela e depois ela quase…
Parei de falar quando vi o assunto da nossa conversa se aproximando, Dinah franziu o cenho em confusão e eu fiz um gesto com a cabeça, para que ela olhe pra direção que Camila vem.
— Sempre tem algo pra cortar nossa conversa e me deixar curiosa. - Dinah disse sem paciência.
— Pensei que você estivesse sozinha. - Camila disse quando já estava perto o suficiente. — Aí resolvi vir fazer companhia pra você, mas vejo que na verdade eu quem fui excluída do cafezinho da tarde e largada lá no laboratório para preencher todas aquelas fichas sozinha.
— Não seja dramática, ainda dá tempo de você tomar. - Dinah disse e se levantou, adentrando mais uma vez a cafeteria.
Sorri pra Camila e ela me retribuiu com um sorriso sem mostrar os dentes.
— Eu juro que não tive a intenção de desviar ela do caminho e consequentemente te deixar sozinha preenchendo fichas. - Falei, pra afastar o desconforto do silêncio.
— Não tem problema, eu só estava brincando. - Sorriu.
Nesse momento Dinah retornou.
— Um café quentinho e por minha conta pra você. - Dinah disse e colocou o copo de café na mão de Camila. — Eu vou ter que ir lá no laboratório.
— Então vamos.
— Não, você fica. - Dinah disse. - Faz companhia pra Lauren e depois acompanha ela de volta até a área dela, porque tenho certeza que ela ainda não aprendeu o caminho. - Ela não esperou por uma resposta, só deu as costas e saiu andando.
E eu fiquei aqui com vontade de enfiar minha cara no chão. Ela só pode ter feito de propósito.
— Você pode ir, Dinah é louca, eu me lembro sim o caminho de volta. - Eu disse, sem graça pela situação, ela claramente não quer estar ali.
— Hã… eu te acompanho até lá, você se importa se a gente for agora? - Ela perguntou.
— Não. - Respondi me levantando, joguei o copo vazio no lixo e fomos caminhando lado a lado.
— Marketing é um curso legal? - Ela perguntou, quebrando o silêncio.
— Como você sabe que eu curso marketing? - Perguntei com o cenho franzido.
Ela riu e apontou pra minha blusa, onde logo abaixo de “Estagiário” tem escrito “Marketing”.
— Esqueci desse detalhe. - Sorri. — É legal sim, mas não sei, acho que é normal, nunca tive um sonho de profissão como todas as pessoas, eu só faço ele porque tinha que fazer alguma faculdade.
— Deveria ter esperado mais, até encontrar algo que gostasse de verdade.
— O tic tac do relógio no meu ouvido me fez escolher qualquer um, antes que o tempo passasse. - Eu disse, ela riu balançando a cabeça em negação.
— Mas caso você venha se interessar realmente por outra coisa mais na frente, você ainda pode fazer, quantos anos você tem? 19?
— Não, tenho 22, mas e você?
— 26.
— Eu estava me referindo ao seu curso, é algo que sempre quis? - Perguntei.
A resposta dela veio apenas como um acenar de cabeça. É, Dinah não estava mentindo quando disse que ela não gosta de falar sobre a vida pessoal. Um pouco mais a frente ela parou pra jogar o copo no lixo, estamos passando por uma passarela, olhei pra baixo e tive a visão do animal mais feio que eu já vi na vida.
— Meu Deus, que bicho feio! - Deixei escapar e ela olhou pra mim com cara de riso.
— Isso é um facocero. - Ela disse e eu franzi o cenho. — Mais conhecido como Javali-africano. - Completou e eu deixei meu queixo cair.
— Sério? Aquilo que é um Javali-africano? - Apontei.
— Bom, foi o que eu aprendi na faculdade.
— Em versão animada ele é tão mais bonitinho. - Dei uma última olhada no animal feio e voltei a andar. — O Pumba do Rei Leão é um Javali-africano, né?! Você já assistiu?
— Sim para as duas perguntas, ele é Javali-africano e eu já assisti esse desenho, inclusive mais vezes do que eu gostaria, acho até que tenho um pouco de trauma dele. - Respondeu risonha.
— Não diga isso, ele me lembra a minha infância, assisto sempre, acho que é meu filme predileto. - Eu disse, ela sorriu de lado e soltou o ar dos pulmões.
Será que falei alguma besteira? Na dúvida é melhor não continuar, empurrei a mão no bolso da minha calça e puxei a pulseira dela.
— Eu acho que isso é seu. - Eu disse e estendi a pulseira pra ela.
— Onde você achou? - Ela perguntou, pegando a pulseira na mão pra analisar.
— Na boate de Berlim, depois que você foi embora o garçom deixou na minha mesa.
— Ah. - Deu um meio sorriso e fechou a mão. — Obrigada, e depois eu te pago a bebida que certamente ele fez você pagar.
— Isso é um: “Vamos sair que te pago uma bebida” ou eu estou equivocada? - Perguntei, mesmo sabendo que é a segunda opção.
— Você está equivocada, isso é um: “depois te devolvo o dinheiro que teve que gastar com uma bebida que eu pedi.”
— Sendo assim, obrigada, mas dispenso o pagamento, não foi nada, inclusive pago outra se você quiser. - Joguei, mas me arrependi no mesmo instante.
— Eu acho que é aqui que você fica. - Ela disse e só então eu percebi que já tinha chegado ao meu destino.
— Obrigada por me acompanhar. - Sorri e depositei um beijo na bochecha dela.
— De nada, bom trabalho. - Disse e saiu, assim, sem delongas.
Fiquei observando ela se afastar até a perder de vista, depois entrei.
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