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História Incógnito VKook - Taekook - Um símbolo


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Oi amoraaaaas <3
Me desculpem o atraso, foi uma mistura de caos eleitoral e caos da vida pessoal, mas agora já está tudo bem! :)
Passei o dia inteiro hoje editando e revisando esse capítulo, então por favor me avisem caso vocês encontrem algum erro! Eu li ele umas duzentas vezes, mas justamente por isso acho que posso ter deixado passar algo despercebido hahah

Enfim, aproveitem! <3 pode colocar a música soft pra dar o clima, aquela coisa né...
O link da playlist de Incógnito no Spotify está nas notas finais, pra quem quiser recomendações :)

Sem mais delongas,
Boa leitura!

Capítulo 36 - Um símbolo


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Um símbolo

Um símbolo.

Como se Taehyung calçasse nos pés uma bandeira branca de paz.

Jeongguk se manteve parado no lugar, com o coração escancarado e os olhos fixos nos tênis brancos. Não sabia desde quando, mas há muito aquele havia se tornado um símbolo de sua relação com Taehyung, das formas discretas em que tentava protegê-lo, de algo que pertencia somente à eles.

Agora, eram símbolo de uma nova chance.

Um passo após o outro, os tênis brancos se moveram ao seu encontro. Jeongguk encarou-os, incapaz de levantar o olhar, até que os dois pares idênticos estivessem em seu campo de visão, um de frente para o outro. Notou que os seus pareciam bem encardidos perto dos de Taehyung.

— Eu estava em dúvida se devia ou não vir com eles. – Taehyung disse, num sopro de voz. O timbre grave atiçou os nervos de Jeongguk, que continuou calado, olhos no chão, temeroso de que ele pudesse evaporar caso abrisse a boca. – Sabe, eu realmente gosto deles. Gosto mesmo. Importunei minha mãe por um tempão pra poder comprar e… ah, você sabe. Só que nessa semana, hm… eu pensei que eles iam acabar me distraindo. Ia ser mais difícil prestar atenção nas aulas e, bom, eu já sou distraído o tempo todo, mas-

— Você não precisa explicar.

Jeongguk ergueu o rosto. Encontrou os olhos ternos de Taehyung, os lábios entreabertos de incerteza. Ele estava perto o suficiente para que notasse a pintinha castanha ali, tão adorável como sempre, e um calafrio percorreu sua espinha.

— Eu pensei que estivesse ajudando. – Continuou, ávido pela chance de se esclarecer. – Não fiz isso pra brincar com você, hyung, eu gastei metade das minhas economias nesses tênis, porque eu queria-

— Eu sei. – Ele interrompeu, e desviou o olhar para o chão. – Depois que a gente conversou no telefone ontem, eu… eu vi o diário, Jeongguk. Vi o que você escreveu nele.

Jeongguk contorceu o rosto numa careta. O plano, se lembrou, e mordeu o lábio. O plano que inconsequentemente havia traçado depois de descobrir que Liz também sabia sobre o diário. Um plano bem ruim, na verdade, mas que havia colocado em prática um dia antes de enterrar o caderno de couro em seu jardim.

Sua cabeça havia ficado tão concentrada na carta de Taehyung e na possibilidade de encontrá-lo, que Jeongguk acabou nem se lembrando sobre aquele plano antigo. Sentiu um frio na barriga tão intenso que chegou a estremecer, e seu coração ficou apertado, o rosto queimando de vergonha.

Reler era o maior dos elogios, Taehyung havia dito. E antes de enterrar o caderno em seu quintal, Jeongguk releu, com uma caneta em mãos, cada passagem do diário proibido. Deixou que a tinta manchasse o papel, respondendo ao garoto incógnito com seus sentimentos, em um momento de desespero. Na esperança de que, mesmo na pior das hipóteses, tivesse uma chance de se explicar.

E eu escrevi umas coisas bem patéticas, recordou, contorcendo o nariz.

Ah, merda, isso é constrangedor.

— Ah, eu… é que, – Gaguejou, as bochechas fervendo apesar da brisa fria que lhe soprava contra o rosto. – Eu não sabia mais o que fazer, hyung. Hm, então eu pensei que-

— Eu achei muito fofo.

— Hãn?

Jeongguk franziu as sobrancelhas. Seu coração batia tão rápido que dava pra sentir os ossos pulsando. Olhou para Taehyung, o rosto adoravelmente corado e um sorriso tímido dos lábios, e seus olhares se cruzaram por um milésimo de segundo antes que ele desviasse o rosto outra vez.

Ficaram em silêncio, ambos com as faces vermelhas e as expressões acanhadas. Uma brisa particularmente forte soprou, mais gelada que antes, e Taehyung abraçou o próprio corpo.

— Acho melhor a gente ligar os aquecedores logo, antes que esfrie mais. – Ele disse, e Jeongguk concordou com a cabeça por reflexo, a mente ainda enevoada com mil pensamentos simultâneos.

Então Taehyung tinha lido as coisas vergonhosas que escreveu? Oh, céus! Lembrou-se de todas as notas de rodapé, das frases soltas nos cantos do papel que mancharam com tinta permanente as páginas caprichosas do diário.

Mas ele achou fofo?

Sentiu uma pressão no braço e piscou os olhos ao retornar para a realidade. Taehyung o puxava de leve pela manga do casaco, e teve que morder os lábios para conter um sorriso.

— Você vai ficar parado aí?

Eu sempre vou te seguir, pensou, mas apenas negou com a cabeça, desconcertado, e caminharam até o primeiro aquecedor. Jeongguk não foi de muita ajuda com o aparelho, bem mais interessado na forma como a luz do fim da tarde brincava com os cabelos castanhos dele. Taehyung estava compenetrado, os olhos amplos fixos no aquecedor, e logo o odor característico de gás os envolveu.

Se dependesse de Jeongguk, o negócio já teria explodido. Nem o frio o incomodava, todas as suas células inquietas, tentando compreender a forma como Taehyung estava agindo, procurando nas entrelinhas por algum sinal de rancor ou tristeza, mas ele parecia… normal?

Pelo menos para os próprios padrões, pensou.

— Você sabia que o gás na verdade não tem cheiro de nada? – Taehyung comentou casualmente, os olhos concentrados em sua tarefa. – Eles adicionam etanotiol pra dar esse cheiro e evitar acidentes.

Ele apertou o botão da ignição e labaredas surgiram no aquecedor. Jeongguk o encarou, vacilante. Taehyung parecia o mesmo de sempre, lhe oferecendo sorrisos tímidos e informações aleatórias, mas Jeongguk não conseguiria agir como se a última semana não houvesse existido.

— Você não ficou bravo? – Soltou sem se dar conta, e Taehyung imediatamente levantou o rosto em sua direção, os olhos curiosos. – Por eu ter rabiscado seu diário.

Rabiscado? – Ele ergueu as sobrancelhas e deu uma risada leve, meio atrapalhada. – Ah, não, você… o que você escreveu, hm… acho que eram coisas que eu precisava ouvir.

Todas as coisas que eu desesperadamente quis te dizer, mas não pude.

— É sério?

Taehyung abriu a boca e hesitou por um segundo.

— Eu te disse uma vez, não disse? Que gosto de ler as anotações dos outros. Que o livro ganha mais vida.

— No ônibus. – Respondeu de imediato, e Taehyung arregalou os olhos numa expressão perplexa. – Eu lembro de tudo o que você me diz, hyung.

Sentiu ainda mais vergonha, se possível. Céus, por que era tão ruim em controlar a droga da língua com ele por perto?

Mas logo em seguida Taehyung abriu um sorriso tímido, as bochechas rosadas evidentes sob a iluminação das labaredas oscilando no aquecedor, e Jeongguk sentiu o coração derreter.

— Você é tão… aish! É um caso sério. Duvido muito que se lembre de tudo. Eu falo bem mais do que deveria.

— Ok, talvez eu não me lembre de todos os detalhes da matéria de química, mas… lembro de quase tudo.

— Você realmente devia lembrar da matéria de química. – Disse, com uma risada sem graça. Sem aviso, Taehyung caminhou em direção ao próximo aquecedor. Jeongguk o seguiu, pensativo, as palmas das mãos suando de ansiedade.

O clima parecia leve, algo quase surreal depois de tudo o que acontecera. Observou Taehyung iniciar sua tarefa no aquecedor externo, agindo com naturalidade. Contudo, dentro de Jeongguk a tensão crescia em alta velocidade, e as palavras se empilhavam no peito. Ainda que adoraria simplesmente fingir que tudo era como antes, não podia.

— Aquilo que eu escrevi… Eu queria ter dito isso tudo pessoalmente, hyung, mas estava com medo. – Admitiu, incerto, mas Taehyung não levantou o olhar dessa vez. – No início, eu pensei que se você descobrisse ia me achar um tipo de perseguidor maluco. E depois… depois que eu percebi como me sentia de verdade, tive medo de te perder pra sempre. Eu nunca quis esconder nada de você, eu-

O barulho do botão de ignição interrompeu a frase, como uma campainha estridente, e as chamas flamejaram no aquecedor, criando sombras sobre a bochecha direita de Taehyung. O sol já estava perto de baixar no horizonte, colorindo o céu em tons quentes de magenta e laranja.

Taehyung parou e se virou para si. Ficou em silêncio pelo que pareceram longos segundos, os olhos fixos nos seus, e Jeongguk, repleto de receio, pensou que nenhuma tortura podia ser assim tão doce.

— Eu tenho uma coisa, – Ele finalmente disse, e colocou a mão no bolso do casaco, procurando por algo. Aproximou-se até estarem a um passo de distância e estendeu o punho fechado. – Que preciso te devolver.

— Me devolver?

— Eu também estava guardando algo seu em segredo.

Então Taehyung abriu o punho e Jeongguk viu, pequeno e brilhante na palma de sua mão, um broche.

O broche do Death Note, um caderninho preto de metal. O broche que havia perdido não sabia quando, mas que servira como desculpa para ir até a estátua da Virgem Maria, procurar pelo garoto incógnito no intervalo.

Sentiu o estômago se afundar dolorosamente, os joelhos fracos como se tivesse corrido uma maratona. Seus olhos continuaram presos no objeto nas mãos dele, incrédulos.

— Quando foi que…

— Depois que nós fomos até a biblioteca, quando você me levou em casa, ahn… acho que deve ter caído. – Ele sorriu, meigo e envergonhado, a mão ainda estendida. – E no dia seguinte eu estava saindo de casa e encontrei na calçada. Ah, mas ele estragou, vê? – Taehyung virou o broche e apontou para o alfinete amassado. –  Alguém deve ter pisado nele sem querer. Eu não sabia que era seu, eu juro, mas pensei que pudesse ser. Esperava que fosse.

Pinicando atrás das pálpebras, veio aquela já costumeira sensação das lágrimas ameaçando a escapar. Jeongguk engoliu em seco, o coração apertado e débil, e enfim desviou o olhar do broche para encarar Taehyung. A expressão dele era serena, os olhos sinceros, o que só ajudou aquela sensação angustiante a crescer dentro de si, a culpa o dominando outra vez.

Hyung…

— E aí você apareceu procurando por ele no colégio. Estava no meu bolso, Jeongguk. Estava bem ali, mas eu não consegui te devolver.

Ficou imóvel, mudo, o coração retumbante ameaçando saltar do peito. Taehyung abriu um sorriso de lábios cerrados e delicadamente alcançou uma de suas mãos, e Jeongguk pensou que poderia se desmanchar sob seu toque. Ele colocou o broche no meio de sua palma e fechou seus dedos ao redor.

— Um caderno por outro. – Taehyung disse, envolvendo seu punho com ambas as mãos, os dedos frios enviando arrepios por cada poro. – Agora estamos quites.

Jeongguk sentiu o nariz formigar e fungou, retorcendo os lábios, tentando controlar a sensação angustiante que borbulhou no estômago.

— Não, não estamos. – Negou com a cabeça, os olhos turvos de lágrimas suspensas. Alternou o olhar atônito entre a expressão calma de Taehyung e sua mão fechada entre as dele. – Isso não é a mesma coisa, nem de perto… Nunca!

Como ele podia comparar um broche com o que havia feito?

Abaixou o rosto e apertou os olhos, numa tentativa fraca de conter o choro, mas uma lágrima fugitiva conseguiu escapar-lhe pelos cílios. Um segundo depois e a mão de Taehyung encontrou a pele morna de sua nuca, e Jeongguk precisou fazer uma força sobre-humana para não se desfazer em lágrimas outra vez, seus dedos fechados com força em punhos, o broche pinicando sua pele. Taehyung deu um passo à frente, um último passo até que estivesse próximo o suficiente para que Jeongguk descansasse a testa em seu ombro e, num segundo, fundiram-se num meio abraço desajeitado.

E Jeongguk, culpado, deixou-se afogar no aroma de baunilha.

— Me desculpe, hyung. Eu sinto muito.

Taehyung soltou uma risada frouxa e deslizou os dedos compridos entre os fios negros de seus cabelos.

— Você já se desculpou tantas vezes que parece até que está tentando competir comigo.

A voz dele soou leve e bem-humorada. Jeongguk levantou o rosto e encontrou, na expressão de Taehyung, aquela familiar confiança que ele havia conquistado.

Então, ele sorriu:

— Você pode parar de se desculpar agora.

O choro, incapaz de continuar encarcerado, se libertou. E cada lágrima libertou Jeongguk do peso na consciência, das noites insones, da culpa que o consumiu nos últimos meses. Libertou-se das pequenas mentiras que havia contado a Taehyung para esconder seu segredo, da sensação desesperadora de saber da própria falta ética, do remorso após cada página lida.

Chorou silenciosamente, com a respiração descoordenada, em soluços contidos e lágrimas quentes, em frente ao único que tinha o direito de julgar seus atos. Sentiu-se exposto e pequeno, mas precisava ser assim. Jeongguk percebeu, ali, que todas aquelas lágrimas derramadas na solidão jamais seriam capazes de lavar sua alma.

— Ei, Jeonggukie… – Taehyung cobriu-lhe o rosto com as mãos, o obrigando a encará-lo, e abriu um sorriso frouxo. Lágrimas silenciosas também marcavam suas bochechas. – Você me pediu pra não chorar, mas como eu posso cumprir minha palavra com você desse jeito?

Jeongguk espremeu os olhos, incapaz de falar. Pensou que apesar de todas as diferenças entre eles, Taehyung demonstrara várias vezes que era o mais corajoso dos dois. Ao aturar calado as provocações na escola, ao manter seu excêntrico sorriso largo ainda que tudo estivesse contra ele, e até agora, depois da decepção que havia sofrido. Jeongguk, mesmo com força nos punhos e todas as facilidades trazidas pela popularidade, continuava a ser o elo mais fraco. Não tinha forças nem pra parar de chorar.

E Taehyung, vítima de todo tipo de transtornos, ainda o encorajava através do pranto.

— Calma... ontem você me disse que ainda tinha um monte de coisas pra falar, hun? – Disse, e o tom manso provocou borboletas no estômago de Jeongguk. – Eu vou ouvir tudo. Você pode dizer tudo pessoalmente agora, mas primeiro precisa respirar fundo, tudo bem?

Os polegares de Taehyung deslizaram sobre as maçãs de seu rosto, ternos, enxugando suas lágrimas. Jeongguk inspirou fundo, reunindo a coragem para abrir os olhos, e ao abrí-los o viu, tão perto, a apenas alguns centímetros de distância. Pesquisou pelo rosto dele, absorvendo suas feições. Seu olhar viajou pela pele acobreada, sobre as bochechas cor-de-rosa, os cílios úmidos, a pintinha na ponta do nariz. Nos lábios dele, o sorriso parecia guardar um segredo precioso. A brisa bateu-lhe contra a face, e a franja castanha esvoaçou por um segundo, com a luz oscilando sobre os fios, os tons de castanho se fundindo ao cenário de folhas secas. O céu emoldurava as linhas de seu rosto numa miscelânea de tons quentes, o sol baixo no horizonte.

Tão mais bonito assim, bem de perto.

— Respira fundo. – Taehyung sussurrou. Jeongguk tremeu ao perceber que o olhar dele estava fixo em seus lábios. – Você vai precisar.

Como num instinto enraizado sob a pele, Jeongguk fechou os olhos. Os dedos de Taehyung lhe cobriam o rosto como uma manta, e o hálito doce lhe soprou contra a boca entreaberta, com aroma de saudade. Ele estava perto, podia sentir. Sentia os nervos pulsarem cada milésimo de segundo, os olhos dele sobre si, como se estivesse sendo observado por todo o universo infinito. E ainda que tenha parecido uma eternidade, foi logo em seguida que lábios mornos cobriram os seus, sua textura macia e delicada, e Jeongguk deixou-se entorpecer no gosto familiar do beijo de Taehyung.

Não pôde respirar, sua boca trêmula sob a dele. Estava mesmo acontecendo? Taehyung o beijara?

Sim, beijara. Com tanto cuidado e ternura que Jeongguk sentiu-se frágil, como um objeto prestes a se quebrar. Dava para sentir a hesitação nos movimentos dele, lentos, seu sabor suave, as mãos afáveis cobrindo-lhe o rosto, enquanto os braços de Jeongguk continuavam soltos ao lado do corpo, inúteis, o broche pinicando a palma da mão em punhos.

Ele tomou seu lábio inferior entre os próprios e Jeongguk finalmente livrou o ar dos pulmões, numa arfada alta demais. E instantaneamente todo o corpo acordou, e seus braços moveram-se pelo conhecido caminho ao redor da cintura dele, escondendo-se sob a mochila e o trazendo para mais perto, o envolvendo num abraço saudoso.

Em resposta, Taehyung soltou um pequeno murmúrio de susto, os dedos deslizando entre seus fios de cabelo, os dois agora peito a peito, e Jeongguk sentiu-se derreter ao ouvir de novo os barulhinhos cativantes que ele fazia sempre que se beijavam. Tomado de infinito encanto, não conseguiu segurar um sorriso – largo, genuíno, cheio de dentes – que acabou por interromper o beijo, fazendo Taehyung se afastar.

Abriu os olhos, o sorriso ainda completo no rosto, se recusando a ir embora. Encontrou Taehyung o observando com olhos amplos e brilhantes, piscando encantadoramente os cílios compridos. Ainda estavam muito próximos, os braços de Jeongguk firmes ao redor de sua cintura.

Depois de alguns segundos, Taehyung soltou uma risada constrangida.

— Você tá bem? – Ele perguntou, e Jeongguk pensou na própria cara de tacho, no olhar ridiculamente apaixonado e no sorriso bobo que se recusava a deixar seus lábios.

A expressão em seu rosto devia ser vergonhosa, no mínimo.

Mas, merda! Quem se importa?

— Ótimo! – Exclamou de súbito, e tossiu para disfarçar o entusiasmo. – Digo, aham. Sim, tudo bem. Muito bem, eu…

Foi interrompido pela gargalhada de Taehyung, macia e espontânea. Fechou a boca de imediato, o observando rir com os olhos espremidos. O som da risada dele fez seu coração derreter um pouquinho no peito, e Jeongguk permitiu-se rir junto.

— Vamos, Guk. – Taehyung disse entre o riso, e alcançou uma de suas mãos, entrelaçando os dedos nos seus. Encaixaram-se um no outro como se pertencessem assim, e Jeongguk sentiu-se preenchido por uma sensação aconchegante de familiaridade.

Caminharam até o fundo do terraço e pararam em frente a um banco de madeira rústica, largo e sem encosto. Existia outro aquecedor externo bem ao lado, e Jeongguk fez um bico quando Taehyung soltou sua mão para ir acendê-lo.

Sentou-se sobre o banco de pernas cruzadas, guardou o broche no bolso da jaqueta e olhou ao redor, através do terraço já praticamente imerso nas sombras do fim do crepúsculo. Notou que estavam no local mais afastado da porta de acesso aos elevadores.

— Você acha que alguém pode aparecer aqui?

Taehyung o ofereceu uma olhadela rápida antes de voltar sua atenção ao aquecedor.

— Acho difícil. Não deve ter muita gente trabalhando num domingo à noite. E se alguém vier, a gente vai conseguir ouvir o barulho da porta do elevador abrindo.

Jeongguk afirmou com a cabeça, engolindo em seco. Não queria ter de se esconder. Estava tão feliz por ter Taehyung de volta que, se pudesse, andaria a cidade inteira de mãos dadas com ele, o abraçaria no meio da escola e o cumprimentaria com beijos castos sempre que o visse.

Entretanto, não podia. Talvez nunca pudesse.

— Foi por isso que você escolheu esse lugar pra gente conversar? – Perguntou, tentando afastar os pensamentos incômodos. Estavam bem um com o outro, por mais surreal que soasse. E, por hora, era tudo o que devia importar.

O botão de ignição interrompeu seus pensamentos outra vez, e Jeongguk viu o fogo surgir no aparelho alto. Taehyung tirou a mochila das costas e sentou-se ao seu lado no banco, também de pernas cruzadas, e imediatamente Jeongguk puxou sua mão outra vez.

— Eu pensei que aqui seria mais reservado. – Ele explicou. – Em casa, bom… teria a chance de sermos interrompidos, ou então íamos ter que falar bem baixinho. Além disso, eu gosto daqui. É bonito.

— O ahjussi disse que você esteve aqui antes. – Soltou, sem pensar nas consequências, e por um segundo teve receio da reação de Taehyung. Mas ele somente o encarou, olhos amplos e sobrancelhas erguidas, e abriu um sorriso pequeno.

— É, eu vim pra pensar. E, ahn… estava criando coragem pra te ligar também. Queria te entregar a carta e pensei que devia ser pessoalmente. – Hesitou por um segundo. – Imagina só se o troço se perde por aí e vai parar nas mãos de alguém que não deveria ler, hun?

Jeongguk soltou uma risada frouxa pelo nariz e concordou com um aceno de cabeça.

— Você devia ter ligado. Eu teria vindo correndo.

— Hm, eu estava apreensivo. Você consegue ser bem intimidador de vez em quando, sabia?

Intimidador?

Repetiu, sem compreender o que ele quis dizer com a palavra. Era intimidador, sim, ou pelo menos tentava ser às vezes – contra um adversário em uma luta, ou perante à Baek Geunsuk, quando queria se impor. Mas, para Taehyung? Não, não era intimidador com ele. Estou mais para um coelhinho inocente, pensou, mas Taehyung interrompeu seu raciocínio com uma risada divertida.

— Foi sorte eu ter te visto dormindo na biblioteca ontem, ou talvez eu nunca tivesse coragem de te entregar a carta.

— Não foi sorte, hyung. Foi Hyeyeon.

Hyeyeon? – Ele repetiu, surpreso. – Ah, eu devia ter imaginado!

Então Taehyung sorriu, aquele sorriso. O sorriso particular do incógnito, retangular e livre, e Jeongguk sentiu-se pulando de um precipício.

— Eu senti falta do seu sorriso. – Confessou de maneira impensada, mas não se arrependeu. Não morderia mais a língua por falar asneiras. Depois que ele revelou que precisava ouvir as coisas que havia escrito no diário, Jeongguk decidiu que não ia mais se conter. Observou a expressão tímida no rosto dele e decidiu que diria tudo o que sempre quis, ainda que pudesse soar ridículo. – Eu fiquei tão preocupado.

— Comigo?

— Hyung, eu quase fiquei louco por não saber como você estava. Só de pensar naqueles gêmeos idiotas dentro da mesma sala que você já me dava vontade de vomitar. – Pausou, incerto se deveria tocar naquele assunto, mas não pôde se conter. – Alguém te importunou essa semana?

Para seu alívio, Taehyung negou com a cabeça.

— Todo mundo só falava de você, e Geunsuk nem olhou na minha cara. Estava quieto de um jeito que eu nunca tinha visto. Parecia bem bravo, Guk. – Afirmou, em tom de aviso. – Sou eu quem devia estar preocupado.

— Você acha que ele vai vir atrás de mim?

Apesar de já saber que Baek Geunsuk provavelmente perseguiria sua vingança pelo gêmeo, Jeongguk mal tinha pensado nisso durante a última semana. Agora, parecia estranho que ele ainda não tivesse tomado alguma atitude, já que, caso tivesse, teria o pego completamente desprevenido.

Por que diabos ele ainda não fez nada?

— Aquilo que o Won disse na sala da senhorita Jang… você precisa levar à sério. Ele conhece o irmão melhor do que ninguém.

— Baek Geunwon, huh? – Jeongguk disse, esquecendo-se imediatamente do assunto de Geunsuk. Sentiu os ciúmes vibrando na boca do estômago. – Você já sabia.

— Ele deixou bem claro na festa. – Taehyung rebateu, quase como se a resposta estivesse pronta na ponta de sua língua, e a lembrança daquela cena causou pontadas no coração de Jeongguk. Ainda não sabia exatamente o que Geunwon tinha dito, quais palavras ou ações tinham feito aquela expressão acuada surgir no rosto de Taehyung.

E, levando em conta a fisionomia séria dele agora, não se sentiu no direito de perguntar.

— Mas você sabia antes disso. – Palpitou, num tom manso. Observou Taehyung hesitar, como se medisse suas próximas palavras, mas a expressão em seu rosto se suavizou.

— Talvez… – Ele soltou um longo suspiro. – Você lembra das mensagens que colaram no meu armário? Depois que Geunsuk rabiscou? – Jeongguk afirmou com a cabeça. – Um deles era do Won. Reconheci a letra, porque de vez em quando ele me pedia ajuda nos exercícios. E depois ele veio falar comigo, pra devolver meu livro, lembra? Você estava lá.

— Ele queria se aproximar de você de tudo quanto é jeito. – Concluiu, recordando o que Hyeyeon havia dito dois dias antes.

“Ele parecia inofensivo… arrumava desculpas pra ir na nossa sala conversar com o Tae, mas não fazia nada demais.”

— Só que eu nunca achei que ele pudesse fazer alguma coisa além disso, sabe? O Won sempre foi pau mandado do Geunsuk.

— Mas ele gosta de você há muito tempo. E você estava tentando proteger ele, porque sabia que este era o motivo que fazia Geunsuk implicar com você. – Jeongguk disse, e viu Taehyung franzir as sobrancelhas, curioso. – A Hyeyeon me contou isso também.

— Você e ela andam muito de conversinha, hein? – Ele brincou num tom provocativo, amenizando o clima tenso do assunto. –  Mas, hun… eu não podia ter certeza. Não ia correr o risco de deixar isso vazar e prejudicar muito o Won, por uma coisa que era só hipótese.

— E quando ele confirmou sua hipótese eu fui lá e enchi ele de porrada. – Soltou, sem medir as palavras. Desviou o olhar de Taehyung, envergonhado pela própria inconsequência, mas sentiu a mão dele discretamente apertar a sua.

— Você só fez aquilo porque pensou que era o Geunsuk. E você pediu desculpas. – Assegurou, num tom compreensivo. – Além disso eu sei que, mesmo que Won tenha levado os socos, foi você quem mais se machucou.

Jeongguk prendeu os olhos no rosto dele, admirado. Taehyung lhe oferecia um sorriso aconchegante de lábios cerrados, os olhos repletos de constelações brilhantes, refletindo suavemente as chamas que queimavam no aquecedor.

Ele era mesmo, sem dúvidas, bom demais para o próprio bem.

— Mas eu machuquei você também. Nem acredito que você vai me dar mais uma chance.

— Eu pensei muito nisso. Não sabia se eu seria capaz de agir da mesma forma como antes, e por isso te mandei aquela carta. – Taehyung suspirou. – Pra ser bem sincero, até ontem eu não tinha certeza se ia ser capaz te dar outra chance.

— E o que te fez mudar de ideia?

— Você. – Ele respondeu de imediato, o olhar transparente. – No telefone, quando disse “mas ainda bem que eu li”. Foi aí que eu tive certeza, porque você falou como se estivesse me revelando o seu pior segredo. E quando você disse que não se arrependia eu pensei que meu coração fosse explodir.

Jeongguk lembrou-se do telefonema do dia anterior, de como impulsivamente havia confessado que, se não fosse pelo diário, talvez nunca tivessem se aproximado.

E logo depois disso ouviu Taehyung chorando do outro lado da linha.

— Foi difícil de admitir. Pensei que você fosse me achar um babaca por não estar arrependido de ter feito algo tão idiota… mas valeu a pena, porque conhecer você foi provavelmente a melhor coisa que me aconteceu desde os meus oito anos de idade!

As borboletas em seu estômago entraram em surto ao ver Taehyung fazer um bico emburrado, numa expressão curiosa.

— E o que aconteceu quando você tinha oito anos?

— Eu conheci o Jimin.

— Ah. – Taehyung deu uma risada divertida. – Justo.

Jeongguk permitiu-se rir e desfrutar o momento descontraído. Seu coração ainda batia disparado, mas daquela forma agradável, e não mais cheio da angústia. A atmosfera inteira parecia mais leve e Jeongguk virou-se sobre o banco, ficando de frente para Taehyung. Puxou suas mãos acobreadas, mornas, e se deparou com cutículas destruídas, os cantos dos dedos roídos até a carne viva. Sentiu o coração encolher.

Ao perceber o olhar analítico sobre si, Taehyung tentou esconder as mãos, mas já era tarde. Jeongguk segurou-as com firmeza entre as suas e encostou os dedos machucados nos lábios.

— Mesmo não tendo me arrependido, eu me senti muito mal. – Disse, confrontado pelas cutículas feridas, uma confirmação física de que Taehyung havia passado por momentos difíceis. – Por isso eu tive essa ideia maluca de escrever no seu diário. Merda, eu nem estava pensando direito quando fiz isso, e devo ter escrito umas coisas bem ridículas. Só que eu queria que você soubesse tudo o que me passou pela cabeça enquanto eu estava lendo, e pensei que talvez assim você pudesse entender.

— Eu entendi. – Ouviu-o dizer, e levantou os olhos para encontrar um sorriso acanhado. – Na verdade, fiquei até meio decepcionado por você não ter respondido o resto.

— Porque eu não li. – Respondeu, ávido, e Taehyung imediatamente arregalou os olhos amendoados. – Depois que a gente se beijou pela primeira vez, quando eu percebi… eu não pude mais. Eu só respondi até a parte que cheguei a ler.

Taehyung piscou os cílios, a boca entreaberta numa expressão de perplexidade. Ele parecia muito interessado, e Jeongguk sentiu-se culpado por não ter revelado isso antes.

Deve ser importante pra ele, pensou, mas não sabia o motivo.

— O dia em que a gente se conheceu, hyung… eu não fazia ideia de que você já sabia quem eu era, te juro por Abraxás! Eu tinha lido só o comecinho. Sabia que você pegava o ônibus, que morava perto da biblioteca municipal e sobre o alma ruim, mas não sabia muito mais do que isso… ainda não tinha lido nada sobre mim.

— Só o… comecinho?

A voz dele soou falha, como se as palavras tivessem se entalado na garganta.

— Hm, é. Desculpe só dizer isso agora, mas eu não pensei que fosse-

— Então você não leu tudo? – Taehyung interrompeu num tom enfático, os olhos arregalados. – Não leu até o final?

A voz dele denunciava que, o que para Jeongguk era um mero detalhe, para ele era algo de muita importância.

— Não! Eu… eu achei o caderno no pátio, numa segunda-feira. Estava chovendo e eu levei ele pra casa, mas eu pretendia devolver. Eu li o início, procurando por um nome ou algo assim, mas não tinha nada e então eu continuei lendo pra tentar descobrir quem você era. Eu sempre soube que não estava certo ler, só que era irresistível. Você é tão estranho, hyung. Digo, estranho bom. – Enfatizou, arregalando os olhos. – Eu quis muito ser seu amigo pra te ouvir falando sobre todas aquelas coisas que eu lia, então assim que eu descobri que você pegava o ônibus eu não resisti e fui até lá. Foi só alguns dias depois de eu achar o diário.

Estava ofegante ao terminar de falar, movido pela urgência no olhar curioso de Taehyung. Não entendia porque aquilo parecia tão relevante para ele, mas estava disposto a esclarecer cada mínimo detalhe que ele lhe pedisse.

Dias depois? – Taehyung murmurou baixinho, e seus olhos se perderam no nada. Parecia imerso em mil pensamentos, e Jeongguk pensou que ele começaria a soltar fumaça pelas orelhas. – Mas a gente só se conheceu…

— Em outubro. – Jeongguk interrompeu. – Eu achei o diário em outubro e fui até você na mesma semana.

Taehyung abriu a boca numa expressão de choque.

O que será que ele devia estar pensando nos últimos dias?, Jeongguk cogitou. Que encontrei o caderno em agosto e passei meses bolando um plano de aproximação?

Jeongguk seria incapaz de ser tão calculista. Sua natureza resumia-se a impulso e ação.

— Não é possível. Eu tenho certeza que perdi esse diário em agosto!

— Eu sei. – Jeongguk admitiu, decidido a não esconder mais nada. – Elizabeth me contou.

— Liz? – Taehyung franziu as sobrancelhas, numa expressão absolutamente confusa. – Ela sabia que você estava com meu diário?

— Eu não sei como diabos ela descobriu, mas ela sabia.

— Então por isso ela estava tão chateada com você essa semana. Liz percebeu que eu descobri. – Ele concluiu, pensativo, e Jeongguk confirmou com a cabeça.

Ele não sabe de nada. Sabe até menos que eu.

Esse tempo todo ele devia achar que seu diário perdido tinha ido parar em algum lixão.

— Essa história toda não faz o menor sentido. – Jeongguk disse. – Eu não faço ideia de onde o diário estava desde o momento em que você perdeu até no dia que eu achei.

— Mas como… Jeongguk, então mais alguém leu?

Os olhos dele transbordavam preocupação e Jeongguk sentiu seu coração se quebrando em mil pedacinhos. Não podia negar que aquela era uma possibilidade, e quis mais do que tudo ter uma resposta para agradá-lo, mas não tinha. Num impulso, descruzou as pernas e o puxou para perto, até que o corpo de Taehyung se encaixasse em seu abraço, as costas dele amparadas em seu peito.

— Eu não sei, hyung. Mas a gente vai descobrir, não se preocupe.

— Foi sorte ter sido você quem achou, Guk. – Murmurou baixinho. – Eu procurei esse diário feito um doido quando ele sumiu, mas não achei de jeito nenhum. E aí passaram semanas, e nada aconteceu, então eu achei que não ia ter mais notícias dele. Mas se outra pessoa leu… eu não quero nem pensar no que pode acontecer.

— Já faz muito tempo, então eu acho que, mesmo que alguém tenha lido, não deve ter descoberto que era seu. Não tinha seu nome, nem o de mais ninguém.

— Mas você descobriu. – Taehyung imediatamente rebateu. – Você descobriu em questão de dias.

Jeongguk abriu um meio sorriso.

— Porque eu me esforcei. Muito! – Justificou, e deixou-lhe um beijo terno sobre os fios de cabelo gelados. – Eu fiquei encantado por você e enfiei na cabeça que precisava me aproximar, e eu posso ser bem teimoso. A gente devia falar com a Liz, eu acho que ela sabe muito mais do que me contou.

Agora que Taehyung sabia sobre tudo, que motivos mais a garota inglesa teria para esconder a verdade sobre o diário? Jeongguk estava cansado de enigmas e segredos. Queria tirar o assunto à limpo e voltar a se sentir normal, pelo menos na medida do possível.

— Ela devia ter um bom motivo. – Taehyung disse, como num pensamento em voz alta. – Liz pode ser bem fechada, mas é muito sensível também. Se ela sempre soube onde estava o diário que eu perdi, então… ela deve ter tido suas razões pra não me contar.

Sem saber outra forma de confortá-lo, apenas o apertou mais entre os braços e ficaram em silêncio por alguns minutos, imersos em seus próprios pensamentos. Jeongguk apoiou o queixo no ombro dele, pensando em quanta coisa ele teve que descobrir assim, de uma vez só. No lugar dele, provavelmente estaria arrancando os próprios cabelos, mas Taehyung parecia bastante sereno.

— Então você, hm… – Taehyung sussurrou, num tom hesitante. – Não fazia nem ideia que eu gostava de você?

— Você gostava de mim? – Retrucou de imediato, erguendo as sobrancelhas, e Taehyung mordeu o lábio inferior no meio do sorriso, parecendo achar graça de sua reação. – Eu não… bom, eu sabia que você me achava bonito, mas… é sério?

— Pensei que você tivesse percebido quando leu a carta.

— Interpretação não é bem o meu forte, você sabe… – Reclamou, tentando absorver a revelação. – Ah, teria sido mais fácil se eu soubesse. Eu fiquei confuso por semanas! Só criei coragem pra ir falar com você e me confessar porque, bom… Jimin achou um desenho, perto da lixeira da quadra. E ele disse que se parecia comigo e me entregou, tinha uma frase escrita e aí eu reconheci-

— Um dos meus desenhos? – Interrompeu, com a voz preocupada. – Oh, não! Não acredito que você viu um desses!

Um dos? – Jeongguk virou o rosto para Taehyung, curioso, e notou que as bochechas dele estavam vermelhas como um pimentão. – Tinha mais?

— Hm, é que… é. – Taehyung encolheu o pescoço de um jeito fofo, tímido, até que seu queixo estivesse escondido dentro da gola do casaco. – Eu fiz muitos desenhos. Mas joguei todos fora.

— Por quê?

— Nenhum chegava perto o suficiente da realidade.

O vento soprou com um uivo, e Jeongguk automaticamente apertou Taehyung contra si. Calafrios se espalharam por todo o seu corpo, fazendo com que tremesse, mas Jeongguk sabia que não tinham relação nenhuma com o frio.

Era estranho falar abertamente com Taehyung, mencionar todos os acontecimentos secretos que haviam feito com que chegassem até ali, e ouvi-lo confidenciando suas próprias verdades escondidas. Jeongguk olhou para os pés dele sobre o banco de madeira, os tênis brancos que diziam tão mais do que apenas qualquer outro sapato comum, o símbolo de seu segredo.

E se lembrou do broche do Death Note, com o alfinete amassado, que agora estava em seu bolso. Taehyung também havia guardado algo seu, como um amuleto de boa sorte.

Talvez aquele fosse um símbolo de que as pessoas têm segredos, e tudo bem. Não se pode esperar que sejam cem por cento transparentes o tempo todo. Ninguém é assim.

Jeongguk recordou mais uma vez o dia da biblioteca, como Taehyung agiu de forma espontânea e alegre e, mais tarde, de como ele havia ficado calado quando o levou até em casa. Taehyung também tinha um segredo, no fim das contas. Seja um sentimento, um broche ou, quem sabe, um simples desenho.

— Você ainda tenta me desenhar?

— Pra quê? – Taehyung virou-se entre seus braços e lhe lançou um olhar sagaz. – Se eu posso te ver assim?

Jeongguk sentiu um arrepio percorrendo todo o corpo, eriçando os pelos. Não se surpreenderia caso Taehyung pudesse ouvir, alto e claro, seu coração eufórico e descoordenado. Ele estava perto o suficiente para que pudesse alcançar seus lábios sem mal se mover, apenas esticando o pescoço.

— Como? – Sussurrou, os olhos compenetrados na pequena pintinha castanha no lábio inferior dele, que tanto venerava. – Como você pode falar umas coisas assim quando eu menos espero?

Taehyung abriu um sorriso meigo, numa resposta muda, e inocentemente umedeceu os lábios com a língua. Jeongguk trincou os dentes, aflito, porque como alguém podia ser tão adorável e ao mesmo tempo atormentá-lo até que não tivesse um mísero pingo de lucidez? Engoliu em seco, tentando conter a ebulição fulminante dentro do corpo, mas sabia que era inútil resistir. Aproximou-se devagar, até que seu nariz estivesse quase colado ao dele, de olhos bem abertos, e sentiu a ternura corroer suas veias quando Taehyung, num pedido, fechou as pálpebras.

E ao beijá-lo dessa vez, sem lágrimas nem segredos, Jeongguk provou da magia viciante de se estar completamente entregue, livre de amarras invisíveis. Cobriu-lhe o rosto com uma mão carinhosa, sentindo a textura da pele dele fria contra seus dedos, e permitiu que sua língua desbravasse o gosto doce e místico de algo que não era só baunilha ou afeto, mas o sabor inesquecível do primeiro amor, que nada aceita pela metade.

Taehyung se afastou, sorrindo, com as bochechas rosadas e o olhar brilhante, e Jeongguk deslizou o nariz pelo seu rosto, deixando uma trilha de pequenos beijos. Avançou mais uma vez sobre seus lábios, ávido e insaciável, e Taehyung deixou escapar uma risada entretida entre um selar e outro, o corpo todo encolhido contra seu peito.

— O que foi que deu em você?

— Deixa eu te beijar quantas vezes eu quiser. – Pediu, sem pudores nem desculpas. – Porque eu sei que não vou poder te beijar amanhã.

Taehyung o encarou, com o olhar melancólico e um sorriso amável, mas não disse nada antes de puxar Jeongguk pela gola da jaqueta e beijá-lo outra vez.

 

~x~

Já eram quase nove horas da noite quando resolveram ir pra casa. Assim que se despediram do senhor na portaria e pisaram na calçada da rua, ficou evidente o quanto os aquecedores externos haviam sido efetivos. A temperatura estava bem mais baixa do que Jeongguk esperava, entretanto ainda havia uma última coisa que necessitava fazer.

— Você não precisa. – Taehyung insistiu, sentado consigo no banco gelado ponto de ônibus.

— Eu disse que ia. – Repetiu pelo que já devia ser a milésima vez. – Eu quero, hyung.

Jeongguk ouviu-o suspirar baixo ao seu lado, desistente. O levaria em casa, nem que a noite do fim de outono resolvesse chegar a graus negativos. Havia dito que iria no dia anterior, e também não desperdiçaria mais alguns minutos ao lado de Taehyung.

Era confortável. Ficar em silêncio junto a ele, sem nada a esconder, sem teorias ou pistas para desvendar. O peso na consciência se fora e, apesar de ainda ter lhe restado um bocado de culpa, Jeongguk decidiu consigo mesmo que não deixaria que isso ficasse no caminho. Se Taehyung o havia perdoado, então não tinha motivos para se martirizar.

Além disso, não tinha como contradizer o óbvio: se não tivesse encontrado e lido o diário, provavelmente não teria se apaixonado.

Por mais errado que fosse, era certo.

— Parece que estamos sempre aqui, hun? – Taehyung disse, interrompendo-lhe os pensamentos.

— Aqui?

Virou-se para ele, sem entender. Só tinham ido até aquela parte da cidade juntos uma vez antes.

Taehyung abriu um sorriso frouxo e ficou alguns segundos em silêncio. Então, deitou a cabeça em seu ombro.

— Em pontos de ônibus, esperando. Entre um lugar e outro, nunca no destino final. É como se a gente estivesse pelo caminho, tentando chegar a algum lugar. Talvez um lugar novo. Ou, quem sabe, a gente só quer voltar pra casa.

De repente lhe surgiu, como numa visão vívida, o caminho de espinhos de seus sonhos, escuro e angustiante. Lembrou-se que sem Taehyung não havia luz. Sem ele não havia destino, nem rota certa. Estaria perdido.

— Vamos juntos. – Disse sem pensar, e sua mão instintivamente buscou a dele, entrelaçando seus dedos. Não importava se estavam no meio da rua num domingo a noite, se os motoristas dos carros ou os passageiros dos ônibus ou os poucos pedestres veriam. Não lhe importava agora, não mesmo. A mão de Taehyung sempre lhe indicara o caminho certo, e Jeongguk a agarraria sem medo. – Eu não sei aonde a gente vai chegar, mas… vamos juntos.

Taehyung desencostou a cabeça de seu ombro, virando-se para olhá-lo de frente. Por um segundo, Jeongguk imaginou ter visto dúvida em seu olhar, mas no instante seguinte ele sorriu, um sorriso sincero, e seus olhos ficaram pequenos como duas luas crescentes. Ele deslizou o polegar pela pele de sua mão e deu-lhe um aperto de encorajamento.

— Vamos assim, de mãos dadas. E nós vamos encontrar um lugar bonito.

 


Notas Finais


AAAA, o que acharam?? esse capítulo me deu bem mais trabalho do que o esperado, porque é muito diálogo e eu não queria esquecer nenhum tópico... os dois ainda tem muitas coisas a esclarecer (e vários mistérios pra descobrir) mas acho que pelo menos agora vão poder recomeçar de uma página em branco :) espero que vocês tenham gostado!!

Não se esqueçam de comentar! Por favoooor, eu estou morrendo de saudades, muita mesmo! <33
E sexta-feira que vem Incógnito faz dois aninhos, aaaaaa socorro!! Eu juro que termino ela antes de fazer três anos kkkkk (oremos).

E muitíssimo obrigada pela paciência de vocês, por não me abandonarem e pelo carinho imenso que eu recebo em todas as minhas redes sociais, aaaa <3 vocês são uns amores mesmo!

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Beijocas amoras,
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