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História Incógnito VKook - Taekook - Uma palavra


Escrita por: BtsNoona

Notas do Autor


Olá, leitores-amores! Como vocês estão?
Dessa vez pedirei encarecidamente que leiam as notas finais com atenção! Tem alguns links bem especiais lá :)
Mas sei que vocês querem ler o capítulo primeiro, então vou parar de tagarelar hahaha

Boa leitura!

Capítulo 38 - Uma palavra


Fanfic / Fanfiction Incógnito VKook - Taekook - Uma palavra

Uma palavra.

Amor. Difícil de falar em voz alta, até pra si mesmo.

Mas exalava pelos poros, traduzindo-se em ações de forma muito natural. Natural além da conta, às vezes, em demonstrações de afeto que deveriam ficar escondidas, mas eram inevitáveis.

Como aquele abraço no meio da rua.

Jeongguk sentia-se o tempo todo perseguido pela palavra. Bastava olhar para ele e era como se amor ecoasse nos ouvidos, infinitas vezes. Céus, era só pensar nele e o sentimento borbulhava no estômago.

Porém, ao contrário das ações, a palavra não queria sair assim tão fácil. Incomodava-o, presa naquela gaiola dentro do peito, aquela onde por tanto tempo prendera um pássaro azul. A porta ainda estava aberta, mas a palavra continuava encarcerada por vontade própria, com medo de se libertar.

Lembrou-se de Taehyung no dia anterior, ao se afastar de abraço. Via, gravado na mente, o sorriso frouxo que brincou em seus lábios, a forma adorável como ele secou o rosto com a manga comprida do casaco.

Amor, sorriu consigo mesmo.

— Senhor Jeon?

Levantou o olhar e seu sorriso desapareceu de súbito. Deu de cara com a expressão aborrecida do velho professor de história, de sobrancelhas erguidas e olhar severo.

— Hm?

— O que pode me dizer sobre o Pacto de Não Agressão Germano-Soviético?

Engoliu em seco. Por alguns minutos, esqueceu-se que estava na sala de aula.

Contudo, antes que fosse capaz de inventar algo para dizer ou admitir que não fazia a menor ideia da resposta, foi salvo de maneira inesperada.

— Jeongguk não entende muito sobre não-agressão, professor! – Won Sunki, o engraçadinho da sala, cantarolou da última carteira.

A turma inteira se alvoroçou, enchendo o cômodo com risadinhas abafadas, gritinhos agudos e uma ou outra gargalhada espalhafatosa. O professor de história, na tentativa de controlar a classe exaltada, acabou deixando a pergunta de lado — o que foi um grande alívio.

Mesmo assim, Jeongguk sentia o coração saltar na garganta. Que ótimo, pensou, revirando os olhos.

Acho que ainda não esqueceram a briga com Baek Geunwon.

 

~x~

 

— Guk, você precisa acordar pra vida! – Songyi advertiu após o sinal do intervalo. Ela estalou os dedos finos em frente ao rosto de Jeongguk, as unhas pintadas um amarelo-gema-de-ovo e pulseiras metálicas tilintando como um chocalho. – Semana passada parecia um morto-vivo, num estado de dar pena, e agora fica sorrindo sozinho sem motivo feito um cachorro babão.

— Melhor, não?

Songyi revirou os olhos.

— Ainda é um estado de dar pena, sinceramente…

Estavam esperando Jimin na porta da sala para irem juntos até a estátua da Virgem Maria.

Encontrar Taehyung, pensou, e sorriu outra vez.

— Eu sei, eu sei. É só que… – Jeongguk soltou uma risada frouxa pelo nariz, os olhos negros brilhando em expectativa. – Acho que minha ficha ainda não caiu.

O sorriso bobo continuou lá. Songyi bufou com impaciência.

— Eu estou feliz por você, juro, mas você precisa parar de dar esse mole. A gente já está no dia cinco de dezembro, Guk. As provas começam em seis dias!

Cinco de dezembro? Jeongguk não ouviu mais nada depois da data. Havia algo, tinha certeza. Seria aniversário de alguém? Franziu as sobrancelhas, o olhar perdido em algum lugar entre os cabelos ruivos de Songyi e o corredor tumultuado atrás dela, mas tudo estava embaçado.

Cinco de dezembro. Cinco de dezembro…

— Guk? Acorda!

A voz ríspida de Songyi teve efeito milagroso.

O dia do alienígena.

— Hoje é dia cinco? – perguntou, os olhos ligeiramente arregalados.

— Aham! Bizarro né? As provas finais estão aí e o baile é logo depois. Aliás, você já arranjou uma gravata? Tem que ser verde-floresta, pra combinar com meu vestido.

Dia do alienígena. Merda, como diabos eu pude esquecer?

Antes da briga com Geunwon, tinha planos pra esse dia! Planos com Taehyung. Planos que envolviam dormir na casa dele e estudar até tarde e um telescópio e estrelas e beijos.

Alargou o sorriso. Sentiu as bochechas começando a doer, mas não se importou.

Será que nossos planos ainda estão de pé?

— Guk! Dá pra voltar pro planeta Terra? – Songyi reclamou, num tom de voz impaciente. – Você ouviu o que eu disse? Verde!

— Ah, claro. Aham. – Afirmou com a cabeça. – Verde.

Mas não fazia ideia do que ela estava falando.


 

Atravessaram o pátio sob um céu coberto de nuvens esparsas. Jeongguk torceu para que elas fossem embora, para que abrissem espaço para as estrelas. Mesmo assim, não se deixou incomodar. Caminhando em direção a estátua da Virgem Maria, sentia-se leve e confiante. Não havia mais a tensão dos olhos de Liz, nem segredos, nem brigas ou culpas.

Taehyung, sentado de pernas cruzadas no cimento, ofereceu seu típico sorriso retangular ao avistá-los se aproximando, e agitou os braços sobre a cabeça castanha. Jeongguk apertou o passo sem perceber, os dentinhos da frente expostos num sorriso vivo.

— Uau, Cheon Songyi me cumprimentou com um sorriso! – Hyeyeon provocou, teatralmente surpresa, olhando ao redor enquanto os outros se sentavam em roda. – Vocês viram isso, não viram? Vocês são testemunhas.

Jeongguk soltou uma risada aguda, espontânea, e sentiu uma mão lhe apertar o joelho. Virou-se para o garoto incógnito, dando de cara com olhos pequenos de tanto rir, sobrancelhas franzidas, e imediatamente sentiu o rosto esquentar.

A palavra voltou para intimidá-lo, cada letra um pequeno botão de rosa florescendo em seu peito. Talvez, tivesse algum outro jeito de falar. Um jeito mais fácil.

Então Jeongguk cobriu a mão dourada em seu joelho com a sua própria e, como se já estivesse esperando, Taehyung entrelaçou os dedos nos seus. O fez tão naturalmente que os outros ao redor pareceram nem notar, e a conversa continuou como se nada tivesse acontecido.

— Ah, vou sentir falta de vocês no ano ano que vem, quando eu estiver curtindo a vida universitária em Hongdae. – Hyeyeon se gabou, com uma expressão de falsa inocência.

— Você acha mesmo que vai entrar na Universidade de Hongik? – Jimin perguntou, sobrancelhas erguidas.

— Eu estou confiante. Claro que não vou ter as honras do Taehyung, com entrevista particular e tudo… mas acho que passo.

Jeongguk teve a sensação de que algo borbulhava em seu estômago. Com as preocupações daquela semana e tantas coisas a serem esclarecidas nos dias anteriores, falar com Taehyung sobre sua ida a Busan havia ficado de lado.

— Você já foi na entrevista? – Apertou de leve a mão dele entre a sua. Sentiu-se culpado por esquecer de algo tão importante.

— É sexta-feira de manhã. – Taehyung explicou com um sorriso tímido. – Minha mãe está bem ocupada essa semana, então o professor Choi se ofereceu pra ir comigo.

Songyi franziu as sobrancelhas.

— Nosso professor de literatura?

— É… – Taehyung baixou a cabeça, tímido. – Ele está me apoiando bastante. Até escreveu uma carta de recomendação pra mim.

— Ele puxa o seu saco. – Hyeyeon alfinetou.

— É porque eu lia os livros que ele pedia, né? E depois te contava tudo sobre eles.

— Você fala como se não amasse tagarelar sobre livros. – Ela provocou, revirando os olhos. – Além do mais, eu via os filmes! São mais da minha área. Um dia você vai escrever livros incríveis e eu vou adaptar eles pro cinema. Nós vamos ser milionários.

— Eu cuido do figurino! – Songyi sugeriu, tilintando as pulseiras ao bater palminhas, e Taehyung soltou uma risada alta e espontânea.

Todos entraram numa conversa entusiasmada sobre futuro, sobre planos e carreiras, um falando por cima do outro. Até Liz participou do assunto, e contou que queria seguir carreira na psicologia.

— Eu queria trabalhar num hospital psiquiátrico. – esclareceu. – Ou numa clínica de reabilitação, algo assim.

— Uau, isso parece muito trabalho. – Hyeyeon ergueu as sobrancelhas, impressionada. – E você, Jimin?

Jimin encolheu os ombros, envergonhado.

— Professor, talvez? – sorriu, os olhos pequenos e brilhantes. – Eu gostaria de ensinar crianças…

O grupo todo exclamou um arrastado “awn” em uníssono, e Jimin baixou a cabeça, suas bochechas pálidas rapidamente se colorindo de rosa. Songyi apertou o rosto dele entre as mãos.

— Tão fofinho, nosso Jiminie! – provocou num tom infantil, e todos começaram a rir.

Jeongguk riu também, e ainda que estivesse contente por estarem outra vez se divertindo juntos, sentiu-se deslocado naquele assunto.

Não sabia o que queria fazer. Merda, não fazia ideia! Até ali não parecera grandes coisas, como se ainda tivesse todo o tempo do mundo para resolver, mas ver a certeza no discurso de seus amigos fez seu coração se apertar no peito, a noção estranha de que tinha menos de um ano para decidir o que faria todos os dias para o resto de sua vida.

E Jeongguk mal sabia o que faria no dia seguinte.

Era um atleta. Fora um atleta durante toda a sua vida e agora perguntava-se se era isso o que gostaria de ser pelo resto dela. Não soube a resposta.

Ficou calado a maior parte do tempo até o fim do intervalo, apenas rindo dos planos absurdos de seus amigos e se forçando a ignorar a sensação estranha dentro de si.

 

~x~

 

Jeongguk guardava o material na mochila no fim da última aula quando sentiu o celular vibrar no bolso.

Taehyung hyung:

Não precisa me esperar hoje :(

A orientadora Jang quer conversar comigo, e pode ser que demore um pouco

Não respondeu a mensagem. Jeongguk não havia tido oportunidade de falar à sós com Taehyung durante o intervalo e ainda precisava perguntar se os planos para o dia do alienígena continuavam de pé. Sentiu o coração bater mais forte e sorriu sozinho enquanto fechava a mochila e vestia o casaco de inverno por cima do paletó do uniforme.

Faria uma surpresa.

Quando Taehyung sair da sala da senhorita Jang, eu vou estar lá esperando, decidiu.

Sem pressa, despediu-se de Songyi e saiu andando para o lado oposto do de costume. A secretaria ficava do outro lado da escola, perto da entrada principal, e o caminho mais curto era através do pátio aberto. Infiltrou-se entre os alunos afobados, indo em todas as direções, ansiosos para voltar para casa. Jeongguk, contudo, caminhava devagar, o olhar fixo nos tênis brancos e um sorriso insistente no rosto.

Que cara será que ele vai fazer quando ver que eu esperei?, imaginava, tentando repassar na mente as mil expressões enérgicas de Taehyung. Seria o sorriso retangular e olhos apertados? Ou a boca entreaberta, o olhar aéreo e surpreso, longos cílios castanhos piscando várias vezes?

Sentia o rosto esquentando só de pensar, e seu estômago deu uma cambalhota ansiosa.

Então, do nada, alguém trombou contra o seu ombro, forte. Jeongguk levantou o rosto para se desculpar, imaginando que era seu erro por andar tão distraído. Porém, o pedido de desculpas morreu em seus lábios assim que viu quem era.

Seo Bokjo.

— Olha por onde anda! – Bokjo reclamou alto, uma expressão aborrecida no rosto pálido, os cabelos cor de sangue apontando para todos os lados. – Ah, é você? – Ele abriu um sorriso satisfeito. – Finalmente apareceu! Achei que tinha mudado de colégio pra fugir do Geunsuk.

Jeongguk rangeu os dentes.

— Não estou fugindo de ninguém.

Não era bem verdade, pensou, mas Seo Bokjo não precisava saber. Ok, tinha mesmo fugido um pouquinho de Geunsuk, mas foi por uma boa causa. Queria evitar uma confusão maior.

Não tinha medo dele.

— Ele estava louco atrás de você, sabia? – Bokjo soltou uma gargalhada seca. – Tomara que eu esteja lá quando ele te pegar, Jeon. Vou adorar assistir.

Jeongguk revirou os olhos e uma risada de deboche escapou de sua garganta. Como aquele mosquitinho do Seo Bokjo tinha a audácia de falar assim consigo? Ele era tão miúdo que um sopro seria capaz de derrubá-lo no chão.

— É, tomara que você esteja lá. – provocou, em tom de ameaça, e a expressão convencida no rosto de Bokjo vacilou no mesmo segundo.

Ele desviou o olhar, hesitante. Jeongguk ficou satisfeito ao notar o efeito da frase.

— Você tá fudido, Jeon. Tá mesmo.

— Vai à merda.

E continuou seu caminho sem olhar para trás.

 

A secretária mal levantou os olhos ao vê-lo entrar. Jeongguk se dirigiu para uma das poltronas do cômodo, ao lado de uma pilha de jornais e revistas. Olhou o relógio na parede. A aula havia acabado há pouco mais de dez minutos, e não tinha ideia de quanto tempo Taehyung iria demorar, mas ele já devia estar dentro do escritório da orientadora.

Pensou nas ameaças de Seo Bokjo. Bem, não eram exatamente dele. Bokjo não passava de mensageiro do alma ruim, só um covardezinho, um comparsa sem importância e que não botava medo.

Baek Geunsuk, sim. Não tinha medo dele em si, mas do que ele poderia fazer a Taehyung.

Se aquele desgraçado encostar um dedo sequer no Taehyung…

O mero pensamento fazia o sangue borbulhar, e Jeongguk ficou inquieto, remexendo-se desconfortavelmente na poltrona. Estava suando. Que calor infernal, pensou, e tirou o casaco de inverno. O aquecimento da secretaria era bem mais eficiente que o das salas de aula, e Jeongguk notou que a moça atrás do balcão usava apenas uma blusa leve de mangas compridas. Ela percebeu que estava sendo observada.

— Posso ajudar em alguma coisa?

A pergunta veio com quinze minutos de atraso, mas Jeongguk simplesmente negou com a cabeça. A secretária pareceu satisfeita com a resposta silenciosa, voltando a mexer num monte de papéis e digitar sabe-se lá o quê no computador. Ela não devia estar tendo um dia muito bom.

Jogou o casaco na poltrona ao lado, em cima da mochila, e olhou ao redor. Na última vez em que pisou naquela sala, Taehyung recusou encará-lo nos olhos. Jeongguk nunca estivera tão despedaçado. Foi, também, o dia em que o gêmeo confessou seu segredo. O dia em que Geunwon assumiu a culpa por ter apanhado e avisou-o que Geunsuk não deixaria o incidente passar batido.

“Você está protegendo Taehyung também”, ele dissera. Desde aquele dia, Jeongguk pouco havia pensado em Geunsuk, deprimido e preocupado demais com Taehyung. Agora, a coisa toda já parecia distante demais. Geunsuk não o procurou nenhuma vez. Jeongguk pode até ter evitado o refeitório para não arrumar problemas, mas esteve na sala de aula todos os dias. Não seria nada difícil encontrá-lo, se Geunsuk realmente tentasse.

Mas ele nunca apareceu.

E apesar dos boatos que ainda corriam pelos alunos, o episódio aos poucos cairia no esquecimento.

Seo Bokjo só quer te provocar, repetiu para si mesmo. É só um babaca arrogante que gosta de irritar os outros.

Bufou, impaciente. Estava tão distraído em seus pensamentos que demorou alguns segundos para reagir quando ouviu o barulho de uma maçaneta sendo aberta, seguido do ranger de uma porta.

Levantou o olhar, e lá estava ele. Parado, com os olhos amplos e sobrancelhas franzidas. Parecia curioso e muito, muito fofo. Jeongguk se levantou e abriu um sorriso.

Então, Taehyung sorriu também.

— O que você está fazendo aqui?

— Esperando você. – disse, e Taehyung timidamente mordeu os lábios.

Droga, como era adorável.

Só então Jeongguk notou a orientadora Jang Hwayun de pé bem atrás dele, parecendo bastante entretida com a situação. Um sorriso leve brincava em seus lábios enquanto ela alternava o olhar entre um e outro, e Jeongguk soube que devia estar ridiculamente corado.

— Bom te ver, senhor Jeon. – cumprimentou. – Como você está?

— Bem.

— Eu aposto que sim. – sorriu, astuta, e o tom de voz fez Jeongguk lembrar-se de sua mãe. – Tomei algumas providências para que não te incomodassem depois daquele incidente.

Então ela falou mesmo com Baek Geunsuk, concluiu, aliviado por ela ter cumprido com sua palavra. Talvez não tivesse mais nada com o que se preocupar. As ameaças de Seo Bokjo não passavam de promessas vazias.

— Obrigado.

Jang Hwayun afirmou com a cabeça. Então, aproximou-se da secretária e entregou-lhe um documento.

— Kim Taehyung está liberado das aulas de sexta-feira. – disse. – Você pode avisar aos professores dele?

A moça confirmou com um “claro” praticamente inaudível, e a orientadora Jang ofereceu um discreto sorriso de despedida para Taehyung antes de entrar de novo em seu escritório.

Jeongguk olhou para Taehyung outra vez. Continuava parado exatamente no mesmo lugar, mas seu rosto estava bem mais vermelho que o habitual.

Mesmo com o aquecedor ligado, ele ainda estava vestido naquele enorme casaco de neve, que cobria até abaixo de seus joelhos.

— Tá com calor?

— Hãn? – Taehyung arqueou as sobrancelhas de súbito, como se tivesse saído de um transe.

— Seu rosto está vermelho.

— Ah. – Sorriu, sem graça. Então, cobriu as faces com ambas as mãos, num gesto fofo, e Jeongguk entendeu que o calor da sala não era o que havia provocado o rosto vermelho. Taehyung espiou a secretária, parecendo constrangido, e voltou o olhar para si. – É… desculpe.

Jeongguk riu. Não seria Taehyung se não pedisse desculpas pelas coisas que não pode controlar.

— Vamos, hyung. – Pegou seus pertences em cima da poltrona e seguiram ambos para o lado e fora.

Jeongguk conferiu o céu e franziu o nariz. Ainda estava nublado.

— Jeongguk-ah, que vergonha! – Taehyung escondeu o rosto entre as mãos, enquanto Jeongguk vestia o casaco por cima do uniforme. – Por que você ficou me esperando?

As bochechas doíam de tanto sorrir. Céus, como ele era adorável. Devia surpreendê-lo mais vezes.

— Eu tenho algo pra te dizer. Mas está tudo bem? Por que você precisava falar com a senhorita Jang?

— A gente só estava, hm, botando o assunto em dia. – Deu de ombros.

Era um pouco estranho como Taehyung falava da orientadora como se ela fosse uma colega da mesma idade com quem às vezes “botava o assunto em dia”. Jeongguk imaginou o quanto ela saberia sobre a vida de Taehyung. Perguntou-se se ela sabia sobre os dois. Se sabia que tinham feito as pazes e estavam juntos.

Entretanto, não ousaria perguntar. Não queria ser intrometido, nem colocar Taehyung numa situação desconfortável.

— O que você tem pra me dizer? – Taehyung perguntou, afastando Jeongguk de seus devaneios.

— Ah… nada demais. – Encarou os próprios pés, tímido. De repente, sentiu-se bobo. – Feliz dia do alienígena, hyung.

— Hun? – Ele arregalou os olhos numa expressão incrédula. Então, piscou os cílios. Uma, duas, três vezes. Jeongguk também não sabia o que dizer. Merda, devia estar fazendo um papelão! – Você… Guk, você me esperou só pra dizer isso?

Mas então, antes que Jeongguk tivesse tempo para cavar um buraco e enfiar a cabeça na terra – como estava planejando – a expressão abismada de Taehyung se transformou. Ele abriu um sorriso enorme, os olhos cintilando fascínio e uma risada descrente e grave lhe escapou dos lábios.

— Obrigado, Jeonggukie. Você é muito fofo, sabia?

Jeongguk coçou a nuca, olhos fixos no chão, tentando disfarçar a sensação que borbulhava em seu estômago. As borboletas voavam desvairadas. Seu rosto com certeza estava terrivelmente vermelho.

E aquela palavra continuava pulsando em seu coração mole.

— Hm, você se lembra?  – Nem chegou a completar a pergunta. Não conseguiu.

— Mas hoje está nublado. – Taehyung respondeu, e Jeongguk soltou um suspiro de alívio por ele entender do que estava falando. – Não vai dar pra ver nada.

— É, mas… bom, a gente ia estudar também. – disse, procurando uma desculpa rápida. – Eu preciso ir bem nas provas se quiser continuar na equipe de luta ano que vem. E eu tô bem ferrado em quase todas as matérias.

Taehyung franziu as sobrancelhas e lançou-lhe um olhar meio desconfiado.

— Você quer mesmo estudar? – sondou, e Jeongguk afirmou várias vezes com a cabeça. – Nesse caso… aparece lá em casa.

 

~x~

 

Ao chegar em casa, Jeongguk sentou-se à mesa da cozinha para comer com sua mãe. Já tinha muito tempo desde a última vez em que fizera isso e, mesmo depois que ela descobriu sobre seus sentimentos por Taehyung, continuou a evitando. Talvez por causa disso, até. Dar oportunidades para ela se intrometer não seria muito esperto.

Hoje, entretanto, tinha que falar com ela, e a refeição parecia uma boa desculpa.

— Mãe, hoje eu vou estudar na casa do Taehyung. – anunciou, tentando soar o mais casual possível. – E vou dormir lá.

— Não.

Foi só o que ela disse. E sua mãe podia ser muitas coisas, mas monossilábica definitivamente não era uma delas.

— Não? Por quê?

— Hoje é terça-feira, Jeongguk.

— E daí? – perguntou, mas sua mãe ficou em silêncio. Ela não quis argumentar. E isso só deixou óbvio que aquela era uma desculpa. – Não é por isso que você não quer me deixar ir.

Observou-a, frustrado. Ela soltou um suspiro e ajeitou uma mecha de cabelo preto atrás da orelha. Então, encarou-o direto nos olhos.

— É diferente agora.

Jeongguk sentiu o estômago se contorcer, e não foi nada parecido com os sintomas que Taehyung lhe provocava. Era doloroso, um bocado desconfortável, e sinalizava algo muito errado.

Diferente porque agora você sabe que eu gosto dele? Diferente porque somos dois garotos?, quis dizer, mas só uma palavra conseguiu se libertar.

— Diferente?

Isso não é bom.

Sentiu cócegas no nariz e soube que eram as lágrimas subindo-lhe aos olhos. Engoliu saliva, tentando controlar a sensação de ânsia, o olhar incrédulo fixo no rosto de sua mãe. E, completamente alheia à tormenta que revolvia dentro do filho, Jeon Soomin abriu um sorriso.

— Você voltou a comer direito.

— Hãn?

— E sorri sozinho enquanto come, aliás. Guk, eu sei que você está tentando me evitar, mas não sou cega. – Ela soltou uma risadinha maliciosa. – Ele é seu namorado agora, não é?

Abriu a boca para responder, mas não conseguiu pronunciar nenhum som. Ao fazer as pazes com Taehyung, não tinham falado sobre isso. O assunto não veio à tona, e não existiu um segundo pedido de namoro.

Entretanto, sabia que era verdade. Taehyung era seu namorado outra vez. E Jeongguk estava certo de que ele também o considerava o seu.

Mesmo que nenhuma palavra tivesse sido proferida sobre o tema, estava claro. Desvendou-se na forma como se beijaram no terraço, no olhar afetuoso de Taehyung quando o via na escola, naquele abraço proibido no meio da rua.

— É. – confessou com certa dificuldade. Ainda era estranho e sentia-se constrangido. Ao mesmo tempo, não tinha intenções de mentir para sua mãe agora que ela já sabia. Também, provavelmente não adiantaria de coisa nenhuma. Ela era enxerida e observadora demais.

— Então, por isso agora é diferente. Eu não acho que deva ficar te deixando dormir na casa do seu namorado, Jeongguk.

— Mas…

Ela meneou a cabeça e lhe lançou um olhar apologético. “Não adianta insistir”, era o que dizia. E, ainda que magoasse, aquela era a lógica do mundo dos pais, e era bem comum.

Era bom. Sentir-se comum.

— Pelo menos posso passar a tarde lá pra estudar?

— Se você for mesmo estudar… – ela provocou, soando assustadoramente como Taehyung mais cedo. Jeongguk revirou os olhos, fingindo impaciência, mas um sorriso furtivo lhe escapou dos lábios. – Pode, Guk. Diz pra ele que eu mandei um abraço.

— De jeito nenhum! – reclamou baixinho ao se levantar da mesa, e sua mãe deu uma risada divertida.

— Eu estou feliz por você.

Afirmou com a cabeça em agradecimento e saiu. Ao subir o segundo degrau, virou as costas. Voltou. Foi por impulso, e não soube o motivo. Parou sob o batente da porta e observou sua mãe, ainda sentada no mesmo lugar, com um sorriso terno no rosto enquanto encarava a toalha de mesa.

— Você é uma boa mãe. – Só se tornou consciente das palavras ao ouvi-las em voz alta. Sua mãe se virou, de súbito, e piscou várias vezes. Os olhos dela estavam úmidos e cintilantes. – Muito boa mesmo.

Foi a primeira vez que disse algo assim a ela. A reação fez Jeongguk imediatamente se arrepender de não ter dito antes.

Os olhos escuros marejaram e ela mordeu o lábio inferior. Então, abriu um sorriso. O sorriso mais feliz que Jeongguk já havia visto sua mãe dar. Enorme, brilhante.

Tão, tão sincero.

— E você é um ótimo filho.

Sou?

Ela não hesitou nem meio segundo.

— O melhor.

 

~x~

 

Era bom. Ficar em silêncio ao lado de Taehyung, ambos concentrados em seus estudos. A cada dois minutos Jeongguk levantava o olhar na direção dele, encantado em como suas sobrancelhas se juntavam no meio da testa enquanto ele resolvia um exercício de matemática, em como Taehyung se aproximava demais do caderno para escrever. Fofo.

E voltava aos próprios deveres e livros. Taehyung podia ser uma distração, sim, mas o acalmava ao mesmo tempo. Em casa, Jeongguk provavelmente se distrairia pensando nele. Lembrando dele a cada curiosidade estranha no livro de biologia, perguntando-se o que Taehyung achava disso ou daquilo. Com ele ao lado, sentia-se sereno.

Além disso, Taehyung ajudava muito a tirar suas dúvidas. Era incrível como os olhos dele brilhavam ao explicar a matéria, sua expressão de fascínio ao descrever algo tão chato como o ciclo da fotossíntese ou a forma como as mãos dele gesticulavam com entusiasmo ao explicar como funciona a força do empuxo.

Céus, Taehyung era único. Simplesmente incrível. Jeongguk sentia-se o mais sortudo dos garotos.

— A cada quinze graus o fuso muda em uma hora. Aumenta pro leste e diminui pro oeste. Então se aqui são… – Taehyung conferiu o relógio de pulso. – Seis e quinze da tarde, então, por exemplo no Brasil, devem ser seis e quinze da manhã, porque são doze horas de fuso. Eles estão doze horas no passado, isso não é doido?

— Ou nós estamos doze horas no futuro.

— Ou isso. – sorriu. – Acho que aí a gente já entra pro campo da filosofia.

Jeongguk encostou a testa no caderno e soltou um suspiro. Estudar com o namorado podia ser bem menos desagradável do que estudar sozinho, mas ainda era estudo e ainda era cansativo.

— Acho que meu cérebro está derretendo. – reclamou, e ouviu uma risada frouxa em resposta. Então, dedos leves se embrenharam em seus cabelos, deslizando suavemente pelos fios, e Jeongguk fechou os olhos ao sentir as borboletas em seu estômago acordarem.

Ficaram assim por um segundo até Taehyung, hesitante, interromper o silêncio.

— Hm, no meu caderno de geografia do ano passado eu fiz um desenho muito bom explicando como funciona o fuso horário… tá lá no meu quarto.

Jeongguk imediatamente ergueu o rosto e encarou o caderno com olhos amplos.

Então, virou-se para o namorado.

— A gente devia ir buscar. – disse, muito sério, e Taehyung deu uma risada divertida.

 

Dois minutos depois e finalmente estava com os lábios sobre os dele.

Merda, agora entendia porque Taehyung tinha decidido que estudariam na sala. Se estivessem no quarto Jeongguk duvidava que teria conseguido terminar de ler uma única página da apostila. Era tentação demais estar sozinho com ele, e assim que a porta se fechou uma força superior o obrigou a abraçar a cintura de Taehyung e o puxar para mais perto. Uma força imparável. Tipo empuxo.

E Taehyung devia sentir algo na mesma linha, porque não pareceu surpreso com o gesto. Ele automaticamente envolveu os braços ao redor do pescoço de Jeongguk, um sorriso discreto nos lábios antes que enfim o beijasse, calmo e doce.

— Assim… – Taehyung murmurou, separando o beijo por um segundo. – Eu não vou conseguir pegar o caderno, Guk.

— Hãn? – Recebeu outro selar. – Ah! – E outro. – Eu pensei que fosse só uma desculpa.

Taehyung riu e beijou-o uma última vez antes de se afastar.

— Não, eu realmente tenho um desenho muito bom.

Sentou-se na cama, não muito satisfeito, e observou enquanto o namorado vasculhava o armário. Não se surpreendeu ao ver mais livros e cadernos empilhados nas prateleiras. Céus, o quarto de Taehyung seria tomado por livros até que não sobrasse nem espaço para ele dormir.

Jeongguk sorriu com o pensamento. Era uma obsessão meio adorável.

— Aqui. – Taehyung sentou-se ao seu lado, dois cadernos gastos em uma das mãos. – Deve estar num desses.

— Uhum. – Pegou os cadernos e jogou-os de lado no colchão. – Depois a gente vê.

— Jeongguk, nós temos que estudar, as provas já são semana que-

— Mas a gente já estudou, hyung! – reclamou, deliberadamente fazendo bico. – Vamos dar uma pausa, hm?

— Desculpa. – suspirou. – Eu só estou um pouco preocupado.

— Preocupado? Taehyung, você é um dos melhores alunos do colégio. É bom em tudo, é tipo um gênio!

— Com você. Você disse que precisa tirar boas notas pra continuar na equipe de luta, e eu quero te ajudar de algum jeito.

Jeongguk sentiu um frio na barriga e imediatamente seu coração começou a palpitar mais rápido.

Ele está preocupado comigo? Horas e horas pacientemente tirando minhas dúvidas imbecis só porque quer me ajudar a continuar na equipe?

— Você está fazendo isso por mim?

E isso tinha que significar alguma coisa.

— Ora, é claro que sim! – Taehyung sorriu, o encarando como se fosse a coisa mais normal do mundo. – Eu quero te ver feliz.

Eu te amo. Merda, eu te amo tanto.

A frase atingiu-o como um soco no peito, e Jeongguk sentiu lágrimas subindo pela garganta. Oh, não, seria tão estúpido se começasse a chorar!

Mas era inevitável não ficar comovido ao pensar que Taehyung estava se esforçando tanto só para vê-lo feliz. Significava mais do que só umas palavras bobas que Jeongguk não conseguia dizer.

Droga, por que diabos não conseguia dizer?

— Jeongguk-ah, tudo bem? – Taehyung segurou-lhe a mão. – Olha, desculpa se eu peguei pesado com você hoje, eu-

— Não. – fungou, forçando as lágrimas para dentro. – Não, hyung, você está certo. Eu preciso estudar.

Puxou um dos cadernos para o colo e começou a folhear aleatoriamente.

— Você tem certeza? – Taehyung perguntou, hesitante.

Afirmou com a cabeça. Tinha que se esforçar também. Precisava provar que o empenho dele não seria em vão. Estava determinado.

— Onde foi que a gente parou?

 

Ficaram mais uma hora concentrados nos estudos, e Taehyung se dispôs a tirar todas as dúvidas de Jeongguk. Até quando ele não sabia responder algo, dava um jeito de descobrir só para explicar.

Agora, entretanto, estavam confortáveis no silêncio. Não tinham voltado para a cozinha e Jeongguk lia um dos cadernos do segundo ano de Taehyung enquanto ele resolvia exercícios de matemática, encostado na cabeceira da cama com as pernas esticadas sobre seu colo.

Era literatura. Jeongguk tinha chegado na parte das escolas literárias, um milhão de tópicos com características em cada uma delas, e não havia outra saída senão decorar tudo. Tentou se concentrar nas diferenças entre uma e outra quando alguns versos chamaram sua atenção no meio da página, parecendo fora de contexto entre os tópicos.

Jeongguk abriu um sorriso. Seria um exemplo? Era bonitinho.

Então, resolveu ler em voz alta:

O beijo é símbolo que se traduz em formas disformes,

que se mistura em corpos fundidos

e se ilustra numa mão delicada,

numa carícia suave,

num calmo ardor de cor.

E, ao terminar de ler, Taehyung estava vermelho como um pimentão. Ele se alvoroçou todo, jogou o caderno de matemática para o lado no colchão, desencostou as costas da cabeceira da cama. E foi só aí que Jeongguk percebeu.

— Você escreveu isso?

— Eu… aish, é por isso que não gosto de emprestar meus cadernos! Olha, tem um motivo, ok? Veja bem, é sobre aquele quadro ali, – Apontou para o único quadro da parede, cheio de formas geométricas e cores vivas. Era um quadro que Jeongguk já havia notado diversas vezes, um homem beijando delicadamente a bochecha de uma mulher. – Se chama “O Beijo”, do Gustav Klimt. A foto do quadro estava no livro que a gente usou na aula nesse dia, e… eu achei tão bonito. Mas tinha um montão de coisas pra decorar, sabe? As características e tudo mais. Então eu só estava tentando memorizar que o Klimt faz parte do movimento simbolista, que é um estilo que não se importa tanto com a realidade mas que tenta ilustrar a essência e o sentimento, e aí eu escrevi isso pra tentar resumir a ma…

— Eu te amo.

— … téria.

Pronto. Disse.

Só que a frase saiu baixa, como um pequeno suspiro. Também, foi meio encoberta pela voz grave de Taehyung, que imediatamente deixou o discurso morrer em seus lábios rosados. Ele piscou os olhos, a expressão hesitante, o olhar castanho e atento travado no seu negro e apavorado.

— O que você disse?

Ele não ouviu. Não ouviu, e as palavras foram engolidas outra vez, mas o olhar intrigado de Taehyung pedia para que as repetisse.

Só que não podia.

Abortar missão, abortar missão.

— Uh, nada, eu… eu disse que é um bom plano. Tipo, escrever poemas pra gravar a matéria.

— Ah… sim.

Jeongguk não conseguiu evitar uma careta discreta, os lábios apertados e nariz franzido. Desviou o olhar, rápido, e encarou a parede.

“Um bom plano”?

Mas que idiota!

Ouviu uma risada rouca e ficou ainda mais envergonhado. Devia estar parecendo um maluco, preso em devaneios, fazendo caretas bobas para a parede. Espiou Taehyung pelo canto do olho e notou que ele o observava com interesse e ternura.

— Você é fofo. — Taehyung disse, a expressão serena e o tom firme, mas o rubor quente não se apagou de seu rosto. — Tipo, muito fofo mesmo. Seu coração é enorme e puro. E mesmo que às vezes você tente se fazer de durão, o seu sorriso te trai… e você se revela nessa sua risada doce e infantil, que te faz franzir o nariz. Você é imparável. Um tanto precipitado, de vez em quando. Mas eu gosto.

— Eu… o quê? – Jeongguk ofegou, o coração se debatendo na garganta, incontrolável. “Então ele ouviu?”. Sentia o estômago flutuar, o sangue correr nas veias, cada poro de seu corpo transpirando minúsculas partículas de inquietude. “Ele me ouviu?”. E diante de sua expressão abismada e tola, Taehyung apenas abriu um sorriso discreto de lábios cerrados, os olhos profundos cintilando como se contivessem todo um novo mundo misterioso a se desvendar.

E, para Jeongguk, continham mesmo.

Devagar, Taehyung cortou a distância que os separava. Ele traçou sua face com a ponta dos dedos compridos, os olhos atentos a cada detalhe de seu rosto, e deslizou a carícia suave até seu pescoço. Jeongguk estava certo de que ele podia ouvir seu coração, vibrante, tão alto que dava para senti-lo pulsando nos tímpanos.

Mas Taehyung não deu sinais de ter notado. Parecia distraído com algo em seu pescoço, os dedos leves contornando o mesmo pedaço de pele repetidas vezes.

— Fofo. – disse, baixinho, como se apenas constatasse o fato para si mesmo.

E, sem aviso, Taehyung plantou-lhe um beijo delicado na lateral do pescoço.

Jeongguk fechou os olhos, todos os nervos vibrando num frenesi elétrico, calafrios florescendo a partir daquela pequena extensão de pele beijada. Sentia-se entorpecido, aéreo, e foi pego de surpresa quando lábios mornos deitaram sobre os seus e mãos macias cobriram seu pescoço de ambos os lados, gentilmente o trazendo para perto.

Ah… – suspirou. Ou gemeu? Não importava, não teve nem chance de se sentir constrangido, porque seu pequeno e desesperado ruído abriu passagem para a língua doce de Taehyung, e ele invadiu sua boca, o privando de qualquer pensamento lógico.

E não demorou para que estivessem deitados sobre os cadernos e apostilas espalhados na cama, devorando a respiração um do outro, os braços de Taehyung enrolados em seu pescoço enquanto Jeongguk apoiava o peso do corpo nos cotovelos. Num movimento rápido, enlaçou a cintura do namorado com uma das mãos, buscando trazer seu corpo para mais perto, e Taehyung gargalhou contra seus lábios, interrompendo o beijo.

— Cócegas. – Ele reclamou, ofegante, rindo.

Jeongguk se afastou por um segundo e o encarou, os olhos cheios de adoração. Sempre ficava abismado em como Taehyung era lindo. Agora, parecia ainda mais estonteante, o sorriso retangular, os lábios inchados e vermelhos, tentando recuperar o ar, os cabelos castanhos espalhados no travesseiro e a pele acobreada tingida de coral.

Não soube quanto tempo ficou só olhando pra ele, toda a sua atenção investida em cada mínimo detalhe de seu rosto, mas foi tempo o suficiente para que Taehyung recuperasse o ritmo da respiração.

— Guk?

— Hm?

— É claro que eu também te amo. – confessou, a voz baixa e calma. Jeongguk sentiu o coração duplicar de tamanho. – Eu pensei que você soubesse.

Taehyung o encarou e, apesar das bochechas coradas, seus olhos não demonstravam timidez. Tinha o mesmo olhar infinito do dia em que se beijaram pela primeira vez, repletos de expectativa e ternura.

Jeongguk mergulhou naquele olhar. O olhar que admirava, encantado, os livros velhos da biblioteca. O olhar que o amparou quando esteve doente. O olhar que, frágil, o procurava por consolo. O olhar que acolheu-o quando não se julgava merecedor. O olhar que o aceitava por inteiro.

O olhar brilhante de Taehyung, que transbordava amor.

E, mesmo que ele não dissesse, Jeongguk podia sentir. Só fora ingênuo e lerdo demais para nomear, mas sentia. Palavras nem sempre eram necessárias.

Beijou-o de novo, sem jeito, com um sorriso insistente nos lábios. A respiração suave de Taehyung soprou-lhe contra a pele, e ele se afastou um pouco para soltar uma risada frouxa e adorável.

Já era amor há muito tempo.

— Eu sabia.

 

~x~

 

Aquela havia provavelmente sido a semana em que Jeongguk mais tinha estudado na vida.

E, por outro lado, também foi uma das melhores semanas do ano.

Taehyung não estava brincando quando disse que iria ajudá-lo a estudar para as provas. Ele passou todas as tardes consigo, no pátio do colégio ou na biblioteca municipal — “a gente não pode se distrair, Guk-ah!” — e repassou toda a matéria, em detalhes, até o dia escurecer. Emprestou-o suas provas antigas, apontou os temas mais prováveis de caírem e corrigiu todos os seus exercícios.

Ele estava determinado. O coração de Jeongguk mal podia aguentar todo aquele cuidado e atenção do namorado sobre si, o dia inteiro e todos os dias. Sentia-se todo aquecido por dentro.

Na quinta-feira, já tinham passado das nove da noite quando Jeongguk finalmente deixou-o na porta de casa.

— Você não precisava me trazer até aqui.

— É o mínimo… – sorriu, sem graça, e coçou a nuca. – Eu nunca ia conseguir sem você.

Sentiu o estômago dar uma cambalhota ao ver a expressão de Taehyung. Um sorriso tímido e lisonjeado, as bochechas cor de rosa e o nariz vermelho de frio. Lindo.

— Hm, eu não vou estar aqui amanhã, então… – Ele passou a língua pelos lábios e piscou os cílios compridos. – Aproveita pra descansar. Sábado a gente retoma.

— Hyung… – Jeongguk soltou um lamento. – Até no sábado?

— Até no sábado. – Taehyung riu. – Eu tenho que ir. Já tá tarde.

Jeongguk concordou com a cabeça, mas era sempre desanimador vê-lo entrando em casa. Principalmente porque não podia ao menos lhe dar um beijo de despedida.

Merda de mundo escroto.

— Boa sorte em Busan amanhã! – desejou. – Eles vão te adorar, eu tenho certeza.

— Obrigado, Jeonggukie. E bom treino amanhã! Não será o último.

— Graças à você. – disse e, sem pensar, alcançou-lhe a nuca com uma das mãos. – Merda, hyung… eu queria muito poder te beijar agora.

— Eu sei. – Taehyung sorriu sem graça. – Eu também.

Ficaram encarando um ao outro por um momento, Jeongguk imerso nas esferas castanhas e cintilantes do namorado, esperando que, por algum milagre, pudessem se beijar por telepatia.

Era bom, olhar pra Taehyung. Mas não era suficiente.

— Sábado. – Ele sorriu ao se afastar. – Boa noite, Guk.

Jeongguk não conseguiu prender o suspiro decepcionado.

— Boa noite.

 

Mas, antes de enfim poder beijá-lo, Jeongguk tinha que enfrentar a sexta. Sozinho.

Ia aceitar o conselho de Taehyung – ou seria a permissão? – e passaria o dia bem longe dos livros e apostilas. Hoje era, na prática, o último dia de aulas de verdade. O último treino de luta do ano. Dava pra sentir a tensão suspensa no ar, todos os alunos preocupados com as provas finais na próxima semana, cheios de expectativa para a chegada das férias ou do baile de formatura e os resultados das universidades. Até os professores pareciam exaustos e ansiosos.

Jeongguk, por outro lado, sentia-se sereno. Pela primeira vez em… anos, talvez, estava adiantado nos estudos e confiante de que se sairia bem nas provas finais. Após o fim das aulas do dia, ao caminhar até a quadra coberta para o treino de encerramento, sentia segurança para garantir ao treinador Lee que não o decepcionaria. Estaria na equipe no ano que vem, tinha certeza. Graças à Taehyung, seu namorado.

Céus, como as coisas tinham mudado nos últimos meses! Jeongguk não se sentia nem de perto o garoto do início do semestre, mas uma versão melhorada de si mesmo. Mais adulto, consciente do mundo ao seu redor, do lado bom e do ruim, e, acima de tudo, muito mais consciente dos próprios sentimentos e desejos. Podia ainda não saber o que queria fazer para o resto da vida, mas estava no caminho certo. Tinha as pessoas certas ao seu lado. Sabia quem era, enfim.

Jimin o recebeu com seu enorme e brilhante sorriso no vestiário. Para ele, era mesmo o último treino. O último dos últimos, depois de tantos anos, e Jeongguk sentiu o coração se apertar ao pensar nisso.

— Eu não acredito que você não vai estar aqui no ano que vem. – disse, enquanto amarrava os cadarços. Mas Jimin apenas sorriu.

— Não pense que essa conversinha vai me impedir de ganhar, Guk. – Ele saltou no lugar, descontraído. – Eu vou acabar com você.

— Quero só ver.

Correram algumas voltas ao redor da quadra. Os olhares desconfiados vindos de alguns dos colegas de equipe ainda existiam, mas não incomodaram Jeongguk. Sabia que não tinha feito nada de errado e, se nem a própria mãe tinha o julgado, qual era o sentido de se preocupar com a opinião de alguns adolescentes preconceituosos?

Jeongguk não podia se importar menos.

— Você parece bem, Jeon. – O treinador Lee comentou após o fim do aquecimento, dando-lhe tapinhas no ombro.

— Eu me sinto ótimo.

O treinador abriu um enorme sorriso satisfeito, evidenciando as rugas ao redor dos olhos, e Jeongguk sentiu-se orgulhoso de si.

— Então pode lutar a primeira de hoje? – Ele sorriu. – Quero começar com tudo. Não vou pegar leve com vocês só porque é o último dia.

— Claro, treinador. – E, dessa vez, foi Jeongguk quem deu tapinhas no ombro do mais velho. – Mas não é meu último dia. Ano que vem nós vamos pros nacionais.

O senhor Lee ficou mudo, boquiaberto, o olhar arregalado e brilhante. Falta só os olhos dele se encherem d’água, pensou, e soltou uma risada.

— Ainda bem que você está de volta, Jeon.

A voz dele soou comovida, mas Jeongguk apenas sorriu em resposta, e correu para o ringue antes que pudesse vê-lo enxugar os olhos cansados.

 

Ao fim do treino, estava exausto. Também, orgulhoso. Tinha dado o melhor de si e, enquanto tomava banho no vestiário, Jeongguk se sentia satisfeito com seu rendimento.

Despediu-se de Jimin e enviou uma mensagem a Taehyung antes de ir embora, perguntando-lhe se estava tudo bem em Busan. Mal podia esperar para receber a boa notícia de que Taehyung fora aceito na Universidade de Pukyong. Jeongguk tinha certeza absoluta de que ele conseguiria, e estava mais do que feliz pelo sucesso dele.

E, ainda que Taehyung fosse morar a algumas horas de distância, Jeongguk não tinha dúvidas de que conseguiriam fazer o relacionamento dar certo.

Já estava escurecendo. A brisa do fim de tarde lhe bateu gélida contra os cabelos úmidos, o obrigando a apertar o passo. O vento parecia trazer sinais de chuva, e Jeongguk não podia se dar ao luxo de pegar uma gripe agora que as provas estavam tão próximas. A semana seguinte seria ainda mais exaustiva.

Entretanto, ao virar a esquina numa rua estreita, algo fez com que parasse. Teve a estranha sensação de estar sendo seguido, e virou-se para trás. Não tinha nada, ninguém. Era só a mesma ruela vazia, camuflada pela penumbra, imersa em silêncio.

Continuou caminhando, mas a sensação não passou. Então, ouviu um som. Virou-se outra vez, de súbito, e a visão fez com que inconscientemente recuasse três passos.

Um, cabelos vermelhos e um sorriso de escárnio. Dois, baixinho e rechonchudo. Três, aquelas malditas covinhas.

Seo Bokjo. Go Dongkyu. Baek Geunsuk.

A mochila verde militar se chocou contra a parede.

Ao abaixar o olhar, precisou engolir em seco. Eles vieram equipados. Cada um segurava uma meia.

E Jeongguk sabia muito bem o que tinha dentro. Já tinha visto o estrago que uma meia armada com pilhas fizera nas costelas de Taehyung.

Merda. Estava encurralado.

Sentiu um arrepio subir-lhe a espinha ao ouvir a conhecida voz arrastada sibilar:

— Finalmente nos encontramos, Jeon Jeongguk.

 


Notas Finais


!!! ATENÇÃO !!!
Incógnito tá quase acabando. Sim, é triste. Eu vou morrer de saudades.
Mas se é pra fechar essa história depois de quase TRÊS ANOS convivendo com esses personagens e todos os leitores e amigos incríveis que Incógnito me trouxe, então eu PRECISO finalizar com chave de ouro.

Para saber mais, me segue no TWITTER ou entra no GRUPO DE WHATSAPP: https://chat.whatsapp.com/ICMfuvIxO6F7MKVUuaT94q
A gente fica todo mundo amigo e surta todo mundo junto quando o derradeiro fim chegar hahaha. <3

Ok, juro que estou acabando. Não sei se todo mundo já sabe, mas eu comecei a postar uma fanfic nova! Se chama "Vinte Minutos e V" e já está no segundo capítulo! Quem quiser dar uma chance pra ela, tá aqui:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/vinte-minutos-e-v-16030858

É ISSO! Espero que vocês tenham gostado do capítulo!! Desculpem qualquer coisa, não se esqueçam de comentar! O fim está próximo e eu ando triste, preciso de forças. <333
Eu amo vocês, muito obrigada por tudo!

twitter @ btsnoona_
curiouscat / btsnoona
instagram @ larissalair

Beijocas amoras,
~Btsnoona


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