Sigo Isabela até o estacionamento, aquela mágoa acaba virando um estresse incontrolável.
— Luan: QUE PORRA FOI AQUELA?
— Isabela: Vai começar a gritar comigo aqui? -Indaga, enquanto termina de prender Manuella na cadeirinha do banco de trás-
— Luan: Sinceramente, achei que estivesse mais madura, mas pelo jeito continua da mesma forma que quatro anos atrás, ou pior. Só faz merda, só isso!
— Isabela: Não diz uma coisa dessas! -Diz com a voz embargada, está sensível demais aquela noite-
— Luan: Você me enganou, caralho! Você me fez acreditar que já tinha contado pra ela!
— Isabela: Eu sei que errei em não contar! Mas quer saber? Eu não me importo! Eu estava feliz em Londrina, até encontrar com você de novo. Não dá pra nenhum de nós sermos felizes, se juntos.
— Luan: Isso, me provoca! Faz o que quiser. Que nem aquela vez que você quase deu pro Felipe, só pra me causar ciúmes. Deixa eu adivinhar: vai voltar a ser puta? São coisas assim que você faz.
— Isabela: Você nunca cometeu um erro na vida? Caramba, o que fez nesses últimos quatro anos? Tem ideia do que eu passei? Tudo, absolutamente tudo caiu nas minhas costas e eu aguentei sozinha! Eu abandonei estudos, tive que viver sozinha por causa da Manuella e dedicar até a minha última gota de suor para criar essa menina e infelizmente, ainda cometi muitos erros! Enquanto você estava aqui só crescendo na vida, eu estava passando noites e noites acordadas, preocupada com minha filha. Hoje ela é sim a coisa mais importante da minha vida, mas eu não vou mentir dizendo que foi fácil, então por favor, nem venha me dizer que eu continuo a mesma. Eu amadureci muito, mas se você acha que não, inclua-se nisso. Não é porque tem anos de diferença, que tem o direito de achar que só eu cometo erros. -Diz entrando no carro-
— Luan: Porra, Isabela... Me... espera. -Digo ainda absorvendo aquelas palavras, mas ela rapidamente arranca o carro e eu permaneço ali, estático-
Minutos depois, tentando raciocinar o que acabara de acontecer, chamo um táxi por ali mesmo e sigo até em casa, ainda pensando em tudo aquilo. Talvez tivesse exagerado demais e eu não faço nem ideia de como os dias dali para frente serão.
— Isabela—
Chego em casa e após deixar Manuella na minha cama, vou tomar um banho demorado, o dia fora pesado. Precisamos conversar e eu sei disso, talvez seja um pecado esperar um pouco mais para abrir o jogo completamente com ela, mas não tenho forças naquele momento. Disse tudo que deveria falar à Luan, até porque sei que seu verdadeiro eu iria me entender, não importa quanto tempo demorasse.
Manu já está dormindo, quando retorno ao quarto e eu apenas agradeço em pensamento por não ter que tocar naquele assunto delicado, depois de um dia tão delicado. A noite para mim é longa e sou vencida pelo cansaço às 6 horas, vendo o sol nascer no céu.
No dia seguinte, tenho a certeza absoluta de que deveria me mudar o mais breve possivel, já que agora sou mais que responsável.
— Manuella: Mamãe, você nem imagina que eu sonhei. -Ela vai até mim ao acordar, estou na sala com o notebook no colo- Sonhei que aquele chato era meu papai.
— Isabela: -A encaro pausadamente e acaricio seu cabelo- Senta aqui comigo. -Apalpo o assento do sofá e ela obedece- Não foi sonho, meu amor...
— Manuella: Hã? Foi pesadelo né?
— Isabela: Não, nenhum dos dois. Foi real. Você é muito nova pra entender isso, mas o que eu posso te dizer é que... O Thiago é seu pai só de consideração.
— Manuella: Consi... O que é isso?
— Isabela: Quer dizer que seu sangue é igual ao sangue do Luan! E o do Thiago é diferente, entendeu?
— Manuella: Mamãe... Mas... Eu gosto do Thiago! Do, papai! -Ela balança a cabeça, confusa-
— Isabela: Eu sei, eu sei, meu amor! Me perdoa por ter mentido pra você, me perdoa, por favor. Eu só quero que você pare de tratar o Luan mal, até porque ele também é responsável por você ter nascido.
— Manuella: Tá, mamãe. Você não 'pecisa' pedir desculpas. -Me abraça- Você tem um montão de namorados né?
Acabo rindo, em meio às lágrimas que se derramam involuntariamente. Estou sensível demais, e aquela situação só piora tudo.
— Isabela: Um dia vai ser mais fácil pra você entender tudo isso, tá? Eu prometo.
— Manuella: Eu fui muuuito chata com o Luan? -Contrai os ombros, demonstrando arrependimento-
— Isabela: Sim, bem chata. Você não precisa ser mais legal com um e deixar o outro, os dois são importantes. Entendido?
— Manuella: Tudo bem, eu... 'Vô' tentá!
— Isabela: Eu amo você. -Beijo o topo da sua cabeça- Vai ficar tudo bem, logo!
Sorrio fraco, sem ter muita certeza sobre aquilo. Acabo ficando magoada depois de ouvir aquelas coisas de Luan, ele provavelmente é a pessoa mais impulsiva que eu conheço.
Tenho que distrair minha mente, por isso, não hesito mais em abrir o e-mail resposta de Gisele e como esperado, um "sim" está lá, à minha espera.
Começo no dia seguinte, como no contrato dizia e tento ser pontual, chego na hora após buscar Manu no balé e a levar pro colégio.
— Cláudia: Bom dia! Que bom que veio, mal podia esperar pra você começar aqui. -Ela está no balcão, uma das bibliotecárias-
Gisele também está lá, mas um pouco mais para o fundo, em uma conversa por telefone. Parece nervosa e até posso ouvir alguns xingamentos. Mas fico quieta quanto à isso. Visto um uniforme que me entregam e começo a organizar alguns livros na estante, tentando prestar atenção, mas insisto em me interessar na conversa.
— Gisele: Eu quero e vou fazer esse DNA, custe o que custar. Nem que você amarre ele pra mim, eu sei que esse filho é dele. [...] Sim, tudo certo. É, se os e-mails não adiantarem tenho que entrar com um processo com ele. [...]
Sua voz diminui o volume e tento me aproximar mais, porém, sem vê-la por conta de uma estante nos impedindo, me assusto quando ela surge atrás de mim.
— Gisele: Está colocando os de ação na parte dos infantis!
— Isabela: Ahh... nossa! Desculpa! Como sou distraída. -Digo retirando novamente, uma fileira enorme de gêneros errados-
— Gisele: Você se acostuma! Não pude te dar as boas-vindas, peço que me desculpe por isso! Eu estava resolvendo um assunto sério e particular, se é que me entende.
— Isabela: Claro, sei como é! -Sorrio fraco, completamente sem graça, mas aquele assunto havia despertado a versão mais curiosa de mim-
— Gisele: O pai da minha filha não quer assumir ela. -Ela se encosta em uma das estantes me explicando o assunto e começo a desconfiar se ela teria algum poder de ler mentes- Na verdade, ele não disse que não quer assumir. Nunca tive uma resposta dele. -Continua, após não ter uma resposta imediata minha-
— Isabela: Nossa... Isso é... Um problemão!
— Gisele: Exatamente. Na hora de comer, tá tudo certo. Mas depois, desaparece!
— Isabela: E como você tem certeza que é desse cara? -Faço uma pergunta idiota, após não conseguir pensar em como conversar com aquela garota-
— Gisele: Eu sinto. Mãe sempre sente. O cara tá bem de vida, não tem nem porquê fugir da paternidade.
— Isabela: Desejo que tudo dê certo! -Sorrio fraco- Vou ajeitar esses livros na estante certa, com licença! -Digo empurrando um carrinho, até o outro lado da biblioteca.-
Aquela situação é a mais estranha que já passara em anos, mesmo fingindo não me conhecer, conversa como se fôssemos amigas. Já fomos, mas isso é coisa do passado. Porém, bem que eu gostaria de saber mais sobre aquele tal passado dela.
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