Era de madrugada já , e os médicos ainda não haviam liberado a Vitória da UTI. Mas a boa notícia é que ela estava correspondendo aos medicamentos.
Os meninos vieram aqui mas não ficaram muito tempo. Com o celular da Vitória , eu liguei para seus familiares no Brasil e eles já estavam a caminho pra cá. Camila , a mãe da Vitória , ficou desesperada e eu tive que conversar com o irmão dela , Lucas , pra poder explicar a situação. Ele foi bem seco comigo no telefone , não que eu queira que ele fosse meloso , mas sei lá .. acho que não gostou de mim. Bia também estava vindo pro Canadá. Ela chegaria antes dos familiares da Vitória , por causa da distância. Camila , Lucas e sua esposa chegariam amanhã de noite. Bia chegaria amanhã antes do almoço.
Eu não consegui dormir mais depois daquela hora. Eu estava ansioso. A qualquer momento eu podia ser chamado pra ver minha filha , ou pra receber a notícia que Vitória tinha sido liberada da UTI.
Eu estava voltando pra cadeira , com um copo de café na mão , quando uma enfermeira me parou.
- Você é o Pai da criança ? - Ela me perguntou. - Da bebê filha da paciente Maria Vitória ?
- Sim , sou eu. - Digo.
- Poderia me acompanhar ?
- Claro. - Deixo meu copo de café em cima da cadeira e acompanho a enfermeira. Ela me entrega uma roupa , uma touca e uma máscara. Me visto num banheiro e depois volto a acompanhá -la. - Onde estamos indo ?
- Para a incubadora da sua filha. - Ela me leva até o local e eu paro na porta, vendo a incubadora ao lado de uma cama. - A Maria Vitória ficará aqui quando sair da UTI. - Ela chega perto da incubadora e observa minha filha. - Vem ver ela , papai.
Ela me chama , e eu com cuidado me aproximo.
- Ela é linda. - A enfermeira me informa.
Então eu a olho. Tão pequena. Tão frágil. Tão linda. Sorrio instantaneamente. Ela tinha alguns poucos fios de cabelo na cabeça , mas dava pra ver porque eram bastante pretos. Ainda não dava pra ver com quem ela parecia , mas o importante é que ela era linda. Ela dormia tranquilamente, mal sabia o que acontecia aqui fora.
- Meu milagre. - Sorrio com os olhos marejados. - Eu posso pegá -la ? - Pergunto a enfermeira.
- Ainda não. - Ela diz. - Mas creio que logo poderá.
- Ah sim. - Digo voltando a olhar minha filha.
- Poderia me informar o nome dela , para que eu coloque na pulseirinha?
- Alasca. - Digo.
- Alasca ? - Ela me pergunta , sorrindo. - Um nome bem diferente ne.
- Sim. - Sorrio.
- Bom, não podemos ficar muito tempo aqui. Vamos indo , mais tarde poderá vê-la novamente. - Ela me diz.
- Ok. - Olho mais uma vez pra Alasca. Como queria poder pegá-la no colo.
Saio , seguindo a enfermeira. Volto para minha companheira cadeira , e pego meu celular. Ligo pra Jaime.
- Como ela está ? - Ela me diz antes mesmo do Alô.
- Creio que logo logo ela sairá da UTI. - A informo.
- Estamos todas indo pra sua casa. Iremos aguardar vocês lá. - Ela me explica.
- Ok. - Digo. - Jaime..
- Oi.
- Ela é tão linda.. - Sorrio.
- Quem ?
- Minha filha.
- ELA NASCEU ?! - Ela grita , e escuto a voz das meninas perguntando se Alasca tinha nascido. - Calma , eu não tô escutando o Peter ! - Ela diz pra minhas irmãs. - Peter ??
- Nasceu. - Sorrio. - Ela está bem. É linda ! Tem os cabelos pretinhos, é branquinha.. não pude ficar muito tempo com ela e nem pegá -la no colo , mas só de ver ela..
- Da próxima tira foto !
- Acho que não posso , mas vou tentar.
- Tudo bem. - Ela diz. - Agora precisamos ir. Nosso vôo tá marcado pra daqui a pouco.
- Olá. - Escuto a voz do médico, e me viro pra ele.
- Tchau, preciso ir também. - informo a Jaime e desligo o telefone. - Oi ! - Digo para o médico. - Como ela está ?
- Ela está no quarto. - Ele sorri. - Sua namorada está bem e não corre mais risco.
- Sério ? - Meus olhos lacrimejam mais uma vez. - Graças a Deus ! - Sorrio.
- Sim ! - Ele sorri também. - Ela ficará de observação , e pode acordar a qualquer hora.
- Eu posso entrar lá ? - Pergunto.
- Daqui a uma hora mais ou menos você vai poder entrar pra ficar. - Ele me explica.
- Amanhã de tarde já poderá receber visitas rápidas .. Por sorte não foi algo tão grave.
- Ainda bem. - Digo aliviado.
- Bom , vou indo. Tenho mais partos a fazer. - Ele ri. - Até mais , meu jovem.
- Até mais !
Ele sai , e eu pego meu celular mandando a boa notícia pra todos. Para os meus amigos , familiares , familiares da Vitória.. todos estavam aliviados e felizes com a ótima notícia. Minha mulher e minha filha estavam salvas!
***
Aquela uma hora de espera se passou arrastando , mas eu finalmente estava entrando no quarto.
A primeira coisa que vi quando entrei , era a incubadora da Alasca ao lado da cama em que Vitória estava, e minha nossa ! Ela estava desacordada, cheia de tubos e fios. Aquela cena era de cortar o coração.
Me aproximei lentamente, antes olhando minha filha , e depois me aproximando da Vitória. Suspiro pegando em sua mão.
- Que susto você nos deu. - Digo, na esperança de que ela escute. - Tá todo mundo aqui preocupado com você, sabia ? Seus familiares estão vindo lá do Brasil pra cá, só pra ver você. E confesso que estou com um pouco de medo do seu irmão. - Rio baixo. - A propósito , nossa filha nasceu. Ela é tão linda. Queria tanto que você a visse pra se apaixonar assim como eu me apaixonei. Estou ansioso pra ver você a pegando no colo. - Suspiro novamente. - Você é forte. Vai sair dessa logo e vai ser uma ótima mãe. Nunca se esqueça que eu amo você. Amo muito. - dou um beijo em sua mão. - Não vou mais sair de perto de você.
E era exatamente o que eu iria fazer. Não sairia mais de perto das duas.
Dou mais uma babada na minha filha e me sento na poltrona , que não era lá essas coisas mas era muito mais confortável que a cadeira lá de fora. Cansado , acabei cochilando um pouco.
***
Acordei com alguns barulhos no quarto. Levantei assustado , mas era só a enfermeira cuidando da Vitória. Senti uma dor nas costas por ter dormido na poltrona.
- Bom dia. - Ela diz pra mim.
- Bom dia? - Pergunto. Eu tinha dormido a noite inteira ?
- Sim. - Ela ri.
- Ela já pode Acordar ? - Pergunto, mudando de assunto.
- Sim , já até acordou essa madrugada. - Ela me diz.
- O que ? E por que não me acordaram ?
- Porque ela não deixou. E também não ficou acordada muito tempo. Mas ela deve acordar logo.. - Ela me explica.
- Não vou mais sair de perto dela. - Me aproximo da cama.
- Bom, tem uma moça esperando lá fora. - A enfermeira me diz, e eu me lembro de Bia.
- Ah sim. - Digo. - Meu amor , já volto. - Digo pra Vitória , e saio do quarto.
Bia estava sentada na cadeira que me aguentou por um tempinho. Assim que ela me viu , se levantou pra me abraçar. Como eu precisava desse abraço.
- Ô meu amor ! - Ela diz.
- Fiquei com tanto medo. - Desabafo.
- Deus cuidou de tudo. - Ela me olha. - Como você tá ?
- Eu tô bem. - Digo.
- E elas ?
- Minha filha tá ótima. E é linda. - Sorrio. - Já a Vitória , ainda tá desacordada. Quer dizer , a enfermeira me disse que ela acordou mas voltou a dormir..
- Você não conseguiu falar com ela ?
- Não. Eu tava dormindo. - Sorrio de vergonha.
- Por isso essa carinha de sono. - Ela ri. - Faz assim , eu vou entrar pra ver elas e você vai na lanchonete tomar um café.
- Tá bom. - Concordo.
- Tá. - Ela sorri.
- Você é um anjo. - dou um beijo em sua bochecha , e logo depois me dirijo a lanchonete do hospital.
***
Já era noite , e eu estava sentado na poltrona do quarto novamente. Bia tinha ficado com a Vitória no quarto enquanto eu ia num restaurante almoçar e jantar. Depois Bia foi para um hotel e eu continuei aqui.
Vitória não tinha acordado mais desde a hora que a enfermeira falou , e aquilo me deixava ansioso e triste. Eu queria vê-la acordada logo pra ter certeza que ela estava bem.
- Senhor ? - Uma enfermeira entra no quarto. - Tem um grupo de pessoas esperando por você aqui fora.
- Por mim? - Estranho, mas me levanto.
Deve ser os meninos da banda. Mas quando saio do quarto , me assusto ao ver 4 pessoas que até então eu só via por fotos e vídeos. Os familiares da Vitória.
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