História Inexplicável - Inocência

       Alguns anos antes….

Morgana morava em uma pequena cidade desde que nasceu, aos sete anos seus pais morreram vítimas de um acidente de carro, a partir desde dia ela passou a viver com sua avó materna D. Ofélia.

D. Ofélia amava Meg como filha, esse apelido foi dado por sua mãe quando ainda era bem pequena, a criou com muito amor, ela recebeu uma educação pautada em muito respeito e valores morais inabaláveis, se tornou uma jovem muito carinhosa, determinada e feliz.

Embora sua família fosse pequena, Morgana tinha quatro primos que faziam companhia a ela, sua prima mais velha era Duda, que era muito espevitada, esperta como poucas, sempre escapava de seus rolos, mas ao mesmo tempo protegia a prima como ninguém.

As duas eram inseparáveis, no colégio sempre que alguém tentava machucar Meg, Duda a defendia com unhas e dentes.

Mas com o passar do tempo elas cresceram; e Duda começou a interessar-se pelo sexo oposto, amizade delas foi ficando para segundo plano, como Morgana sempre foi tímida e muito envergonhada não se sentia bem em acompanhar sua prima nas festas ou baladas, preferindo assim ficar em casa com sua avó já bem idosa.

 Meg estava com 17 anos, concluiu o ensino médio com louvor, seus professores se orgulhavam de sua inteligência privilegiada e bondade. Sua avó assistiu a formatura com lágrimas nos olhos e o coração transbordando de felicidade e orgulho, afinal ela criará a neta sozinha, pois além de perder a filha e o genro, também ficará viúva.

Dias após sua formatura, D. Ofélia sofreu um enfarto, deixando-a hospitalizada por alguns dias, infelizmente ela não resistiu e veio a falecer.

Mais uma perda em sua vida, mas essa era quase que insuportável, pois sua avó representava sua fortaleza, era a bússola que norteava sua vida, a voz de sua consciência e mesmo sabendo que um dia ela iria partir, Mel se recusava aceitar esse fato, seu coração estava partido, sangrando e dilacerado.

Nesse turbilhão de emoções Meg se envolveu com um rapaz muito conhecido na cidade, ele era filho do empresário mais rico e influente da cidade e atualmente era prefeito do município.

Roger estudava na mesma escola que Meg desde sempre, eles se conheciam de vista, mas nunca trocaram nenhuma palavra.

Com a morte de D. Ofélia Roger aproveitou a fragilidade de Morgana para se aproximar dela, se tornando primeiro um amigo muito próximo, carinhoso e atencioso, aos poucos ele foi ganhando mais espaço no coração dela.

Na mesma época em que se tornaram namorados Meg entrou na faculdade, nos primeiros meses de namoro Roger se mostrou um perfeito companheiro, apoiando e motivando ela em todas as horas.

Roger foi seu primeiro namorado, eles compartilhavam confiança e intimidade mútua, Meg se sentia amada, desejada, se sentia mulher.

Cada vez mais Roger conseguia ultrapassar a timidez dela, ele a cortejava com palavras e presentes, mas no fundo de seu coração ele acreditava ter direitos exclusivos sobre ela, acreditava que ela pertencia a ele e ninguém poderia se aproximar dela.

Como era de se esperar ele foi seu primeiro homem, o prêmio que ele tanto almejou, sua virgindade, a prova incontestável de sua pureza e também a maior prova que ela o pertencia, para ele fazer dela o que quisesse.

A primeira noite deles Roger foi muito gentil e carinhoso, como era um amante experiente ele aproveitou cada segundo daquela noite se deliciando com o corpo de Meg, deu e sentiu muito prazer com aquela transa, sim transa, pois era exatamente isso que significava para Roger.

Enquanto Meg se iludia com seu primeiro amor, ele por sua vez via nela uma propriedade, que agora se tornava sua legitimamente.

Mas a vida de Meg se tornou um inferno quando ela sem querer flagrou Roger quase transando com uma mulher no carro, seu mundo desabou, como ele era capaz de traí-la? Ela não entendia o motivo, por que ele a enganou daquela forma? Mas o pior estava por vir.

Na mesma noite Morgana o confrontou, pediu explicações, disse que não era capaz de perdoar uma traição, pediu para ele sair de sua casa e terminou o namoro... mas ledo engano.

Roger dono de uma personalidade muito forte e aliado a bebida, não aceitou bem o término do namoro, considerando dono dela, ele primeiro agrediu-a moralmente, mesmo magoada e totalmente surpresa com a reação tempestuosa dele, ela continuou afirmando que não queria mais vê-lo, foi então que Roger a segurou pelo pescoço, levantando ela do chão e dizendo que ela pertencia a ele, que era seu dono, ela dizia que não, que era livre, foi nesse momento dominado pela raiva, pela bebida e principalmente pela obsessão sem limites que nutria por Meg que Roger começou a espancá-la, dizendo que ela o pertencia, que se não fosse dele não seria de ninguém, transtornado e completamente enlouquecido, ele bateu em Morgana até ela desmaiar.

Depois de quase matá-la, ele sai correndo de sua casa, entrou no carro e saiu cantando pneus, deixando para trás uma mulher totalmente inconsciente e sangrando até quase a morte.

Duda sentiu falta de sua prima na faculdade aquela noite, perguntou por ela a várias pessoas, mas ninguém a teria visto, sentindo uma necessidade tamanha de ver Meg, Duda foi até sua casa, chamou por ela, ninguém atendeu, mexendo na porta ela percebeu que estava aberta, entrou e tomou o maior susto de sua vida, Meg estava deitada no tapete, desacordada e coberta de sangue.

Duda desesperada chamou uma ambulância urgente, depois chamou a polícia para fazer um boletim de ocorrência, no entanto Duda acreditava que sua prima fora vítima de um assalto, em nenhuma hipótese ela imaginou que sua prima foi agredida pelo namorado possessivo e ciumento.

Meg teve ferimentos graves, costelas quebradas, pulmão levemente perfurado, braço e perna fraturados, um pequeno traumatismo na cabeça, além de inchaços e cortes por todo seu corpo, realmente Roger fez um tremendo estrago, no corpo e na alma de Meg.

Mas sua maior surpresa foi ver a reação das pessoas quando ela denunciou Roger por agressão, ele fazia o tipo certinho e apaixonado, fazer um estrago tão grande como aquele iria na contramão dos valores empregados na cidade.

Roger foi enquadrado na Lei Maria da Penha, por agressão física contra sua namorada, Meg conseguiu uma liminar de ordem de proteção contra Roger, ou seja, ele estava proibido de aproximar-se dela.

Uma semana depois do acidente ela teve alta do hospital, mas o estrago não foi só em seu corpo, mas também em sua alma, ela não conseguia dormir, pesadelos horríveis assombravam, qualquer barulho alto assustava, ela chorava sempre.

Meg começou um tratamento com uma psicóloga especialista em violência doméstica, uma vez por semana visitava um grupo de apoio, com mulheres também vitimadas, no começo ela ficou muito receosa e calada, mas com o passar do tempo ela percebeu que realmente era uma vítima e começou a participar ativamente do grupo.

Por causa da agressão Meg trancou a faculdade, sem data para voltar, pois não se sentia segura em um ambiente com homens.

Três meses depois seu corpo estava recuperado e sua alma estava sendo trabalhada devagar, ainda havia pontos muito escuros, sua prima sempre presente a motivava a voltar suas atividades cotidianas.

Meg arrumou um emprego de recepcionista em uma clínica estética, aquele emprego estava contribuindo para sua alta estima, também retomou suas aulas na faculdade, mas um detalhe, ela sentava-se bem longe de qualquer homem, tentava manter-se distante o possível do sexo oposto.

Mas o que Morgana menos esperava era que o perigo a rondava de perto, desta vez com uma fúria dantesca.