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História Infame - Dia 03 - Eu sou errada?


Escrita por: natymoreira

Notas do Autor


Obrigada a todos que estão dando uma chance á história, agradeço por cada leitor e comentários.
Tenham uma ótima leitura, bebês!!!

Capítulo 3 - Dia 03 - Eu sou errada?


 Dia 03 — Eu sou errada?

 

‘’A vida é feita de escolhas e uma hora você é obrigado a
escolher o que quer, seja certo ou errado’’.

Vitoria Demate

 

As meninas quiseram saber o que aconteceu com Theo no dia anterior. Nós nos sentamos no primeiro banco de trás e eu contei a elas, omitindo alguns detalhes, elas não estranharam o fato de eu tê-lo achado um chato de galocha, Theo era visto como um cara incrivelmente sério, que não tinha tempo para piadinhas e que parecia se abrir e sorrir para quem considerasse realmente muito próximo. Não é a toa que ele tinha poucos amigos naquele grupo de jovens — nisso eu não o culpo, afinal alguns ali eu também não ia com a cara.

Naquele dia nós não nos falamos na escola dominical nem no culto à noite, embora tenhamos visto um ao outro algumas vezes. Camila estava lá, usando um vestido de alças cumprido que a deixou ainda mais bonita, ela sorriu para mim quando virou a cabeça e me viu em algum momento. Ela não era o tipo de pessoa que eu tinha amizade, mas era suportável.

As coisas da vida são verdadeiramente cômicas, imprevistos acontecem quando e onde você menos espera; nunca imaginei que uma pessoa que eu mal dirigia um ‘’oi’’ se tornaria uma cobiça, um desejo intimo. Continuamos sem nos falar pelos dias seguintes, até que na quarta-feira à noite, ele me mandou uma simples mensagem:

Vamos no reunir no sábado, vc pode ir
ou tem algum compromisso?

Eu estava sempre disponível, para tudo. Digamos que a minha vida não é tão agitada e nunca acontecia de eu ter que desmarcar um compromisso por causa de outro. Tudo se resumia a casa, faculdade, igreja e vez ou outra surgia algo entre isso. Por isso respondi:

Posso sim, que horas?

E fechamos o horário: 14h00. Finalizei com um ‘’até lá’’ e em seguida desconectei a internet. De repente eu senti um frio súbito na barriga, daqueles que acompanham a sensação de ansiedade. Só descobri o que me causava tal esquisitice mais para frente; eu estava — ridiculamente — ansiosa para rever Theo e admitir isso foi árduo pra mim.

Lembro de mamãe ter feito frango assado e macarronada naquela noite, do meu irmão mais velho ligando para avisar que viria almoçar em casa no domingo com a esposa e o filho, meu pai rugiu de animação para ver o neto. Recordo também de ter comido mais do que deveria para tentar aliviar aquela merda de gelidez que rondava meu interior. Entretanto, só desapareceu quando eu finalmente fechei os olhos e desabei.

○○○

— Vocês estão estudando para as provas?  — Carol perguntou.

Era o intervalo na faculdade e nós aproveitamos para comprar nossos lanches e irmos comer a sombra de uma arvore no campus. Carol tinha o ombro apoiado no meu e nos encostávamos no tronco marrom-escuro.

— Não e não sei se vou.  — respondi e abri um pacotinho de ketchup.  — Nunca fui de estudar pra prova nenhuma, cara.

— Tá dizendo que você tira notas boas sem ao menos dar uma revisada?  — Alan questionou sem acreditar muito.

— Sim, ué. Não é impossível, sabiam? — mordi a coxinha e tapei a boca com a mão para a mastigação não aparecer.  — Além do mais, se eu estudar e for mal, ficarei com um peso enorme nas costas depois.

— Cada um usa sua inteligência de uma forma diferente.  — Kauê sorriu e piscou.  — Sua forma é boa, Barbie.

Kauê tinha esse trocadilho tosco com meu nome; segundo ele, eu lembrava a boneca Barbie, inclusive no nome. O que soava ridículo já que eu era totalmente o oposto: pele morena, cabelos castanhos, eu sou baixa com curvas um pouco cheinhas e olhos escuros feito ônix. Inútil a comparação, mas eu aceitei que ele me chamasse assim. Kauê podia ser tachado como belo, as roupas se resumiam a jeans e camisetas e bandas de rock, usava sempre o cabelo bagunçado e os olhos verdes brilhantes. Confesso que ele poderia ser alguém por quem eu interessaria.

— Gosto de pensar que estudar vai me ajudar e não prejudicar.  — Carol tornou a falar, toda delicada para não se sujar com o lanche.  — Mas mudando de assunto... estão a fim de sair no sábado que vem? Meu primo vai dar uma festa pra comemorar o aniversario e seria divertido levar vocês.

— Da última vez que me levou a uma dessas festas, acabei sozinha enquanto você se divertia com um cara.  — a empurrei de leve.  — Mas eu topo, vai ser bom pra diminuir o estresse pós-provas.

— Eu to dentro.  — os dois meninos concordaram.

— Beleza, combinado então.  — ela abriu uma latinha de refrigerante.

As três ultimas aulas passaram depressa, a sorveteria em frente a faculdade estava fazendo uma promoção de dois sundaes pelo preço de um, parei para comprar e posteriormente peguei o ônibus de volta para casa.

○○○

Se hoje alguém me perguntasse o que eu queria para o futuro, a resposta era simples: concluir a faculdade, arrumar um emprego razoável, comprar um apartamento, decorá-lo da forma que eu quero e morar com dois gatos de estimação. O problema é que semana passada eu queria só ganhar um bom dinheiro para viver viajando e poder comprar tudo o que eu anseio. No mês passado eu até cogitei casar, ter duas filhas e viver para o meu marido e elas — essa ideia foi embora logo. Eu sempre fui uma pessoa instável e que enjoa rápido de qualquer coisa que seja; objetos, músicas e pessoas. Nunca consegui passar tempo demais gostando do mesmo ser.

Quando eu tinha oito anos, fiquei apaixonada por uma cabana de pano da Emilia do Sitio do Pica-pau amarelo, tão apaixonada que cheguei a chorar para que meus pais comprassem. Mamãe me deu de presente no Dia das Crianças, eu adorei e aguentei por cinco dias, depois disso a cabana ficou abandonada em um canto no meu quarto.

— Você não brinca mais, Bárbara? Porque pediu para que comprasse, então?  — dissera ela na época. Deve ter percebido que eu só jogava os brinquedos que eu não queria mais ali dentro.

Devido a essa circunstância, eu tinha medo de me relacionar com as pessoas, de me interessar por elas. Não que eu tivesse pilha de garotos aos meus pés, só que nunca permiti transparecer que eu tinha segundas intenções, tinha receio de magoar alguém e pior, não ficar ressentida por isso. Eu não controlava essa coisa em mim, era mais forte e eu não fazia questão de entender.

Todavia, Theo foi diferente. Theo Paschoalin era novidade, um cara imprevisível que abriu os meus olhos para o novo. Ele não era uma das minhas paixões platônicas por famosos, ele era real, vivo e tórrido. Deve ser esse o motivo para eu o quisesse tanto, mesmo sendo tão errado e infame.

Antes de encontrar os meninos naquele sábado, eu joguei as sacolas com todos os materiais no porta-malas do carro do pai. Como fazia calor, eu amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo alto, vesti uma regata e cogitei não usar sutiã, mas desconfiei que aqueles moleques ainda não estivessem preparados para saber que eu tinha peitos. Coloquei um, a alça rosa a mostra; optei por uma calça cropped e tênis. Conferi se havia pegado tudo antes de sair de casa.

 

 

O galpão do avô de Gus — ou melhor, garagem — era de tamanho mediano aos fundos da casa que estava quase vazia — com exceção de alguns móveis e uma geladeira antiga — e disponível para alugar desde que a avó de Gus faleceu e o Sr. Magela mudou-se para uma casa menor. Uma mesa longa de madeira estava posta no meio e o lugar não tinha nada mais do que três prateleiras de aço e poucas ferramentas que poderiam até serem úteis. Fui a última a chegar, empurrei o portão de ferro que estava aberto e entrei. Os três ficaram estáticos ao me verem.

— Ei, boys.  — cumprimentei e larguei as sacolas no chão.  — Acho que vocês esqueceram o portão aberto.  — apontei por sobre o ombro.

— Eu vou lá fechar.  — Gus disse rapidamente e saiu.

— E ai, Babi?  — Sidnei sorriu.  — Estávamos só te esperando para começar.

— Certo, hm’... pensei em fazer primeiro as asas dos anjos.  — me aproximei da mesa, Theo e ele parados do lado oposto.  — Trouxe alguns moldes para ajudar.

— Legal.  — Theo murmurou, ele girava uma tesoura no indicador.  — Mãos a obra, pessoal.  — Gus retornou nesse momento.

Fizemos os moldes em um papelão resistente, marcando as medidas corretamente, cortamos usando um estilete. Enquanto Gus e eu enfeitávamos as asinhas com plumas brancas, Theo e Sidnei finalizavam os moldes. Eles conversavam o tempo todo e eu apenas dava risada de alguns comentários ou balançava a cabeça em outros, mas não fora tão ruim. Uma hora e meia depois, nós tínhamos dez asas pequenas e cinco maiores.

Os dois mais novos saíram para buscar garrafinhas de água para nós, eu me ocupei em organizar nossas bugigangas nas prateleiras e Theo em guardar as asinhas em sacos plásticos transparentes.

— Você vai participar das peças, Bárbara?  — a voz emanou quase sem interesse, mas era melhor do que manter aquele silencio enfadonho.

— Não. Sou péssima em agir em público, e você?  — virei, ficando de lado, para ouvi-lo falar. Posicionei o último pote de tinta no suporte e fui ajudá-lo com as asas. Foi um gesto automático.

— Definitivamente, não, prefiro ficar nos bastidores.  — ele empurrou a plumagem para dentro do saco que eu abria.

Observei seus movimentos, ele usava uma camiseta preta minimamente transparente, os músculos evidenciavam no pano quando ele se agachava para apanhar as asas. Não era nada do tipo bombadão, mas eu supunha que Theo não tinha muita coisa fora do lugar. O colar ainda brilhava em seu pescoço, a curiosidade surtou e a pergunta saiu involuntária:

— Qual é a da corrente?

— Hum?  — ele se ergueu e viu que eu apontava em direção ao seu pescoço?  — Ah, isso?  — Theo puxou o cordão dourado para fora da blusa e eu vi o pequeno crucifixo pendurado; ele nem pareceu se importar com minha questão.  — Era do meu pai, minha avó deu a ele quando entrou para a Policia. Era para ser do meu irmão, mas ele seguiu o caminho executivo, então meu pai me deu quando contei que eu iria me alistar na Força Aérea.

— Nossa, você tem coragem. Parabéns.  — balbuciei surpresa.

— É, mas ainda vou passar pelo serviço militar, depois espero ser convocado para a Aeronáutica.  — escondeu o colar novamente. Assenti para afirmar que entendi. Ele encapava o restante da asinha quando Gus e Sidnei apareceram com nossas garrafinhas.

— Fizemos um bom trabalho hoje.  — Sidnei olhou em volta.  — Se continuarmos assim, terminaremos logo.

— Tomara mesmo.  — bebi um gole de água.

Sucedeu que nós resolvemos concluir aquele dia ali, deixamos tudo arrumado e saímos. Em frente ao portão, o HB20s estava estacionado, juro não ter notado quando cheguei. Descobri que era de Theo quando ouvi o bip do alarme desativando, ele olhou para nós três, oferecendo uma carona muda. Os meninos não pestanejaram, mas a provável ideia de ficar sozinha no carro com ele me apavorou; não seria como estar em uma rua repleta de pessoas e poder disfarçar qualquer embaraço.

— Bárbara?  — ele me chamou dando a volta no veiculo.  — Quer ir na frente?

— Tanto faz.  — passei a mão pelo cabelo. Cogitei negar a boa ação, só que eu percebi que eles eram prováveis amigos, trabalhávamos juntos e frequentávamos a mesma igreja desde, praticamente, bebês. Eu tinha que parar com essa coisa de achar que seria desagradável estar com pessoas que eu não tenho intimidade.

Entrei no carro e coloquei o cinto de segurança.

 

 

— Vocês tem alguma habilidade estranha?  — Gus perguntou ao pararmos no sinal vermelho. As 16h30 se aproximavam, o rádio estava ligado e o locutor anunciava duas horas seguidas de musica sem intervalos.

— Como assim?  — Theo quis saber.

— Ah, sei lá. Tipo ficar cinco minutos sem piscar ou não sentir dor em algum lugar... essas coisas.  — ele se curvou um pouco para enxergar Theo e eu.

— Eu acho que...  — vasculhei a mente, interessada no assunto.  — as vezes eu posso sair de um lugar sem ser fisicamente, sabe? Como se meu corpo permanecesse e o meu espírito viajasse dentro dos meus próprios pensamentos.  — eu fazia muito disso nas aulas chatas da faculdade.  — Conta como habilidade estranha, né?

— Claro, uma ótima habilidade de fuga. Sinistra, mas ótima.  — nós rimos.  — E você, Theo, faz algo de bizarro? Eu, por exemplo, consigo desenhar círculos perfeitos sem dificuldade alguma.  — emendou.

— Tá legal, isso é muito estranho, cara.  — Theo respondeu e coçou a nuca desajeitado.  — Não devo fazer nada de estranho, não sou mutante como vocês.

— Poderíamos entrar para os X-Men.  — Gus fantasiou e eu ri outra vez.

Não foi desconfortável enquanto Sidnei e Gus estavam presentes, porém ao saírem, Theo e eu nos calamos e deixamos apenas a musica soar. Abri a boca só para indicar o caminho. Confortava-me saber que em minutos eu estaria segura em meu quarto. Theo finalmente parou em minha casa, soltei o cinto tão desesperada que me desculpei mentalmente por tal gesto.

— Obrigada e foi mal pelo incomodo.  — pronunciei já fora, entre a brecha da porta.

— Não foi nada.   — garantiu. Dei um pequeno sorriso antes de fechar a porta e ele se mandar.

○○○

Passei a achá-lo intrigante após esse dia, ainda era chato sim e bonitinho também e eu me sentia péssima por ter esses devaneios — e outros — com ele, entretanto quando eu descobri que Theo nutria os mesmos sensos por mim, eu, erroneamente, me suscitei.

E até agora eu me indago se sou errada por ter permitido chegarmos tão longe.


Notas Finais


Qualquer coisa falem comigo, estou reativando minha ask, pois estou enjoada do twitter, então apareçam por lá, bbs: https://ask.fm/natymooreira // ou se ainda quiserem me ver pelo tt: https://twiter.com/tokyoghouxl
Beijos e até sexta <3


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