História Inferno em Nova York - Fillie Fanfic - Seja homem

[NOAH NARRANDO]

Depois de ver Jack beijando Ellie eu fiquei enjoado. Chloe me acompanhou para a varanda e me puxou pra um canto onde pudéssemos ficar sozinhos.

- O que aconteceu? Você não disse que tava apaixonado por aquele garoto? - ela perguntou confusa.

- Eu não consigo, Chloe - falei querendo chorar. Minha voz saiu falhada - você viu como os meninos agem? Eles me veem como pegador. Eu vou perder tudo se assumir um namoro com Jack.

Eu me sinto um fracassado. Eu sinto vontade de morrer. As vezes só assim acho que posso fugir disso. O maior desafio não são as pessoas, sou eu mesmo. Não consegui evitar e acabei chorando encostado na grade que separava a varanda dos andares debaixo. Pedi a Deus que aquela grade se rompesse e eu pudesse cair lá embaixo, de cara no chão. Minha irmã passou o braço pelo meu ombro e encostou sua cabeça na minha.

- Noah, você ama Ele? - ela perguntou.

Fechei meus olhos e me lembrei da primeira vez que beijei Jack Dylan Grazer. Aquele tinha sido o melhor beijo da minha vida apesar de eu não ter sido corajoso o suficiente para assumir.

Agora eu sabia o quanto aqueles meninos que se assumem com outros meninos são corajosos. Eu os admirei na minha consciência. Eu era uma pessoa horrível por já ter zoado e zombado do amor diferente de outras pessoas. Quantas vezes já chamei esses garotos de palavras imundas, pensando que o fato de eu ser hetero me fizesse superior a eles? Quantas vezes tantos garotos espalhados pelo mundo sofrem com o tipo de atitude que eu tinha? Agora eu sabia bem como era essa sensação. Na verdade, acho que eles são superiores a mim porque são muito mais corajosos. De fato, ser homem não significa transar e se envolver sentimentalmente com mulheres.

Ser homem significa ser corajoso e forte para fazer o que você quiser, cumprir sua própria palavra, ter caráter e ser digno. Eu não era homem naquele momento. Não por ser bissexual mas sim por ter ido contra todos os meus conceitos do que era ser homem. Eu não era corajoso, não tinha palavra pois prometi ao Jack contar aos meus pais e não contei, eu não tinha caráter porque fingia pra faculdade inteira ser um cara que eu não sou e não sou digno do amor de Jack.

- Sim, eu o amo. - respondi minha irmã com veemência.

- Eu vou te falar uma coisa para você refletir sobre, ok?

Fiz que sim com a cabeça.

- A sua opção sexual não te torna pior que os seus amigos que gostam só de mulheres. O fato de você querer namorar um garoto não te faz inferior mas se você não acreditar nisso, vai sofrer bastante, irmão.

Olhei pra ela ainda com os olhos úmidos.

- Você tem que rever suas amizades. Se você não faz o que quer porque tem medo de ser julgado, esses meninos não são seus amigos. Você não pode querer a companhia dessas pessoas se esse for o caso. Se você ama Jack, diga a ele. Diga a todos. Ele pode ir embora da sua vida e você não vai poder ir atrás dele. Ele não merece o que você anda fazendo, Noah.

As palavras dela doíam em mim.

- Pelo que você falou, ele é um garoto incrível. O fato dele ter beijado aquela menina ali dentro, confessa que ele se importa com você, quer te atingir porque sentiu ciúmes. Ele provavelmente te viu ficando com a Julian.

- O que eu devo fazer? - perguntei implorando por ajuda.

- Você deveria ir até ele e dizer o quanto ele é importante e que você o ama. Acho que você está devendo isso a ele.

Ela falou sério o tempo todo. Olhei pra grade procurando uma brecha. Eu queria fugir. Fechei os olhos. Respirei fundo.

- Você acha que eu consigo fazer Isso? - perguntei buscando encorajamento.

- Basta querer - ela respondeu singelamente.

Me virei e fui em direção a porta que separava a varanda da sala do apartamento. Jack vinha sendo guiado por Millie em direção a mim. Ele ergueu a cabeça e me viu. O garoto deu um tapinha na mão da amiga que o segurava nos ombros. Eles começaram a dar meia volta.

- Jack! - o chamei sendo ignorado.

É agora ou nunca.

Cole e os garotos do time olharam para mim enquanto estavam encostados num canto fumando maconha. Continuei atrás de Jack empurrando as pessoas a minha volta. Puxei ele pelo braço. Millie olhou espantada mas eu não me importei.

- Jack, eu te amo! Me perdoa por ser um completo babaca - falei chamando a atenção de quem estava em volta.

Jack estava bêbado mas quando ele ouviu minhas palavras, seus olhos voltaram a brilhar.

- Eu tenho uma queda por gente babaca - ele disse imediatamente revelando meu sorriso favorito.

Eu estava sozinho com ele de repente. Era como se o mundo girasse devagar. Meus pensamentos entraram em órbita. Eu segurei o rosto dele com as duas mãos. Ele colocou as suas mãos sobre a minha.

- Eu te amo - ele disse antes de me beijar.

Os lábios firmes dele passearam pelos meus. Soltei um suspiro alto e levei minha mão até a nuca dele, massageando seus cabelos ondulados. Jack é sensacional. Eu me sinto livre. Me sinto feliz, me sinto como se pudesse vencer qualquer dilema agora. Eu quebrei as barreiras. As pessoas mais populares da faculdade provavelmente estavam me vendo beijar um cara ardentemente. Eu não queria ouvir os julgamentos, só o som que Jack emitia enquanto ofegava diante meus beijos. Fui surpreendido quando fui obrigado a soltar meu garoto com violência. Cole disparou um empurrão em meu ombro.

- Eu não acredito que você é bicha! Você é igual aqueles garotos das artes, um verme desprezível - meu melhor amigo disse com fúria nos olhos.

Uma aglomeração começou a se formar.

- Cole, quem eu gosto ou deixo de gostar não é problema seu - falei impondo minha opção.

- Eu vou pedir pro técnico Will tirar vocês dois do time. Não vou admitir dois viados tomando banho com a gente no vestiário. Você não vai ficar olhando meu pau! - o garoto gritou me humilhando na frente se todos. Senti meu rosto arder.

Fiquei mais surpreso ainda quando meus olhos viram um vulto passando rápido do meu lado. Jack desferiu um golpe nos países baixos de Cole e assim que o meu ex amigo caiu de joelhos no chão, meu namorado deu um soco no seu queixo derrubando-o para trás.

Cole se levantou rápido e puxou Jack pela camiseta antes que ele se afastasse esmurrando seu rosto. Rapidamente Jaeden, Choosen e Wyatt separaram a briga. Puxei Jack pro meu lado, Millie e Finn ajudaram a segurá-lo. Jacob ficou no meio de nós, Sophia gritava para que a baixaria acabasse senão os vizinhos iam chamar a polícia.

- Você é idiota, Cole? Tá maluco, cara? - Jacob disse me defendendo também com o nariz vermelho. Acho que ele também andou apanhando.

Chloe me abraçou por trás quando conseguiu me alcançar no meio da muvuca de gente aglomerada ao meu redor.

- O que você falou foi absurdo, Cole! Tirar os dois do time porque são gays? Noah podia abrir um processo homofóbico contra você - Jaeden gritou contra o garoto. Choosen se posicionou ao lado da opinião dos outros dois assim como Wyatt. Gaten, um garoto que fazia curso de música, se aproximou.

- Ei, cara, relaxa isso não te faz inferior a ninguém - mesmo sem nunca ter trocado uma palavra comigo, ele me deu apoio.

Olhei para Chloe com olhar cheio de orgulho. Eu descobri as pessoas que eu deveria levar para a vida.

- Meu pai é advogado, se você quiser eu falo com ele pra você mover um processo administrativo contra esse escroto - Jacob disse ficando ao meu lado novamente.

- Qual é, Jacob! Tá maluco, seu filho da puta! - Cole gritou bravo com a sugestão - Você sabe que se eu tiver um processo nas costas perco minha bolsa de atleta - ele disse ainda enfurecido.

Jacob deu de ombros.

- Pensasse nisso antes de falar a merda que você disse - Sartorius respondeu.

Jack deu uma risadinha se apoiando em mim.

- Jack? - falei tirando atenção da discussão que ainda estava borbulhando. Os sussurros e burburinhos das pessoas chocadas deram lugar a um silêncio.

Jack olhou pra mim passando os dedos sobre a bochecha avermelhada.

- Você quer namorar comigo? - pedi sem hesitar.

Chloe começou a bater palmas e logo aquilo virou uma vibração única a nosso favor. Jack sorriu e me beijou forte.

- Claro que eu aceito - ele disse por fim.

(Ouça Neblina do Luccas Carlos a partir de agora)

[MILLIE NARRANDO]

Eu estou absurdamente chocada com os acontecimentos dessa festa, mas vida que segue. A música volta a ficar alta. Iris e eu corremos pro centro da sala, com nossos copos na mão. Finn me observa de longe. Ele ainda está inconformado por eu ter beijado outra boca a não ser a dele essa noite. O rap faz as paredes tremerem. Meu corpo quer se mexer no ritmo da música. Decido esquecer que o garoto está parado ali me desejando. Quero ser livre.

[FINN NARRANDO]

Eu tô aqui vendo ela dançar. Observo o corpo dela se movendo traiçoeiramente. Eu não consigo ver nada, só ela ali. Ela vem como quem não quer nada e se aproxima vagarosamente. Millie sabe que eu a olho quando ela passa. Ela gosta da adrenalina. Mordo meu lábio enquanto observo ela rebolar na minha frente. Essa garota tá me provocando. Ela não tira os olhos de mim. 

- Você tá brincando comigo? - sussurro no ouvido dela enquanto ela rebola.

Ela está aprendendo a me prender nos seus jogos. A garota não responde, só tomba a cabeça pro lado deixando o pescoço vulnerável. Eu a puxo pra perto de mim. Tento beijar seu pescoço mas ela joga os cabelos pro lado tampando  o espaço que eu tinha livre ali.

- Não adianta ficar sem graça - ela fala me provocando quando se livra do meu toque.

- Eu gosto quando você rebola olhando pra mim - confesso pra ela. Vejo um sorriso satisfeito surgindo nos seus lábios. Ela me tem na mão pela primeira vez.

Ela não se importa com o que as pessoas estão pensando  e muito menos eu. Millie desce até o chão devagar, agora olhando para Iris. As duas com seus copos nas mãos se aproximando como se fossem se beijar. A loira joga os cabelos pro lado. Ela sorri pra amiga se rendendo a batida sensual. Os corpos delas duas se movem devagar, parece que estão dançando em câmera lenta. Millie se aproxima do pescoço da amiga e da um beijo. Iris rebola mais ainda e as duas começam a segurar a mão uma da outra. Minha garota se vira pra mim colocando o dedo na boca.

- “seu corpo todo faço arrepiar” - ela canta me fitando.

Millie continua se movendo como se tivesse a coreografia toda demarcada em sua mente. Ela sibila a letra da música olhando nos meus olhos.  Ouço a batida da música e entro no clima. Me pego dançando ao lado dela. A visão que eu tenho do corpo dela aqui de cima é espetacular. A calça colada desenha seu corpo, a blusa preta deixa os seios dela em destaque e contrasta com a pele branca, mas ela fica tão linda quando não veste nada.

- Eu sei que você gosta assim - ela fala sem parar de se mexer.

- Vem aqui, garota. Não foge não - peço pra ela mas sou ignorado.

Ela encosta em mim enquanto dança me deixando maluco. Minha vontade é de arrancar as roupas dela aqui mesmo. Respiro fundo. Millie requebra fingindo não estar sendo observada. Ela passa a língua sobre os lábios molhados de vodka. Puta merda. Meu coração está acelerado. Ela se afasta de mim devagar, sumindo no meio das pessoas.

- Caralho - falo sozinho passando a mão nos cabelos. Essa garota me enlouquece.

[MILLIE NARRANDO]

Meu jogo de sedução com Finn deu totalmente certo, mas eu estou cansada de brincar sem poder me render. Eu sei a hora de parar sem perder então, me recolhi com Iris pra comentar sobre os babados da festa.

- Puta merda, mas que bafão - Iris disse apoiando-se no meu ombro.

- Eu não imaginava. Até podia suspeitar de Jack, mas Noah surpreendeu - confessei ainda confusa porém orgulhosa.

- Ei, Jack, parabéns - Finn surgiu atrás de mim abraçando o amigo.

Ele colocou sua cerveja gelada na área onde Jack havia sido acertado.

- Obrigado, eu vou pra casa colocar uma compressa nisso - Jack falou sorrindo.

Noah o tomou pela mão.

- Eu te levo, pode deixar.

O jogador sorriu corando quando percebeu que eu olhava os dois de mãos dadas.

- Você foi corajoso, Noah. Espero que você conte a história completa para nós depois - eu falei com a voz cheia de ternura.

- Podemos marcar de sair de casal. Eu e Jack, Iris e Jaeden, você e Finn. Daí a gente conta tudo - ele disse alegremente.

Fechei meu sorriso tentando não parecer tão afetada, o que não funcionou muito.

- Eu e Finn não somos um casal, mas podemos sair juntos como os bons amigos que somos - afirmei segura.

Finn me olhou. Jack e Noah se entreolharam assim como Jaeden e Iris, que também deram as mãos.

- Achei que vocês tivessem algo, me desculpe.

- Tudo bem, Noah, sem problemas.

Ele deu uma piscadela e se aproximou de mim para dizer algo baixinho.

- É inegável que ele olha pra você diferente das outras meninas, você devia pensar nisso. Além do mais, rolou uma química ali enquanto vocês dançavam né?! - ele sibilou e saiu de mãos dadas com o namorado.

Essa noite já deu muita confusão e eu estou cansada.

- Eu acho que vou embora também - falei pra Iris. Ela se tocou de que tinha me trazido de carro.

- Tudo bem, eu te levo amiga - ela falou.

- Não, de maneira nenhuma! Não quero atrapalhar vocês dois, - falei pra ela é Jaeden - eu pego um táxi.

- Millie, tem certeza? Já está tarde - Jaeden disse simpático.

- Sem problemas, certeza absoluta - falei deixando os dois a vontade.

Saí sem me despedir de Finn. Fui em direção ao elevador e ouvi passos atrás de mim. Era ele. Revirei os olhos. Ele é bem previsível às vezes. Eu sabia que ele ia fazer isso depois de provocá-lo. Por um momento me arrependi de todo aquele lance de dançar na frente dele.

- Eu levo você pra casa - ele disse entrando no elevador junto comigo.

- Não tem necessidade - dispensei.

Ele continuou me seguindo, insistente assim que a porta se abriu.

- Se você não parar de me seguir eu vou chamar a polícia - ameacei ouvindo ele andar atrás de mim.

Finn puxou meu braço me parando. Eu não consegui me livrar dele. Ele me beijou forte e sem querer eu reagi positivamente. Abracei ele com toda minha força, prensando seu corpo contra o meu. Senti seu perfume. Ele segurou meu rosto e chegou bem perto. Se nós ficássemos naquela posição por uma hora eu podia contar todas as sardas que ele tinha sobre o nariz e bochecha.

[FINN NARRANDO]

Eu não conseguia mais resistir. Eu me rendo. Pela primeira vez durante meus 19 anos de idade eu senti vontade de dizer que amo uma mulher. Ela me deixa vulnerável. Essa noite ela me fez sentir que podia escapar de mim. Millie beijou Jacob dentro do banheiro e aquela imagem dos dois saindo juntos me deu ânsia de vômito. Eu sempre tive a garota que eu queria nas mãos, mas era como Millie me disse uma vez no acampamento: negação constante constrói caráter. Apesar de ela não ter me negado nesses últimos tempos, hoje ela me fez sentir algo que era inegável: eu estou apaixonado por Millie Bobby Brown. Sempre estive, desde o acampamento. Nunca fui forte o suficiente para admitir. Nunca senti que eu pudesse perder alguém. Eu nunca me importei tanto com uma mulher. O fato do Jacob ter me desafiado não era grande coisa. Se fosse qualquer outra garota, eu não teria ligado.

Ela é diferente. Eu me sinto diferente. Transar com ela não é somente sobre sentir prazer: é ser totalmente fissurado pelas curvas dela, é idolatrar cada sussurro que ela solta, cada suspiro, é querer guardar o som da respiração ofegante dela para ouvir mais tarde. É enxergá-la nua em sua totalidade pura e selvagem. Quando ela está na cama comigo, ela é livre. Ela é quem ela é. Instintivamente. Eu sou louco por ela.

Posso abrir mão dos meus conceitos egoístas por essa menina. Tomara que eu exploda de tanto amá-la e tomara que ela me perdoe por ter assumido isso tão tarde.

- Eu queria te falar tudo o que tá passando pela minha cabeça agora, eu sou ruim com as palavras, mas vou tentar -  confessei a ela.

Ela me observava calada.