História Innocent - Never Too Late

Eu até te diria meu nome para você.. mas isso não é importa não é mesmo? Estou amarrada à uma cama em uma clínica psiquiátrica, eu não queria estar aqui, não mesmo, as amarras que colocaram em mim não me deixam me mover, eu me mecho na cama para tentar me soltar, porém as amarras agora me lembram as mãos dele .

No final das contas, nada do que eu vivi era real? Eu costumava brincar todos os dias com meus pais, dia após dia brincávamos juntos, estava tudo perfeito, até que ele chegou, ele me disse seu nome, sorriu para mim, se ofereceu como meu amigo e eu gentilmente aceitei, com apenas 7 anos eu não tinha tanto conhecimento assim sobre as coisas, e acabei aprendendo coisas novas da pior maneira possível.

Eu gostaria de poder tirar essas imagens da minha cabeça, mas toda vez que eu fechava os olhos podia sentir como se ele estivesse ali ainda, me tocando. Suas mãos deixaram marcas em meu pequeno corpo, por muito tempo e não havia nada que eu pudesse fazer, eu tentava correr e me esconder de baixo da cama mas ele era muito mais forte que eu então, o que eu poderia fazer? Ele dizia que eu não podia contar aos meus pais, dizia que eles ficariam com raiva de mim por algum motivo. Na época isso fazia sentido, mas porque comigo? Eu nunca fiz mal a ninguém para merecer isso!
Me contorcendo na cama eu estava sentindo novamente as memórias voltarem a minha cabeça, mas… tinha uma parte, um momento em que eu não lembro. Como se tivessem apagado aquilo da minha cabeça e por mais que eu tentasse não conseguia me lembrar o que havia acontecido naquele momento. Era estranho não conseguir me lembrar… era como uma imagem apagada na minha cabeça.

Eu ainda podia sentir como se ele ainda estivesse ali comigo, me tocando com suas grandes e ásperas mãos, eu não brincava mais, meu pequeno corpo doía e eu me sentia imponente perto dele, com o tempo fui parando de falar com minhas amigas e minhas notas caíram na escola, a professora constantemente me chamava numa sala só eu e ela e me enchia de perguntas, mas eu não conseguia prestar atenção nela muito menos nas perguntas que ela fazia e no que ela falava todos os dias na sala de aula. Eu queria poder contar para alguém mas não podia, além de que ele me ameaçava dizendo que faria mal aos meus pais, eu tentava agir normalmente como se nada estivesse acontecendo, mas eu era apenas uma criança, uma inocente criança, não conseguia disfarçar o que estava acontecendo, mesmo assim ninguém descobriu nada, e eu não tinha ninguém, meus pais brigavam comigo dizendo que era para mim brincar, sair do quarto e fazer novas amizades, brigavam também por eu não estar me dedicando a escola, mas eu não tinha culpa e eles não entendiam isso, e dia após dia eles me deixavam com ele, toda noite… as vezes o dia inteiro.

Papai e mamãe iam trabalhar e o pesadelo começava, eu corria dele, tentava escapar, chorava e abraçava a mim mesma mas nada adiantava, ele continuava a me tocar ignorando meu choro e minha relutância contra ele. Com o tempo papai e mamãe começaram a brigar entre si e passaram a me ignorar todos os dias, não me perguntavam mais como eu estava, não me colocavam mais para dormir nem se quer me ajudavam a tomar banho, mamãe fazia a comida deixava em cima da mesa e saia de casa, papai não olhava mais para mim e mal parava em casa.

Com o tempo eu fui piorando… cada vez mais e quanto mais o tempo passava mais ele me tocava e tornava aquele pesadelo ainda maior. Quando eu abria os olhos via a clínica psiquiátrica e desejava não estar ali, quando fechava os olhos eu voltava ao pesadelo que minha vida foi.

De repente avistei uma linda pena preta cair do meu lado, gostaria de poder pegá-la mas suas mãos me prendem na cama. Logo caiu outra pena, e outra e de repente foi como se tudo o que passei tivesse desaparecido, como se a vida voltasse a ser colorida, em quanto as penas caiam eu me sentia leve como elas e quando fechei meus olhos pude me lembrar da cena que passei anos tentando lembrar. Me lembro de estar sentava na cama, lembro-me das marcas que as mãos dele fizeram em mim e quando olhei para frente pude ver uma chuva de penas pretas, e ao levantar a cabeça pude ver o anjo que era dono delas, suas asas eram lindas e ele também!

Abri os olhos e as penas continuavam a cair, um sorriso se formou em meu rosto e eu pude me sentir leve como as penas que caiam sobre mim, fechando os olhos novamente e dando continuidade a lembrança, pude me ver novamente sentada na cama, dessa vez, meu anjo brigava com ele, eles brigavam e um venceria e eu tinha certeza que seria meu anjinho, eles lutavam entre si e eu podia apenas observar e torcer para que meu anjo não se machuque.

Ele venceu com eu havia dito, e com isso ganhei um sorriso de sua parte, fechando os olhos pude sentir como se tudo tivesse desaparecido, o pesadelo havia acabado, meu anjo havia ganhado e ele havia ido embora, senti vontade de viver de novo, senti vontade de brincar de conversar com minhas amigas e de ir para a escola e aprender coisas novas. Gostaria de agradecer esse meu anjo, e hoje deitada nessa cama eu não sinto mais como se estivesse presa a ela, sinto como se eu pudesse até voar, posso ver a vida como ela realmente é e me sentir livre do passado… as penas continuavam a cair e eu me sinto tão bem que nem ao menos consigo descrever o que estou sentindo agora para vocês.

Finalmente o pesadelo havia acabado e eu consegui me lembrar do momento mais feliz da minha vida, quando eu pude me sentir livre novamente. Quando ele foi embora.

Nunca é tarde demais, então nunca desista! Por mais difíceis que as coisas sejam, nunca desista de viver! Viva intensamente a vida independente dos pesadelos pelos quais você passou ou passa, veja a vida colorida do jeito que ela é.