História Inocente - Capítulo 1

Minha cabeça latejava. Minha garganta estava seca e por algum motivo meu membro doía. Não uma dor de tesão matinal, mas uma dor como se alguém tivesse me dado um chute.

Resmunguei rouco. Depois de ontem, vou dar um tempo na bebida. Abri os olhos devagar para me acostumar com a claridade que invadia o quarto pela brecha da cortina. Olhei o relógio do criado mudo. Eram sete da manhã.

Fechei os olhos novamente. Tudo parecia normal. Uma manhã comum de domingo, mas eu sentia que tinha algo errado.

Ouvi a porta ser aberta e um baque surdo de algo caindo, depois uma movimentação ao meu lado. Virei a cabeça para encontrar os cabelos rosados que eu tanto amava e os olhos verdes que me fascinavam, mas levantei de supetão ao ver cabelos vermelhos esparramados no travesseiro de minha mulher.

Foi então que eu olhei para a porta e a pessoa que deveria estar deitada ao meu lado estava ali, de pé, me encarando com espanto, descrença e mágoa. Ela ainda usava o jaleco do hospital.

Então tudo fez sentido para mim. Me levantei daquela cama como se estivesse infestada de insetos, e para mim estava. Mas a situação piorou mais do que eu poderia imaginar.

Eu estava nu. Completamente nu.

Além do espanto da minha rosada, eu também me encontrava espantado. E confuso. Que porra era essa?

- ...como você pôde? – ela sussurrou.

Sua voz saiu tão baixa que se o quarto não estivesse no completo silêncio, eu não teria ouvido.

Vasculhei minha memória em busca de algo que explicasse a desconhecida na minha cama e eu nu, mas nada vinha. Eu cheguei em casa sozinho ontem!

- Sakura, não é o que parece.

Tentei argumentar, mas essa maldita frase não convenceria ninguém. Busquei no quarto minha calça moletom, a qual eu dormi ontem. A encontrei no pé da cama, peguei-a e vesti rapidamente.

- Não? – ela riu descrente. – Porque está bem claro para mim que você me traiu, Sasuke.

- Sakura, eu juro que não fiz nada. Eu não faço ideia de como ela veio parar na nossa cama.

- SUA cama. – ela rosnou. Oh, não.

A garota se movimentou e acordou. Seu olhar parou em mim e ela franziu o cenho, depois olhou para Sakura e arregalou os olhos, sentando-se de supetão. O lençol que a cobria caiu, revelando os seios expostos, que ela logo tratou de cobri-los.

Merda.

- Sakura, você precisa acreditar em mim. Eu não fiz isso. – tentei me aproximar, mas ela se afastou.

Isso não era um bom sinal.

- Acreditar em você? – ela riu em escárnio. Isso também não era um bom sinal.

- Sakura...

- Não diga o meu nome. – sua voz saiu embargada. – Não acredito que você teve coragem de fazer isso.

- Sakura, eu juro por Deus...

- Não jure! – ela rosnou, se aproximando de mim em passos pesados e me encarando com uma fúria que eu nunca havia visto. – Não ouse colocar o nome de Deus nas suas mentiras, seu desgraçado.

- Eu não estou mentindo. Sakura, você precisa acreditar em mim! – supliquei. Já estava começando a ficar desesperado. Tentei toca-la, mas ela me estapeou.

- Não toque em mim. – se afastou novamente. – Aliás, a partir de hoje, não olhe nunca mais na minha cara.

Ela retirou a aliança do dedo e jogou no chão. Senti o chão sob meus pés começar a rachar.

- Mamãe?

E o desespero aumentou gradativamente.

Minha filha de três anos, Sarada. O maior presente que a vida podia ter me dado. Eu poderia derreter com toda sua fofura naquele momento. Aquele corpinho pequeno e rechonchudinho, com o bracinho direito segurando seu ursinho favorito enquanto a mão esquerda coçava os olhinhos ainda fechados de sono.

Mas o momento estava catastrófico e eu estava desesperado.

Só voltei a mim quando Sakura caminhou na direção da porta, agachou para pegar a bolsa do chão e tomou Sarada nos braços, saindo do quarto. Cada célula do meu corpo vibrou e cada pelo se eriçou. O medo e o pânico me dominaram e eu saí correndo quarto a fora.

- Sakura, espera!

Corri atrás dela como se minha vida estivesse em jogo. E estava! Eram minha mulher e minha filha saindo da nossa casa e da minha vida. Meu peito estava sufocado. Elas eram tudo para mim. Eu não conseguiria viver sem elas.

Consegui alcança-la antes que ela chegasse até a porta.

- Sakura, por favor, você precisa acreditar em mim! – a segurei pelo braço.

- Me solta.

- Eu não fiz isso! Eu nunca faria isso! Eu te amo, Sakura, por favor, acredita em mim!

E então ele veio. E, porra, doeu. Sakura sempre teve a mão pesada, mas acho que aquele tapa carregou toda a dor e a mágoa que ela sentia, porque o meu rosto não foi o único que sentiu a ardência.

E eu fiquei ali, estático no meio da sala, ouvindo um fungado baixo, seus passos se afastarem e a porta abrir e fechar, e então apenas o silêncio. O silêncio da casa, da minha mente e da minha vida.

E finalmente o chão sob meus pés ruiu, me lançando no abismo do vazio sem fim que eu me encontrava.

*Continua*