O ônibus parou em seu ponto, após a solicitação de dois passageiros que trajavam uniformes escolares. Os melhores amigos Moon Bin e Min Hyuk retornavam para casa após uma longa tarde de estudos, deixando o transporte há poucos metros de suas casas, já que moravam bem próximos. Ainda eufóricos, os adolescentes se divertiam durante o trajeto, como costumavam fazer diariamente.
— Você viu só a cara do Jin quando a professora tomou seu PSP? – Min Hyuk gargalhou ao relembrar — O pior de tudo é que ele vai marcar o aluno novo, por tê-lo dedurado.
Moon Bin concordou em meio a risos — E com razão. Eu também não fui muito com a cara dele. Que moleque mimado, filhinho de papai. Acredita que ele me acordou no meio da aula chata de história pra me perguntar onde ficava a biblioteca?
Min Hyuk debochou — Oh, coitadinho, interrompeu seu soninho de beleza...
— Não zombe de mim, Rocky – o chamou por seu apelido — Você sabe que eu tenho tido problemas durante as noites, devido à falta de sono.
— Estou brincando – observou um carro despachando caixas ao lado da casa de Moon Bin — Ora, ora, parece que você terá vizinhos novos. Imagina só se for uma gatinha?
Moon Bin o acertou de leve com o cotovelo — Você não vai acreditar, olha lá...
— Não pode ser... – Min Hyuk estava incrédulo ao avistar o tão comentado aluno novo transportando uma das caixas para dentro de seu novo lar — É, não é uma gatinha... Você terá que se conformar com o vizinho gatinho, então.
✧ ✧ ✧
A noite havia caído e com ela, as estrelas revelavam seu brilho no céu. Do segundo andar de sua casa, Moon Bin as observava de sua janela, desfrutando da tranquilidade que sentia ao som da música relaxante que seu computador reproduzia. Daquela mesma altura podia-se ter visão para a janela de seu novo vizinho, que ficava na mesma direção. Curioso, Moon Bin fixou seus olhos na imagem do novo morador, o mesmo que havia ingressado em sua escola naquele mesmo dia, distraído ao pentear seus lisos cabelos pretos em frente ao espelho. Seus traços eram exuberantes e delicados. Sua pele alva e sem imperfeições delatavam sua vaidade. Por algum tempo, Moon Bin o observou resumido em seu silêncio, até ser notado pelo novato, que cruzou com seu olhar ao virar o rosto em direção à sua janela.
Moon Bin engoliu seco, tentando disfarçar sua vigilância. Achou que não seria má ideia acenar educadamente, uma vez que eles haviam trocado uma palavrinha em sala de aula, mas pra sua surpresa, o novo morador não retribuiu o gesto, retirando-se de seu aposento — Será que... Ele não se lembrou de mim? – Moon Bin se perguntou, inconformado.
✧ ✧ ✧
O relógio marcava quase duas da madrugada e, como havia dito à Min Hyuk, Moon Bin não conseguia dormir, revirando-se em sua cama. Inquieto, o garoto levantou-se, sem compreender de onde vinha tanta energia que o impedia de fechar seus olhos e adormecer. Olhou novamente em direção à sua janela, tendo sua atenção chamada pela luz acesa no quarto de seu novo colega de classe. “Que cara estranho... Como ele consegue dormir assim?”, pensou. Notou, de repente, a porta da casa ao lado se abrir, revelando a imagem do garoto trajando um moletom listrado e shorts acima dos joelhos — Que bela hora para se explorar a vizinhança – Moon Bin sorriu, falando sozinho após perceber seus passos na calçada.
Impaciente pelas horas que não corriam, Bin levou as mãos em sua jaqueta verde que estava sobre a mesa do computador e saiu cuidadosamente de casa, para não acordar seus pais — Pensando bem, caminhar um pouco pode me ajudar a gastar um pouco de toda essa disposição.
Alguns passos apressados, com seu capuz na cabeça e mãos nos bolsos para protegê-las do frio daquele sereno, Moon Bin logo avistou o novato sentado sozinho em um banco de uma pracinha, que ficava próximo de suas casas. Travou de imediato, tentando achar um motivo qualquer para aproximar-se.
— Também costuma se exercitar a essa hora? – Bin o abordou, desprendendo-se daquela ansiedade, fingindo que estava se alongando — É o melhor a se fazer quando se tem problemas de insônia, sabia?
O vizinho se manteve em silêncio, concordando com um simples gesto com a cabeça.
— Você... Se chama Lee Dongmin, não é? – Moon Bin insistia com o assunto — Talvez você não esteja lembrado de mim, mas fui eu que te informei sobre a biblioteca lá na escola. Somos da mesma turma.
— Sim – Dongmin se mostrava monossilábico, talvez por indiferença ou pela simples vontade de permanecer sozinho naquele lugar — Não recordo seu nome...
— Desculpe-me, eu não me apresentei. Sou o Moon Bin.
Dongmin revelou seu sorriso estonteante pela primeira vez, desfazendo-se daquela expressão séria com a qual vinha tratando a todos desde a tarde — Obrigado... Pela ajuda mais cedo.
Moon Bin sentou-se ao seu lado no banco, indagando-lhe — Você encontrou o que procurava por lá?
— Encontrei – replicou com a voz levemente ressonante — Um elefante com asas de borboleta e um coelho com cauda de sereia.
— Como? – Bin arregalou os olhos — Deixe-me ver se entendi... Encontrou essas criaturas em um livro, isso?
Dongmin sorriu novamente — Não. Eles estavam lá. Senti arrepios.
— Isso não faz sentido. Acho que a madrugada está causando esses efeitos alucinantes em você, Lee... – Moon Bin falava sem se dar conta da aproximação da cabeça de Dongmin, cada vez mais junto de seu peito após a chegada de um sono pesado que o derrubou lentamente — Q-Quê? Você... Dormiu de verdade? – ele estava corado, com o rosto próximo aos macios cabelos de Lee, que emanavam uma fragrância gostosa de sentir. Sentiu de imediato, vontade de despertá-lo como troco pelo o que o mesmo havia feito naquela tarde, mas por outro lado, também desejou eternizar aquele momento. A face adormecida de Dongmin vista tão de perto parecia ainda mais esbelta, como se tivesse luz própria. O contorno de seus lábios, tão bem desenhados lhe atiçava um estranho desejo em possuí-los. “O que é isso que estou sentindo? Controle-se, Moon Bin”, pensou ao desviar os olhos para o céu, deparando-se novamente com as estrelas, as únicas a testemunharem aquela cena entre os dois.
✧ ✧ ✧
Uma hora havia se passado desde que Dongmin havia apagado nos ombros de Bin, que permanecia em silêncio para não incomodá-lo. “Quando se tem insônia é desagradável ser acordado logo que se consegue cair no sono”, refletia, entregando-lhe sua proteção. “Que horas será que já são?”, se questionou sem seu aparelho celular em mãos pra verificar.
Dongmin mexeu-se, suspirando profundamente ao coçar o olho direito ainda fechado com uma das mãos, aparentemente recobrando a sobriedade. Espantou-se ao se ver nos braços de Moon Bin, levantando-se de súbito — Me desculpe, eu... Dormi, e...
— Não se preocupe, está tudo bem – Bin tentou acalmar o rapaz — Você só pegou no sono e eu achei melhor não perturbá-lo.
Lee Dongmin, ainda confuso, correu para o lado direito da rua, despedindo-se — Preciso ir...
— Espere! – solicitou Moon — Você está indo para o lado errado – apontou para a esquerda — É por ali!
✧ ✧ ✧
Tarde daquele novo dia que já havia começado. No colégio, Dongmin evidenciava seu constrangimento sempre que seus olhos se encontravam com os de Moon Bin, com quem ainda não tivera coragem de dirigir novamente a palavra. De seu acento, o novato se esforçava para manter seu foco na disciplina, como se nada tivesse ocorrido durante aquela madrugada.
Moon Bin, por sua vez, estranhou o modo retraído com o qual Lee se mostrava. “Eu fiz algo de errado?”, se perguntou em pensamentos. “Talvez ele tenha tido uma impressão ruim sobre mim”.
— Terra chamando Binnie – Min Hyuk acertara sua cabeça com um tapa de leve — Que cara é essa?
O rapaz tentou disfarçar — Só estou um pouco sonolento. Não consegui dormir a madrugada inteira.
— Isso explica as olheiras – o amigo mirou a câmera de seu celular no rosto de Moon Bin, fotografando-o — Veja você mesmo.
— Ei – puxou o aparelho, analisando sua imagem — Minha nossa! Como não havia reparado nisso antes de vir pra cá? Apague isso, Rocky!
— Nananão – o menor tentou recuperar seu aparelho das mãos de Bin — Agora eu tenho mais uma foto estraga-carreira sua para chantageá-lo em troca de favores.
Moon Bin riu com a brincadeira de seu parceiro, atrapalhando a aula.
— A duplinha aí vai se comportar direito ou preferem me acompanhar até a detenção? – alertou o professor em sala.
Lee Dongmin balançou a cabeça, assistindo a cena.
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Intervalo. Moon Bin adentrou o banheiro masculino, desconhecendo a presença de Dongmin naquele local. O aluno novo olhava seu reflexo no espelho, tocando a maçã do próprio rosto, distraído. Logo, surpreendeu-se com a entrada de Bin, que utilizou o lavatório ao seu lado.
Dongmin dirigiu-lhe a palavra, desconcertado — Sem querer, eu ouvi sua conversa lá na classe...
— Como? – replicou Moon Bin — Não liga, o Rocky e eu somos amigos, ele nunca me chantagearia com aquilo.
— Não me refiro a isso – Dongmin tocou abaixo dos próprios olhos — Falo sobre as consequências da falta de sono que estão lhe presenteando com essa expressão aí.
— Ah... O que posso fazer? É inevitável, após uma madrugada inteira em claro.
Lee Dongmin desviou o olhar, tirando um pequenino frasco de vidro de seu bolso — Se me permite, posso lhe ajudar com isso?
— É algum tipo de medicamento pra insônia? – Bin olhava interessado.
Lee sorriu — Não, bobo. É apenas um corretivo facial. Vai ajudar a amenizar essas olheiras – aproximou-se de Moon Bin, após recolher uma pequena quantidade do creme em seu indicador — Agora me deixe ver — tocou-lhe a face, delicadamente, movimentando seu dedo sobre a região expressiva, deixando Moon Bin corado — Ficou melhor assim.
Bin olhou-se no espelho, notando a diferença — Cara... Que demais! Você me parece mais vaidoso do que imaginei.
— Só quis ajudar, senti como se estivesse em débito com você.
— Relaxa, eu já perdoei você por ter me acordado ontem na aula de história – Moon Bin sorriu, mexendo em seus próprios cabelos.
Dongmin retribuiu o riso, acanhado — Na verdade... Eu me refiro a essa noite. Eu não fui capaz de agradecê-lo por não ter me deixado sozinho. Eu sou novo na vizinhança também, não conheço nada daquele lugar. Eu sinto muito por tê-lo incomodado com meu distúrbio.
— Não precisa agradecer e muito menos se desculpar – Moon Bin escancarou seu sorriso retangular à Dongmin, em resposta àquela frustração que expusera — Foi uma noite agradável... Eu me senti bem.
O sinal tocou, revelando o fim da pausa entre as aulas.
— Precisamos retornar – finalizou o novato, retirando-se na frente.
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As horas se passaram, escurecendo o céu novamente ao trazer a noite. Outra madrugada se apossava do tempo, que outra vez parecia se arrastar. Tudo lá fora dormia. O silêncio evidenciava os menores ruídos possíveis, ora o piado de uma coruja no telhado, ora uma cigarra na árvore ao lado. Nessa limpidez de pequenos sons, o portão de ferro da casa de Dongmin se manifestou.
Moon Bin correu até sua janela, curioso, avistando sua fuga noturna. “Será que devo ir?”, perguntou-se.
Lee Dongmin parou em frente a uma pequena ponte que passava sobre um córrego. A iluminação local era baixa, realçando ainda mais o brilho da lua nova. Encostou-se ao parapeito, desfrutando da serenidade daquele ambiente, sentindo a brisa tocar levemente seus cabelos.
— Acho que... – Bin o alcançou, dirigindo-lhe a voz — Você não conseguiu dormir de novo, não é?
Dongmin virou-se, emudecido. Seu olhar era leve e, ao mesmo tempo, misterioso.
— Quando temos insônia, não dormimos de verdade... Por isso, também não acordamos de verdade.
— Vagalumes... – Lee deixou escapar.
Moon Bin olhou para o lado, contemplando suas luzes como uma dança coreografada no ar, sobre as águas do regato — São lindos. Eu costumava brincar com eles, quando era criança. É difícil pegá-los, sabia? Seu lume não deixa rastros...
Dongmin elevou sua mão, cobrindo-a em seguida com a outra palma após ter prendido um dos insetos.
— Mentira... Você conseguiu assim tão fácil? – Bin aproximou-se curioso, tentando olhar por entre o espaço dos dedos de Lee — Está mesmo brilhando aí dentro.
O novato caminhou lentamente, deixando a ponte rumo ao gramado ao lado do córrego — Pode ir – libertou o vagalume. Olhou para o lado, notando que Moon Bin havia se deitado no gramado verdinho.
— É incrível como o céu, visto aqui de baixo, se mostra verdadeiramente infinito... A madrugada me prova isso todos os dias – Bin exclamou, olhando para o alto.
O garoto de cabelos pretos tomou lugar ao seu lado, deitando suas costas na relva, compartilhando da mesma visão — Você tem razão... Consegues ver também?
— O quê?
— Os elefantes com asas de borboletas...
Moon Bin virou seu rosto para encarar Dongmin, percebendo sua ressonância — Você está falando coisas sem sentido novamente... – sentiu sua mão ser envolvida pela de Lee, que outra vez parecia ter adormecido, com os dedos entrelaçados aos seus. “Durma bem, Dongmin. Estes assombros não te farão nenhum mal”, afirmou em seu pensamento, ao mesmo tempo em que seus olhos vigiavam o semblante doce de Lee.
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A luz do dia despertou Bin, que abriu os olhos lentamente devido à ofuscação causada pelos primeiros raios de sol. Olhou ao redor, notando que estava sozinho naquele lugar — Eu... Peguei no sono? – se perguntou, em voz baixa — Não vi quando o Dongmin se foi...
Após seu retorno para casa, Moon espionou pela sua janela, notando a persiana do quarto de Lee se abrir. O novo morador revelou sua imagem, apoiando-se no mármore ao colocar o rosto para fora. Voltou seus olhos para a casa de Moon Bin, encontrando-se com aquele que o observara.
Bin acenou gentilmente, sendo respondido de forma fria por Dongmin, que fechou novamente o cortinado, claramente em escape. “O que foi dessa vez?”, se perguntou.
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Durante a aula naquela tarde, as chamadas dos professores reafirmavam a ausência do aluno novo, que não compareceu no colégio, para a insatisfação de Moon Bin.
— Parece que o xis nove mimado não quis estudar hoje – Jin disparou.
— Melhor assim – Min Hyuk concordou — Ele não fala com ninguém, que cara antissocial.
Moon Bin tentou se segurar, deixando escapar sua involuntária defesa — Não o julguem dessa forma. Ele pode parecer estranho, mas deve ter seus motivos.
— Ih, Moon Bin... – seu amigo comentou — Qual é? Até dois dias atrás você também pensava como nós e agora já mudou de ideia? Por que, heim?
O maior levantou-se, apoiando a palma da mão em sua mesinha ao encarar seus companheiros — Não sabemos dos problemas alheios. Por esse motivo não devemos ser injustos – retirou-se da sala.
— Nossa... O que deu no Binnie? – Min Hyuk estranhara o comportamento de seu amigo.
No corredor, aproveitando-se de que a nova aula ainda não havia iniciado, Moon Bin caminhou rumo ao bebedouro, passando pela porta da coordenação. Acidentalmente, acabou ouvindo parte da conversa entre uma mulher muito elegante e o próprio coordenador de disciplina, que se retiravam da sala ao passarem pela porta, ainda dialogando.
— O meu Dongmin ficará bem, eu garanto — afirmou a senhora, revelando ser mãe do aluno novo — Distúrbios como este são comuns entre jovens de sua idade.
— Exatamente. Há maneiras eficazes de estimular o sono, que podem garantir noites mais tranquilas ao Lee, sem que seu corpo reaja inconscientemente.
Moon Bin estarreceu-se ao ouvir aquilo, prolongando sua estadia na expectativa de saber mais. “Será que o Dongmin, na verdade...”, não precisou concluir seu pensamento, tendo a resposta exposta pela mãe do rapaz.
— Isso é o que me preocupa, senhor coordenador. Infelizmente não tínhamos conhecimento de suas fugas noturnas. Sonambulismo é um caso que requer atenção. Se levantar dormindo, caminhar, falar e até realizar algumas atividades durante o sono me parece assustador – revelou a mãe de Lee.
— E a parte mais curiosa – o docente concluiu — É que eles não se recordam de nada do que fizeram, quando despertam.
Moon Bin afogou-se com a água, tossindo, o que chamou a atenção dos dois adultos — Estou bem, não foi nada...
— É hora de voltar pra sala, mocinho – o mais velho ordenou.
“Sonâmbulo? Então, na verdade, o Dongmin não saia de casa devido ter insônia, mas por crise de sonambulismo?”, Bin perdia-se em seus pensamentos, ignorando a aula lecionada em turma. “Isso explica sua mudança de comportamento, já que nos aproximamos durante seu estado inconsciente”, cobriu o rosto com as mãos, escondendo sua expressão abatida. “Pensando assim, deve ser mesmo difícil para o Lee, deitar em sua cama e acordar ao lado de um estranho. Ele não se lembra de nada? Mesmo?”, exprimia seu conflito, inconformado ao imaginar que suas memórias juntos pertenceriam apenas a si.
✧ ✧ ✧
O sol alternou seu lugar com a lua nova, que acompanhava aquele solitário desperto em sua janela no segundo andar de sua casa. Moon Bin atentava-se em direção à rua, imaginando se flagraria uma nova fuga daquele que não padecia por falta de sono, mas pela forma com a qual era controlado pelo seu subconsciente enquanto dormia. “Isso é errado?”, refletiu. “Porque será que desejo tanto vê-lo de qualquer modo?”.
Mesmo sem Dongmin manifestar sua presença, Moon Bin deixou sua moradia, caminhando solitário e sem direção. Talvez quisesse deixar sua aflição para trás, em seu quarto ou quem sabe, queria apenas respirar um pouco de ar fresco. O fato é que Moon Bin estava sozinho naquela noite, sem a comparência do doce Dongmin, que havia lhe deixado mal acostumado com sua companhia intimidante e agradável — Parece que hoje não verei seus olhos brilhantes e não entrarei em sua mente estranha — desabafou desassistido, ao parar em frente à praça de seu primeiro encontro.
Bin sentou-se ao pé de uma árvore. Ao notar o surgimento de um vagalume desorientado, tentou alcançá-lo, mas não obteve sucesso — Será que ele está tendo sonhos bons? – desviou seu pensamento, lembrando-se do sorriso deslumbrante de Lee. Subitamente, ouviu um cão latir, o que chamou sua atenção. “Quem será?”, se perguntou ao reerguer-se em verificação.
Sim, aquele por quem Moon Bin tanto ansiava rever havia aparecido há poucos metros. Vendo seu semblante tão de perto, era difícil acreditar que aquela pessoa estava presa em um sono profundo. Seus olhares se cruzaram, causando uma sensação diferente de euforia em Bin. Sensação de aprazimento mesclada com o receio de suas reações. Diferente dos dias anteriores, Moon Bin agora sabia de sua letargia, o que o fez travar em seu lugar.
— Você encontrou novamente – Moon desprendeu-se aos poucos de sua voz — O coelho com cauda de sereia?
Dongmin sorriu sem responder-lhe com palavras, confirmando com o balançar de sua cabeça.
— Não tenhas medo. Eu serei como um leão – Bin replicou-lhe — Um leão feroz com garras de águia. Assim eu poderei proteger seus sonhos de todas essas criaturas.
O novato permanecia em silêncio ao ouvi-lo.
— Sabe, Dongmin – continuou seu desabafo — Eu sinto muito. Muito mesmo... – enterrou as mãos nos bolsos de seu moletom — Eu me sinto estranho. Confesso que estive tentando conhecer você, mas... Infelizmente, não estive nos lugares certos – voltou a encarar as pupilas de Lee — O que fizemos juntos... É como se nada tivesse ocorrido pra você, mas eu estive lá... Sempre. Não era o lugar certo pra eu estar, era? – suspirou, tentando conter suas lágrimas que começaram a se formar no canto de seus olhos — E porque será que eu queria estar lá? Porque eu queria estar perto quando você caísse? Eu cometi um grande erro – notou que Lee o entregou um olhar confuso — Não, você não é um erro. Como posso explicar isso? É como se sua imagem tivesse se fixado em minha mente. Mas nada disso importa, não é? Amanhã você não se recordará de mais nada e voltaremos a ser dois estranhos novamente.
— Ontem à noite... – a voz de Dongmin tomou vez, para o espanto de Bin — Eu acordei ao seu lado pela segunda vez – desviou o olhar timidamente — Senti minha mão sobre a sua e só então me dei conta de que não estava em minha cama, novamente, como quando despertei em seu ombro.
— Dongmin, você não está... Dormindo? – descrente, Moon Bin aproximou-se ainda mais do rapaz, ouvindo-o continuar.
— Não... Eu estou lúcido – sorriu como da vez passada quando o ajudou na escola — Eu estava curioso, na verdade. Decidi vir ao seu encontro, sem me aproximar antes da cama. Confesso que estou surpreso. Não esperava ouvir nada disso aqui – encarou-o, transparecendo seu contentamento — É como se eu tivesse sorte, sabe? Esses distúrbios, por mais estranhos que possam parecer, foram o que nos trouxeram pra perto um do outro, Moon Bin. Eu sou mesmo egoísta por pensar dessa forma, não sou?
O dono daquele sorriso retangular revelou-o novamente — Não é, Dongmin. Não pense dessa maneira... – olhou para o caule da árvore ao lado, notando o retorno daquele azaranzado vagalume que havia escapado por entre seus dedos minutos antes. O pequeno cintilante voou em círculos antes de pousar, delicadamente sobre os negros cabelos de Dongmin — Ohh, não se mova!
— O que houve? – Lee desconhecia sobre a faísca viva retraída em seus fios.
— Apenas fique bem quietinho aí — aproximou-se lentamente, parando a menos de dois palmos, ao levar suas mãos como pequenas paredes que encurralaram o inseto luminoso em uma captura certeira — Prontinho! Dessa vez eu consegui – mostrou a estreita fenda que seus dedos formavam, permitindo que o brilho do vagalume se externasse.
Ali, com seus corpos bem próximos, Dongmin fechou seu olho direito para mirar as mãos de Moon Bin, agora envolvidas pelas suas, no reforço daquela armadilha — Você mandou bem. Eu acho que nunca conseguirei alcançar um desses.
— Você já conseguiu, lembra? – Bin relembrou da noite passada, elevando seu rosto ao mesmo tempo em que Lee, resultando em um contato visual ainda mais intenso — Digo...
— Não tem problema, Moon Bin... – Lee sorriu — Eu estou aqui agora. Eu poderei guardar essas recordações comigo.
Bin liberou seus dedos, vagarosamente, permitindo a fuga do vagalume, que insistiu em permanecer ali, contornando em volta ao mesmo tempo em que Moon Bin libertou-se de sua vontade incontrolável em tomar os lábios de Dongmin para si, tocando-os com os seus. A brisa fria combinava-se com a neblina da rua tranquila, favorecendo o refúgio daqueles dois, que estavam fortemente atraídos um pelo outro. Bin afagou os cabelos de Lee, fazendo com que seu doce aroma lhe dopasse ainda mais, sentindo o gosto de seus lábios macios que lhe arrancavam suspiros. Dongmin o abraçava, envolvendo sua cintura, descobrindo parte de seu moletom que lhe permitiu tocar sua pele. Moon Bin estava quente e todo aquele calor era compartilhado através daquele contato íntimo que somente foi testemunhado pela luzinha viva, que parecia festejar com eles, aquele sentimento recém-descoberto.
✧ ✧ ✧
Tarde, no colégio. A professora de história lecionava sua disciplina, sem atentar-se no desleixo de alguns alunos, aparentemente indiferentes. Moon Bin bocejou, tendo seu ombro cutucado por Min Hyuk, que se sentava atrás de seu acento.
— Que milagre, você acordado na aula da professora Sook... – o menor o provocou — Ela é o seu remédio infalível para a falta de sono!
— Não posso dormir, Rocky. Estou cumprindo com minha promessa.
Min Hyuk ficou boquiaberto, com suas deduções — O que deu em você? Prometeu que vai passar direto em história dessa vez?
Moon Bin sorriu e permaneceu em silêncio, não respondendo o amigo. Olhou discretamente para a cadeira ao lado, onde Lee Dongmin ressonava adormecido em um sono profundo, com o rosto virado em sua direção. Sua fisionomia singela denunciava seus sonhos bons, sem quimeras a lhe atormentar, dando lugar às boas recordações que carregaria no coração dali em diante. “Estou aqui ao seu lado, protegendo seus sonhos, Lee Dongmin”.
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