Você só presta atenção no que sua mãe te diz na quinta vez que ela te chama. Suspirando fundo, você se certifica se estava realmente usando sapatos dessa vez, antes de sair correndo em direção ao seu ônibus, por poucos segundos chegando a tempo, com seus pulmões queimando, numa ardência profunda por oxigênio.
“Eu realmente deveria começar a acordar cedo pra correr...” você pensa. Nota mental: realmente fazer isso. Você olha os seus arredores, e apenas poucos alunos da UA são avistados, você não conhece nenhum deles, sequer os viu por aí. No entanto, todos eles parecem tão ansiosos quanto você para chegar em tempo em suas respectivas aulas...
Não demorou muito até o seu ponto, correndo em direção à sua escola, já que você gostaria de evitar o aglomeramento de alunos da UA passando pelas portas ao mesmo tempo que você. Até que alguns conhecidos te cumprimentaram, mas tudo que você pode fazer foi pedir desculpas enquanto continuava correndo, com medo de quaisquer punições que Aizawa tivesse em mente para aqueles que chegam atrasados. Quer dizer, ele ameaçou expulsar um de vocês no primeiro dia de aula. O primeiro! Seu corpo se arrepia pensando em como serão suas provas.
Chegando na frente da sua sala, você coloca seu pé na pequena abertura dela, que se fechava lentamente. A abrindo, você viu a sala cheia, e seu professor suspirou fundo, coçando seus olhos fechados. Tudo que você pode fazer foi sorrir amarelo e fechar a porta, sentando em seu lugar silenciosamente, Aizawa te avisa para não chegar atrasada novamente... E Iida parece te julgar, porque você sente o olhar dele queimando sua nuca, te impedindo de se concentrar propriamente na primeira aula. Felizmente ele parou na segunda.
Claro, você não estava prestando atenção somente por causa do olhar julgador de Iida... Errado. Você estava completamente distraída com as aulas, e claro, você vai se arrepender disso amargamente no futuro, mas no momento passar seu olhar pela sala é mais importante do que estudar a história dos heróis em outros países. Depois de alguns minutos que a atividade de Aizawa estava no quadro, você vê alguns alunos se levantando para o mostrar, e seus olhos passam por todos eles.
Seu olhar se travou nos pés de Shinso. Ele usava uma meia branca, com uma pantufa felpuda púrpula. A que você comprou... Ele estava usando. Shinso percebeu isso, e apenas lhe deu um sorriso ladino e com isso dando a entender ter sido de propósito, uma forma de brincar com a sua cara. Suspirando fundo e ignorando o olhar dele sobre si, você fez a atividade do melhor jeito que pôde antes de caminhar em direção ao seu professor, rezando que ele fosse o tipo de professor que apenas passa os olhos na atividade e as vista.
Ele as corrigiu, deu uma bronca naqueles que não responderam sinceramente, e antes que você pudesse perceber, já era o intervalo. Você correu para sentar com Mina e Tsuyu, cumprimentando aqueles que estavam sentados junto a elas, rapidamente atacando sua comida, já que você nem teve tempo de tomar café da manhã e sua barriga não aguentaria mais sem qualquer alimento. Você repetiu uma, duas, três... Bom, você perdeu a conta de quantas vezes teve que ver Lunchrush lhe dando o mesmo prato de macarronada, de novo e de novo. Você até já sentia o olhar de algumas outras pessoas na cafeteria em você quando resolveu parar.
Na sala de aula, você precisou de um pouco mais de espaço, já que você estava explodindo de tanto macarrão. E você quase vomitou tudo, quando All Might assustou todos vocês, gritando que “estava entrando na sala como alguém normal”, passando rapidamente pela porta. Para você, o jeito que ele entrou era tudo menos normal..., mas até que era um pouco fofo.
Em pouco tempo você se encontrava com as garotas, trocando de roupa enquanto Jiro tampava um pequeno buraco na parede onde Mineta insistia em olhar para ver vocês se trocando com um dos seus plugs de orelha. Trocou sua roupa para a de herói (que você havia feito em alguns pequenos sketchs) um pouco envergonhada, já que você não estava muito acostumada com isso de troca conjunta, porque na sua escola antiga eram várias pequenas cabinas. Mas não era tão ruim, eram apenas garotas lá de qualquer forma.
Tão rápido quanto você entrou já saiu, esperando os outros alunos enquanto observava a silhueta de All Might silenciosamente. Ter um professor que é o herói mais forte e o símbolo da paz do Japão na sua frente era um pouco — pra não dizer MUITO — ASSUSTADOR, ao mesmo tempo que muito legal e te deixava com um sentimento de segurança no peito. Quando todos se encontravam em volta de All Might, ele explicou sobre a atividade onde dois heróis tentariam desativar uma bomba enquanto dois vilões os impedem, juntamente com as regras e como ganhar.
Os times foram divididos, e você havia caído com Todoroki como heróis, (Shoji havia faltado), não prestando muita atenção nos vilões. Antes mesmo que você pudesse fazer qualquer coisa, Todoroki congela todo o lugar, ganhando facilmente. Suspirando fundo, você senta numa sala onde All Might está assistindo tudo entediada, e um pouco frustrada por não poder ter mostrado sua individualidade, que havia trabalhado tanto em melhorar.
“Calma [XXX], terão outras oportunidades” — você pensou, começando a prestar atenção em qualquer coisa senão a tela. Você só presta o mínimo de atenção quando são ou Mina e Tsuyu, ou quando você viu Shinso como vilão. Por algum motivo, ele realmente lutou contra ser o vilão e gostaria de trocar com os heróis, mas não conseguindo, teve de dar tudo de si com um sorriso amargo no rosto. Seu time ganhou, e logo você ouviu seus colegas de classe dizendo que “ele leva jeito para esse lance de vilão” e coisas do gênero, maioria elogiando-o, porém alguns realmente acreditavam nisso. Sua mente ligou os pontos e entendeu porque ele realmente não queria ser o vilão.
Shinso evitou conversar com qualquer um o resto do dia, e você não resolveu incomodar.
(...)
No caminho de volta para casa, você apenas observava as paisagens, prestando atenção nas pessoas vivendo suas vidas sem nenhuma preocupação, sem nem imaginar que alguma pessoa estranha dentro de um ônibus estaria observando-a e pensando no que ela estava a pensar. Você tinha esses pensamentos loucos de vez em quando, como “será que tem alguém me observando agora pensando alguma coisa”, ou “será que alguém no mundo espirrou ao mesmo tempo do que eu?”: pensamentos idiotas, mas que sempre custavam bastante do seu tempo. Para não mergulhar de cabeça nisso e perder o ponto da sua casa, você apenas ignorou-os o resto da viagem.
Chegando em casa, você colocou uma roupa de ginástica qualquer que você tinha e avisou sua mãe que iria caminhar um pouco. Assim que ela — relutantemente — concordou, dizendo para tomar cuidado pois logo anoiteceria, você saiu de casa e começou a caminhar, passando por diversos lugares diferentes enquanto apertava o passo, tentando decorar ao máximo o caminho, porque você poderia facilmente se perder por aí.
Antes que você percebesse, já estava caminhando por uma hora e meia, pingando suor e completamente cansada. Chegar em casa foi um alívio, e sua mãe riu do seu estado antes de te obrigar a tomar um banho no mesmo segundo que pisou em casa. O banho foi quente e relaxante, seus músculos tensos se acalmando, e você já estava pronta para dormir. Preparada para amanhã.
(...)
O alarme te acorda, e dessa vez a tempo. Você toma outro banho, usando um dos sabonetes artesanais que Mihoko tinha deixado para você, rapidamente se vestindo e realizando qualquer atividade escolar pendente de forma um pouco desleixada, porém boa o suficiente para você e os minutos que você tinha. Colocou as pantufas que Shinso tinha dito que ficariam boas em você, da cor de seus olhos, sem realmente raciocinar sobre ele provavelmente te zoando, pensando nisso apenas depois. Descendo rapidamente para comer.
Você conseguiu tomar o café da manhã calmamente, levando um pão para comer no caminho da escola, e logo você estava correndo novamente, esperando mais um dia onde você simplesmente não prestaria muita atenção como o último. Nota mental: pelo menos tentar se interessar pelo assunto, afinal ser um herói não se baseia em apenas ser forte e derrotar vilões.
Chegando na escola Iida sorri e agradece por você ter chegado ceda dessa vez, e que ele estava torcendo por você ou alguma coisa do gênero. Era fofo, de certo modo. Tinham alguns alunos na sala, mas não muitos. Sentando-se em seu lugar, você percebe que Shinso não estava na sala ainda, mas não presta muita atenção nisso. Mina e Asui — Tsuyu insistiu que chamasse ela desse jeito — logo chegam e começam a conversar com você, esperando que o professore logo chegasse.
Seus olhos veem, pelos seus cantos, um tufo de cabelo roxo sentando-se. Mas esse é o máximo que você prestou atenção em Shinso naquela aula, já que finalmente Aizawa estava ensinando alguma coisa que sua cabeça achava interessante o suficiente. Infelizmente ele ainda não havia notado suas pantufas, pelo menos não que você tenha percebido, nessas primeiras três aulas.
Nada realmente muito importante havia acontecido no dia, passando rapidamente. Logo você estava comendo montanhas de comida novamente, um pouco menos do que ontem, já que você deveria deixar de ser sedentária — mas a comida era boa demais para você parar, então decidiu que o faria aos poucos. Claro, isso é só uma desculpa para poder comer muito sem se preocupar realmente, já que “você está tentando de qualquer forma”.
Você avista sua presa. Shinso está num canto sozinho, comendo calmamente, e você logo se aproxima dele, com um sorriso perverso em seu rosto. A reação que você esperava de Shinso era que ele negasse com a cabeça, e um miúdo sorriso como ele fazia e achava que não era muito perceptível. Ele estava olhando para baixo, com os pratos em mãos, enquanto comia. Seus olhos conseguiam ver, mesmo que de canto de olho, as pantufas de cor —— que lembrava de ter escolhido para [XXX]. Olhando para cima, logo percebeu que era realmente ela, o olhando de forma inocente, porém com um sorriso suspeito.
Diferentemente da reação que você achou que ele teria, ele vira o rosto, com um leve rubor nele. Tentando evitar que você visse — uma fina camada rosa cobria as maçãs do rosto de Shinso, e ele ainda assim esforçava-se para evitar que você percebesse. Só que você havia visto, e a visão do rosto dele rosado com alguns pequenos fios rebeldes de cabelo, ao menos mais do que o resto, em diferentes direções, ficou em sua mente por um tempo. Até que era fofo — uma palavra que você pensou demais hoje. Credo, são todos adoráveis na sua sala?
— Você está usando a pantufa que eu escolhi. — Shinso comenta, com sua voz rouca e monótona de sempre, terminando de comer. O rubor já não se encontrava mais no seu rosto, e sinceramente você não sabia nem o porque dele ter aparecido. — Ótimo, porque eu tenho um senso melhor de estilo do que você. — Ele provoca, com um meio sorriso, voltando ao que ele normalmente é. Mas com um olhar frio.
Na verdade, o olhar dele sempre foi frio. E as olheiras dele apenas pareciam piorar pouco a pouco, e isso te fazia se preocupar com a rotina de sono dele... E também com o jeito que seu olhar era sempre um pouco melancólico. Sendo a pessoa teimosa e determinada que você é, decidiu que faria da vida de Shinso um inferno se fosse necessário, apenas para ver aqueles mesmos olhos violeta brilharem, nem que uma única maldita vez.
Sobre o rubor, você não saberia se ele não te contasse, mas ele havia corado porque ele não esperava que você realmente as usasse. Claro, um pensamento bobo, visto que estamos falando de pantufas e não algo super importante, mas você havia ouvido Shinso e a escolha da cor, e concordado com ele, fazendo sua opinião ser válida — coisa que ele não estava realmente acostumado, já que em toda a sua vida, tudo o que Shinso acredita e deixa de acreditar não importava por causa de sua individualidade.
Mas pela primeira vez, mesmo que por um assunto bobo como pantufas, alguém havia ouvido ele. Isso trazia um pequeno, miúdo sorriso ao seu rosto. Mesmo que não quisesse admitir.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.