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História INSTANT SHOCK - BakuDeku - Rosa de Saudade


Escrita por: BAKUBRO

Capítulo 9 - Rosa de Saudade


 

// Izuku //

Por vezes sentir-se triste parecia ser parte do trabalho de herói também.

Katsuki encarava a vista em silêncio enquanto nós estavamos dando carona de volta para Dalton e Eji. No carro, nós três comentavamos sobre como ele tinha sido incrível, e ele sorria e agradecia de vez em quando. Em algum momento do caminho ele cruzou os braços e fechou os olhos, encostou a cabeça no vidro e ficou... Eji e Dalton se despediram de mim em voz baixa, batendo a porta do carro de forma cuidadosa ao saírem.

Eu me virei para Katsuki.

- Você já pode parar de fingir que está dormido - eu disse e ele abriu os olhos imediatamente.

- Obrigado - ele resmungou.

Nós continuamos em silêncio. O carro estacionado numa rua próxima ao condomínio de Eji. Tudo em um escuro aterrorizante. Mas eu fingia que não.

- Você está triste - eu disse como se ja não fosse óbvio. - O que foi?

- Não é nada - ele murmurou e eu ergui as sobrancelhas.

- Converse comigo... Por favor - eu pedi baixinho e de repente uma das mãos dele estava segurando a minha.

Trêmula.

- Eu não sei o que pensar agora - ele disse por fim. - Eu matei alguém bem na sua frente. Você não está... Com nojo de mim?

- Nojo de você - eu repeti, incrédulo. - Ela ia me matar. Você não fez nada d...

- Eu sei! Mas... Izuku, você não pode estar falando sério! - ele disse em voz alta de repente e se virou para mim.

Por algum motivo seus olhos estavam arregalados com um pânico doloroso de ver. Desesperado. Ele estava desesperado.

- Katsuki... Você... O que é...?

- Eu não quero que você pense em mim como um... Idiota - ele disse e suspirou cansado. - Não quero que você fique desapontado comigo.

- Ka...

- Droga, Izuku, você nem se deu conta, não é? Eu fiquei completamente desesperado e... Com raiva quando ela ameaçou você e... Eu so conseguia pensar em tirar você dali. Em trazer você pra mim.

- Okay, mas...

- Eu me desconcentrei totalmente - ele disse com a expressão dolorosamente séria. - Agi sem pensar. E além do mais, isso tudo aconteceu porque ela associou você a mim. Ela sabia que eu sou Pro Hero e colocou a sua vida em risco para me atingir. Eu... Não quero isso. Não é o que você merece.

- Karsuki...?

- Não sei se isso... É uma boa ideia, Izu - ele murmurou e desviou o olhar. - Eu não quero que...

- Pare com isso! Você vai terminar comigo por que você é Pro Hero, é sério? O que você acha que eu sou, idiota?

- O que?!

- Eu sei no que eu estou me metendo. Se a sua preocupação é me colocar em risco, não precisa se preocupar! Isso não vai acontecer e...

- Você não tem como saber - ele disse frustrado e eu balancei a cabeça.

- Nem você. Por favor, não faça isso. Eu não consigo aceitar que você simplesmente acha melhor se afastar de mim porque...

- Quero proteger você - ele me interrompeu e se virou completamente para mim com aqueles olhos mortalmente vermelhos e estupidamente lindos. E tristes. Muito, muito tristes. - Eu não quero arriscar que algo assim aconteça! Eu gosto demais de você para lidar com isso. Por isso ac..

- Eu gosto demais de você para ficar longe - eu disse de uma vez, sentindo um peso imenso sair dos meus ombros. - Eu não quero isso.

Katsuki suspirou e passou as mãos pelo cabelo. Ele choramingou alguma coisa antes de erguer os olhos.

- O que é que eu vou fazer se acontecer algo com você?

- Nada vai acontecer comigo! - eu insisti e afaguei a mão dele. Ele estava olhando para nossas mãos sem desviar o olhar. - Isso foi uma coincidência, poderia ter acontecido com qualquer um... Isso não muda as coisas. Você continua sendo o herói mais legal do mundo para mim.

Finalmente Katsuki riu. Eu realxei ao som da risada dele e afaguei seu braço, voltando a ligar o carro em seguida com uma expressão determinada:

- Vamos para minha casa - eu disse animado.

- Sim, mas por...

- Eu vou te mostrar uma coisa muito boa que eu sei fazer - eu disse e ergui as sobrancelhas para a expressão surpresa.

- Eu acho que você está ficando um pouco animado? - ele murmurou sem entender e eu sorri maliciosamente. - O que é? Você vai me amarrar na sua cama ou algo assim?

Eu gargalhei alto, virando o carro para manobrar.

- Não, mas, chegou perto.

- O que?

- Vou te mostrar o poder das minhas mãos - eu disse ja rindo pela expressão dele.

// Katsuki //

Eu gemi alto, jogando a cabeça para trás.

Izuku era um massagista muito bom.

Cake estava sentada no sofá próximo a cadeira onde eu estava, nos encarando curiosa. Izuku estava atrás de mim, em pé, as mãos esmagando cada músculo tenso que eu tinha em minhas costas e ombros. As mãos dele eram extremamente firmes e fortes, os dedos circulando minha pele, apertando, torcendo meus ombros enquanto eu relaxava.

- Isso é tão bom - eu choraminguei como uma criança e ele riu novamente.

- Pare de ficar falando essas coisas tão alto! Os vizinhos vão achar que tem uma sessão de pornô acontecendo aqui!

- Eu não estou nem ai - resmunguei contra meus braços, sorrindo comigo mesmo ao ouvi-lo rindo de novo. - Onde você aprendeu isso?

- Eu fiz um interclasse de massagem na faculdade. Acabei me interessando e fiz um curso de verdade - ele explicou e eu murmurei qualquer coisa em resposta. - Aqui, passe o óleo de novo.

Eu peguei o pequeno óleo com um cheiro gostoso que eu não conhecia e o estendi para Izuku. A sensação contra a pele era gostosa, principalmente porque inicialmente o óleo era geladinho e esquentava com o atrito das mãos dele.

- Mnn, é bom.

- É a terceira vez que você diz isso - ele cutucou meus ombros. - Continue com os ombros relaxados... Assim.

- Você pode me ensinar isso - eu disse realmente relaxado. - Acho que nunca ganhei uma massagem antes.

- Não? Você so gasta seu tempo e dinheiro com comida e carros?

- E trabalho.

- Santo Zale, você está perdendo as melhores coisas da vida - Izuku disse de uma forma estranhamente... Triste. - É sério, eu preciso te mostrar coisas melhores.

- Como o que?

- Brigadeiro de panela?

- Hm?

- Você não sabe...? - neguei com a cabeça e Izuku choramingou. - Ok, eu vou fazer para você. Mas so porque você está triste.

- Muita bondade sua, Doutor - eu disse com um sorriso e me virei para encara-lo. - Mas, sério baby, não precisa fazer nada disso agora. Você deve estar cans...

- Pegue aquele caderno ali - ele apontou e eu andei até a mesa para pegar o caderno. Eu o estendi, mas Izuku fez sinal para irmos até a cozinha. Ele lavou as mãos na pia e sorriu quando Cake também entrou na cozinha, curiosa, balançando o rabinho. - Eu uso manteiga. E leite condensado. E chocolate.

- Hmm - eu murmurei e imediatamente anotei no caderno.

Izuku continuou dando instruções que eram simples. Derreter a manteiga. Jogar leite condensado. Esperar esquentar enquanto mexe. Jogar o chocolate. Esperar engrossar enquanto mexe. Simples.

Ele estava completamente concentrado, de vez em quando falando consigo mesmo.

- Acho que você não pode esse, bebezinha - eu disse a Cake que acompanhou com os olhos enquanto Izuku vinha em minha direção com a colher. Ele soprou durante um tempo e pegou um pouquinho no dedo indicador. De primeira eu achei que ele iria me fazer provar no dedo dele, mas ele fez bem, bem pior. Ou melhor.

Izuku levou o chocolate em seu dedo até a própria boca e se inclinou para me beijar, deixando que eu sentisse o sabor do doce na língua dele. E ok, aquela havia sido a coisa mais... Romântica? Sensual? Eu não sabia, mas gostava.

Ele abriu a boca sutilmente, me deixando chupar a língua dele e sentir totalmente tanto o doce, quanto ele.

Nós paramos o beijo alguns instantes depois quando Cake latiu algumas vezes.

- Gostou? - ele perguntou com um sorriso e eu concordei imediatamente.

- Eu espero que seja assim que as pessoas comem esse doce - eu disse sério e ele gargalhou alto, comendo outra colher. - Ei, eu quero mais!

- Nem pensar que eu vou fazer isso de novo - ele disse rindo e quase no mesmo instante o rosto dele ficou cinzento e depois vermelho, me fazendo sorrir.

- Isso foi legal - eu disse com sinceridade. - Sério.

- Eu estou com vergonha - ele disse rindo baixinho e se aproximou de mim, sentando no meu colo. A ação me causou um sorriso bobo e eu ergui uma das mãos para arrumar o cabelo dele. - Você faz eu me comportar como um adolescente bobo!

- Eu sou um adolescente bobo - eu disse ainda sorrindo. - Ei.

- Hm?

- Já que nós comos adolescentes bobos... - eu murmurei meio sem jeito, começando a me perguntar quando foi que eu comecei a me sentir daquela forma. Leve. Sem nenhuma preocupações.

Ele afagou meu rosto com as pontas dos dedos. Eu fechei os olhos devagar; Izuku encostou os lábios no meu nariz, deixando um beijo na ponta. Eu por um acaso se quer lembrava meu nome?

- Izuku - eu disse a única palavra em minha mente. - Izuku...

- Sim?

- Eu gosto de você - eu sussurrei e o envolvi com os braços de forma protetora. - Eu gosto de você.

Minhas mãos fizeram um caminho leve e despreocupado pelas costas dele. As pontas dos meus dedos estavam memorizando as covinhas no final da coluna de Izuku e o formato de suas omoplatas.

- Eu gosto de você - eu continuava repetindo em voz baixa, baixa demais para mim mesmo. Eu nunca ouvira minha voz tão calma.

Aquele não podia ser eu falando. Mas era.

- Eu gosto de você também - ele disse com um sussurro que acariciou minhas ansiedades, meus medos, o nervoso que eu sentia.

- Eu quero que você seja meu - eu disse por algum motivo.

E no exato momento que as palavras deixaram a minha boca eu me toquei do que estava dizendo. Mas Izuku continuava tranquilo, as mãos correndo meus ombros.

- Então me faça ser seu - ele disse como se fosse simples, óbvio.

Eu mordisquei o pescoço dele e beijei seus ombros, seu rosto, seu nariz e sua boca por fim. Ele manteve os olhos fechados e eu fechei os meus por fim, apertando-os com força e desejando, do fundo do coração, que quando eu os abrisse, pudesse ver a cor dos olhos dele.

E finalmente, quando ele os abriu, a cor ali era... Preto. E cinza. Como sempre tudo foi.

Izuku se levantou do meu colo e puxou uma das minhas mãos, me fazendo levantar com ele e segui-lo pela casinha até seu quarto novamente. Ele sorriu pra mim, quase doce, e abriu a porta do quarto, entrando devagar e fechando a porta. Nós nos encaramos no escuro e eu ergui uma das mãos para afagar o rosto dele

- Eu vou te fazer meu - eu sussurrei e ele ficou na ponta dos pés para abraçar meu pescoço e finalmente juntar nossas bocas de novo.

// dois meses e meio depois //

// Izuku //

Minha mãe estava estática, encarando a foto que eu estendi para ela. Na foto Katsuki e eu estavamos abraçados, vestidos naqueles ternos que ele adorava. Era uma foto de duas semanas atrás, de uma festa que fomos.

- Você está namorando um Pro-Hero! Bem, isso é bastante coisa pra processar, na realidade.

- Ai, não fale assim, não é nada demais.

Ao meu lado, rindo, Sailow concordou. Mamãe não fazia ideia de que ela com Deus vestidos floridos e a barriga e grávida começando a finalmente aparecer, também era Pro Hero.

- Claro que é! Eu não faço ideia de como você consegue ficar tão tranquilo com isso, Izu! - mamãe repetiu enquanto cortava as carnes. Cake, no meu colo, latiu esperando um pedaço do bolinho de carne que eh fazia.

- Ah, mas ele não está tranquilo nunca - Sailow entregou. - Se o Katsuki demora mais de três horas para mandar um sinal de vida o Izu fica desesperado.

- Não é verdade - menti enquanto corava. - Eu não fico tão histérico assim.

- Olha, conhecendo você, Izuku...

- Mãe!

- A propósito - mamãe parou e me encarou. - Quando é que eu vou conhecer seu namorado?

- Quando ele chegar de viagem - resmunguei chateado pela saudade que eu estava sentindo. - Provavelmente na sexta-feira, se não houver nenhum imprevisto por lá.

- Ele viaja muito a trabalho? - mamãe questionou e Sailow sou baixinho por causa do interrogatório.

- De vez em quando... Só quando precisam de algo mais específico. Como agora.

- Hmmm... Vocês estão morando juntos, é?

- Não, mas ele passa a maior parte do tempo comigo e a Cake aqui - eu expliquei e estava realmente começando a ficar envergonhado e Sailow estava apertando a boca pra não rir, me fazendo rir também.

- Onde ele mora por aqui?

- Naquele prédio e mármore Branco da Avenida Caroline.

- Santo Zale, ele é podre de rico! - mamãe guinchou e aquilo foi demais para Sailow e eu porque nós dois começamos a gargalhar realmente alto. - O que foi? Ele é, não é?!

- Um pouco - eu menti. - E aí, já acabou o interrogatório ou eu...

Eu me interrompeu quando o meu telefone tocou o som da chamada de Katsuki. Pulei na cadeira e me levantei para atende-lo imediatamente.

- Oi!

- Baby! - ele comemorou e eu sorri como um bobo. - Argh, eu estava com saudade da sua voz. Está tudo bem por aí?

- Eu tambem! Eu estou bem, é por aí? Você dormiu bem de ontem para hoje? Já comeu agora a  tarde? Está tendo muito trabalho?

- Calma ai, gatinho! - ele riu e suspirou. - Dormi quatro horas, e ainda não comi. Estou num intervalo bem rápido antes de voltarmos pra o Monte D'Arlo. Os vilões de lá nos deram certo trabalho ontem, mas tudo bem.

- Deram trabalho como?

- Hm, eu não posso falar disso pelo telefone, amor - ele me lembrou e eu fiz uma careta. - Mas, eu estou bem, ok?

- Okay - suspirei.

- Ei, não fique assim... Já vai acabar e eu vou voltar. Sexta-feira está logo ai.

- Eu sei... É só que... É tão estranho você não estar aqui comigo - eu expliquei meio triste. - Duas semana é muita coisa.

- Uma merda - ele xingou e eu ri. - Ei, Baby, eu tenho que ir agora. Hell e os outros estão chamando agora. Torça por mim.

- Eu sempre estou - murmurei e segurei o celular um pouco mais apertado como se ele pudesse senti-lo. - Por favor, tome cuidado! Eu te amo, Kat.

- Bem, eu te amo mais - ele disse com um sorriso e logo depois nossa ligação encerrou, me fazendo suspirar.

// Katsuki //

- E ai, ele acreditou? - Bremon perguntou imediatamente, assim que desliguei a chamada.

- Sim! Agora vamos logo, eu estou ansioso - eu pedi e nós saímos do canto mais silencioso do aeroporto para ir buscar nossas malas e pedir um táxi.

Eu estava voltando dois dias mais cedo, de surpresa, pra casa. Por sorte o trabalho no Monte D'Arlo já estava concluído nos últimos dias e nós só precisamos ficar até então para garantir que ia ficar mesmo tudo bem.

Então, na noite anterior, recebemos a notícia de que já podíamos ir para casa. Eu mal podia esperar para finalmente abraçar Izuku de novo. Aquilo era tão engraçado porque eu não imaginava como podia amar tanto alguém - Ou como alguém é capaz de mudar tudo que você sente em alguns meses.

Uma vida inteira de amargura e solidão sendo substituída por tanta sorte. Em meses.

Ao meu lado Bremon estava ansioso para chegar em casa e ver o quanto a barriga de Sailow havia crescido nas últimas semanas. Eu imaginava que para ele devia ser ainda pior porque não era somente por Sailow que ele estava voltando, mas pelo filho deles também.

- E ai, Sailow já parou o lance da surpresa do sexo do bebê? 

- Ela disse que vai me contar quando eu chegar hoje - ele respondeu com um sorriso todo orgulhoso. - Mas pediu para eu escolher nomes para ambos os sexos.

- Uh, será que são gêmeos?

Bremon parou e coçou o próprio cabelo em dúvida, até abrir o celular e examinar a última foto que Sailow mandou para ele, naquela manhã.

- Não sei, não... Cara, se fossem dois talvez a barriga estiver maior. Ela já está com três meses...

- É... Eu não entendo nada de gravidez - resmunguei. - Nunca fiquei com alguém que pudesse engravidar.

Bremon gargalhou alto e eu ri também. Nós pegamos o primeiro táxi que vimos e, como Sailow passava a maior parte do tempo com Izu, decidimos ir juntos para a casa dele.

No caminho até lá eu encarava as cores que eu já conhecia nos ultimos meses. O céu azul e brilhante, as fachadas vermelhas, amarelas e roxas. As cores mais claras e as mais escuras nas peles das pessoas.

Nos últimos dois meses eu não virá nenhuma nova cor. Aquilo deixou a mim e a Izuku preocupados no começo porque sempre estavam os esperando acontecer de novo. Mas nada vinha, o que me deixava um tanto quanto frustrado.

Eu sonhava com o dia que veria a cor dos olhos de Izuku.

O táxi estacionou na frente do condomínio de Izuku e nós entramos andando mesmo.

- Cake vai dedurar você - ele riu assim que chegamos perto da casinha de Izuku.

O carro de Sailow estava estacionado bem em frente ao carro de Izu e havia um outro café também. Um preto que eu nunca vi.

Bremon a virou para mim.

- O carro novo do Dalton não era roxo? - ele perguntou confuso e eu estreitei os olhos:

- Não é o carro do Dalton. Ele não gosta de carro esporte - eu disse em voz baixa. - E a Eji tem um grandão...

- Então...?

Nós entramos pelo portão sem fazer barulho e subimos até a varanda. Não havia ninguém na cozinha, o que era estranho. Nem na sala. Peguei as chaves dentro do bolso da calça e destranquei a porta, entrando em silêncio junto com Bremon.

- Tem coisa no forno - ele sussurrou. - Então tem alguém em casa.

- Amor? - chamei alto e escutei imediatamente um ofego e passos apressados e uma mancha veio correndo na minha direção.

- KATSUKI! - Izu começou a gritar e exclamar enquanto me abraçava, me fazendo rir enquanto segurava ele. - Q-quando foi que você... Você não iria voltar só na sexta?!

- Aha! Surpresa! - eu disse rindo e de repente Sailow apareceu e veio dando pulinhos alegres em direção a Bremon e cantarolando "Minha vidaaaaaa" e eles a abraçaram apertado, Bremon imediatamente enchendo-a de beijos. - Ew, melosos.

- Cala a boca - ele resmungou pra mim.

- Ei, baby, de quem é o carro lá fora? - questionei.

- Oh! B-bem, então... - ele começou a dizer timidamente e eu peguei minha mala de novo para leva-la para o quarto.

- Então o que?

- Kat, você não pode entrar no quarto ag...

Izuku se interrompeu quando a porta do banheiro do corredor se abriu e uma mulher e cabelos escuros, enrolada em uma toalha, saiu dali. Eu parei, chocado, porque aquela tinha que ser Izuku, só que com o cabelo grande. Eram idênticos.

- SANTOZALE - a mulher gritou com o susto e segurou a toalha pulando pra trás.

- Desculpe! - gritei e imediatamente virei de costas, meu rosto pegando fogo. Qual era meu problema com ver as pessoas daquela família sempre de toalha?

- Ai, mãe... Esse é o Katsuki - Izuku disse com uma risada sem graça e eu choraminguei.

.

No final das contas a mãe de Izuku, Anna, era muito mais parecida com ele do que apenas na aparência.

Sailow e Bremon nos fizeram companhia até o jantar e eu estava simplesmente amando como Izu não era capaz de desgrudar de mim nem por um momento, assim como eles dois. Anna parecia achar engraçado como Izu se recusou a se sentar em uma cadeira e sair do meu colo, então nós todos ocupamos apenas três cadeiras no final das contas: Sailow no colo de Bremon, Izu no meu colo, e Cake no colo da mãe dele.

O jantar era uma receita especial de Anna. Ela me contou que sempre fez aquilo para Izu e ele nunca deixava de pedir para ela fazer de novo quando vinha visita-lo.

E ela estava curiosa. Muito curiosa.

- Izu me contou que você trabalha como Pro Hero - ela disse no meio do jantar e eu vi Bremon erguer as sobrancelhas. - Há muito tempo?

- Alguns anos - respondi sem hesitar e estendi uma garfada para Izuku. - A senhora não mora mais aqui em Resencall, não é?

- Me mudei pra a Leeds há um ano e meio - ela disse. - Você conhece a cidade?

- Conheço. Já fiz algumas missões por lá.

Anna concordou com a cabeça; as conversas na mesa estavam mais voltadas para o que quer que ela falasse ou assuntos mais simples e básicos do cotidiano. Nós não podiamos, como de costume, falar sobre qualquer coisa sobre Pro Heros ou missões.

- Foi um prazer, Anna - Bremon disse e apertou a mão dela um pouco depois do final do jantar. - Nós temos que ir agora... Sailow fica muito cansada a essa hora.

- Ah, tudo bem, meninos! Sailow, querida, eu espero vê-la novamente antes de ir embora!

- Sim, senhora - Sailow sorriu e se levantou para abraça-la. - Eu virei ainda essa semana!

Eu me virei para Izuku que estava tirando a mesa e peguei os pratos das mãos dele. Ele ergueu as sobrancelhas meio surpreso:

- Eu lavo os pratos. Você já ficou fazendo tudo sozinho esse dias - murmurei e ele balançou a cabeça.

- Nem pensar. Você estava trabalhando esse tempo todo, deve estar exauto!

- Baby, não seja dramático...

- Não venha dar uma de herói agora - ele resmungou e eu ri, ainda impedindo-o de pegar os pratos. - Caramba, Katsuki, me dá isso!

- Não! - exclamei e levei tudo até a pia. - Você já fez as compras da casa?

- Na verdade, não. Eu estava com preguiça e também esqueci...

- E o que você estava comendo?!

- Ah, eu almocei no Dalton duas vezes. E em alguns restaurantes... E você acredita que a Kony levou almoço pra mim também?

- Izu, você... - eu me interrompi rindo e balancei a cabeça. - Você é impossível!

- Meninos, vocês precisam de ajuda aí? - Anna perguntou de repente.

- Não, tudo bem, mãe... Epa, você não vai dormir aqui hoje?

Eu me virei para vê-los. Anna estava segurando uma bolsa preta e balançou a cabeça com um sorriso.

- Ah, hoje não, filhote. Vou deixar vocês a vontade! - ela disse com um sorriso e eu senti meu rosto esquentar de novo.

- Não precisa se incomodar com isso, Anna - eu disse imediatamente. - Por favor, você não precisa ir para lugar nenhum.

- Ah, querido, não fique preocupado com isso - ela riu. - Eu tenho alguns amigos para visitar aqui e tenho a casa da minha irmã também.

- Mas, mãe...

- Izu, tudo bem - ela o abraçou e afagou seu cabelo. - Eu vou te ver no hospital amanhã. Aproveite um pouco seu namorado, querido. Você estava chorando de saudade quando eu cheguei ontem!

Apertei a boca para não rir e Izu fez uma cara feia para mim. A mãe dele se despediu de nós dois novamente enquanto Izuku ia acompanhá-la até o carro. Eles ainda passaram um tempo conversando na varanda e eu me distrai com os "lambeijos" de Cake.

- Vamos colocar a roupa para lavar, neném? - eu a chamei e fui até o quarto pegar minha mala.

A maioria das roupas ali estavam limpas, uma vez que eu passava a maior parte do tempo usando meu uniforme de herói. Eu até tive que mandar fazer outro igual, assim, enquanto um lavava eu podia usar o outro.

- Você é uma dona de casa muito boa - Izu sussurrou atrás de mim e eu ri, me virando para ele. - Bem-vindo de volta.

- Hmm, isso soa bom - resmunguei enquanto ele me abraçava apertado e eu podia fazer carinho no cabelo dele como gostava. - Senti falta disso.

- Eu senti mais, pode acreditar - ele resmungou e eu apontei pra um aglomerado de travesseiros na cama. - O que é?

- Você comprou mais travesseiros?

- Talvez.

- Por que?

Izuku resmungou qualquer coisa e eu apertei as bochechas dele para ele repetir.

- Não tinha nada para abraçar - ele disse. - Muito vazio.

Sorri torto para ele e o agarrei, jogando-o na cama e escutando a risada alta dele. Nós acabamos derrubando minha mala no chão, o que fez um barulhão e Cake entrou correndo pelo quarto, latindo confusa.

- Pode me abraçar agora - eu disse contra o cabelo dele.

- Você está me esmagando!

- Estou? Você está me chamando de gordo?!

- Você est... Uff, pesado!

- Foi a minha dieta nova. Acho que engordei alguns quilos lá - murmurei e me ergui para tirar parte do pedi dele. - Mas você está mais magrinho.

- Hm - foi tudo que ele respondeu enquanto beijava meu pescoço distraidamente. As mãos dele se embrenharam pelo meu cabelo e adentraram minha blusa, tocando minhas costas.

Fechei os olhos quando as pontas dos dedos dele encontraram alguns machucados ali. Eu já sabia o que viria.

- Tire a camisa - ele pediu sério e eu suspirei e me levantei para fazer o que ele pediu. Desabotoei minha camisa e a retirei, deixando-a em cima da cama e me sentando para ele me olhar. - O que foi isso?

Ele apontou para uma cicatriz fina no meu peito. Uma que não estava ali antes.

- Tomei uma porrada de um vilão - eu disse como se não fosse nada demais. - E ele não gostou muito, não.

- Ele abriu um talho no seu peito!

- Baby, foi só um cortezinho - eu tentei disfarçar e cocei a nuca. - Além do mais, eu fui levado para aquele pessoal que cura as pessoas na hora...

- Médicos?

- É, mas eles não usam nada, só os poderes deles. Eles viram as pessoas com as mãos - eu expliquei e ele fez uma expressão confusa. - Sabe?

- Na verdade, não. Mas eu devia imaginar que havia algo assim - ele suspirou e voltou a me encarar. - Aposto que você passou bastante tempo com eles. Está sem nenhum hematoma.

- Bem, eu queria voltar inteiro - resmunguei e ele balançou a cabeça. - Ei, não fique zangado.

- Eu não estou - ele retrucou e voltou a sentar do meu lado. - Mas acho que seria legal se você me dissesse quando quase morre. Sabe?

Torci a boca para ele e apaguei seu rosto. Eu simplesmente não entendia como alguém podia se preocupar tanto. Bem, na verdade eu entendi sim.

- Baby - chamei baixinho.

- Hm?

- D-desculpe - gaguejei e ele encostou o nariz no meu braço, deixando um beijo em seguida. - Eu não gosto de... Preocupar você.

- Idiota - ele resmungou e eu ri agarrando-o contra meu peito e o abraçando até ele reclamar que não podia respirar. - Você vai me esmagar!

- Só se for com meu amor por você - eu disse e mordiquei o pescoço dele, fazendo-o rir. - Quem é o idiota agora? Você não pode sair.

- Ah, eu odeio você - ele disse entre as risadas. - Kat, eu vou acabar com você!

- Ui, ui, ui - eu fingi que estava com medo quando ele tentou me fazer cosquinha. - Ei, isso é jogo sujo.

- Você está jogando sujo agora - ele reclamou. - É impossível me mexer com esses seus braços enormes.

- Você enche meu ego - eu ri e ele suspirou, caindo na gargalhada também. - Aqui, se eu te soltar, você vai me chamar daquele jeito?

- Que jeito?

- Aquele bonitinho que você chama quando quer algumq coisa - eu o lembrei e ele riu baixinho, as bochechas ficando cinzentas. - Hm?

- Achei que você não gostasse desse apelido - ele disse meio confuso.

- Fiquei com saudade dele. É sério.

- Ele é muito bonitinho para um brutamontes como você - ele disse e eu sorri e mordi de leve a bochecha dele e depois seu lábio inferior. - Kacchan!

Meu sorriso se tornou ainda maior e eu o soltei, deixando meus braços descansando no final das costas dele. Izuku riu um pouquinho e me empurrou para deitarmos na cama.

- Eu senti sua falta - eu repeti como se ele já não soubesse. - Detesto ficar sem você.

- Não precisa mais ficar assim. Eu estou aqui agora - ele disse baixinho e se arrumou contra meu corpo. Nós passamos um tempo em silêncio, ouvindo a respiração um do outro. Os dedos de Izu estavam afagando minhas costas e meu cabelo. Meus olhos se fecharam, devagar.

Eu realmente não dormi muito bem nas últimas duas semanas.

- Você está exausto - ele comentou como se estivesse ouvindo meus pensamentos. - Vamos descasar um pouco.

- Mas...

- Shhh - ele sussurrou e voltou a massagear meu cabelo. O movimento fazia meus olhos fecharem sozinhos, e de repente eu estava bastante pesado e sonolento...

/
- Como assim você não sabe que nome escolher? - sibilei horrorizado.

Bremon revirou os olhos.

- Não tenho boas ideias! - ele se defendeu e batucou os dedos na mesa. - Pensei em "Colle" para menino ou "Mognia" se for menina...

- Urgh, você não deveria ter o privilégio de escolher um nome nunca mais - reclamei e tirei uma caneta do porta-canetas em minha mesa. - Eu vou te ajudar.

- Você é um anjo, cara. É por isso que eu gosto de você!

- Cale a porra da boca - eu disse rindo. - Tomara que a Sailow descubra que eu que escolhi o nome do filho de vocês.

- Bem, não seria um problema realmente - ele comentou e deu de ombros. Eu sorri para mim mesmo.

Eu nunca tive amigos antes, mas acho que Sailow e Bremon eram exatamente isso. Amigos. Muito bons. E eles também eram amigos de Izuku, o que significava muito para mim, já que ele significava basicamente tudo àquela altura do campeonato.

- Izu já sabe o sexo do bebê - eu comentei. - Já que ele acompanhou a Sailow no exame. Então, nós dois não fizemos ideia.

- Isso é injusto.

- É, mas vamos focar no nome dela então - eu disse e puxei um papel para escrever. - O que você acha de... Alice?

- Como aquela história da menina maluca?

- Ahn... Não. Quer dizer, eu nem conheço a história - eu disse confuso e ele ergueu as sobrancelhas.

- Cara, é uma história de uma menina que encontra um mundo mágico e tal... Um coelho atrasado, um gato sinistro...

- Nunca ouvi falar.

- Bom, a história é bem velha mesmo. Acho que tem séculos. Mas a original é ainda pior.

Eu o olhei surpreso.

- Essa não era a versão "pior"?

- Longe disso. Olha, na versão original ela na verdade mora em um manicômio. E ela é maltratada e sofre abusos... Então ela cria uma realidade diferente na cabeça dela e "escapa" pra lá.

Torci a boca. Eu já tivera uma conversa com Izuku sobre algo parecido...

- Bem, então esquece essa história de Alice - eu disse com um suspiro. - O que acha de...

- Jack - ele disse de repente eu pisquei.

- Jack?

Repeti o nome duas vezes porque ele me lembrava algo. Jack era o nome de alguém que eu conhecia. Com certeza era.

- Esse nome me dá calafrios - eu murmurei e risquei o papel algumas vezes.

- Kalin - ele disse e eu ergui as sobrancelhas e concordei. - Para um menino.

- E... Angie - eu exclamei. - Para uma menina.

- Perfeito!

Bem naquele momento a porta da sala abriu e Sailow e Izuku entraram com Cake no colo.

- Vocês chegaram na hora perfeita! - Bremon disse e chegou para o lado para que Sailow pudesse se sentar ali. - Já temos os nomes.

- E aí?

Sailow estendeu para Bremon uma caixinha branca e a colocou no colo dele. Com as mãos trêmulas ele abriu a caixinha e eu me inclinei para ver também. Era um bolinho cinzento.

- E aí? - perguntei curioso.

- É rosa! - Bremon disse com a voz esganiçada. - É uma menina?!

- Rosa é cor de menina?! - eu questionei confuso e eles me olharam sem entender.

- Não é só de menina, mas geralmente, são as meninas que usam... - Sailow explicou.

- Aha, entendi - eu disse e voltei a encarar o bolinho cinza. - Então o nome dela vai ser Angie.

- Angie? - Sailow repetiu surpresa.

- Foi o nome que nós escolhemos - Bremon explicou.

- Bem, é um nome lindo! - Izu disse com um sorriso  - Agora é só esperar.

//

A casa estava silenciosa.

Izuku estava dormindo no meu quarto com Cake e eu estava no meu escritório até então.

Tentando segurar a vontade de tirar uma dúvida. Um dúvida que eu nem me lembrava que existia. E tudo que eu me perguntava era como, como seria possível esquecer de alguém?

Esquecer a ponto de não lembrar nem mesmo do som de sua voz. Ou de seu rosto. Deixando apenas um vazio em seu lugar.

Aquele nome era apenas um fantasma do que costumava ser.

"Jack Bakugo".

Dei um "enter" na minha pesquisa e esperei os resultados aparecerem. Não havia tantos, e os que estavam ali eram de dezoito anos atrás.

Arquivo Pro Hero - Lord

"Lord, de nome civil Jack Bakugo, foi um Pro Hero há vinte anos atrás. Ele participou ativamente da Restauração dos Heróis e da reconstrução da Primeira Capital.

Era muito conhecido pela suas técnicas de vôo e ataques diretos por conta de seu poder de explosão.

Jack foi brutalmente assassinado durante uma viagem a Nova Passadena onde vilões o reconheceram. Após lastimável episódio a identidade e segurança dos Pro Heros passou a ser levada muito mais a sério, criando disfarces mais elaborados e manobras de proteção mais rígidas.'"

Surpreso eu pisquei para a tela do computador.

Desde que eu era criança não pensava muito mais no meu pai. Sempre que eu perguntava sobre ele para Kaya ou minha mãe elas me respondiam a mesma coisa: Ele precisou ir embora.

Quando ele "foi embora" eu não tinha muito mais que cinco anos. Eu não me lembrava mais de nada sobre ele. E por vezes, por tanto esquece-lo e deixar sua falta como a única lembrança que eu tinha dele, esquecia seu nome também.

Minha pesquisa me trouxe uma única foto dele. Vestido em um roupa simples e preta, sem máscara ou qualquer adereço no rosto. As mãos livres. Um pingente dourado preso no peito.

- Amor?

Pulei na cadeira com o susto e me virei para encarar Izuku. Ele estava vestindo uma blusa velha minha que ficava grande e bonita demais nele e sua boxer preta. Calçado com meus chinelos ele veio esfregando os olhos até onde eu estava.

- O que você está fazendo? - ele perguntou com um bocejo. - Já vai dar uma da manhã. Você não volta para a agência amanhã?

- Ah, sim, eu... É. Estava só terminando uma coisa aqui... Eu já vou deitar, baby - tentei convence-lo, mas ele se sentou no meu colo e descansou a cabeça contra meu ombro.

- Vem logo - ele pediu baixinho. - Você vai acordar de mau humor.

- Não vou... - eu suspirei e o abracei.

Izuku ergueu os olhos e se endireitou. Ele me encarou durante alguns instantes e ergueu uma sobrancelha.

- Você está chateado - ele murmurou, não como uma pergunta, mas uma afirmação. - O que houve?

- Hm... Eu me lembrei de uma coisa - eu disse com a voz baixa e sem emoção. Ele me esperou falar, calado. - Bremon falou o nome do meu pai hoje.

- Do seu... Pai?

Izuku ergueu as sobrancelhas. Ele estava bastante surpreso porque eu nunca havia falado sobre meu pai.

- É.

- Ele conhecia seu pai?

- Uh, duvido muito. Na realidade ele falou por acaso, enquanto estávamos escolhendo um nome pro filhinho dele.

- Qual era o nome dele?

- Jack. Jack Bakugo.

Izu piscou os olhos e eu comecei a falar como um louco, sem que ele sequer perguntasse qualquer coisa. E falei. E falei mais. E mais.

-... E sempre que eu fizesse qualquer pergunta sobre ele quando tinha uns seis anos, até depois, tudo que elas me respondiam era que ele havia ido embora. E só.

- Então... Você realmente achava que ele tinha abandonado vocês - Izu murmurou chocado.

- Eu... Acho que isso sempre me deixou puto - eu disse em voz baixa. - É o tipo de coisa que só... Fica na cabeça, mas não no foco.

- E você pensava muito nisso quando era criança?

- Eu não sei - respondi com sinceridade. - Eu era bem pirralho... Acho que não tinha nem cinco anos, então não lembro bem.

- Você afastou isso muito bem - Izuku murmurou e beijou meu ombro. Depois, como se estivesse percebendo algo, ele me encarou assustado.

- O que foi?

- Você afastou isso - ele repetiu e eu concordei lentamente, sem entender.

- Você afastou isso! - ele pulou do meu colo, levantando e começando a andar de um lado para o outro. - É claro! Você... Criou outra forma de ver o mundo sem ele.

- Como Alice?

- Perdão?

- A-Alice. A garota que ia para outro mundo porque sofria no mundo dela.

- Alice no país das maravilhas?

- Isso são as maravilhas?! - perguntei chocado e ele quase riu. - Espere, você não me disse que...

- Quando alguém passa por eventos demasiados dolorosos, seu cérebro, em nome de presevar sua integridade ou de tornar o processo menos doloroso...

- Cria outra realidade - eu o completei espantado e nós murmuramos ao mesmo tempo, como se fosse ensaiado:

- Um bloqueio de deslumbre!

- Santo Zale, isso é tão... Parece loucura! - Izu murmurou e voltou a sentar em meu colo. - Você... Como é que você está com isso?

- Acho que meu coração vai explodir - eu disse meio desconsertado. - Sabe, eu gostaria de falar com a minha mãe.

- Falar com sua mãe?

- É. Sabe, eu quero saber porque ela nunca me contou nada disso...

- Talvez também seja difícil para ela - ele murmurou para me tranquilizar e eu balancei a cabeça, meio cansado demais para aquilo.

- Vamos dormir - eu pedi e o segurei no colo para me levantar.

- Kacchan! Me coloque no chão! - ele pediu rindo e eu neguei, começando a andar para fora do escritório.

- Pare de gritar! Você vai acordar a Cake - eu reclamei e nos dirigi até meu quarto.

- Vai para a sala - ele pediu de repente.

- Sala?

- É.

- Por que?

- Não quero acordar a Cake - ele disse simplesmente e eu uni as sobrancelhas.

- Como ass...

- Bem, você voltou de viagem ontem - ele disse devagar e eu o ergui no colo para olha-lo melhor. - E até agora eu não matei a saudade.

- Ah! - exclamei entendendo por fim. - Você é tão ousado.

- Você sempre fala isso - ele disse baixinho. - Anda, vamos pra lá.

- Vai na frente. Eu quero pegar uma coisa no quarto.

Eu o coloquei no chão e o beijei antes que ele se virasse. Izuku ofegou contra minha boca quando eu puxei seu cabelo e apertei sua bunda por cima do tecido fino da boxer preta.

- Eu já estou indo, baby - eu disse baixinho e ele concordou, ofegante.

// Izuku //

Kacchan voltou para a sala pouco depois que eu me deitei no sofá macio e espaçoso.

Ele apontou algo para a TV e eu achei que ele iria liga-la, mas o que se acendeu foram luzes fracas e lilases, me fazendo encarar as paredes surpreso.

Kacchan me estendeu um par de travesseiros e se deitou por cima de mim sem dizer nada. Assim que nossas bocas se encostaram novamente eu já podia sentir o membro dele, duro, contra minhas coxas e aquilo me fazia tremer. Eu estava com tanta saudade.

- Abra as pernas - ele mandou e mordiscou meu pescoço, subindo a mão para arrancar minha blusa e logo depois minha boxer, deixando-me completamente nu debaixo dele.

O calor da pele dele era o suficiente para me impedir de sentir frio; ele estava, como sempre, tão quente que parecia estar pegando fogo. Kacchan desceu os beijos por meu pescoço e peito parando para chupar meus mamilos devagar, como se nada mais no mundo importasse. Eu gemi baixinho com o contato e afaguei o cabelo dele.

Kacchan sempre era extremamente atencioso comigo, por vezes esquecendo de si mesmo. E, como de costume, ele adorava me dominar daquela forma. Era fácil perceber que Kacchan era fã de sexo oral - ele nunca, nunca começava nada sem aquela etapa antes. E ele era tão bom naquilo, em provocar e esquentar que eu sempre perdia a cabeça no meio da coisa toda ou gozava mais rápido que o normal.

Como naquele momento.

Ele estava me chupando muito bem, como sempre, a língua lambendo cada centímetro do meu membro enquanto ele segura minhas pernas ( e eu jurava que ele tinha alguma coisa com elas porque ele sempre as tocava daquela forma ). Eu estava com os olhos fechados e a respiração engatada, tentando desesperadamente não gozar ou chorar de prazer como tinha vontade.

- A-amor, devagar - eu pedi ofegante e segurei o cabelo dele para afasta-lo um pouco. - Eu vou... Não quero gozar agora.

- E quem foi que disse que eu ia deixar você gozar? - ele murmurou rouco e ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa. - Acho que você está meio convencido... Eu passo duas semanas longe e você já se esqueceu quem manda aqui?

- Não - peguei imediatamente. Ele pegou no chão da sala o tubinho de lubrificante, que ainda estava novinho, enquanto o da minha casa estava quase no final, e o despejou sobre dois dos dedos dele. Eu engoli em seco quando notei a expressão no rosto dele e parte de mim ja sabia que sentar seria um exercício difícil na manhã seguinte. Não que eu estivesse reclamado.

- De costas pra mim - ele mandou e me virou, guiando-me para apoiar meu peito no encosto do sofá. - Afaste as pernas... Assim mesmo, amor.

Ele se inclinou na minha direção e beijou meu pescoço, descendo pelas minhas costas, deixando tudo arrepiado e sensível demais ali.

Kacchan enfiou um dos dedos, devagar, e eu pude escutar a risada desacreditada dele.

- Você não usou nenhum dos seus brinquedos, baby?

Neguei com a cabeça enquanto apoiava a cabeça nas mãos, respirando fundo enquanto sentia outro dedo dele.

- Não - eu sussurrei tentando evitar um gemido. - Nenhu-nm-ma vez.

- Você é tão bom... - ele disse e de repente começou a mover os dedos com força e rápido, fazendo ambos tocarem minha próstata, deixando minhas pernas tremulas, me dando vontade de gritar. - Mas eu ainda estou zangado pelo que você fez. Me mandando aquelas fotos enquanto eu estava longe de você...

Kacchan grunhiu e continuou me fodendo com os dedos, acertando aquele ponto tantas vezes e tão forte que eu queria morrer. Eu devia saber que ele iria definitivamente querer me castigar por aquilo.

- Você acha certo me provocar, hm? - ele murmurou baixinho contra meu ouvido e puxou meu cabelo em seguida, com certa força, torcendo-o entre os dedos. - Você está tão apertado.

- Eu est-ah-va esperando... Você - eu disse devagar, engasgando com um gemido e outro. - Por favor!

- Por favor o que?

- Me fode logo - eu choraminguei e ele mordiscou meu ombro.

- É tão bonito quando você faz assim - ele suspirou e parou de mover os dedos. - Deita aqui.

Kacchan me virou de volta e me deitou no sofá, sobre os travesseiros. Ele se ergueu apenas para tirar a própria calça de dormir e despejar lubrificante no próprio pau. Por fim ele se deitou sobre mim e me penetrou, devagar, esperando que eu me acostumasse com ele.

E como sempre a sensação de ser preenchido era indescritível. Demais para aguentar calado. Eu gemi, um pouco mais alto, e ele moveu o quadril até que eu pudesse sentir seus testículos contra minha bunda.

- Assim está bom para você, amor? - ele perguntou baixinho. O tom de provocação havia sumido de sua voz, deixando somente uma doce... Devoção. Ele era tão apaixonado por mim quanto eu era por ele e aquilo era fácil de perceber. De sentir.

De saber.

Eu o abracei e suspirei enquanto ele voltava a se mover, empurrando o quadril contra o meu com mais força, acertando mais fundo, mais rápido...

A voz dele era tudo que eu podia ouvir. O jeito que ele chamava meu nome me fazia revirar os olhos e eu sentia que não havia limites naquilo tudo. Mas havia, e eu já estava próximo ao meu.

- Ka... Kacchan - ofeguei um pouco mais alto, as pernas tremendo.

- O que foi, amor? - ele perguntou sem parar de chocar os quadris contra os meus.

- Eu n- não aguento... Mais - suspirei cansado e choraminguei quando ele lambeu meus lábios e os mordeu em seguida. - Você é... Demais pra mim.

- Você quer gozar, hm?

- Com você - eu pedi e ele concordou. Imediatamente os movimentos dele se tornaram mais e mais e mais, até que ele mesmo estava gemendo alto e mordendo meu pescoço.

Kacchan xingou enquanto gozava e eu desmanchava ao sentir como ele apertava meu corpo, com força, forçando-me a aguentar tudo de uma vez, não me dando outra sensação se não a de ser arrasado pelo meu próprio orgasmo.

Suspirei, exausto.

Kacchan me abraçou, dengoso, e deitou a cabeça no meu peito. Corri minhas mãos pelas costas dele e por seu cabelo, sorrindo ao sentir o cheiro doce e ardente da nitroglicerina no ar.

- Baby - ele chamou baixinho, de repente.

- Hum?

- Por que você não vem morar comigo? - ele perguntou baixinho e eu ergui as sobrancelhas.

- O que?

Kacchan ergueu o próprio corpo e apoiou-se em um cotovelo. Ele estava me encarando com os olhos vermelhos brilhando, a expressão delicada e repleta de felicidade.

- Vem morar comigo - ele pediu de novo. - Eu odeio tanto, tanto, tanto quando preciso ficar algum dia sem você. Ou quando tenho que levantar e levar você para casa. Eu só quero... Ficar com você. O tempo todo.

- Oh - eu respondi meio bobo pela declaração. - Mas é que...

- O que?

- Eu nunca morei com ninguém antes - eu disse baixinho.

- Nem eu - ele disse como se não fosse óbvio.

- Sim, mas... E se alguma coisa der errado? Quer dizer, não errado, errado, mas, sabe...

- Ei, calma aí - ele pediu e se ergueu um pouco mais. Kacchan segurou meu queixo com o dedo indicador e o mindinho. - Nós não estamos muito diferentes de morar juntos, sabe. Eu vivo na sua casa. Você vive na minha. Nós até temos as chaves um do outro.

- Sim, é verdade. Mas acho que a convivência, sabe, muda.

- Como quando você quer jogar vídeo game ou tem que lidar com meu mau humor? Ou quando você quer tomar banho mas eu ja estou usando o banheiro? Se esse for o problema, aqui tem três banheiros.

- Hm, você me pegou - eu murmurei e ri, ganhando uma risada gostosa dele também. - Mas e as responsabilidades?

- Levar a Cake pra passear, limpar a casa e tal?

- E lavar as roupas. Eu odeio lavar roupa.

- Eu tenho aspirador de pó - ele disse de uma forma bonitinha. - E lavadora de louças. E um maquina que seca as roupas. E nós já temos o dias de levar a Cake para passear.

Ele sorriu como se dissesse "e aí?" e eu ri comigo mesmo.

- Okay, tudo bem - eu disse por fim.

- Eu deixo você trazer aquelas coisas coloridas pra cá. Todas elas. Você pode encher a casa de plantas se quiser - ele disse e deitou a cabeça no meu peito de novo. - E de fotos nossas. Por mais que eu ache isso brega.

- É lindo!

- Você é lindo, baby - ele disse baixinho e beijou minha barriga. - Vamos tomar banho agora. Eu estou cansado.

//

- Sr. Bakugo?

- Sim? - Kacchan respondeu ao interfone da cozinha. Eu parei enquanto desembalava algumas caixas. Cake latiu curiosa e se aproximou dele quando ouviu a voz saindo pelo interfone.

- Tem uma senhora aqui embaixo que deseja vê-lo. O nome dela é Kaly Bakugo.

Eu vi os olhos dele dobrando de tamanho e, quase imediatamente, suas mãos começaram a tremer. Eu reconhecia aquele nome.

"Kaly e Kaya Bakugo tem cartões de visita e vem todos os dias visitar Ground Zero". Sim, apesar de eu nunca ter visto aqueles rostos, sabia quem eram.

- P-pode mandar subir. Obrigado Karin - ele murmurou e desligou em seguida. Ele se virou para mim, o rosto completamente branco e os olhos arregalados. - Acho que meu coração está parando. É sério.

- Calma! Quem é? É a sua irmã?

- Minha mãe - ele ofegou e se sentou em uma das cadeiras da mesa próxima a ele. - Eu não a vejo há anos, Izu!

- Puta merda - murmurei horrorizado, lembrando que ele não as viu quando ficou internado e que a ultima vez que eles estavam juntos elas o largaram sozinho em um hotel. - Você quer que eu dê uma desculpa para ela na...

O silêncio mortal chegou quando a campainha tocou. Kacchan choramingou e se levantou, respirou fundo e estufou um pouco o peito. Acho que ele estava tentando se recompor o mais rápido possível.

Eu não tinha coragem de me mover, mas Cake não parecia ser afetada pelo clima tenso; ela simplesmente saiu e andou com seus passinhos graciosos até a porta bem na nossa frente e latiu para a visita.

- Katsuki?

Ele abriu a porta de forma firme, sem demonstrar que estava nervoso.

Eu pisquei confuso para a figura a nossa frente. Eu não poderia dizer que aquela mulher era mãe dele. Eles não eram muito parecidos, não fosse a mesma cor brilhante dos olhos.

- Oi mãe - ele murmurou e eu podia notar as mãos dele tremendo mais.

- Você está bem - ela disse com um suspiro audível e tocou o rosto dele. Não era difícil perceber que ele estava tenso; seus ombros eram uma linha reta, o peito quase travado e firme assim como sua mandíbula.

- Por que você está aqui? - ele perguntou com certa dificuldade. Como se fosse difícil falar. Ou respirar.

Cake latiu para ela e choramingou nervosa, aproximando-se dele protetoramente. Eu era uma estátua de gelo e nervoso. Era impossível mover um músculo sequer.

- Eu vim ver você. Semana passada você disse que queria me ver e que precisava conversar comigo - ela disse, referindo-se certamente ao dia seguinte a noite em que ele me contou sobre o pai. - Então eu vim até aqui.

- Claro que sim - ele grasnou.

- Você está se sentindo bem?

- Desculpe eu estou... Surpreso. Você deveria... Ter avisado - ele murmurou e ela concordou, arrumando o cabelo para fora do rosto. De repente ela me notou, no canto da cozinha, cercado de caixas. Seus olhos vermelhos se estreitaram:

- Você está se mudando daqui?

- Me mud... Oh, não. Não, não estou me mudando, não.

- Esse rapaz é seu empregado? Ele não pode nos deixar conversar a sós?

- Meu... Empregado?

Eu pisquei os olhos, confuso. Ela ergueu as sobrancelhas e o encarou, esperando uma explicação.

- Ele não é meu empregado, mãe - ele disse com a voz mais calma e séria.- É meu namorado. Ele mora aqui.

- Namorado?- ela repetiu. - Ele mora com você?

- Mora - Kacchan confirmou e por fim deu espaço para ela entrar. - Nós podemos conversar no meu escritório. Amor, você quer vir ou...?

- Ah, não, não. Tudo bem, eu vou pro hospital - eu disse imediatamente e a mãe dele estreitou os olhos novamente.

- Ele está doente?

- Não, mãe. Ele é enfermeiro chefe do hospital que eu fiquei internado - ele explicou com certo orgulho e eu senti meu rosto esquentar. Kacchan piscou para mim e eu finalmente pude me mover, sentindo-me mais tranquilo. - Vamos, mãe.

Ele se despediu de mim com um beijo rápido e eu acenei timidamente para a mãe dele, enquanto eles deixavam a cozinha e iam em direção ao escritório dele. Eu me dirigi depressa até nosso quarto, que estava uma completa bagunça, cheio de caixas, malas, alguns moveis novos e sapatos. Nós teríamos trabalho para arrumar tudo. Naquele momento o apartamento inteiro estava uma bagunça que não iria se desfazer tão cedo. Cake me seguiu pelo quarto e entrou comigo no banheiro, deitando esparramada no chão enquanto eu ia tomar banho para ir trabalhar.

- Você é uma preguiçosa - eu disse a ela quando liguei o chuveiro. Comecei a escovar os dentes imediatamente e ela latiu baixinho, brincando com a blusa que eu estivera vestindo. - Por que não vai lá puxar a barra do vestido daquela megera, hein?

Cake latiu de novo e começou a fuçar minhas sandálias.

- Morde o sapato dela, bebe - eu disse rindo - Queria poder levar você comigo. Papai ama você, neném.

Saí do box novamente e me enrolei numa toalha, pegando as roupas que ela espalhou no chão e voltei até o closet de Kacchan para procurar alguma roupa dele. Acabei escolhendo uma blusa de botões azul-bebê que ele comprou do tamanho errado e ficava perfeita em mim. Assim que terminei de vesti-la dei uma olhada no espelho e sai pelo quarto, indo em direção ao escritório. Bati na porta e logo escutei o "pode entrar, amor" de Kacchan.

- Eu já estou saindo - murmurei timidamente, ficando desconsertado pelo olhar curioso da mãe dele.

Kacchan se levantou e pediu um instante para a mãe dele, vindo até o lado de fora comigo. Ele fechou a porta e imediatamente se virou para mim:

- Desculpe por isso - ele disse com a voz baixa e calma.- Ela está super curiosa sobre você e tudo mais...

- Vai ficar tudo bem aí? - questionei meio hesitante e ele concordou.

- Tudo bem, amor - ele disse e fez carinho no meu rosto. - Me mande uma mensagem quando chegar no hospital. Quer ir com o meu carro?

- Pode ser... - murmurei com um sorriso. Eu adorava dirigir o carro "normal" dele porque era extremamente leve e fácil de andar. - Você está tentando me comprar.

- Não estou não - ele disse e sorriu para mim, os olhos fixos na minha boca quando eu sorri de novo. Ele parou por um instante e segurou meu rosto de novo, os olhos vermelhos tão brilhantes quanto rubis. - Você é tão bonito. Só fica mais e mais.

Senti meu rosto esquentar e ele sorriu ainda mais.

- Deixe de ser bobo - eu pedi envergonhado. - Aqui, me dá meu beijo e volte para sua mãe.

Kacchan se inclinou e me beijou de forma quase preguiçosa, afagando meu cabelo e minhas costas por dentro da blusa que eu vestia. Ele continuou me beijando daquela forma e era impossível sequer respirar direito.

- Já estou com saudade - ele disse baixinho contra meu ouvido e beijou minhas bochechas. - Volte logo.

- Se cuida. Se acontecer qualquer coisa, me ligue... - eu suspirei. - Eu te amo, ok?

- Eu te amo mais, lembra?

Eu dei um sorrisinho torto.

- Cale a boca. E tome conta da minha filha - eu disse, apontando para nosso quarto. - Ela está la no reino dela.

//

Dalton e Eji adentraram minha sala com suas expressões as animadas. Eu os encarei confuso.

- O que foi dessa vez?

- Mystic está aqui - Eji disse lentamente. - Ele pediu uma consulta com o "especialista em traumas por individualidades".

- O que significa, você - Dalton completou e fez um movimento engraçado para mim.

- E ele vai caber aqui com aquelas asas enormes? - perguntei meio perturbado, levantando da cadeira.

Eji gargalhou e Dal revirou os olhos.

- Não seja burro, caramba - ele ralhou. - As asas do cara somem.

- Somem?! - berrei surpreso e Eji bateu palmas enquanto ria mais. - Santo Zale, eu não tenho paz... Pode mandar ele subir.

Eji concordou e saiu logo depois com Dal. Não demorou muito mais que cinco minutos e escutei uma batidinha na porta. O rapaz de cabelos cor de lavanda entrou acompanhado de Eji. Ela se despediu logo depois e fechou a porta.

Eu o encarei durante alguns instantes. Ele vestia um blusa branca e jeans azul. Os olhos meio cansados, com olheiras escuras. A expressão aturdida.

- Pode se sentar, por favor - eu murmurei e fiz sinal para a cadeira bem a frente da minha mesa. Ele murmurou um agradecimento e se sentou, suspirando enquanto relaxava. - Então, ao que devo a honra do nosso reencontro?

Ele deu um sorriso.

- Nós só nos vemos em situações pouco convenientes - ele riu um pouco. - Primeiro quando estou internado, depois quando você está sendo jogando pelos ares...

- Uma relação conturbada - eu brinquei e me sentei também. - O que aconteceu? Você parece abatido.

- Aha, me pegaram de jeito dessa vez - ele resmungou. - Já tem um semana que eu não consigo dormir.

Pisquei surpreso.

- Uma semana? Foi um vilão? Uma individualidade?

- Eu não tenho certeza - ele suspirou. - Tive um... Combate... Na semana passada. Contra alguns vilões. Um deles chegou a me atacar, mas não ficou muito claro qual seria a individualidade dele.

- Hmm, entendi - murmurei lentamente e abri a gaveta para tirar alguns instrumentos dali. - Com licença.

Aproximei-me dele para escutar seu coração. Ele batia de forma irregular, o que era um sintoma ruim. E a respiração estava áspera.

- Você teve ferimentos por causa da luta? - questionei e ele concordou com a cabeça. - Onde?

- Peito. Braços. Costas. Alguns nas pernas.

Eu suspirei. Lá vamos nós de novo.

Abri o armário perto da porta e tirei um daqueles aventais/ roupas de hospital e estendi para ele.

- Preciso que você tire sua roupa e coloque esse aqui - pedi e ele concordou. Apontei para a porta do outro lado da sala e ele pediu licença, dirigindo-se para lá.

Não demorou muito e ele voltou vestindo apenas a boxer preta e o avental. Fiz sinal para que ele se sentasse na maca e o contornei, indo direto para suas costas.

- Suas escápulas são maiores por conta das asas, imagino - murmurei e ele concordou. - Está sentindo alguma dor?

- Um pouco, na verdade - ele murmurou. - Sinto dores quando tento tirar as asas. É como se a base delas estivesse... Desencaixada.

- Fez algum Raio-X?

Ele fez que sim.

- Não tem nada fora do lugar. Mas se você quiser dar uma olhada, eu tenho as imagens no celular.

- Okay, eu quero ver, sim. Você tem uma cicatriz recente bem aqui - eu murmurei e passei a ponta dos dedos em um ponto no meio do coluna dele onde havia um ferimento sarando. - Foi da luta com eles?

- Sim. Um deles estava tentando acertar minhas asas. Típico.

Eu quase ri.

- Imagino que seja. Fora as dores e não dormir, sente algo mais?

- Hmm, não.

- Falta de apetite?

Ele negou.

- Desmaios?

Não.

- Febre?

Absolutamente não.

- Visão turva ou nuseas?

Não e não.

- Hmm - murmurei ainda examinando o corpo dele. A pele parecia pálida, mas, ele dizia não sentir nada de errado. Voltei para encara-lo de frente e seus olhos azuis e pesados estavam opacos. - Você tem medo de agulhas?

- Não - ele disse com uma risada.

- Vamos precisar fazer um exame de sangue. E... Você acha que consegue abrir suas asas aqui?

- Consigo - ele respondeu. - Devo abrir agora?

Concordei com a cabeça e voltei para encarar as costas dele. Os músculos estavam se contraindo, como se estivessem fazendo força para deixar algo sair. A imagem inicial era meio perturbadora, como se as asas estivessem rasgando a pele dele e se desdobrando.

Quando elas finalmente estavam completamente abertas, ocupando todo o espaço de um canto a outro da sala, ele ofegou e gemeu de dor, apertando a maca.

- Está tudo bem? Onde você sente doer?

- Na base - ele disse e ofegou de novo. - Como se... Eu não pudesse aguenta-las assim.

E, quase instantaneamente as asas tremeram e fraquejaram.

- Isso é um sinal ruim - murmurei comigo mesmo. - Vamos pedir um Raio detalhado das suas asas e um Raio-X da sua coluna. Eu tenho uma ideia sobre o que pode ter acontecido, mas, só podemos afirmar com o primeiro exame. Você consegue faze-las entrar de novo?

Parecendo aliviado, Mystic concordou e logo depois suas asas voltaram a entrar e desaparecer sob a pele de suas costas.

- É incrível - eu disse surpreso. - Vamos lá, eu vou acompanhar você.

.

Tóxico.

Mystic tinha em eu corpo substâncias tóxicas, dadas pela individualidade de um dos vilões.

Ele não podia dormir pois as mesmas  substâncias agiam como um corrosivo para alguns de seus hormônios e atividades cerebrais. E a pior delas, na minha opinião, era o fato de que a mesma substâncias agia daquela forma em suas asas. A dor que ele sentia era, na verdade, aquela substância "comendo" a base de suas asas.

Por sorte, pode-se dizer, nós tínhamos o tempo de resposta ao nosso lado e bons antídotos também.

Eu o assistia, deitado na cama com olhos fechados e uma expressão calma, tomando um dos medicamentos diretamente nas veias.

Anotei distraidamente na prancheta em minhas mãos o tamanho da envergadura das asas dele e um lembrente rápido com o nome da substância. Aquele vilão, pelo que ele havia me explicado, já estava preso desde a semana passada.

Enquanto eu voltava a me dirigir para minha sala tateei meus bolsos em busca do meu celular.

[Kacchan]: Ei amor, tudo bem por aí? Minha mãe já foi embora. Ela está hospedada em um hotel perto daqui. Estou te esperando, com saudade.

Sorri meio bobo, feliz porque já era quase hora de ir embora. Levei um tempo me distraindo visitando alguns pacientes ou analisando procedimentos.

- Tio Izuuuuu - alguém cantarolou atrás de mim e eu me virei, curioso, para ver.

- Tana! - chamei animado e me abaixei para abraçar a menininha.

Tana Black era uma garotinha de 11 anos que se caracterizava como um caso permanente. Após um acidente com individualidade há quatro anos, Tana morava permanentemente no hospital. Não havia recuperação ou cura para o problema que ela adquiriu quando sofreu o acidente.

Ela era incapaz de se curar dos machucados daquele dia. Seu corpo era impedido pela individualidade que a atingiu e nunca iria sarar.

Ela se jogou nos meus braços e me abraçou apertado, afagando meu cabelo. Com cuidado eu também a abracei, cauteloso pra não apertar nos lugares onde haviam seus curativos.

- Como é que você está hoje, princesinha?

- Estou bem! Tem uma semana que não sinto dor, graças aquele remédio que você fez - ela disse e eu sorri bobo, feliz por ter ajudado. - A tia Della disse que eu estou ficando maior.

- Você está mesmo - eu murmurei e me levantei. - Vai chegar ao meu tamanho logo, logo. E seu cabelo também está grandão, hein?

Ela riu e arrumou o cabelo para fora do rostinho. Por sorte, ali no rosto não havia nenhum ferimento.

- Eu estou deixando crescer pra ficar igual o cabelo do Dalton - ela disse com um sorriso alegre e eu concordei. - Ele disse que o meu vai ficar bonito.

- Vai, sim. Você já jantou?

Ela balançou a cabeça e eu estendi a mão para ela.

- Vamos lá jantar, então. Eu ouvi dizer que o jantar hoje é aquela salada que você gosta. Com sanduíche...

- Obaaa! - ela comemorou feliz e bateu palmas, me puxando para irmos logo.

Um tempo depois de levar Tana para jantar e depois para o quarto dela, voltei para minha sala. Já havia se passado pelo menos vinte minutos da hora de ir embora. Fiz uma careta e peguei minha mochila e as chaves do carro para ir embora.

Como já passava das nove da noite o trânsito estava calmo e a pista livre em sua maior parte. 

O caminho até o apartamento de Katsuki - que agora era nosso e eu tinha que me acostumar com isso - era muito mais próximo do hospital, e por isso, eu chegava em casa em cinco minutos.

Estacionei o carro em uma das quatro vagas disponíveis para Kacchan e pedi o elevador, que logo chegou, vazio. Eu sempre achava estranho como o prédio inteiro parecia vazio, mas, Kacchan já havia me explicado que morava muita gente idosa ou empresários ali, por isso o movimento era bem fraco.

Ignorei as outras quatro portas de madeira escura, dirigindo-me direto para a porta onde havia um enfeite de cachorrinho na porta. Assim que cheguei perto escutei os latidos alegres de Cake.

- Papai chegouuuu! - gritei animado e abri a porta, parando com um ofego logo na entrada.

A sala inteira estava coberta de cor-de-rosa. Flores rosas dentro dos vasos, cortinas em um tom bonito de rosa-queimado nas costinhas, almofadas rosa escuro, rosas cor-de-rosa e Kacchan, vestido em uma blusa rosa-bebê e segurando Cake que tinha seu pelo caramelo enfeitado com outro tom de rosa muito bonito.

- Bem-vindo de volta - Kacchan disse com um sorriso enorme, aproximando-se de mim e me abraçando enquanto eu ainda encarava tudo com certo choque. Virei-me para encara-lo como se nunca o tivesse visto:

- Não me diga que você está vendo...

- Rosa de saudade - ele murmurou com a voz engraçada, como se tivesse chorado por muito tempo.

- Q-quando...?

- Desde hoje cedo, quando eu vi a minha mãe - ele disse baixinho. - Quando você estava saindo, hoje mais cedo, eu finalmente consegui ver como seu rosto fica lindo quando você está corando... E a cor da sua boca... Agora eu estou vendo rosa pela casa toda!

Eu ri, aliviado e alegre e o abracei de novo, ouvindo Cake latir por estar entre nós dois.

- Acho que eu acabei de descobrir a minha cor favorita, é sério - Kacchan murmurou e beijou minhas bochechas e depois minha boca, uma, duas, três vezes. - Essa cor é simplesmente linda!

Enquanto ele me puxava para me mostrar alguns outros enfeites que ele comprou da cor rosa eu senti uma leve tristeza, perguntando-me se algum dia ele veria o verde dos meus olhos.

 

 


Notas Finais


Será se existe alguém mais apaixonado que o Bakugo?


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