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História Intensamente Vadia! - Eu nunca lhe prometi amor


Escrita por: SrtaPradoAutora

Notas do Autor


Boooom dia ❤️
Tudo bom cm vcs?

Espero que gostem ❤️

Sobre o tato hj ❤️

Capítulo 18 - Eu nunca lhe prometi amor


Movimentei os meus lábios algumas vezes tentando formular uma pergunta, mas a minha voz era inexistente. E para ser sincera, eu só queria sentir minha alma extasiada ao lograr roubar sua atenção por mais alguns míseros milésimos de segundos. Se alguém do futuro regressasse só para dizer-me que me tornaria um indivíduo pascácio, minha única resposta seria uma longa gargalhada. Sim, eu debocho dos loucos, assim como os normais caçoam de mim.

O tempo se arrasta e o silêncio é quem dita as nossas ações. Decido arriscar o jogo que  faço com Daniel. Sustento os nossos olhares, que por si só, se prendem e invadem um ao outro. Não há segredos. Ou melhor, é a hora de descobri-los.Passados exatamente dois segundos, ela acabou rindo, consequentemente eu também.

- Eu ganhei. - eu disse.

- Não, não. - respondeu-me.

- E por que não? Posso saber? - perguntei.

- Simples, você ainda está rindo. - respondeu-me como se aquela fosse uma verdade absoluta.

- Não estou não. - segurei o riso.

- Eu sempre estou certa! - disse convicta.

- Okay, você venceu. Boa noite, Linda, durma bem!

- Obrigada, igualmente. Boa noite!

***

Se lhe disserem como o tempo passa rápido demais, por favor, não duvide. Mas também não ouça, apenas. Não é uma citação dita pelos mais velhos por mero capricho. É um conselho, e eu diria ser o mais sábio. Quando proferidas as palavras, soltas estão as frases, os significados… pense nisso como um quebra cabeça pronto para ser montado por suas mãos calejadas, e desfeito pela ventania. Isso lhe dá preguiça, não? É mais fácil acreditar ser uma nova maneira de dizer: “eu inalei oxigênio por mais anos”, do que descobrir as suas demandas. A vida tem prazo de validade. Detalhe: vedado. Lhe dão ela de presente e tu esperas ansiosamente pela morte, mas o que acontece neste meio período? Tudo passa rápido demais, não espere para perceber. As horas são números e ponteiros, cantarolando o seu início e o seu fim.

Mais uma sexta-feira. Onze horas da noite. Uma temperatura amena. As janelas da sala fechadas, o ar-condicionado ligado, a garrafa de vinho em cima da mesa de centro, e Dona Cristina sentada no sofá, com a postura ereta e o olhar fixo no líquido vermelho. Balanço a cabeça negativamente. Vou até a cristaleira e pego uma taça para mim.

- Por quê não relaxa, mamãe? - Perguntei, enquanto me servia.

- Eu estou bem! - respondeu-me, brindando.

Me sentei ao seu lado.  Bebiamos o vinho em silêncio. Por um momento, desejei ter um cigarro entre meus dedos para encaixá-lo em meus lábios, soprar a fumaça e ingerir o amargo veneno. Dizem ser um ato poético. Talvez. Ou apenas patético? Não sei, tudo depende do ponto de vista - eu os ouvi dizer, durante a minha nobre existência -.

- Você o amava? - perguntei.

Dou um trago em meu cigarro imaginário, sinto o aroma do vinho e me permito degustar a doce bebida.

- Eu o amarei para todo o sempre! - respondeu-me, olhando diretamente em meus olhos.

Silêncio. Aquela não era uma mentira. Pelo contrário, era a única verdade que sua boca proferia e não era preciso que os meus ouvidos acreditassem. Mas também não era meu direito duvidar, só porque os meus olhos opacos nunca puderam se atentar nos seus gestos e provas. Se os dele se agarraram em tal fato, quem sou eu para contestar?

      - É engraçado, não acha? - ela disse.

- O que? - eu perguntei.

- Nunca precisamos de um padre para nos abençoar e nos ditar as regras. - ela bebeu todo o líquido de sua taça e serviu-se com mais. - O ser humano é tolo!

- Concordo plenamente. - eu respondi.

Repito as suas ações.

-Quando as pessoas irão notar que o amor não vem com um manual de instruções? - ela perguntou - Todos somos propícios a erros!

- Os amantes do amor não deveriam fazer a proeza de ferir os estultos destinatários. - eu disse.

- E não o fazemos, em momento algum!.- respondeu-me.

- Ele estava ferido.

- Não foi um erro. - ela disse - Às vezes, as verdades são distintas.

- Verdades, verdades e mais verdades! - eu disse - Somos todos idiotas, medíocres e cheios de si… Consegue perceber onde eles falham?

- Posso te perguntar uma coisa, filha?

- Acabou de fazê-lo.

Bebi todo o vinho e me servi com mais.

- Você tem medo de amar? - perguntou-me.

Me engasguei com o líquido que desce queimando por minha garganta. Respirei fundo, pensando em como respondê-la sem entrar em contradição. Dona Mary é esperta, atenta nos mínimos detalhes e gestos. Há verdades que são as nossas mentiras preferidas, mas ninguém precisa sabê-lo.

- Não. Só não desejo fazê-lo!

- Ninguém o deseja. Isso simplesmente acontece, tornando tudo mágico.

- Eu diria insignificante.

- Não, você diria que isso não existe.

- Talvez.

Ao ver que a minha taça não estava cheia,  minha mãe serviu-me com mais bebida.

- Você a ama! - ela disse.

A minha resposta foi o silêncio, a respiração alterada e o vinho.

- É o suficiente! - brindou.

E realmente estava sendo. Não era uma afirmação sem fundamentos, uma frase solta sendo proferida pela boca de um ordinário. Era uma verdade que defenderei com unhas e dentes, ser mentira. Ou não. Na hora certa, conhecemos o nosso “calcanhar de Aquiles” e caímos. Talvez ela seja o meu, e isto é irrelevante. Sabe o que desejo intensamente, meu caro? Descobrir se o chão é bom para fazer amor. Lembrando-se que eu não o sinto.

***

Jogada na cama; nua, bêbada, pensando em nada, refletindo sobre tudo, sentindo toda a confusão do meu ser. É exatamente assim que me encontro neste exato momento. As janelas estão abertas, o vento forte parece convidar-me para senti-lo esfriando a minha pele, as estrelas no céu brilham com tanta maestria a ponto de invadir o meu quarto, e a varanda encontra-se a minha espera. Mas não, esta noite não quero um contato com elas. Não quero nada.  E isso inclui a música. Ou não.

Escuto passos. Alguém se deita ao meu lado. Não preciso olhá-lo, apenas Daniel invade o meu mundo desta forma, sem ferir-me. Percebo que talvez exista algo que eu queira, mas jamais conseguirei. A que me refiro? Eu não sei. Eu só estou bêbada. Completamente bêbada.

- O que quer me contar? - pergunto-lhe ao notar o seu nervosismo ao mexer os dedos, inquieto.

- N-nada!

Dói quando o jogo muda. Nunca pensei que algum dia ele iria querer fazer-me pagar-lhe por todas as vezes que me calei, sentindo internamente a minha fúria, transpassando os meus monstros e deixando-os o atacar sem lhe avisar a forma de defesa. Talvez eu esteja me precipitando, mas eu não sei como agir. Talvez, eu nunca saiba e ninguém se importa.

Ah meu caro amigo, qual a definição perfeita para a sua vida errônea? A minha é o jogo de xadrez.  Bela e incerta. Uma arte recriada, vivida e manuseada por duas pessoas que sofrem a influência do todo a sua volta. Creio que ninguém parou para perceber o quão o ambiente afeta os jogadores. Uma mosca voando e “hasta la vista”. Adeus a tudo. Xeque-mate. Confesso-lhe: não aprendi a jogar, mas me encantava saber que Daniel era foda. O melhor neste quesito: viver. Eu nunca me senti perdedora enquanto o vencedor era ele. Da mesma maneira que não consigo me sentir vencedora, agora que os papéis se inverteram.

- O que ela te fez? - perguntei-lhe. - Já se passaram dois anos e você continua “sangrando”.

- Ela foi o amor da minha vida! - respondeu-me

- Caralho Daniel. Isso não existe!

- Você nunca vai conseguir compreender-me.

- Talvez sim, talvez não. - eu disse - Só iremos saber se você tentar. - respirei fundo. - Por que você ainda sofre por alguém que escolheu a partida?

Os meus olhos continuaram fixados no teto. Tenho medo de encará-lo e doer ainda mais.

- Por que ela tinha medo de me contar a verdade. Por que ela teve medo de estar certa.

- Sobre o que?

- Lembra-se quando fomos para um acampamentos de férias, com a escola?

- Sim! Como iria me esquecer. Você foi sorrindo e voltou chorando. Se trancou no quarto por dias. Não comia, não conversava com ninguém e não se importava comigo!

- Pois é… Mas não me julgue, você faz isso o tempo todo.

- É diferente.

- Foda-se, tata. - Posso afirmar com toda a certeza de que ele estava chorando. - Bom, nós conseguimos levar algumas bebidas, ficamos bêbados e acabamos transando sem camisinha.

- E o que tem de tão grave nisso?

- Eu não sabia.

- Mas agora sabe?

- Sim. Ela é portadora do vírus HIVE.

Agora tudo começou a se encaixar.  Os remédios, a perda de peso, o afastamento, a bagunça. Daniel estava perdido dentro de si, deixando a dor ser sentida intensamente, assim como eu sempre estive e fiz. Levamos o xeque-mate da vida por razões distintas. Se perdemos em algum momento, mas nunca nos perdemos. Ou não. Em algum lugar do tempo, deixamos de jogar juntos e não percebemos que ali estava a nossa ruína.

- Na minha última consulta de rotina, acabei descobrindo que agora sou soropositivo.  - eu não conseguia dizer nada. - Eu a amava e isso não iria me fazer odiá-la. Aconteceu! - respirou fundo - Mas a culpa foi maior do que o seu amor!

- Eu faria o mesmo que ela.

- Vocês são covardes.

- Não. Não o somos. Você é! - eu disse, tentando segurar o choro.

- E-eu?

- Sim, você!

- Eu não entendo.

- Por que caralhos você não se cuidou? Eu vi os frascos de remédios CHEIOS! - não obtive respostas. - O vírus se desenvolveu não é mesmo? - o silêncio foi a confirmação -  A todo momento tu me jurava amor. Mas como posso acreditar?

- Eu nunca menti para você, tata!

- Você se rendeu ao fim, antes mesmo dele bater à sua porta. - eu disse. - Se esquecendo que tu eras a minha morada!

- Eu não vou morrer! - ele disse.

- É, eu sei. - eu disse, enxugando as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

- Sabe?

- Sim, eu sei. - eu disse sem olhá-lo - Porque você me ama e vai começar a tomar a porcaria do remédio!

- Eu não posso!

- Vá se foder, Daniel Henrique! Chega de se doer por conta de alguém que já se foi!

- É irônico ouvi-la dizendo isso.

- É diferente!

- Tudo relacionado a você é diferente!

- Eu nunca te prometi amor, mas você o fez. - eu disse - E se quiser mesmo que eu acredite,  nem pense em se entregar para a morte por conta dessa droga de vida que nos tirou tudo. Eu já perdi o papai e não vou suportar perdê-lo também!

Eu nunca lhe disse “eu te amo”, mas o faço o tempo todo. Não sei se percebeste que o faço toda vez que demonstro o meu medo de não tê-lo mais ao meu lado. Cada um esconde a sua verdade e depois a revela de alguma forma, está é a minha maneira. Levantei-me, fui para o banheiro, lavei o meu rosto, voltei para o quarto; peguei uma calça jeans, uma camiseta qualquer, um casaco, o meu all star azul e me vesti.

Três horas da manhã. Bati a porta de meu quarto e segui sem rumo.  

Eu os ouvi dizer que Deus não lhe dá um peso que não possa suportar. Pergunte aos suicidas e descubra a farsa.

***

Não havia mais estrelas, vento ou até mesmo a minha varanda. A rua deserta e silenciosa não me assusta. As árvores quase não se movem, os galhos espalhados pela calçada não se quebram e as luzes da cidade me parecem apagadas. Nenhuma janela aberta (apenas algumas quebradas), nenhum jovem casal apaixonado (só esbarrei em almas solitárias), nenhuma criança brincando pela madrugada (o balanço não se move), nenhum choro (apenas o meu), nada de sorrisos (não há comparações), os bares ainda abertos e completamente cheio de pessoas como eu (irrelevante). O que seria esta definição? Não seja hipócrita, tu já sabes… estafado.

Ninguém pode dizer que eu não tentei. Mas há quedas que vão nos destruindo lentamente, compreende? Tens razão, isto não importa. Em algum momento da minha vida, o sexo foi a melhor solução. Foder uma estranha, tentando esquecer que a fodida era eu, sempre me pareceu coerente e eficaz. E quem pode me dizer o contrário? Ninguém. E aquele que neste exato momento pensa estar me ofendendo ao gritar-me: “Vadia!”. Lhe aconselho a procurar um novo xingamento, pois quando a vida me golpeia, alguém atinge o orgasmo e me deseja intensamente. E o que isso tem a ver? Minha vaidade é maior que a dor.

As lágrimas continuavam a banhar o meu rosto e então desejei que os meus olhos vermelhos fossem resultado das drogas que não usei; que as minhas mãos tremendo fosse resultado do frio inexistente, e que o meu corpo seguindo perdido, fosse o reflexo da minha alma.

Outro bar. Outras cópias idênticas de Emma Nolan Swan (homens, mulheres, garotos e garotas). Outras bebidas além dos vinhos que tomei com minha mãe. Um balcão, novas companhias e um novo garçom. Forte, moreno, olhos verdes, trajado com uma calça jeans e uma camisa pólo (com o nome do estabelecimento); um tênis esportivo e um corpo desejável. Não gosto de homens, mas gosto de seduzi-los. Fazê-los me querer e simplesmente partir. Se é para ser vadia, que seja uma completa.

Sorri com malícia, mordi o meu lábio inferior quando o jovem me serviu a bebida e comemorei internamente ao ver quando os seus olhos percorreram por todo o meu corpo. Nenhuma reação. Vaidade, pura vaidade.

- É perigoso brincar com as pessoas, Emma Swan! - aquela voz sussurrada em meu ouvido, sim, me causa reações.

- Eu diria divertido, Linda. - respondi.

- Você é louca!

- Sim, já me disseram.

Sempre magnífica. Um vestido preto, curto e colado em seu corpo, um salto alto agulha, o cabelo solto, brincos dourados de argola, uma maquiagem leve nos olhos, um batom vermelho nos lábios e as unhas pintadas de preto, cortadas em um tamanho médio, perfeitas para arranhar a minha pele, machucando-a. Para que tanta perfeição, meu Deus?

- Feche a boca e limpe a baba. - ela disse, sentando-se no banquinho de madeira, ao meu lado.

Aceita uma bebida?

- Sim, sim!


Notas Finais


Bom, perdi alguém pra doença. Fiz uma personagem soropositivo no teatro. Isso me inspirou. Não queria personagens figurantes, sem uma história. Mesmo que narrado em primeira pessoa, quem está a volta completa-nos. É assim a vida e por isso que o tato tem a sua importância e as suas dores. ❤️

Até + meus amores


Spoiler


Ela age de um jeito que me confunde. Sempre tão distante, menos quando alguém se aproxima.

Eu não te entendo! - eu disse.

Você está bêbada! - ela disse.

E daí? Eu também não entendo quando estou sóbria!

Okay, okay.

Silêncio.

Eu só quero transar, Linda! - eu disse.

Eu também! - respondeu-me.


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