O casamento foi esplêndido! A decoração magnífica e a comida das melhores, tudo preparado com muito capricho e dedicação pelos melhores profissionais do país, convidados de primeira mão pelo Rei Arthur, meu pai. Havia muitos convidados que eu não conhecia, pessoas do país da minha futura madrasta e muitos rostos familiares que costumavam frequentar o palácio. Eu preferi não comer nem beber nada, mas fiz uma boa recepção, embora a estrela do local não fosse eu, o que não me importava, preferia ser discreta.
Aprendi nas aulas de etiqueta a me portar e geralmente retrair os meus sentimentos, logo, acredito que todos naquele recinto achavam que eu estava satisfeita com tudo. Na verdade não estava. Aceitara a ideia do casamento porque parecia deixar o meu pai feliz. Mas ali, diante daquela cena, daquele exagero, podia ver que quem estava satisfeita na verdade era Sarah. Ela tinha um olhar brilhante e perverso, sorria com satisfação e usava um vestido vermelho de cauda com pedras preciosas também na cor carmim.
Ela realmente desejava chamar a atenção. Naquela noite fui apresentada a duas moças aparentemente um ano mais velhas que eu: Emanuelle e Clarisse, filhas da futura Rainha. Elas estavam pouco menos exageradas que a mãe, ainda assim exageradas na minha opinião. Usavam vestidos curtos, iguais, com plumas, inteiramente na cor caramelo, brincos exagerados que ia até próximo ao ombro e tinham o papel de segurar a enorme cauda da mãe. Pareciam um par de jarros e "cachorrinhos de madame" perdoe-me a expressão. Recebiam gritos a todo instante da mais velha, para deixar tudo perfeito e intacto.
Na hora da entrada da noiva, uma música escandalosa foi tocada, algo que nunca escutara antes. Provavelmente provinha da cultura da Rainha, não tive preconceito, mas achei a situação estranha. Eu fiquei o tempo inteiro ao lado do cerimonialista, com o olhar fixo em meu pai. O via sorrir admirado para aquela mulher incomum. Queria avisá-lo que provavelmente ele estava enfeitiçado, que não era aquilo que ele estava imaginando e principalmente que fugisse antes que fosse tarde. Ele não notou o meu esforço. Acabou com o que eu temia sendo concretizado: Sarah Antona foi nomeada Rainha de Illéa.
______X______
O dia seguinte foi um pesadelo. Fui acordada a força por duas invasoras, que não faço ideia do porquê os guardas as deixaram entrar.
— Anne, acorde! — Uma voz fina e irritante falava.
— Acorda, menina! — Outra voz completava.
— Hum... Quem é? — respondi ainda com os olhos cerrados, acreditando que não se passava de um sonho.
— Somos suas novas irmãzinhas - responderam em coro.
Irmãzinhas? Acho que não ouvi direito. Resolvi abrir os olhos vagarosamente, e pelo canto do olho pude ver que as "cachorrinhas da madame" usavam meus vestidos favoritos e tiaras do meu armário. Sentei-me na cama imediatamente. Procurei alguém que pudesse me explicar a situação. Minha criada não estava lá. Nenhum guarda. Apenas aquelas duas figuras peculiares a minha frente.
— Como ousam me acordar desse jeito? — Questionei indignada — E quem lhes deu os meus vestidos e tiaras?
— Espero que não se importe, não trouxemos nada do nosso país. Prometeram que íamos renovar nosso guarda-roupas aqui e olhe só - falou apontando para os acessórios — couberam direitinho em nós.
Não tive reação, nunca antes tivera alguém invadindo a minha privacidade daquele jeito. Tentei exortá-las de uma maneira educada. Precisava pensar.
— Er... - gaguejei - Podem me dar licença? Preciso de privacidade, se é que me compreendem — Falei apontando para os lençóis, indicando que ainda estava de pijama.
— Nós não nos importamos de vê-la de pijama, alteza! - Respondeu uma delas em tom sarcástico.
Eu estava perdida, como poderia expulsá-las de maneira educada? Eu não poderia fazer nada com elas no primeiro dia. Nem as conhecia e o meu pai acreditaria que eu estaria sendo inconveniente e mal educada. Para minha sorte Mary apareceu. Colocou-as para fora com a desculpa do café-da-manhã. Elas saíram animadas para provar o que haveria no palácio de Illéa.
— Mary, onde você estava? Precisei muito de você! Obrigada por aparecer na hora certa!
— Querida, recebi ordens para vir apenas depois das 8:00h, e olhe só, são exatamente 8:01h — ela falou sorridente.
— Essas meninas são um pesadelo! Me ajude! Não quero elas aqui!
— É necessário, alteza... — Respondeu com olhar triste.
— Você viu aquilo?! Elas pegaram minhas tiaras e os meus vestidos favoritos!
— O seu pai ordenou que enviássemos umas roupas suas provisoriamente para elas. Acreditamos que não queria mais aqueles vestidos. São antigos.
— Mary, por favor. Não importa a idade deles, ainda assim continuam sendo importantes para mim! Espero que elas tenham as coisas delas em breve. Não vou suportar vê-las usarem minhas coisas. E as tiaras...
— As tiaras não faziam parte do pacote.
— E como elas conseguiram? Onde estão os guardas?
— Estavam na troca de guardas exatamente às 8:00 do dia de hoje.
— Compreendi tudo! — e continuei — Mary... me deixe sozinha, hoje eu me viro. Traga o meu café e diga ao meu pai que prefiro passar o dia no quarto, dê qualquer desculpa aceitável. Eu não estou me sentindo muito bem - Dispensei minha criada.
Ela saiu imediatamente, tomei uma ducha, vesti-me com um vestido leve e aguardei o café-da-manhã pacientemente, enquanto lia, próximo da mesinha de canto, um romance antigo. Mentiria se dissesse que consegui entender as letras naqueles breves parágrafos. Não saia da minha cabeça o fato de ser acordada desse jeito. A primeira cena do dia tornara o meu dia inteiro péssimo, não apenas o dia, mas o resto da minha vida.
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