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História Intimamente Emma - Entrando em um pesadelo


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas leitoras.

Sei que estou em dívida de tempo com vocês, ainda mais nessa etapa da fanfic em que tudo parece um drama eterno e vocês começam a sofrer junto com elas. Sendo bem sincera com vocês, não é tão fácil escrever essa fanfic quanto Não Há outro Amor para mim, por exemplo, e acredito que imaginem o porquê.

Sem delongas, boa leitura.

Capítulo 19 - Entrando em um pesadelo



Emma era um fantasma, dias mais tarde. Tudo estava frio e lento para ela, como nos velhos tempos. Tinha visto cinco dias depois um cartaz na floricultura de seu tio, anunciando a grande exposição do artista Daniel Colter no espaço cultural da cidade. A náusea vinha até a garganta só de fechar os olhos e pensar em Regina beijando ele, e para piorar sua raiva se convertia em um choro compulsivo toda vez que deitava na cama e sentia a falta dos braços dela ao seu redor, a protegendo de qualquer mal do mundo.

O desespero estava no limite quando ela decidiu sair de casa após receber cartas, pois deixou de atender o telefone. Sabia que era Regina ligando, e nem por um decreto ia atende-la. Não queria vê-la, não queria olhar para a cara dela e ouvir a voz grave tentando seduzi-la de novo. Numa das cartas que Belle trouxe um dia, Regina pedia perdão por qualquer coisa que tivesse feito, mas que gostaria de saber exatamente o que aconteceu para ser ignorada daquela forma.

Emma rasgou a carta em mil pedaços, e não enviou respostas através de Belle. Até que um dia a empregada dos Colter tocou a campainha da casa e ninguém atendeu.

Regina foi até a casa no fim da rua no dia seguinte quando Daniel saiu com Graham para a consulta médica, e começou a sentir medo. Bateu na porta, tentou quebra-la com o pé, as mãos, mas não tinha força. Deu a volta na casa e nem um sinal da jovem. Então, foi ao hotel Hooper e lá soube que Emma tinha tirado duas semanas de folga, mas até a volta Regina ia se descabelar de preocupação. A procurou na floricultura também, e Zelena lhe disse que ela tinha ido viajar para ver a mãe. O que Regina achou a coisa mais absurda possível. A mulher teve de acreditar, embora quisesse ter conversado com David sobre a moça, mas esse também estava fora da cidade com a esposa, participando de uma convenção para floristas em outro estado. O que a sra. Colter Mills não sabia, era que uma das informações de Zelena era mentira. Os donos da floricultura estavam de fato fora da cidade, mas Emma, não.

A moça tinha se escondido no sobrado em cima da loja, longe de casa, aproveitando a ausência dos tios.

Ela viu quando Regina esteve na floricultura. Pensou ter ouvido sua voz e ficou quietinha tentando ouvir da varanda o que a empregada da loja dizia para a mulher. Emma se escondeu atrás da janela quando ela foi embora, vendo o carro escuro se afastando. Mas não foi a última vez que viu Regina nas redondezas.

Como se não tivesse acreditado na história que Zelena contou, Regina passeava com o Plymouth todos os dias pela orla, esperando uma aparição repentina, uma surpresa na praia, mas nada da moça e nem seus cabelos esvoaçantes virando o rosto na direção do carro.

Insossa... perturbada... vazia... traída, Emma morria de paixão todas as vezes, se perguntando se seu orgulho adolescente em algum momento fosse se dissolver e deixa-la descer para correr e se jogar na frente do carro de Regina. Nada disso. Se Emma fechasse os olhos, era o beijo de um casal aparentemente apaixonada que enxergava e ela voltava a odiá-la de novo.

Conforme o tempo passava, Regina se desesperava sem entender o que aconteceu a Emma repentinamente. E, já havia visitado os lugares que outrora foram os pontos de encontro delas. O mirante, o bistrô no beco do centro da cidade. Nem um sinal, perfume ou vestígio da jovem. Não foi como da primeira vez em que ela desapareceu, parecia tudo muito errado e sem fundamento.

Certa noite, Regina escreveu uma carta a última, jurou. Fez ela toda a mão para Emma saber que era ela lhe falando, suplicando para voltar, dar notícias, atender o telefone, o que fosse. Estava no escritório, rabiscando a última folha de um bloco de anotações, ligeiramente afetada pela ansiedade. Os olhos corriam as próprias palavras que escrevia, cheias de falhas de caneta tinteiro só para terminar logo com o martírio.

“Não pode ser verdade que você foi se encontrar com sua mãe. Isso não é algo que você faria, nem se tivesse perdoado. Já se passaram duas semanas e não tenho notícias suas. Onde quer que esteja, pense em mim e volte. Reaja, Emma, porque eu odeio essa sensação de não saber onde está e o que aconteceu. Algo me diz que você está muito bem escondida, com medo. Se eu provoquei qualquer coisa, ao menos responda esta carta. Não me iluda mais. Estou morrendo aos poucos de preocupação, e se ainda quer saber, tenho sonhos com você todas as noites. Nesse momento consigo ver seu rosto lendo essa carta, e eu sei que está louca para me contar o que aconteceu. Não me esqueci de você, nunca. Confie em mim. Confie nos meus sentimentos sinceros por você.”

Quando terminou se sentia trêmula e sensível quase borrou a carta inteira de choro. Pegou o lenço do bolso da roupa e limpou o que caía dos olhos antes de gritar por Belle.

A empregada correu até o cômodo.

— Sim, senhora, me chamou?

A sra. Mills ergueu os olhos e estendeu a carta.

— Faça isso chegar a Emma. Encontre-a. Se ela estiver mesmo com a mãe, dê um jeito de acha-la. Coloque em um envelope e faça esta carta chegar nas mãos dela. — Regina disse, um bocado séria.

Belle notou as olheiras que a maquiagem deixou no rosto da patroa, sabia que ela andava chorando escondida por causa de Emma. No fundo a moça também queria saber o que aconteceu com a amiga, mas pelo o que tinha visto antes de Emma sumir, alguma história estava mal contada entre ela e Regina.

— Mas, Regina, e se eu não encontrá-la?

— Não estou pedindo, estou mandando, Belle. Ache Emma. — a mulher disse entre os dentes, virando um animal ferido por dentro.

Assustada, Belle pegou o papel e o dobrou, assentindo para a escritora. Ia começar sua caçada a Swan no final do dia, quando fosse até o hotel de Archie. Lá ela soube por que Emma já havia perdido o prazo de duas semanas que deu para voltar e ele iria descontar do salário dela os dias ausente. Na floricultura, Zelena não sabia muito mais do que o dono do hotel, ou fingia não saber mais que ele.

— Veja, Belle, a Emma apareceu aqui na loja há mais de quinze dias dizendo que ia viajar. Ficou com os tios de um dia para o outro e depois disso sumiu. Ela não está no sobrado, tenho certeza. — falava a ruiva, regando um vaso com orquídeas, no alto de um patamar. Alguma coisa no olhar de Zelena disse para Belle que ela estava enganada. Ela sabia onde Emma se escondeu, só não iria entregar.

A moça, tirou uma nota de cinquenta e a enrolou na mão livre da ruiva à força.

— Pode ficar, só me diga onde ela se escondeu, tá legal? Eu preciso muito falar com ela.

Zelena mordeu o beiço e fez uma cara desconfiada.

— Promete dizer que não fui eu quem contou?

Belle deu sua palavra.

— Claro.

— Está bem.

Zelena disse para Belle que Emma estava no sobrado e não ia sair de lá antes que os tios voltassem de viagem. Belle se sentiu tremendamente aliviada, mas não entregaria a carta tão rápido.

De noite, na mansão pensava em contar para a patroa o que tinha descoberto mais cedo. Serviu o jantar para o casal e trocou um rápido olhar com Regina. Hoje ela havia preparado um bolo de carne que pelo visto só Daniel ia aproveitar, pois não demorou muito para devorar o primeiro pedaço, enquanto falava com a esposa.

— Essa exposição tem tudo para me levar de volta ao mercado de artes do país, entende o que digo, querida? Serei notado por colecionadores, não apenas pelas galerias de arte. — ele olhava Regina ao seu lado na mesa.

Atuando em grande estilo, a mulher sorriu e concordou com o marido.

— Com certeza absoluta, querido. — tentou cortar um pedaço da torta, mas parou na metade com a faca, se lembrando de perguntar uma coisa. — A propósito, como anda se sentindo em relação a sua saúde? Você tem ido todos os dias ao médico, está quase dispensando o Graham e voltando a trabalhar muito. Eu vi quando vieram buscar os quadros que você pintou para a exposição ontem.

Ele estendeu a mão até a dela na mesa, apertou os dedos longos da mulher e terminou de mastigar para responde-la.

— Estou me sentindo ótimo. Cada dia melhor. Fiquei um pouco distante de você esses dias porque prometi ao prefeito dessa cidade que faria esses quadros, você me entende, não entende, querida? Mas eu prometo que assim que acabar, vamos viajar, só eu e você. — Daniel se aproximou do rosto dela. — Uma viagem romântica, penso em viajarmos de navio, aqueles cruzeiros enormes que levam dias para ir de uma ponta a outra da Europa, o que me diz? Preciso compensar os anos que temos perdido.

Regina sorriu sem graça de um segundo para o outro, tentou se soltar de Daniel.

— Acho uma ideia maravilhosa, só não sei se vou estar disposta a passar tantos dias longe de casa.

Daniel franziu o cenho.

— Antigamente você me diria o contrário. — Voltou a comer.

Ela passou a mão pela nuca e respirou fundo.

— Devia aproveitar essa chance para tirar umas férias. Assim que voltar você pode lançar esse livro que está terminando. — Daniel mastigou o último pedaço do bolo de carne que havia em seu prato. — Então, com o sucesso desse livro, que com certeza acontecerá, podemos passar mais tempo juntos, vamos conseguir sair, fazer negócios juntos, viver um pouco o que essa cidade tem para oferecer. Desde que chegamos não fazemos outra coisa a não ser ir ao médico, ou você ao mercado, nem conhecemos os outros lugares.

Regina pousou os cotovelos sobre a mesa, empurrando o prato a sua frente displicentemente.

— Ora, Daniel, você fala como se Mary Way Village fosse uma cidade grande como Nova York.

— É uma cidade minúscula, de fato, mas há centenas de coisas para se fazer. Há restaurantes, um píer, mar, paisagem. Se lembra quando gostava de fotografar comigo? Poderíamos voltar a praticar.

— Eu vou pensar, Daniel, prometo que vou. — Regina levou uma mão até a testa. Se lembrou de Emma.

Ele limpou a boca depois de terminar um copo d’água. Regina segurava o choro e a tristeza, mas tinha chegado num limite. Há dias sofrendo por Emma, ela desabou. Se levantou da mesa bruscamente e correu para o andar de cima.

Belle tinha visto tudo e ouviu o choro da patroa. Ficou na ponta da escada, sem saber se subia para contar de Emma. Nisso, Daniel apareceu.

— Ela não comeu nada, será que está se sentindo mal? — perguntou a jovem.

— Não sei. Ela disse alguma coisa a você? — Daniel estava desconfiado.

— Não, não. Nada, apenas nos falamos no almoço e depois disso só a vi agora, no jantar. — mentiu, desviando o olhar.

Daniel bufou.

— Tudo bem. Pode ir para casa, Belle. Deixe a louça como está na mesa, não há problema.

— Sim, senhor. — Belle fez que sim e se afastou rapidamente. — Boa noite.

— Boa noite. — Daniel esperou ela pegar suas coisas e deixar a casa. Subiu as escadas, se segurando firme no corrimão. Já não precisava tanto da bengala que vinha usando, porém ainda precisava de apoio de vez em quando para manter o equilíbrio.

Chegou no quarto, ouvindo de longe o choro abafado da esposa. Veio andando, ligando as luzes e Regina estava no banheiro, sentada atrás da porta. Ele tentou abrir.

— Querida? O que houve?

Regina levantou os olhos para a maçaneta e chorou mais. O rosto ensopado de lágrimas escuras.

— Por favor, Daniel, não me pergunte nada. — disse, com a voz chorosa.

Ele ficou preocupado, queria entrar no banheiro para falar com ela de qualquer jeito.

— O que aconteceu? Não quer me contar?

— Me deixa em paz. — Regina se encolheu, se segurando as próprias pernas.

— Não! Não posso.

Ela soluçava, olhando para o espelho, vendo a sombra dele, entrando pelo espacinho aberto da porta.

— Você não entenderia, Daniel. — ela fungou.

Ele tirou suas próprias conclusões. Pensou que Regina estivesse seriamente cansada, triste, sem saber se poderia dar a ele o amor de outros anos após se acostumar com a rotina que andou levando todo esse tempo ao lado de um homem doente. Se culpou, desejando consertar.

Quieto, ele se sentou do outro lado da porta, no chão, junto dela. Esperou alguns minutos, pacientemente enquanto ela soluçava. Sem dizer qualquer coisa, ficou ali até o choro dela acabar e tudo voltar ao silêncio absoluto entre eles.

. . .

Pela manhã, antes de ir para a mansão dos Colter, Belle foi até sobrado da família Swan. Zelena não havia chegado ainda, e Emma provavelmente dormia. A moça subiu pela escada lateral e bateu três vezes com força já que não havia uma campainha para tocar. Tirou o envelope com a carta do bolso do casaco e chamou a amiga.

— Emma... Acorde, sou eu... A Belle.

Emma acordou no susto. Andava dormindo no sofá da sala porque achava mais confortável do que a cama do quarto de hóspedes, e desse jeito ouviu as batidas no vidro parecerem estrondos. Se levantou imediatamente, espantada, ouvindo a voz de Belle.

— Como sabe que estou aqui?!

Ela abriu a porta e puxou a amiga para dentro, fechando em seguida.

— Desculpa, mas eu tinha que arranjar um jeito de saber onde você estava. — explicou Belle.

— O quê?! Quem te disse? — Emma ficou furiosa.

— Isso é da Regina para você. Leia. Você pode responde-la, a única coisa que eu precisava era entregar. — Belle tratou de entregar a carta, puxando a mão de Emma.

A jovem teve um calafrio, olhou para a amiga e pensou. Até onde Regina iria para falar com ela? Tinha mandado Belle ali, ela conseguiu acha-la, e com certeza estava pedindo perdão na carta. Por um segundo, Emma não quis abrir o envelope.

— Não quero ver a Regina, não quero ouvir falar dela, entendeu? Não quero nada que venha dela. — os olhos da moça estavam começando a arder.

Belle percebeu a raiva no jeito como Emma dizia as palavras. Sua missão estava cumprida, entregara a carta e não restava muito mais a fazer.

— Eu só precisava te entregar isso. Regina está desesperada atrás de você. — Pensou em não contar, mas acabou tendo pena das duas e entregou tudo o que sabia. Soltou um suspiro profundo. — Há dias ela chora escondida na mansão. E esses dias na hora do jantar, antes de eu deixar a casa, ela teve um surto que com certeza era por sua causa. Pense bem, Emma, você está fazendo alguém sofrer sem motivos, agindo feito criança mimada.

Emma estava olhando para a carta em sua mão e ergueu os olhos vagarosamente para a amiga, se tornando sombria e sinistra. Belle se assustou.

— Quem está fazendo alguém sofrer é ela. — soou irritada.

— O que foi que aconteceu entre vocês?

Emma deu as costas.

— Não importa.

A amiga se lembrou de mais um detalhe.

— Amanhã haverá uma exposição com os quadros do sr. Colter, no centro cultural...

Emma voltou a se virar, tão rápido que seus cabelos tingidos rodopiaram juntos do corpo.

— Por que você fez isso?

— Sei que é uma loucura pedir que apareça lá amanhã, mas talvez fosse uma chance de você e ela...

— Não! — Emma gritou. — Não! De jeito nenhum. A minha vontade é de matar aquele homem e ela.

Belle ficou bastante confusa agora, e Emma piorava a cada sugestão que sua cabeça criava de Regina e Daniel juntos. Com medo, a amiga decidiu deixa-la.

— Tá bom, péssima ideia. Não vá.

Emma fechou os olhos, respirou fundo e os abriu em chamas.

— Não sei como descobriu que eu estava escondida aqui, então, já que me entregou a carta da sua patroa, pode ir, só me prometa que não vai contar nada sobre esse sobrado.

— Você tem a minha palavra. — disse Belle, enfiando as mãos nos bolsos da roupa que vestia.

— Ótimo, porque se você der com a língua nos dentes, vai ficar bem encrencada comigo, ouviu?

A empregada assentiu e se virou, indo na direção da porta. Ela deixou o sobrado furtivamente.

Emma agora estava sozinha com uma carta de Regina na mão, decidindo se ia abrir ou jogar no lixo. Fez um juramento enquanto se sentava no sofá desarrumado. Não deixaria que Regina se aproximasse dela de novo, então aquela seria a última carta da escritora que iria ler. Depois de muita reflexão interna acabou por abrir a carta e ler palavra por palavra do que entendeu como um apelo de mulher arrependida. Embrulhou a carta de volta no envelope, e voltou a se encolher debaixo das cobertas no sofá. Sentia como se Regina estivesse ali de joelhos lhe pedindo o perdão. Era tudo o que enxergava, uma mulher linda, sorrindo para ela, beijando suas mãos e seus pés. Delirava ao ponto de sentir o cheiro de Regina, o perfume ao alcance da respiração. Regina ali, ao alcance dela, dos braços dela, envolvendo seu corpo inteiro. E um beijo. Um beijo suave, longo e quente. Um beijo da mulher que ainda amava.

Emma tinha adormecido outra vez.



No dia seguinte, Regina teve uma grande enxaqueca por passar metade do seu tempo ajudando na organização do evento que aconteceria naquela noite para promover Daniel e suas obras. Quando o último quadro escolhido a dedo pelo marido deixou a mansão no caminhão da prefeitura com destino ao centro cultural, ela pôde respirar um pouco.

Daniel estava ajudando na medida do possível a colocar as coisas em ordem dentro e fora do atelier e encontrou a esposa no quarto, terminando de se arrumar, de costas para a porta, a frente do espelho na parede, ajeitando o laço do sobretudo de couro. Nada de anormal no contraste entre o couro e a roupa justa e a maquiagem, assim como os saltos altos que deixavam ela cinco centímetros maior. O último detalhe era o perfume que Daniel observou ser o favorito dela, e não o que ele tinha lhe dado no último natal.

— Algum dia eu disse o quanto você é bonita? — a voz grave dele a assustou.

Regina o olhou por cima do ombro.

— Talvez. Eu não me lembro. — ela soou seca. Se virou e mostrou o que ele iria vestir, em cima da cama. — Tome seu banho e se apronte, daqui a pouco devemos sair.

Antes que Daniel pudesse se aproximar, Regina matou qualquer possibilidade do marido de flertar com ela. Ele queria um beijo, cheirar seu pescoço e dizer algumas coisas íntimas no ouvido dela, mas ela o confundiu com a forma de falar, mais uma vez. Ele murchou.

— Quero dizer que estou muito feliz com o que vai acontecer logo mais. Só há um problema.

Regina jogou um lenço sobre o ombro e resmungou a pergunta.

— Qual?

— Você.

Ela ergueu os olhos de volta para ele.

— Não estou entendendo.

— Nem eu, querida. O que há? Você ainda não me disse por que teve aquela crise antes de ontem. O que está sentindo?

Regina engoliu em seco.

— Esqueça, Daniel, foi apenas um momento de fraqueza. Eu vou me recuperar.

Ela tentou se afastar o máximo que podia até ele desistir de olhar para sua cara e procurar uma resposta para sua crise de choro e quase lhe ocorreu uma nova quando misteriosamente sentiu como se Emma estivesse ali olhando para ela. Daniel às vezes tinha atitudes familiares, ou seria o contrário, Emma tinha atitudes familiares, como se já tivesse visto coisa igual num deles. A diferença era que um ela não amava mais, por isso qualquer lembrança que Daniel trouxesse no mínimo dos gestos iriam chocar Regina, trazendo aquela sensação horrível de tê-la perdido.

O homem desistiu por enquanto, caminhou até o banheiro se fechando. Seria o momento perfeito para Regina questionar Belle sobre a carta, mas a moça já havia deixado a mansão para voltar em casa e se arrumar para a exposição, já que afinal, tinha sido convidada pelo próprio patrão.

Regina teve um calafrio, deixando o quarto para esperar o marido no andar de baixo.

. . .

O novo centro cultural da cidade estava cheio. O prefeito fez um breve discurso antes das portas do salão se abrirem para a multidão, em fim, conhecer as obras de Daniel Colter. Regina e o marido estavam recebendo os cumprimentos das pessoas logo na entrada, percebendo que Mary Way Village possuía muito mais habitantes do que achavam. Parecia que todos da cidade estavam lá para a reinauguração do centro, como se fosse a maior atração em décadas para a cidade. De fato, uma exposição de um artista como Daniel jamais seria esperada por qualquer leigo que morasse naquela cidadezinha, por isso, o casal entendeu quando o prefeito disse que os painéis seriam um sucesso.

Algum tempo mais tarde, quando os políticos e curiosos a deixaram em paz para procurarem a atenção do artista da noite, Regina se afastou para buscar qualquer coisa que pudesse molhar sua garganta. Encontrou um garçom servindo espumante e mandou a bebida para dentro de uma só vez. Teve a primeira chance de observar os quadros do marido em fila, mas a sensação não foi a melhor, porque mal se lembrava daqueles quadros ou de quando Daniel os pintou. Andava entre uma fila e outra, assentindo para as pessoas que passavam por ela vez ou outra, mostrando um sorriso discreto que disfarçava sua real vontade de sumir dali. Parou para reabastecer sua taça de espumante quando seu olhar esbarrou no do prefeito, que lhe fez um brinde de longe, erguendo a taça. Ela apenas retribuiu o gesto e se afastou para longe da vista dele, e fez isso com tanta pressa que de repente sentiu o estômago embrulhar, efeito de bebida e estômago vazio. Teve de parar perto de uma mesa e se apoiar.

— Sra. Mills? Sente-se bem?

Regina ouviu uma voz masculina suave, sabia de quem era.

— Sim, foi apenas uma tontura. — Ao se virar viu o homem. — Não se preocupe, sr. Gold.

O homem sorriu para ela, como sempre mal intencionado.

— Tem certeza? Parece um pouco pálida. — ele segurou a mão dela. — E está gelada. Minha nossa, com o perdão da palavra, mas você parece um cadáver. — Soltou-se dela em seguida. — Venha, sente-se ali, há um lugar.

— Não, eu estou bem. Eu disse para não se preocupar. — Regina disse, enfática o olhando. — Com licença.

A mulher se afastou outra vez, porém, era verdade que estava tonta, pálida e gelada. Sentiu a boca formigar, o estômago vir na garganta e um gosto amargo nos lábios. Tinha que chegar até o banheiro.

Percebeu que havia se afastado demais do marido e do restante das pessoas, parecia alheia a tudo, estava perturbada. Regina ainda se lembrou que podia estar se sentindo mal porque não comeu nada o dia todo, era uma sensação horrível. Por alguns minutos ficou parada, vendo a movimentação das pessoas no salão em meio aos quadros do marido. Ninguém conseguia vê-la de onde estava. O salão de repente parecia mais agitado, as pessoas apontando para os quadros, Daniel mais além rindo, sentado em volta de meia dúzia de homens de terno que riam juntos, mas nenhum som de risada conseguia ser ouvido pela mulher.

Tentando voltar ao mundo real, Regina abanou a cabeça. A primeira coisa que sentiu foi medo, mas não um medo qualquer, medo do que poderia acontecer. Pensou ter visto uma sombra passar pelo seus olhos, entre as pessoas. Alguém acenava, uma jovem de longe, chamando-a. Uma bela alucinação.

— E-Emma? —a voz soou fraca. Ainda de pé, deu um passo, porém, o efeito da bebida tornou sua visão ainda mais turva, o convite perfeito para uma alucinação perfeita.

Lentamente, as pessoas começavam a deixar o centro cultural, como peças desordenadas de um quebra cabeça se separando. Mas uma peça continuava de pé entre as pessoas que saiam. Era Emma. Com certeza estava enxergando Emma. A moça acenava, pedia sua mão para irem embora dali logo: Venha, Regina. Venha apenas.

O torpor inebriante tomou conta de todo o seu corpo. Quantas taças tinha bebido mesmo? No entanto, a mente queria permanecer lúcida. Regina piscava uma, duas vezes e Emma começava a ficar transparente, triste, porque sua amada não respondia. Apesar da tontura, tudo agora parecia fazer sentido. Mas, subitamente Emma desapareceu e tudo ficou cinza.

— Regina? Você está se sentindo bem? O que está acontecendo? Fale alguma coisa... — alguém se aproximou, e a voz ecoava como se estivesse longe demais.

Ela tentou achar de onde vinha, olhou para os lados, franziu a testa. Tudo cinza.

— Eu...

Regina sentiu as pernas bambas, o peso do próprio corpo vencer e o barulho da taça de bebida se espatifando no chão..

— Emma — conseguiu balbuciar, e com o mínimo de consciência que lhe restava, viu rostos olhando para ela deitada no chão.

Dois segundos depois, Regina fechou os olhos e entrou num pesadelo.


Notas Finais


Quem está sofrendo mais? Regina ou Emma. Acho que isso ficou evidente.
Esse capítulo está dividido, então aguardem para o mais breve possível a segunda parte, certo?

Todo o meu carinho para todas que comentaram no último capítulo.

Vejo vocês no próximo. Fiquem bem.


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