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História Intimamente Emma - Uma voz familiar


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas leitoras.

Eu acredito que nesse capítulo vocês vão fundamentar algumas teorias se já não criaram algo na mente de vocês sobre um dos mistérios dessa fanfic.

Façam uma boa leitura.

Capítulo 24 - Uma voz familiar



Regina decidiu seguir o conselho de seu advogado em Nova York e buscou a ajuda de um profissional de Mary Way Village para auxiliá-la no processo do seu divórcio com Daniel. Belle lhe contou sobre uma experiente advogada que inclusive dava aulas para a universidade de East Bay – a cidade vizinha – e que recentemente montara um escritório no centro da cidade, o primeiro nome ela não se lembrava, contudo ela tinha o telefone anotado na agenda.

O escritório da sra. De Vil ficava em um dos comuns prédios da rua principal, e curiosamente por dentro não era nada comparado a fachada. Havia um conforto fora do normal naquele recinto, apesar dos assuntos tratados com a advogada nem sempre serem normais. Regina esperou pouco na sala de esperas, chegou pontualmente às dez após conseguir marcar uma reunião com De Vil bem cedo naquela mesma manhã. Houve empatia entre as duas logo no momento em que se viram e apertaram as mãos. Regina era só mais um entre os mais de dez casos de divórcio que De Vil cuidou na carreira, ela sabia perfeitamente como cuidar dos clientes, em especial o que falar para convencê-los a não desistir da ideia se o divórcio fosse mesmo necessário.

— Primeiramente, eu sinto muito que esteja aqui para tratar de um assunto tão chato, sra. Mills. — dizia a advogada sentada numa poltrona e passando de uma mão para a outra uma caneta esferográfica. — A propósito, a senhora decidiu adotar o sobrenome do cônjuge?

— Sim, eu uso o sobrenome do meu marido para fins profissionais na verdade. A letra C que aparece junto ao meu sobrenome nos livros é do Colter que pertence a ele. — Regina respondeu à pergunta, deixando sobre a mesa da advogada uma xícara de café fresco que aceitou antes de começarem a conversar.

A advogada fez uma anotação em um papel sobre a mesa, voltou a olhar para Regina.

— Certo. Pelo o que me contou, vocês dois não possuem filhos, correto?

— Uhum. — Regina assentiu. — Não temos filhos. Para dizer a verdade, em um momento pensamos em ter uma criança, adotar por conta do meu problema com infertilidade, depois essa ideia acabou passando batida. Não pude engravidar, nenhum tratamento dava certo.

— Compreendo. — De Vil parou para pensar. — Opinaram por comunhão de bens no contrato de casamento?

— Sim, nos casamos em comunhão de bens. — Ela assentiu novamente para a advogada de cabelos louros e olhos claros. Quase se perguntou se ela não era uma Swan, embora o sobrenome não confirmasse  isso. — Suponho que eu tenha direito de receber uma pensão.

— Para isso que devo confirmar algumas informações, sra. Mills. Por um acaso a senhora saberia me informar sobre o faturamento anual do seu marido? Poderíamos montar um acordo e conversar com ele sobre tal.

— Quero abrir mão de qualquer quantia da qual eu tenha direito. Não pretendo tirar dinheiro algum do Daniel.

De Vil olhou para ela com surpresa.

— Mas no atual momento qualquer quantia seria importante para a senhora se manter confortável.

— Posso trabalhar, tenho projetos, um livro para terminar e ser lançado e além disso eu possuo uma poupança que me dá alguns meses de tranquilidade. — falou Regina com propriedade.

De Vil achou melhor Regina não se precipitar, tinha uma vaga noção do quão orgulhosas algumas mulheres poderiam ser, e se esse fosse o caso da escritora, em breve ela mudaria de ideia se o futuro ex-marido oferecesse uma quantia generosa para ela no final das contas.

— Façamos o seguinte, enquanto eu providencio a documentação para o divórcio podemos pensar se realmente não é necessário pedir uma pensão. Caso não mude de ideia, você poderá apresentar o documento a ele e vai bastar a assinatura para entrarmos com o pedido de separação.

Regina concordou com a cabeça.

— Para mim está perfeito assim.

A advogada terminou de fazer uma anotação e num movimento nada discreto puxou do bolso um maço de cigarro caro. Ela não se importava em fumar na frente dos clientes se estivesse se sentindo à vontade para tal. Regina não lhe dera liberdade, porém De Vil sentiu que poderia confiar na nova cliente, ainda mais depois que se lembrou de ter lido um dos livros que ela lançou no início da carreira. Tiveram a oportunidade de falar sobre esse livro, e a escritora ficara realmente feliz em saber que alguém naquela cidade além de Emma tinha lido uma de suas obras descompromissada.

— Aceita um cigarro, sra. Mills? — perguntou a advogada e Regina acabou aceitando a cortesia antes de ir embora.




Na volta para casa Regina cruzou a avenida da orla sem pressa para ver se conseguia encontrar Emma pelos arredores do Hotel. Ouviu o barulho que o celular fez quando uma mensagem chegou e encostou o carro no recuo. O nome de Emma apareceu no visor e a mulher não hesitou em ler o que a moça tinha escrito, pensando que devia ser um aviso dela sobre o lugar onde estaria, pois tinha combinado com a mulher de almoçarem juntas, mesmo que tivessem de dividir no carro ou em qualquer outro lugar reservado a marmita que Emma levava. Regina não estava se importando com simplicidade, falta de luxo, se importava em não alimentar a saudade que sentia de Emma quando deixava a jovem sozinha para resolver sua vida aos poucos, com cuidado. Mesmo que lhe faltasse tudo o que era do seu costume requintado, ela só queria estar com Emma.
Mensagens:
De: Emma
Para: Eu
Assunto: nenhum

Encontre-me no bistrô.”

Regina encontrou Emma na última mesa do canto direito do bistrô, de costas para a entrada e indiferente antes de vê-la chegar. A moça levou um pequeno susto quando a mulher pôs uma mão sobre seu ombro.

— Emma?

Swan levantou o rosto para Regina, acompanhando ela se sentar na sua frente e pousar a bolsa que carregava na mão sobre a cadeira ao lado. Com os olhos, sem uma palavra, ela perguntou como estava, buscando rapidamente a mão que lhe afagou o ombro antes sobre a mesa.

— Está tudo bem comigo. Tenho uma boa notícia, estive com aquela advogada, De Vil. Ela me disse que em breve terei o documento para pedir o divórcio ao Daniel. — Regina contou portando um animo incomum na voz, alguma palavra deve ter saído mais alta e o Barman as olhou do balcão.

— Fale mais baixo. — pediu Emma. — Isso é ótimo! — Ela sorriu, subitamente confiante, mas logo voltou a fazer uma cara de preocupação e desconfiança juntas.

— Sim, eu concordo. Olha, assim que ele assinar o documento, faço questão de aprontar minhas malas e sair daqui com você o quanto antes.

— Ela não te disse quanto tempo isso pode demorar?

— Não exatamente, por quê?

— Oh, céus...

— O que houve? — Regina sentiu a preocupação no tom da voz da moça e seus olhos dispersos entregavam mais alguma coisa. — Por que está assim?

Emma olhou diretamente nos olhos de Regina, começando a contar.

— Hoje, bem cedinho fui na Floricultura e meu tio me pareceu muito esquisito.

— Esquisito como? — questionou Mills.

— Ah, estranho. Diferente de antes da última vez em que o vi. Ele estava nervoso, deu uma bronca na Zelena porque ela chegou dois minutos atrasada. Daí em diante ele pareceu ainda mais estranho, começou a gaguejar e por um momentinho eu senti que ele tinha alguma coisa para contar e faltou coragem.

Regina ficou calada.

— Ele sabe de alguma coisa que não pôde me falar, tenho quase certeza. — disse Emma. — E o que quer que seja é sobre a Ingrid.

— Será? — perguntou a escritora.

— Só pode ser. Ah, chega me dar um mal estar, um frio ruim no estômago quando penso nela. E se ela decidiu voltar de uma vez, hein, Regina? O primeiro lugar que vai procurar é a minha casa. Sei que uma vez eu te falei para não fugirmos, é que agora estou sentindo algo tão ruim que começo a mudar de ideia.

Regina ergueu as sobrancelhas.

— Acha que devemos fugir agora? Hoje? Meu amor, são algumas suspeitas, não tire conclusões precipitadas.

— Não estou tirando conclusões precipitadas, estou confiando no meu taco, pois sempre foi assim. Como se chama quando alguém meio que sonha, tem umas visões ou consegue sentir que algo ruim vai acontecer?

— Premonição.

— Isso! É isso que eu sempre sinto quando essa mulher volta. Meu tio deve ter recebido uma carta dela e mais dia ou menos ela estará aqui em Mary Way para infernizar a vida de todo mundo. — A voz de Emma se tornou indelicada.

— Não seja radical, menina. Sua mãe sabe que você não quer vê-la, ela no mínimo pensaria duas vezes antes de voltar. — Regina se mantinha atenta a Emma.

— Do jeito que ela é, ela se sente no direito de ir e voltar quando quer, não importa o que eu diga ou o que eu faça para impedir. Eu vou voltar na loja e perguntar para Mary o que aconteceu. — decidiu a jovem.

— Não, não faça isso. — Regina apertou seus dedos nos dela. — Evita pensar na sua mãe, nos problemas que podem impedir a gente de ir embora dessa cidade. Agora que estou tão próxima de conseguir me afastar legalmente do Daniel, por favor, peço que seja um pouco paciente.

Emma olhava para o próprio reflexo na parede espelhada atrás de Regina. Descobriu que precisava retocar a cor do cabelo, pois os fios mais claros e naturais começavam a aparecer no alto da cabeça. De verdade estava descrente em esperar tudo ficar certo com Regina para depois desaparecerem. Mas Regina era uma mulher poderosa no sentido de conseguir convencer apenas com um toque carinhoso em sua mão. Emma conseguia sentir o calor dos dedos da amada sobre os seus, uma energia de confiança dizendo “tudo ficará bem uma hora, meu amor”.

— Seja sincera, okay? Se você estivesse no meu lugar, iria me esperar para sairmos dessa cidade seguras?

Regina não hesitou em responder a essa pergunta.

— Você sabe que sim. Eu morreria esperando por você.

Emma a olhou de maneira sofrida.

A indignação que a mantinha firme desapareceu e ela baixou o rosto sentindo alívio pela resposta que ouviu da mulher. Algumas pessoas um pouco adiante numa mesa se levantaram em direção a saída sem ver as duas trocando carinhos. Regina alisou suavemente a maçã do rosto de Emma, a boca e o queixo, pedindo ainda mais calma para ela.

. . .

Regina pisou em casa logo após a hora do almoço expirar. Ia subindo as escadas, pensando em tirar um cochilo a tarde inteira, então depois começaria a escrever um novo capítulo do romance Intimamente, quando Belle apareceu no pé da escada antes que ela chegasse na metade do caminho.

— Regina — chamou a empregada, limpando as mãos no avental de cozinha que vestia.

— Sim? — Mills parou na escada.

— O Daniel pediu para avisá-la que ele quer falar com você. Está no atelier nesse momento a esperando.

Já pensando no que o futuro ex-marido iria lhe dizer, Regina bateu na porta antes de entrar e viu Daniel sentado na frente de uma tela, arriscando os movimentos do pincel na destra com uma facilidade que há anos ela não presenciava. Ele a saudou quando ela cruzou a porta, indiferente por um instante. Regina não soube explicar, mas enxergou Emma no lugar dele por um relâmpago de segundo.

— Obrigado por ter vindo. Há dois não vejo você, Regina. Como se sente?

— Eu me sinto bem, e você? — ela sentiu-se tonta de repente com aquela visão de Emma que logo se dissipou. — Em que posso ajudar? — tentou se manter séria.

— Preciso contar uma coisa a você. — Daniel continuou pintando, até que finalizou uma espiral numa das pontas da moldura, uma finalização em cor escura da sombra de um rosto sobre a água. Limpou o pincel num pano umedecido e virou-se na cadeira para Regina. — Quer se sentar? Creio que você ficará um tanto surpresa.

— Não, eu estou bem de pé. Você pode ser breve, por favor? — pediu ela, respirando fundo e sentindo a infestação do cheiro de tinta pelo recinto. Sabia que ia sair daquele quarto com dor de cabeça.

Daniel tirou o avental de pintura, olhando Regina de cima a baixo.

— Deixe-me tentar explicar do início então. — disse ele. — Três dias atrás estive em um jantar de negócios com o Prefeito White. Ele havia ligado para cá solicitando que você e eu comparecêssemos a esse jantar no dia em que estivéssemos disponíveis. — Daniel passou a mão pelos cabelos bem penteados para o lado, fitou Regina, com seus olhos muito azuis e continuou. — Tive uma desconfiança de que o Prefeito quisesse fazer um acordo sobre você e não estava enganado.

— Não consigo entender nada do que você está dizendo. — disse ela.

— Logo vai entender, aguarde eu chegar no ponto alto da conversa que tive com ele. O Prefeito parece ter se encantado com você desde a primeira vez em que fomos juntos ao Town Hall. Ele fez um plano de oferecer a mim um milhão de dólares. A princípio, como se você fosse um edifício magnânimo, ofereceu cem mil dólares de entrada para ter a sua presença num jantar romântico e se concordasse, viajariam e providenciariam o divórcio, depois eu receberia o dinheiro da forma que eu quisesse, em notas, cheque, vale. Concordei em ir até o restaurante do Píer, aquele chique, atraindo ele com a informação de que você estaria presente. Quando cheguei ele ficou surpreso em não ver você comigo, assim ele foi o mais breve possível, oferecendo tudo isso.

Regina estava boquiaberta, bestificada e mais indignada do que Emma mais cedo.

— O Prefeito ofereceu um milhão de dólares para ter um encontro comigo?! — Ela sorria com ironia. Desfilava pelo atelier de Daniel com os braços cruzados, de um lado para o outro tentando absorver aquela história. — Jesus!

— Foi preciso ser um pouco ponta firme com ele para fazê-lo entender que você não está à venda e nem gostaria de ser rotulada com um preço como qualquer prostituta que certamente ele anda acostumado a encontrar. — Daniel acompanhava a surpresa da esposa, sem se vangloriar de ter defendido ela.

— Jesus — Repetiu Regina novamente. Parou de costas, ainda boquiaberta. — Você disse isso a ele?

— Disse isso e outras coisas. Era isso que eu precisava contar.

— Olha, me desculpe, Daniel, se você espera que eu diga alguma coisa... Não sei, um obrigada talvez. Que história maluca.

— Não estou mentindo, nem esperava que fosse me agradecer para ser sincero.

— É claro que eu devo agradecer e não estou duvidando, eu apenas estou assustada, é isso. Notei o jeito como ele me olhava todas as vezes em que nos encontramos, uma inclusive na joalheria e ele estava lá me pedindo para ajuda-lo a escolher um presente.

— Provavelmente esse presente era para ser seu.

— Ou como você disse, para qualquer prostituta que ele está acostumado a se envolver. Eu jamais daria uma brecha para ele pensar que poderia ter algo comigo. Que homem maluco.

— Não se preocupe, eu tenho a impressão de que ele não vai voltar a importunar nós dois com essas conversas. — Daniel colocou as mãos dentro dos bolsos da calça.

Ela devia agradecer Daniel ainda mais do que fez, porém havia consigo uma pontada de vergonha por ter entrado com o pedido de divórcio. Pensou em contar a ele outro dia sobre a conversa que teve com a nova advogada, então pela atitude e humor dele, pensou que esse devia ser o momento certo para alertá-lo de que devia contratar um advogado para ele. Mudaria o assunto da água para o vinho, e se não fizesse isso agora não teria coragem tão cedo. Mas e se estivesse sendo insensível? E se acabasse criando nele uma recaída? Será que ele suportaria a notícia? Ela respirou fundo, se virou depois de se recuperar e disse de uma vez por todas.

— Há algo que preciso dizer... Eu vou pedir o divórcio.

Daniel não disse nada.

Ele passou um minuto inteiro calado com ela diante de si, deitando a ele um olhar de pena, e ele sentia como se Regina estivesse pedindo perdão por ter sido naquela tarde, ali em seu atelier. Ela estava prestes a desabar num choro compulsivo e Daniel desejou poder abraça-la para dizer que entendia, mas ele não fez isso, ele se manteve sentado fitando-a se virar e sair antes que os olhos expulsassem as lágrimas deles e rolassem pelas bochechas maquiadas daquele rosto pálido.




Desde que chegou na cidade, Ingrid estava presa no sobrado do irmão e da cunhada, esperando o momento oportuno para procurar por Emma. Não era o tipo de pessoa acostumada a gastar seus dias enclausurada em um apartamento, não fazia isso nem mesmo nos dias de folga que acumulava em East Bay. Ela sempre dera um jeito de sair para caçar suas vítimas, pessoas que pudessem pagar sua bebida em algum bar, mas não admitia que era uma mulher bastante predisposta ao alcoolismo e qualquer mal que esse tipo de coisa fizesse ao cérebro.

Estava ficando tarde quando ela escolheu descer e andar pela orla da praia. Estava tão diferente que quem passou por ela na calçada achou ser mais algum visitante de fora que passeava por ali. Ninguém sequer olhou na cara dela enquanto andava pelo comércio e via as portas se fechando com o final do expediente das lojas. A Floricultura do irmão ficava aberta até as sete e meia da noite, diferente da loja de carros usados do sr. Gold, que ela conhecia muito bem, já com as portas fechadas curiosamente adiantada hoje. E Ingrid teve apenas uma oportunidade tímida de ver a cidade onde cresceu continuar com os mesmos hábitos de vários anos atrás. Era exatamente assim quando ela deixou Mary Way Village após Emma ter nascido. Sempre que voltava fazia uma visita aos velhos conhecidos, dessa vez não seria diferente, por isso anotou na palma da mão o número do sr. Gold que aparecia no vidro da loja dele. Escurecia quando ela voltou a Floricultura, mas a caminhonete que David usava para transportar mercadorias não estava parada na frente da loja, nem o próprio David estava na loja e Mary também não se encontrava. A porta com a placa de “Aberto” a fez entrar para procurar pelo irmão, só Zelena devia estar na loja, e pela primeira vez em anos Ingrid parou para prestar a atenção na Floricultura da família Swan. Um espaço grande, bonito, como uma enorme estufa para qualquer tipo de planta que alguém desejasse. Ela andou pelos corredores fazendo questão de tocar planta por planta, sentindo o cheiro, como se isso fosse leva-la de volta ao passado. Quase se esqueceu que crescera ali dentro, um dia atendeu os clientes e viu o pai pela última vez dentro daquele lugar. Uma nostalgia a envolveu, e se uma pessoa que a conhecesse o suficiente enxergasse isso, não acreditaria no sentimento verdadeiro que seu semblante demonstrava.

Ela se afastou muito da entrada, chegou na banca de orquídeas e notou um descuido em um dos vasos. Foi buscar algo que pudesse consertar o problema com a terra que vasava. A porta da loja se abriu novamente, ela pensou que devia ser David, por isso continuou o trabalho sem olhar para trás.

— Boa tarde. Ou devo dizer, boa noite? Eu gostaria de uma ajuda. Bem, para ser mais exato, sei o que quero e me ajudaria muito se a senhorita me dissesse que ainda a tem aqui na loja. — A voz era de um homem, uma voz penetrante, igualmente suave, mas nessa ocasião, bem no fundo ele soava nervoso.

Ingrid teve um sobressalto. Ela reconheceu a voz. Enquanto ele falava, o som se aproximava. Ela derrubou o vaso que segurava com terra fresca no chão, amedrontada.

— Oh, minha nossa, está tudo bem? — O homem se aproximou mais e Ingrid só pode sentir seu perfume. Era ele, só podia ser o perfume dele, era ainda o mesmo perfume depois de tanto tempo. Ela ficou pálida, sem fala e sem coragem de se virar.

O homem se ergueu com um resmungo, batendo as mãos uma na outra por ter mexido na terra. Estendeu o vaso caído para ela e voltou a falar:

— Deixou isso cair, senhorita. — Ele só conseguia vê-la de costas, ela era loira, os cabelos presos em um coque alto. — Senhorita? Assustei você quando entrei? Senhorita?

Ingrid sentiu que o estômago revirava por dentro. A voz era dele, com toda a certeza do mundo sabia de quem era a voz daquele homem. Então ele a tocou no ombro e ela quase congelou.

Quando ele ia fazê-la se virar para olhar seu rosto, ela correu para os fundos. O homem não entendeu nada.

Zelena voltou a sessão das orquídeas para atender o cliente, o reconhecendo no mesmo momento.

— Olá, senhor, desculpe a demora, é que eu estava mudando uma planta de vaso em outra sessão, em que posso ajuda-lo hoje?

— Ah, como vai? Zelena, sim? — perguntou ele ainda confuso com a moça que saiu correndo há alguns segundos. — Você ainda tem daqueles lírios violeta? Eu gostaria de um ramo para levar.

— Sim, pois não. Venha comigo. — Zelena o guiou pela loja. — Como o senhor se chama mesmo? — ela perguntou.

— Ahm... Daniel, eu me chamo, Daniel.

— Claro, você é o pintor, não é? Eu lembro do senhor, mas lembro especialmente da sua esposa. — A funcionária dizia, recolhendo o pedido de Daniel.

Ele olhou para o final do corredor, entre as folhas de uma Monstera, com a sensação de estar sendo observado. Quem era a moça que fugiu ao invés de atende-lo? Daniel ficou na dúvida. Podia estar vendo coisas que até mesmo ele duvidava.


Notas Finais


Eu aposto um Babalu que vocês estão pensando o porquê da Ingrid ter corrido do Daniel. Mistério, minhas queridas, mistério! Só não deixem essa curiosidade de lado, tudo terá uma resposta.

Fico sempre muito feliz quando vocês falam, comigo, mandam pergunta, falam das teorias e até me xingam por demorar, então não se esqueçam que o espaço está aberto justamente para isso.

Nos vemos no próximo, um beijo grande e fiquem bem.


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