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História Intimamente Emma - Um Delírio


Escrita por: WoundedBeast

Notas do Autor


Olá, amigas leitoras. Estou trazendo esse capítulo novo para vocês e quero muito que leiam até o fim para começarem a entender o que deve ocorrer daqui pra frente na fanfic. Frisando que pode ser que demore um pouco até o grande momento da história, mas enquanto ele não chega, haverá muita revelação em torno de Emma se estão curiosas para saber.
Eu preciso confessar que estou muito contente de ter começado a escrever essa fanfic e ter recebido um bom retorno de vocês. Algumas pessoas que estão lendo são minhas leitoras já de algum tempo, e outras estão conhecendo algumas das coisas que escrevi agora, mas para esses dois grupos o agradecimento é igual. Muito obrigada pela confiança e eu não pretendo parar de escrever.

Não vou atrapalhar mais, façam uma boa leitura.

Capítulo 5 - Um Delírio



Dois dias mais tarde, na loja do sr. Gold, Regina e Daniel haviam escolhido um carro para substituir o que venderam em Nova York. O Plymouth 1978 não era o favorito de Regina; parecia-se com um carro policial, que inclusive ela descrevera muito bem em um de seus romances. Contudo, era um modelo clássico e Daniel ofereceria muito dinheiro para ter um daqueles que não encontraria com tamanha facilidade, pois os que existiam tinham donos que não queriam vende-los. O sr. Gold foi camarada com o casal e cobrou-lhes um preço justo, mas sem delongas, o casal Colter o pagou em espécie, coisa que raramente ocorria naquela loja de carros clássicos e preços salgados.

Quando deixaram a loja, passaram com o carro recém comprado pela orla da praia, próximo do Hotel Hooper onde haviam se hospedado na semana anterior. Regina passava por ali diariamente de taxi, mas o hotel nunca ficou tão interessante desde que Emma começara a trabalhar nele. Ela tinha alguma esperança de encontrar a garota andando pela calçada, distraída ou sozinha como geralmente era. A última vez em que a viu foi uma experiência intrigante. Se conseguisse ao menos ter mais tempo para falar com ela. Ela lhe era muito familiar, mas de onde estava a reconhecendo? Mesmo pensando muito, Regina não encontrava nenhuma resposta. Mas, o mais estranho de tudo era o fato de se sentir instigada a escrever toda vez em que a via. Da última vez, Regina passara toda a tarde em seu escritório. Tinha voltado para casa desesperada com as ideias florescendo na mente, entrando em um estado de transe perfeito e longo, como se a garota tivesse alguma chave para abrir seu baú da imaginação.

A tarde era o período do dia favorito de Daniel, como se precisasse da luz do dia para pintar suas obras de arte. Havia recebido uma encomenda da galeria de Artes de Nova Jersey e trabalhou nela o dia todo, até não ter qualquer força para erguer os braços e continuar os rabiscos de tinta pela tela.

Com muito esforço, se levantou, saiu do atelier e andou pelo corredor. Regina estava trancada no escritório e certamente não queria ser incomodada. Daniel olhava para a porta imponente do recinto, pensando se batia ou não. Uma das mãos tremia medrosa, subindo lentamente até a maçaneta. Os dedos lhe doíam tanto que parecia a morte pensar em mexê-los. Ele desistiu. Largou a porta e deixou que a paz de Regina não fosse quebrada.

Lá dentro, a escritora tentava sem sucesso sair de um parágrafo na segunda parte da história; Sua Suzana tinha que tomar uma atitude drástica para ver novamente a mulher que amava; Regina observava o que escreveu com dúvida. Passaram-se três horas, ela não havia conseguido acrescentar nem duas palavras ao texto, se sentia tão frustrada que apagou o capítulo todo.

Nada naquele momento ia ajuda-la a encontrar o que queria escrever. Ela foi até o pequeno móvel no canto esquerdo do recinto e abriu uma garrafa de Bourbon, despejando metade de um copo garganta a baixo. Só fazia isso se estivesse realmente muito mal humorada.

A dose de uísque fez efeito depressa, e foi tão fatal que ela podia jurar que estava chovendo quando abriu a janela do escritório. Ela colocou mais uma dose generosa no copo e vigiou a cidade minúscula através da linha de árvores no fim da rua. Sua atenção perseguia cada carro a distância, examinando para onde iam, em quais ruas entravam, as pessoas passeando de um cruzamento para o outro, mais parecendo formiguinhas minúsculas vistas de longe. Dobrando a curva do fim da rua, ela viu alguém vindo, uma mulher, uma moça de cabeça baixa e cabelos longos balançando para o lado. Sabia quem estava vindo ali, se aproximando, crescendo em sua vista, mas ainda assim pequena. A moça vinha com pressa, segurando os próprios braços por baixo de uma grande jaqueta e fazia sentido pois estava esfriando. Quando a moça se aproximou da casa quase na esquina, Regina perdeu sua visão. Pensou em correr para o andar de cima para ver a moça andar até o casarão em que vivia naquela mesma rua, mas adiantaria vigiar a moça? Tinha feito a mesma coisa ontem, ela não fazia ideia de que estava sendo observada, o que ganharia a perseguindo com o olhar na direção do casarão?

Regina deixou o copo sobre a cômoda, fechou a janela, se encostando ali a fim de repensar quanto havia bebido de uísque.
...

Emma caminhou sob a fina chuva até sua casa. As estações eram inconstantes em Mary Way Village, mas bastava chegar o fim da tarde que a chuva fina ou grossa castigava, em qualquer época do ano. Pelo menos quando entrava em casa se sentia um pouco mais aquecida. Tinha vindo mais cedo para casa, ainda pensando se aceitaria o convite do sr. Gold para jantar. Ela se lembrava, ainda claramente, da forma sugestiva com a qual o homem lhe ofereceu o fusca amarelo. Bastava aceitar jantar com ele e teria o carro. Às vezes, achava que Gold tinha uma arma secreta para seduzir as garotas com quem saía, ele nem era assim tão atraente. Uma vez ela perguntou à Ruby Lucas o que ele fazia com as moças depois dos jantares que pagava para elas, ela disse o que era muito óbvio, as levava para o carro e se topasse iriam para a casa dele ou um lugar mais discreto como o Habbit Hole, um clube de luxo nos limites da cidade. Em seu caso, ele com certeza tentaria convencê-la a se deitar com ele em troca do carro, mas Emma não era como sua mãe. Ela tinha sempre que se lembrar disso.

Procurou reportagens sobre aquele homem asqueroso nos jornais, e encontrava nada mais que fotos de sua posse como vereador na prefeitura da cidade. Olhar para a cara daquele homem lhe causava náuseas, por isso jogou os jornais fora, mas foi aí que se recordou: Valeria a pena se vender para ter um carro?

Emma pegou o telefone e ligou para Gold, sabia o número dele de cor graças a enxurrada de propagandas de sua loja, espalhadas pela cidade onde quer que fosse. Ela teve uma ideia. Ia ela mesma preparar o jantar, bem ao gosto dele. Poderia perder o fusca, mas valeria a pena ver a cara daquele homem sendo enganado.

Refletiu se iria mesmo ligar para ele, não teria volta se ele aceitasse. Discou o número e colocou o telefone no ouvido. Chamou duas vezes, até que ele atendeu.

— Loja de Veículos usados Gold, em que posso ajudar?

— Alô, sr. Gold? Aqui quem fala é Emma. Sobre a oferta que me fez de jantar com o senhor, eu tenho uma nova proposta.

...

Na tarde seguinte antes de ir para casa, Emma andou até o mercado com uma lista de compras e vontade suficiente de pôr seu plano em prática. Aquele seria o melhor macarrão à bolognesa que já preparou, pois dessa vez haveria um ingrediente especial. Carregava uma cesta na mão direita, fazendo algum esforço para manter o peso que aumentava com tudo o que colocava dentro.

Ela já tinha enchido a cesta quando foi buscar o último e mais importante item da lista do jantar que faria para o sr. Gold. Entrou na sessão dos condimentos e achou o que queria, mas quando girou os pés para voltar, uma figura surgiu empurrando um carrinho cheio, parecendo bastante distraída.

Emma sorriu, sentiu vontade de falar com ela e andou até a pessoa.

— Jamais imaginei você fazendo compras. Não tem cara de dona de casa preocupada com isso. — disse Emma. — Deixa eu adivinhar, você ainda não tem uma empregada, não é? — Ela olhava para Regina se lembrando da folha que achou no quarto do hotel. Se lembrou também que estava sentindo uma leve certeza de que era ela a dona da letra que viu.

— Ah, pois é, eu estou sem empregada. — respondeu Regina, sentindo o coração se apertar só por ter visto a moça. — Você tem uma boa percepção da realidade. Eu por mim odeio supermercados, só estou aqui porque mais um pouco meu marido e eu passaríamos fome.

A moça deu uma risada, colocando a cesta que segurava no chão.

— Você tem senso de humor.

Regina meneou a cabeça.

— Hoje em dia é preciso viver com senso de humor. — ela desviou o olhar, pegou alguma coisa da prateleira e coçou a própria nuca.

Emma assentiu. Olhou a mulher de cima a baixo, sem receio.

— Se a senhora quiser, posso passar o contato de uma amiga minha. Ela trabalhava na cozinha e arrumação do Hotel Hooper, pode lhe ser útil.

A mulher levantou os olhos para a garota e prestou atenção no que ela disse.

— Certo, muito bem, estou muito precisada de uma pessoa que possa trabalhar integralmente na minha casa.

— A Belle é perfeita para isso, eu falo com ela. — Ao que Emma disse isso, jogou os cabelos escuros para trás os balançando para o canto esquerdo do rosto. Regina se perdeu na cena, pensou ter visto aquilo em outro lugar, pois era muito familiar. Viu Emma balançar os cabelos em câmera lenta e de repente tudo ficou mudo, com a moça repetindo o gesto milhares de vezes. — Senhora? Ah, desculpa, eu me esqueci do seu nome... Regina. — Emma a chamou e a fez acordar.

— Desculpa, é que eu estava pensando em outra coisa. — disse Regina, apertando os olhos com as pontas dos dedos.

— Sei. — Emma molhou os lábios com a própria língua.

Ela percebeu o quanto deixou Regina perturbada, e quis rir da surpresa que viu em seu rosto, embora estivesse admitindo para si própria que aquele era um belo rosto.

Desdenhando a súbita vontade de escrever sobre aquele singelo balançar de madeixas escuras, Regina acabou se deparando com a cesta de Emma ao chão numa das vezes em que tentou não olhar para a garota.

— Tem muitas coisa aí dentro. Isso é seu?

— É sim. E está começando a ficar pesada. — Emma recolheu a cesta.

 A mulher pensou rápido.

— Estamos um pouco longe de casa, eu posso dar uma carona a você.

— Ah, é? Hum... — Emma pareceu surpresa com a oferta, mas apesar de conhecer Regina há poucos dias, ela lhe era centenas de vezes mais confiável que muitos moradores de Mary Way Village. A moça sorriu e agradeceu. — Eu adoraria se não for incomodá-la.

No caminho para casa, Regina tentava se segurar para não perguntar sobre a folha. Emma estava sentada no banco do carona, fuçando na lista telefônica que tinha em seu celular, atrás do número de Belle French. Um caminho que não devia levar muito para ser feito até Blue Hill começava a ficar longo e Regina não sabia o que fazer para controlar sua curiosidade sobre a moça ao seu lado. Felizmente, ou infelizmente por um lado, a garota notou o desconforto da sra. Mills e não foi covarde de questionar o que vinha à mente.

— Se sente bem, Regina? — ela a olhava de lado, quase sem precisar virar a cabeça para vê-la.

— Claro. — Regina respondeu, assentindo depressa.

— Não vai me perguntar se eu achei o autor da folha perdida?

Regina se perdeu no caminho de volta para casa depois da pergunta, mas enquanto a questão pairou entre as duas, escolheu responder a moça.

— Não. Você já encontrou o autor, para que eu deveria perguntar de novo?

— Você acha que eu já encontrei a pessoa que me descreveu? Acha mesmo?

— É o que parece. — Regina achou a rua certa novamente, seguia com os olhos vidrados adiante.

— Por que me parece que você não é uma pessoa feliz? — Essa pergunta soou espontânea, mas Emma estava querendo fazê-la desde a primeira vez em que a viu.

Regina não disse nada, apenas continuou fazendo o caminho para o bairro delas.

— Quem cala consente. — afirmou Emma acidamente.

O carro parou de repente e Emma se assustou, voltando a olhar para a frente. Se deu conta de que haviam chegado, na porta de sua casa.

Regina continuava a olhar para a frente, mas agora, sua cara estava fechada e reclusa.

Emma olhava para ela de lado com medo. Queria pedir desculpas e ao mesmo tempo ouvir uma resposta da mulher. Sua mão escorregou até a maçaneta do carona, pronta para sair.

— Eu não sou feliz. — disse Regina finalmente. — Nem um pouco feliz.

Ela apertou as mãos no volante e engoliu em seco o nó que já subia pela garganta. Virou o rosto para Emma.

— Obrigada por me dar uma resposta e pela carona. — A moça disse, abrindo a porta ao seu lado, porém antes, ela tomou uma atitude. Se esticou e beijou o rosto da mulher na bochecha, só então saiu e pegou o saco com suas compras no banco de trás do veículo. — Eu espero sinceramente que a senhora seja feliz de novo. — Emma deu a volta, indo para o portão de sua casa.

Regina estava vermelha, espantada com a espontaneidade da jovem. Com o mínimo de coragem, olhou para a casa. Notou como parecia maior com a proximidade; tinha um jardim pequeno e bonito; parecia antiga com detalhes novos e bem feitos na fachada; Imaginou como devia ser por dentro.

Emma acenou para ela com a mão livre e, depois de passar pelo portão, esperou ela sair com o carro.

A mulher virou o rosto para que a garota não visse como estava corada e se foi.

O carro se afastou até a outra ponta da rua onde a mulher vivia. Emma viu o carro sumir na garagem da mansão e sentiu uma inexplicável ausência. Entrou para casa, tentando esquecer como se sentia vazia quando se separava de alguém, por mais simples e ingênuo que fosse o encontro ou ocasião.




O plano de Emma era simples: Fazer o sr. Gold passar mal. Ela não era ainda um grande exemplo de esperteza na hora de traçar um plano, mas pregar peças devia ser seu segundo nome. Estava na hora daquele homem parar de importunar as garotas da cidade e ela definitivamente não seria mais uma vítima da sedução dele. Ia dar ao sr. Gold uma lição que ele dificilmente esqueceria.

Ela tinha preparado o que sabia fazer de melhor quando o assunto era comida, e não faltava mais nada nos pratos quando acendeu o par de velas sobre a mesinha de jantar, perto de uma das janelas da sala. Nesse instante viu o carro escuro de Gold estacionar perto do meio fio da entrada de sua casa, ele havia chegado pontualmente às oito.

O homem veio bem vestido, perfumado e tinha até aparado os cabelos para o encontro da noite, foi o que Emma viu ao abrir a porta para ele, o livrando do esforço de tocar a campainha. O jeito como ele a olhava em menos de um minuto em que a viu já a fazia sentir náuseas. Emma pensou que seria divertido na hora em que ele começasse a passar mal por conta do molho do macarrão. Ele a cumprimentou com um beijo no peito da mão e mostrou-lhe um embrulho que vinha carregando desde o carro.

— Oh, quanta gentileza, sr. Gold. — ela o pegou, e sua voz soou irônica. Mostrou o caminho para dentro de casa. — O senhor não devia se incomodar. Vamos, entre.

— Esse é apenas um agrado de aniversário. Espero que goste e que caiba perfeitamente no seu corpo. — disse ele, andando pelo hall de entrada da casa. Emma o guiou até a sala após fechar a porta e o fez se sentar num dos sofás que haviam ali.

— Ora, mas o meu aniversário é apenas no mês que vem. Para que se adiantar tanto, sr. Gold? — ela pôs o embrulho sobre o sofá e o abriu com pressa infantil. Era uma caixa de uma loja de vestidos muito caros que ficava no centro da cidade. Tirou de dentro um vestido rodado azul cor do céu, lindo. — Ah, meu Deus, é lindo! — ela arregalou os olhos, erguendo a roupa e comparando com o vestido que estava trajando, muito mais simples que aquele.

Gold se acomodou no sofá, extremamente satisfeito por ter impressionado sua potencial vítima. Mas, apesar do vestido ser lindo, Emma não ia se deixar levar pelo presente.

— Você vai completar dezoito anos. Uma menina, ou, devo dizer, mulher precisa começar a se comportar como uma. — Gold falou de forma sugestiva.

Emma tomou ar e deixou o vestido dobrado cuidadosamente sobre a caixa.

— Eu sei perfeitamente quantos anos vou completar e como devo me comportar, porém, aqui entre nós, acho que quem não sabe se comportar é o senhor.

Um tiro à queima-roupa doeria menos do que a réplica de Emma para a fala do vendedor de carros que gostava de mocinhas.

Ele pareceu incomodado, e então Emma abriu um sorriso vitorioso.

— Sei que você não puxou a sua mãe, Emma. Com a sua idade ela já sabia fazer muitas coisas que eu acredito que você não sabe. — disse ele.

A moça ergueu uma sobrancelha, deixando escapar a curiosidade.

— Que tipo de coisas minha mãe sabia fazer com a minha idade?

Gold deu um riso malicioso, ajeitou a gola  por baixo do terno de forma elegante e voltou a olhar para a jovem.

— Adivinhe, querida. Acho que você não devia nem adivinhar, pois deve ser embaraçoso pensar nisso, não é mesmo? Não se sinta preocupada, eu irei ajuda-la com qualquer dúvida que tenha. Nada melhor do que a prática nesse tipo de assunto.

A voz insinuante dele fazia Emma sentir vontade de apertar aquele pescoço. Ela teve trabalho para se segurar. Decidiu que estava na hora dele provar seu delicioso macarrão à bolognesa com ingrediente especial.

— Ah... Acho que devemos jantar, sim?

Como Emma havia suspeitado, o prato de macarronada caíra como luva para o ingrediente surpresa. Ela havia colocado sal amargo no molho antes de Gold chegar e separado o molho bom para si, podendo enganá-lo do jeito que previa. Comeu tudo observando a cara de satisfação do homem se deliciando com a comida que ia deixa-lo pelo menos três dias visitando o banheiro constantemente. Isso a divertia muito, e não via a hora de fazer efeito.

— Mas que refeição fabulosa! Eu estou impressionado, srta. Swan, não sabia que cozinhava tão bem. — dizia ele, limpando os lábios com o guardanapo de pano.

— Receita da antiga, de família... Decidi mantê-la, sabe? — disse Emma.

— Meus parabéns, valeu muito a pena aceitar o seu convite. Sendo sincero, os restaurantes dessa cidade estão perdendo a qualidade. Imagine se Anita Lucas soubesse que você sabe cozinhar? Imagino que não teria perdido o emprego no restaurante dela tão fácil. — ele resolveu bebericar do vinho, então Emma encheu sua taça e ele a virou em apenas um gole. — Jantar maravilhoso, uma companhia como a sua, você está mesmo merecendo um carro.

— Achei que o senhor havia se esquecido do fusca amarelo. — comentou Emma.

 Ele riu levemente.

— Achou que eu trouxe o vestido para substituir o fusca? Não, amanhã você pode busca-lo na minha loja, ele será todo seu de graça, mas apenas se me fizer mais um favor.

— Que tipo de favor? — Emma terminou sua taça de vinho e a deixou sobre a mesa.

— Você deve saber que algo caro como um carro tem um preço igualmente alto. É apenas um favor, se você aceitar não vai me pagar nada por ele. O que estou propondo é uma coisa natural, que imagino que a senhorita ainda não tenha experimentado. Um homem como eu, sozinho e solitário tem necessidades e uma dessas necessidades...

Gold ficou calado de repente. Em dois segundos se rosto começou a corar e sua pele da testa suava frio. Ele pôs uma das mãos perto do estômago. A expressão em seu rosto mudou de calma para sofrida mais depressa ainda.

— O que está acontecendo? — Perguntou Emma de propósito, fingindo preocupação.

Gold tentou se levantar, mas até tonto ficou.

— Alguma coisa séria. Eu não me sinto muito bem. — Gold fez esforço para se levantar, mas não conseguia caminhar reto. — O que você colocou na comida? O que você fez comigo?

Emma se pôs de pé e cruzou os braços, começando a rir dele impiedosa.

— Adivinhe, querido. Isso é por tudo o que as moças da cidade vem passando com as suas chantagens. Não ouse chegar perto de mim de novo, seu velho babaca!

Ele a fitou espantado, queria ir atrás dela e castiga-la pela terrível dor de barriga que estava sentindo, mas naquele momento, ele estava perdido entre correr para o carro e ir embora dali, correr atrás dela, segurar a barriga e as calças ou continuar suando frio.

— Você me paga! — disse Gold com desdém, e saiu dali arriado, se segurando no que via pela frente até chegar em seu carro na rua.

Emma andou até a frente da casa e esbravejou para ele:

— Suma daqui, velho tarado! Seu nojento, mentiroso!

O barulho chamou a atenção de quem morava por perto. Gold arrancou com o carro e desceu pela rua, enquanto as luzes das casas ao redor se acendiam e cachorros começavam a latir de longe.

Regina foi até a sacada de seu quarto e viu a garota segurar o ferro do portão, fazendo sinal para quem estava olhando. Ficou curiosa para saber o que aconteceu e o que o carro do sr. Gold estava fazendo ali. Não foi difícil imaginar quando se lembrou do que Emma lhe contou sobre a proposta que ele fez a ela. Quis muito sair e ir falar com ela, mas não podia, nem devia sair àquela hora.

— O que aconteceu? Que gritaria foi essa? — perguntou Daniel, chegando no quarto, apoiado numa bengala.

— Emma. A moça que mora naquela casa perto da esquina. Ela estava expulsando alguém, não consegui ver muito bem daqui. — respondeu Regina, voltando para dentro.

— Isso parece estranho.

— Pois é — disse Regina. — Muito estranho.
 

 


Regina estava saindo com o carro logo cedo pela manhã quando viu Emma parada sobre a escadaria da entrada. Ela desceu do carro e a moça se aproximou dela com um pedaço de papel na mão.

— Oi, eu tinha me esquecido de entregar isso a você ontem. — disse a jovem. — O telefone da minha amiga.

Elas se olharam e Regina pegou o papel.

— Obrigada. Hoje mesmo ligo para... — Regina viu o nome em cima do número anotado. — Belle. — devolveu à Emma um sorriso fraco.

— Ah, que bom. Era só isso mesmo, tenho que ir, até logo. — a garota desceu da calçada com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco.

Antes dela se afastar demais, Regina a chamou.

— Espera, Emma.

A moça parou.

— Que foi?

— Está indo para o hotel?

— Sim, eu vou trabalhar e já estou atrasada. — disse Emma.

— Ahm, estou indo para lá, naquela região, preciso comprar umas plantas para essa casa, eu vi que há uma floricultura ali perto. Quer uma carona?

Emma assentiu, achando meiga a forma como Regina decidiu convidá-la para a carona.

A moça sabia onde a mulher estava indo, na floricultura de seu tio David. Ela contou sobre esse detalhe à Regina, que o tio era dono da única floricultura da cidade e que aquele era um negócio de família há algumas gerações.

— Essa floricultura foi do meu bisavô, foi do meu vô e passou a ser do meu tio depois que ele se casou. — disse Emma.

Regina ainda tentava absorver aquelas informações, imaginando que a família de Emma não estava limitada apenas à ela como parecia.

— Então estarei conhecendo seu tio quando for até lá. Vou dizer que foi você quem fez a recomendação.

— Pode dizer. Meu tio vai adorar saber. — Ficaram em silêncio até a jovem se sentir muito incomodada com a situação. — Acho que devo pedir desculpas por ontem. Não devia ter dito nada sobre você. Eu só tenho uma boca muito grande e quase sempre digo o que vem à cabeça.

— Mas você estava certa. — Regina parou o carro. — A verdade incomoda, mas às vezes é bom encará-la. Será que é por isso que as pessoas dessa cidade não gostam de você?

Emma sentiu a pergunta apertar seu peito, só que não se deixou abater.

— É. Deve ser por isso. Ou porque eu não sou como a minha mãe, se bem que eu tenho a impressão de que se fosse exatamente como ela, as pessoas continuariam não gostando de mim.

Havia um brilho triste no olhar da garota que Regina lutava para decifrar. Sua mão subiu ao rosto dela tocando a bochecha macia, o contorno entre o olho e a testa, o nariz, a boca e o queixo. Emma fechou os olhos sentindo o carinho. Seus rostos ficaram próximos e mais um pouco, se quisessem, poderiam trocar um beijo, porém, isso não estava acontecendo de verdade.

Emma a acordou com um beijo na bochecha e abriu a porta do carona.

— Obrigada por me trazer até o hotel, sra. Colter Mills. Foi muita gentileza. Espero que a Belle ajude você a resolver o problema da bagunça.

— Vou ligar para ela ainda hoje, com certeza. Eu é quem agradeço pela conversa e companhia. — a escritora respondeu, vendo Emma da janela do carro.

A garota acenou para ela, e algum tempo depois Regina estava distante da calçada do hotel Hopper. Via a moça ficar pequena no retrovisor conforme se afastava, sem conseguir lidar com o delírio que teve segundos antes. Foi a sensação mais doce que sentiu. Foi como um sonho. Mas foi também a sensação mais improvável que pensou viver um dia.


Notas Finais


É certo que Emma tem um poder sobre Regina que ela não consegue enxergar qual é. Emma tem uma personalidade forte e senso de justiça, mas ela também luta muito para não cair em contradição com esse senso para não se comparar a qualquer custo com sua mãe.

O espaço está aberto para vocês perguntarem e falarem o que pensam.

Tenham um bom fim de semana, descansem bem e até o próximo


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