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História Into The Dead - Capítulo 10


Escrita por: control5h

Notas do Autor


Olá! Cá estamos novamente!
Vi muita gente implorando que violência sexual não acontecesse na série. Não sei se vou conseguir fazer a cena explícita e nem sei se irei um dia fazê-la, mas é uma possibilidade. Precisam entender que esse mundo retratado é um caos e cheio de terror. Só os piores geralmente sobrevivem. Como já dizia o filósofo Shane Walsh "Você não pode ser o mocinho e esperar viver".
Boa leitura e me perdoem por qualquer erro.
Leiam as notas finais, por favor!

Capítulo 10 - Capítulo 10


Fanfic / Fanfiction Into The Dead - Capítulo 10

LAUREN PDV

 

Todo o meu corpo estava dolorido e cada inspiração fazia uma nova onda de dor surgir. Minha cabeça latejava tanto que eu me questionava se ela não estava com um corte profundo na nuca.

Entretanto, dor é bom. Sentir algo significa que você ainda está viva e não é um cadáver perambulante.

Grunhidos ao fundo faziam meu corpo ficar alerta, mas, por causa do pequeno grau de inconsciência eu não conseguia abrir meus olhos. Não eram grunhidos típicos dos mortos. Eram grunhidos vindos de alguém vivo.

Tento mover minhas mãos, mas elas estavam presas. Meus pés também estavam imóveis.  O grunhido continuou e eu decidi lutar contra minhas pálpebras. Aos poucos vou abrindo os olhos e a pouca claridade que bate contra minha retina me fez gemer. Havia algo dentro da minha boca, me impedindo de fechar a mandíbula e produzir saliva.

Era um pedaço de pano.

Focalizei minha visão para a sala da casa e procuro por quem gerava aqueles sons e, ao achar, meu coração apertou completamente.

As imensidões castanho chocolate de Camila me encaravam completamente desesperadas. Ela estava de frente a mim, amordaçada, com os braços e pés amarrados assim como eu. Seu lábio inferior estava inchado por causa de um corte grande no canto direito.

Puxei meus braços para frente para tentar me desamarrar das cordas, mas foi inútil. Talvez se eu continuasse assim por longos minutos e aguentasse a dor eu poderia me livrar delas.

Olho ao redor e percebo que o sol já não estava no céu. Do lado de fora a tempestade caía fortemente com os clarões atravessando o vidro da janela acima de mim.

- Ela acordou. – uma voz feminina me faz olhar em direção da escada que ligava ao segundo andar da casa.

A mesma mulher da estrada nos encarava com uma expressão completamente triste. Sua barriga agora era normal, sem nenhum resquício de gravidez. Era tudo uma farsa, era isso que minha voz interna gritava para mim na rodovia. Mesmo não dando pistas, mesmo os deixando para trás, eles conseguiram nos seguir.

Um homem que eu nunca havia visto antes apareceu no corredor caminhando por entre as penumbras. Ele era alto, extremamente magro e tinha algumas pintas na bochecha direita. Seu andado denunciava algum problema no joelho direito já que ele mancava um pouco.  O olhar era o que eu mais temia. Frio. Sem um pingo de emoção. Como se seus globos oculares estivessem mortos assim como os dos andarilhos.

- Nossa armadilha pegou mais duas, huh? – ele perguntou sorrindo. Mais dentes amarelados.

- Toby, você sabe o plano! – a mulher implora, desviando o olhar para nós. Estava preocupada com algo. Ela abraçava as próprias pernas enquanto estava sentada nos degraus da escada. – Vamos apenas pegar as coisas delas e ir embora!

- Mas elas estão tão bem cuidadas... – Toby diz caminhando até Camila.

Ele se agachou e cheirou o cabelo da latina. Camila fechou os olhos com força e choramingou para que ele se afastasse.  Uma descarga de raiva inunda meu corpo e eu rosno alto para o homem enquanto tentava inutilmente me soltar das cortas.

Eles não iriam tocar nela. Eu não deixaria.

- Oh... temos uma raivosa aqui. – Toby comentou, desviando seu olhar de Camila para mim.

- Toby, pare com isso! – a mulher pede de novo.

- Cale a boca, Stephani! – ele bradou com uma boa quantidade de respingos de saliva saindo pela boca. Sua mudança de humor tão brusca denunciou o comportamento bipolar dele. – Cadê a porra do seu marido, hein? Mande-o enfiar algo na sua boca para ver se você se cala!

Barulhos de passos ecoaram do lado externo da casa e segundos depois dois homens adentraram pela porta da frente. Um deles eu reconheci prontamente que se tratava do cara da estrada e o outro era desconhecido para mim. Ambos sacudiam suas jaquetas que pingavam por causa da chuva intensa do lado de fora.

O novo homem, mediano, cabeça raspada e músculos marcados pelas roupas molhadas passou por nós sem ao menos dizer algo e foi até a mulher sentada na escada. Ele beijou o alto de sua cabeça e ela se acomodou imediatamente em seus braços.

- Tudo bem, amor? – ele sussurrou afagando seu rosto.

- Sim. – Stephani sacudiu a cabeça positivamente. Vejo então a aliança de casamento em sua mão esquerda.

O cara da estrada olhou para mim e um sorriso amarelo malicioso nasceu em seus lábios. A semelhança entre ele e Toby era gigantesca.

- Toby, vamos esperar a chuva passar. – o homem de cabeça raspada diz, ainda ao lado de sua mulher.

- Diz pra ele, Anthony... – Stephani implorou, com as mãos espalmadas no peitoral do marido. O homem revirou os olhos com o pedido. – Anthony! Nós já conversamos sobre isso!

- Deixe-as presas no porão, Toby... – Anthony falou finalmente, contrariado. – Você e Thomas sabem que não fazemos nada com as pessoas que capturamos. Não vai ser diferente porque são duas mulheres.

- Você não manda em mim e em meu irmãozinho, cara. – a voz de Toby saiu tão tranquila e fria que me fez estremecer. – Eu tenho direito de me divertir!

Um frio cortou a minha coluna. Olho para Camila e vejo que ela também me encarava com lágrimas no canto dos olhos.

- Isso está fora de cogitação! – Anthony retrucou, com um rosnado. – Thomas! Não me faça ter novamente a mesma conversa com ele!

O homem da estrada dá de ombros.

- Não interfiro em nada... – ele diz, calmamente. – Mas, como isso vai gerar briga entre vocês dois, não estou a fim de escolher nenhum lado. Além do mais, não teríamos tempo para nos divertir.

Espera? O quê? Eu me lembrava de suas últimas palavras antes de apagar.

- Do que está falando? – Toby perguntou confuso com a atitude do irmão.

- Tem uma horda se aproximando do condomínio. Talvez os trovões tenham a levado para cá, não sei. Mas são no mínimo uns vinte!

- Que droga! – Toby resmungou e bate com força em um abajur em cima de uma mesinha. O objeto atravessa toda a sala e se espatifa na parede oposta. – Vamos arrumar nossa fuga agora ou tentaremos retirar alguma coisa dessas vagabundas?

Mordo mais o pano na minha boca para diminuir minha raiva eminente.

- Vamos dar um jeito de sair daqui primeiro e depois retiramos o máximo que conseguimos delas. – Thomas respondeu olhando para mim principalmente. – Se elas não colaborarem talvez se tornem o mais novo jantar da horda. – ele termina, dando um sorrisinho sádico.

Ele caminha até mim e eu rapidamente entro em modo defensivo. Tento gritar para que ele parasse, mas isso apenas o deixou mais irritado. Toby foi em direção de Camila e ela começou a choramingar, fazendo meu coração apertar completamente. O homem a pegou pelas pernas e a jogou sobre os ombros, mas claro, não perdeu a oportunidade de passar as suas mãos imundas nas nádegas da mulher. Apertando. Acariciando.

A raiva aumentou subitamente dentro de mim e isso dificultou ainda mais o trabalho de Thomas em pegar minhas pernas. Perdendo a paciência, o homem segurou meus dois pés e começa a me arrastar pelo chão frio de taco. Me seguro, mesmo de costas, nas quinas das paredes para tentar me salvar.

- Que puta mais encrenqueira! – ele grita, me puxando com um supetão e fazendo-me soltar da quina. – Tem sorte do Anthony não deixar a gente tocar em vocês!

Toby, que estava na frente do irmão, abriu uma porta de madeira antiga. Uma escuridão completa tomava conta do porão que cheirava mofo e naftalina. Thomas continuou me arrastando pelo chão empoeirado e sequer parou quando chegamos à escada. Preciso usar meus cotovelos e antebraços para evitar que minha nuca batesse com força contra cada degrau abaixo em que era arrastada.

Ele me largou bruscamente no centro do cômodo.

- Vamos, Toby! – Thomas rosna para o irmão. – Talvez se arrumarmos tudo rapidamente possamos pensar em fazer algo a mais com elas. Basta fecharmos a porta e nem o santo Anthony poderá nos impedir.

- Você realmente gosta de pagar de bonzinho na frente dele, huh? – Toby perguntou. O barulho da madeira da escada rangendo denunciava que eles subiam os degraus.

- Nada melhor que pagar de bom samaritano. Nunca esperam as piores coisas vindas de você.

A risada animada de Thomas ecoou pelo cômodo e logo após ambos fecharam a porta do porão.

Faço um grunhido procurando por Camila e ela responde outro logo em seguida. Começo então uma luta contra o pano em minha boca. Empurro com a língua o máximo que posso mesmo com isso gerando ânsias de vomito por causa da falta de salivação em minha boca. Minutos depois de quase desistir eu finalmente consigo cuspir o pano.

Passo a língua por meus lábios rachados e secos.

- Camila? – eu chamo baixo. Ao ouvir minha voz seus grunhidos se tornaram ainda mais esperançosos. – Continue fazendo barulho e eu vou te achar!

 Começo a rastejar no escuro em direção de onde seus gemidos vinham. Se as luzes estivessem acesas eu provavelmente pareceria uma minhoca desengonçada, mas de tudo valia para nos livrar dali. Paro de me mover apenas quando meu joelho encostou contra algo macio e o cheiro de Camila, mesmo misturado com o suor, entrou por minhas narinas.

Ela suspira aliviada ao me sentir e eu sorrio involuntariamente.

- Você está bem? – pergunto baixo para a escuridão e escuto um grunhido, fazendo-me entender que aquilo era um sim. – Ok... hãm eu vou tirar essa mordaça da sua boca, ok?

Camila grunhe novamente algo equivalente a um sim.

Talvez mais tarde eu me arrependesse disso. Talvez não. Mas eu realmente só tinha aquela opção já que todos os meus membros estavam amarrados.

Movo meu rosto devagar procurando pelo seu até que minha testa tocou com algo. Era o rosto dela. Sua respiração descompassada ia contra minha pele e eu sentia a ponta de seu nariz contra minha bochecha esquerda.

Meu coração batia como um louco por causa do cheiro da mulher. Viro meu rosto até que nossos narizes estivessem se tocando e eu pude finalmente ver o vulto de suas duas imensidades de chocolate me encarando profundamente.

Engulo seco e procuro morder sua mordaça. Nossos lábios entraram em contato por meros segundos, mas foi o suficiente para um arrepio cruzar meu corpo. Puxo o tecido para trás e o solto, libertando a boca da jovem.

- Obrigada... – ela sussurrou com sua boca a menos de três dedos da minha.

E então no segundo seguinte eu já não sentia sua respiração quente bater contra meu rosto. Pisco, procurando por algo no escuro, mesmo sabendo que não veria nada. Ela já não estava mais na minha frente, pois eu podia escutar o rastejar de um corpo pelo chão.

Estremeço então ao sentir um toque em minhas costas. Com seus dedos trêmulos e mãos também presas, Camila tentava desamarrar as cordas em meus pulsos.

- Droga... – ela choramingou depois de alguns minutos tentando.

- Não pare! – eu a encorajo, puxando minhas mãos no sentindo contrário para tentar arrebentá-las.

E com puxão eu finalmente consigo me soltar das cordas. Estico meus braços doloridos e desamarro as cordas que também prendiam meus pés. Viro-me e procuro pelos pulsos de Camila, soltando-os. Fiz os mesmos com os calcanhares e a ajudei a ficar de pé.

Tateio meus bolsos procurando por minha arma, minha faca e meu Walkie Talkie, mas nenhum deles estava ali.

- Como vamos sair daqui? – Camila sussurra, com a voz cheia de medo. – Não vamos sair daqui até que a tempestade tenha terminado! E se a horda chegar antes?

- Na verdade, a tempestade é a nossa única chance. – respondo baixo. – Ela pode atrasar os zumbis.

- E como vamos passar por eles, Lauren? – Camila pergunta. – Digo... como vamos passar pelas pessoas na sala e pelos zumbis?

- Precisamos passar pelos vivos primeiro. Se sairmos da casa pelo menos teremos alguma chance de nos esconder dos mortos.

- E se não sairmos? – sua voz saiu trêmula. Pisco algumas vezes, agradecendo ao fato do escuro não deixá-la perceber minha expressão desesperada.

- Vamos sair de um jeito ou de outro. – digo, sem saber ao certo o que responder.

Vamos sair vivas... ou mortas.

Ouço um suspiro temeroso de Camila e procuro sua mão até que a sinto e entrelaço nossos dedos. Faço um carinho com o dedão nas costas das mesmas e tento, em silêncio, passar um pouco de confiança para ela. Não pude deixar de sentir algo bom naquele toque.

Aquele era a nossa comunicação. O silêncio dizia muito mais do que palavras.

Depois de alguns segundos a puxo pela mão e começo a guiá-la até onde eu deduzir ser a porta. Tateio-a e acho a maçaneta de metal fria.

- Não saia de perto de mim, ouviu? – ordeno, apertando sua mão contra a minha.

- Tudo bem. – ela respondeu baixinho.

Respiro fundo e giro a maçaneta tão devagar quanto o ar que saía dos meus pulmões. Empurro a porta com cuidado para evitar qualquer barulho das peças enferrujadas. Os trovões ecoavam ao longe ajudando a abafar nossos passos pelo chão de taco empoeirado. Conduzo Camila pelo pequeno corredor até que ouço uma conversa vinda da cozinha, o cômodo do outro lado da parede.

Paramos de andar imediatamente.

- Eles estão em um grupo grande, eu tenho certeza disso. É só olhar para as roupas delas e para a moto bem cuidada com o tanque cheio. – a voz de Toby ecoou do cômodo. – Podemos tentar ingressar nele como fizemos no último.

- O truque da gravidez não vai dar certo para sempre. – Thomas retrucou, mexendo em alguns talheres.

- Por isso mesmo precisamos achar um grupo maior como o delas. – o seu irmão respondeu. – Os matamos e depois saqueamos tudo o que têm.

Sem que eu escutasse seus passos, Thomas saiu da cozinha dando de cara comigo. Seus olhos arregalaram e eu mal dou tempo para o homem ter alguma reação e já solto a mão de Camila para finalmente pular em cima dele. Caímos comigo por cima de seu corpo, mas por causa de sua força maior ele rapidamente trocou nossas posições e me imobilizou no chão.

Toby apareceu na porta da cozinha após o estrondo e seu olhar parou em Camila que corria em direção de uma faca em cima da mesa de centro da sala. Era a minha faca. O homem pulou atrás da mulher, que em movimentos rápidos esticava seus dedos para pegar a lâmina afiada.

Porém, mãos fortes apertando ao redor do meu pescoço me fazem olhar para cima e ver o olhar enraivecido de Thomas sobre mim. Tento me debater desesperadamente para respirar. Meu rosto já estava vermelho e a mistura das penumbras dentro da casa fazia minha visão ficar embaçada. Ao fundo eu escutava os gritos da luta de Camila contra Toby e eu não tinha noção de quem estava ganhando.

E ao ver que eu estava perdendo a consciência, um sorriso sádico apareceu em nos lábios de Thomas.

As piores imagens do que eles poderiam fazer comigo ou Camila passavam por minha cabeça.

Ergo meu joelho para cima com força e ele se choca contra seus testículos. Thomas gritou alto de dor e rolou para o lado com as mãos em sua genitália.

Sento-me e vejo que Camila se debatia por debaixo de Toby que tinha a faca afiada contra a garganta da latina. Meus olhos arregalaram e em um supetão eu me coloco de pé para tentar salvá-la.

Mas, ao tentar correr, sinto uma mão segurar meu tornozelo direito imobilizando-me. Meu tornozelo é puxado para trás e eu caio de bruços contra o chão batendo a cabeça bruscamente. O corte em meu supercílio começou a sangrar novamente no mesmo instante, escorrendo por meu rosto.

Thomas ficou de pé e caminhou em minha direção. Tento me rastejar desesperadamente na direção contrária do corredor. Me seguro contra o móvel que tinha uma televisão plasma de 50 polegadas em cima e puxo algum dos eletrodomésticos para jogar contra o homem.

Entretanto, ele me segurou e puxou pelos pés antes disso e eu apenas consigo arrancar o fio de eletricidade do receptor. Minhas unhas arranhavam o chão de taco e eu sentia a dor por debaixo das mesmas enquanto ele me arrastava à força de volta para a sala.

Meu coração estava na minha garganta, implorando mentalmente para que Anthony aparecesse e talvez os impedissem de fazer o que estavam prestes a fazer.

Nos poucos segundos em que eu era arrastada eu procurei pela silhueta de Camila e a vi ainda se debatendo debaixo de Toby que sorria descaradamente. Thomas me arrastou até a cozinha – provavelmente procurando por privacidade.

Em um movimento rápido, eu dou um chute forte contra seu joelho e escuto sua Rótula saindo do lugar, deslocando-o.  Ele gritou de dor e caiu quatro no chão. Em seguida eu levanto a perna e invisto um chute contra seu nariz, fazendo-o gritar mais ainda por causa do osso nasal quebrado.

Thomas abriu os olhos enraivecidos e como um tigre pulou em cima de mim. Eu rolo para o lado no último instante, mas não sem receber uma pancada na lateral da barriga. Perco o ar por alguns segundos com a dor e o homem fica em cima de mim novamente, imobilizando minhas pernas com as suas.

Aperto com minhas mãos trêmulas o seu nariz quebrado e ele gritou novamente. Não perco tempo e dou um murro contra seu queixo. Meus ossos da mão direita latejaram por causa da pancada, mas isso passou despercebido por causa da adrenalina em minha corrente sanguínea. Thomas balançou a cabeça em uma tentativa frustrada de se recuperar da tonteira, mas eu aproveito isso e inverto nossas posições.

E sem perder tempo eu dou outro murro em seu queixo. E outro. E outro e outro. Thomas já estava zonzo demais.

- LAUREN! ME AJUDA! – o grito desesperado de Camila na sala me faz parar no mesmo instante.

Levanto-me rapidamente e corro até sala de estar. O lábio inferior de Camila sangrava ainda mais indicando que outra pancada havia sido investida. Seu sobretudo estava aberto e Toby passava a mão livre descaradamente pelas laterais de seu corpo e apertava seus seios sobre a camiseta.  A faca já estava tão apertada contra o pescoço de Camila que um filete de sangue já escorria.

Olho para o chão e vejo o fio do eletrodoméstico que eu havia conseguido arrancar. Pego-o e caminho em direção do homem com um rosnado gutural saindo por meus lábios. Passo o fio por sua garganta e puxo as pontas em minha direção apertando-o em seu pescoço e o enforcando.

- Sua p-puta! – ele gritou meio abafado, soltando a faca para tentar retirar o fio que bloqueava sua respiração.

Toby tentava se desvencilhar de mim sem sucesso. Aperto ainda mais o fio contra seu pescoço já vendo seu rosto ficar com tons vermelho escuro.

- Você não vai tocar em nós, seu desgraçado! – eu rosno entredentes.

Bastavam mais alguns segundos e eu o sufocaria. E eu queria tanto fazer aquilo. Eu queria tanto vê-lo imóvel no chão assim como um bom morto-vivo depois que eu enfiava uma bala no meio da testa dele. Como ele poderia pensar em fazer algo com Camila contra sua vontade? Como ele podia tentar estuprá-la?! A raiva inundava meus sentidos enquanto o homem, de costas para mim, apenas perdia cada vez mais a consciência.

E então vejo um vulto em direção da cabeça de Toby. Camila usou o cabo da minha faca para atingi-lo e fazê-lo cair desmaiado ao meu lado.

- Por que você fez isso?! – eu brado realmente irritada. – EU IA MATÁ-LO!

- Você não é como eles, Lauren! – a voz de Camila saiu firme, porém seus olhos a entregavam. Era carinho? – Nós não matamos os vivos! Você não é uma assassina!

Solto o fio do eletrodoméstico no chão sob olhar atento de Camila. Eu estava perturbada demais para discutir aquilo com ela. Ao mesmo tempo em que eu queria protegê-la a minha voz interna – a que sempre gritava em situações de perigo – me aconselhava a ficar longe dela... emocionalmente falando.

- Temos que sair daqui. – ordeno dando fim ao silêncio estranho que se instalara.

Viro-me e caminho até a cozinha. Pego a única faca que sobrara em cima da pia e volto para a sala. Ambos os irmãos estavam desacordados no chão de taco. Procuro dentro de suas roupas por armas, mas nem as nossas e nem das deles estavam ali. Paro por alguns instantes e tento me lembrar de algo e apenas alguns flashes de memória me mostravam duas armas no cós da calça de Anthony.

Ele era esperto. Não deixava armas com os dois loucos.

Camila não ousou me contestar e apenas me seguiu até a porta principal da casa. Atentas a tudo, saímos caminhando por entre os arbustos alto do jardim. As gotas frias da chuva caíam contra minha jaqueta e adentravam por minhas roupas apenas para piorar a temperatura baixa ali fora.

Eu e a mulher fizemos o mesmo caminho que utilizamos quando entramos no condomínio. Um rosnado de raiva saiu por meus lábios ao ver que minha motocicleta não estava ali.

- Que droga! – eu resmungo alto, limpando o excesso de água no meu rosto. Meu corte profundo acima da sobrancelha esquerda estava latejando e o sangue escorria diluindo-se na chuva.

Puxo a latina pela mão até a lateral de uma casa para que não fôssemos vistas à distância.

- Nós precisamos...

Camila mal termina de falar quando por cima do ombro eu percebo uma movimentação em suas costas.

- EU VOU MATAR VOCÊS, SUAS PUTAS!

Thomas estava de pé no meio da rua com uma arma apontada em nossa direção. Amaldiçoo a minha falta de atenção por não revirar a casa. A arma provavelmente estava escondida em algum lugar.

Sinto então um par de mãos me empurrarem para o lado segundos antes do disparo.

*BANG*

Minhas costas bateram contra a parede da casa e o corpo de Camila se chocou contra o meu depois de me empurrar. Encaro com os olhos arregalados o buraco da bala na parede que estava a poucos centímetros da minha cabeça.

- Corra! – Camila ordenou, me puxando pela mão.

Corremos pelo corredor até a parte de trás da casa. Cruzamos a área da piscina e pulamos a pequena cerca que a separava da casa ao lado. Minhas botas patinaram no barro da grama ao ver três andarilhos com seu passo característico caminhando em nossa direção.

- Droga! – Camila rosnou e me puxou na direção contrária.

Saímos do perímetro da casa e eu olho para trás vendo Thomas ainda nos seguindo. Ele ergueu a arma que pingava por causa chuva e apertou o dedo no gatilho.

Mas, conseguimos contornar o arbusto antes do tiro ser disparado.

*BANG*

Os disparos apenas deixavam os zumbis ainda mais enraivecidos. Corpos perambulantes saíam por detrás das casas e grunhiam alto. As gosmas de seus corpos se misturavam com a água escorrendo pelos passeios. A chuva parecia piorar a cada momento e já era difícil ver o horizonte do condomínio.

- Precisamos nos separar! – eu falo entre o pouco fôlego que tinha. Camila me olhou como se eu tivesse dito a maior estupidez do século. – Precisamos achar o Anthony antes que esse lugar esteja infestado por zumbis. Ele está com a chave da moto!

- Lauren... não! – Camila choramingou, tentando-me segura pelo braço, mas eu me desvio de suas mãos.

- Vamos sair daqui! Confie em mim!

Não a deixo tentar relutar e viro-me na direção contrária. Corro por entre alguns arbustos e dou a volta na casa. Dou um pulo para lado ao ver a penumbra de um andarilho baixo, magro e com a caixa torácica exposta aparecer do nada. Ele estica os braços em minha direção, mas eu rapidamente consigo me esquivar e continuar correndo.

Vejo então o vulto de Thomas pulando a última cerca que tínhamos pulado há cerca de dez segundos atrás.

Tento não escorregar no barro debaixo dos meus pés e corro em direção de Thomas. Ele até chega a se virar e notar minha aproximação, mas antes disso eu pulo em cima dele. A arma escorrega facilmente de sua mão quando o homem caiu contra o gramado molhado.

Minha faca estava presa a minha mão graças à força que meus dedos fazia contra o cabo de madeira. Não perco tempo e passo a lâmina afiada no pescoço do homem cortando a carne.

O sangue quente – diferente do dos mortos que era uma gosma já coagulada – espirrou em meu rosto. O olhar do homem fica imóvel, ainda com as pálpebras levantadas enquanto sangue saía. A vida se esvaía aos poucos do corpo e eu tentava controlar a súbita vontade de vomitar. O cheiro do líquido vermelho rapidamente atraiu a atenção do mesmo zumbi com a caixa torácica exposta e eu rolei para o lado, já me distanciando rapidamente.

Eu podia jurar ver o zumbi sorrir ao abocanhar e arrancar a pele fresca do pescoço de Thomas. A pele se esticava junto com o músculo tenso pós-morte. Suas unhas lascadas rasgavam o rosto do homem procurando por mais carne macia e enfiando os dedos nas cavidades oculares fazendo o olho explodir com a pressão. O sangue espirrava para todos os lados e morto mastigava aquilo com seus dentes podres como se fosse o melhor banquete de todos.

Engulo seco e apenas estico meu braço para pegar a pistola no chão. O sangue do homem era lavado do meu rosto por causa dos pingos de chuva. Dou passos lentos e me escondo por detrás de um arbusto ao ver mais dois zumbis se juntarem ao amigo para devorar o homem no chão. Eles rosnavam uns para os outros enquanto estraçalhavam os membros de Thomas.

Olho então para o lado e vejo Anthony e Stephani encarando a cena que eu acabara de presenciar. O olhar do homem não expressava raiva, mas sim talvez espanto.

Ele levanta então a sua arma para mim e eu faço o mesmo com a minha.

- Anthony, só queremos ir embora... Eu não quero te matar. – eu falo sendo sincera. – Eu só quero achar minha amiga e ir embora.

Anthony estudou a situação por alguns segundos. A arma estava trêmula em suas mãos, não muito diferente da mulher abraçada ao seu corpo.

- Vamos embora, amor, por favor! – ela implora em meio às lágrimas. – Deixe-as ir também. Os abutres estão chegando!

Então Anthony inspira fundo e balança a cabeça negativamente. Ele enfia a mão dentro da jaqueta marrom e retira a chave da minha motocicleta.

- Me desculpe por isso. – ele fala antes de jogar a chave para mim no ar.

Eu a pego e não tenho tempo de agradecê-lo ao ver por cima do ombro esquerdo algo que fez um arrepio frio cruzar minha coluna.

Não eram duas dezenas e nem era um número próximo disso. A quantidade de zumbis que se aproximavam a mais ou menos trinta metros era cinco vezes mais que isso. O barulho dos disparos deve ter atraído ainda mais deles.

“Camila!” meu inconsciente grita.

Olho para frente e não vejo mais Anthony e Stephani ali na calçada. Começo a correr na direção contrária da horda que caminhava ritmicamente, grunhido.

- CAMILA! – eu grito seu nome desesperada. – CAMILA! CADÊ VOCÊ?!

Passo minha mãos trêmulas por meu cabelo encharcado em uma tentativa sem sucesso de mantê-los fora do meu rosto. Tento desviar dos zumbis que apareciam do nada e dou volta nos carros abandonados.

As piores cenas do que poderia ter acontecido com a mulher me atormentavam.

Olho para trás e vejo que a horda estava cada vez mais perto. Ainda correndo, choco-me contra um corpo e eu imagino ser um zumbi prestes a abocanhar o pedaço da minha pele. Olho para frente e os olhos castanhos que eu tanto procurava me encaravam felizes.

- Graças a Deus que você está bem! – eu solto um suspiro aliviado. – Eu consegui as chaves.

- Não temos tempo, Lauren! – ela fala. Só então eu vejo que não era alegria em seus olhos e sim medo. – Corra!

Seus dedos entrelaçaram com os meus da minha mão esquerda e ela me puxa de supetão. Equilibro-me e olho para trás, arrependendo- logo em seguida por isso. Quinze metros nos separavam dos mortos.

Desesperadas, adentramos às pressas em uma casa. Fecho a porta bruscamente enquanto Camila já arrastava um sofá para colocar contra a porta. Puxo os fios dos eletrodomésticos e faço um nó de pescador na maçaneta. Camila empurrava mais moveis em direção das janelas e eu corria à procura de mais portas da casa que davam para o lado de fora.

Depois de checar tudo – no pouco mais de um minuto que tivemos – nós duas paramos no centro da sala e observamos tudo por uma pequena fresta da janela. Alguns zumbis batiam contra a porta, mas a maioria passava direto sem, felizmente, sentir nosso cheiro.

Ouço então barulhos no chão de taco e viro-me, mal tendo tempo de reagir aos braços me envolvendo pela cintura em um abraço apertado. Camila estava trêmula em meus braços e um choro doloroso era abafado por minha jaqueta, já que seu rosto estava afundado em meu peito.

- Ei... está tudo bem... – eu sussurro, afagando seus cabelos.

Eu estava meio atordoada sem saber o que fazer por causa daquele contato repentino.

Suas mãos se apertaram ainda mais no tecido da jaqueta em minhas costas e eu me vi envolvendo seu corpo magro em um abraço carinhoso. Seu cabelo molhado entrava em contato com a minha bochecha. Sua respiração batia em meu pescoço. Seu cheiro... ainda estava ali.

Os trinta segundos que o abraço durou pareceram uma eternidade.

- Eu... eu... eu achei que iríamos... – ela gaguejava por causa do choro.

- Está tudo bem. Eles não vão sentir nosso cheiro aqui dentro por causa da chuva, ok? – digo e coloco minhas mãos em seu rosto, afastando seus cabelos para olhar em seus olhos. – O que acha de irmos lá para cima? É mais seguro do que no primeiro andar.

Ela assentiu fracamente com a cabeça e soltou meu corpo. Aos poucos pude perceber suas bochechas corando provavelmente depois de perceber o que havia feito.

Camila vira-se de costas e começa a subir os degraus da escada. Quando ela some do meu campo de visão eu passo as mãos por meus cabelos, atordoada.

Está tudo sob controle, eu repetia para mim.

Passaríamos sabe-se lá quantas horas ali...

Mas ainda assim eu manteria o controle.


Notas Finais


Hum... será finalmente camren chegando em sua bicicleta?

Gente, então... eu tenho umas ideias aí para uma história camren que se passaria no Ensino Médio. Camila seria uma garota fechada que tocava violão para pagar as despesas depois de se distanciar por completo da família por causa de um acontecimento em seu passado. Lauren é uma garota completamente mimada e terrível com as pessoas que se muda para uma nova escola, e se torna, como castigo por tudo que já fizera, alvo de provocações. Serão personalidades completamente opostas que de alguma forma vão se completar.
Cliché demais ou devo investir?
Espero suas opiniões!


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