História Intoxicate - 29 - You're my sunshine

Na manhã seguinte ao natal todas nossas malas já estavam no carro. A despedida foi realmente difícil com toda a choradeira de sempre, porém dessa vez eu teria de cumprir minha promessa de voltar.

Estava na cara que todos fingíamos ignorar que a gravidez da minha mãe era de risco. Todos só falavam que era maravilhoso e que tudo estava ficando cada vez melhor, mas no fundo a verdade bate de que a qualquer momento algo ruim pode acontecer e que a situação é completamente frágil. Gravidez depois dos quarenta não é algo tão fácil e isso me assusta muito, porém como todos os outros eu apenas sorri e disse que tudo estava bem.

Dentro de alguns meses eu voltaria para visitar a minha mãe e isso não era nem se quer uma opção. Ela simplesmente me intimou, mas não era tão ruim quando eu realmente já estava pensando nas passagens de volta que eu compraria assim que chegasse lá. Afinal, aquilo que amamos sempre será parte de nós e nos fará voltar para onde nosso coração está.

Quando saímos do drama da minha casa logo entramos no drama da casa de Harry. Anne só faltou estourar fogos quando soube que o noivado tinha sido renovado. Ela, como muitas outras pessoas também, estavam sempre fingindo que nada tinha acontecido nesses dois anos em que Harry esteve longe, porém no fundo eu sabia que ela estava nervosa por isso e só não queria piorar o clima por fora.

Nós passamos uma tarde inteira lá, boa parte dela eu apenas fiquei sentado no escritório de Anne observando as fotos de Harry bebê, sonhando acordado. A casa de Harry sempre foi muito confortável, mas nunca teve o clima de lar aconchegante como a minha. Talvez seja pelo fato de que Gemma se mudou e agora sua mãe esteja sempre sozinha, a casa inteira se acostumou apenas com ela e não com crianças gritando o dia todo como a minha casa.

Porém quando deram onze horas nós tivemos de nos despedir. Tivemos uma enorme pressa para chegar ao aeroporto que acabou sendo totalmente em vão.

[- Você não quer mesmo comer alguma coisa? - Harry perguntou]

- Você não quer mesmo comer alguma coisa? - Harry perguntou. Nós dois estávamos deitados em uma poltrona esperando nosso voo ser anunciado, porém segundo a tela acima de nós isso ainda levaria uma hora e meia para acontecer.

- Não to com fome Harry - eu respondi me aconchegando melhor sobre seu ombro. Nós dois tivemos um dia um tanto corrido e sem nenhum descanso com essa coisa de despedida, então apenas estávamos encolhidos na poltrona nos aquecendo enquanto as poucas pessoas ao redor perdiam-se nos próprios pensamentos esperando como nós dois.

Eu gostava dessa sensação, estar confortável com meu noivo demonstrando afeto em público sem que isso fosse algo terrível. Londres era mais como: nós vamos te encarar na primeira olhada, mas a maioria de nós irá apenas desviar o olhar depois porque já estamos familiarizados com isso. Porém era claro que algumas pessoas ainda nos encaravam com seus olhares pesados nos julgando, mas nada se comparava ao primeiro ano em que me mudei para minha cidade atual. Aquele lugar era tão terrível e opressor, as pessoas pareciam não saber o significado de empatia e sempre colocavam seu pensamento em primeiro lugar. Foi um pouco insano como tudo aconteceu tão rápido e agora eu sou apaixonado por aquele lugar que aprendeu a respeitar a opinião alheia.

- Eu já te disse alguma vez que amo você de barba? - Harry perguntou chamando minha atenção enquanto passava os dedos pela minha barba.

- Dentro desses dez anos em que em pelo menos seis dele eu passei de barba? - eu perguntei rindo e ele me acompanhou - tenho certeza que você já disse isso algumas vezes, mas você pode sempre repetir que eu não vou ficar chateado. Eu deixo.

- Você fica lindo de barba - Harry disse beijando meu rosto lentamente e meus olhos até se fecharam com tamanha delicadeza.

- Você fica lindo quando está distraído olhando por nada - eu disse quando ele afastou seus lábios, logo pressionando os meus no seu rosto livre de pelos.

- Eu te amo - Harry disse ainda com os olhos fechados. Essa visão era algo simplesmente majestoso e eu nem podia acreditar que as borboletas se mantinha vivas mesmo depois de tantos anos.

- Eu estava pensando - eu disse devagar e logo Harry abriu os olhos para prestar atenção - existem outros modos para ter filhos além da adoção - eu olhei para o lugar a minha frente por algum tempo. Esse era um assunto que já estava passando por minha cabeça faz um tempo, porém não sei se Harry concordaria.

- Louis eu já te falei que não posso engravidar - ele disse fingindo estar sério e eu sorri tirando um pouco da tensão. - você está querendo chegar aonde?

- Bom - eu suspirei - você sabe que meu sonho desde sempre é ter filhos com você. No máximo três crianças pela casa ou com as mochilas prontas para uma viajem em cima da hora que eu planejei só porque deu vontade, porém eu queria que pelo menos um desses filhos fosse realmente seu, sabe?  Com seu olhar, sua aparência, seu sangue... Isso é muito estranho? 

- Eu não vou ter que te lembrar de que você também não engravida né? - Harry perguntou sorrindo, porém um pouco mais confuso.

- Cala a boca - eu falei rolando os olhos - eu estava pensando em algo como... Barriga de aluguel ou sei lá. Essas coisas existem certo?

- Eu já ouvi algumas histórias sobre isso - Harry disse pensativo - eu só tenho medo de que algo possa dar errado e sei lá, a mulher não queira nos dar o bebê depois.

- Esse é um risco, como também corremos o risco de nossa adoção não ser aprovada e nós acabarmos nunca tendo um filho - eu disse suspirando. Esse era um medo que eu escondia bem lá no fundo e ele nunca ficava a mostra já que eu quase nunca falava sobre isso, mas agora eu estava aqui com Harry e ele conhecia todos os meus medos por mais entranhados em mim que eles estivessem.

- Tudo na vida tem riscos amor - Harry disse me abraçando mais forte e me fazendo deitar sobre seu ombro novamente - porém nós não podemos focar nisso sempre. É claro que vamos ter nossos filhos, não importa o quão difícil seja nós vamos lutar até o final. Nós somos o tipo de casal que tudo pode dar errado, mas nós nascemos para ficarmos juntos, então tudo sempre vai dar certo no final. Não importa o que aconteça você será sempre meu e eu serei sempre seu e nós vamos ter quantos bebês quisermos.

Eu sorri olhando  um pouco envolta e logo voltando para seus olhos.

- Quando eu estou com você não tem nenhum outro lugar onde eu gostaria de estar – Eu falei lentamente colando nossos lábios em um selinho carinhoso – E olha que eu sou uma pessoa que sempre gosta de estar em algum lugar.

[Depois de mais alguns minutos deitados na poltrona nosso voo foi finalmente anunciado e nos direcionamos para a área de embarque]

Depois de mais alguns minutos deitados na poltrona nosso voo foi finalmente anunciado e nos direcionamos para a área de embarque. Eu tinha um bom pressentimento sobre o futuro, pois nós já passamos por muitas coisas ruins e eu sempre fui muito pessimista, então eu estava aqui agora segurando a mão do meu noivo enquanto estávamos prontos para voltar a nossa vida normal e acrescentar  nossos planos para tudo que já tínhamos. Tudo só estava melhorando.
 

- Onde está Holly? - perguntei assim que desembarcamos no aeroporto e só Nick estava ali com uma feição cansada e olheira nos olhos.

Ele se levantou tirando a cabeça de entre as mãos assim que nos ouviu, Nick estava acabado.

- Olá Louis, bom te ver também. Estava morrendo de saudades - ele disse um pouco ácido e eu sorri o abraçando. Eu mentiria se dissesse que não senti falta disso. Depois de abraçar o Harry ele nos ajudou com as malas enquanto suspirava. - Holly bebeu muito ontem, na verdade todo mundo bebeu muito ontem.

- Ontem você quer dizer no natal? Que daqui a dois minutos vai ser anteontem? - eu perguntei enquanto ele colocava as malas no meu carro que estava com ele durante a minha viagem. Céus eu senti falta do cheiro do meu carro.

- Bom quando eu digo que bebemos muito, eu quero dizer realmente muito - ele disse estalando a coluna antes de entrar no carro, porém eu o parei antes que ele entrasse no bando do motorista. Sem muito insistir ele foi para o banco de trás e eu suspirei aliviado ao dirigir meu próprio carro novamente.

- Como foi passar o natal aqui? - eu perguntei depois de checar se Nick ainda estava acordado no banco de trás.

- Foi diferente do ano passado - ele disse olhando pela janela - não teve tanta animação como sempre e nós apenas bebemos para tentar dar um pouco de emoção. – Ele estava mentindo. Eu o conhecia por pouco tempo para dizer que sabia tudo sobre ele, porém a tempo suficiente para saber que ele estava escondendo algo. Aparentemente as coisas continuavam nas mesmas por aqui.

- Vocês não conseguem passar nem um natal sem mim que já ficam assim? - Perguntei provocando, porém Nick não revidou, apenas deu de ombros. Okay as coisas estavam bem estranhas por aqui. Eu prometi para mim mesmo que não me intrometeria na vida dos meus amigos e se eles se sentissem prontos eles me contariam, mas isso já estava muito demorado e ficando cada vez mais difícil de segurar - e como está a Holly? Vocês passaram natal juntos, isso não foi especial o bastante?

- É claro que foi especial - ele disse dando de ombros - só que foi um especial normal sabe? Eu não sei explicar, eu só quero dormir até amanhã de noite.

Eu sorri resolvendo dar uma folga a ele. Não são todos os amigos que vão te buscar no aeroporto meia noite apenas para te entregar seu carro.

Assim que deixamos Nick em casa nós fomos em direção a nossa eu pude sentir a realidade me bater em cheio. Para mim ainda era estranho dizer nossa casa já que quando eu comprei era apenas minha e eu jurava que seria assim para sempre. Eu tinha tantos planos para agora e eu sou o tipo de pessoa que gosta de resolver tudo ao mesmo tempo. Eu já posso até me visualizar amanhã logo após acordar já comprando as passagens para ir visitar minha mãe, talvez mês que vem ou o outro. Não mentiria se dissesse que já podia me imaginar olhando sites de barriga de aluguel também. Pensando nisso logo veio minha galeria à mente e eu praguejei em preguiça só de lembrar quantas coisas precisavam ser feitas logo após o ano novo. 

Ele entrou na sala e eu entrei logo depois trancando a porta. Eu sorri para a imagem de Harry colocando as malas no chão e se jogando no sofá, incrivelmente isso ainda parecia muito irreal, porém era uma realidade que eu não trocaria por nada. O passado pode machucar. Mas do modo como eu vejo agora, você pode fugir dele ou aprender com ele.