História Invictus - Tudo se acertando - parte 1

POV Paul
 

Olhei pro rosto de Alex, e tive que desfazer a minha expressão de surpresa. O idiota já sorria vitorioso vendo que sua notícia teve o efeito desejado.

-Você o que?- Perguntei.

-Isso mesmo que acabei de falar. Eu vou ficar em Alexandria. Não finge que não ta feliz com a ideia.

-Por mim, que se dane. Eu não moro aqui mesmo.

-Mas mora perto.- Rolei os olhos. -E eu fiquei sabendo, que talvez venha morar aqui.

-Por que razão você vai ficar aqui?

Ele sorriu de lado e levantou uma sobrancelha.

-Além de uma razão muito óbvia, o general Miller achou bom deixar uma parte do nosso contingente aqui.

-Não acredito na minha má sorte.- Balancei a cabeça.

-Ah para, vai ser legal. Nós dois morando perto, você vai até se sentir nostálgico.

-Só se eu tiver apertando seu pescoço, aí sim vou me sentir nostálgico.

-Uuuh.- Fez um bico. -Selvagem, do jeito que eu gosto.

-Cala a boca, e sai da minha frente que eu tenho que ir ver Arizona.

-Ah é, ela acordou né?

Assenti andando na frente.

-Depois eu vou lá ver como ela está. E te fazer uma visita, claro.

Rolei os olhos ouvindo a risada presunçosa de Alex atrás de mim.

Entrei na casa dos King e já ouvi a voz de Arizona vindo da cozinha. Segui até lá.

-Angel já ta bem, tagarelando já.- Falei entrando.

Arizona riu e me abraçou.

-Onde tava?

-Vigiando Negan.

-Até agora?- Me perguntou desconfiada.

-É. Saí de lá e dei uma volta, vi como o pessoal de Hilltop está e vim pra cá. Ta melhor?

-Ela ta ótima, já ta até dando ordem.- Dakota falou terminando de mastigar.

-Vim te chamar pra andar um pouco, você pode né?

-Claro.- Falou levantando.

-Sem se esforçar muito Arizona.- Trevor avisou enquanto saíamos pela porta da cozinha.

Andamos um pouco, vendo o movimento de Alexandria.

-Daryl disse que me ama.- Arizona soltou. Olhei pra ela surpreso.

-Que?

-Pois é.- Ela riu dando de ombros.

-E…

Ela me olhou e sorriu.

-Eu disse que também o amo.

-Angel, finalmente.- Ri a abraçando de lado.

-E quando você vai admitir pra mim que ta feliz que o Alex ta bem?

Respirei fundo.

-Sem respirar fundo Paul Rovia, e te conheço muito bem.

-Não quero falar sobre isso.

-Mas precisa.- Ela parou perto da margem do pequeno lago e ficou de frente pra mim. -Não acha que podia dar uma chance pra vocês dois de novo?

Desviei o olhar, encarando o reflexo do sol na água.

-Não.

-Pois eu acho que devia.

-Angel, ele me traiu. E ainda me escondeu da família dele.

-Isso foi antes dos mortos resolverem voltar pra nos matar. Sobre a traição, ele realmente parecia arrependido.- Olhei pra ela de volta. -Já passou pela sua cabeça que ele também deve ter sofrido? Falo em questão de te esconder da família agora. O Alex não tinha certeza da própria orientação até te conhecer, você sabe disso.

-Ta me falando pra fingir que nada aconteceu?

-Tô te falando pra dar mais uma chance.- Sorri de lado. -Se ele te machucar de novo pode deixar que eu mato ele.

Ri fraco.

-Não é tão fácil Angel.

-Eu sei que não, na verdade só imagino que não. Mas vai pensando no assunto.

-Falando nele, ele vai ficar em Alexandria.

-Vai é?- Falou prendendo o riso.

-Não ouse rir.

-Bom, o destino já ta agindo por mim.- Riu colocando a mão em cima do curativo. -Ai minha barriga.

-Bem feito, ninguém mandou rir de mim.

-É irônico você querer fugir dele e ele vir morar logo aqui, onde você vive vindo.

-Pode ser o destino te falando o que fazer.

-Calada, vamos só andar.

Voltei a andar ouvindo ela rir do meu lado.

POV Dakota

Era muito bom saber que as coisas estavam se encaixando aos poucos. Meus irmãos estavam todos bem, Alexandria estava bem e logo tudo ia ficar perfeito. Na medida do possível, claro. Não estamos em um parque de diversões, e ainda tem os walkers. Mas já era um começo.

Ouvi baterem na porta de casa e fui atender. Abri dando de cara com Carl segurando Judith.

-Oi.- Soprei.

-Oi.- Respondeu sorrindo de lado.

-Entra.- Falei dando passagem.

-Sua irmã, como está?- Perguntou seguindo pra sala.

-Ela ta bem, vai melhorar rápido. Pensei que você estava vigiando Spencer na sua casa.

-É, eu estava mas o padre Gabriel me rendeu então vim aqui.

Carl sentou, Judith sorriu olhando por trás do meu ombro.

-Judith.- Oliver correu até ela. -Posso brincar com ela Carl?

-Claro.

-Ta, vou pegar os brinquedos.- Correu de novo pela escada.

Me sentei do lado de Carl e sorri.

-E você?

-O que tem eu?- Perguntei.

-Ta melhor?

-Tô ainda demorando pra dormir, mas vou ficar bem.

Ele me olhava sério. Oliver chegou com uns brinquedos e sentou no chão levando Judith junto.

Olhei os dois no chão, Oliver ensinando Judith a montar os blocos.

-Quando não conseguir dormir sabe que pode me chamar.

Sorri fraco.

-Não quero que você tenha insônia junto comigo.

-Já conversou com seu irmão sobre isso?

-Não consigo. Ele ta com tanta coisa na cabeça, não acho justo jogar mais uma coisa nos ombros dele sabe. Além do mais, isso vai passar. Meus irmãos estão todos aqui comigo, vamos ficar bem. E bom..- Falei dando de ombros. -..você também ta aqui por mim.

Carl sorriu de lado.

-Quando tudo acalmar, nós devíamos dar uma volta do lado de fora.- Diz ele.

-Acho justo.

-Muito. Não aguento mais ficar trancado aqui. Meu pai não quer deixar eu ir lutar junto. Me sinto inútil.

-Só que você sabe que ele faz isso pro seu bem, e pelo bem a Judith. Ela precisa de alguém cuidando dela.- Falei segurando a mão dele. -Meus irmãos também acham melhor eu ficar aqui, e eu sei que é por causa do Oggy. Ele só tem dez anos. Você não é inútil, só que sua tarefa atual é cuidar da sua irmãzinha.

Carl olhou pra Judith e sorriu.

-É, eu sei.

Levantei uma sobrancelha.

Ele estava inquieto fazia dias, semanas já agora. Tinha me aproximado muito dele desde que chegamos em Alexandria, e ainda mais quando meu irmão foi sequestrado e Carl me encontrou chorando sozinha a noite perto do lago.

-Ei, tive uma ideia pra te distrair de ficar pensando nisso. Vamos fazer cookies.

-Cookies?- Soltou um riso fraco.

-Ah para, você vai gostar de fazer alguma coisa. E eu cozinho muito bem como você já sabe.

-Tudo bem então.

Levantei seguindo com Carl pra cozinha.

Comecei a procurar os ingredientes pelos armários, olhando vez ou outra pra Carl que estava sentado nos bancos altos da bancada de mármore.

Coloquei tudo na bancada e suspirei começando a separar as medidas. Percebi que Carl não parava de me encarar.

-Que foi?- Perguntei desviando os olhos.

-Nada.

-Ta me encarando por nada?

Ele deu um sorriso que me fez sorrir junto.

-É que…- Carl foi interrompido por Connor que entrava pela porta que dava nos fundos.

Meu irmão nos olhos e acenou com a cabeça.

-Grimes.

-King.- Carl respondeu acenando também.

Connor pegou uma maçã e passou por mim dando um sorrisinho debochado de lado e indo pra porta da frente. Revirei os olhos.

-Você dizia..- Falei continuando a misturar as coisas na vasilha.

-Deixa pra lá.- Ele deu de ombros.

Olhei nos olhos dele enquanto agora mexia a massa já com todos os ingredientes.

Voltei minha atenção pro que fazia e mordi o lábio pensativa.

Carl sempre parecia ter alguma coisa pra me dizer. E quando não éramos interrompidos, era ele quem desviava do assunto. Então eu sempre ficava sem saber o que ele ia me falar, mas sempre tendo uma ideia de que podia ser alguma coisa fofa.

Não tive tempo suficiente de viver minha adolescência, não sei se algum dia vou entender os garotos e nunca tive bem alguém com quem me sentia tão bem quanto com Carl, meu nível de experiência nisso tudo era zero. Mas eu sentia que gostava demais dele, e sabia que ele sentia se não o mesmo, quase.

Busquei a forma e comecei a colocar a massa nela.

Eu às vezes me sentia tão mesquinha por pensar nessas coisas sendo que estávamos no meio do fim do mundo e tinha tanta coisa pra se preocupar. Mas não conseguia evitar. Quando Carl sorria pra mim, ou quando meu nome saía da boca dele, ou só quando me olhava com aqueles olhos tão…! Eu não sabia o que era, mas toda vez que ele me olhava fundo nos olhos eu tinha a sensação do meu corpo todo tomar um choque.

Balancei a cabeça e resolvi terminar os cookies sem ficar pensando bobeira.

Coloquei a forma no forno pra primeira fornada e sorri sem mostrar os dentes pra Carl que ainda me encarava do mesmo jeito.

Ser adolescente podia ser mais fácil depois que o mundo mudou.

POV Arizona

Andei com Paul por toda Alexandria. Sendo cumprimentada por algumas pessoas, rindo dos comentários bestas que Paul fazia pra me animar.

As pessoas resgatadas da fábrica, que era chamada de Santuário, pareciam aliviadas de ter a chance de começar de novo. Se nós éramos explorados, nem imagino como eles eram escravizados morando no mesmo lugar que eles.

Encontramos Rick no caminho, ele nos disse que as ofensivas aos postos avançados aconteceriam no final da semana.

-Mas eu não vou poder ir.- Falei.

-Claro que não, você precisa de no mínimo duas semanas pra se recuperar do ferimento e vai ficar aqui descansando.- Michonne respondeu.

-Tudo bem, eu vou ajudar por aqui. Com certeza ia atrapalhar vocês se teimasse em ir.

-Seu irmão vai interrogar Negan hoje, ele te falou?- Rick perguntou.

-Uhum, me contou ontem. Eu vou assistir, preciso ver aquele desgraçado pagar um pouco por tudo que fez a todos. Soube que Spencer está solto.

-Sim, tivemos que tirar ele da cela pra colocar Negan.- Diz Rick. -Mas uma segunda cela está sendo feita. Até lá, Spencer está sob vigia na minha casa.

-E o que vamos fazer com ele?- Paul perguntou.

-Acho que ele teve uma punição justa por enquanto. Ficando preso.- Falei. -Se ele voltar a fazer merda, então nós damos outro jeito.

-Tem razão.- Michonne concordou.

Rick sorriu como se soubesse que eu fosse tomar essa decisão.

-Nós vamos dar mais uma olhada na construção do muro e encontrar seu irmão na cela daqui a pouco. Nos vemos lá.- Rick se despediu com um aceno de cabeça e seguiu com Michonne, que acenou também, para o outro lado.

Voltei a andar de volta pra casa com Paul e quando chegamos na rua de casa fomos parados por Trevor.

-Eu tô indo lá interrogar Negan, quer ver?- Me perguntou.

-Quero, claro! Já que não posso fazer nada, pelo menos posso ver né.

-Eu vou também, e se puder eu quero ajudar.- Paul disse.

-Vamos então

Meu irmão fez um movimento de cabeça nos chamando.

Seguimos os três até a cela e quando chegamos lá estava Alex, Daryl e Abraham.

-Kings!- Alex falou abrindo os braços. -Nossa, como isso me traz nostalgia. Nós três juntos, prestes a arrancar informações de um inimigo.

-Nem todos.- Falei. -Eu vou só ver.

-Mas está aqui junto. A intenção é o que vale.

Me coloquei do lado de Daryl. Os outros conversavam, Paul e Alex trocando olhares. Meu melhor amigo na verdade parecia querer voar no pescoço de Alex.

-Você devia estar em casa descansando.- Sussurrou.

-Eu só vou assistir.- Sussurrei de volta. -Fica tranquilo.

-Qualquer coisa fala comigo e eu saio daqui com você.

-Eu tô acostumada a ver o que vão fazer, amor.- Falei e arregalei os olhos tendo noção do que tinha escapado.

-Me chamou do que?

-Daryl.

-Não, você disse “amor”.- Ele me virou pra ele.

-Saiu sem querer, eu...foi automático..

-Calma, eu não vou sair correndo por isso.- Daryl falou me empurrando de leve com o ombro.

Mordi o lábio e ri fraco.

Procurei o olhar de Paul, ele sorria debochado. Revirei os olhos rindo.

A porta do porão foi aberta.

-Acho que podemos começar.- Rick disse entrando com Michonne.

Todos olhamos pra cela, Negan estava sentado no canto e pelo seu olhar ele sabia o que viria a seguir. Meu irmão esticou os braços e estalou os dedos.

Abraham abriu a cela, Trevor entrou com a maleta que Alex devia ter entregado à ele. Uma cadeira foi colocada no meio da cela, Alex segurou Negan pelo braço e o fez sentar na cadeira e amarrou as mãos dele pra trás em seguida.

Já assisti esse tipo de coisa várias vezes antes de tudo, era recorrente em missões quando capturávamos alguém do lado inimigo pra extrair informações. Mas agora era diferente, agora tinha sentimento. Negan tinha feito muita gente sofrer, e agora teria que enfrentar as consequências.