História Invictus - Começo de novas histórias

 

POV Arizona

 

Eu poderia dizer que tive uma longa noite de sono, mas seria completamente mentira. Passei a noite toda acordada com Daryl. Que homem!! Eu posso dizer que quase desmaiei uma hora de tanto prazer, e não faço ideia de como ele fez aquilo. Quando cansamos já era quase de manhã, e agora eu estava acordada depois de meras duas horinhas dormindo. Daryl dormia do meu lado, tranquilo e gostoso como sempre. Ele deitado de bruços evidenciava seus músculos dos braços dobrados embaixo da cabeça no travesseiro, e as costas nuas a mostra. Mordi meu lábio inferior e sorri, eu era muito sortuda.

Suspirei e estendi minha mão, dedilhando as costas dele. As cicatrizes que ali estavam me apertavam o coração, era inadmissível que alguém tenha feito mal a esse homem algum dia. Daryl era um ser tão cheio de luz, ele só não mostrava isso pra todos. Mas eu estava o decifrando cada vez mais com o passar dos dias. A ideia de não estar com ele algum dia me assustava, eu não conseguia mais imaginar a minha vida sem ele.

Bateram na porta e Daryl se mexeu um pouco.

Me levantei, vesti minha calcinha e meu casaco, fui até a porta e só abri um pouco colocando a cabeça na brecha. Dakota deu um risinho.

-Então..- Falei.

-Vim perguntar se querem café, porque Trevor e Connor estão comendo tudo com Oggy e Paul.

-Queremos, separa pra mim que já descemos.

Ela piscou um olho sorrindo e se virou descendo.

Fechei a porta rindo e me virei vendo Daryl se virar pra mim abrindo os olhos preguiçoso.

-Que horas são?- Perguntou, aquela voz rouca maravilhosa.

-Quase oito.- Respondi deitando do lado dele de novo, sendo puxada por Daryl. Ele me virou e se encaixou atrás de mim.

Suspirei sentindo a respiração dele na minha nuca e um volume ne formando.

Ri meio rouca e fiz um carinho na mão dele.

-Senhor Dixon, já ta animado?

-Sempre tô.- Resmungou me fazendo rir mais. -É bom ficar assim.

Concordei balançando a cabeça e me apertei mais um pouco nele.

 

POV Daryl

 

Arizona se encolheu mais em mim e eu respirei fundo. Não podia passar o dia na cama com ela, por mais que essa fosse exatamente a minha vontade.

-Não quero levantar.- Ela verbalizou meu pensamento. -Quero um dia de bobeira pra variar.

-Não podemos.- Respondi com pesar.

-Eu sei, temos que fazer a nossa parte. E eu já tô tempo demais parada.

-Só que você não pode mesmo fazer muita coisa.

Ela se virou com um sorrisinho sujo.

-Ontem você não pareceu se preocupar com isso Dixon.- Provocou me arrancando um selinho.

Senti meu rosto corar.

-Isso é diferente.

-Não não meu amor, é esforço físico do mesmo jeito.

-Segunda vez que me chama de amor.- Falei vendo ela corar. -Devia fazer isso mais vezes, é bom de ouvir.

Ela sorriu, um sorriso lindo e iluminado.

-Pode ser mais frequente, mas você sabe que eu não sou uma florzinha que vai te chamar de amor o tempo todo.

-Acho que se fosse nós não combinaríamos tanto.

Ela riu.

-A gente devia oficializar isso.- Falei, me surpreendendo com o que saiu da minha boca. Arizona parecia igualmente surpresa. Seus olhos se arregalaram e a boca abriu um pouco.

-Como assim?- Me perguntou buscando meus olhos.

-Ah, você sabe..- Falei dando de ombros. -Dar nome às coisas.

-Nome as coisas…- Ela instigou.

-Você entendeu Arizona.- Falei meio sem graça.

-Que tal você é meu homem, e eu sua mulher? E pronto.

Deu de ombros tornando as coisas mais simples.

-Pode ser. É que não sei se você gostaria de se dizer minha namorada.

-E eu sou sua namorada?- Ela parecia se divertir com a minha falta de jeito.

-Claro, não é?

-Sou.- Sorriu.

-Você ta achando graça.- Falei fazendo cócegas nela. Arizona soltou uma risada e se contorceu um pouco nos meus braços.

-Tô sim.- Disse fazendo que sim com a cabeça. -Mas é porque é muito bonitinho como você fica sem graça e faz uma cara engraçada falando desses assuntos.

-Bonitinho?- Levantei uma sobrancelha. -Eu sou um homem bravo, uma máquina de matar, eu não sou bonitinho.

Ela riu.

-Ok, senhor destruidor. Mas eu aceito ser chamada de sua namorada, é bom que coloca as vadias pra correr quando ver a namorada badass que você tem.

Agora quem riu fui eu.

-Pra mim também é bom pra colocar os engraçadinhos que ficam em cima de você no lugar deles.

Arizona se apertou um pouco mais em mim e me deu um beijo leve.

-Te amo tanto sabia- Sorriu.

-Eu também te amo.

-Agora vamos descer porque segundo Dakota estavam devorando tudo sem nós.

Concordei e nos levantamos com relutância.

 

Quando chegamos na cozinha, os irmãos de Arizona terminavam de comer praticamente obrigados pela irmã dela que falava alto mandando eles deixarem um pouco de comida pra nós.

-Ai Dakota, você ta ficando mandona que nem a Nana.- O menor resmungou.

-Eu ouvi isso Oliver.- Arizona disse entrando na cozinha fazendo o mais novo dar um pulo.

-Meu Deus do céu.- Ele disse colocando uma mão no peito. -Você quase me deu um ataque no coração.

Todos riram do jeito que ele falou.

-Pra você aprender a não me chamar mais de mandona.- Ela falou dando um beijo na bochecha dele.

-Ok família, e Paul.- Trevor disse.

-Ei!- Paul falou indignado.

-Tô brincando.- Trevor riu. -Eu vou pros meus afazeres, até o almoço.

-Eu vou junto.- Connor disse se levantando.

-Connor, toma cuidado.- Arizona disse sentando comigo a mesa.

-E eu que se dane.- Trevor disse abrindo os braços.

-Toma cuidado também Trevor.- Ela disse.- Dramático.

Eles riram saindo da cozinha pela porta dos fundos.

-O que temos pra fazer hoje?- Ela perguntou colocando café numa xícara e me entregando.

-Eu nada até agora, mas vou procurar o que fazer.- Paul disse.

-Acho que vou ajudar na expansão do muro.- Falei mordendo um pedaço do que parecia uma torrada.

-Dakota.- Arizona disse levantando as sobrancelhas.

-Eu vou continuar as aulas com as crianças, Oliver vai junto comigo. Inclusive, vamos dar uma volta agora antes da aula, não é Oggy?

-Uhum.- O mais novo falou animado.

Arizona sorriu de lado e mordeu uma maçã.

-Vou indo lá Angel, verificar o pessoal de Hilltop que voltará pra lá hoje.- Paul deu um beijo na testa de Arizona e se levantou. -Até mais pessoal.- Saiu indo pela porta da frente.

-Quer ajuda pra arrumar a cozinha Nana?

-Não Doda, pode ir com o Oggy dar uma volta. Só toma cuidado, e qualquer coisa voltem correndo pra casa.

-Pode deixar.

-Meu beijo.- Arizona disse pros dois que sorriram indo até ela.

Ela deu um beijo apertado na bochecha de cada um.

-Coloca seu casaco Oggy, ta frio lá fora.

-Até depois Nana.- O mais novo saiu correndo da cozinha sendo seguido por Dakota.

Eu olhava pra Arizona encantado. Ela ficava tão iluminada com a família por perto, tão mais linda.

Ela percebeu que eu a olhava e sorriu de lado.

-O que?- Perguntou.

-Você fica tão linda perto dos seus irmãos e do Paul.

Arizona ficou completamente vermelha.

-Vou ficar mal acostumada com você desse jeito Daryl Dixon.- Levantou uma sobrancelha me encarando.

Soltei o ar em um meio riso.

-Seria uma mãe maravilhosa.- Falei baixo, mas Arizona ouviu perfeitamente e me encarou com a boca meio aberta.

-Me imagina como mãe?

Desviei o olhar procurando uma forma de responder aquilo de um jeito não patético.

-Claro.- Respondi encarando minha xícara.

Ela sorriu de lado e bebeu da sua xícara.

 

POV Trevor

 

-Connor, vá indo na frente.

-Por que? Onde vai?- Meu irmão perguntou me olhando de lado.

-Vou dar uma passada na enfermaria.

-Já sei, ver a Maggie né.

-É.

Connor me olhou com um sorrisinho engraçado.

-Que foi?

-Você ta na dela né.

-Connor, vai caçar o que fazer vai.

Ele riu e balançou a cabeça.

-Eu gosto dela, vai fundo.

-Tchau Connor. Vocês estão cada dia mais parecidos com a Arizona, credo.- Falei me afastando dele, pra entrar na enfermaria.

Ouvi a risada de Connor e sorri junto entrando na casa enfermaria. Fui até onde Maggie estava deitada na cama, ela dormia. Me sentei em uma cadeira próxima e observei seu rosto.

-Bom dia Trevor.- Ela disse abrindo os olhos.

Sorri.

-Ei linda, dormiu bem?

-Dormi sim.- Falou ainda sorrindo, mas meio corada.

-Desculpa não ter passado a noite toda aqui, tive que dar uma vigiada lá em casa.

-Não precisa pedir desculpa, eu tô bem e sua família precisa de você.

Não respondi, só fiquei olhando pra ela.

-Você sabe que não precisa ficar de olho em mim, não quero te dar trabalho demais. E você deve ter coisa mais interessante pra fazer.

-Realmente, eu ia no cinema hoje mas infelizmente não vai rolar.- Falei sorrindo de lado.

Maggie rolou os olhos e deu uma risadinha.

-Você não me dá trabalho.

Me levantei chegando perto da cama e sentando na beirada.

-Eu fiquei preocupado, e se depender de mim vou ficar todos os quatro dias de repouso do seu lado.

-Não vai ficar entediado?

-Claro que não, eu posso trazer jogo de tabuleiro. Lá em casa tem uns três que os mais novos acharam vasculhando tudo.

Ela sorriu e tombou a cabeça de lado.

-Você é um amor por fazer isso por mim. Fico muito feliz pelos King terem encontrado Alexandria.

-Os King também.- Sorri. Eu não conseguia parar de sorrir perto dela. -Achei que nunca mais ia sorrir assim.

Ela levantou uma sobrancelha.

-Assim como?

-Assim.- Apontei pro meu rosto. -Que nem um idiota.

-Esse sorriso combina com você.

-Tinha parado de sorrir assim faz um tempo. Meus irmãos tiveram que lidar com um Trevor rabugento e sem vontade de viver.

-Eu sei como é sentir a perda que você sentiu.- Ela disse estendendo uma mão, segurando uma minha.

-Quero te ajudar Maggie.- Busquei os olhos dela. -Não quero que se sinta como eu me senti.

Ela deu um sorriso triste.

-Eu sei que não é fácil, e que pode parecer errado. Mas eu quero cuidar de você, mesmo sabendo que você não é o tipo de mulher que precisa de ajuda pra se cuidar. Só que Maggie, o universo de alguma maneira te colocou na minha vida pra me curar e eu não quero abrir mão disso.

Maggie só me encarava de volta, a mão ainda na minha.

Meu coração parecia que ia saltar da minha boca. Eu praticamente me declarei. Não, eu me declarei. Tudo o que disse era real, e ainda era pouco. Mas o medo de parecer insensível pela sua perda, ou parecer impulsivo agora percorria meu corpo inteiro como uma corrente elétrica.

-Eu acho que é uma ideia louca.- Ela disse.

Eu senti meu sangue quase parar. Ela achava loucura, e óbvio que era.

-Mas ainda assim é uma ideia louca que eu quero arriscar.

Agora sim meu coração quase estourava meu peito. Eu sorri tão aberto, que foi uma surpresa não ter assustado Maggie. Ela sorriu de volta pra mim e eu me aproximei segurando o rosto dela delicadamente e juntando nossos lábios em um beijo calmo.

E foi melhor do que eu imaginei que seria.

Em todos esses malditos dias de apocalipse eu não conseguia ver como ia continuar vivendo e não só existindo. Minha função era aguentar firme por meus irmãos, e tentar conviver com a dor. Mas agora a dor parecia que recebia um bálsamo, um alívio tão grande que me fazia querer sorrir idiota o tempo todo.

Me separei de Maggie e sorri olhando nos olhos dela. Ela sorria doce, e ainda segurava minha mão.

-Agora eu não saio mais da sua vida, mocinha.

-Não quero que saia.

 

POV Arizona

 

Terminei meu café e fui até o portão verificar se precisavam de ajuda. Daryl foi ajudar na expansão, e como lá eu estava praticamente proibida de ir tentar ajudar resolvi ver pela vigia. Meu ferimento já não doía, e a cicatrização estava indo melhor do que eu esperava e logo eu ia poder voltar a ativa normalmente.

Nada pra fazer no portão, bufei frustrada e olhei na direção da casa onde mantemos Negan preso. Olhei pra um lado e pro outro, e resolvi ir até lá. Andei pela rua até que entrei na casa e vi Gabriel de vigia.

-Olá padre.

-Arizona.- Ele sorriu. -Não sabia que viria me render.

-É, eu tô procurando alguma coisa pra fazer.- Sorri de lado e coloquei o cabelo atrás da orelha.

-Ah sim.

-Se quiser posso ficar um pouco aqui, e você toma um ar ou sei lá.

-Agradeço, eu precisava mesmo ir ao banheiro.- Disse se levantando. -Não demoro, qualquer coisa só chamar.

Assenti observando ele sair pela porta.

-Eu não achei que fosse chegar a esse ponto.- Ouvi uma voz de dentro da cela. Negan.

Olhei pra dentro da cela, ele estava sentado no chão, com as pernas dobradas e encarava o chão. Não respondi, só o encarei enquanto me aproximava da grade.

-Só queria fazer tudo por ela.- Continuou.

-Ela?- Perguntei completamente confusa.

Negan levantou os olhos e eu senti um arrepio na espinha. Eu tinha conseguido, ele estava quebrado. O olhar que eu vi nas vezes que ele nos ameaçou, que nos tratou como seus servos e nos fez sentir pavor agora era outro. Um olhar de total tristeza e pânico me encarava.

Eu já tinha feito homens quebrarem na época do exército, mas nunca tinha visto esse tipo de olhar depois de uma tortura. Negan escondia alguma coisa. De alguma forma ele tinha um motivo torto por trás das suas atitudes malignas.

-O que você..

-Ei Arizona.- Fui interrompida por Michonne, levando um susto.

-Ah, oi. Que susto.- Falei colocando a mão no peito e rindo.

Ela olhou pra Negan e fez uma cara de confusa, éramos duas.

-Vim ver se quer dar uma ronda comigo. Daryl vai junto e me disse que você não aguenta mais ficar sem fazer nada. Então eu pensei que seria uma boa te chamar enquanto ele me espera no portão.

Ri e concordei.

-Acho uma ótima ideia, só preciso pegar meu arco. Trouxe só as machadinhas.

-Tudo bem, vamos lá.

-Espera.- Parei antes de atravessar a porta. -E quem vai ficar de olho nele?

-Eu.- Gabriel apareceu pela escada. -Michonne me perguntou se eu tinha te visto, e eu disse que tava aqui. Podem ir que eu fico de vigia.

-Ok então, obrigada.

Saímos do porão.

Fui em casa rápido, peguei meu arco e aljava no quarto e desci encontrando Mich na calçada.

-O que Negan tinha falado antes de eu entrar no porão?- Me perguntou andando comigo para o portão.

Respirei fundo e balancei a cabeça.

-Disse alguma coisa sobre não querer que as coisas tivessem chegado a esse ponto, e que ele fez isso por ela.

-Ela quem?

-Não faço ideia, eu ia perguntar na hora que você entrou.

-Ah, entendi.

-Ele está quebrado Mich.- A olhei rapidamente. -O que eu fiz conseguiu quebrar ele.

Chegamos ao portão então ficamos em silêncio. Daryl me olhou com uma sobrancelha erguida e cruzou os braços.

-Onde vai?- Me perguntou.

-Michonne me chamou pra ir em uma ronda com vocês.

Ele olhou pra Michonne, ela só sorriu e deu de ombros.

-É bom pra ela não enferrujar. Vamos.- Fez um sinal e o portão foi aberto.

Segui logo atrás dela, com um Daryl com aquela cara fechada.

-Não se preocupa, é só uma ronda.- Falei quando entramos a esquerda na floresta.

-Ainda tô preocupado com você se esforçando.

-Não me faz tocar no assunto de ontem a noite de novo.

-Eu tô ouvindo tudo.- Michonne disse baixo um pouco a frente.

Ri vendo Daryl corar.

-Vamos fazer a ronda e voltar logo.- Ele disse balançando a cabeça. -Mas fica do meu lado e toma cuidado.

-Sim senhor.- Bati continência o fazendo rir fraco.

Sorri seguindo nosso caminho. Seria só uma ronda, mas já era alguma coisa.

 

POV Terceira pessoa

 

Um homem de capuz, segurando uma arma observava os três que tinham acabado de aparecer no seu campo de visão.

Ele coçou sua barba e respirou fundo. Tinha andado demais, e talvez estivesse perto da resposta de toda a confusão que foi possível ouvir de sua comunidade.

Continuou atrás da árvore os observando. Duas mulheres e um homem, eles pareciam concentrados em seu pequeno passeio.

Encontrar pessoas, provavelmente vindo de uma grande comunidade, era sempre um risco ou uma boa oportunidade. Nunca se pode adivinhar qual dos dois aconteceria. E sabendo como o mundo tinha mudado desde todo o início do caos não se pode arriscar assim de cara.

Ele respirou fundo de novo e analisou suas opções enquanto os três sumiam de seu campo de visão agora.

O homem deu meia volta e começou a retornar pelo seu caminho de origem. Chegaria a hora do encontro, ele tinha que avisar os outros primeiro.