BTS – Jamais Vu
“Estou bem, mas não estou bem. Eu disse pra mim mesmo que estou acostumado com isso, mas estou machucado como se fosse à primeira vez.”
(I'm fine, but I'm not well. I told myself that I'm used to it, but I'm hurt like it's the first time.)
Seokjin gritou o nome de Yoongi, não ligando muito se o amigo não gostava daquilo. Mas o ômega sequer virou em sua direção, os fones de ouvido alto o suficiente impedindo que ouvisse qualquer barulho externo. Cansado mesmo depois de ter dormido tão bem durante a noite junto da mãe.
Acordou quase meia hora depois do horário, recebeu um café da manhã reforçado da ômega e ainda teve carona para a escola. Naeun sabia que o filho estava triste com alguma coisa, e por saber que ele era fechado demais para se abrir e falar com ela sobre o assunto - pelo menos sem que precisasse ser forçado e por mais tentador que fosse, não queria fazer isso e dar espaço suficiente para o filho resolver os próprios problemas – apenas tentou deixar as coisas mais fáceis para ele.
Começaria a trabalhar no final daquela semana, a rotina voltaria ao normal e Yoongi passaria muito tempo sozinho em casa, sem companhia alguma e tendo que lidar com a própria presença. Sabia que era solitário para o ômega, ainda mais que não tinha muitos amigos e os que tinha, também tinha suas obrigações. Não dava para ficar juntos o tempo inteiro. E por mais difícil em alguns dias simplesmente sair da cama, ela estava comprometida em dar um pouco mais de atenção ao seu filhote, mima-lo como Min Yoongi merecia ser mimado, cuidar dele como sabia que o filho gostava de ser cuidado.
Dar ao seu menino todo carinho e amor que era só dele em seu coração. Porque era difícil continuar vivendo diante toda a circunstância da sua natureza. Podia parecer um exagero, o tipo perfeito de tempestade formado em um copo d’agua. Mas não era. Porque a alma de Naeun, aquela mesma alma que foi entrelaçada na alfa do ex-marido, estava dilacerada. Como simplesmente continuar assim? Ela não sabia. Mas por Yoongi valia a pena, e por ele tentaria dia após dia. Não iria mentir e dizer que fazia por si, porque não estava fazendo, se fosse pensar apenas na sua pessoa se afundaria em um buraco tão fundo que nunca mais seria capaz de sair.
Mas seu filho, aquele ômega incrível que sempre lhe encheu de orgulho e era o melhor filho que qualquer pessoa poderia querer na vida, por ele valia a pena e faria por ele. Seu filhote merecia uma boa mãe, merecia que alguém cuidasse dele ainda mais agora que seu pai foi embora, virou as costas sem o menor peso na consciência, um só teria o outro e estaria com Yoongi da mesma forma que sabia que ele estaria consigo.
E foi por isso que ela levantou mais cedo, preparou café da manhã pra ele e lhe deu uma carona. Porque sabia que o ômega estava triste e queria anima-lo de alguma forma, o que deu certo, porque aquela sensação pesada que comprimiu o peito dele durante todo o dia anterior, tinha se dissipado quase completamente. Yoongi se sentia mais firme para enfrentar aquela manhã de cabeça erguida. Com coragem. O que não significava que já estivesse disposto a parar e conversar com Seokjin.
Não. Ainda precisava colocar algumas coisas no lugar, ainda tinha muita emoção negativa dentro de si e sabia que agiria de uma forma covarde demais se apenas agisse. Ele não queria precisar se desculpar e era isso que aconteceria se apenas fosse resolver aquilo no calor da emoção. Seriam apenas dois idiotas magoados no final das costas e aquele não era ele. Yoongi não era assim e não gostava de ser. Então, mesmo que seu fone de ouvido não estivesse alto tocando uma das músicas da playlist, provavelmente ele apenas teria continuado seu caminho em direção ao armário sem olhar para trás.
Jin não sendo o foco da atenção dele em momento algum.
O Kim, por outro lado, apenas franziu a sobrancelha por ter sido ignorado, um pouco constrangido com o tipo de atenção desnecessária que recebeu pelos seus gritos. Confuso do motivo de Yoongi está lhe dando gelo desde a manhã passada.
Tinha mandado algumas mensagens para ele a noite perguntando porque não tinha aparecido no intervalo e recebeu uma resposta vaga – um emoji de um boneco dando de ombros despreocupado, o que não explicava nada, apenas lhe deixava mais confuso – e não fez questão alguma de responder o bom dia que mandou no grupo. E ele sempre respondia, mesmo que viesse acompanhado de uma resposta mal criada logo em seguida. “Bom dia só se for pra você”, ele sempre falava, mas nem aquilo o Kim tinha recebido e até mesmo Jeon Jungkook, que não respondia nunca, lhe respondeu.
Achou estranho. Muito estranho. E resolveu ir questionar a única pessoa que poderia lhe dar uma resposta adequada sobre o que estava acontecendo. Ou seja, iria direto a Min Yoongi. Porém estava difícil. Ainda não era nem 8h da manhã e já estava Seokjin já correndo atrás do amigo. Ninguém merecia mesmo.
- Gi! - chamou mais uma vez, andando apressadamente em direção ao amigo, que continuava se distanciando cada vez mais.
Só conseguindo alcança-lo quando Yoongi parou no bebedouro para encher sua garrafinha. Coisa que ele normalmente fazia, porque assim a água não ficava quente trazendo de casa. E só assim Jin pode chegar perto, tocando-o no braço, na altura do cotovelo – para fazer com que o ômega lhe olhasse. “Epiphany” estourando em seus fones, no momento exato que o cantor diz “Preciso revelar completamente meu verdadeiro eu por baixo da máscara sorridente”.
- Gi.
- Falou alguma coisa? - é tudo que Yoongi questiona tirando um lado do fone de ouvido, o rosto livre de qualquer tipo de emoção, seus olhos voltando para a tarefa de encher sua garrafa de água fugindo do olhar do amigo.
- Seus fones estão tão altos assim?
- Gosto de música alta. - deu de ombros, soando tão desinteressado que parecia um pouco irritante. Seokjin não gostou, mas também não falou nada, os lábios se apertando em descontentamento.
- O que aconteceu com você?
- Acabei de chegar, Seokjin, o que poderia ter acontecido?
- Não sei, está agindo estranho comigo desde ontem, o que rolou? Te mandei mensagem e você foi todo frio, agora do mesmo jeito e nem passou o intervalo com a gente na mesa ontem... Aconteceu algo que te chateou?
- Isso importa, de qualquer forma?
- Se estou te perguntando, é porque importa, ué. Foi aquele alfa estúpido não foi, o que vem te perturbando?
- Sabia que você agindo assim, fica parecendo que você é meu alfa e está bancando o ciumento? Eu sei me cuidar, Seokjin, não precisa se preocupar. - ele fechou a garrafa de modo lento, suspirando um pouco cansado, já virando para ir embora, sem falar nada ao amigo. Tinha aula e por pior que fosse, ainda era melhor do que ficar ali conversando com ele quando seu coração ainda estava tão machucado. - Preciso ir...
- Eu te fiz alguma coisa? - o alfa insistiu segurando o amigo pelo cotovelo impedindo que fosse para longe. Dava para ver o brilho de desespero em seus olhos, o quão aflito parecia com a ideia de ter feito algo de errado. Porque Seokjin genuinamente se preocupava e não queria perder seus amigos, nunca. Mas era difícil compreender os próprios erros, ainda mais sendo tão imaturo quanto ainda era. Ainda era só um adolescente mais errando do que acertando, fazia parte de todo ciclo.
- Me fez? Você que tem que falar, fez algo que pudesse me chatear?
- Gi, você está agindo como um babaca.
- Deve ser porque eu sou, um idiota por completo que as pessoas costumavam agir sem consideração e não...
- Bom dia. - Taehyung cumprimentou chamando atenção dos dois amigos, que sequer tinham notado sua aproximação. Dando alguns passos, ele se colocou ao lado do ômega, sorrindo para Yoongi e ignorando Kim Seokjin deliberadamente. - Dormiu bem, ômega?
- Bom dia, alfa, dormi, sim.
- A gente está conversando, Kim Taehyung. - Seokjin cortou o outro alfa, apertando a sobrancelha para ele, tentando não usar de força alguma para afasta-lo. Sentia seu estômago embrulhando toda vez que via aquele alfa ao lado do seu amigo, não era algo certo, não conseguia achar certa aquela aproximação e não iria mesmo que tentassem. - Pode nos dar licença?
- A conversa é tão secreta assim que não posso ouvir?
- Está tirando com a minha cara, alfa? - Jin falou, seu rosto ganhando uma mancha avermelhada à medida que sua raiva ia crescendo, nem um pouco feliz com aquele ar petulante que Taehyung sustentava no rosto. Até deu um passo em direção a ele, suas narinas dilatadas de ódio pronto para iniciar qualquer embate, por pior que as consequências fossem.
Conhecia tipos como aquele, alfas do estilo de Kim Taehyung encantando ômegas inocentes com seus sorrisos bonitos e uma boa conversa. Embalavam eles com seus cheiros marcantes e o bom porte. Não seria a primeira vez que acontecia e, pasmem, muito menos a última.
Mas ele não iria deixar logo o seu melhor amigo cair naquela ladainha sem nem mesmo tentar ajuda-lo. Yoongi não merecia passar por uma coisa daquelas, não sendo alguém tão bom e singelo. Merecia alguém que o quisesse de verdade e não um alfa qualquer querendo brincar aquelas com os seus sentimentos. E para Seokjin, era exatamente isso que Taehyung iria fazer.
Dentro de uma escola, sempre tinha fofocas, sempre! E naquela não era diferente, pois havia sim fofocas envolvendo o nome de Taehyung, fofocas essas que circulavam todos os corredores da instituição que chegaram fáceis aos ouvidos do Jin. Coisas sobre ele ter ficado com vários ômegas em festas, de partir corações e ser um completo canalha. Eram essas coisas que se diziam na escola e vamos ser francos, não foi difícil para Seokjin acreditar em todos os burburinhos porque, querendo ou não, era sempre isso que acontecia.
Por pior que fosse, as intenções do Kim mais velho eram as mais genuínas em relação ao amigo. Ele só queria proteger Yoongi de ter o coração ainda mais machucado, logo depois de tudo que vinha acontecendo na vida do ômega. Estava fazendo do jeito certo? Não, lógico que não. Tinha o direito de agir da forma que vinha agindo? Muito menos. Porém era impossível apenas invalidar suas ações e tentar fazê-lo entender a força o quão problemático era aquilo.
Adolescência é uma fase de desconstrução e construção. O que significa que sempre vai haver muitos erros para poucos acertos. Seokjin ainda estava nessa fase. Ainda estava errando muito. Ainda estava aprendendo com a vida. Sendo guiado única e exclusivamente por seus instintos. Não era de toda culpa sua, como também não era culpa de ninguém. Era um processo que ele tinha que resolver, mas ainda não tinha caído a sua ficha, mas que eventualmente aconteceria.
Mas não naquele início de terça-feira, antes mesmo das 8h, com seu maldito alfa rosnando debaixo da sua pele, em posição de ataque, prestes a atacar se fosse preciso, para afastar Kim Taehyung para fora de alcance de Min Yoongi.
- Qual é, alfa, pra que tanta hostilidade tão cedo de manhã? - Taehyung provocou, sem paciência alguma para lidar com o outro Kim, sua mão pousada educadamente no meio das costas de Yoongi sentindo o quão tenso o ômega havia se tornado de um momento para o outro. - Eu não quero briga, só vim dá um oi ao Yoongi.
- Você deveria se manter longe dele, isso sim. - rosnou, não elevando a voz para não machucar seu melhor amigo - Conheço tipos como você, Kim Taehyung, e o Yoongi não é pra você.
- Isso você não tem que decidir, alfa, o Yoongi tem capacidade suficiente pra decidir quem fica perto ou longe dele.
- Seu merdinha...
- Seokjin, está bom. - Yoongi interferiu quando viu o amigo dando mais um passo em direção ao alfa atrás de si. As pessoas já estavam começando a olhar e ele não queria ficar entre dois alfas raivosos, muito menos sendo ele o motivo. - Chega!
- Gi...
- Chega, já deu com essa merda, hyung. Vai pra sua aula. - afirmou ficando longe do toque de Taehyung ao que deu as costas para sair dali, se estava cansado antes, depois daquilo ficou bem pior. - Eu não quero falar com você.
- Yoongi-ssi. - Taehyung chamou vendo o ômega se afastar.
- Não quero falar com você também, Taehyung-ssi, depois. - foi tudo que disse antes de colocar o fone mais uma vez no ouvido e ir para longe.
- Obrigada por nada, idiota.
- Fica longe do Yoongi, alfa, estou te avisando.
- Ou o quê?
- Posso saber o que está acontecendo aqui? - o inspetor falou, se aproximando dos dois alunos que começavam a espalhar feromônios para todos os lado, e aquela era a última coisa que precisava ter.
Ter qualquer cargo dentro de uma escola mista era muito mais complicado, e complexo, do que podia imaginar. Não era fácil ter que controlar alfas, ômegas e betas, com todos os seus instintos, hormônios e personalidades. Cada um com seu problema e com sua deficiência para tratar. Sem falar quando entravam em cio no meio da aula. Tendo que impulsiona-los a estudar e serem boas pessoas. Putz, era um trabalho árduo em algumas das vezes, o que acabava trazendo a inimizade e alguns alunos.
Adolescentes não eram os mais adeptos do conceito de empatia, então tudo se tornava bem mais dificultoso. Naquela terça-feira, ter um empate de dois alfas bem no meio do corredor, não era algo que o inspetor poderia desejar para o início da sua manhã, por isso tratou de aparta-los de uma vez por todas.
- O corredor não é ringue de luta, então tratem de ir logo para aula. Não vão querer começar a semana já arrumando encrenca.
- Está avisando, Kim Taehyung, fique longe dele ou vai se ver comigo. - Seokjin ameaçou antes de ser empurrado para longe pelo alfa mais velho ali, que não ficou nada contente com as alfinetadas dos alunos. Céus, era por isso que não queria ter filho, porque quando era criança eram fofos e engraçadinhos, mas na adolescência eram terríveis e ele não estava afim de lidar com um adolescente de quem não podia se livrar.
- Quero ver você tentar, babaca.
- Já chega vocês! Pra longe! - grunhiu empurrando cada um para o lado, fazendo com que os mais novos se afastassem e enfim desistissem daquilo. - E ainda não é nem 8h da manhã.
***
Namjoon não conseguiu tirar os olhos de Jimin enquanto o ômega fazia um trabalho excepcional em fingir que não estava o vendo. Era aula de química, no libertário e enquanto o Park estava focado em misturar corretamente as quantidades indicadas para chegar à composição certa. Era péssimo na matéria, então por isso precisava de cuidado redobrado.
O alfa mal conseguia piscar olhando para ele, meio bobo demais para simplesmente desviar as vistas. Gostava tanto daquele ômega, de um jeito que até então nunca tinha gostado de nenhum, mesmo já tendo ficado com uma quantidade significativa deles. Mas era complicado, sempre foi, porque tinha uma família bem rígida que tinha feito milhares de planos para si e ele não sabia como simplesmente ir contra isso.
Ele era de uma família muito rica na cidade. Tudo começou com seu tataravô quando ele transformou uma velha oficina na frente de casa em uma grande montadora com a ajuda do filho, que havia se formado em Engenharia Mecânica. E assim tudo se tornou um ciclo, porque o bisavô do Namjoon se tornou Engenheiro - e o tio Administrador – logo em seguida foi o avô e em seguida o pai. Sempre assim. Todo alfa da família - que normalmente eram muitos porque os Kim tinham uma linha genética muito forte – se formavam em um desses dois ramos para seguir com o negócio da família. Tudo sempre se mantinha em família e para que continuasse acontecendo, os alfas sempre eram ordenados a se envolveram com apenas ômegas da linhagem Kim. Única e exclusivamente.
E sim, era algo bem arcaico em pleno século 21. Mas conceitos familiares existiam sempre e se perpetuavam independente do quão moderno eram os tempos. Namjoon era o único alfa vindo da parte do seu pai, sua irmã mais velha era ômega e deveria ter se casado com seu primo mais novo, mas ela não quis. Se rebelou e se envolveu com uma alfa que iria totalmente fora do que seus pais tinham planejado. E a única coisa que fizeram foi manda-la embora de casa e deserdaram a ômega.
Namjoon não ligava muito para a ideia do dinheiro. Mas seus pais colocavam muita pressão em cima de si para seguir os passos da família. Se formar em administração, casar com seu primo ômega e perpetuar os genes dos Kim. Namorar com Jimin e manter uma relação firme com ele, ou com qualquer outro ômega, não era a adequado para Namjoon e ele queria dizer que não ligava para o que seus pais pensavam, porém eram mentira. Uma tremenda mentira. Se pelava de medo só de pensar deles descobrindo sobre seu envolvimento com o Park, e o intimidando para ficar longe.
Sabia que os pais eram capazes de agir de tal forme. E era por isso que sentia tanto receio de iniciar alguma coisa mais séria com Jimin por mais que quisesse com todo o coração. Ver o ômega agindo daquele jeito, lhe dando um baita de um gelo, doía no seu coração, mas não tirava dele o direito de fazer tal coisa, não quando sequer conseguiu explica-lo quais os motivos que o levavam a travar tanto quando o assunto era namoro.
Jimin foi bastante honesto quando saíram na primeira vez: “não gosto de coisas casuais, se for só pra ficar eu prefiro nem começar. Além do mais que meus pais são muito rígidos e gostam das coisas bem certas”. Ele não enganou o alfa momento algum desde que se aproximaram, então Namjoon nem podia dizer que tinha sido enganado, porque não foi. Park Jimin tinha razão em está agindo daquele jeito para consigo, mas, ainda assim, não significa que machucava menos todo o gelo que estava recebendo.
- O que está havendo entre vocês? - Siu perguntou cutucando o amigo, que era seu companheiro na aula de química, não podendo ignorar a forma como ele olhava para o ômega parado há alguns poucos metros de distância.
- Hum?
- Entre você e o Jimin-ssi, o que está havendo? - enquanto falava, o beta permaneceu focado no que fazia tentando não explodir nada no meio do processo. Namjoon era melhor naquilo do que ele, sempre foi melhor em tudo, mas não podia vacilar na disciplina e baixar sua nota. - Não se falam desde ontem.
- Ele está irritado comigo porque fui pra festa do Jay no sábado.
- Vocês nem namoram e ele já está agindo assim? - havia algum tipo de insinuação por trás do tom em que o beta usou, insinuativa o suficiente para chamar atenção de Namjoon para ele pela primeira vez desde que a aula havia começado. Siu continuou focado no que fazia, misturando a água oxigenada no vinagre branco. - Isso tem cheiro de relacionamento tóxico, Namjoon.
- Do que você está falando? - resmungou estendendo a mão e impedindo que ele colocasse mais água oxigenada na mistura - Ele não está exatamente com raiva deu ter ido à festa, e sim porque eu menti dizendo que não ia e fui. Ele me perguntou, falou que tudo bem eu ir, mas preferir mentir e ir.
- E por que você fez essa merda, alfa? Ninguém nunca te falou que a pior coisa que se pode acontecer é mentir para um ômega? Eles sempre descobrem.
- O lance é que eu nunca precisei dar satisfação a nenhum ômega, porque nunca namorei antes.
- E você não namora agora.
- Eu sei, mas o Jimin é diferente, ele quer namorar e...
- Mas já? - tinha uma expressão clara de horror desenhado no rosto do beta quando ele se virou para olhar o alfa. Era apaixonado pelo melhor amigo, mas nunca precisou lidar com ele tendo qualquer relacionamento sério até então, sempre foi muitos envolvimentos sem nenhuma constância. Jimin era o primeiro e ver Namjoon falando aquilo, fazia algo queimar bem na boca do estômago dele, algo que até então nunca tinha sentido. - Vocês estão ficando há o que? Duas semanas e já estão pensando em namoro?
- Quanto tempo precisa, na verdade? E não é isso, mas o Jimin foi bem honesto em dizer que não se envolveria casualmente, ele não gosta disso, mas eu nem quis conhecer a mãe dele e ela é super importante. Além do mais eu estou agindo como se ele fosse um erro, quando não é.
- Mas você sabe que não pode namorar outro ômega além do seu primo, Namjoon, o que vai fazer?
- Ainda não sei. - deu de ombros enfim se focando no exercício, colocando um pouco de permanganato de potássio no experimento finalizando tudo. - Nem falei sobre o porquê não posso para ele, mas é ruim demais ver ele longe assim.
- Então fale, ué.
- Você acha que não tentei? Esse ômega tem um gênio do diabo, cara, não é fácil, não.
- O negócio é você tenta e explica tudo a ele, ou continua choramingando aqui como um idiota. - Siu se virou na direção contrária do amigo, fugindo do olhar dele porque sabia que o alfa descobriria tudo a partir do momento que o olhasse, e fugia daquilo desde o momento que soube de tal sentimento. - Só tem essas duas alternativas.
Namjoon sabia que o melhor amigo estava certo. Putz, como não estaria. Mas era muito mais fácil apenas choramingar e não fazer nada do que ter que explicar todas as complicações daquilo. Ninguém, nunca, entendia o quão complicado era o seu conceito de família. E muito menos sua dificuldade em ir contra os pais. Sua irmã já estava longe, não queria ter que virar as costas para eles sabendo eu era o único que ainda podia seguir com o legado.
Nada era tão fácil quanto parecia, então sempre era o caminho mais curto apenas ignorar a coisa toda e seguir em frente. Até então havia sido tudo bastante tranquilo, nunca se envolveu por muito tempo com nenhum ômega para tentar explicar. Mas Jimin era diferente. Namjoon queria fazer diferente também. Porém era terrivelmente complicado e enquanto não tomava coragem, só lhe restava observar o Park de longe, morrendo de saudades do doce ômega por quem era apaixonado fazia quase um ano.
***
Já era hora do intervalo, e acredite, Kim Taehyung estava em um mal humor terrível. Tudo pelo ocorrido do início da manhã, quando Seokjin o fez sair do sério e acabou irritando Yoongi. Não queria ter agido daquele jeito, porém foi muito mais forte do que pode controlar.
Tinha passado uma mensagem para Yoongi pedindo desculpas e querendo saber se podiam passar o intervalo juntos. Mas não recebeu resposta alguma. Por outro lado. A mensagem nem parecia ter sido entregue já que ficou com apenas uma setinha de visualização. O que tinha lhe deixado com um mal humor terrível, que não passou despercebido dos seus melhores amigos.
- O que você tem, Taetae? - Seojoon perguntou vendo-o bufando pela décima vez desde que chegou até a mesa. Teve as duas últimas aulas com ele e o Kim tinha sido particularmente bastante quieto e taciturno, não falou praticamente nada e sustentou aquela expressão de desgosto o tempo inteiro. - Que bicho te mordeu?
- Nada, só aquele... Aquele maldito alfa que me tirou a paciência logo cedo.
- Que alfa? - Ara questionou também. Na mesa apenas o casal e Saeron estavam acompanhando Taehyung, dando liberdade para o Kim falar sobre seus sentimentos uma vez que Hyung-ski não estava ali para ouvir.
- Kim Seokjin.
- O do 3° ano?
- Esse babaca mesmo.
- Eu fiquei sabendo que a Yongsun-ssi terminou com ele. Vi ela chorando no banheiro dos ômegas ontem enquanto falava com as amigas. Achei bem dramático, mas não posso julgar, não é?
- E o que ele fez? - Seojoon insistiu arriscando uma rápida olhada para a mesa que ficava a certa distância da sua, notando que Seokjin havia acabado de chegar acompanhado de Jimin, Jungkook e Hoseok.
- Me irritou logo cedo e eu acabei entrando na dele, o que foi uma merda porque estava junto do Yoongi e ele não gostou, agora não sei como me desculpar. E eu não sou idiota o suficiente pra forçar ele a nada desse tipo.
- O foda é você ficar caindo na pilha desse alfa, Tae, sinceramente. Ainda mais sabendo que ele não gosta de você. A única pessoa que tem que dizer se quer ou não você por perto, é o Yoongi, e não esse alfa. Ficar entrando em confronto besta com ele não vai dá em nada.
- Hyung, eu sei, mas... - Taehyung soltou um suspiro de pura agonia passando as mãos grandes pelo cabelo e o rosto logo em seguida. Estava irritado com o que aconteceu, estava irritado por ter caído na provocação e estava se sentindo mal por ter deixado Yoongi mal também. Tentou ajudar e no final só piorou tudo - Porra, eu não consegui me controlar hoje. Eu conversei com o Yoongi ontem à noite, ele me falou com todas as letras, que ainda não queria ter que lidar com esse alfa e quando eu vi os dois hoje de manhã, pensei “vou lá tirar ele dessa situação” e era só isso, mas aquele merda veio colocando banca para o meu lado e eu não aguentei. Paciência tem limite e hoje Seokjin-ssi testou a minha.
- E o que você ganhou com isso? - Saeron, com aquele seu tom manso e calmo ao falar, questionou sem desviar os olhos da sua comida. Não tinha conseguido tomar café, perdeu a hora, então tinha pego mais lanche do que normalmente pegava para aquele horário.
- Como assim?
- Ir na provocação dele, te fez ganhar o que?
- Nada, eu só fiquei com raiva e o Yoongi está chateado comigo.
- Valeu a pena, no final?
- Não valeu, mas sinceramente, beta, se tiver que acontecer de novo, eu não vou baixar minha cabeça. Esse merda nem se deu ao trabalho de conversar comigo e sabe-se lá porque me detesta. Eu não tenho culpa se de alguma forma os boatos sobre eles forem verdade, não vou sair dessa até Yoongi falar para eu ir.
- Quais boatos?
- Você nunca ouviu, Ara? - perguntou com outro suspiro, cansado, exausto, os ombros doloridos e sem muita força - Dizem que ele é apaixonado pelo Yoongi.
- Bem que eu imaginei, ele age muito estranho...
- O Yoongi garantiu que não é verdade, ele me falou que tem certeza sobre isso, e aparentemente Seokjin só é um babaca mesmo que não deixa o amigo respirar e ter novos amigos.
- É um problema que você vai ter que lidar, Taetae, mas não é agindo da mesma forma que ele, que você vai conseguir.
- Eu sei, só não...
Antes de poderem falar alguma coisa, Hyung-ski chegou à mesa deles carregando seu lanche, falando alto no meio do processo e sendo particularmente exagerado. Saeron, como não estava com muito humor naquela manhã - o que não chegava a ser nenhuma novidade, mas que naquela terça-feira estava bem evidente – apenas recolheu seu lanche e saiu da mesa, se deslocando para uma outra vazia.
A beta não falou nada, apenas recolheu suas coisas e saiu. Não tinha estômago para lidar com 30 minutos seguido com Hyung-ski. E tão pouco psicológico para tal coisa. Não conseguiria suporta-lo nem se fosse remunerada para fazer, tão pouco de graça. Então apenas saiu. Era como sua mãe sempre falava “os incomodados que se mudem” e ela estava incomodada o suficiente com o alfa para sequer tentar fingir que não.
Todos perceberam isso na mesa. Foi tão claro a aversão da beta para com Hyung-ski quem nem mesmo ele – quem costumava levar tudo na brincadeira e fazer piada de todas as situações - conseguiu falar nada. Apenas observou ela indo para outro mesa. Não dando a ele sequer um olhar, fazendo com que o alfa sentisse indigno até mesmo para receber um pouco da atenção dela.
Hyung-ski era um baita de um babaca. Porém não era de todo ruim e ver a forma como sua amiga – porque, apesar de tudo, era isso que Saeron significava para si, mesmo a reciproca não sendo verdadeira – o tratando de tal forma, lhe deixou realmente mal. Não mal de uma forma que lhe deixasse triste ou fizesse com que enfim repensasse na sua postura. Não era para tanto. Mas mal para apenas dá de ombros e não falar nada a respeito. Fingiu não ligar. Fingiu, muito mal por sinal, que não sentiu nada.
Taehyung começou a comer, ansioso para receber qualquer que seja a mensagem de Min Yoongi lhe dando carta branca para ir até ele. Tinha passado no ginásio antes de ir para o refeitório, porém não o encontrou e arriscou a mensagem. Queria tanto conversar com o ômega, se explicar e pedir desculpa se tivesse lhe chateado. A última coisa que queria era lhe deixar mal de alguma forma. Mas a mensagem continuava com apenas uma setinha ao lado, confirmando que tinha sido enviada, porém não recebida.
Ara e Seojoon, por outro lado, se prenderam no mundinho de amor deles enquanto conversavam baixinho e trocavam pequenos beijos. Os dois tinham se conhecido no 1° ano do ensino médio, se gostaram de imediato e começaram a namorar poucos meses depois. Estavam juntos desde então e tinham planos grandes um para com outro. Se iriam realizar, ainda era bem complexo de dizer, mas tinham planos e até então, foco em cumpri-los. Apenas ali, conversando, e sendo fofos. O casal estava entrosado que quase – mas quase mesmo - não conseguiram ver o momento em que Hyung-ski resolveu abrir sua boca e falar todas as asneiras que ele estava sempre tão disposto a falar.
- Então, Tae, eu te vi com aquele ômega estranho outra vez. - disse de modo desleixado dando uma mordida enorme em seu hambúrguer. Um grupo de ômegas e betas passaram pela mesa deles, acenando em direção a Taehyung, porque aquilo sempre acontecia, mas Hyung-ski fez questão de cumprimentar piscando um dos olhos para todos ali. - Eu queria saber qual o segredo, alfa, pra ter tanto ômega atrás de você. E até beta também.
- Eu só sou uma pessoa agradável, Hyung-ski, nada mais do que isso. E não se refira ao Yoongi-ssi usando esses termos, ele tem nome e tão pouco é estranho.
- Ele é até bonitinho, não vou negar, e tem um cheiro muito bom. Mas, vamos ser honestos aqui, tudo bem? Olha pra você, alfa... - como se para comprovar o que estava dizendo, ele deu um tapinha contra o peito forte de Taehyung rindo pela forma como o amigo lhe afastou em um empurrão quase violento. Seojoon e Ara, sentado em um lado aposto da mesa, se encolheram minimamente quando viram o modo como as sobrancelhas do Kim se curvaram para baixo em irritação. - Tem que ficar com um ômega do tipo assim. - aponto para um ômega que seguia na direção contrária à deles. Era uma linda ômega que sempre estava ganhando uma quantidade irritante de atenção. - E não um ômegazinho esquisito que mal fala.
- Hyung-ski, a gente já falou com você pra não falar assim dos outros, cara, parece que não ouve as coisas que a gente fala.
- Mas é foda mesmo, eu só estou dando uma dica ao meu amigo Tae, ué, o que tem de mais nisso? - insistiu tentando tocar Taehyung mais uma vez, porém não conseguiu porque sua mão foi cruelmente empurrada para longe. - Então, voltando, eu vi você com ele e resolvi te dar um toque, alfa, porque isso já estava começando a soar mal.
- Eu não quero seus toques, alfa, então guarde eles para você. - Taehyung passou as mãos outra vez pelos cabelos, em um claro sinal de desespero, agoniado demais com aquela droga de conversa. Seu humor já tinha ido por água a baixo com toda aquela merda de Seokjin logo cedo, agora ter que lidar com Hyung-ski tiraria toda e qualquer paz que ainda pudesse lhe restar. Não tinha nem saco pra aguentar isso. - E já falei, não trate o Yoongi assim. Tenha decência para falar dele, dele e de qualquer outro ômega.
- Porra, vocês andam chato demais com esse lance do politicamente correto. Vão se foder.
Ele pareceu mudar de ideia quando não voltou a insistir no assunto, comendo seu hambúrguer em silêncio enquanto Seojoon e Ara tentavam aliviar o clima para o Kim. Sabiam o quanto assuntos como aquele lhe transtornavam, então, sendo bons amigos, trataram de aliviar qualquer mal-estar ao mais novo. Gostavam demais dele, de verdade para simplesmente ignorar o que ele estava sentindo e invalidar tudo. Não eram daquela forma e não começariam a ser diante tal situação.
Hyung-ski, por outro lado, parecia totalmente alheio comendo seu lanche e tentando flertar com todo os ômegas - e betas, porque ele não era do tipo que se envolvia romanticamente com betas, mas fazia como a maioria, sempre se divertindo as custas deles – sendo um completo ridículo. Era até engraçado se não fosse tão trágico. Porque aquilo era tão corriqueiro do alfa que mais ninguém dava muita moral para ele, e os que dava, infelizmente, aprendiam da forma errada, que ele não queria nada sério.
Porém, como desgraça só acontece de muito, Kim Namjoon entrou no refeitório e seguiu direto para a mesa aonde normalmente estava ficando. E Hyung-ski não deixou de notar isso, seguindo o alfa logo o notando junto de Park Jimin. Putz, Park Jimin, a personificação de perfeição no dicionário pessoal daquele alfa.
Ele não podia dizer que gostava, gostava do Park, não era exatamente assim, mas também não era de total mentira se fizesse esse tipo de afirmação. Algo naquele ômega lhe deixava babaquinha, de boca aberta, arreado os quatro pneus. Já tinha tentando algo, era ligeiro e se queria algo, ia atrás, não costumava apenas sentar e esperar. Então foi atrás de Jimin, lógico que foi, mas não teve sucesso e o ômega educadamente lhe dispensou. Mais de uma vez, para sua desgraça.
Só que não tinha desistido, sua mãe alfa sempre lhe falava isso “se você quer, faça por onde ter” e ainda não tinha feito o suficiente para Jimin lhe notar de forma positiva. Pagou mico na frente dele e isso não era algo que Hyung-ski podia se orgulhar. Mas os deuses eram bons demais porque, agora, um dos seus amigos mais próximo estava andando com um dos melhores amigos de Jimin. E se Taehyung era benevolente o suficiente para não pedir nenhum favor a Min Yoongi em troca da sua boa ação, sinceramente, Hyung-ski não tinha toda essa bondade e não dava a mínima.
- Como é o nome do ômega mesmo, Tae?
- Que ômega?
- O que vocês estão com uma mania irritante de defende ultimamente, qual o nome dele?
- Qual o motivo desse súbito interesse, alfa? - Seojoon questionou erguendo umas das sobrancelhas em puro questionamento. Sua ômega apoiou o rosto contra seu pescoço, tentando se preparar para a nova enxurrada de besteira que seria obrigada a ouvir vinda do alfa sentado à sua frente.
- Foda-se, não vai falar, não tem problema. Mas eu sei que ele é melhor amigo do Jimin, não é, Park Jimin e eu estava pensando [...]
- Milagre.
- [...] que talvez você podia perguntar a ele algo sobre o Park pra mim, não acha, não? Eu acho lindo você fazendo caridade, tentando ser amigo desse ômega e tal, mas bem que podia ajudar seu amigo aqui. Aposto que ele nem vai ligar, geral já fez isso e basta você colocar um belo sorriso para ele, que tudo fica certo. O que você me diz? Ômegas como ele só servem para isso mesmo, Tae, então quebra meu galho, que tal?
Taehyung não conseguiu ter uma reação de imediato, foi tão chocante e absurdo que não teve reação. Se perguntou se era aquele tipo de coisa que Yoongi sempre ouvia sendo atirado em sua direção, e se fosse, podia entender melhor porque o Min tinha tanto receio de manter alfas perto. Era todos tão idiotas que o Kim sequer soube o que fazer ou falar, assim, de imediato.
Algo ruim tomou conta de si, apertando seu coração de uma forma sombria e ele viu quase sem ar, de tanta, tanta raiva que sentiu. Sua visão escureceu por um instante e se não fosse o modo como Seojoon rapidamente estava em pé ao seu lado, o segurando pelo ombro para se levantar também enquanto Ara – tentando ser o mais discreta possível para que ninguém pudesse perceber o que estava acontecendo ali – o empurrou para longe quando Taehyung grunhiu e tentou avançar em Hyung-ski. O alfa tão assustado com a repentina ação do Kim que nem conseguiu se mover, os olhos arregalados de susto.
- Agora você passou do limite, alfa. - Ara acusou ainda empurrando Taehyung para que ele ficasse de vez em pé, Seojoon o segurando pelo ombro o puxando. Sabia que o Kim não arrumaria uma confusão bem no meio do refeitório, ele era controlado demais para se prestar ao papel de agir como um selvagem. Mas Hyung-ski tinha lhe atingido forte demais para ele querer revidar, e iria, se os amigos não tivessem agido tão rápido e o impedido. O casal merecia uma medalha pela velocidade que usaram - Você não toma vergonha mesmo na cara.
- Fica longe dele, alfa, não vá importuna-lo com sua merda ou eu vou acabar com você. - a voz de Taehyung saiu ainda mais grossa, seu alfa tomando espaço sob a sua pele, usando seus feromônios ao ponto da própria Ara se encolher em dor quando ouviu o amigo. Alguns ômegas mais próximos também sentiram o impacto em seus ouvidos, enfim olhando para a cena. - Fica longe dele.
Taehyung naquele estado não era uma boa coisa, porque era claramente um alfa defendendo um ômega que tinha reivindicado e o Kim – inconscientemente – pelo visto, já tinha feito aquilo pelo Yoongi. Então era óbvio que algo de bom não poderia sair dali e seus amigos fizeram o favor de tira-lo do refeitório antes que mais pessoa pudessem perceber o estado que ele ficou. Deixando Hyung-ski confuso para trás.
Saeron, na mesa que ocupou, percebeu quando Seojoon passou arrastando o alfa e tratou de seguir os amigos quando Ara sussurrou um “vem também” porque talvez fosse precisou de umas palavras dura para fazer o alfa de Taehyung voltar para seu lugar, e não tinha ninguém melhor do que Saeron para exercer tal função.
Com sorte eles estavam lá para intervir, mas depois do embate ficaram particularmente preocupados sobre o que podia acontecer caso Hyung-ski insistisse naquele assunto mais uma vez e ninguém estivesse por perto. Taehyung era muito mais forte que ele e mesmo não sendo um alfa do tipo temperamental, até um monge poderia perder a paciência quando o assunto era o outro alfa em questão.
***
Naeun estava focada em preparar o almoço do jeito que o filho gostava para ver se animava Yoongi um pouco. Era seus últimos dias de férias, a partir da sexta-feira o mais novo passaria boa parte do seu dia sozinho, e como ele ainda andava entristecido – pelo motivo que não sabia e nem tinha plena confiança de que iria descobrir – ela queria fazer algo para poder anima-lo, nem que fosse só um pouquinho, mimando seu filhote enquanto ainda tinham tempo de sobra para fazer isso.
Passariam muitas horas de cada dia um longe do outro, então Naeun estava decidida a fazer aquele tempo valer a pena.
Estava preparando os alimentos que Yoongi mais gostava de comer. Barriga de porco assada. Guisado apimentado com bolinho de arroz, tofu e broto de beijão. E todos os acompanhamentos que ele gostava, cenouras em conversa, nabo em conversa, kimchi e arroz frito com ovo. Queria vê-lo bem com uma comidinha do seu tempero que sabia que o ômega gostava.
Faltava menos de 1h para Yoongi ser liberado da aula e Naeun estava sendo o mais ágil possível na cozinha. O arroz já estava cozinhando na panela elétrica e o guisado no fogo, a carne separada e tudo parcialmente pronto. Na sala a tv estava ligada em um filme qualquer da programação, as vozes dos atores em cena ajudando para que a casa não se tornasse completamente silenciosa, nunca gostava do silêncio. Focada no que fazia quando seu celular tocou em cima da mesa de jantar, atraindo a sua atenção para a tela.
Era um número desconhecido, que não estava na sua lista de contato e como trabalhava muito com aquilo, porque no escritório havia sempre pessoas lhe ligando depois de pegar seu número com uma pessoa aleatória, Naeun não viu mal algum em atender a ligação. Limpando suas mãos em um pano de prato, ela foi rápida em aceitar a chamada quase no final do toque.
- Pronto. - falou ao atender, com um tom muito natural de voz. Trabalhava em um escritório de uma construtora exercendo seus diplomas em Administração e Contabilidade. Fez duas faculdades ido contra tudo que seus professores falaram que faria ainda na escola, sempre a colocando para baixo e a menosprezando. Hoje tinha um bom cargo e uma boa condição financeira, independente. Então sempre tinha ligações em seu celular de pessoas que não conhecia, aquilo não era tão anormal assim, por isso atendeu tão bem, por mais que não tenha recebido uma resposta em seguida. - Alô? Quem está falando?
- Naeun, sou eu.
Era Min Yoseob. E ela não precisou de mais do que aquelas três simples palavras para saber que era seu ex-marido, e pior, seu corpo, sua alma, sua marca também pareceram saber disso porque tudo pareceu doer, queimar e agonizar. Seu pescoço doeu ao ponto da sua respiração sair mais acelerada, o coração afundando contra o peito. Uma dor que lhe dilacerou cada parte do seu ser.
A última vez que tinham se falado havia sido na audiência que assinaram os papéis do divórcio. Nem mesmo tinha o número dele – que aparentemente havia sido trocado – e se não fosse o dinheiro da pensão de Yoongi caindo na conta dela todo mês, não haveria laço algum entre eles. E acredite, não era por escolha de Naeun ou de Yoongi, mas do próprio Yoseob que deixou bem claro que não queria uma aproximação, e quando o juiz abriu questão sobre Min Yoongi, o alfa apenas concordou em pagar pensão, mas nem mesmo quis discutir visitas.
A partir daí, as coisas tinham se tornado nulas entre eles e dentro de um ano após sair de casa – pasmem – aquele era a primeira vez que o alfa havia se dado ao trabalho de ligar para a ex-esposa. Que preferia que ele não tivesse ligado.
- Sei que parece inesperado, mas preciso falar com você. Liguei para seu trabalho, mas me falaram que você tirou uma licença e depois férias, então me deram seu número.
- O que você quer? - a voz dela saiu grossa como se tivesse engolindo um punhado de areia, seus olhos queimando em uma onda de lágrimas que ela bravamente impediu que transbordasse.
- Falar com você sobre o Yoongi.
- Hm, lembrou que ele existe agora? - Naeun desejou que sua voz tivesse saindo com um tom mais ácido e irônico do que realmente saiu. Mas seu tom era de pura magoa, porque se o abandono como ômega doía, pode ter certeza, o abandono como mãe, em saber que o ex simplesmente esqueceu o filho que sempre se gabou dizendo ser seu sonho, doía dez vezes mais forte. - Vá direto ao ponto, Yoseob, você sabe que detesto enrolação.
- Esse mês preciso diminuir a pensão do Yoongi, não dá pra pagar o valor total.
- Como é?
- Precisa aceitar um valor menor esse mês, não posso arcar com essa dívida porque tenho outros planos que me impedem de fazer isso.
- Você só paga o suficiente para a mensalidade da escola, Yoseob, é uma quantia irrisória, e você ainda quer diminuir isso? Acabei de comprovar que você não tem o menor pingo de vergonha na cara. - aquela já não era mais uma ômega triste chorando por sua marca que estava sendo fechada, dilacerada com aquele abandono, e sim uma ômega que defendia seu filhote com unhas e dentes e sempre seria assim, independentemente da idade que Yoongi tivesse. Sabia que não teria outro filho, não tinha esse desejo em seu coração e daria seu melhor ao seu ômega sempre. Porque aquilo, aquela força que surgia em cada ser depois de gerar e cuidar de uma vida com todo o seu amor, sempre seria maior do que qualquer dor. Era instinto e Yoseob estava provando disso naquele instante. - Por mais que não goste disso, Yoongi tem direito a pensão até a maior idade, foi algo obrigado pelo juiz. Com a droga do seu dinheiro eu só consigo pagar a escola dele e você ainda quer diminuir? Faça-me o favor.
- Estou cheio de gastos esse mês, ômega, não consigo pagar tudo. - grunhiu do outro lado da chamada e se a marca ainda tivesse completamente vinculada, aquilo teria afetado Naeun como normalmente acontecia com ômegas vinculados. Mas a marca havia entrado em processo de cicatrização fazia um tempo considerável, então o efeito era pouco. O que a deixou ainda mais irada, em ver ele usando daquela artimanha sujo para subjugá-la. - Precisei comprar um armário novo para os meus filhos e vou fazer uma festa de aniversário para o mais velho, isso causa muito gastos, então não posso pagar tudo. Seja um pouco menos cabeça dura, está sendo injusta em não ver o meu lado enquanto...
- Como é? Você acabou de usar a palavra injusta ou eu estou ouvindo muito mal? Você, logo você, quer falar de injustiça comigo, Yoseob? Pois bem, deixe eu te falar sobre isso já que conheço muito bem. Injustiça é você dá alguns wons todo mês ao seu filho e achar que isso vai suprir toda as necessidades dele. Yoongi não teria nem mesmo o que comer se dependesse do pouco que você dá todo mês, sou eu quem dou de tudo e ele também é sua responsabilidade. Nunca te exigi nada nesse tempo todo, nunca pedi uma moeda além do que você já dá. Você não fala com ele há um ano, Yoseob, você não procurou saber se ele nem mesmo estava vivo nesse meio tempo e agora me liga pra falar isso? Ao meu ver isso sim é injustiça. Faça quantas festas quiser para o seu filho, dê toda a importância do mundo a crianças que nem mesmo possuem seu sangue. Faça isso, seja benevolente a esse ponto. Mas se quer diminuir a merreca que você manda todo mês, vá até o juiz. Se ele concordar que não deve nada, ótimo, vou aceitar numa boa, até lá, mande tudo ou eu vou atrás dos direitos do meu filho.
- Naeun...
- Lembrando que deve ser enviada até o dia 5 para que a escola seja paga antes da data de vencimento. E por favor, não me ligue mais, principalmente para falar essas asneiras.
Sem mais, ela desligou a chamada, engolindo um grito de puro ódio ao evitar jogar o celular do outro lado da cozinha, bem na parede. Pela primeira vez ela sentiu-se consumida pela raiva, ódio, e ela nunca tinha sentido tal coisa nem mesmo quando descobriu toda a traição. Ficou triste, deprimida e arrasada. Mas raiva e ódio não sentiu. Não era da sua natureza sentir-se de tal forma, Naeun era boa demais até para deixar que sentimentos como aquele entrassem em seu coração.
Mas foi impossível se sentir diferente depois daquela ligação. Não com aquela angustia apertando seu peito de forma desesperada, comprimindo em agonia. Quando suas lágrimas saíram, não foi porque sua marca doía - e doía como o inferno - não foi por tristeza – apesar de sentir – foi de raiva. Foi de um sentimento escuro e sombrio. Ali, no meio da cozinha pequena de sua casa, Naeun soube que não podia mais continuar com aquilo, não podia mais se arrastar sob aquela dor sem agir por uma melhora. E foi por isso, mesmo que o coração tivesse doendo como nunca, ela juntou seus cacos e voltou ao que estava fazendo.
Yoongi não saberia sobre aquela conversa. Ele não merecia passar pelo mesmo que ela. E se precisasse sustentar o sorriso no rosto na frente dele até poder esbravejar sozinha, faria porque era isso que mães faziam. Continuavam de pé pelos seus filhotes mesmo quando não tinha força alguma para se sustentar.
***
Yoongi tomou um baita susto ao sair da sala e dá de cara com Kim Taehyung a sua espera. O alfa precisou de um bom tempo para se acalmar, Saeron não pegou leve em lhe dizer algumas verdades que estava precisando ouvir e ficou ao seu lado o tempo todo, conversaram muito e ele fez questão de explicar tudo a amiga, cada parênteses daquela história com Yoongi e a beta entendeu, ela era boa demais até para ser ignorante sobre qualquer questão, mas ela também foi bastante dura em explica-lo como a vida era e que sair do seu eixo sempre que alguém falava algo contrário aos sentimentos que possuía pelo Yoongi, acabaria tendo que enfrentar o mundo inteiro. E isso era gente demais para bater de frente.
Porque existiam poucas pessoas que torcesse de verdade por eles. Que estivesse ali falando algo positivo. Em compensação, uma infinidade estaria ali pronta para falar algo que nem sempre ele ia gostar de ouvir. Por mais normativo que fosse um casal como Taehyung e Yoongi, pessoas eram pessoas, e elas costumavam ser desagradáveis em uma proporção realmente assustadora. Então sempre teria críticas, dentro ou fora da escola.
Lidar com elas era essencial. E evitava muito estresse.
Logo após essa conversa – que foi participada apenas pelos dois já que o casal Seojoon e Ara precisaram ir para sala logo após o fim do intervalo – Saeron aconselhou de Taehyung ir falar com Yoongi e se desculpar, se era isso que queria mesmo fazer.
E era. Então não perdeu tempo. Pediu para sair dez minutos mais cedo da sala ao professor e prostrou-se diante a sala de Yoongi, dispostos a falar com ele ainda naquele dia e não deixar nenhum mal entendido para depois.
- Posso falar com você um instante? - Taehyung perguntou dando dois ou três passos em direção ao ômega. Boa parte dos alunos já tinham saído da sala e os poucos que ainda restavam, passaram por eles sem interferir em nada.
- Hm, claro, pode.
- Eu só queria pedir desculpas pela forma que agi mais cedo, não deveria ter entrado na pilha do Seokjin, foi estúpido da minha parte.
- Não precisa disso, Taehyung-ssi, eu também não agi da melhor forma com você, então não se preocupa com isso. Acabei me irritando com o Jin-hyung e descontei em você também, sinto muito, aquela cena inteira me irritou.
- Você está certo, eu não deveria ter agido daquele jeito. Eu só pensei, sei lá, a gente conversou ontem e você me falou que ainda não estava preparado para conversar com ele, então resolvi intervir e te ajudar. Mas só atrapalhei. - ele apoiou as duas mãos nas alças da mochila, se sentindo de fato perturbado pelo modo como ágil. Podia parecer bobo para outros, mas Taehyung não se orgulhava da forma como tinha agido porque não tinha nada para se orgulhar em ser um alfa estúpido - Sinto muito.
- Alfa... - Yoongi se aproximou assim que notou a cara que Taehyung estava fazendo, tocado com a expressão desanimada no rosto. Sempre viu tanta verdade em cada ato e atitude do Kim, sempre tão genuíno e singular. Apreciava demais isso e não conseguiu não se afetar com o jeito que ficou ali. Uma das suas mãos tocou o braço do alfa na altura do bíceps, em um alento, ganhando a atenção do maior para si, estupefato porque aquela era a primeira vez que Yoongi o tocava e foi em um ato completamente espontâneo. - Está tudo bem, não precisa ficar assim, eu quem te agradeço por ter tentado me livrar daquilo. E também não fica pensando muito no que o hyung falou, vou me resolver com ele no tempo certo, então não precisa comprar essa briga por mim, por mais reconfortante que seja saber que está do meu lado.
- Acho ele um babaca... Desculpa, sei que ele é seu melhor amigo, mas não consigo pensar diferente e vendo o jeito dele hoje, entendi porque você não quer um conflito de cabeça quente, eu fiz e só deu merda. - Taehyung viu com atenção quando Yoongi tentou afastar a mão do seu braço, sendo mais rápido em segura-la junto a sua se forçando a não entrelaçar os dedos, mas não se negando aquele momento. As bochechas de Yoongi ficaram quente de pura vergonha, mas havia algum tipo de prazer sombrio naquele ato, e por isso ele não afastou a mão, por mais estranha que a cena pudesse parecer para alguém. - Não vai acontecer de novo, tem a minha palavra, vou evitar um conflito com Seokjin até onde conseguir. Mas também não vou enganar você e dizer que me sinto bem com isso e que irei fugir, porque não irei. Não vou atrás dele, ômega, mas não foi baixar minha cabeça se ele vier atrás de mim.
- Eu entendo, obrigado por ser honesto.
- Eu sempre irei ser honesto com você, ômega, talvez eu ainda não possa te falar toda a verdade, mas estou sendo o mais franco possível a cada palavro que digo a você.
- Por mais estranho que possa ser, Taehyung-ssi, eu sinto que sim. Eu só não sou espontâneo o suficiente pra te falar isso.
- Já estou satisfeito com você me deixando saber agora.
Taehyung não largou a mão dele. Muito pelo contrário, ainda em um aperto sútil, ele se aproximou de Yoongi, perto o suficiente para poder deixar um beijo em sua testa assim como no dia do shopping. Porém, diferente daquele dia, Yoongi teve mais atitude quando apoiou sua mão livre contra as costas do alfa em um meio abraço desajeitado, mas que foi incentivo suficiente para que o Kim lhe abraçasse como sempre desejou abraçar. Os dois braços em volta do corpinho pequeno, apertando-o com gosto porque Taehyung não iria se perdoar caso perdesse aquela oportunidade.
Estava meio sentido com o que aconteceu, sempre ficava quando perdia o controle sobre seu alfa e deixava ele tomar conta de si, ainda mais contra um amigo que estava falando mal do ômega que seu alfa já tinha praticamente reivindicado para si. Era muita pressão. E ter Yoongi ali, em seus braços, por mais bobo que pudesse ser, foi muito reconfortante para o alfa.
Apertou ele bem junto contra o peito, sentindo o cheiro doce – e esmagadoramente bom de Yoongi – contra o nariz quando apoio o queixo no ombro dele. O corpo levemente curvado para frente para ter mais contato. Apertou tão firme que Yoongi – que tinha sido totalmente pego de surpresa pela atitude do alfa – soltou um riso estrangulado, as mãos apoiadas contra os braços fortes, o rosto ainda mais vermelho, em um misto de vergonha e falta de ar.
- Alfa, está me esmagando. - grunhiu em meio ao riso, realmente se divertindo com aquilo, dando batidinhas contra os braços do alfa. - Alfa!
- Oh, Yoongi-ssi, desculpa, eu te machuquei.
- Não, alfa, não me machucou, mas quase me matou sem ar. - ele disse de um jeito muito bem humorado rindo um pouco na direção do maior. Era sobre aquilo, sabe? Sobre aquela sensação de bem estar que sempre sentia quando Taehyung estava por perto, era por conta dela que Yoongi não conseguia ficar longe mesmo que seu lado ruim o tentasse sabotar dizendo que o Kim estava brincando consigo, ou ignorava quando Seokjin tentava lhe dar ordens. Era por conta daquela sensação, daquele sentimento de que alguém queria seu bem independente do seu mal jeito. O sorriso fácil e o quão aquecido seu coração podia se tornar. Como apenas virar as costas e ignorar isso?
- Eu fiquei emocionado, foi mal. - riu junto do menor, não tomando muita distância, mas não invadindo completamente seu espaço pessoal. - Então está tudo resolvido entre a gente, não é?
- Sim, está.
- Ufa, graças aos céus. - ele fez uma dancinha engraçada com direito a pulinhos e soquinhos no ar, enquanto Yoongi gargalhava tão alto que nem parecia o mesmo ômega do início do dia. - Agora sim meu dia ficou bom. Fiquei aflito quando te mandei mensagem e você não me respondeu, fiquei logo achando que nunca mais ia querer falar comigo.
- Não, eu só estou sem internet e fiquei o tempo todo na sala lendo, desculpa.
- Não, você não tem culpa, eu que sou sempre emocionado demais e já vou me precipitando em tudo.
- Hm, agora, já que está tudo resolvido, eu vou indo, já está ficando tarde e minha mãe vai me esperar para almoçar, então tenho que ir pra não ficar preocupada.
- Você vai com seu amigo?
- Não, vou andando, não é tão longe assim.
- Nem pensar, hoje eu vou te levar em casa.
- Alfa, não...
- Eu não vou me perdoar se deixar você ir pra casa andando mesmo eu estando de carro e não levando mais do que vinte minutos pra isso. Vamos, por favor, faça esse alfa aqui feliz e aceite minha carona.
- Taehyung-ssi.
- Por favor, ômega. - Taehyung juntou as duas mãos em suplica fazendo uma carinha de cachorro abandonado tão fofo que Yoongi viu seu coração amolecendo no mesmo instante, sorriso com seus dentinhos fofos na direção do maior – Por favor.
- Tem certeza que não vou te atrapalhar?
- Juro.
- Então tudo bem, Taehyung-ssi. - disse em um suspiro, gargalhando alto mais uma vez quando o alfa fez mais uma vez sua dancinha de vitória, todo feliz.
O Kim reprimiu sua vontade de voltar a abraçar o ômega, igualmente a vontade de pegar em sua mão mais uma vez, sabendo que existia limites e não deveria ultrapassa-lo. Ele apenas sustentou aquele sorriso imenso no rosto seguindo até o lado de fora do prédio principal com Yoongi ao seu lado, atraindo certa atenção dos poucos alunos que ainda tinha ali no corredor.
Jimin e Jungkook estavam perto do estacionamento esperando o amigo para poderem ir para casa, Seokjin tinha ido para o carro dizendo que iria esperar lá até eles e assim que viu o Min se aproximando, já recolheram suas mochilas prontos para ir embora.
- Vamos, Gi? - Jimin perguntou tentando não sorrir tão grande diante a imagem à sua frente. Jeon, ao seu lado, fazendo o mesmo, intercalando o olhar entre o amigo e o alfa ao lado dele. Nada discreto. - Jin-hyung já está esperando no carro.
- É que... Hoje eu vou com o Taehyung-ssi, tem problema pra você?
- Lógico que não. - Jungkook falou apressado, um sorriso sapeca surgindo em seu rosto à medida que as bochechas de Yoongi iam ganhando uma coloração rosada de pura vergonha, e Jimin e Taehyung tentavam não gargalhar com a proeza de Jeon - Pode ir amigo, a gente te acoberta com o Jin-hyung. Se divirtam-se, mas não muito, com consciência porque somos novos demais e tem certas besteiras que...
- Gguk, está bom. - Jimin interviu gargalhando um pouco com a carinha fofa que Yoongi fez, morto de vergonha. - Vai lá, Gi, avisa quando chegar.
- Tudo bem, eu aviso.
- Se cuida.
Os ômegas trocaram abraços de despedidas, com direito a beijinhos no rosto de Yoongi mesmo que ele tenha fingido não gostar só para os amigos rirem um pouco. Logicamente houveram as ameaças de sempre, do tipo “cuide bem do meu amigo ou vai ter que lidar com a gente” e também um pouco de “Jungkook sabe artes marciais, ele acaba com você fácil se machucar o nosso Gi”, mas Taehyung não era do tipo que brincava com o perigo então tratou de deixar os dois ômegas tranquilos de que iria levar Yoongi em segurança para casa.
Em seguida, eles foram para o estacionamento aonde os carros estavam, se separando apenas no meio do caminho quando perceberam que iriam para direções diferentes. Yoongi mais uma vez se despediu dos amigos com abraços rápidos, ele não era muto fã, mas Jimin e Jungkook eram grandes apreciadores de contato físico e não era nenhuma tortura para o menor.
Com uma mão bem apoiada contra suas costas, ele apenas deixou ser seguido até um carro preto perto da saída, tentando não demonstrar tanto assim seu nervosismo que estava o fazendo soar um pouco. Era patético, mas estava nervoso e não um nervoso de medo, daquele que a gente tem quando fica assustado com algo, era mais do tipo de ter borboletas voando em seu estômago e suas mãos um pouco trêmulas. Um comportamento meio estúpido, porém era mais forte do que ele. O que ficou ainda pior quando o alfa destravou o carro e fez questão de abrir a porta do passageiro para ele entrar e se acomodar no banco.
- Está meio bagunçado, mas juro que não é sempre assim. - Taehyung disse de modo bem humorado vendo que o banco de trás tinha algumas coisas jogada por cima já que seu pai havia usado o carro no final de semana e nem ele e nem Dar-hu tinha se dado ao trabalho de limpar. - O papa me mandou lavar ontem, mas eu fiquei com uma preguiça enorme, então não limpei nada.
- Pra ser bem honesto, não tinha percebido que estava bagunçado até agora. - ele apoiou a mochila do banco e tratou de colocar o cinto de segurança, respirando baixinho para que o alfa não notasse como estava nervoso. Suas mãos presas contra o tecido grosso da bolsa, os ombros tensos. Céus, era só uma carona e ele agia como se tivesse algum significado grande para aquilo. - Eu não ligo pra isso, alfa.
- Isso é muito bom de ouvir, acredite.
Quando Taehyung girou a chave na ignição e ligou o carro, tanto o ar-condicionado quanto o som logo ativaram também, “put your head on my shoulder” começou a tocar bem na parte que Paul Anka canta “envolva-me em seus braços, amor, aperte-me bem forte, mostre-me que você me ama também” já no finalzinho da canção fazendo Yoongi sorrir, porque mesmo não sabendo exatamente o que dizia a letra, ele já tinha ouvido aquela canção antes e gostava dela.
Embalados pela música, que logo trocou para a voz potente e marcante da Nina Simone cantando Feeling Good, o alfa dirigiu o carro para fora da escola indo em direção a casa de Yoongi, indo pelo lado oposto da direção da sua casa. Os dois não conversaram muito, Yoongi tentando não agir de modo estranho enquanto dava as orientações para o Kim aonde era sua casa e quais as melhores ruas para ir, enquanto Taehyung prestava atenção em tudo batucando os dedos distraidamente contra o volante no ritmo da música.
Não era muito longe, de fato, então não levaram nada mais do que dez minutos para chegar, o carro estacionando em frente a uma casa de primeira andar, com uma bela pintura em amarelo na frente, e um pequeno canteiro com pequenas florezinhas vermelhas na frente, que Yoongi indicou como sendo sua casa.
- Obrigado pela carona, Taehyung-ssi. - disse todo tímido tentando não olhar muito para o Kim enquanto se desprendia do cinto de segurança e pegava sua mochila. As bochechas vermelhas como brasa e ele ainda mais envergonhado que antes.
- Eu quem te agradeço por ter me deixado te trazer, e sempre que quiser, pode me pedir.
- Vou lembrar disso, alfa, obrigado.
Yoongi não soube bem o que fazer depois das despedidas. Não sabia se apenas acenava e ia embora, ou lhe dava um aperto de mão. Será que depois do abraço de mais cedo Taehyung estava esperando um abraço de despedida igual fez com Jimin e Jungkook? Quem sabe um beijo na bochecha, será que isso era apropriado? Ou era cedo demais? Pior, será que teria coragem de ter uma atitude tão, digamos, atrevida assim? Não, talvez fosse melhor apenas ir e pela forma como Taehyung estava o olhando, deveria está lhe achando um completo maluco. Ou então achando engraçado, educado demais para manda-lo sair do seu carro.
Céus! Estava pirando.
E Taehyung pareceu perceber quando foi mais rápido em acabar com a distância entre eles e deixar um beijo rápido contra a testa dele, delicado e respeitoso, assistindo de pertinho as bochechas dele ficando ainda mais vermelhas, como se fosse possível.
- A gente se ver amanhã?
- Hm, sim, a gente se ver. - disse nervoso, apressado em abrir a porta e praticamente pular para fora, acenando antes de fechar a porta de uma vez. - Obrigado mais uma vez, alfa, até amanhã.
- Até, Yoongi.
O alfa fez questão de observa-lo de dentro do carro até que Yoongi desse a volta e subisse na calçada, aproveitando que o ômega estava de costas para tirar uma dúvida que tinha lhe deixado esperançoso desde que aconteceu. Alcançando a camiseta, ele levou o tecido até o nariz notando que sim, apesar de ter sido um abraço rápido e sem grandes contatos, o cheiro de Yoongi era tão bom que tinha ficado levemente contra seu uniforme. O sorriso que ele deu em seguida sendo grande demais até para sustentar.
Antes de entrar em casa, Yoongi virou para trás e acenou mais uma vez, não esperando resposta ao entrar. Taehyung, alegre demais, deu um soquinho no ar, fazendo questão de voltar duas músicas na sua playlist e aumentar o volume só pra cantar os versos mais emblemáticos da canção junto de Nina Simone.
- And I’m feeling good! (E eu estou me sentindo bem!).
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